Você está na página 1de 198

Universidade Federal do Paraná

Centro Politécnico
Setor de Ciências Exatas
Departamento de Matemática

Notas de Aula
Geometria Analítica
CM045/CMA112/CMI012

Fonte: Conferência "Arquimedes en el siglo XXI"

1
CAPíTULO 1

Vetores (o tratamento geométrico)

1.1. Introdução
Entre os conceitos que dispensam definições formais estão os conceitos de ponto, reta e plano.
Assumimos estas noções como conceitos primitivos, pois temos uma boa ideia do que se trata, tanto
da experien̂cia diâria quanto de estudos anteriores destes conceitos. Deste modo, não se apresentam
definições formais deles.
Na Figura 1.1.1 mostramos o plano α, a reta r (contida no plano), os pontos A, B e C tal que os
pontos B e C pertencem à reta r, denotamos isso por B ∈ r e C ∈ r.

Figura 1.1.1

Dados dois pontos distintos A e B sobre uma reta r, o segmento de reta AB é a parte de r
situada entre A e B. Escrevemos AB para denotar o comprimento do segmento de reta AB (medido
em unidades de comprimento).

Figura 1.1.2

1.2. Vetores
Um vetor geométrico, ou simplesmente um vetor, é um segmento orientado, ou seja, um
segmento de reta no qual escolhemos um sentido (um de seus extremos é o ponto inicial e o outro
é o ponto extremo).
−→
Notação: Se um vetor tem ponto inicial A e ponto extremo B se representa por: ⃗v = AB ou
⃗v = B − A.

Figura 1.2.1
3
4 1. VETORES (O TRATAMENTO GEOMÉTRICO)

−→ −−→
Dizemos que dois vetores ⃗v = AB e w⃗ = CD têm a mesma direção se os segmentos AB e CD
pertenecem à mesma reta ou a retas paralelas. Na Figura 1.2.2 os vetores ⃗v e w
⃗ têm a mesma direção
assim como também os vetores ⃗u e ⃗x. Já os vetores w
⃗ e ⃗x não possuim a mesma direção.

Figura 1.2.2

Considere agora uma reta passando por dois pontos A e B (i.e. fixamos uma direção). O deslo-
camento na mesma direção pode ser feito de duas maneiras: no sentido de A para B ou no sentido
de B para A. Assim, por exemplo, na Figura 1.2.2 os vetores ⃗v e w
⃗ possuim o mesmo sentido. Já os
vetores ⃗u e ⃗x possuim sentidos opostos.
−→ −−→
Dizemos que os vetores ⃗v = AB e w ⃗ = CD são iguais sempre que o quadrilátero ACDB (i.e.,
o quadrilátero de lados AC, CD, DB e BA) seja um paralelogramo. Veja que isso é equivalente a
dizer que os vetores ⃗v e w⃗ têm o mesmo comprimento, a mesma direção e o mesmo sentido. Neste
−→ −−→
caso, dizemos que AB e CD representam o mesmo vetor e o denotamos por ⃗v = w. ⃗

Figura 1.2.3
−−→
Um único vetor tem infinitos representantes. Na Figura 1.2.3 o vetor XY é outro representante
do vetor ⃗v .
O módulo ou norma do vetor ⃗v , denotado por ∥⃗v ∥, é o comprimento de qualquer um de seus
−→
representantes. Por exemplo, se ⃗v = AB, então ∥⃗v ∥ = AB. Se ∥⃗v ∥ = 1, dizemos que o vetor ⃗v é
unitário.
Qualquer ponto A (um ponto tem um único representante) pode ser considerado como um vetor
que tem ponto inicial e ponto extremo em A. Chamamos esse vetor de vetor zero ou nulo e o
−→
denotamos por ⃗0 = AA. Note que tal convenção é equivalente a considerar um ponto como um
segmento de reta de comprimento zero, portanto, ||⃗0|| = 0.
−→
Dados um ponto P e um vetor ⃗v , existe um único ponto Q tal que o segmento orientado P Q tem o
−→
mesmo comprimento, a mesma direção e o mesmo sentido de ⃗v , i.e., ⃗v = P Q. Neste caso, denotamos
Q = P + ⃗v e dizemos que o ponto Q é a soma do ponto P com o vetor ⃗v .

P
⃗v
⃗v

Figura 1.2.4. Soma do ponto P com vetor ⃗v


1.2. VETORES 5

Diremos que dois vetores ⃗u e ⃗v são paralelos ou colineares se seus representantes tiverem a
mesma direção. Neste caso, usaremos a notação ⃗u ∥ ⃗v .
A cada vetor não nulo ⃗v ̸= ⃗0 corresponte um vetor oposto que denotaremos por −⃗v . Este vetor
−→
tem o mesmo módulo e a mesma direção de ⃗v , porém sentido contrário. Assim, se ⃗v = AB, o vetor
−→ −→ −→ −→
BA é o vetor oposto de AB, i.e. BA = −AB.

−⃗v

⃗v

Figura 1.2.5. Vetores opostos

Dados dois vetores não nulos ⃗u e ⃗v definimos o ângulo θ entre eles, como sendo a menor medida
entre os ângulos formados por dois representantes de ⃗u e ⃗v com início no mesmo ponto. Dessa forma
0 ≤ θ ≤ π. Dois vetores ⃗u e ⃗v são ditos ortogonais, e o denotamos por ⃗u ⊥ ⃗v , se o ângulo entre eles
for reto.

⃗v
⃗v

⃗u
⃗u

Figura 1.2.6. Vetores ortogonais

Dois ou mais vetores são coplanares se existir algum plano onde estes vetores estão representados.
Dois vetores sempre serão coplanares, já três vetores poderão não ser coplanares, como mostra a Figura
1.2.7.

π π

(a) coplanares (b) não coplanares

Figura 1.2.7

Exemplo 1. No paralelepípedo retângulo da Figura 1.2.8 as arestas AB, BC e BF medem 6, 4


e 3 unidades, respectivamente. Classifique as afirmações seguintes em verdadeiras (V) ou falsas (F).
6 1. VETORES (O TRATAMENTO GEOMÉTRICO)

H G
E F
D 3
C
4
A 6 B
Figura 1.2.8

−→ −→ −→ −−→ −−→
(1) AE = CG. (V ) pois eles têm o mesmo (7) AB, AD, EG são coplanares. (V ) pois o
comprimento, a mesma direção e o −→ −−→
vetor AC (representante de EG) pertence
mesmo sentido. −→ −−→
−→ −−→ −→ ao plano determinado por AB e AD.
(2) AB = −GH. (V ) pois os vetores AB e −→ −−→ −−→
−−→ −−→ (8) AB, BC, BF são coplanares. (F ) pois
HG = −GH têm o mesmo comprimento, não existe um plano onde estes três ve-
a mesma direção e o mesmo sentido. tores estão representados.
−→ −−→ −→
(3) AF = EB. (F ) pois apesar deles ter o (9) ∥F C∥ = 5. (V ) pois F C é a hipotenusa
mesmo comprimento, eles não possuim a do triângulo retângulo F BC de catetos
mesma direção (não são paralelos). tamanhos 3 e 4.
de−−→
−→ −−→
(4) ∥AF ∥ = ∥EB∥. (V ) pois os vetores (10) ∥BH∥2 = 61. (V ) pois note que BH é a
representam as diagonais do retângulo hipotenusa do triângulo retângulo HDB
ABF E, logo têm o mesmo comprimento. −−→ −−→ −−→
−−→ −−→ logo ∥BH∥2 = ∥BD∥2 + ∥DH∥2 . Cal-
(5) DH ∥ F B. (V ) pois os segmentos DH −−→ −→ −−→
culemos ∥BD∥2 = ∥AB∥2 + ∥AD∥2 =
e F B pertencem a retas paralelas. −−→
−−→ −−→ −−→ 62 + 42 = 36 + 16 = 52. Logo ∥BH∥2 =
(6) DH ⊥ BC. (V ) pois o ângulo entre BF 52 + 32 = 61.
−−→ −−→
(representante de DH) e BC é reto.

1.3. Operações com Vetores


1.3.1. Adição de vetores. Uma das grandes vantagens de se trabalhar com vetores é a pos-
sibilidade de fazer com eles operações bastante semelhantes à adição e subtração de números reais.
−→ −−→
Especificamente, dados dois vetores não nulos ⃗v e w,
⃗ escolhendo representantes ⃗v = AB e w ⃗ = BC
(i.e., tais que o ponto extremo de ⃗v coincida com o ponto inicial de w,
⃗ veja a Figura 1.3.1) define-se
−→
a soma de ⃗v e w ⃗ como sendo o vetor AC, i.e.:
−→ −−→ →
− −→
Se ⃗v = AB e w ⃗ = BC =⇒ v +→ −w = AC.
Se os vetores ⃗v e w
⃗ não são paralelos, a soma pode ser encontrada por meio da regra do parale-
−−→
logramo: escolhemos um representante AD do vetor w ⃗ (com o mesmo ponto inicial de ⃗v ) e observe
−→
que a soma ⃗v + w
⃗ é o vetor diagonal AC do paralelogramo ABCD (veja a Figura 1.3.1).

Figura 1.3.1

A outra diagonal é a diferença ⃗v − w


⃗ = ⃗v + (−w).
⃗ Ou seja, é a soma de ⃗v com o posto de w.

1.3. OPERAÇÕES COM VETORES 7

Figura 1.3.2

Analogamente podemos determinar a soma de três ou mais vetores, como mostra a Figura 1.3.3
em que ⃗v = ⃗v1 + ⃗v2 + ⃗v3 + ⃗v4 + ⃗v5 .

Figura 1.3.3

Proposição 2. (PROPRIEDADES DA ADIÇÃO) Sejam ⃗u, ⃗v e w


⃗ vetores quaisquer. A soma de
vetores satisfaz as seguintes propriedades:

(1) Comutativa: ⃗v + w ⃗ =w ⃗ + ⃗v .
(2) Associativa: (⃗u + ⃗v ) + w
⃗ = ⃗u + (⃗v + w).

(3) Existe um elemento neutro 0 para a soma, i.e., ⃗v + ⃗0 = ⃗v .

(4) Dado o vetor ⃗v , existe um vetor −⃗v tal que ⃗v + (−⃗v ) = ⃗v − ⃗v = ⃗0.

Proposição 3. (PROPRIEDADES DA SOMA DE UM PONTO COM UM VETOR) Sejam


A, B e P pontos, ⃗u e ⃗v dois vetores quaisquer então:

(1) P + ⃗0 = P .
(2) Se P + ⃗u = P + ⃗v então ⃗u = ⃗v .
(3) (P + ⃗u) + ⃗v = P + (⃗u + ⃗v )
(4) Se A + ⃗v = B + ⃗v então A = B.
(5) (P − ⃗v ) + ⃗v = P .

Exemplo 4. Prove que as diagonais de um paralelogramo têm o mesmo ponto médio (Dizemos
−−→ −−→
que M é o ponto médio do segmento AB se os vetores BM e M A são iguais).
8 1. VETORES (O TRATAMENTO GEOMÉTRICO)

D C
M

A B
Figura 1.3.4

Solução. Considere o paralelogramo ABCD de diagonais AC e BD e seja M o ponto médio de


−−→ −−→
AC. Queremos provar que M é o ponto médio de DB. Temos igualdade de vetores CM = M A e
ainda
−−→ −−→ −−→
BM = BC + CM
−−→ −−→
= AD + M A
−−→ −−→ −−→
= M A + AD = M D

Assim, M é o ponto médio de DB como queriamos mostrar.


1.3.2. Multiplicação de vetor por escalar. Outra operação com vetores de grande utilidade
é a multiplicação de vetores por escalares ou números. Assim, dado um vetor ⃗v e um escalar
k ∈ R, definimos o produto de ⃗v pelo escalar k da seguinte forma:

• se k = 0 ou ⃗v = ⃗0, então k⃗v = ⃗0.

• se k ̸= 0 e ⃗v ̸= ⃗0, então k⃗v é o único vetor que satisfaz:


(1) k⃗v é paralelo a ⃗v .
(2) ∥k⃗v ∥ = |k|∥⃗v ∥.
(3) k⃗v e ⃗v têm o mesmo sentido se k > 0 e sentidos opostos se k < 0 (veja a Figura 1.3.5).
Em particular, se k = −1 então (−1)⃗v = −⃗v , ou seja, (−1)⃗v é o vetor oposto a ⃗v , pois ele tem o
mesmo comprimento e a mesma direção de ⃗v , porém sentido contrário. Analogamente, para k = 1
tem-se que 1⃗v = ⃗v .
Para a escolha particular k = ∥⃗v1∥ o vetor ∥⃗v1∥ ⃗v é chamado de versor de ⃗v e é um vetor que tem a
mesma direção e sentido que ⃗v e comprimento igual a 1.
Proposição 5. (PROPRIEDADES DA MULTIPLICAÇÃO POR ESCALAR) Dados os escala-
res k, k1 , k2 ∈ R e os vetores ⃗v , ⃗v1 e ⃗v2 , temos:
(1) (k1 k2 )⃗v = k1 (k2⃗v )
(2) (k1 + k2 )⃗v = k1⃗v + k2⃗v (distributiva em relação à soma de escalares).
(3) k(⃗v1 + ⃗v2 ) = k⃗v1 + k⃗v2 (distributiva em relação à soma de vetores).

Figura 1.3.5. Vetor k⃗v com k > 0


1.3. OPERAÇÕES COM VETORES 9

Segue da definição de multiplicação de um vetor por um escalar que o vetor k⃗v é paralelo ao vetor
⃗v para todo número real k. O próximo resultado mostra que, na verdade, todo vetor paralelo a ⃗v é
da forma k⃗v para algúm escalar k ∈ R.

Proposição 6. Sejam ⃗u e ⃗v dois vetores com ⃗v ̸= ⃗0. Os vetores ⃗u e ⃗v são paralelos se e somente
se existe k ∈ R tal que ⃗u = k⃗v .

Demonstração.
(⇐) Se existe k ∈ R tal que ⃗u = k⃗v então segue diretamente da definção que o vetor k⃗v é paralelo
a ⃗v , logo ⃗u ∥ ⃗v .
(⇒) Se ⃗u e ⃗v são paralelos então eles têm a mesma direção e também ⃗v e ∥⃗ u∥
∥⃗v ∥
⃗v têm a mesma
direção (veja que como estamos supondo ⃗v ̸= ⃗0 então ∥⃗v ∥ ≠ 0 e podemos dividir). Logo ⃗u e ∥⃗ u∥
∥⃗v ∥
⃗v têm
a mesma direção. Além disso,

∥⃗u∥ ∥⃗u∥ ∥⃗u∥ 
∥⃗v ∥ ⃗v = ∥⃗v ∥ ∥⃗v ∥ = ∥⃗v ∥⃗v ∥ = ∥⃗u∥,

 ∥ 

∥⃗
u∥
ou seja, ⃗u e ∥⃗v ∥
⃗v têm o mesmo módulo. Agora, como os vetores são paralelos ou eles têm o mesmo
∥⃗
u∥
sentido e neste caso ⃗u = ∥⃗v ∥
⃗v ou eles têm sentido contrário, logo ⃗u = − ∥⃗
u∥
∥⃗v ∥
⃗v . Em qualquer um dos
casos, existe um número k = ± ∥⃗
u∥
∥⃗v ∥
∈ R tal que ⃗u = k⃗v . □

Exemplo 7. Considere um triângulo ABC em que M é o ponto médio do lado AC e N, P dividem


o lado BC em 3 partes iguais. Mostre que o segmento M N é paralelo e tem a metade do tamanho
do segmento AP .

B P N C

−−→ −→ −−→
Solução. Note que como M é o ponto médio do lado AC então M C = 12 AC pois M C tem
−→
a mesma direção e sentido de AC e a metade de seu comprimento. Analogamente, sabemos que
−−→ 1 −−→ −→ 2 −−→
CN = 3 CB e CP = 3 CB.
Por um lado, temos que
−−→ −−→ −−→
(1.3.1) M N = M C + CN
1 −→ 1 −−→
(1.3.2) = AC + CB.
2 3
10 1. VETORES (O TRATAMENTO GEOMÉTRICO)

Por outro lado, temos que


−→ −→ −→
AP = AC + CP
−→ 2 −−→
= AC + CB
 3
1 −→ 1 −−→

colocando 2 em evidência ⇝ = 2 AC + CB
2 3
−−→
usando a equação (1.3.2) ⇝ = 2M N .
−−→ −→
De onde segue que M N = 21 AP . Isso mostra que M N é paralelo a AP e tem a metade do tamanho
de AP .
CAPíTULO 2

Vetores (o tratamento algébrico)

2.1. O Plano Cartesiano


Fixamos um ponto O no plano que chamamos de origem. Consideramos duas retas perpendi-
culares Ox e Oy, com interseção no ponto O. Interpretamos as retas Ox e Oy como cópias de R,
escolhendo a mesma unidade de medida e deixando que o ponto O corresponda ao número 0 em
ambas retas, com a convenção de que, em cada reta, a semi-reta dos números positivos é indicada por
uma pequena seta. As retas Ox e Oy são chamadas de eixos e dividem o plano em quatro regiões
angulares, chamadas de quadrantes, (veja a Figura 2.1.1).
Dado qualquer ponto A no plano, desenhe retas perpendiculares a Ox e a Oy passando por
A. Essas retas intercectam os eixos nos pontos xA e yA , respectivamente. Por outro lado, a reta
perpendicular a Ox que passa por xA e a perpendicular a Oy que passa por yA se cruzam no ponto
A. Portanto, a cada ponto A no plano corresponde um único par de números reais xA e yA nas retas
Ox e Oy, respectivamente. E, recíprocamente, a cada par de números reais xA e yA nas retas Ox e
Oy, corresponde um único ponto A no plano. Sendo assim escrevemos: A = (xA , yA ) ou A(xA , yA ) e
chamamos os números reais xA e yA de coordenadas do ponto A. Note que O = (0, 0).

Figura 2.1.1. Construção do Plano Cartesiano

Em geral, sempre que num plano fixamos um ponto O e duas retas perpendiculares Ox e Oy e
escolhemos em cada uma delas uma semi-reta positiva, dizemos que o plano está equipado com um
sistema cartesiano de coordenadas Oxy.
O conjunto de pares ordenados R2 = {(x, y), tais que x ∈ R e y ∈ R} equipado com um sistema
cartesiano de coordenadas é chamado de plano cartesiano.
Exemplo 8. Marque no plano cartesiano os pontos A = (3, 2), B = (−2, 3), C = (−3, −2) e
D = (2, −1).
11
12 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

Solução.

Considere agora o sistema cartesiano no plano e um vetor ⃗v neste plano, representado por alguns
segmentos orientados, como mostra a Figura 2.1.2. Queremos representar algebricamente este vetor.

y ⃗v
⃗v

y P
⃗v
⃗v

O x ⃗v x

Figura 2.1.2

Considere O = (0, 0) a origem do sistema cartesiano. O representante do vetor ⃗v que parte da


origem é chamado de representante natural ou vetor posição. A extremidade desse vetor será
−→
um certo ponto P do plano de coordenadas P = (x, y). Identificaremos o vetor ⃗v = OP com as
−→
coordenadas de P logo vamos escrever simplesmente ⃗v = OP = (x, y).
Os números x e y são chamados de componentes ou coordenadas de ⃗v . A primeira componente
é chamada de abscissa e a segunda de ordenada de ⃗v .
Veja que dois vetores no plano ⃗u = (x1 , y1 ) e ⃗v = (x2 , y2 ) são iguais se x1 = x2 e y1 = y2 .

Observação 9. Usaremos pares ordenados de números reais tanto para representar pontos, por
−→
exemplo P = (4, 2), quanto vetores OP = (4, 2) (veja a Figura 2.1.3). O contexto deixará claro
quando trata-se de um ponto e quando de um vetor.
2.1. O PLANO CARTESIANO 13

2 P
⃗v

O 4 x

Figura 2.1.3

2.1.1. Soma de vetores. Se ⃗u = (x1 , y1 ) e ⃗v = (x2 , y2 ) queremos encontar as coordenadas do


vetor soma ⃗u + ⃗v . Os vetores estão representados na Figura 2.1.4, observe que os triângulos em verde
I e II são congruentes e logo a base de II é x2 e sua altura é y2 . Assim, as coordenadas do ponto
extremo do representante do vetor ⃗u + ⃗v com ponto inicial na origem são (x1 + x2 , y1 + y2 ). Portanto,
⃗u + ⃗v = (x1 + x2 , y1 + y2 ).

y 1 + y2

y2
⃗v y2
⃗u +
⃗v

II
⃗v

y1 I
x2
⃗u
O x2 x1 x1 + x2 x

Figura 2.1.4. Soma de vetores

2.1.2. Multiplicação de vetor por escalar. Se ⃗u = (x1 , y1 ) e k ∈ R queremos encontrar as


coordenadas do vetor k⃗u. Denotemos, a priori, por x2 e y2 tais coordenadas, i.e., k⃗u = (x2 , y2 ).
Ambos vetores estão representados na Figura 2.1.5. Para facilitar a visualização vamos considerar
k > 0 mas o mesmo vale no caso em que k < 0. Observe que os triângulos I (em verde) e II (em
vermelho) são semelhantes e logo

y2 x2 ∥k⃗u∥ |k|∥⃗u∥
= = =  = k,
y1 x1 ∥⃗u∥ ∥⃗u
 ∥
o que implica que x2 = kx1 e y2 = ky1 , assim k⃗u = (kx1 , ky1 ).
14 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

y2

k⃗u
y1
II
⃗u
I
O x1 x2 x

Figura 2.1.5

Em particular, fazendo k = −1 obtemos as componentes do vetor oposto a ⃗u


−⃗u = (−1)⃗u = (−1)(x1 , y1 ) = (−x1 , −y1 ),
e, a partir disso, determinamos as componentes da diferença de vetores
⃗u − ⃗v = ⃗u + (−⃗v ) = (x1 , y1 ) + (−x2 , −y2 ) = (x1 − x2 , y1 − y2 ).
As propriedades algébricas dos números reais permitem demonstrar facilmente as propriedades da
soma de vetores (Proposição 2) e da multiplicação de um escalar por um vetor (Proposição 5).
Dois vetores são particularmente interessantes quando consideramos o plano cartesiano: os vetores
⃗i e ⃗j ambos com ponto inicial em O e pontos extremos em (1, 0) e (0, 1), respectivamente. Os vetores
⃗i = (1, 0) e ⃗j = (0, 1)
determinam as direções dos eixos Ox e Oy, como mostra a Figura 2.1.6, e são chamados de vetores
canônicos.
Veja que se ⃗v = (x, y) então podemos escrever
⃗v = (x, y) = (x, 0) + (0, y) = x(1, 0) + y(0, 1) = x⃗i + y⃗j.

⃗j

O ⃗i 1 x

Figura 2.1.6
2.1. O PLANO CARTESIANO 15

2.1.3. Vetor definido por dois pontos. Dados dois pontos A = (xA , yA ) e B = (xB , yB ),
−→ −→ −−→
queremos encontrar as coordenadas do vetor AB. Como vimos os vetores OA e OB têm expressões
−→ −−→ −→ −→ −−→
analítcas OA = (xA , yA ) e OB = (xB , yB ). Agora, observe que OA + AB = OB, o que implica que
−→ −−→ −→
AB = OB − OA = (xB , yB ) − (xA , yA ) = (xB − xA , yB − yA ).
−→ −→
Ou seja, o representante natural do vetor AB é OP onde P = (xB − xA , yB − yA ), (Figura 2.1.7).
−→
Veja que as componentes do vetor AB são obtidas substraindo-se das coordenadas do ponto
−→
extremo B as coordenadas do ponto inicial A, por isso é natural escrever AB = B − A. Mas deve
ficar claro para o aluno que isso é um abuso de notação, pois na verdade estamos identificando
−→ −−→
A ∼ OA e B ∼ OB.

B
yB −→
A AB
yA

−→ P
y B −y A −−→ =OP
AB
xA xB −xA xB x
O

Figura 2.1.7

Exemplo 10. Sejam os pontos do plano cartesiano A = (2, 3), B = (6, 4), C = (−1, 1), D =
−→ −−→ −→
(3, 2), P = (4, 1) e O = (0, 0). Determine os vetores AB, CD e OP .
Solução.

B
4 −→
⃗v AB = B − A = (6, 4) − (2, 3) = (4, 1).
A
3 −−→
D CD = D − C = (3, 2) − (−1, 1) = (4, 1).
2 −→
⃗v OP = P − O = (4, 1) − (0, 0) = (4, 1).
C P
1 −→ −−→ −→
⃗v Note que AB = CD = OP
−1 O 2 3 4 6 x

Por outro lado, sempre que tivermos


−→
⃗v = AB = B − A
−→
podemos concluir que B = A + ⃗v ou B = A + AB (soma de ponto com vetor).
16 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

−→
Exemplo 11. Se A = (3, 2) e AB = (−5, 1), encontre o ponto B.
Solução. Pela definição de soma de ponto com vetor segue que
−→
B = A + AB = (3, 2) + (−5, 1) = (−2, 3)

Figura 2.1.8

Sabemos pela Proposição 6 que dois vetores não nulos ⃗u = (x1 , y1 ) e ⃗v = (x2 , y2 ) são paralelos
se, e somente se, existe um escalar k ∈ R tal que ⃗u = k⃗v . Traduzimos isso em coordendas como
(x1 , y1 ) = (kx2 , ky2 ) ou, equivalentemente, x1 = kx2 e y1 = ky2 .
1
Exemplo 12. Verifique se os pontos A = (−1, −1), B = (1, 10 ) e C = ( 72 , 23 ) são colineares (i.e.
estão sobre uma mesma reta).
Solução. Colocando os três pontos no plano cartesiano poderiamos concluir (erroneamente) que
eles são colineares. Observando a Figura 2.1.9, em que representamos a reta que passa pelos pontos
A e C, parece que o ponto B pertence a tal reta. Mas fazendo as contas perceberemos que a situação
é diferente.

Figura 2.1.9

Note que 3 pontos são colineares se 2 vetores formados por esses 3 pontos são paralelos. Vamos
−→ −→
determinar analiticamente os vetores AB e AC:
−→ 1 11
AB = B − A = (1, ) − (−1, −1) = (2, )
10 10
−→ 7 3 9 5
AC = C − A = ( , ) − (−1, −1) = ( , )
2 2 2 2
2.1. O PLANO CARTESIANO 17

Concluimos que os vetores não são paralelos, pois as coordenadas não matém a mesma proporção
9 5
2 9 25 2
= ̸= = 11 .
2 4 11 10
Logo os pontos A, B e C não são colineares.
De fato, dando um ”zoom” no gráfico da Figura 2.1.9 vemos que, na verdade, o ponto B não
pertence a reta passando por A e C.

Figura 2.1.10

Exemplo 13. Calcule o valor de m ∈ R para que os pontos A = (−1, −1), B = (1, m) e C = ( 72 , 32 )
sejam colineares.
−→ −→
Solução. Queremos encontrar m tal que os vetores AB e AC sejam paralelos. Neste caso,
−→
AB = B − A = (1, m) − (−1, −1) = (2, m + 1)
−→ 7 3 9 5
AC = C − A = ( , ) − (−1, −1) = ( , )
2 2 2 2
−→ −→
Sabemos que AB ∥ AC se, e somente se, as coordenadas são proporcionais. Logo queremos determinar
m tal que
9 5
2 2
=
2 m+1
9 5
⇔ =
4 2(m + 1)
⇔18(m + 1) = 20
⇔18m + 18 = 20
⇔18m = 20 − 18 = 2
2 1
⇔m = = .
18 9

Perceba que o valor de m = 19 ≈ 0, 11 achado no exemplo anterior é muito próximo do valor da


1
ordenada do ponto B do Exemplo 12 ( 10 = 0, 1). Por isso, uma interpretação gráfica do problema,
feita à mão e sem muita precisão pode nos levar ao erro de acreditar que os pontos são colineares.
Na Figura 2.1.11 está representada a reta passando por A e C juntamente com os pontos B do
exemplo anterior (em vermelho) e B do Exemplo 12 (em azul).
18 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

Figura 2.1.11

Exemplo 14. Sejam A = (2, 1) e B = (5, 2) vértices consecutivos de um paralelogramo e M =


(4, 3) o ponto de interseção das diagonais. Determine os outros dois vértices.
−−→
Solução. Usando a definição de soma de ponto com vetor temos que C = M + M C. Sabemos
pelo Exemplo 4 que o ponto de interseção das diagonais de um paralelogramo é ponto médio de ambas
−−→ −−→ −−→ −−→
diagonais, logo M C = AM e M D = BM , assim
y
C −−→
5 AM = M − A = (4, 3) − (2, 1) = (2, 2),
D −−→ −−→
4 C = M + M C = M + AM = (4, 3) + (2, 2) = (6, 5).
M
3 Analogamente,
B −−→
2 BM = M − B = (4, 3) − (5, 2) = (−1, 1),
A −−→ −−→
1 D = M + M D = M + BM = (4, 3) + (−1, 1) = (3, 4).

O 2 3 4 5 6 x

2.1.4. Ponto médio de um segmento. Dados os pontos A = (xA , yA ) e B = (xB , yB ) queremos


determinar as coordenadas do ponto médio do segmento AB.

yB B
M
yA +yB
2

yA
A

O xA xA +xB xB x
2

Figura 2.1.12
2.1. O PLANO CARTESIANO 19

Sejam (x, y) as coordenadas de M . Como M é o ponto médio do segmento AB temos que


−−→ −−→
AM = M B
M −A=B−M
(x − xA , y − yA ) = (xB − x, yB − y),
logo

x − xA = x B − x
.
y − yA = yB − y
Resolvendo em x e y temos

2x = xA + xB
,
2y = yA + yB
assim x = xA +x e y = yA +y . Portanto M = xA +x B yA +yB

2
B
2
B
2
, 2 .
Observe que no Exemplo 14 onde M = (4, 3) é o ponto médio dos segmentos AC e BD em que
A = (2, 1), B = (5, 2), C = (6, 5) e D = (3, 4), de fato
 
2+6 1+5
M = (4, 3) = ,
2 2
 
5+3 2+4
M = (4, 3) = , .
2 2

2.1.5. Módulo de um vetor. Seja ⃗v um vetor no plano, escolhendo no sistema de coordenadas


−→
um representante adequado (o representante natural) temos que ⃗v = OP = (x1 , y1 ), veja a Figura
2.1.13. Então a hipotenusa do triângulo retângulo vermelho é ∥⃗v ∥, logo pelo Teorema de Pitágoras
q
∥⃗v ∥2 = x21 + y12 =⇒ ∥⃗v ∥ = x21 + y12

y
⃗v

P
y1
⃗v

O x1 x

Figura 2.1.13
20 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

2.1.6. Distância entre dois pontos. A distância entre dois pontos A = (x1 , y1 ) e B = (x2 , y2 )
−→
do plano é dada pelo comprimento (módulo) do vetor AB = (x2 − x1 , y2 − y1 ), assim
−→ p
d(A, B) = ∥AB∥ = (x2 − x1 )2 + (y2 − y1 )2 .
Exemplo 15. Encontre um vetor ⃗v do plano de comprimento 2, com a mesma direção e sentido
contrário ao do vetor ⃗u = (3, 2).
Solução. Os vetores ⃗u e ⃗v têm a mesma direção então eles são paralelos, segue da Proposição 6
que existe k ∈ R tal que ⃗v = k⃗u. Como os vetores têm sentido contrário então devemos ter k < 0 e
como ∥⃗v ∥ = 2 então
2 = ∥⃗v ∥ = |k|∥⃗u∥
(k < 0) ⇝ = −k∥⃗u∥
2
k=− .
∥⃗u∥
Assim ⃗v = k⃗u = − ∥⃗u2∥ ⃗u = − ∥⃗u2∥ (3, 2). Calculemos ∥⃗u∥
√ √ √
∥⃗u∥ = 32 + 22 = 9 + 4 = 13.
 
Logo ⃗v = − √213 (3, 2) = − √613 , − √413 .

2
1 ⃗u

−2 ⃗v 1 2 3 x

Figura 2.1.14

2.2. Espaço Cartesiano


2.2.1. Introdução. Informalmente, a diferença entre o material da seção anterior (ou seja, plano
cartesiano), com esta parte (ou seja, espaço cartesiano) está no fato de que agora temos mais uma
dimensão para brincar. Ou seja, ao invés de trabalhar em um único plano (bidimensional), agora
teremos o espaço (tridimensional) todo à nossa disposição.

2.2.2. Espaço Cartesiano. No espaço, fixamos um ponto O que chamamos de origem. Consi-
deramos três retas mutuamente perpendiculares Ox, Oy e Oz, com interseção no ponto O. Interpreta-
mos as retas Ox, Oy e Oz como cópias de R, escolhendo a mesma unidade de medida e deixando que
o ponto O corresponda ao número 0 nas três retas, com a convenção de que, em cada reta, a semi-reta
dos números positivos é indicada por uma pequena seta. As retas Ox, Oy e Oz são chamadas de
eixos e dividem o espaço em oito regiões angulares, chamadas de octantes (veja a Figura 2.2.1).
2.2. ESPAÇO CARTESIANO 21

Figura 2.2.1

Dado qualquer ponto A do espaço, considere os três planos passando por A e perpendiculares
a cada reta Ox, Oy e Oz, respectivamente. Esses planos intersectam os eixos nos pontos xA , yA e
zA . Por outro lado, a construção reversa determina o ponto A. Portanto, a cada ponto A no espaço
corresponde uma única tripla de números reais xA , yA e zA nas retas Ox, Oy e Oz, respectivamente.
E, recíprocamente, a cada tripla de números reais xA , yA e zA nas retas Ox, Oy e Oz corresponde um
único ponto A do espaço. Sendo assim escrevemos: A = (xA , yA , zA ) ou A(xA , yA , zA ) e chamamos os
números reais xA , yA e zA de coordenadas do ponto A. Note que O = (0, 0, 0).

z
zA

O
yA y
xA

x
Figura 2.2.2

Em geral, sempre que fixemos no espaço um ponto O e três retas mutuamente perpendiculares
Ox, Oy e Oz e escolhemos em cada uma delas uma semi-reta positiva, dizemos que o espaço está
equipado com um sistema cartesiano de coordenadas espaciais Oxyz.
O conjunto de triplas ordenadas R3 = {(x, y, z), tais que x ∈ R, y ∈ R e z ∈ R} equipado com
um sistema cartesiano de coordenadas espaciais é chamado de espaço cartesiano.
22 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

Exemplo 16. Marque no espaço cartesiano o ponto A = (2, 3, 3).


Solução.

Figura 2.2.3

Da mesma forma que fizemos no plano, vamos representar algebricamente vetores no espaço.
Sejam O = (0, 0, 0) a origem do sistema cartesiano e ⃗v um vetor no espaço. Considere o representante
natural do vetor ⃗v (i.e., aquele que começa na origem). A extremidade desse vetor será um certo
−→
ponto P do espaço de coordenadas P = (x, y, z). Identificaremos o vetor ⃗v = OP com as coordenadas
−→
de P logo vamos escrever simplesmente ⃗v = OP = (x, y, z).
Os números x, y e z são chamados de componentes ou coordenadas de ⃗v . A primeira compo-
nente é chamada de abscissa, a segunda de ordenada e a terceira de cota de ⃗v .
−→
O vetor ⃗v = OP representa a diagonal do paralelepípedo retângulo cujas arestas têm tamanho x,
y e z, posicionado no espaço do jeito que mostra a Figura 2.2.4.
z
z

P (x, y, z)

⃗v
O
y y
x

x
Figura 2.2.4

Observação 17. Usaremos triplas ordenadas de números reais tanto para representar pontos,
−→
por exemplo P = (4, 2, 3), quanto vetores OP = (4, 2, 3). O contexto deixará claro quando trata-se de
um ponto e quando de um vetor.
2.2. ESPAÇO CARTESIANO 23

Define-se analogamente ao caso de vetores no plano as noções de igualdade de vetores, soma de


vetores, produto por escalar, soma de ponto com vetor, ponto médio de um segmento, etc. quando
os vetores considerados estão no espaço. Especificamente,

2.2.3. Operações. Dados ⃗v = (x1 , y1 , z1 ) e ⃗u = (x2 , y2 , z2 ) vectores no espaço, A = (xA , yA , zA )


e B = (xB , yB , zB ) dois pontos no espaço e k ∈ R, temos:
(1) ⃗v = ⃗u se, e somente se, x1 = x2 , y1 = y2 e z1 = z2 .
(2) A soma dos vetores é definida por ⃗v + ⃗u = (x1 + x2 , y1 + y2 , z1 + z2 ).
(3) A multiplicação por escalar é dada por k⃗v = (kx1 , ky1 , kz1 ). Em particular, para k = −1,
temos que −⃗v = (−1)⃗v = (−x1 , −y1 , −z1 ).
(4) Segue dos itens anteriores que a diferença de vetores é dada por ⃗v −⃗u = (x1 −x2 , y1 −y2 , z1 −z2 ).
−→
(5) O vetor AB definido pelos pontos A e B é dado por
−→
AB = B − A = (xB , yB , zB ) − (xA , yA , zA ) = (xB − xA , yB − yA , zB − zA ).
(6) A soma de ponto com vetor é dada por B = A + ⃗v = (xA + x1 , yA + y1 , zA + z1 ).
(7) As coordenadas do ponto médio M do segmento AB são
 
xA + xB yA + yB zA + zB
M= , , .
2 2 2
Provaremos a expressão analítica do módulo de um vetor no espaço. Se ⃗v = (x, y, z) é um vetor do
−→
espaço então ⃗v = OP onde o ponto P do espaço tem coordenadas P = (x, y, z). Considere a Figura
2.2.5, veja que o módulo do vetor ⃗v é a hipotenusa do triângulo verde, então ∥⃗v ∥2 = h2 + z 2 , onde h
é a hipotenusa do triângulo vermelho logo h2 = x2 + y 2 , assim ∥⃗v ∥2 = x2 + y 2 + z 2 , portanto
p
(2.2.1) ∥⃗v ∥ = x2 + y 2 + z 2 .
Analogamente ao que acontece no plano, a distância entre dois pontos do espaço A = (xA , yA , zA )
−→
e B = (xB , yB , zB ) é dada pelo comprimento do vetor AB = (xB − xA , yB − yA , zB − zA ), assim
−→ p
d(A, B) = ∥AB∥ = (xB − xA )2 + (yB − yA )2 + (zB − zA )2

z
z

P (x, y, z)

⃗v
O
h y y
x

x
Figura 2.2.5
24 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

Três vetores, chamados de vetores canônicos, são particularmente interessantes quando consi-
deramos o espaço cartesiano:
⃗i = (1, 0, 0) ⃗j = (0, 1, 0) e ⃗k = (0, 0, 1).
Estes vetores são unitários e determinam as direções dos três eixos Ox, Oy e Oz, como mostra a
Figura 2.2.6. Veja que se ⃗v = (x, y, z) então podemos escrever
⃗v = (x, y, z) = (x, 0, 0) + (0, y, 0) + (0, 0, z)
= x(1, 0, 0) + y(0, 1, 0) + z(0, 0, 1)
= x⃗i + y⃗j + z⃗k.

⃗k
⃗j
⃗i O 1 y
1

x
Figura 2.2.6

Exemplo 18. Sejam os pontos A = (2, 1, 3) e B = (6, 3, −5), encontre as coordenadas do ponto
médio do segmento AB.
Solução. O ponto médio do segmento AB é dado por
 
2 + 6 1 + 3 3 + (−5)
M= , , = (4, 2, −1).
2 2 2
Exemplo 19. Sejam os vetores ⃗u = (2, 1, 2) e ⃗v = (3, 0, 4). Calcule ∥⃗u∥, ∥⃗v ∥ e ∥⃗u + ⃗v ∥.
Solução. Segue da equação (2.2.1) que
√ √ √
∥⃗u∥ = 22 + 12 + 22 = 4 + 1 + 4 = 9 = 3
√ √ √
∥⃗v ∥ = 32 + 02 + 42 = 9 + 0 + 16 = 25 = 5
Pela soma de vetores no espaço temos que ⃗u + ⃗v = (2 + 3, 1 + 0, 2 + 4) = (5, 1, 6) e logo
√ √ √
∥⃗u + ⃗v ∥ = 52 + 12 + 62 = 25 + 1 + 36 = 62.
Note que neste exemplo, ∥⃗u + ⃗v ∥ ≠ ∥⃗u∥ + ∥⃗v ∥. Veremos no próximo capítulo que, na verdade,
sempre vale ∥⃗u + ⃗v ∥ ≤ ∥⃗u∥ + ∥⃗v ∥.
Exemplo 20. Sejam A = (1, 0, 1), B = (0, 5, 2) e C = (1, 2, 3) vértices consecutivos de um
paralelogramo ABCD. Determine o vértice D.
2.2. ESPAÇO CARTESIANO 25

Solução. Seja M o ponto médio da diagonal AC então


 
1+1 0+2 1+3
M= , , = (1, 1, 2).
2 2 2
−−→
Mas, por se tratar de um paralelogramo, M é também o ponto médio da diagonal BD e logo BM =
−−→ −−→ −−→
M D. Pela soma de ponto com vetor sabemos que D = M + M D = M + BM , falta determinar o
−−→
vetor BM = M − B = (1, 1, 2) − (0, 5, 2) = (1, −4, 0). Portanto, o vértice D será
−−→
D = M + BM = (1, 1, 2) + (1, −4, 0) = (2, −3, 2).

D C
M

A B

Figura 2.2.7

Exemplo 21. Verifique se os pontos dados são colineares


(1) A(−1, −5, 0), B(2, 1, 3), C(−2, −7, −1)
(2) A(2, 1, −1), B(3, −1, 0), C(1, 0, 4)
Solução.
(1) Três pontos A, B, C são colineares se dois vetores por eles determinados são paralelos. Ve-
−→ −−→ −→ −−→
jamos se existe k ∈ R tal que AB = k BC. Determinamos os vetores AB e BC:
−→
AB = B − A = (2, 1, 3) − (−1, −5, 0) = (3, 6, 3),
−−→
BC = C − B = (−2, −7, −1) − (2, 1, 3) = (−4, −8, −4).
−→ −−→
Queremos encontar k tal que AB = k BC ⇔ (3, 6, 3) = k(−4, −8, −4) o que nos leva ao
seguinte sistema 
 3 = −4k
6 = −8k
 3 = −4k

que tem como solução k = − 34 . Assim, os pontos dados são colineares.


Outra forma de provar que os pontos são colineares é mostrando que o comprimento de
um dos vetores que eles terminam é igual a soma dos comprimentos dos outros dois vetores.

−→
O vetor AC = C − A = (−1, −2, −1), logo
−→ √ √ √
∥AB∥ = 32 + 62 + 32 = 54 = 3 6
−−→ p √ √
∥BC∥ = (−4)2 + (−8)2 + (−4)2 = 96 = 4 6
−→ p √
∥AC∥ = (−1)2 + (−2)2 + (−1)2 = 6
26 2. VETORES (O TRATAMENTO ALGÉBRICO)

−→ −→ −−→
Como ∥AB∥ + ∥AC∥ = ∥BC∥ podemos concluir que os pontos são colineares.
−→ −−→
(2) Procedendo analogamente, determinamos primeiramente os vetores AB e BC
−→
AB = B − A = (3, −1, 0) − (2, 1, −1) = (1, −2, 1)
−−→
BC = C − B = (1, 0, 4) − (3, −1, 0) = (−2, 1, 4)
−→ −−→
Queremos encontrar k tal que AB = k BC ⇔ (1, −2, 1) = k(−2, 1, 4) o que nos leva ao
seguinte sistema

 1 = −2k
−2 = k
 1 = 4k
Observe que não existe k ∈ R que satisfaza as três equações, assim os pontos não são coli-
neares.
Exemplo 22. Verifique se os vetores ⃗u = (1, 0, 2), ⃗v = (0, 1, 1) e w
⃗ = (2, 1, 0) são coplanares.
Solução. Note que os vetores ⃗u e ⃗v não são paralelos, então determinam um plano que chamare-
mos de π. Observe que um representante de w ⃗ pertence ao plano π se, e somente se, existem escalares
α, β ∈ R tais que w ⃗ = α⃗u + β⃗v , veja a Figura 2.2.8 (neste caso dizemos que w
⃗ é uma combinação
linear de ⃗u e ⃗v ).

β⃗v π
⃗v w

α⃗
u ⃗
u

Figura 2.2.8

Em coordendas temos
(2, 1, 0) = α(1, 0, 2) + β(0, 1, 1)
= (α, 0, 2α) + (0, β, β)
= (α, β, 2α + β)
o que nos leva ao seguinte sistema 
 2 = α
1 = β
 0 = 2α + β
que não tem solução, pois a última equação implica que 0 = 4 + 1 = 5 o que é uma contradição. Logo
não existe um representante de w⃗ no plano π e os vetores {⃗u, ⃗v , w}
⃗ não são coplanares.
CAPíTULO 3

Produto de vetores

3.0.1. Introdução. Nos capítulos anteriores vimos como definir certas operações com vetores,
por exemplos sabemos como somar vetores e como multiplicar vetores por números reais. Uma
pergunta natural que pode surgir é: será possível definir um produto entre vetores? A resposta é
sim, e exite mais de uma forma de fazer isso. Neste capítulo apresentaremos o produto interno de
vetores, que resulta em um número real, o produto externo de vetores cujo resultado é um novo vetor
e o produto misto que é uma combinação dos anteriores.

3.1. Produto Interno ou Escalar


3.1.1. Definição e propriedades.
Definção 23. Dados dois vetores ⃗u = (x1 , y1 , z1 ) e ⃗v = (x2 , y2 , z2 ) em R3 , chama-se produto
interno ou produto escalar de ⃗u por ⃗v ao número real:
⃗u · ⃗v = x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 ∈ R.
Observação 24. O produto interno ⃗u · ⃗v também pode ser denotado por ⟨⃗u, ⃗v ⟩.
De forma análoga podemos definir o produto interno ou escalar de dois vetores ⃗u = (x1 , y1 ) e
⃗v = (x2 , y2 ) no plano R2
⃗u · ⃗v = x1 x2 + y1 y2 ∈ R.
Tudo o que faremos nesta seção sobre produto interno para vetores no espaço R3 vale também
para vetores no plano, com as devidas adaptações.
Vejamos quais são as propriedades que satisfaz o produto de vetores que acabamos de introduzir.
Proposição 25. (PROPRIEDADES DO PRODUTO INTERNO) Sejam ⃗u, ⃗v , w ⃗ ∈ R3 vetores
quaisquer, ⃗0 o vetor nulo e k ∈ R. Valem as seguintes propriedades:
(1) ⃗u · ⃗v = ⃗v · ⃗u (comutativa).
(2) ⃗u · (⃗v + w)
⃗ = ⃗u · ⃗v + ⃗u · w
⃗ e (⃗u + ⃗v ) · w
⃗ = ⃗u · w
⃗ + ⃗v · w
⃗ (distributiva sobre a soma de vetores).
(3) ⃗u · (k⃗v ) = k(⃗u · ⃗v ) = (k⃗u) · ⃗v .
(4) ⃗u · ⃗u ≥ 0 e ⃗u · ⃗u = 0 se, e somente se, ⃗u = ⃗0.
(5) ⃗u · ⃗u = ∥⃗u∥2 .
Demonstração. Provaremos a propriedade (4), o resto fica como exercício. Seja ⃗u = (x1 , y1 , z1 )
um vetor no R3 , então pela definição de produto interno temos que
⃗u · ⃗u = x21 + y12 + z12 .
O lado direito da igualdade é uma soma de números reais maiores ou iguais a 0 logo ⃗u · ⃗u ≥ 0. Agora,
essa soma será igual a 0 se, e somente se, x1 = y1 = z1 = 0, ou seja, se, e somente se, ⃗u = ⃗0. □
Exemplo 26. Dados ⃗u, ⃗v ∈ R3 vetores quaisquer mostre, usando as propriedades do produto
interno, que ∥⃗u + ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 + 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2 .
27
28 3. PRODUTO DE VETORES

Solução.

∥⃗u + ⃗v ∥2 = (⃗u + ⃗v ) · (⃗u + ⃗v ), pela Proposição 25(5)


= ⃗u · ⃗u + ⃗u · ⃗v + ⃗v · ⃗u + ⃗v · ⃗v , pela Proposição 25(2)
= ∥⃗u∥2 + 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2 , pela Proposição 25(1) e (5).

Exemplo 27. Dados ⃗u, ⃗v ∈ R3 vetores quaisquer mostre, usando as propriedades do produto
interno, que ∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2 .

Solução.

∥⃗u − ⃗v ∥2 = (⃗u − ⃗v ) · (⃗u − ⃗v ), pela Proposição 25(5)


= (⃗u + (−⃗v )) · (⃗u + (−⃗v ))
= ⃗u · ⃗u + ⃗u · (−⃗v ) + (−⃗v ) · ⃗u + (−⃗v ) · (−⃗v ), pela Proposição 25(2)
= ⃗u · ⃗u + ⃗u · (−1)⃗v + (−1)⃗v · ⃗u + (−⃗v ) · (−⃗v )
= ∥⃗u∥2 − ⃗u · ⃗v − ⃗v · ⃗u + ∥ − ⃗v ∥2 , pela Proposição 25(3) e (5)
= ∥⃗u∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2 , pela Proposição 25(1).

Apresentaremos, a seguir, mais algumas propriedades importantes do produto interno cujas de-
monstrações ficam como exercício.

Proposição 28. Sejam ⃗u e ⃗v vetores no espaço R3 temos:


(1) (⃗u + ⃗v ) · (⃗u − ⃗v ) = ∥⃗u∥2 − ∥⃗v ∥2 .
(2) |⃗u · ⃗v | ≤ ∥⃗u∥∥⃗v ∥ (DESIGUALDADE DE SCHWARZ).
(3) ∥⃗u + ⃗v ∥ ≤ ∥⃗u∥ + ∥⃗v ∥ (DESIGUALDADE TRIANGULAR).

Note que a Desigualdade Triangular (item (3) da proposição anterior) confirma uma conhecida
propriedade dos triângulos: a soma dos comprimentos de dois lados é maior do que o comprimento
do terceiro lado (veja a Figura 3.1.1). A igualdade somente ocorre se ⃗u e ⃗v forem paralelos e tiverem
o mesmo sentido.

⃗v
⃗u+ ⃗v

⃗u
Figura 3.1.1

Uma consequencia importante do produto interno entre dois vetores é que nos permite determinar
se os vetores são ortogonais ou não, como mostra a seguinte proposição.

Proposição 29. Dois vetores não nulos ⃗u, ⃗v ∈ R3 são ortogonais se, e somente se, ⃗u · ⃗v = 0.

Demonstração. Considere o triângulo formado pelos vetores ⃗u, ⃗v e ⃗u − ⃗v .


3.1. PRODUTO INTERNO OU ESCALAR 29

⃗u − ⃗v
⃗v

⃗u

Primeira parte: ⃗u ⊥ ⃗v =⇒ ⃗u · ⃗v = 0. Como ⃗u ⊥ ⃗v , então esse triângulo é retângulo. Segue


pelo Teorema de Pitágoras que:
∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 + ∥⃗v ∥2 ,
do Exemplo 27:
∥⃗u∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 + ∥⃗v ∥2

∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + 
∥⃗u
 ∥2 = 
∥⃗v ∥2 + 
∥⃗u ∥2
∥⃗v

−2(⃗u · ⃗v ) = 0,
dividindo por −2:
⃗u · ⃗v = 0.
Segunda parte: ⃗u · ⃗v = 0 =⇒ ⃗u ⊥ ⃗v . Como ⃗u · ⃗v = 0, segue do Exemplo 27 que:
∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2

∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 − 2 · 0 + ∥⃗v ∥2

∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 + ∥⃗v ∥2 .


Como vale o Teorema de Pitágoras, significa que o triângulo é retângulo e que ⃗u −⃗v é a hipotenusa,
logo ⃗u ⊥ ⃗v . □

Por convenção, o vetor nulo ⃗0 é ortogonal a todo vetor. Logo a condição de ortogonalidade da
proposição anterior vale para quaisquer dois vetores ⃗u e ⃗v .
Exemplo 30. Decida se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas. Se for falsa, dê um
contraexemplo. Se for verdadeira, prove.
(1) Se ⃗u · ⃗v = ⃗u · w
⃗ então ⃗v = w, ⃗u · ⃗v = 
⃗ ou seja vale a propriedade de cancelamento:  ⃗u · w.

(2) Se ⃗u · ⃗v = ⃗u · w
⃗ então o vetor ⃗u é ortogonal ao vetor ⃗v − w.

Solução.
(1) A primeira afirmação é FALSA, de fato considere os vetores ⃗u = (1, 0, 0), ⃗v = (4, 2, 1) e
⃗ = (4, 1, 1). Claramente satisfazem ⃗u · ⃗v = 4 = ⃗u · w
w ⃗ mas ⃗v ̸= w.

(2) A segunda afirmação é VERDADEIRA, de fato se
⃗u · ⃗v = ⃗u · w
⃗ ⇒ ⃗u · ⃗v − ⃗u · w
⃗ =0
Prop 25 (2) ⇝ ⇒ ⃗u · (⃗v − w)
⃗ =0
Prop 29 ⇝ ⇒ ⃗u ⊥ (⃗v − w).

30 3. PRODUTO DE VETORES

3.1.2. Projeção ortogonal. Suponha agora que sejam dados dois vetores ⃗u e ⃗v não nulos.
Queremos decompor ⃗v de forma que ⃗v = v⃗1 + v⃗2 sendo v⃗1 ∥ ⃗u e v⃗2 ⊥ ⃗u, como mostra a Figura 3.1.2.

⃗v
v⃗2
⃗v
⃗v v⃗2
v⃗2

v⃗1 v⃗1 ⃗u v⃗1

Figura 3.1.2. Projeção ortogonal de ⃗v sobre ⃗u

Definção 31. O vetor v⃗1 é chamado de projeção ortogonal de ⃗v sobre ⃗u e é indicado por
v⃗1 = proj⃗u ⃗v .
O seguinte teorema nos fornece uma expressão analítica do vetor proj⃗u ⃗v .
Teorema 32. Dados ⃗u, ⃗v ∈ R3 com ⃗u ̸= ⃗0, a projeção de ⃗v sobre ⃗u é:
⃗u · ⃗v
 
(3.1.1) v⃗1 = proj⃗u ⃗v = ⃗u.
⃗u · ⃗u
Demonstração. Pela definição, a projeção v⃗1 = proj⃗u ⃗v é um vetor tal que ⃗v = v⃗1 + v⃗2 sendo
v⃗1 ∥ ⃗u e v⃗2 ⊥ ⃗u. Segue então que v⃗2 = ⃗v − v⃗1 ⊥ ⃗u, como mostra a Figura 3.1.3.

⃗v
v⃗2 = ⃗v − v⃗1

v⃗1 ⃗u

Figura 3.1.3

Como v⃗1 está na direção de ⃗u sabemos que v⃗1 = k⃗u para algum k ∈ R. Queremos encontrar a
constante k. Observe que (⃗v − v⃗1 ) ⊥ ⃗u, então, pela Proposição 29, temos:
⃗u · (⃗v − v⃗1 ) = 0,
aplicando a propriedade distributiva do produto interno, temos:
⃗u · ⃗v − ⃗u · v⃗1 = 0
⃗u · ⃗v = ⃗u · v⃗1 ,
substituindo v⃗1 = k⃗u:
⃗u · ⃗v = ⃗u · (k⃗u) = k(⃗u · ⃗u).
3.1. PRODUTO INTERNO OU ESCALAR 31

Como ⃗u ̸= ⃗0, segue da Proposição 25(4) que ⃗u · ⃗u ̸= 0 logo, podemos dividir por ⃗u · ⃗u > 0 e temos
que:
⃗u · ⃗v
k= .
⃗u · ⃗u
Portanto, substituindo k em v⃗1 = k⃗u:
⃗u · ⃗v
 
v⃗1 = proj⃗u ⃗v = ⃗u.
⃗u · ⃗u

Exemplo 33. Dados os vetores ⃗v = (1, 3, −5) e ⃗u = (4, −2, 8), decompor ⃗v como ⃗v = v⃗1 + v⃗2
sendo v⃗1 ∥ ⃗u e v⃗2 ⊥ ⃗u.
Solução. Sabemos que nesse caso
⃗u · ⃗v
 
v⃗1 = proj⃗u ⃗v = ⃗u,
⃗u · ⃗u
em que ⃗u · ⃗v = 4 − 6 − 40 = −42 e ⃗u · ⃗u = 42 + (−2)2 + 82 = 84. Então
42 1
v⃗1 = − (4, −2, 8) = − (4, −2, 8) = (−2, 1, −4).
84 2
Como ⃗v = v⃗1 + v⃗2 segue que
v⃗2 = ⃗v − v⃗1 = (1, 3, −5) − (−2, 1, −4) = (3, 2, −1),
logo ⃗v = (−2, 1, −4) + (3, 2, −1).
3.1.3. Cálculo do ângulo entre dois vetores. Vimos que é possível determinar, usando pro-
duto interno, se dois vetores são ortogonais ou não. Veremos agora que o produto interno também
nos permite encontrar o ângulo entre dois vetores. Para isso vamos precisar de uma propriedade bem
conhecida dos triângulos a ”Lei dos Cossenos” que é uma generalização do Teorema de Pitágoras para
um triângulo qualquer, isto é, não necessariamente é restrita a triângulos retângulos.

Proposição 34. (LEI DOS COSSENOS) Em um triângulo qualquer vale a relação


a2 = b2 + c2 − 2bc cos θ,
em que a notação é dada conforme a Figura 3.1.4.

b a
h

θ
m c

Figura 3.1.4
32 3. PRODUTO DE VETORES

Demonstração. Traçamos a altura h do triângulo em relação ao lado c, conforme a Figura


3.1.4, então:
h
sen θ = ∴ h = b sen θ
b
m
cos θ = ∴ m = b cos θ.
b
Aplicando o Teorema de Pitágoras no outro triângulo, temos:
a2 = h2 + (c − m)2 = h2 + c2 − 2cm + m2 ,
fazendo as substituições de h e m:
a2 = b2 sen2 θ + c2 − 2cb cos θ + b2 cos2 θ
a2 = b2 (sen2 θ + cos2 θ) + c2 − 2bc cos θ,
como sen2 θ + cos2 θ = 1:
a2 = b2 + c2 − 2bc cos θ.

Como consequência da proposição anterior podemos provar o seguinte resultado que relaciona o
produto interno entre dois vetores com o ângulo por eles formado.
Teorema 35. Se θ é o ângulo entre os vetores ⃗u e ⃗v , então ⃗u · ⃗v = ∥⃗u∥∥⃗v ∥ cos θ.
Demonstração. Considere o triângulo formado pelos vetores ⃗u, ⃗v e ⃗u − ⃗v .

⃗v ⃗u − ⃗v

θ
⃗u

Pela Lei dos Cossenos (Proposição 34), temos que:


∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 + ∥⃗v ∥2 − 2 ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ cos θ.
Por outro lado, pelo Exemplo 27, sabemos que:
∥⃗u − ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + ∥⃗v ∥2 ,
igualando as expressões anteriores, temos:
 ∥2 + 
∥⃗u ∥2 − 2 ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ cos θ
∥⃗v ∥2 − 2(⃗u · ⃗v ) + 
∥⃗u
= ∥2
∥⃗v
−2 ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ cos θ = −2(⃗u · ⃗v )
⃗u · ⃗v = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ cos θ.

Segue do teorema anterior que
⃗u · ⃗v
cos θ =
∥⃗u∥ ∥⃗v ∥
e, desta forma, podemos encontrar o ângulo entre os vetores ⃗u e ⃗v calculando o produto interno.

Observe que, o ângulo 0◦ ≤ θ ≤ 180◦ entre os vetores ⃗u e ⃗v determina o sinal do produto interno
dos vetores, de fato:
3.1. PRODUTO INTERNO OU ESCALAR 33

(1) Se 0◦ ≤ θ < 90◦ então cos θ > 0 e pelo teorema anterior segue que ⃗u · ⃗v > 0.
(2) Se θ = 90◦ então, pela Proposição 29, sabemos que ⃗u · ⃗v = 0.
(3) Se 90◦ < θ ≤ 180◦ então cos θ < 0 e pelo teorema anterior segue que ⃗u · ⃗v < 0.
Reciprocamente:
(1) Se ⃗u · ⃗v > 0 então pelo teorema anterior cos θ > 0, logo 0◦ ≤ θ < 90◦ .
(2) Se ⃗u · ⃗v = 0 então, pela Proposição 29, os vetores são ortogonais, logo θ = 90◦ .
(3) Se ⃗u · ⃗v < 0 então pelo teorema anterior cos θ < 0, logo 90◦ < θ ≤ 180◦ .

3.1.4. Ângulos e cossenos diretores de um vetor. Considere ⃗i = (1, 0, 0), ⃗j = (0, 1, 0) e


⃗k = (0, 0, 1) os vetores canônicos de R3 .

Definção 36. Dado um vetor ⃗v = (x, y, z) ∈ R3 os ângulos diretores de ⃗v são os ângulos que
esse vetor forma com os vetores ⃗i, ⃗j e ⃗k. Os cossenos diretores de ⃗v são os respectivos cossenos
desses ângulos.
Denotando esses ângulos por α, β e γ, pelo Teorema 35 temos que:
⃗v · ⃗i x
cos α = =
∥⃗v ∥ ∥⃗i∥ ∥⃗v ∥

⃗v · ⃗j y
cos β = =

∥⃗v ∥ ∥j∥ ∥⃗v ∥
⃗v · ⃗k z
cos γ = =
∥⃗v ∥ ∥⃗k∥ ∥⃗v ∥

z
⃗v

⃗k

α γ β
⃗j y

⃗i

Note que o versor de ⃗v (i.e., o vetor que tem a mesma direção e sentido de ⃗v e norma unitária) é
 
⃗v x y z
= , , = (cos α, cos β, cos γ)
∥⃗v ∥ ∥⃗v ∥ ∥⃗v ∥ ∥⃗v ∥
logo os ângulos diretores de um vetor satisfazem
cos2 α + cos2 β + cos2 γ = 1.
34 3. PRODUTO DE VETORES

Exemplo 37. Sejam A = (1, 2, −1), B = (2, 0, 1) e C = (2 + t, 5 − 2t, −3 + 2t) os vértices de um


triângulo, com t ∈ R. Classifique o ângulo  em obtuso, reto ou agudo em função de t.

C C C

A B

−→ −→
Solução. Considere os vetores AB = (1, −2, 2) e AC = (1 + t, 3 − 2t, −2 + 2t). Logo:
−→ −→
AB · AC = (1 + t) − 2(3 − 2t) + 2(−2 + 2t) = 1 + t − 6 + 4t − 4 + 4t = 9t − 9
Pelo Teorema 35 temos:
−→ −→ −→ −→
9t − 9 = AB · AC = ∥AB∥∥AC∥ cos Â
−→ −→
Como ∥AB∥ e ∥AC∥ são positivos:
cos  < 0 ⇔ 9t − 9 < 0 ⇔ t < 1. Logo, o ângulo  é obtuso ⇔ t < 1.
cos  = 0 ⇔ 9t − 9 = 0 ⇔ t = 1. Logo, o ângulo  é reto ⇔ t = 1.
cos  > 0 ⇔ 9t − 9 > 0 ⇔ t > 1. Logo, o ângulo  é agudo ⇔ t > 1.
Exemplo 38. Sejam A = (1, 2, −1), B = (2, 0, 1) e C = (2 + t, 5 − 2t, −3 + 2t) os vértices de um
π
triângulo, com t ∈ R. Para que valor de t temos  = ?
6
−→ −→ −→ −→
Solução. Do exemplo anterior, AB = (1, −2, 2), AC = (1+t, 3−2t, −2+2t) e AB · AC = 9t−9.
Pelo Teorema 35 temos:
−→ −→ π
9t − 9 = ∥AB∥∥AC∥ cos
6 √
3
q  
= 12 + (−2)2 + 22 (1 + t)2 + (3 − 2t)2 + (−2 + 2t)2 ·
p 2
3(1 + 4 + 4)(1 + 2t + t + 9 − 12t + 4t + 4 − 8t + 4t )
2 2 2
= ,
2
donde segue que p
18(t − 1) = 3 · 9(14 − 18t + 9t2 ),
elevando tudo ao quadrado
324(t2 − 2t + 1) = 27(14 − 18t + 9t2 ),
dividindo tudo por 27:
12t2 − 24t + 12 = 14 − 18t + 9t2
3t2 − 6t − 2 √= 0.
Esta equação de segundo grau tem raízes t = 1 ± 315 . Porém, queremos encontrar

t tal que  é
π ◦ 15

agudo 6 rad = 30 logo, segue do exemplo anterior que t > 1, assim t = 1 + 3 > 1 (descartamos
a outra raiz, porque é menor que 1 e resultaria em  obtuso).
3.1. PRODUTO INTERNO OU ESCALAR 35

Exemplo 39. Sejam A = (1, 2, −1), B = (2, 0, 1) e C = (2 + t, 5 − 2t, −3 + 2t) os vértices de um


5
triângulo, com t = . Calcule a altura do triângulo relativa ao vértice C.
3
−→ −→ −→ −→
Solução. Dos exemplos anteriores, AB = (1, −2, 2), AC = (1 + t, 3 − 2t, −2 + 2t) e AB · AC =
9t − 9.

A P B

Figura 3.1.5
−→ −→
Seja P o pé da altura relativa ao vértice C. Note que o vetor AP é a projeção do vetor AC sobre
o vetor AB (veja a Figura 3.1.5), então temos
−→ −→
AP = proj− → AC
AB
−→ −→ !
AB · AC −→
= −→ −→ AB
AB · AB
9(t − 1)
 
= (1, −2, 2)
12 + (−2)2 + 22
9(t − 1)
 
= (1, −2, 2)
9
= (t − 1)(1, −2, 2)
 
5 5
t = por hipótese ⇝ = − 1 (1, −2, 2)
3 3
2
= (1, −2, 2)
3
 
2 4 4
= ,− , .
3 3 3
Por outro lado,
−→
   
2 4 4 5 2 1
P = A + AP = (1, 2, −1) + ,− , = , , .
3 3 3 3 3 3
Agora:
−→
     
5 10 10 5 2 1 12 9
PC = C − P = 2 + , 5 − , −3 + − , , = 2, 5 − , −3 + = (2, 1, 0).
3 3 3 3 3 3 3 3
−→ √ √
Portanto, a altura do triângulo relativa ao vértice C é ∥P C∥ = 22 + 12 + 02 = 5.
Exemplo 40. Provar, utilizando produto interno, que o ângulo inscrito em uma semicircunferên-
cia é reto.
36 3. PRODUTO DE VETORES

Solução. Considere a circunferência da Figura 3.1.6.

⃗u + ⃗v ⃗u ⃗u − ⃗v

A B
⃗v O

Figura 3.1.6

−→ −→ −→ −→ −→ −−→
Denotemos por ⃗u = P O e ⃗v = OA, então ⃗u + ⃗v = P O + OA = P A. Agora, note que OB =
−→ −→ −−→ −−→
−OA = −⃗v , então ⃗u − ⃗v = P O + OB = P B.
−→ −−→
Calculamos o produto interno P A · P B:
−→ −−→
P A · P B = (⃗u + ⃗v ) · (⃗u − ⃗v ) = ⃗u · ⃗u −  ·
⃗u  ⃗v ·
⃗v +  ⃗u − ⃗v · ⃗v = ∥⃗u∥2 − ∥⃗v ∥2 ,
mas como ∥⃗u∥ = ∥⃗v ∥ = r, temos
−→ −−→
P A · P B = r2 − r2 = 0.
−→ −−→
Portanto, P A e P B são ortogonais, ou seja, o ângulo AP̂ B é reto.

3.2. Produto Externo ou Vetorial


3.2.1. Revisão sobre Determinantes. Para o cálculo do produto externo faremos uso de de-
terminantes, por isso apresentaremos uma breve revisão da definição e propriedades principais dos
determinantes.
Definção 41.
(1) Um determinante de ordem 2 é definido com sendo:

x1 y1
x2 y2 = x1 y2 − x2 y1 .

(2) Um determinante de ordem 3 é definido com sendo:



a b c

x1 y 1
z1 = ay1 z2 + bz1 x2 + cx1 y2 − az1 y2 − bx1 z2 − cy1 x2
x2 y 2 z2
ou, equivalentemente, pela Regra de Laplace

a b c
y1 z1 x1 z1 x1 y1
y2 z2 − b x2 z2 + c x2 y2 .
x1 y1 z1 = a

x2 y2 z2
3.2. PRODUTO EXTERNO OU VETORIAL 37

Também denotaremos o determinante de uma matriz por


 
a b c
det x1 y1 z1  .
x2 y2 z2
Proposição 42. PROPRIEDADES DOS DETERMINANTES:
(1) A permutação de duas linhas (ou colunas) da matriz inverte o sinal do determinante.

a b c a b c

x2 y2 z2 = − x1 y1 z1 .

x1 y1 z1 x2 y2 z2

(2) Se duas linhas (ou colunas) forem constituidas de elementos proporcionais o determinante é
zero.
a b c

x1 y1 z1 = 0.

kx1 ky1 kz1
(3) Se uma das linhas (ou colunas) for constituída de zeros, o determinante é zero.

a b c

x1 y1 z1 = 0.

0 0 0

(4) Se uma das linhas (ou colunas) de uma matriz for multiplicada por um número real k, o seu
determinante fica multiplicado por k.

ka kb kc a b c

x1 y1 z1 = k x1 y1 z1 .

x2 y2 z2 x2 y2 z2

Exemplo 43. Calcule o determinante



3 −2 −4
3 5 1 5 1 3
+ 2 −2 2 − 4 −2 1
1 3 5 = 3


−2 1 1 2
2
= 3(6 − 5) + 2(2 + 10) − 4(1 + 6) = 3 · 1 + 2 · 12 − 4 · 7
= 3 + 24 − 28 = −1.
3.2.2. Definição e propriedades. O produto externo ou vetorial de dois vetores ⃗u e ⃗v é um
vetor, ao contrário do produto interno que é um número real. Outra diferença é que o produto externo
só pode ser definido para vetores no R3 .
Definção 44. Dados dois vetores ⃗u = (x1 , y1 , z1 ) e ⃗v = (x2 , y2 , z2 ) em R3 , o produto externo
ou produto vetorial de ⃗u por ⃗v (tomados nessa ordem) é o vetor dado por:

 
y1 z1 x1 z1 x1 y1
(3.2.1) ⃗u × ⃗v = ,−
x2 z2 , x2 y2 .

y2 z2

Observação 45. O produto externo ⃗u × ⃗v também pode ser denotado por ⃗u ∧ ⃗v .


38 3. PRODUTO DE VETORES

Note que o produto externo poderia ser escrito como um determinante ”formal” 3 × 3 como segue:

⃗i ⃗j ⃗k
y1 z1 x1 z1 x1 y1
⃗ ⃗ ⃗

⃗u × ⃗v = x1 y1 z1 =

i − x2 z2 j + x2 y2 k.

x2 y2 z2 y2 z2

Dizemos que o determinante é ”formal” pois o que acabamos de escrever não pode ser considerado
um determinante propriamente dito já que a primeira linha contém vetores e não números reais como
as outras duas.
Exemplo 46. Calcule ⃗u × ⃗v para ⃗u = (5, 4, 3) e ⃗v = (1, 0, 1).
Solução.

⃗i ⃗j ⃗k
4 3 5 3 5 4
⃗i − ⃗ ⃗

⃗u × ⃗v = 5 4 3 = 1 1 j + 1 0 k
1 0 1
0 1
= (4 − 0)⃗i − (5 − 3)⃗j + (0 − 4)⃗k
= 4⃗i − 2⃗j − 4⃗k = (4, −2, −4).
Proposição 47. (PROPRIEDADES DO PRODUTO EXTERNO) Sejam ⃗u, ⃗v , w ⃗ vetores em R3 ,
⃗0 o vetor nulo e k ∈ R. Valem as seguintes propriedades:
(1) ⃗v × ⃗u = −(⃗u × ⃗v ), ou seja ⃗v × ⃗u e ⃗u × ⃗v são vetores opostos.
(2) ⃗u × (⃗v + w)
⃗ = ⃗u × ⃗v + ⃗u × w ⃗ e (⃗u + ⃗v ) × w
⃗ = ⃗u × w
⃗ + ⃗v × w.

(3) ⃗u × (k⃗v ) = k(⃗u × ⃗v ) = (k⃗u) × ⃗v .
(4) ⃗u × ⃗v = ⃗0 se, e somente se, ⃗u ∥ ⃗v .
No último item, usamos a convenção de que o vetor nulo ⃗0 é paralelo a qualquer vetor.
Veja que a primeira propriedade da Proposição 47 nos diz que o produto externo não é comutativo.
Além disso, o produto externo também não é associativo, ou seja, em geral (⃗u ×⃗v ) × w
⃗ ̸= ⃗u × (⃗v × w).

Por exemplo, note que
(⃗i × ⃗j) × ⃗j = ⃗k × ⃗j = −⃗i
⃗i × (⃗j × ⃗j) = ⃗i × ⃗0 = ⃗0.

3.2.3. Características do vetor ⃗u×⃗v . Para determinar completamente o vetor ⃗u×⃗v precisamos
descrever sua direção, sentido e módulo. Se ⃗u = ⃗0 ou ⃗v = ⃗0 então é claro que ⃗u × ⃗v = ⃗0. No que
segue considere que os vetores ⃗u = (x1 , y1 , z1 ) e ⃗v = (x2 , y2 , z2 ) são ambos não nulos.

Direção de ⃗u × ⃗v .
Teorema 48. Dados ⃗u = (x1 , y1 , z1 ), ⃗v = (x2 , y2 , z2 ) ∈ R3 , temos que ⃗u × ⃗v ⊥ ⃗u e ⃗u × ⃗v ⊥ ⃗v . Em
outras palavras, o produto vetorial é simultaneamente ortogonal aos dois vetores.
 
y1 z1 x1 z1 x1 y1
Demonstração. Como ⃗u × ⃗v = ,−
x2 z2 , x2 y2 segue que:

y2 z2

x1 y1 z1
y z x z x y
⃗u · (⃗u × ⃗v ) = x1 1 1 − y1 1 1 + z1 1 1 = x1 y1 z1 = 0,

y2 z2 x2 z2 x2 y 2 x2 y2 z2
isto porque as duas primeiras linhas da matriz são iguais, o que leva ao determinante nulo.
3.2. PRODUTO EXTERNO OU VETORIAL 39

Analogamente:

x2 y2 z2
y z x z x y
⃗v · (⃗u × ⃗v ) = x2 1 1 − y2 1 1 + z2 1 1 = x1 y1 z1 = 0,

y2 z2 x2 z2 x2 y2 x2 y2 z2

isto porque a primeira e a terceira linhas da matriz são iguais, o que leva ao determinante nulo. □

Sentido de ⃗u × ⃗v .
Para determinar o sentido de ⃗u ×⃗v utilizamos a regra da mão direita: basta apontar o indicador
da mão direita na direção do vetor ⃗u e o dedo médio na direção do vetor ⃗v . Desta forma, o polegar
apontará para a direção e sentido do vetor ⃗u × ⃗v (veja a Figura 3.2.1).

Figura 3.2.1. Regra da mão direita

⃗u × ⃗v

⃗v

⃗u

⃗v × ⃗u

Módulo de ⃗u × ⃗v .
Lema 49. (IDENTIDADE DE LAGRANGE) Dados ⃗u, ⃗v ∈ R3 , vale a relação:

(3.2.2) ∥⃗u × ⃗v ∥2 + (⃗u · ⃗v )2 = ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 .


40 3. PRODUTO DE VETORES

Demonstração. Sejam ⃗u = (x1 , y1 , z1 ) e ⃗v = (x2 , y2 , z2 ). Então:

y1 z1 2 x1 z1 2 x1 y1 2

2
∥⃗u × ⃗v ∥ =
+
+
y2 z2 x2 z2 x2 y 2
= (y1 z2 − y2 z1 )2 + (x2 z1 − x1 z2 )2 + (x1 y2 − x2 y1 )2
= (y1 z2 )2 − 2y1 z2 y2 z1 + (y2 z1 )2 + (x2 z1 )2 − 2x2 z1 x1 z2 + (x1 z2 )2 +
+ (x1 y2 )2 − 2x1 y2 x2 y1 + (x2 y1 )2 .

Por outro lado,

(⃗u · ⃗v )2 = (x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 )2
= (x1 x2 )2 + 2x1 x2 y1 y2 + 2x1 x2 z1 z2 + (y1 y2 )2 + 2y1 y2 z1 z2 + (z1 z2 )2 .

Somando as duas relações anteriores:

∥⃗u × ⃗v ∥2 + (⃗u · ⃗v )2 = (y1 z2 )2 + (y2 z1 )2 + (x2 z1 )2 + (x1 z2 )2 + (x1 y2 )2 + (x2 y1 )2 + (x1 x2 )2 + (y1 y2 )2 + (z1 z2 )2
= y12 [z22 + x22 + y22 ] + z12 [y22 + x22 + z22 ] + x21 [z22 + y22 + x22 ]
= (x21 + y12 + z12 )(x22 + y22 + z22 ) = ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 .

Usaremos a Identidade de Lagrange para provar o próximo resultado o qual caracteriza o compri-
mento do vetor ⃗u × ⃗v .

Teorema 50. Sejam ⃗u, ⃗v ∈ R3 , com θ sendo o ângulo entre ⃗u e ⃗v . O comprimento de ⃗u × ⃗v é


dado por
∥⃗u × ⃗v ∥ = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ sen θ.

Demonstração. Pelo lema anterior, temos que:

(3.2.3) ∥⃗u × ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 − (⃗u · ⃗v )2 .

Do Teorema 35, sabemos que


⃗u · ⃗v = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ cos θ.
Substituindo em (3.2.3)

∥⃗u × ⃗v ∥2 = ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 − ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 cos2 θ = ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 (1 − cos2 θ) = ∥⃗u∥2 ∥⃗v ∥2 sen2 θ,

extraindo a raiz quadrada e admitindo que sen θ ≥ 0 (já que 0◦ ≤ θ ≤ 180◦ ) segue que

∥⃗u × ⃗v ∥ = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ | sen θ| = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ sen θ.

3.2.4. Interpretação geométrica do módulo do produto externo. Sejam ⃗u e ⃗v vetores não


nulos e não paralelos. Sabemos, pelo teorema anterior, que ∥⃗u × ⃗v ∥ = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ sen θ. Seja h a altura
do triângulo formado por ⃗u, ⃗v e ⃗u − ⃗v , como mostra a Figura 3.2.2.
3.2. PRODUTO EXTERNO OU VETORIAL 41

⃗v
h

⃗u

Figura 3.2.2

Então h = ∥⃗v ∥ sen θ. Assim, a área do paralelogramo determinado pelos vetores ⃗u e ⃗v é:


(3.2.4) Sp = ∥⃗u∥ h = ∥⃗u∥ ∥⃗v ∥ sen θ = ∥⃗u × ⃗v ∥ .
Uma consequência disso é que a área do triângulo determinado pelos vetores ⃗u e ⃗v é:
1
(3.2.5) St = ∥⃗u × ⃗v ∥ .
2
Exemplo 51. Sejam A = (1, 2, −1), B = (2, 0, 1) e C = (4, 2, 1) os vértices de um triângulo.
Calcule a altura do triângulo relativa ao vértice C.

A B

Solução. Sabemos que a área do triângulo é:


base · altura 1 −→
St = = ∥AB∥h,
2 2
1 −→ −→
e, por outro lado, pela equação (3.2.5) também tem-se St = ∥AB × AC∥, logo
2
1 −→ 1 −→ −→
 ∥AB∥h =  ∥AB × AC∥,
2 2
e, portanto,
−→ −→
∥AB × AC∥
h= −→ .
∥AB∥
−→ −→ −→ −→
Neste exemplo, AB = (1, −2, 2), AC = (3, 0, 2) e AB × AC = (−4, 4, 6).
−→ −→ √ √ √
∥AB × AC∥ = 16 + 16 + 36 = 68 = 2 17
−→ √ √
∥AB∥ = 1 + 4 + 4 = 9 = 3,
logo √
2 17
h= .
3
42 3. PRODUTO DE VETORES

Compare esta resolução com a resolução do Exercício 39, em que resolvemos um exercício similar
usando projeção.

Exemplo 52. Sejam A = (x1 , y1 ), B = (x2 , y2 ) e C = (x3 , y3 ) ∈ R2 os vértices de um triângulo


no plano. Mostre que a área do triângulo △ABC é dada por
 
x 1 y 1 1
1 
St = det x2 y2 1 .
2 x3 y 3 1

Solução. Considere os pontos A, B, C como pontos pertencentes ao plano xOy do espaço carte-
siano, i.e., sejam A′ = (x1 , y1 , 0), B ′ = (x2 , y2 , 0), C ′ = (x3 , y3 , 0) ∈ R3 . Temos que

−− → −−→
A′ B ′ = (x2 − x1 , y2 − y1 , 0) e A′ C ′ = (x3 − x1 , y3 − y1 , 0).

−−→ −−→
Logo, A′ B ′ × A′ C ′ = (0, 0, (x2 − x1 )(y3 − y1 ) − (x3 − x1 )(y2 − y1 )). Sabemos que:

 
x y 1
1 −−→ −− → 1 1

′ ′ ′ ′ 1 1 
St = ∥A B × A C ∥ = |(x2 − x1 )(y3 − y1 ) − (x3 − x1 )(y2 − y1 )| = det x2 y2 1 .

2 2 2 x3 y 3 1

Uma pergunta natural que surge é:

3
Exemplo 53. Sejam A = (x1 , y1 , z1 ), B = (x2 3 , y3 , z3 ) ∈ R . Podemos dizer que a
, y2 , z2 ), C =(x
x y z
1  1 1 1 

área do triângulo △ABC é dada por St = det x2 y2 z2 ?
2 x3 y3 z3

A resposta é não. Vejamos por quê.


3.2. PRODUTO EXTERNO OU VETORIAL 43

y
A

B
x

Solução. Tome por exemplo A = (0, 0, 0), B = (1, 0, 0), C = (0, 0, 1). A área do triângulo que
1
tem base 1 e altura 1 é . Mas se calcularmos:
2  
0 0 0
1  1
det 1 0 0 = 0 ̸= .
2 0 0 1 2

Exemplo 54. Em um triângulo △ABC, considere D o ponto médio de AB e E o ponto tal que
−→ 1 −→
AE = AC. Expresse a área do triângulo △CDE em termos da área de △ABC.
4

A D B

−−→ 1 −→
Solução. Observe que AD = AB, desse modo
2
1 −−→ −→ 1 1 −→ −→ 1 1 −→ −→
 
S△ADC = ∥AD × AC∥ = ∥ AB × AC∥ = ∥AB × AC∥ ,
2 2 2 2 2
1 −→ −→
mas como S△ABC = ∥AB × AC∥:
2
1
S△ADC = S△ABC .
2
−−→ 3 −→
Agora, lembrando que CE = CA , temos
4
1 −−→ −−→ 1 3 −→ −−→ 3 1 −→ −−→
 
3
S△CDE = ∥CE × CD∥ = ∥ CA × CD∥ = ∥CA × CD∥ = S△ADC ,
2 2 4 4 2 4
44 3. PRODUTO DE VETORES

1
mas como S△ADC = S△ABC :
2
3 1 3
S△CDE =· S△ABC = S△ABC .
4 2 8
Exemplo 55. Sejam A = (1, 0, 1), B = (2, 1, 0), C = (0, 1, 1) e D = (1, t, 0). Para qual valor de
t ∈ R esses pontos são coplanares?
−→ −→
Solução. Como os vetores AB = (1, 1, −1) e AC = (−1, 1, 0) não são paralelos, os três pontos
A, B e C determinam um plano. Seja π o plano definido pelos pontos A, B e C.

w

π
D
B
⃗v
⃗u
C
A

−→ −→
Denote por ⃗v = AB = (1, 1, −1) e ⃗u = AC = (−1, 1, 0), então o produto externo de ⃗u por ⃗v é
 
1 0 −1 0 −1 1
⃗ = ⃗u × ⃗v =
w ,− , = (−1, −1, −2).
1 −1 1 −1 1 1
−−→
Temos que D ∈ π se, e somente se, AD ⊥ w. ⃗ Mas, pela Proposição 29, isso é equivalente a
−−→
AD · w
⃗ = 0, logo
−−→
AD · w⃗ = (0, t, −1) · (−1, −1, −2) = −t + 2 = 0 ⇔ t = 2.
Portanto, os pontos A, B, C e D serão coplanares se, e somente se, t = 2.

3.3. Produto Misto


Apresentaremos agora uma nova noção de produto entre vetores, o produto misto. Para definir
este produto precisamos de três vetores no R3 e, assim como no produto interno, o resultado do
produto misto também é um escalar. Veremos no final desta seção qual é a interpretação geométrica
deste número. O produto misto recebe esse nome pois é uma combinação do produto interno e do
produto externo.
3.3.1. Definição e propriedades.
⃗ = (x3 , y3 , z3 ) em R3 ,
Definção 56. Dados três vetores ⃗u = (x1 , y1 , z1 ), ⃗v = (x2 , y2 , z2 ) e w
chama-se de produto misto de ⃗u, ⃗v e w
⃗ (nessa ordem) ao número real (⃗u, ⃗v , w) ⃗ = ⃗u · ⃗v × w.⃗
Observação 57. O produto misto também é denotado por [⃗u, ⃗v , w].

Qual produto é efetuado primeiro? Primeiro calculamos o produto externo (×) e depois o
produto interno (·), pois se fosse o contrário, o produto interno resultaria em um número real, e não
faz sentido fazer produto externo de um escalar por um vetor.
 
y2 z2 x2 z2 x2 y2
Observação 58. Sabemos que ⃗v × w ⃗= ,−
, , então:
y3 z3 x3 z3 x3 y3

x2 y2 x1 y1 z1

y2 z2 x2 z2
⃗ = ⃗u · ⃗v × w
(⃗u, ⃗v , w) ⃗ = x1 − y1
x3 z3 + z1 x3 y3 = x2 y2 z2 .

y3 z3 x3 y3 z3
3.3. PRODUTO MISTO 45

⃗ ⃗q vetores no R3 e
Proposição 59. (PROPRIEDADES DO PRODUTO MISTO) Sejam ⃗u, ⃗v , w,
k ∈ R. Valem as seguintes propriedades:
(1) O produto misto muda de sinal ao permutarmos a posição de dois vetores:
⃗ = −(⃗u, w,
(⃗u, ⃗v , w) ⃗ ⃗v ) = (w,
⃗ ⃗u, ⃗v ).
(2) ⃗u · ⃗v × w⃗ = ⃗u × ⃗v · w.

(3) (a) (⃗u + ⃗q, ⃗v , w)
⃗ = (⃗u, ⃗v , w) ⃗ + (⃗q, ⃗v , w).

(b) (⃗u, ⃗v + ⃗q, w)
⃗ = (⃗u, ⃗v , w) ⃗ + (⃗u, ⃗q, w).

(c) (⃗u, ⃗v , w
⃗ + ⃗q) = (⃗u, ⃗v , w)
⃗ + (⃗u, ⃗v , ⃗q).
(4) (k⃗u, ⃗v , w)
⃗ = (⃗u, k⃗v , w)
⃗ = (⃗u, ⃗v , k w)
⃗ = k(⃗u, ⃗v , w).

(5) Coplanaridade: três vetores ⃗u, ⃗v e w ⃗ são coplanares se, e somente se, (⃗u, ⃗v , w)
⃗ = 0.
Demonstração.
(1) É uma consequência da mesma propriedade dos determinantes.
(2)
⃗u · ⃗v × w
⃗ = (⃗u, ⃗v , w)

item (1) ⇝ = −(⃗u, w,
⃗ ⃗v ) = (w,
⃗ ⃗u, ⃗v )
=w⃗ · ⃗u × ⃗v
Proposição 25 (1) ⇝ = ⃗u × ⃗v · w.

(3) Como consequência das propriedades distributivas do produto interno (Proposição 25(2)) e
do produto externo (Proposição 47(2)) temos
⃗ = (⃗u + ⃗q) · ⃗v × w
(a) (⃗u + ⃗q, ⃗v , w) ⃗ = ⃗u · ⃗v × w
⃗ + ⃗q · ⃗v × w
⃗ = (⃗u, ⃗v , w)
⃗ + (⃗q, ⃗v , w).

⃗ = ⃗u ·(⃗v +⃗q)× w
(b) (⃗u, ⃗v +⃗q, w) ⃗ = ⃗u ·(⃗v × w+⃗
⃗ q × w)
⃗ = ⃗u ·⃗v × w+⃗
⃗ u ·⃗q × w ⃗ = (⃗u, ⃗v , w)+(⃗
⃗ u, ⃗q, w).

(c) Análogo ao anterior.
(4) É uma consequência da mesma propriedade dos determinantes.
(5) Três vetores ⃗u, ⃗v , w⃗ são coplanares se, e somente se, ⃗u ⊥ ⃗v × w ⃗ (Figura 3.3.1). Mas, de acordo
com a Proposição 29, isso acontece se, e somente se, ⃗u · ⃗v × w ⃗ = 0. Ou seja, ⃗u, ⃗v , w ⃗ são
coplanares se, e somente se, (⃗u, ⃗v , w) ⃗ = 0.

⃗v × w

π
w
⃗ ⃗u
⃗v

Figura 3.3.1

A propriedade (1) implica em uma certa propriedade ”cíclica” do produto misto. Observe que,
fazendo o produto misto dos vetores ⃗u, ⃗v , w
⃗ no sentido da Figura 3.3.2, sempre resultará no mesmo
valor, i.e.,
(⃗u, ⃗v , w)
⃗ = (⃗v , w,
⃗ ⃗u) = (w,
⃗ ⃗u, ⃗v ) = α.
46 3. PRODUTO DE VETORES

⃗u

w
⃗ ⃗v

Figura 3.3.2

Mas, se fazemos o produto no sentido contrário (Figura 3.3.3) muda o sinal do resultado:

(⃗u, w,
⃗ ⃗v ) = (w, ⃗ = −α.
⃗ ⃗v , ⃗u) = (⃗v , ⃗u, w)

⃗u

−α

w
⃗ ⃗v

Figura 3.3.3

Exemplo 60. Determine se ⃗u = (2, −1, 1), ⃗v = (1, 0, −1) e w


⃗ = (2, −1, 4) são coplanares.

Solução. Pela proposição anterior os vetores serão coplanares se, e somente se, (⃗u, ⃗v , w)
⃗ = 0.
Calculando o produto misto temos

2 −1 1

⃗ = 1 0 −1 = 2 · (−1) + 1 · (4 + 2) + 1 · (−1) = −2 + 6 − 1 = 3.
(⃗u, ⃗v , w)
2 −1 4

⃗ = 3 ̸= 0 os vetores não são coplanares.


Como (⃗u, ⃗v , w)

Exemplo 61. Determine o valor de m ∈ R para que os vetores ⃗u = (2, m, 0), ⃗v = (1, −1, 2) e
⃗ = (−1, 3, −1) sejam coplanares.
w

Solução. Devemos encontrar m tal que (⃗u, ⃗v , w)


⃗ = 0, assim

2 m 0

⃗ = 1 −1 2 = 2(1 − 6) − m(−1 + 2) = −10 − m =⇒ m = −10.
0 = (⃗u, ⃗v , w)
−1 3 −1

3.3.2. Coplanaridade de pontos e de vetores. Três vetores podem não ser coplanares. Veja,
por exemplo, a Figura 3.3.4 que mostra que os vetores canônicos ⃗i = (1, 0, 0), ⃗j = (0, 1, 0) e ⃗k = (0, 0, 1)
não são coplanares.
3.3. PRODUTO MISTO 47

⃗k
y
⃗j
⃗i
x

Figura 3.3.4

Já três pontos sempre serão coplanares. Na Figura 3.3.5, foram representados os pontos A =
(1, 0, 0), B = (0, 1, 0) e C = (0, 0, 1) os quais determinam um plano.
z

C
y
B
A
x

Figura 3.3.5

Por isso, é muito importante, quando estamos estudando coplanaridade, determinar se as triplas
dadas representam pontos ou vetores.
3.3.3. Interpretação geométrica do produto misto. Considere os vetores ⃗u, ⃗v e w ⃗ não
coplanares e o paralelepípedo de arestas determinadas pelos três vetores. O valor absoluto do produto
misto entre os três vetores representa o volume do paralelepípedo. De fato, o volume do paralelepípedo
é dado pelo produto da área da base pela altura. Como a base é um paralelogramo, sabemos que sua
área é o módulo do produto externo dos vetores que o determiam.

⃗v × w

⃗u

w

h
θ
⃗v

Figura 3.3.6

Então, considerando a Figura 3.3.6 temos


V = Sb · h = ∥⃗v × w∥
⃗ h.
Para determinar a altura h do paralelepípedo, considere o triângulo em verde (Figura 3.3.6) em
que θ é o ângulo entre os vetores ⃗u e ⃗v × w.
⃗ Vamos considerar dois casos:
48 3. PRODUTO DE VETORES

(1) Suponha que 0 ≤ θ < π2 , então cos θ > 0 e logo cos θ = | cos θ|, assim
h
| cos θ| =
∥⃗u∥
e, portanto, o volume do paralelepípedo é
(∗)
V = ∥⃗v × w∥
⃗ ∥⃗u∥ | cos θ| = |⃗u · ⃗v × w|
⃗ = |(⃗u, ⃗v , w)|,

onde em (∗) usamos o Teorema 35.
(2) Suponha agora que π2 < θ ≤ π. Observe que, o volume do paralelepípedo gerado pelos vetores
{⃗u, ⃗v , w}
⃗ é o mesmo que o volume do paralelepípedo gerado pelos vetores {−⃗u, ⃗v , w}
⃗ (Figura
3.3.7). Então, para calcular o volume consideraremos os vetores {−⃗u, ⃗v , w},⃗ pois neste caso
o ângulo entre −⃗u e ⃗v × w ⃗ é π − θ e 0 ≤ π − θ < π2 , portanto caemos na situação do item
anterior, logo
V = ∥⃗v × w∥
⃗ ∥−⃗u∥ | cos(π − θ)| = ∥⃗v × w∥
⃗ ∥⃗u∥ | cos θ| = |(⃗u, ⃗v , w)|.

⃗v × w

−⃗u

w

θ ⃗v

⃗u

Figura 3.3.7

Em qualquer caso o volume do paralelepípedo é dado por V = |(⃗u, ⃗v , w)|.



Exemplo 62. Determine m tal que o volume do paralelepípedo de arestas ⃗u = (3, m, −2), ⃗v =
(1, −1, 0) e w
⃗ = (2, −1, 2) seja 16.
Solução. O volume do paralelepípedo é |(⃗u, ⃗v , w)|,
⃗ logo devemos achar m tal que |(⃗u, ⃗v , w)|
⃗ = 16.
Calculando o produto misto temos:

3 m −2

⃗ = 1 −1 0 = 3 · (−2) − m · 2 − 2 · (−1 + 2) = −6 − 2m − 2 = −8 − 2m.
(⃗u, ⃗v , w)
2 −1 2
Logo | − 8 − 2m| = 16 ou seja −8 − 2m = 16 ou −8 − 2m = −16. Resolvendo as equações temos:

−8 − 2m = 16 −8 − 2m = −16
−2m = 16 + 8 = 24 −2m = −16 + 8 = −8
m = −12 m=4
3.3. PRODUTO MISTO 49

Portanto, o volume do paralelepípedo será 16 se m = −12 ou m = 4.


Um paralelepípedo pode ser dividido em dois prismas triangulares do mesmo tamanho e volume,
como mostra a Figura 3.3.8. Logo o volume do prisma gerado pelos vetores ⃗u, ⃗v , w
⃗ é dado por
1
Vp = |(⃗u, ⃗v , w)|.

2

w

⃗v

⃗u
Figura 3.3.8. Volume do prisma

E ainda podemos dividir o prisma em três tetraedros iguais (Figura 3.3.9). Dessa forma, o volume
do tetraedro determinado pelos vetores ⃗u, ⃗v e w
⃗ é:
1 11 1
Vt = Vp = |(⃗u, ⃗v , w)|
⃗ = |(⃗u, ⃗v , w)|.

3 32 6

w

⃗v

⃗u
Figura 3.3.9. Volume do tetraedro

Exemplo 63. Sejam A = (1, 2, −1), B = (5, 0, 1), C = (2, −1, 1) e D = (6, 1, −3) vértices de um
tetraedro. Calcule:
(1) O volume do tetraedro.
(2) A altura relativa ao vértice D.
Solução.
−→ −→ −−→
(1) Sabemos que o volume do tetraedro é dado por: Vt = 16 |(AB, AC, AD)| onde
−→
AB = B − A = (4, −2, 2)
−→
AC = C − A = (1, −3, 2)
−−→
AD = D − A = (5, −1, −2).
50 3. PRODUTO DE VETORES

Como o produto misto é



4 −2 2
−→ −→ −−→
(AB, AC, AD) = 1 −3 2
5 −1 −2
= 4 · (6 + 2) + 2 · (−2 − 10) + 2 · (−1 + 15)
= 32 − 24 + 28 = 36,
Segue que o volume do tetraedro é Vt = 16 |36| = 61 36 = 6.
(2) Sabemos que o volume do tetraedro é Vt = 13 (área da base) · (altura) e pelo item anterior
temos Vt = 6. Como estamos interessados na altura hD relativa ao vértice D consideraremos
−→ −→
a base como sendo o triângulo gerado por AB e AC. Assim a área da base é dada por
−→ −→
Sb = 12 ∥AB × AC∥, logo
1
Vt = Sb hD
3
1 1 −→ −→
6= ∥AB × AC∥hD
32
−→ −→ 36
36 = ∥AB × AC∥hD =⇒ hD = −→ −→ .
∥AB × AC∥
−→ −→
Portanto, para encontrar a altura hD , só resta determinar ∥AB × AC∥.

⃗i ⃗j ⃗k
−→ −→
AB × AC = 4 −2 2
1 −3 2
= (−4 + 6)⃗i − (8 − 2)⃗j + (−12 + 2)⃗k
= 2⃗i − 6⃗j − 10⃗k = (2, −6, −10)
−→ −→ √ √ 36 18
∥AB × AC∥ = 4 + 36 + 100 = 2 35 =⇒ hD = √ = √ .
2 35 35
CAPíTULO 4

A reta no espaço

4.0.1. Introdução. Neste capítulo faremos um estudo detalhado da reta e suas equações no
espaço R3 . Uma reta fica completamente determinada, tanto no plano quanto no espaço, por um de
seus pontos e sua direção ou por dois de seus pontos. Além disso, sabemos que no plano dados um
ponto e uma direção existe uma única reta que passa por esse ponto e tem direção ortogonal à dada.
Já no espaço a situação é diferente, pois existem infintas retas que têm direção ortogonal a uma dada,
veja a Figura 4.0.1.

⃗v

A ⃗v
r1 r2
r r3
A r4

Figura 4.0.1

4.1. Equações da reta em R3


4.1.1. Reta dada por um ponto e um vetor diretor. Dados um ponto A = (xA , yA , zA ) ∈ R3
e um vetor não nulo ⃗v = (a, b, c) ∈ R3 , existe uma única reta que passa por A e tem a direção de ⃗v .

⃗v P
A

⃗v

Denotando esta reta por r, podemos caracterizá-la por


−→
r = {P ∈ R3 : ∃t ∈ R tal que AP = t⃗v }.
O vetor ⃗v é chamado de vetor diretor da reta r e t é denominado parâmetro.
Note que P ∈ r se, e somente se,
−→
AP = t⃗v para algum t ∈ R,
P − A = t⃗v
P = A + t⃗v , t ∈ R
51
52 4. A RETA NO ESPAÇO

ou seja, um ponto genérico P = (x, y, z) na reta r se escreve como P = A + t⃗v para algum número
real t. Chamamos essa equação de equação vetorial (compacta) da reta r.
Substituindo as coordenadas de P, A e ⃗v , obtemos

(4.1.1) r : (x, y, z) = (xA , yA , zA ) + t(a, b, c)

a qual é chamada de equação vetorial da reta r.


Da equação (4.1.1) obtemos

(4.1.2) (x, y, z) = (xA + ta, yA + tb, zA + tc)

que equivale ao seguinte sistema de equações



 x = xA + ta
(4.1.3) r: y = yA + tb
z = zA + tc

referido como equações paramétricas da reta r.


Supondo abc ̸= 0 (i.e., todas as componentes do vetor diretor são não nulas), isolando o parâmetro
t em cada equação, obtemos as seguintes igualdades
x − xA y − yA z − zA
(4.1.4) r: = =
a b c
que chamamos de equações simétricas da reta r.

Observação 64.
(1) Se ⃗v é vetor diretor da reta r, então k⃗v também é vetor diretor de r, qualquer que seja
k ∈ R \ {0}.
(2) Existem infinitas equações vetoriais representando a mesma reta r.
(3) Para determinar pontos na reta, basta atribuir valores ao parâmetro t. A recíproca também
é verdadeira, isto é, a cada ponto da reta corresponde um parâmetro t.

4.1.2. Reta definida por dois pontos. A reta definida pelos pontos A e B é a reta que passa
−→
pelo ponto P ( onde P = A ou P = B) e tem a direção do vetor ⃗v = AB.
r

B
A

Exemplo 65. Determine uma equação paramétrica da reta r que passa pelos pontos A = (1, −2, 3)
e B = (3, −1, −1).
−→
Solução. A reta r tem a direção do vetor ⃗v = AB = (2, 1, −4). Considerando que a reta passa
pelo ponto A, as equações paramétricas de r são

 x = 1 + 2t
r: y = −2 + t , t ∈ R.
z = 3 − 4t

4.1. EQUAÇÕES DA RETA EM R3 53

Também poderíamos ter considerando que a reta passa pelo ponto B, nesse caso uma outra equação
para a mesma reta é

 x = 3 + 2t
r: y = −1 + t , t ∈ R.
 z = −1 − 4t

Exemplo 66. Considere a reta r definida por



 x=1+t
r: y = 2 − 3t , t ∈ R.
z =2−t

(1) Obtenha dois pontos e um vetor diretor de r.


(2) Verifique se o ponto P = (−1, 8, 4) pertence à reta r.
(3) Verifique se o ponto Q = (3, −4, 1) pertence à reta r.
Solução. (1) Fazendo t = 0 na equação da reta obtemos o ponto A = (1, 2, 2) ∈ r. Fazendo
t = 1 na equação da reta obtemos o ponto B = (2, −1, 1) ∈ r. Um vetor diretor pode
ser aquele que tem componentes ⃗v = (1, −3, −1) que são os coeficientes que acompanham o
parâmetro t.
(2) P = (−1, 8, 4) ∈ r se, e somente se, existe t ∈ R tal que

 −1 = 1 + t
8 = 2 − 3t .
 4=2−t

Para que a primeira equação seja satisfeita devemos ter t = −1 − 1 = −2. Vejamos que, de
fato, t = −2 satisfaz as outras duas equações:
2 − 3t = 2 − 3(−2) = 2 + 6 = 8
2 − t = 2 − (−2) = 2 + 2 = 4.
Como t = −2 satisfaz as três equações concluimos que P ∈ r.
(3) Q = (3, −4, 1) ∈ r se, e somente se, existe t ∈ R tal que

 3=1+t
−4 = 2 − 3t .
1=2−t

Para que a primeira equação seja satisfeita devemos ter t = 3 − 1 = 2. Mas com esse valor
de t obtemos:
2 − 3t = 2 − 3(2) = 2 − 6 = −4
2 − t = 2 − 2 = 0 ̸= 1,
ou seja, t = 2 não satisfaz a terceira equação, logo Q ̸∈ r.
Exemplo 67. Seja r a reta que passa pelos pontos A = (1, 0, 1) e B = (3, −2, 3).
(1) Obtenha equações de r nas formas vetorial, paramétrica e simétrica.
(2) Verifique se o ponto P = (−9, 10, −9) pertence à reta r.
(3) Obtenha dois vetores diretores de r e dois pontos de r, distintos de A e B.
Solução. Como r passa por A e B, um possível vetor diretor é
−→
⃗v = AB = B − A = (3, −2, 3) − (1, 0, 1) = (2, −2, 2).
54 4. A RETA NO ESPAÇO

(1) Uma equação vetorial de r é


r : P = A + t⃗v
isto é:
r : (x, y, z) = (1, 0, 1) + t(2, −2, 2).
Igualando coordenada a coordenada obtemos as equações paramétricas

 x = 1 + 2t
r: y = −2t , t ∈ R.
 z = 1 + 2t

Isolando o parâmetro temos as equações simétricas


x−1 y z−1
= = .
2 −2 2
(2) Vamos verificar se o ponto P = (−9, 10, −9) satisfaz as equações simétricas da reta. Como
−9 − 1 10 −9 − 1
= = = −5,
2 −2 2
temos que P ∈ r.
(3) Lembre que, como ⃗v = (2, −2, 2) é um vetor diretor da reta r, qualquer múltiplo k⃗v com
k ∈ R, k ̸= 0, também é vetor diretor de r. Portanto, para k = 12 e k = − 32 temos que os
vetores
⃗v1 = (1, −1, 1) e ⃗v2 = (−3, 3, −3)
são vetores diretores da reta r. Se consideramos os valores de t = 21 e t = − 32 na equação
vetorial da reta r, obtemos outros dois pontos na reta diferentes de A e B, a saber,
P1 = (1, 0, 1) + (1, −1, 1) = (2, −1, 2)
e
P2 = (1, 0, 1) + (−3, 3, −3) = (−2, 3, −2).
Exemplo 68. Mostre que as equações
2x − 1 1−y
= =z+1
3 2
descrevem uma reta, escrevendo-as de modo que possam ser reconhecidas como equações na forma
simétrica. Exiba um ponto e um vetor diretor da reta.
Solução. As equações simétricas da reta que passa pelo ponto (xA , yA , zA ) e tem como vetor
diretor o vetor ⃗v = (a, b, c) tal que abc ̸= 0 são
x − xA y − yA z − zA
= = .
a b c
As equações dadas
2x − 1 1−y
= =z+1
3 2
podem ser escritas também como
1
x− 2 y−1 z − (−1)
3 = = .
2
−2 1
Portanto, estas últimas equações correspondem às equações simétricas de uma reta que passa pelo
ponto ( 21 , 1, −1) e tem como vetor diretor o vetor ⃗v = ( 23 , −2, 1).
4.1. EQUAÇÕES DA RETA EM R3 55

Exemplo 69. Verifique que as equações


 
 x=1+t  x = 2 − 2t
r: y = 2 − 3t , t ∈ R e s: y = −1 + 6t , t ∈ R
 z =2−t  z = 1 + 2t

representam a mesma reta (r = s).


Solução. Note que A = (1, 2, 2) e B = (2, −1, 1) pertencem à reta r (basta fazer t = 0 e t = 1,
respetivamente). Fazendo t = 0 na reta s temos que B ∈ s, então se provarmos que A ∈ s, como
uma única reta passa por dois pontos dados, concluiríamos que r = s.
Temos que A = (1, 2, 2) ∈ s se, e somente se, existe t ∈ R tal que

 1 = 2 − 2t
2 = −1 + 6t .
2 = 1 + 2t

Para que a primeira equação seja satisfeita devemos ter t = (1 − 2)/(−2) = 21 . Vejamos que, de fato,
t = 12 satisfaz as outras duas equações:
1
−1 + 6t = −1 + 6 = −1 + 3 = 2
2
1
1 + 2t = 1 + 2 = 1 + 1 = 2.
2
1
Como t = 2 satisfaz as três equações concluímos que A ∈ s e, portanto, r = s.
Exemplo 70. Determine
(1) A equação da reta r que passa por A = (−1, 1, 2) e B = (1, 3, 4).
(2) O ponto P1 ∈ r mais próximo deqC = (1, 1, 3). Dizemos que P1 é a projeção de C na reta r.
(3) Todos os pontos de r distantes 10 3
unidades de C.
(4) Existe algum ponto de r distante 1 unidade de C?

(5) Mostre que existe um único ponto de r distante 2 unidades de C.

Figura 4.1.1
−→
Solução. (1) Uma equação da reta r que passa por A e B é r : P = A + tAB em que
−→
AB = (2, 2, 2), logo
r : (x, y, z) = (−1, 1, 2) + t(2, 2, 2).
56 4. A RETA NO ESPAÇO

−−→ −→
(2) O ponto P1 ∈ r mais próximo de C é um ponto tal que CP1 seja ortogonal a AB. Como
P1 ∈ r, existe um número real t tal que P1 = (−1 + 2t, 1 + 2t, 2 + 2t), encontrando t teremos
−−→ −−→
determinado P1 . Agora o vetor CP1 tem componentes CP1 = (−2 + 2t, 2t, −1 + 2t) e sabemos
−−→ −→ −−→ −→
que CP1 é ortogonal a AB se, e somente se, CP1 · AB = 0 ou seja,
2(−2 + 2t) + 4t + 2(−1 + 2t) = 0
−4 + 4t + 4t − 2 + 4t = 0
12t − 6 = 0
6 1
t= = .
12 2
Portanto, P1 = (−1 + 2 12 , 1 + 2 12 , 2 + 2 21 ) = (0, 2, 3).
−→ q
(3) Queremos encontrar os pontos P ∈ r tais que d(P, C) = ∥CP ∥ = 10 3
. Como P ∈ r então,
novamente, P = (−1 + 2t, 1 + 2t, 2 + 2t) para algum t ∈ R. Logo
r
10 p
d(P, C) = = (−2 + 2t)2 + (2t)2 + (−1 + 2t)2
3

= 4 − 8t + 4t2 + 4t2 + 1 − 4t + 4t2

= 12t2 − 12t + 5
Elevando ao quadrado temos
10
12t2 − 12t + 5 =
3
2
36t − 36t + 15 = 10
36t2 − 36t + 5 = 0
q
1 5 10
que tem como soluções t1 = 6
e t2 = 6
. Logo, os pontos de r distantes 3
unidades de C
′ ′′
são P = (−1 + 2 16 , 1 + 2 16 , 2 + 2 61 )
= (− 32 , 43 , 73 )
eP = (−1 + 2 56 , 1 + 2 56 , 2 + 2 56 )
= ( 23 , 83 , 11
3
).
(4) Por um raciocínio análogo ao anterior, a existência de um ponto P ∈ r tal que d(P, C) = 1 é
equivalente à existência de um número real t ∈ R tal que 12t2 −12t+5 = 1 ou 12t2 −12t+4 = 0.
Como o discriminante desta equação quadrática é
∆ = (−12)2 − 4 · 12 · 4 = 144 − 192 = −48 < 0,
não existe solução real e, portanto,
√ não existe um ponto em r que diste 1 unidade de C.
(5) P ∈ r é tal que d(P, C) = 2 se, e somente se,
√ √
12t2 − 12t + 5 = 2
12t2 − 12t + 5 = 2
12t2 − 12t + 3 = 0
4t2 − 4t + 1 = 0
Como o discriminante desta equação quadrática é
∆ = (−4)2 − 4 · 4 · 1 = 16 − 16 = 0,

existe uma única solução real t = 1 e, portanto, existe um único ponto P em r que dista 2
unidades de C, P = (−1 + 2, 1 + 2, 2 + 2) = (1, 3, 4).
4.1. EQUAÇÕES DA RETA EM R3 57

4.1.3. Equação paramétrica de um segmento de reta. Considere a reta que passa pelos
pontos A e B.

B
A

A equação vetorial do segmento AB (origem A e extremidade B) é a mesma da reta r, porém com a


restrição de que t ∈ [0, 1]:
−→
AB : P = A + tAB, com 0 ≤ t ≤ 1.
Neste caso, o ponto P se desloca de A para B na mesma proporção que t varia de 0 até 1.
Exemplo 71. Determine uma parametrização da curva C, fronteira do triângulo de vértices A =
(−2, −1, 1), B = (0, 2, 1) e C = (3, 1, 1) percorridos no sentido ACBA.
Solução. Aqui é preciso definir a equação vetorial de cada um dos lados de forma independente,
ao final, cada um deles é um segmento de reta diferente.
As equações vetoriais dos segmentos que fazem parte da fronteira do triângulo são:
• AC : (x, y, z) = (−2, −1, 1) + t(5, 2, 0), com 0 ≤ t ≤ 1;
• CB : (x, y, z) = (3, 1, 1) + t(−3, 1, 0), com 0 ≤ t ≤ 1;
• BA : (x, y, z) = (0, 2, 1) + t(−2, −3, 0), com 0 ≤ t ≤ 1.
B

4.1.4. Equações reduzidas da reta. Das equações simétricas (4.1.4)


x − xA y − yA z − zA
= =
a b c
podemos isolar duas variáveis, digamos y e z, em função da outra, x, isto é,
b b

 y = a x − a xA + y A


(4.1.5) r: .
 z = c x − c xA + zA


a a
Essas equações são chamadas de equações reduzidas da reta.
Observação 72. Nas equações reduzidas (4.1.5) temos como variável independente a variável x.
Mas podemos também considerar y ou z como variável independente, obtendo outras duas formas de
equacionar a reta.
58 4. A RETA NO ESPAÇO

Uma outra forma de expressar uma reta é através de um sistema de 2 equações em 3 variáveis:

bx − ay = bxA − ayA
(4.1.6) r:
cx − az = cxA − azA
Veremos no próximo capítulo que isso equivale a olhar uma reta como interseção de dois planos.
Exemplo 73. Obtenha um ponto e um vetor diretor da reta
x+1 z−3


 =
r: 3 4

y=1

Solução. A reta r é formada pelos pontos (x, y, z) que satisfazem


x+1 z−3
= e y = 1.
3 4
Da primeira equação, isolando z, temos que
4 13
z = x+ .
3 3
Portanto, a reta r é formada pelos pontos da forma
4 13 13 4
(x, 1, x + ) = (0, 1, ) + (1, 0, )x
3 3 3 3
13 4
com x ∈ R. Desta forma, um ponto da reta é (0, 1, ) e um vetor diretor é ⃗v = (1, 0, ).
3 3
Uma outra forma de resolver esse exercício consiste em igualar as equações simétricas a t e resolver
para x e z:
x+1 z−3
= =t e y=1
3 4
obtendo

 x = −1 + 3t
r: y=1 , t ∈ R.
z = 3 + 4t

Assim, um ponto da reta pode ser (−1, 1, 3) e um vetor diretor ⃗u = (3, 0, 4).
4.1.5. Retas paralelas aos eixos coordenados e aos planos coordenados. Nas equações
paramétricas

 x = xA + ta
r: y = yA + tb , t ∈ R
z = zA + tc

ou na forma simétrica
x − xA y − yA z − zA
r: = =
a b c
de uma reta que passa pelo ponto A = (xA , yA , zA ) e tem como vetor diretor o vetor ⃗v = (a, b, c) con-
sideramos até o momento que as componentes do vetor ⃗v = (a, b, c) são todas não nulas. Entretanto,
uma ou duas destas componentes podem ser nulas, obtendo assim as seguintes situações particulares
de retas.
4.1. EQUAÇÕES DA RETA EM R3 59

Caso 1: Se uma única componente de ⃗v = (a, b, c) é nula, a reta é paralela a um plano coordenado.
Por exemplo, se a = 0, então ⃗v = (0, b, c) é paralelo ao plano yz e assim, a reta também é paralela a
este plano. Neste caso, as equações podem ser escritas como

 x = xA
r: y = yA + tb , t ∈ R
 z = z + tc
A

e (
x = xA
r: y − yA z − zA .
=
b c
De modo inteiramente análogo, podemos analisar as situações onde b = 0 e c = 0.
Caso 2: Se duas componentes de ⃗v = (a, b, c) são nulas, a reta é paralela a um eixo coordenado.
Por exemplo, se a = b = 0, então ⃗v = (0, 0, c) é paralelo ao eixo z e assim, a reta também é paralela
a este eixo. Neste caso, as equações podem ser escritas como

 x = xA
y = yA , t ∈ R.
z = zA + tc

De modo inteiramente análogo, podemos analisar as situações onde b = c = 0 e a = c = 0.


Exemplo 74. Determinar a equação da reta que passa por A = (1, −2, 4) e é paralela ao eixo x.
Solução. Um vetor diretor da reta pode ser ⃗i = (1, 0, 0). Portanto, a reta pode ser descrita por
r : (x, y, z) = (1, −2, 4) + t(1, 0, 0)
ou, equivalentemente,

 x=1+t
r: y = −2 , t ∈ R.
z=4

4.1.6. Ângulo entre duas retas. O ângulo entre duas retas r1 e r2 , indicado por θ = ∠ (r1 , r2 ),
é definido como sendo o menor ângulo existente entre vetores diretores de r1 e r2 , logo 0 ≤ θ ≤ π2 . Se
⃗v1 e ⃗v2 são vetores diretores de r1 e r2 , respectivamente, então
|⃗v1 · ⃗v2 |
cos θ = .
∥⃗v1 ∥∥⃗v2 ∥
Note que tomamos a expressão em valor absoluto para que 0 ≤ θ ≤ π2 .
r1


v1
−→−v 2
r1
θ

− →

v2

− v1
v2
r2
r2
60 4. A RETA NO ESPAÇO

4.2. Posições relativas entre duas retas no espaço


Dadas duas retas no espaço r1 : (x, y, z) = A + t⃗v1 e r2 : (x, y, z) = B + t⃗v2 queremos determinar
que posição uma tem em relação à outra. Considere o ponto A = (xA , yA , zA ) e o vetor diretor
⃗v1 = (a1 , b1 , c1 ) de r1 e o ponto B = (xB , yB , zB ) e o vetor diretor ⃗v2 = (a2 , b2 , c2 ) de r2 .
4.2.1. Retas coplanares. As retas r1 e r2 serão coplanares se, e somente se, o conjunto de
−→
vetores ⃗v1 , ⃗v2 e AB são coplanares (dizemos neste caso que os vetores são linearmente dependentes).
Como visto na Proposição 59(5) sobre propriedades do produto misto, isso é equivalente a

−→

a 1 b 1 c1


(⃗v1 , ⃗v2 , AB) = a2 b2 c2 = 0.

xB − xA yB − yA zB − zA

A ⃗v1 r1

B r2
⃗v2

Figura 4.2.1. Retas coplanares

Retas coplanares podem ser paralelas ou concorrentes, como veremos a seguir.


4.2.1.1. Retas paralelas. Duas retas r1 e r2 são paralelas se, e somente se, seus vetores diretores
⃗v1 e ⃗v2 são paralelos:
r1 ∥ r2 ⇐⇒ ⃗v1 ∥ ⃗v2 ,
o que pode ser caracterizado pela proporcionalidade das triplas (a1 , b1 , c1 ) e (a2 , b2 , c2 ), ou seja,
r1 ∥ r2 ⇐⇒ ∃k ∈ R tal que ⃗v1 = k⃗v2 .
Se as coordenadas de ⃗v2 forem todas não nulas, temos
a1 b1 c1
= = .
a2 b2 c2
Se uma coordenada de um dos vetores for nula, a coordenada correspondente do outro vetor deve ser
nula também.
r2

v⃗2

r1

⃗v1
4.2. POSIÇÕES RELATIVAS ENTRE DUAS RETAS NO ESPAÇO 61

Se duas retas são paralelas, elas ainda podem ser coincidentes ou estritamente paralelas (distintas).
Se elas não se interceptam dizemos que são estritamente paralelas, caso contrário, como elas são
paralelas, se houver um ponto de interseção então haverá infinitos pontos de interseção e elas serão
coincidentes. Para isso basta verificar se o ponto A ∈ r1 pertence ou não à reta r2 .

(r1 = r2 )

r1

r2

(r1 ∩ r2 = ∅)

r1

r2

Figura 4.2.2. Retas paralelas coincidentes e estritamente paralelas

4.2.1.2. Retas concorrentes. Se as retas r1 e r2 são coplanares e não são paralelas, dizemos que
elas são concorrentes. Neste caso existe um ponto P = (x, y, z) comum às duas retas. Para achar
o ponto de interseção resolvemos o sistema: A + t⃗v1 = B + s⃗v2 .

r1
P

r2

Figura 4.2.3. Retas concorrentes

4.2.2. Retas Reversas. Se as retas r1 e r2 não pertencem ao mesmo plano, dizemos que elas
−→
são reversas. Ou seja, as retas r1 e r2 são reversas se, e somente se, (⃗v1 , ⃗v2 , AB) ̸= 0. Neste caso,
não haverá interseção entre as retas, r1 ∩ r2 = ∅.
62 4. A RETA NO ESPAÇO

r2

r1

Figura 4.2.4. Retas reversas

4.2.3. Condição de ortogonalidade entre retas. Duas retas r1 e r2 são ortogonais se, e
somente se, seus vetores diretores ⃗v1 e ⃗v2 são ortogonais:
r1 ⊥ r2 ⇐⇒ ⃗v1 ⊥ ⃗v2 ⇐⇒ ⃗v1 · ⃗v2 = 0 ⇐⇒ a1 a2 + b1 b2 + c1 c2 = 0.
Observação 75. Duas retas ortogonais podem ser concorrentes ou não. No caso de serem con-
correntes, chamaremos as retas de perpendiculares.
Na Figura 4.2.5, as retas r1 e r3 são paralelas, as retas r1 e r2 são perpendiculares e as retas r2 e
r3 são ortogonais.

r3

r2

r1

Figura 4.2.5. Retas ortogonais e perpendiculares

4.2.3.1. Reta ortogonal a duas retas. Sejam r1 e r2 duas retas não paralelas com vetores diretores
⃗v1 = (a1 , b1 , c1 ) e ⃗v2 = (a2 , b2 , c2 ) respectivamente. Uma reta r será simultaneamente ortogonal a r1
e a r2 se seu vetor diretor for paralelo ao vetor ⃗v1 × ⃗v2 . Lembre que ⃗v1 × ⃗v2 é ortogonal a v1 e a v2
(Teorema 48).
CAPíTULO 5

O plano no espaço

5.0.1. Introdução. Neste capítulo faremos um estudo detalhado do plano e suas equações no
espaço R3 . Na geometria elementar um condição que permite determinar unicamente um plano
é conhecer três pontos não colineares que pertencem a este plano ou um ponto e duas direções
independentes paralelas ao plano. Veremos, a seguir, que também é possível determinar um plano de
forma única conhecendo um ponto e uma direção ortogonal ao plano.

Figura 5.0.1. Planos no espaço.

5.0.2. Equação geral do plano. O objetivo desta seção é caracterizar analiticamente os planos
do espaço, i.e., queremos determinar uma equação a ser satisfeita por todos os pontos que pertencem
a um plano. Para isso, denote por π ao plano. Dizemos que um vetor ⃗n ̸= ⃗0 é um vetor normal ao
plano π, se ⃗n tem direção ortogonal a toda direção paralela a π. Em outras palavras, ⃗n é normal a π
−→
se ⃗n é ortogonal a todo vetor AB para quaisquer pontos A, B ∈ π.
Considere A = (xA , yA , zA ) um ponto do plano π e ⃗n = (a, b, c) um vetor normal a π. Então um
−→
ponto P = (x, y, z) pertencerá ao plano π se, e somente se, AP for ortogonal a ⃗n.

⃗n

π A
P

Assim, a equação que carateriza os pontos P = (x, y, z) ∈ π é

−→
⃗n · AP = 0,
63
64 5. O PLANO NO ESPAÇO

o que equivale a
(a, b, c) · (x − xA , y − yA , z − zA ) =0
a(x − xA ) + b(y − yA ) + c(z − zA ) =0
ax − axA + by − byA + cz − czA =0
ax + by + cz − (axA + byA + czA ) =0.
Assim obtemos o que chamaremos de equação geral do plano π definida por
π : ax + by + cz + d = 0,
onde a, b, c são as componentes do vetor normal ⃗n e d = −(axA + byA + czA ).
E, reciprocamente, se π é um plano de equação ax + by + cz + d = 0 então o vetor ⃗n = (a, b, c)
(cujas componentes são os coeficientes das variáveis x, y e z na equação de π) será um vetor normal a
π. De fato, se A = (xA , yA , zA ) e B = (xB , yB , zB ) são dois pontos quaisquer de π então eles satisfazem
a equação, logo
axA + byA + czA + d = 0
axB + byB + czB + d = 0
Subtraindo a segunda equação da primeira, obtemos
a(xB − xA ) + b(yB − yA ) + c(zB − zA ) = 0
que é, na verdade, o produto interno dos vetores
(a, b, c) · (xB − xA , yB − yA , zB − zA ) = 0
−→
⃗n · AB = 0,
−→
ou seja, ⃗n é ortogonal a AB para todos A, B ∈ π.
Observação 76.
(1) Se ⃗n é um vetor normal ao plano, então k⃗n também é um vetor normal ao plano, qualquer
que seja k ̸= 0, k ∈ R.
(2) Para encontrar pontos no plano, basta atribuir valores a duas das variáveis na equação geral
e assim obter o valor da terceira variável.
Exemplo 77. Determine a equação geral do plano π que passa pelo ponto A = (2, 1, 0) e é
ortogonal ao vetor ⃗n = (3, −2, 1).
Solução. Como o vetor normal ao plano é ⃗n = (3, −2, 1) então a equação geral será da forma
3x − 2y + z + d = 0. Para determinar o valor de d usamos o fato que o ponto A ∈ π e logo suas
coordenadas devem satisfazer a equação do plano, i.e.,
3(2) − 2(1) + 0 + d =0
6 − 2 + d =0
4 + d =0
d = − 4.
Portanto, π : 3x − 2y + z − 4 = 0.
Exemplo 78. Considere A = (1, 2, 2), B = (2, −1, 1) e C = (0, 1, 3). Verifique que não são
colineares e determine a equação geral do plano que contem estes pontos.
5. O PLANO NO ESPAÇO 65

−→ −→
Solução. Os pontos A, B, C são colineares se, e somente se, os vetores AB e AC são paralelos,
−→ −→
ou seja, se suas componentes são proporcionais. Neste caso, AB = (1, −3, −1) e AC = (−1, −1, 1) e
tem-se
1 −3
−1 = ̸= = 3,
−1 −1
−→ −→
donde segue que os vetores AB e AC não são paralelos e, portanto, os pontos A, B, C não são
colineares. Desta forma A, B e C determinam um único plano π.
O plano π é o plano que passa pelo ponto A = (1, 2, 2) e tem como vetor normal o vetor ⃗n =
−→ −→ −→ −→ −→
AB × AC, pois sabemos pelo Teorema 48 que AB × AC é um vetor simultaneamente ortogonal a AB
−→
e a AC e, portanto, é ortogonal ao plano que os pontos A, B, C determinam.

Calculamos ⃗n:

⃗i ⃗
j ⃗k
−→ −→ −3 −1 1 −1
⃗i − ⃗
1 −3

⃗n = AB × AC = 1 −3 −1 = −1 1 j + −1 −1 k
−1 −1 1 −1 1

= (−3 − 1)⃗i − (1 − 1)⃗j + (−1 − 3)⃗k


= −4⃗i − 4⃗k = (−4, 0, −4).
Logo a equação geral do plano é π : −4x − 4z + d = 0 e, analogamente ao exemplo anterior,
usamos um dos pontos do plano para determinar o valor de d, como A ∈ π temos
−4(1) − 4(2) + d =0
−4 − 8 + d =0
d =12,
assim obtemos π : −4x − 4z + 12 = 0.
Exemplo 79. Sejam a, b, c ∈ R tais que abc ̸= 0. Mostre que o plano que passa por A = (a, 0, 0),
B = (0, b, 0) e C = (0, 0, c) tem equação geral xa + yb + zc − 1 = 0.
66 5. O PLANO NO ESPAÇO

−→ −→
Solução. O plano π procurado passa pelo ponto A e é ortogonal ao vetor normal ⃗n = AB × AC
−→ −→
onde AB = (−a, b, 0) e AC = (−a, 0, c), logo

⃗i ⃗j ⃗k
−→ −→
⃗n = AB × AC = −a b 0 = (bc)⃗i − (−ac)⃗j + (ab)⃗k = (bc, ac, ab).

−a 0 c
Logo a equação do plano é π : bcx + acy + abz + d = 0 e usando o fato que A ∈ π temos bca + d = 0
o que implica que d = −abc. Assim
bcx + acy + abz − abc =0, dividindo tudo por abc ̸= 0
bcx  acy
 abz
 abc
 
−  =0

+ +
abc  abc  abc
 abc

x y z
+ + − 1 =0.
a b c
5.0.3. Equações paramétricas do plano. Considere o plano π que passa pelo ponto A =
(xA , yA , zA ) e é paralelo aos vetores ⃗u = (u1 , u2 , u3 ) e ⃗v = (v1 , v2 , v3 ) com ⃗u ∦ ⃗v .

−→
Logo, para qualquer ponto P = (x, y, z) ∈ π, temos que os vetores AP , ⃗u e ⃗v são coplanares e,
−→ −→
portando, AP pode ser escrito como combinação linear de ⃗u e ⃗v : AP = s⃗u + t⃗v .

−→
Como AP = P − A obtemos a equação vetorial do plano π que é dada por
(5.0.1) π : P = A + s⃗u + t⃗v , s, t ∈ R.
Reescrevendo a equação (5.0.1) em coordenadas
π : (x, y, z) = (xA , yA , zA ) + s(u1 , u2 , u3 ) + t(v1 , v2 , v3 ), s, t ∈ R
ou, equivalentemente, 
 x = xA + su1 + tv1
π: y = yA + su2 + tv2 , s, t ∈ R.
 z = z + su + tv
A 3 3
Estas equações são chamadas de equações paramétricas do plano π, os vetores ⃗u e ⃗v são vetores
diretores do plano e as variáveis s, t ∈ R são chamadas de parâmetros. Para obter pontos no plano
π, basta atribuir valores reais aos parâmetros s e t.
5. O PLANO NO ESPAÇO 67

Observação 80. Uma pergunta que surge naturalmente é como podemos obter a equação geral
do plano conhecendo um ponto A e dois vetores diretores ⃗u e ⃗v ? Existem duas formas:
(1) tome o vetor ⃗n = ⃗u × ⃗v que é normal ao plano π ou
−→
(2) note que P = (x, y, x) ∈ π se, e somente se, os vetores AP , ⃗u e ⃗v são coplanares, ou seja o
produto misto deles é nulo, logo

x − xA y − yA z − zA
−→
(AP , ⃗u, ⃗v ) = u1 u2 u3 = 0.
v1 v2 v3
Desenvolvendo essa expressão obtemos uma equação geral do plano.
Exemplo 81. Achar a equação geral do plano de equações paramétricas

 x = 4 + 2s + t
π: y = 1 − s + t , s, t ∈ R.
z = 5 + 3s + 2t

Solução. As equações paramétricas do plano π mostram que A = (4, 1, 5) é um ponto de π e que


⃗u = (2, −1, 3) e ⃗v = (1, 1, 2) são vetores diretores de π. Assim um ponto P = (x, y, z) pertence a π
−→
se, e somente se, (AP , ⃗u, ⃗v ) = 0 logo

x−4 y−1 z−5
−→
0 = (AP , ⃗u, ⃗v ) = 2 −1 3
1 1 2
=(−2 − 3)(x − 4) − (4 − 3)(y − 1) + (2 + 1)(z − 5)
= − 5x + 20 − y + 1 + 3z − 15
= − 5x − y + 3z + 6,
Daí a equação geral do plano é π : −5x − y + 3z + 6 = 0 e um vetor normal a π é ⃗n = (−5, −1, 3).
5.0.4. Posições relativas entre planos. Sejam π1 : a1 x + b1 y + c1 z + d1 = 0 e π2 : a2 x +
b2 y + c2 z + d2 = 0 dois planos. Denotando seus respectivos vetores normais por ⃗n1 = (a1 , b1 , c1 )
e ⃗n2 = (a2 , b2 , c2 ), temos as seguintes possibilidades com respeito às posições relativas destes dois
planos:
(1) Os planos π1 e π2 são paralelos se seus vetores normais forem paralelos, i.e., se existe k ∈ R
tal que ⃗n1 = k⃗n2 . Neste caso, temos duas possibilidades:
(i) π1 e π2 são paralelos coincidentes (π1 = π2 ) se d1 = kd2 , ou seja, os termos
independentes das equações dos planos mantêm a mesma proporção que os vetores normais.
⃗n1
⃗n2

π1 = π2

(ii) π1 e π2 são paralelos não-coincidentes ou distintos (π1 ∩ π2 = ∅) se d1 ̸= kd2 ,


ou seja, os termos independentes das equações dos planos não mantêm a mesma proporção
que os vetores normais.
68 5. O PLANO NO ESPAÇO

⃗n1

π1

⃗n2

π2

(2) Caso os planos π1 e π2 não sejam paralelos (i.e. ⃗n1 ∦ ⃗n2 ) eles são chamados de transversais,
neste caso há interseção entre os planos e esta interseção será uma reta (π1 ∩ π2 = r).

⃗n2
π2

⃗n1
θ

π1
⃗v

No caso de planos transversais podemos ainda acrescentar que se ⃗v é um vetor de diretor da reta
r = π1 ∩ π2 então ⃗v ∥ π1 e ⃗v ∥ π2 , o que significa que ⃗v · ⃗n1 = 0 e ⃗v · ⃗n2 = 0. Em particular, podemos
considerar ⃗v = ⃗n1 × ⃗n2 .
Definção 82. Definimos o ângulo entre dois planos π1 e π2 como o menor ângulo entre
vetores normais ⃗n1 de π1 e ⃗n2 de π2 . Sendo θ este ângulo, tem-se:
|⃗n1 · ⃗n2 | π
cos θ = , 0≤θ≤ .
∥⃗n1 ∥∥⃗n2 ∥ 2
Se ⃗n1 · ⃗n2 = 0 dizemos que os planos são ortogonais.
Exemplo 83. Determine a posição relativa do plano π : 2x − y + 3z − 1 = 0 com os planos:
(1) π1 : 4x − 2y + 6z − 1 = 0;
(2) π2 : x − 21 y + 23 z − 12 = 0;
(3) π3 : 2x − 3y − z + 1 = 0
5. O PLANO NO ESPAÇO 69

Solução. Seja ⃗n um vetor normal de π e ⃗ni um vetor normal do plano πi para i = 1, 2, 3 temos:
⃗n = (2, −1, 3)
⃗n1 = (4, −2, 6)
1 3
⃗n2 = (1, − , )
2 2
⃗n3 = (2, −3, 1).
Observe que como ⃗n = 21 ⃗n1 os planos π e π1 são paralelos. Falta determinar se eles são paralelos
coincidentes ou paralelos distintos. Para isso, olhamos os termos independentes de ambas equações.
Como −1 ̸= 21 (−1) = − 12 , os termos independentes não mantêm a mesma proporção que os vetores
normais. Concluímos então que os planos π e π1 são paralelos distintos.
Para determinar a posição relativa entre π e π2 note que ⃗n = 2⃗n2 , portanto os planos são paralelos
e como −1 = 2 · (− 12 ) concluímos que os planos π e π2 são coincidentes π = π2 .
Por último, como os vetores ⃗n e ⃗n3 não são paralelos pois 22 = 1 ̸= 13 = −1 −3
, os planos π e π3
são transversais. Para determinar a reta r = π ∩ π3 , sabemos que um vetor diretor ⃗v de r será
simultaneamente ortogonal a ⃗n e a ⃗n3 , portanto podemos tomar ⃗v = ⃗n × n⃗3 = (8, 4, −4).
Por outro lado, um ponto A ∈ r deverá satisfazer as equações de π e de π3 , então fazendo x = 0
em ambas equações obtemos o sistema
 
−y + 3z − 1 = 0 3z − 1 =y

−3y − z + 1 = 0 −3(3z − 1) − z + 1 = 0

y = 51
 
3z − 1 =y

−10z + 4 = 0 z = 25
Logo um ponto da reta é A = (0, 15 , 25 ) e as equações paramétricas de r são:

 x = 8t
r: y = 15 + 4t , t ∈ R.
z = 25 − 4t

Exemplo 84. Obtenha dois planos que se intersectam ao longo da reta



 x=1+t
r: y = 2 − 3t , t ∈ R.
 z = 2 − t.

Solução. Para obter as equações dos planos começamos por escrever as equações simétricas da
reta r:
x−1 y−2 z−2
r: = = .
1 −3 −1
Efetuando os produtos cruzados obtemos um sistema de 2 equações com 3 variáveis que define a
mesma reta:  
−3(x − 1) = y − 2 −3x + 3 = y − 2
r: ⇔r:
−1(x − 1) = z − 2 −x + 1 = z − 2
 
−3x − y + 3 + 2 = 0 3x + y − 5 = 0
r: ⇔r:
−x + 1 − z + 2 = 0 x + z − 3 = 0.
Observe que ambas equações são equações gerais de planos que determinam a reta r. Esse pares de
planos não são únicos, existem infinitos pares de planos que se cruzam numa mesma reta, portanto
esse exercício tem infinitas soluções.
70 5. O PLANO NO ESPAÇO

5.0.5. Posições relativas entre uma reta e um plano. Considere uma reta r definida por
r : (x, y, z) = (xA , yA , zA ) + t(a1 , b1 , c1 ), t ∈ R
e um plano π dado por
π : a2 x + b2 y + c2 z + d2 = 0.
Denotando por ⃗v = (a1 , b1 , c1 ) o vetor diretor da reta r e por ⃗n = (a2 , b2 , c2 ) o vetor normal do plano
π, temos as seguintes possibilidades com respeito às posições relativas entre r e π:
(1) A reta r e plano π são paralelos se ⃗v · ⃗n = 0. Se este for o caso temos ainda duas possibili-
dades:
(i) A reta r está contida no plano π (r ⊂ π) se um ponto A ∈ r também pertence ao
plano π. Neste caso, r ∩ π = r.

⃗n

⃗v
r
A

(ii) Caso contrário, se A ̸∈ π, dizemos que reta r é estritamente paralela ao plano


π. Neste caso tem-se r ∩ π = ∅.

r ⃗v
A
⃗n
π
5. O PLANO NO ESPAÇO 71

(2) No caso em que a reta r e o plano π não sejam paralelos (i.e. ⃗v · ⃗n ̸= 0) dizemos que r é
transversal a π. Neste caso, a reta r intersecta o plano π em um único ponto, r ∩ π = {P }.
r

⃗v

⃗n A

Para achar o ponto de interseção P basta substituir as variáveis x, y, z na equação geral do


plano π pelas equações paramétricas de r e resolver para o parâmetro t ∈ R.
Exemplo 85. Determine a posição relativa do plano π : x + 3y + 2z − 5 = 0 com a reta r que é
a interseção dos planos:

π1 : x − 2y − 2z + 2 = 0
r: .
π2 : 2x + y − z = 0
Solução. Sejam ⃗n1 = (1, −2, −2) e ⃗n2 = (2, 1, −1) vetores normais a π1 e π2 , respectivamente.
Claramente eles não são proporcionais e logo os planos são transversais.
Para determinar a reta r = π1 ∩ π2 , sabemos que um vetor diretor de r será paralelo ao plano π1
(pois r ⊂ π1 ) e será paralelo ao plano π2 (pois r ⊂ π2 ). Logo ⃗v será simultaneamente ortogonal a ⃗n1
e a ⃗n2 , portanto podemos tomar ⃗v = ⃗n1 × ⃗n2 = (4, −3, 5).
Um ponto A ∈ r deverá satisfazer as equações de π1 e de π2 , então fazendo x = 0 em ambas
equações obtemos o sistema
 
−2y − 2z + 2 = 0 y+z−1 =0

y−z =0 y =z

y+z =1 1
⇔ 2y = 1 ⇔ y = = z.
y =z 2
Logo um ponto da reta é A = (0, 12 , 12 ) e as equações paramétricas de r são:

 x = 4t
r: y = 12 − 3t , t ∈ R.
z = 12 + 5t

Seja agora ⃗n = (1, 3, 2) um vetor normal ao plano π. Para determinar a posição relativa entre r e π
calculamos ⃗v · ⃗n:
⃗v · ⃗n = (4, −3, 5) · (1, 3, 2) = 4 − 9 + 10 = 5 ̸= 0,
o que significa que a reta e o plano não são paralelos e, portanto, a reta r é transversal a π. O ponto
de interseção P = (x, y, z) é um ponto na reta, logo existe t ∈ R tal que P = (4t, 12 − 3t, 12 + 5t). Mas
72 5. O PLANO NO ESPAÇO

P também pertence ao plano logo dever satisfazer a equação geral de π:


1 1
4t + 3( − 3t) + 2( + 5t) − 5 =0
2 2
3
4t + − 9t + 1 + 10t − 5 =0
2
5
5t − =0
2
5
5t =
2
1
t= .
2
Substituindo t = 2 na expressão de P temos P = (4( 2 ), 2 − 3( 2 ), 2 + 5( 21 )) = (2, −1, 3).
1 1 1 1 1

5.0.6. Projeção de um ponto sobre um plano. Sejam B = (xB , yB , zB ) um ponto em R3 e


π : ax + by + cz + d = 0 um plano. Pergunta-se: como obter a projeção B ∗ do ponto B sobre o plano
π? Usamos a notação B ∗ = projπ B. Basta tomar a reta r que passa por B e é perpendicular a π e
encontrar a interseção de r com π, como mostra a Figura 5.0.2.

Figura 5.0.2. Projeção de um ponto sobre um plano

O vetor diretor da reta r é o vetor normal ao plano, i.e., ⃗v = ⃗n = (a, b, c). Assim a equação da
reta é r : P = B + t⃗n, em coordenadas
r : (x, y, z) = (xB + at, yB + bt, zB + ct).
Procurando a interseção de r com π temos que
a(xB + at) + b(yB + bt) + c(zB + ct) + d =0
axB + a2 t + byB + b2 t + czB + c2 t + d =0
(a2 + b2 + c2 )t + axB + byB + czB + d =0
∥⃗n∥2 t + axB + byB + czB + d =0,
então, se denotamos por t∗ ∈ R ao parâmetro tal que B ∗ = B + t∗⃗n temos que
−(axB + byB + czB + d)
t∗ = .
∥⃗n∥2
5.0.7. Simétrico de um ponto em relação a um plano. Sejam B = (xB , yB , zB ) um ponto
em R3 e π : ax + by + cz + d = 0 um plano. Queremos obter o ponto B ′ , simétrico de B em relação
ao plano π. Para isso basta obter a projeção B ∗ = projπ B e observar que B ∗ é o ponto médio do
segmento BB ′ , veja a Figura 5.0.3.
5. O PLANO NO ESPAÇO 73

Figura 5.0.3. Simétrico de um ponto em relação a um plano

−−→ −−−→
Note que BB ∗ = B ∗ B ′ e que ambos vetores são paralelos ao vetor ⃗n normal ao plano π.
Observação 86. Dado um ponto qualquer P do plano π os triângulos ∆P BB ∗ e ∆P B ∗ B ′
−−→ −−−→
possuem um lado em comum P B ∗ , um lado do mesmo tamanho ∥BB ∗ ∥ = ∥B ∗ B ′ ∥ e o respectivo
ângulo entre eles é reto. Assim, os triângulos ∆P BB ∗ e ∆P B ∗ B ′ são congruentes e, portanto,
d(P, B) = d(P, B ′ ).

Figura 5.0.4

5.0.8. Semiespaços determinados por um plano. Consideremos agora o problema de deter-


minar se dois pontos A e B que não pertencem a um plano π : ax + by + cz + d = 0 estão (ou não) no
mesmo semiespaço determinado por π. Para isso, considere um ponto P = (x, y, z) ∈ π e um ponto
qualquer Q = (x0 , y0 , z0 ) ∈ R3 , então avaliando a equação do plano no ponto Q temos:
ax0 + by0 + cz0 + d =ax0 + by0 + cz0 + d − 0
(P ∈ π) ⇝ =ax0 + by0 + cz0 + d − (ax + by + cz + d)
=ax0 + by0 + cz0 + d − ax − by − cz − d
=a(x0 − x) + b(y0 − y) + c(z0 − z)
−→
=⃗n · P Q.
Pela discussão feita após o Teorema 35 na Seção 3.1.3, sabemos que:
−→ −→
(1) ⃗n · P Q > 0 se, e somente se, o ângulo entre os vetores ⃗n e P Q é agudo. Mas isto acontece se,
e somente se, o ponto Q está no semiespaço indicado pelo sentido do vetor normal ao plano
π. −→ −→
(2) ⃗n · P Q = 0 se, e somente se, o ângulo entre os vetores ⃗n e P Q é reto. Mas isto acontece se,
e somente se, o ponto Q está no plano π.
74 5. O PLANO NO ESPAÇO

−→ −→
(3) ⃗n · P Q < 0 se, e somente se, o ângulo entre os vetores ⃗n e P Q é obtuso. Mas isto acontece
se, e somente se, o ponto Q não está no semiespaço indicado pelo sentido do vetor normal
ao plano π.

−−→ −−→ −−→


�n · P Q > 0 �n · P Q = 0 �n · P Q < 0

Figura 5.0.5

Em conclusão, para determinar se os pontos A e B (que não pertencem ao plano π) estão no


mesmo semiespaço determinado por π devemos avaliar a equação de π nas coordenadas de A e B.
Os número reais obtidos em ambos casos terão o mesmo sinal se, e somente se, A e B pertencem ao
mesmo semiespaço determinado pelo plano π.
Exemplo 87. (O PROBLEMA DA CORDA) Dois ganchos estão presos nas paredes de uma sala.
Qual o comprimento mínimo de uma corda que pode ser presa nos ganchos e esticada até o chão?
Ou, equivalentemente, qual o comprimento máximo de uma rede que pode ser presa nos ganchos?
Considere que os ganchos estão nos pontos A = (1, 0, 1) e B = (0, 3, 3) do espaço e que o chão é
representado pelo plano π : x + 2y − z + 3 = 0.

Figura 5.0.6. O problema da corda

Solução. Para resolver esse exercício precisamos encontrar o ponto P do plano π tal que a soma
das distâncias de P a A e a B, i.e. d(P, A) + d(P, B), seja mínima.
5. O PLANO NO ESPAÇO 75

Primeiramente, vejamos que os pontos A e B estão, de fato, no mesmo semiespaço determinado


pelo plano π. Para isso, calculamos

π(A) : 1 + 2(0) − 1 + 3 = 3 > 0 e π(B) : 0 + 2(3) − 3 + 3 = 6 > 0,

como ambos números têm o mesmo sinal, os pontos A e B estão no mesmo semiespaço determinado
por π.
Vejamos agora com obter P ∈ π tal que d(P, A) + d(P, B) é mínima. Como vimos na Observação
86, d(P, B) = d(P, B ′ ) onde B ′ é o simétrico de B em relação ao plano π. Então

d(P, A) + d(P, B) = d(A, P ) + d(P, B ′ )

e d(A, P ) + d(P, B ′ ) é mínima quando os pontos A, P, B ′ estão alinhados, veja a Figura 5.0.7. Isso
segue da Desigualdade Triangular, vista na Proposição 28(3).

Figura 5.0.7

Vamos calcular B ∗ = projπ B para depois determinar B ′ = (x′ , y ′ , z ′ ). A reta r que passa por B e é
perpendicular a π é r : (x, y, z) = (0, 3, 3) + t(1, 2, −1) e o ponto B ∗ = r ∩ π logo B ∗ = (t, 3 + 2t, 3 − t)
para algum t ∈ R pois B ∗ ∈ r e como também B ∗ ∈ π temos

t + 2(3 + 2t) − (3 − t) + 3 =0
t + 6 + 4t − 3 + t + 3 =0
6 + 6t =0
t = − 1,

portanto B ∗ = (−1, 1, 4). Agora, sabemos que B ∗ é o ponto médio do segmento BB ′ logo deve
′ 3+y ′ 3+z ′
satisfazer B ∗ = ( 0+x
2
, 2 , 2 ), de onde segue que
 x′ 
 2 = −1  x′ = −2
3+y ′
2 ′
= 1 ⇔ y ′ = −1 ,
 3+z
=4
 z′ = 5
2

portanto B ′ = (−2, −1, 5).


Com essas informações já podemos determinar o comprimento mínimo da corda que será d(A, B ′ ) =
−−→ −−→ √ √
∥AB ′ ∥, onde AB ′ = (−3, −1, 4) logo d(A, B ′ ) = 9 + 1 + 16 = 26.
Também podemos determinar o ponto P ∈ π que faz com que a soma das distâncias d(P, A) +
d(P, B) seja mínima. A reta que passa por A e B ′ tem equação vetorial rAB ′ : (x, y, z) = (1, 0, 1) +
t(−3, −1, 4). O ponto P é a interseção dessa reta com o plano π, logo P = (1 − 3t, −t, 1 + 4t) ∈ rAB ′
76 5. O PLANO NO ESPAÇO

e
(1 − 3t) + 2(−t) − (1 + 4t) + 3 = 0 (pois P ∈ π)
1 − 3t − 2t − 1 − 4t + 3 = 0
−9t + 3 = 0
−3 1
t= = ,
−9 3
assim P = (0, − 13 , 37 ).
CAPíTULO 6

Distâncias

Neste capítulo veremos como calcular distâncias envolvendo pontos, retas e planos.
6.0.1. Distâncias no plano. Dados dois pontos no plano A = (xA , yA ) e B = (xB , yB ) sabemos
−→
que a distância entre A e B é o comprimento do vetor AB, logo
−→ p
d(A, B) = ∥AB∥ = (xB − xA )2 + (yB − yA )2 .
Seja agora r a reta do plano R2 de equação r : ax + by + c = 0 em que a ̸= 0 ou b ̸= 0. Queremos
calcular a distância do ponto P = (x0 , y0 ) à reta r, ou seja, queremos o comprimento do segmento
que vai do ponto P perpendicularmente à reta r.
Considere a reta l que passa pelo ponto P e intersecta perpendicularmente a reta r em um ponto

P . A equação é l : (x, y) = (x0 , y0 ) + t(a, b) = (x0 + at, y0 + bt) e queremos encontrar a sua interseção
com a reta r, logo
a(x0 + at) + b(y0 + bt) + c = 0
ax0 + a2 t + by0 + b2 t + c = 0
(a2 + b2 )t + ax0 + by0 + c = 0.
Se denotamos por t∗ ∈ R ao parâmetro tal que P ∗ = (x0 , y0 ) + t∗ (a, b) temos que
(ax0 + by0 + c)
t∗ = − ,
a2 + b 2
note que a2 + b2 =
̸ 0 pois ou a ̸= 0 ou b ̸= 0. Esta situação está ilustrada a seguir.
P

P∗

l
−−→
Assim, d(P, r) = d(P, P ∗ ) = ∥P ∗ P ∥ = ∥P − P ∗ ∥ = ∥ − t∗ (a, b)∥. Temos então que,
|ax0 + by0 + c| √ 2 |ax0 + by0 + c|
d(P, r) = | − t∗ |∥(a, b)∥ = a + b 2 = √ .
a2 + b 2 a2 + b 2
Considere agora duas retas no plano r e s, queremos calcular a distância entre r e s. Se as
retas forem coincidentes ou concorrentes então, claramente, d(r, s) = 0. Caso as duas retas sejam
77
78 6. DISTÂNCIAS

paralelas, para calcular a distância entre elas basta tomar um ponto arbitrário em uma delas e calcular
a distância desse ponto à outra reta: d(r, s) = d(P, r) onde P ∈ s.

6.0.2. Distâncias no espaço.


6.0.2.1. Distâncias entre dois pontos. Dados A = (xA , yA , zA ) e B = (xB , yB , zB ) pontos no espaço,
−→
a distância entre A e B é o módulo do vetor AB:
−→ p
d(A, B) = ∥AB∥ = (xB − xA )2 + (yB − yA )2 + (zB − zA )2 .

6.0.2.2. Distância entre um ponto e uma reta. Dados um ponto P ∈ R3 e uma reta r no espaço
passando por um ponto A com vetor diretor ⃗v , então a distância d entre o ponto P e a reta r é a
−→
altura do paralelogramo determinado por AP e ⃗v .

−→
Denotando por Sp a área do paralelogramo determinado por AP e ⃗v , temos
−→
∥⃗v ∥d = Sp = ∥AP × ⃗v ∥,
donde segue que
−→
∥AP × ⃗v ∥
d(P, r) = .
∥⃗v ∥
Exemplo 88. Sejam A = (1, 2, −1), B = (2, 0, 1) e C = (3, 2, 1) vértices de um triângulo. Calcule
a altura do triângulo relativa ao lado AB.
6. DISTÂNCIAS 79

Solução. Seja r a reta passando por A e B então

−→ −→
∥AC × AB∥
h = d(C, r) = −→ ,
∥AB∥

−→ −→ −→ −→ −→ √
onde AB = (1, −2, 2) e AC = (2, 0, 2). Logo AC × AB = (−4, 2, 4) e ∥AB∥ = 1 + 4 + 4 = 3,
portanto

√ √
16 + 4 + 16 36
h= = = 2.
3 3

6.0.2.3. Distância entre um ponto e um plano. Sejam P = (x0 , y0 , z0 ) um ponto no R3 e π :


ax + by + cz + d = 0 um plano.

Para calcular a distância entre o ponto e o plano, considere a projeção P ∗ do ponto P no plano π.
Assim, a distancia d(P, π) será a distância entre os pontos P e P ∗ . Essa situação está ilustrada a
seguir.
80 6. DISTÂNCIAS

⃗n

P∗
π

Como vimos na Seção 5.0.6, P ∗ = P + t∗⃗n em que


−(ax0 + by0 + cz0 + d)
t∗ = .
∥⃗n∥2
Assim,
−−→ |ax0 + by0 + cz0 + d|
d(P, π) = d(P, P ∗ ) = ∥P P ∗ ∥ = ∥t∗⃗n∥ = |t∗ |∥⃗n∥ =
∥⃗n∥
ou seja,
|ax0 + by0 + cz0 + d|
d(P, π) = √ .
a2 + b 2 + c 2
Observação 89. Se P = (x0 , y0 , z0 ) ∈ π, então ax0 + by0 + cz0 + d = 0 e assim, d(P, π) = 0,
como esperado.
Cabe aqui mencionar que existe outro modo de calcular a distância entre ponto e plano. Para isto
considere P ∈ R3 , ⃗n um vetor normal ao plano π e A ∈ π arbitrário. Temos então

→ !
−→ |− →
AP · ⃗n AP · ⃗n|

d(P, π) = proj⃗n AP = ⃗n = .

⃗n · ⃗n ∥⃗n∥

Exemplo 90. Considere um ponto P e um plano π de modo que d(P, π) = d. Descreva o conjunto
C = {Q ∈ π|d(P, Q) = δ} para cada valor do parâmetro δ ∈ R.
Solução. Temos as seguintes possibilidades para o conjunto C de acordo com os possíveis valores
de δ ∈ R:
6. DISTÂNCIAS 81

(1) Para δ < d temos que C = ∅ pois a menor distância do ponto P a um ponto no plano π é d.
(2) Para δ = d temos que C = {P ∗ }, consiste somente da projeção do ponto
√ P no plano π.
(3) Para δ > d temos que C é a circunferência de centro P ∗ e raio r = δ 2 − d2 , que é preci-
samente a interseção do plano π com a esfera de centro P e raio δ, como mostra a Figura
6.0.1.

Figura 6.0.1

6.0.2.4. Distância entre duas retas. A distância entre duas retas r e s é a menor distância entre
um ponto de r e um ponto de s. Para calcular a distância precisamos determinar primeiro a posição
relativa entre as retas.
(1) No caso de r e s serem coincidentes ou concorrentes, a distância entre elas será igual a zero:
d(r, s) = 0.
r
coincidentes
P

r=s s
concorrentes
(2) No caso de r e s serem paralelas, para calcular a distância entre elas basta tomar um ponto
arbitrário em uma delas e calcular a distância desse ponto à outra reta:
d(r, s) = d(P, r) = d(Q, s).
Q
r

s
P
(3) No caso das retas serem reversas, consideramos P ∈ r, ⃗v um vetor diretor para r, Q ∈ s e ⃗u
um vetor diretor para s. Seja π o plano que contém r e é paralelo à reta s. O vetor normal
para π pode ser ⃗n = ⃗u × ⃗v . Desta forma temos
82 6. DISTÂNCIAS

−→ −→ −→ 
|P Q · ⃗n| |P Q · ⃗u × ⃗v | | P Q, ⃗u, ⃗v |
d(r, s) = d(Q, π) = = = .
∥⃗n∥ ∥⃗u × ⃗v ∥ ∥⃗u × ⃗v ∥

6.0.2.5. Distância entre uma reta e um plano. Considere o plano π : ax + by + cz + d = 0 e uma


reta r, que passa pelo ponto P = (x0 , y0 , z0 ) e tem vetor diretor ⃗v . Denote por ⃗n = (a, b, c) o vetor
normal ao plano π. Para encontrar a distância da reta ao plano precisamos determinar as posições
relativas entre ambos.
(1) Caso ⃗v · ⃗n ̸= 0, a reta não é paralela ao plano e assim ela intersecta o plano, fornecendo
d(r, π) = 0.
(2) Caso ⃗v · ⃗n = 0 e algum ponto de r pertence a π, a reta está contida neste plano e também
teremos d(r, π) = 0.
(3) Caso ⃗v · ⃗n = 0 e nenhum ponto de r pertence a π, a reta é paralela ao plano, mas não está
contida nele. Assim, tomando P ∈ r arbitrário, temos d(r, π) = d(P, π).
r
P

⃗v

⃗n

6.0.2.6. Distância entre dois planos. Sejam π1 e π2 dois planos no espaço. Para determinar a
distância entre esses planos precisamos levar em conta as possíveis posições relativas.
(1) No caso dos planos π1 e π2 serem paralelos coincidentes ou transversais, temos d(π1 , π2 ) = 0.
(2) No caso dos planos π1 e π2 serem paralelos distintos, existem equações da forma:
π1 : ax + by + cz + d1 = 0 e π2 : ax + by + cz + d2 = 0, com d1 ̸= d2 ,
veja que aqui escrevemos ambas equações com os mesmos coeficientes nas variáveis x, y, z
(as componentes do vetor normal), isso sempre é possível quando os planos são paralelos.
Escolhendo um ponto P = (x0 , y0 , z0 ) ∈ π1 arbitrário, temos
|ax0 + by0 + cz0 + d2 |
(6.0.1) d(π1 , π2 ) = d(P, π2 ) = √ .
a2 + b 2 + c 2
Agora, como o ponto P = (x0 , y0 , z0 ) ∈ π1 , temos que
ax0 + by0 + cz0 = −d1 ,
6. DISTÂNCIAS 83

que ao substituir em (6.0.1), fornece


|d2 − d1 |
d(π1 , π2 ) = √ .
a2 + b 2 + c 2

P π1

π2
CAPíTULO 7

Cônicas

7.1. Introdução
Uma cônica é o lugar geométrico dos pontos do P = (x, y) do plano que satisfazem uma equação
da forma

Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0,

em que A, B, C, D, E e F são números reais e A, B e C não são simultaneamente nulos.


Começaremos estudando as cônicas não degeneradas (elipse, parábola e hipérbole) as quais serão
apresentadas como sendo o conjunto de pontos do plano satisfazendo certas propriedades geométricas
e, a partir delas, deduziremos suas equações na forma mais simples possível.
Vejamos agora, o motivo pelo qual essas curvas recebem o nome de "cônicas". Sejam g e e duas
retas não perpendiculares, concorrentes no ponto V . Fixando a reta e (eixo) e fazendo g (geratriz)
girar 360◦ ao redor de e, mantendo constante o ângulo a entre elas, a reta g gera uma superfície
circular infinita que chamamos de superfície cônica (ou cone). Essa superfície é formada por duas
folhas separadas pelo ponto V (vértice).
Chama-se seção cônica ao conjunto de pontos que forma a interseção de um plano π com a
superfície cônica. Essas seções cônicas serão elipses, circunferências, parábolas e hipérboles ou seus
casos degenerados: duas retas, uma reta, ou apenas um ponto, dependendo da inclinação do plano
π, como veremos a seguir.

parábola hipérbole

circunferência

elipse

Figura 7.1.1. Seções cônicas


85
86 7. CÔNICAS

Primeiramente, suponha que temos um plano π que não passa pelo vértice V . Neste caso obteremos
as seguintes cônicas dependendo do ângulo b que o plano forma com o eixo da superfície cônica1.
• Elipse: ocorre se o ângulo b for maior que o ângulo a entre o eixo e a geratriz do cone.

Figura 7.1.2. a < b Elipse

• Circunferência: é o caso particular da elipse em que o ângulo b é 90◦ .

Figura 7.1.3. b = 90◦ Circunferência

• Parábola: ocorre se o ângulo b for igual ao ângulo a entre o eixo e a geratriz do cone.

1Asimagens foram retiradas do vídeo ”Conic section 3D animations” do canal de Youtube Bifrost, acesse:
www.youtube.com/watch?v=HO2zAU3Eppo.
7.1. INTRODUÇÃO 87

Figura 7.1.4. a = b Parábola

• Hipérbole: ocorre se o ângulo b for menor que o ângulo a entre o eixo e a geratriz do cone.

Figura 7.1.5. b < a Hipérbole

Se o plano π contem o vértice V do cone, obtemos os casos degenerados: uma reta (a = b), duas retas
(b < a), ou um ponto (a < b).
88 7. CÔNICAS

7.2. Elipse
7.2.1. Definição e elementos.

Definção 91. Sejam F1 e F2 dois pontos do plano tais que d(F1 , F2 ) = 2c e seja a > c. O
conjunto dos pontos P do plano cuja soma das distâncias aos dois pontos fixados F1 e F2 é constante
igual a 2a, i.e.,

(7.2.1) d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a,

é chamado de elipse com focos F1 e F2 e excentricidade e = ac .

Graficamente temos:

Qualquer ponto da curva em azul, satisfaz que a soma das distâncias até os focos é 2a.

Observação 92. Se admitimos a possibilidade de que F1 = F2 então neste caso a elipse será uma
circunferência de centro F1 e raio a.

Definimos a elipse de uma forma puramente geométrica, agora queremos encontrar uma expressão
algébrica que todo ponto P = (x, y) que pertence à elipse deve satisfazer. Para que essa expressão
seja a mais simples possível, precisamos escolher um sistema de coordenadas conveniente.
Se tomarmos um referencial cuja origem O é o ponto médio do segmento F1 F2 e cujo eixo das
abscissas contém os focos:
7.2. ELIPSE 89

F1 F2

então a equação reduzida da elipse será:


x2 y 2
(7.2.2) + 2 =1
a2 b

onde b = a2 − c2 . De fato, com a escolha do referencial e sabendo que d(F1 , F2 ) = 2c, podemos
dizer que as coordenadas dos focos são F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0).
Seja P = (x, y) um ponto da elipse, então P satisfaz a equação (7.2.1). Como:
p
d(P, F1 )= (x + c)2 + y 2
p
(7.2.3) d(P, F2 )= (x − c)2 + y 2
temos
d(P, F1 ) + d(P, F2 ) = 2a
p p
(x + c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2 = 2a
p p
( (x + c)2 + y 2 )2 = (2a − (x − c)2 + y 2 )2
p
(x + c)2 + y 2 = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2
p
x2 + 2cx + c2 + y2 = 4a2 − 4a (x − c)2 + y 2 + x2 − 2cx + c2 + y2
p
−4a2 +2cx+2cx = −4a (x − c)2 + y 2
p
(7.2.4) −4a2 + 4cx = −4a (x − c)2 + y 2 .
Dividindo a equação (7.2.4) por −4 e elevando-a ao quadrado:
(a2 − cx)2 = a2 [(x − c)2 + y 2 ]
a4 −  2
2a cx + c2 x2 = a2 [x2 −   + c2 + y 2 ]
2cx


a4 − a2 c 2 = a2 x 2 − c 2 x 2 + a2 y 2
(7.2.5) a2 (a2 − c2 ) = (a2 − c2 )x2 + a2 y 2 .

Definindo b = a2 − c2 e fazendo as substituições em (7.2.5):
(7.2.6) a2 b 2 = b 2 x 2 + a2 y 2 .
Dividindo a equação (7.2.10) por a2 b2 obtemos o resultado desejado:
x2 y 2
1= + 2.
a2 b
90 7. CÔNICAS

Observação 93. Note que, como a > c, a excentricidade satisfaz e = ac < 1. Quanto mais
próxima de 0 fica a excentricidade mais arredondada será a curva. Quanto mais próxima de 1, mais
achatada é a curva. Na Figura 7.2.1 representamos varias elipses com o mesmo valor de a e diferentes
valores de c o que faz variar as excentricidades.

Figura 7.2.1. Elipses com diferentes excentricidades

x2 y2
Do conjunto dos pontos que satisfazem a equação da elipse a2
+ b2
= 1 podemos destacar os
vértices A1 = (−a, 0), A2 = (a, 0), B1 = (0, −b) e B2 = (0, b).

B2 = (0, b)

A1 = (−a, 0) F1 = (−c, 0) (c, 0) = F2 A2 = (a, 0)

B1 = (0, −b)

Chamamos de eixo maior da elipse ao segmento A1 A2 de comprimento 2a e de eixo menor ao


segmento B√1 B2 de comprimento 2b. A nomenclatura ”maior” e ”menor” se deve ao fato que, como
a > c e b = a2 − c2 então b2 < a2 . E como a radiciação é uma função crescente, então b < a.
A distância focal é distância entre os dois focos da elipse d(F1 , F2 ) = 2c e o centro C é o ponto
médio do segmento F1 F2 .

Se no início houvéssemos tomado um referencial em que o eixo das ordenadas contém os focos F1
e F2 , sendo a origem O o ponto médio do segmento F1 F2 , então F1 = (0, −c), F2 = (0, c) e, portanto:
p
d(P, F1 )= x2 + (y + c)2
p
(7.2.7) d(P, F2 )= x2 + (y − c)2
Assim, repetindo as contas anteriormente feitas, trocando os papéis de x e y, teríamos por fim a
igualdade:
p
(7.2.8) −4a2 + 4cy = −4a x2 + (y − c)2 .
7.2. ELIPSE 91

Novamente, dividindo a equação (7.2.8) por −4 e elevando-a ao quadrado:


(a2 − cy)2 = a2 [x2 + (y − c)2 ]
a4 −  2
2a cy + c2 y 2 = a2 [x2 + y 2 −  + c2 ]
2cy


a4 − a2 c 2 = a2 x 2 + a2 y 2 − c 2 y 2
(7.2.9) a2 (a2 − c2 ) = a2 x2 + (a2 − c2 )y 2 .

Como b = a2 − c2 , fazendo as substituições em (7.2.9):
(7.2.10) a2 b 2 = a2 x 2 + b 2 y 2
e, dividindo tudo por a2 b2 , temos
x2 y 2
+ 2 = 1.
b2 a

Portanto, o gráfico da elipse seria da seguinte forma:

A2 = (0, a)

F2 = (0, c)

B1 = (−b, 0) B2 = (b, 0)

F1 = (0, −c)

A1 = (0, −a)

Observação 94. Fizemos duas escolhas importantes para obter a equação da elipse. Uma delas
foi decidir se os focos estão no eixo das abscissas ou das ordenadas; a outra foi adotar a origem como
o ponto médio do segmento F1 F2 , i.e., o centro da elipse. Se fizermos uma translação do centro, por
exemplo, para o ponto C = (x0 , y0 ), então a equação da elipse passa a ser:
(x − x0 )2 (y − y0 )2 (x − x0 )2 (y − y0 )2
+ = 1 ou + =1.
a2 b2 b2 a2
Dizemos que essa equação está na forma padrão e se eliminamos os denominadores, desenvolvemos
os quadrados e reordenamos os termos temos
Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
em que A e C têm o mesmo sinal, que é a equação geral de uma elipse cujos eixos são paralelos
aos eixos coordenados.
Exemplo 95. Achar a equação da elipse de focos F1 = (0, −6) e F2 = (0, 6) e excentricidade
e = 32 .
92 7. CÔNICAS

Solução. Como ambos os focos estão no eixo das ordenadas, o eixo maior da elipse também
estará no eixo das ordenadas. O centro é o ponto médio do segmento F1 F2 , logo
0 + 0 −6 + 6
 
C= , = (0, 0).
2 2
Assim, a equação reduzida da elipse é da forma
x2 y 2
+ 2 = 1.
b2 a
p
A distância focal é 2c = d(F1 , F2 ) = (0−)2 + (6 − (−6))2 = 12 logo c = 6. Também sabemos que a
excentricidade é 23 , portanto
2 c
e= =
3 a
2 6
=
3 a
6·3
a= =9
2
√ √ √
Da relação b = a2 − c2 segue que b = 92 − 62 = 45, portanto a equação da elipse é:
x2 y 2
+ = 1.
45 81
Exemplo 96. Determinar a equação reduzida de uma elipse com centro C na origem e com um
foco no ponto F2 = (3, 0) sabendo que a medida do eixo maior é 8.
Solução. Como o centro e o foco (3, 0) estão no eixo das abscissas, o eixo maior também estará
no eixo das abscissas. Assim, a equação reduzida da elipse é da forma
x2 y 2
+ 2 = 1.
a2 b
Por hipótese, o eixo maior mede 8 unidades, então 2a = 8 de onde segue que a = 4. E como o centro
é o ponto médio do segmento F1 F2 temos

2c = d(F1 , F2 ) = 2d(C, F2 ) = 2 32 + 02 = 6, logo c = 3.

Por outro lado, sabemos que b = a2 − c2 logo b2 = a2 − c2 = 42 − 33 = 7. Assim, a equação
reduzida da elipse é
x2 y 2
+ = 1.
16 7

Exemplo 97. Considere a elipse de equação 16x2 + 9y 2 = 144.


7.2. ELIPSE 93

(1) Encontre a equação reduzida.


(2) Encontre as coordenadas dos focos, dos vértices e a excentricidade.
(3) Faça o gráfico.

Solução.
(1) Dividindo a equação dada por 144 temos

16x2 9y 2 144
+ =
144 144 144
x2 y 2
+ =1.
9 16
(2) Como o maior denominador é 16 que é o denominador da variável y, isto indica que o eixo
maior e os focos estão sobre o eixo das ordenadas
√ e que a2 = 16, logo
√ a = 4. Segue
2
√ que b =√9,
o que implica que b = 3. Como b = a − c segue que c = a − b = 16 − 9 = 7.
2 2 2 2

Assim, a excentricidade é

c 7
e= =
a 4
e as coordenadas dos focos e dos vértices são
√ √
F1 = (0, − 7) e F2 = (0, 7)

A1 = (0, −4), A2 = (0, 4), B1 = (−3, 0) e B2 = (3, 0).

(3) Com as informações do item anterior podemos construir o gráfico da elipse dada:

Exemplo 98. A órbita da Terra é uma elipse e o Sol ocupa um dos focos. Sabendo que o semi-
eixo maior tem 149, 6 milhões de quilômetros e que a excentricidade é de 0, 0167 calcular a menor
(periélio) e a maior (afélio) distância da Terra ao Sol.

Solução. Considere um sistema de coordenadas em que os focos estejam sobre o eixo Ox e a


origem seja o ponto médio do segmento F1 F2 . Como o Sol ocupa um dos focos da órbita da Terra,
podemos supor que o Sol está no ponto F1 de coordenadas (−c, 0). A menor distância da Terra ao
Sol acontece no momento em que a Terra passa pelo vértice A1 da elipse (4 de janeiro) e a maior
distância acontece quando a Terra está no vértice A2 (4 de julho).
94 7. CÔNICAS

Sol

Terra |{z} Terra


c
| {z }| {z }
a a

Precisamos determinar os valores de a e c. Sabemos que o semi-eixo maior (i.e., metade do eixo
maior) tem comprimento 149, 6 milhões de quilômetros, logo a = 149, 6 e como a excentricidade é
e = ac = 0, 0167 segue que
c = 0, 0167 · a = 0, 0167 · 149, 6 ≈ 2, 5.
Assim, a menor distância da Terra ao Sol é
dmin = d(A1 , F1 ) = a − c ≈ 149, 6 − 2, 5 = 147, 1
e a maior distância é
dmax = d(F1 , A2 ) = a + c ≈ 149, 6 + 2, 5 = 152, 1.
Exemplo 99. (Reta tangente à Elipse) Considere a elipse E dada por x2 + 2y 2 = 6 e P = (2, 1) ∈
E. Determine a reta tangente à elipse no ponto P .
Solução. A condição para que uma reta seja tangente a uma elipse é que exista um único ponto
em que a reta encontra a elipse.

Seja 
x = 2 + mt
r: , t∈R
y = 1 + nt
a reta tangente a E no ponto P = (2, 1). Queremos encontrar um vetor diretor ⃗v = (m, n) de r.
Sabemos que existe um único t ∈ R tal que
(2 + mt)2 + 2(1 + nt)2 =6
4 + 4mt + m2 t2 + 2(1 + 2nt + n2 t2 ) =6
4 + 4mt + m2 t2 + 2 + 4nt + 2n2 t2 =6
(7.2.11) (m2 + 2n2 )t2 + 4(m + n)t =0.
7.3. HIPÉRBOLE 95

Como ⃗v = (m, n) ̸= ⃗0 então m2 + 2n2 ̸= 0 e a equação (7.2.11) tem de fato grau 2. Como existe um
único t que satisfaz essa equação então o discriminante deve ser nulo, ou seja,
0 = ∆ = 16(m + n)2 − 4 · (m2 + 2n2 ) · 0 = 16(m + n)2
de onde segue que m + n = 0, logo n = −m e assim ⃗v = (m, −m) = m(1, −1). Portanto, a reta
tangente à elipse no ponto P = (2, 1) é

x= 2+t
r: , t ∈ R ou r : x + y = 3.
y = 1−t

Exemplo 100. (Ângulo dos raios focais com a reta tangente) Considere a elipse E dada por
x + 2y 2 = 6, o ponto P = (2, 1) ∈ E e a reta r tangente à elipse E no ponto P . Mostre que os vetores
2
−−→ −−→
⃗v1 = P F1 e ⃗v2 = P F2 (raios focais) fazem ângulos iguais com r.
Solução. Como vimos no exemplo anterior a reta tangente à elipse no ponto P = (2, 1) é
r : x + y = 3 que tem a direção do vetor ⃗v = (1, −1). Então o vetor ⃗n = (1, 1) é ortogonal à reta r.
Queremos provar que o ângulo θ1 entre ⃗n e ⃗v1 é igual ao ângulo θ2 entre ⃗n e ⃗v2 . Como esses ângulos
diferem em 90◦ com o ângulo entre a reta e os raios focais teremos provado o resultado.

2 2 √
Vamos achar as coordenadas dos focos. A equação reduzida da elipse E é x6 + y3 = 1, logo a = 6,
√ √ √ √
b = 3 e c = a2 − b2 = 6 − 3 = 3. Como o maior √ denominador√é o da variável x, o eixo maior
e os focos abscissas, assim F1 = (− 3, 0) e F2 = ( 3, 0). Logo os raios focais são
√ estão no eixo das √
⃗v1 = (− 3 − 2, −1) e ⃗v2 = ( 3 − 2, −1). Agora,
√ √
⃗n · ⃗v1 − 3−2−1 ⃗n · ⃗v2 3−2−1
cos(θ1 ) = =√ q √ e cos(θ2 ) = =√ q√ .
∥⃗n∥∥⃗v1 ∥ ∥⃗n∥∥⃗v2 ∥
2 (− 3 − 2) + (−1)
2 2 2 ( 3 − 2) + (−1)
2 2

Fazendo as contas vemos que cos θ1 = cos θ2 = −0.866 e como 0◦ ≤ θ1 , θ2 ≤ 180◦ segue que θ1 = θ2
como queríamos.

7.3. Hipérbole
7.3.1. Definição e elementos.
Definção 101. Sejam F1 e F2 dois pontos do plano tais que d(F1 , F2 ) = 2c e seja a < c. O
conjunto dos pontos P do plano cuja diferença das distâncias aos dois pontos fixados F1 e F2 tem
valor absoluto constante igual a 2a, i.e.:
(7.3.1) |d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 2a,
é chamado de hipérbole com focos F1 e F2 e excentricidade e = ac .
Graficamente temos:
96 7. CÔNICAS

Qualquer ponto da curva em azul, satisfaz que o valor absoluto da diferença das distâncias até os
focos é 2a.

Definimos a hipérbole de uma forma puramente geométrica, agora queremos encontrar uma ex-
pressão algébrica que todo ponto P = (x, y) do plano que está sobre a hipérbole deve satisfazer.
Para que essa expressão seja a mais simples possível, precisamos escolher um sistema de coordenada
conveniente.
Se escolhermos um referencial cuja origem O é o ponto médio do segmento F1 F2 e cujo eixo das
abscissas contém os focos:

F1 F2

então a equação reduzida da hipérbole será:


x2 y 2
(7.3.2) − 2 =1
a2 b

onde b = c2 − a2 . De fato, com a escolha do referencial e sabendo que d(F1 , F2 ) = 2c, podemos
dizer que as coordenadas dos focos são F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0).
Seja P = (x, y) um ponto da hipérbole, então P satisfaz a equação (7.3.1). Logo:
p
d(P, F1 )= (x + c)2 + y 2
p
(7.3.3) d(P, F2 )= (x − c)2 + y 2
7.3. HIPÉRBOLE 97

temos

|d(P, F1 ) − d(P, F2 )| = 2a
d(P, F1 ) − d(P, F2 ) = ±2a
d(P, F1 ) = ±2a + d(P, F2 )
p p
( (x + c)2 + y 2 )2 = (±2a + (x − c)2 + y 2 )2
p
(x + c)2 + y 2 = 4a2 ± 4a (x − c)2 + y 2 + (x − c)2 + y 2
p
x2 + 2cx + c2 + y2 = 4a2 ± 4a (x − c)2 + y 2 + x2 − 2cx + c2 + y2
p
−4a2 + 2cx + 2cx = ±4a (x − c)2 + y 2
p
(7.3.4) −4a2 + 4cx = ±4a (x − c)2 + y 2 .

Dividindo a equação (7.3.4) por 4 e elevando-a ao quadrado:

p
(−a2 + cx)2 = (±a (x − c)2 + y 2 )2
a4 − 2a2 cx + c2 x2 = a2 [(x − c)2 + y 2 ]
a4 − 2a2 cx + c2 x2 = a2 (x2 − 2cx + c2 + y 2 )
a4 −  2
2a cx + c2 x2 = a2 x2 −  2
2a cx + a2 c2 + a2 y 2
 

a4 + c 2 x 2 = a2 x 2 + a2 c 2 + a2 y 2
c 2 x 2 − a2 x 2 − a2 y 2 = a2 c 2 − a4
(7.3.5) (c2 − a2 )x2 − a2 y 2 = a2 (c2 − a2 ).


Definindo b = c2 − a2 e fazendo as substituições em (7.3.5):

(7.3.6) b2 x2 − a2 y 2 = a2 b2 .

Dividindo a equação (7.3.6) por a2 b2 obtemos o resultado desejado:

x2 y 2
− 2 = 1.
a2 b

c
Observação 102. Note que, como c > a, a excentricidade e = é maior que 1. Essa razão
a
caracteriza o aspecto da hipérbole. Na Figura 7.3.1 representamos várias hipérboles com os mesmos
focos e diferentes valores de a. Note que quanto maior a excentricidade mais ”aberta” é a curva.
98 7. CÔNICAS

Figura 7.3.1. Hipérboles com diferentes excentricidades

2 2
Do conjunto dos pontos que satisfazem a equação da hipérbole xa2 − yb2 = 1 podemos destacar
os vértices A1 = (−a, 0) e A2 = (a, 0). Note que a hipérbole não intercepta o eixo das ordenadas
2
pois, ao se fazer x = 0 na equação (7.3.2), − yb2 = 1 não possui solução real. É por isso que
chamamos ao segmento A1 A2 (de comprimento 2a) de eixo real da hipérbole e ao segmento B1 B2 ,
onde B1 = (0, −b) e B2 = (0, b) (de comprimento 2b) de eixo imaginário da hipérbole. A distância
focal é a distância entre os dois focos da hipérbole d(F1 , F2 ) = 2c e o centro C é o ponto médio do
segmento F1 F2 .
Observação 103.
(1) A equação (7.3.2) nos diz imediatamente que:
x2 y2
= 1 + ≥ 1 logo x2 ≥ a2 o que implica |x| ≥ a.
a2 b2
Portanto, os pontos da hipérbole estão fora da região do plano limitada pelas retas x = a
e x = −a, ou seja, a hipérbole é uma curva que possui duas partes, chamadas de ramos
da hipérbole. Em Matemática, dizemos que é uma curva que possui duas componentes
conexas.
(2) Podemos dizer que os dois ramos da hipérbole são simétricos em relação aos eixos. De fato,
se (x, y) é um ponto da hipérbole, com |x| ≥ a, então (−x, y), (x, −y) e (−x, −y) também
são.
7.3.2. Assíntotas.
Definção 104. Chamamos de assíntota de uma curva C uma reta r tal que, para todos os pontos
X = (x1 , y1 ) ∈ C e Y = (x1 , y2 ) ∈ r com a mesma abscissa (ou ordenada), temos que d(X, Y ) se
aproxima de zero quando a abscissa (ou ordenada) comum de X e Y tende a ±∞.
Ou seja, a reta se aproxima indefinidamente da curva. Por essa razão é comum dizer que a reta é
tangente à curva no infinito. A seguir, vamos encontrar a equação das assíntotas de uma hipérbole.
x2 y2
Proposição 105. A hipérbole H de equação a2
− b2
= 1 tem como assíntotas as retas y = ab x e
y = − ab x.
7.3. HIPÉRBOLE 99

Demonstração. Seja X = (x, y) um ponto da hipérbole H, então:


r r
x2 x2
y=b − 1 ou y = −b − 1.
a2 a2
Vejamos que a distância de X ao ponto Y sobre a reta r : y = ab x com abscissa x tende a zero
quando xq→ ±∞. Pela simetria da hipérbole podemos restringirmos ao primeiro quadrante, assim
x2
X = (x, b a2
− 1) com x ≥ a e a distância de X a Y = (x, ab x) ∈ r é:
v !2 r
u r b √
2 2
u x b x b
d(X, Y ) = t(x − x)2 + b − − − − − 2 − x .
2
1 x = b 1 x = x a

a2 a a2 a a

Note que

√ √  x 2 − a2 + x a2
x 2 − a2 − x = x 2 − a2 − x · √ = −√ ,
x 2 − a2 + x x 2 − a2 + x
logo

b √ 2 b a2
lim d(X, Y ) = lim x − a − x = lim − √
2
= 0,

x→+∞ x→+∞ a x→+∞ a  ∞
:


x − a + x

2  2

então temos a afirmação. □


2 2
Note que as assíntotas da hipérbole de equação xa2 − yb2 = 1 são as retas que passam pelas diagonais
do retângulo centrado na origem, de lados 2a e 2b indicado na Figura 7.3.2. Esse retângulo é chamado
de retângulo fundamental da hipérbole.

y = − ab x y = ab x

B2 = (0, b)
c
F1 = (−c, 0) b F2 = (c, 0)
A1 = (−a, 0) a A2 = (a, 0)

B1 = (0, −b)

Figura 7.3.2. Elementos da hipérbole com eixo real no eixo Ox.

Se no início houvéssemos escolhido um referencial em que o eixo das ordenadas contém os focos
F1 e F2 , sendo a origem O o ponto médio do segmento F1 F2 então teríamos F1 = (0, −c), F2 = (0, c)
100 7. CÔNICAS

e portanto a equação reduzida da hipérbole seria:


y 2 x2
(7.3.7) − 2 =1
a2 b
Neste caso, o gráfico e os elementos da hipérbole são:

Figura 7.3.3. Elementos da hipérbole com eixo real no eixo Oy.

Observação 106. Fizemos duas escolhas importantes para obter a equação da hipérbole. Uma
delas foi decidir se os focos estão no eixo das abscissas ou das ordenadas; a outra foi adotar a origem
como o ponto médio do segmento F1 F2 , i.e., o centro da hipérbole. Se fizermos uma translação do
centro, por exemplo, para o ponto C = (x0 , y0 ), então a equação da hipérbole passa a ser:
(x − x0 )2 (y − y0 )2 (y − y0 )2 (x − x0 )2
− = 1 ou − =1.
a2 b2 a2 b2
Dizemos que essa equação está na forma padrão e se eliminamos os denominadores, desenvolvemos
os quadrados e reordenamos os termos temos
Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
com A e C de sinais contrários, que é a equação geral de uma hipérbole cujos eixos são paralelos
aos eixos coordenados.
y2
Exemplo 107. Dada a hipérbole 9
−x2 = 1 determinar seu centro, vértices, focos, excentricidade
e assíntotas. Esboce o gráfico.
Solução. Como a equação está na forma padrão, o centro da hipérbole é C = (0, 0). O sinal
negativo na frente da variável x indica que o eixo imaginário está sobre o eixo Ox e o eixo real
√sobre o
eixo Oy. Logo a2 = 9 (denominador de y 2 ) e b2 = 1 (denominador
√ de x 2
), assim como b = c 2 − a2
segue que c2 = b2 + a2 = 1 + 9 = 10 e logo c = 10. Portanto, os vértices √ da hipérbole
√ são
A1 = (0, −3), A2 = (0, 3), B1 = (−1, 0) e B2 = (1, 0). Os focos são F1 = (0, − 10) e F2 = (0, 10).
7.3. HIPÉRBOLE 101

c 10
A excentricidade é e = a
= 3
e as assíntotas são y = ±3x. O gráfico foi representado na Figura
7.3.4.

Figura 7.3.4

Exemplo 108. Encontre a equação padrão da hipérbole 9x2 − 4y 2 − 18x + 24y − 63 = 0. Ache o
seu centro e excentricidade.
Solução. Queremos achar a equação padrão da hipérbole, ou seja, uma equação da forma
(x − x0 )2 (y − y0 )2 (y − y0 )2 (x − x0 )2
− = 1 ou − = 1.
a2 b2 a2 b2
Para isso utilizaremos um método conhecido como completar quadrados que serve para transformar
equações de segundo grau em um produto notável. Considere a equação de segundo grau
ax2 + bx + c = 0
em que a ̸= 0. Começamos separando os termos que contém a variável x do termo independente
ax2 + bx = −c.
Agora colocamos em evidência o coeficiente que multiplica x2
 
2 b
a x + x = −c.
a
2
Note que se somamos 12 ab dentro do parêntese podemos reescrevê-lo como um produto notável:
2
b2
  
2 b b
x + x+ 2 = x+ .
a 4a 2a
102 7. CÔNICAS
2 b 2
Mas ao somar 12 ab dentro do parêntese na verdade estamos somando a

2a
na igualdade, então
devemos somar a mesma quantidade do lado direito, assim:
 
2 b
a x + x = −c
a
b2 b2
 
2 b
a x + x+ 2 =a 2 −c
a 4a 4a
2
b2

b
a x+ = a 2 − c,
2a 4a

e é isso que precisamos para levar a equação geral da hipérbole na equação na forma padrão.
Partindo da equação geral da hipérbole

9x2 − 4y 2 − 18x + 24y − 63 = 0

vamos completar quadrados nas variáveis x e y. Começamos por separar os termos que contém a
variável x, os que contém a variável y e o termo constante:

(9x2 − 18x) + (−4y 2 + 24y) = 63.

Logo colocamos em evidência os coeficientes que multiplicam x2 e y 2 :

9(x2 − 2x) − 4(y 2 − 6y) = 63.

Para escrever as expressões que estão entre parênteses como produtos notáveis devemos somar o
quadrado da metade dos coeficientes que multiplicam as variáveis x e y, i.e.,

9 x2 − 2x + (−1)2 −4 y 2 − 6y + (−3)2 = 63 + 9(−1)2 −4(−3)2


 

9 (x − 1)2 − 4 (y − 3)2 = 63+9−36 = 36.

Lembrando que, para manter a igualdade, todo o que somamos e/ou subtraímos do lado esquerdo deve
ser somado e/ou subtraído do lado direito. Finalmente, dividimos a equação por 36 para que apareça
1 do lado direito:

9 (x − 1)2 4 (y − 3)2 36
− =
36 36 36
2 2
(x − 1) (y − 3)
− = 1,
4 9
que é a equação da hipérbole na forma padrão. Dessa equação podemos concluir que o centro da
hipérbole é C = (1, 3) e como o sinal negativo está na frente da variável y sabemos que o eixo
imaginário
√ é paralelo ao eixo Oy e, portanto, a2 = 4 e b√
2
= 9 donde segue que a = 2 e b = 3. Como
2 2 2
b = c − a então c =
2 2

b + a = 9 + 4 = 13 logo c = 13, com essas informações concluímos que
3
a excentricidade é e = 2 .

Exemplo 109. (Área de um triângulo) Considere a hipérbole H com focos nos pontos F1 = (−5, 0)
e F2 = (5, 0) e vértices em A1 = (−3, 0) e A2 = (3, 0). A reta vertical que passa por F2 intersecta H
nos pontos P e Q. Determine a área do triângulo A1 P Q.
7.3. HIPÉRBOLE 103

Solução. Primeiramente, queremos determinar a equação da hipérbole. Como os focos estão


no eixo das abscissas, o eixo real da hipérbole também estará no eixo das abscissas. O centro C da
hipérbole é o ponto médio do segmento F1 F2 , logo C = −5+5
2
, 0+0
2
= (0, 0) o centro está na origem.
Assim, a equação da hipérbole é da forma
x2 y 2
− 2 = 1.
a2 b
Das hipóteses segue que
p
2c = d(F1 , F2 ) = (5 − (−5))2 + 02 = 10, logo c = 5
e
p
2a = d(A1 , A2 ) = (3 − (−3))2 + 02 = 6, logo a = 3.

Por outro lado, sabemos que b = c2 − a2 donde segue que b2 = c2 − a2 = 25 − 9 = 16. Assim b = 4
e a equação da hipérbole é
x2 y 2
− = 1.
9 16
Queremos encontrar os pontos P e Q de interseção da hipérbole com a reta vertical que passa por F2 .
Essa reta tem equação r : x = 5 (veja que y é livre), logo para achar os pontos de interseção de r
com H devemos encontrar os pontos de H com abscissa 5:
52 y 2
− =1
9 16
52 y2
−1=
 9  16
25
16 − 1 =y 2
9
r
162
± =y
9
16
± =y.
3
Assim P = 2, 16 16
 
3
e Q = 2, − 3
. A área do triângulo A1 P Q é
1 1
St = base · altura = d(P, Q) · d(A1 , F2 ),
2 2
104 7. CÔNICAS
q 2
em que d(P, Q) = 02 + − 32
3
= 32
3
e note que d(A1 , F2 ) = a + c = 3 + 5 = 8, assim

1 1 32 128
St = d(P, Q) · d(A1 , F2 ) = · ·8= .
2 2 3 3
Uma aplicação interessante da hipérbole é que nos permite dar uma resposta ao seguinte problema:
É possível ouvir no mesmo instante dois sons que foram emitidos em momentos diferentes?

Exemplo 110. (Ouvindo dois sons) Duas fontes sonoras emitem sons em momentos diferentes.
Qual deve ser a posição de um observador de forma que ouça os dois sons ao mesmo tempo?

(a) Som da fonte sonara 1 (b) Som da fonte sonara 2 (c) Sons chegando no observador

Solução. A primeira fonte sonora F1 emite o som no instante t = 0 e a segunda fonte sonora
F2 emite o som δt segundos depois. Assim o intervalo de tempo entre o primeiro e o segundo som é
de δt segundos. Denotemos por ts1 ao tempo que o primeiro som leva para chegar até o observador P
e por ts2 ao tempo que o segundo som leva para chegar até o observador. Se a condição ts1 = δt + ts2
for satisfeita então o observador ouve os dois sons ao mesmo tempo.
Denotemos por vs ≈ 340m/s a velocidade do som, então

d(P, F1 ) d(P, F2 )
t s1 = e ts2 = ,
vs vs

assim, o observador ouve os dois sons ao mesmo tempo se, e somente se,

ts1 = δt + ts2
d(P, F1 ) d(P, F2 )
= δt +
vs vs
d(P, F1 ) d(P, F2 )
− = δt
vs vs
d(P, F1 ) − d(P, F2 ) = δt vs

i.e., o observador deve estar em um dos ramos da hipérbole que tem seus focos nas fontes sonoras e
seus vértices a uma distância de δt vs metros. Mais especificamente, o observador deve estar no ramo
mais próximo da segunda fonte sonora. Em qualquer ponto do ramo dessa hipérbole (Figura 7.3.6)
em que o observador se posicione, ouvirá os dois sons ao mesmo tempo.
7.4. PARÁBOLA 105

Figura 7.3.6. Possíveis posições do observador que resolvem o problema

7.4. Parábola
7.4.1. Definição e elementos.

Definção 111. Seja d uma reta e F um ponto do plano que não pertence a d. O conjunto dos
pontos P = (x, y) do plano equidistantes do ponto F e da reta d, i.e. tais que

(7.4.1) (P, F ) = d(P, d),

é chamado de parábola de foco F e diretriz d.

Graficamente temos:
106 7. CÔNICAS

Qualquer ponto da curva em azul é equidistante do ponto F e da reta d.

Chamamos de parâmetro ao número real p ̸= 0 tal que |p| = d(F, d). O eixo da parábola é a
reta e que passa pelo foco F perpendicularmente a d. Denote por V o ponto médio do segmento que
liga o foco e o ponto de interseção de e com d. Como d(V, F ) = d(V, d) = |p|
2
então V é um ponto que
pertence à parábola e é chamado de vértice.
Queremos encontrar uma expressão algébrica que todo ponto do plano P = (x, y) que pertence à
parábola deve satisfazer. Para que essa expressão seja a mais simples possível, precisamos escolher
um sistema de coordenadas conveniente. Escolhemos um referencial com origem O sendo o vértice V
de parábola e o eixo da parábola sendo o eixo das abscissas.

A equação reduzida da parábola será:

(7.4.2) y 2 = 2px.
7.4. PARÁBOLA 107

De fato, com a escolha do referencial podemos dizer que as coordenadas do foco são F = ( p2 , 0) e a
equação da diretriz é d : x = − p2 . Seja P = (x, y) um ponto da parábola, então P satisfaz a equação:

d(P, F ) =d(P, d)
r
p p
(x − )2 + y 2 =|x + |
2 2
p 2 p
(x − ) + y 2 =|x + |2
2 2
2
p p p p2
x2 − 2 x +  + y 2 =x2 + 2 x + 
2 4 2 4
2
y =2px,

como desejado.
Como y 2 ≥ 0 então px ≥ 0, ou seja p e a abscissa de todos os pontos da parábola têm sinais
iguais, logo:
(1) Se p < 0 a parábola tem apertura para a esquerda.
(2) Se p > 0 a parábola tem apertura para a direita.

(a) p < 0 (b) p > 0

Se houvéssemos tomado um referencial em que o eixo da parábola é o eixo das ordenadas então
as coordenadas do foco seriam F = (0, p2 ) e a equação da diretriz d : y = − p2 . Se P = (x, y) é um
ponto de parábola, obtemos de forma análoga a equação reduzida:

(7.4.3) x2 = 2py.

Do mesmo jeito, se p < 0 a parábola tem apertura para baixo e se p > 0 a parábola tem apertura
para a cima.
108 7. CÔNICAS

(a) p < 0 (b) p > 0

Observação 112. Fizemos duas escolhas importantes para obter a equação da parábola. Uma
delas foi decidir se o eixo da parábola está no eixo das abscissas ou das ordenadas; a outra foi adotar
a origem como o vértice da parábola. Se fizermos uma translação do vértice da parábola, por exemplo,
para o ponto V = (x0 , y0 ), então a equação da parábola passa a ser:
(x − x0 )2 = 2p(y − y0 ) ou (y − y0 )2 = 2p(x − x0 ).
Dizemos que essa equação está na forma padrão e se desenvolvemos os quadrados e reordenamos
os termos temos
Ax2 + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
com A = 0 ou C = 0 mas não simultaneamente nulos, que é a equação geral de uma parábola cujo
eixo é paralelo a um dos eixos coordenados.
É natural se perguntar por que a equação y = ax2 + bx + c com a ̸= 0 representa também uma
parábola. Nesse caso esta equação pode assim ser reescrita:
2 2
b2 b2 − 4ac
 
b b
y =a x+ − +c=a x+ −
2a 4a 2a 4a
2
b2 − 4ac
 
b
y+ =a x+ ,
4a 2a
ou, equivalentemente, 2
b2 − 4ac
  
b 1
x+ = y+
2a a 4a
 
b (b2 −4ac)
que é a equação de uma parábola com eixo paralelo ao eixo Oy, vértice V = − 2a , − 4a e
1
parâmetro p = 2a
.
Exemplo 113. Obtenha uma equação da parábola que tem vértice V = (0, 0), passa pelo ponto
P = (−2, 5) e tem abertura para cima.
Solução. Observe que existem duas parábolas (com eixos paralelos aos eixos coordenados) com
vértice na origem e passando pelo ponto P = (−2, 5), como mostra a Figura 7.4.3. Logo a informação
sobre a abertura é relevante pois ela implica que o eixo de simetria é o eixo Oy, assim a equação será
da forma x2 = 2py com p > 0.
7.4. PARÁBOLA 109

Figura 7.4.3

Só resta determinar o valor do parâmetro p. Para isso usamos o fato que o ponto P = (−2, 5)
pertence à parábola logo deve satisfazer a equação

4 2
(−2)2 = 2p(5) ⇔ 4 = 10p ⇔ p = = .
10 5

Portanto, a equação da parábola é x2 = 54 y. O foco é o ponto F = (0, p2 ) = (0, 51 ), a diretriz é a reta


d : y = − 15 e o eixo de simetria é e : x = 0.

Exemplo 114. Encontre a equação na forma padrão da parábola de equação geral

25y 2 − 30y − 50x + 89 = 0.

Encontre o vértice, o parâmetro p e a abertura.

Solução. Queremos achar a equação padrão da parábola, ou seja, uma equação da forma

(x − x0 )2 = 2p(y − y0 ) ou (y − y0 )2 = 2p(x − x0 ).

Para isso vamos completar quadrados na equação geral:

25y 2 − 30y − 50x + 89 = 0.

Como somente a variável y está elevada ao quadrado, separamos os termos que contém y:

25y 2 − 30y = 50x − 89.

Colocamos em evidência o coeficiente que multiplica y 2 :


 
2 6
25 y − y = 50x − 89.
5
110 7. CÔNICAS

Somamos dentro do parêntese o quadrado da metade do coeficiente que multiplica y, i.e.,


 2 !  2
2 6 3 3
25 y − y + − = 50x − 89 + 25 −
5 5 5
 2
3
25 y − = 50x − 89 + 9
5
 2
3
25 y − = 50x − 80
5
2
50x − 80
  
3 50 80
y− = = x−
5 25 25 50
 2  
3 8
y− =2 x− ,
5 5
que é a equação padrão da parábola. Note que o vértice é o ponto V = ( 85 , 35 ). Para obter o parâmetro
observe que 2 = 2p, assim p = 1. Como a variável que está elevada ao quadrado é y o eixo da parábola
é paralelo ao eixo Ox e como p > 0 a apertura é para a direita.
Exemplo 115. (Parábola transladada) Determine a equação reduzida da parábola com foco F =
(1, 1) e diretriz d : y = −3.

Solução. Pela definição de parábola sabemos que um ponto P = (x, y) pertencerá à parábola se,
e somente se, d(P, F ) = d(P, d) logo
d(P, F ) = d(P, d)
p
(x − 1)2 + (y − 1)2 = |y + 3|
(x − 1)2 + (y − 1)2 = (y + 3)2
(x − 1)2 + y2 − 2y + 1 = y2 + 6y + 9
(x − 1)2 = 6y + 9 + 2y − 1
(x − 1)2 = 8y + 8 = 8(y + 1).

A equação (x − 1)2 = 8(y + 1) ainda não é a equação reduzida da parábola, mas está perto. Acontece
que o vértice da parábola V = (1, −1) não está na origem do sistema de coordenadas e logo precisamos
definir um novo sistema de coordenadas x′ O′ y ′ em que o vértice coincida com a origem de forma a
obter a equação reduzida da parábola.
7.4. PARÁBOLA 111

(a) Sistema xOy (b) Sistema x′ O′ y ′ tal que O′ = V

Fazendo,
x′ = x − 1

y′ = y + 1
a equação da parábola no novo sistema de eixos fica (x′ )2 = 8y ′ . Observe que a origem O′ desse novo
sistema x′ O′ y ′ é dada por
 
0= x−1 x= 1
⇔ ⇔ O′ = (1, −1) = V.
0= y+1 y = −1
Estudaremos isso com mais detalhes no próximo capítulo.
A reta tangente a uma circunferência ou elipse é a única reta que intercepta a circunferência ou a
elipse em um único ponto. Qualquer outra reta interceptará a curva em dois pontos ou terá interseção
vazia. No caso da parábola essa definição de reta tangente não é satisfatória já que existem duas
retas que interceptam a parábola em um único ponto: a reta tangente e uma reta paralela ao eixo
de simetria (ortogonal à diretriz). Por isso, ao tentar determinar a reta tangente a uma parábola
precisamos levar em conta que essa reta não pode ser paralela ao eixo de simetria.
Exemplo 116. (Reta tangente à parábola) Considere a parábola P dada pela equação x = y 2 e
P = (1, 1) ∈ P. Obtenha a reta tangente à parábola no ponto P .

Solução. Determinemos primeiramente qual é o eixo de simetria da parábola y 2 = x. A equação


está na forma reduzida, então trata-se de uma parábola com eixo paralelo ao eixo x e como tem vértice
na origem V = (0, 0), o eixo de simetria é o eixo Ox, logo e : y = 0. Seja

x = 1 + mt
r: , t∈R
y = 1 + nt
112 7. CÔNICAS

a reta tangente a P no ponto P = (1, 1) queremos encontrar um vetor diretor ⃗v = (m, n) ̸= ⃗0.
Sabemos que a reta não é paralela a e : y = 0 logo ⃗v ̸= k⃗i = (k, 0) o que implica n ̸= 0 e ainda existe
um único ponto em que r intercepta P, ou seja existe um único t ∈ R tal que

(1 + nt)2 =1 + mt
1 + 2nt + n2 t2 =1 + mt
(7.4.4) n2 t2 + (2n − m)t =0

Como n ̸= 0 a equação (7.4.4) tem grau 2 e como existe um único t que satisfaz essa equação então
o discriminante deve ser nulo, ou seja,

0 = ∆ = (2n − m)2 − 4 · n2 · 0 = (2n − m)2 ,

o que implica 2n − m = 0, logo m = 2n e assim ⃗v = (2n, n) = n(2, 1). Portanto, a reta tangente à
parábola no ponto P = (1, 1) é

x = 1 + 2t
r: , t ∈ R ou r : x − 2y + 1 = 0.
y = 1+t

Observação 117. Note que se permitíssemos que n = 0, então necessariamente m ̸= 0 e a


equação (7.4.4) ficaria mt = 0 que tem uma única solução t = 0, logo encontraríamos a outra reta
passando por P = (1, 1) que intercepta a parábola num único ponto

x= 1+t
s: , t ∈ R ou s : y = 1,
y= 1

que é paralela ao eixo da parábola e claramente não é tangente.


Exemplo
√ 118. Determine a reta tangente à curva C dada por (x − y)2 = 2(x + y) no ponto
P = (0, 2) ∈ C.

Solução. A princípio não sabemos identificar que curva é essa, mas procedemos algebricamente
de forma√análoga, tentando determinar o vetor diretor ⃗v = (m, n) da reta tangente à curva no ponto
P = (0, 2). Seja

x = √ mt
r: , t∈R
y= 2 + nt
7.4. PARÁBOLA 113

tal reta então existe um único ponto em que r intercepta C, ou seja, existe um único t ∈ R tal que
√ √ √
(mt − ( 2 + nt))2 = 2(mt + ( 2 + nt))
√ √
((m − n)t − 2)2 = 2(m + n)t + 2
√ √
(m − n)2 t2 − 2 2(m − n)t + 2 = 2(m + n)t + 2

(m − n)2 t2 − 2(2(m − n) + (m + n))t = 0

(7.4.5) (m − n)2 t2 − 2(3m − n)t = 0
Suponha que m ̸= n, a equação (7.4.5) tem grau 2 e como existe um único t que satisfaz essa equação
então o discriminante deve ser nulo, ou seja,
0 = ∆ = 2(3m − n)2 − 4 · (m − n)2 · 0 = 2(3m − n)2 ,
o que implica 3m − n = 0, logo n = 3m e assim ⃗v = (m, 3m) = m(1, 3). Portanto, a reta é


x= √ t
r: , t ∈ R ou r : y = 3x + 2.
y= 2 + 3t

Por outro lado, se m = n a equação (7.4.5) fica 2 2mt = 0 que também tem uma única solução t = 0
e neste caso ⃗v = (m, m) = m(1, 1). Portanto, a reta


x= √ t
s: , t ∈ R ou s : y = x + 2
y= 2+t
também intercepta a curva em um único ponto. Mas, como determinar qual das duas é a reta tangente?
Na verdade, a curva dada é uma parábola rotacionada (veja a Figura 7.4.5) e a reta s é paralela ao
eixo de simetria, logo s não é a reta tangente. Veremos no próximo capítulo como encontrar o eixo
de simetria de uma parábola quando este não é paralelo a algum dos eixos coordenados.

Figura 7.4.5
CAPíTULO 8

Translação e rotação

8.0.1. Introdução. Para encontrar as coordenadas de um ponto do plano, precisamos primeiro


escolher um referencial, isto é, escolher um sistema de eixos coordenados. De forma análoga, a
equação de uma curva depende também dessa escolha. Como vimos ao estudar elipse, hipérbole e
parábola, uma escolha precisa do sistema de coordenadas permitiu simplificar as equações.
Nesse capítulo, vamos estudar dois movimentos que influenciam a apresentação da equação de
uma curva. Esses movimentos são chamados de translação e rotação.

8.1. Translação
Considere no plano o sistema de coordenadas xOy e um ponto P . Tome agora um novo sistema
de coordenadas XO′ Y transladando a origem O do sistema original para o ponto do plano O′ de
coordenadas (x0 , y0 ) de tal forma que os novos eixos O′ X e O′ Y sejam respectivamente paralelos aos
eixos Ox e Oy. Pergunta-se qual é a relação entre as coordenadas de P no sistema original xOy e as
coordenadas de P no novo sistema XO′ Y ?

y Y P

y0 X X
O′ = (x0 , y0 )
x
O = (0, 0) x0 x

Figura 8.1.1. Translação

Denote as coordenadas de P no sistema xOy por (x, y) e no sistema XO′ Y por (X, Y ). Reparemos,
−→ −−→ −−→
agora, nos vetores: OP , O′ P , OO′ . Representantes desses vetores terão componentes:
−→
OP = (x, y)
−−′→
O P = (X, Y )
−−→′
OO = (x0 , y0 ).
115
116 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

Temos então que


−→ −−→′ −−′→
OP = OO + O P
(x, y) = (x0 , y0 ) + (X, Y )
(x, y) = (x0 + X, y0 + Y ),
de onde segue que
( (
x = X + x0 X = x − x0
(8.1.1) ou, equivalentemente, .
y = Y + y0 Y = y − y0
Exemplo 119. Considere o ponto P de coordenadas P = (2, 4) no sistema xOy. Encontre as
coordenadas desse ponto no novo sistema XO′ Y obtido do original pela translação da origem para o
ponto O′ = (2, 3), sem mudar a orientação dos eixos.
Solução. Segue das equações (8.1.1) que
(
X =x−2
.
Y =y−3
Substituindo as coordenadas de P temos:
(
X =2−2=0
.
Y =4−3=1
Logo, as coordenadas de P no novo sistema XO′ Y são P = (0, 1).
Exemplo 120. Seja y = mx+b a equação de uma reta no sistema xOy, efetua-se uma translação,
sem mudar a orientação dos eixos, em que a nova origem é O′ = (1, −3). Encontre a equação da
reta no novo sistema.
Solução. Neste caso, as equações de mudança de coordenadas são:
(
x=X +1
,
y =Y −3
assim, no novo sistema XO′ Y a equação da reta é
Y − 3 = m(X + 1) + b ou Y = mX + (m + b + 3).
Veja que a inclinação da reta não se alterou.
Exemplo 121. Considere a equação x2 +y 2 −4x−6y = 12 no sistema xOy. Expresse essa equação
no novo sistema XO′ Y obtido do original pela translação da origem para o ponto O′ = (2, 3), sem
mudar a orientação dos eixos.
Solução. Segue das equações (8.1.1) que
(
x=X +2
.
y =Y +3
Substituindo na equação acima temos:
(X + 2)2 + (Y + 3)2 − 4(X + 2) − 6(Y + 3) = 12
X2 + + 4 + Y 2 +
4X + 9 −
6Y − 8 −
4X  − 18 = 12
6Y
X 2 + Y 2 = 12 − 4 − 9 + 8 + 18 = 25.
8.2. ROTAÇÃO 117

Logo, temos a equação X 2 + Y 2 = 25 no referencial XO′ Y . Além de a equação ter sido representada
de forma mais simples, agora sabemos que ela representa uma circunferência de centro O′ e raio 5.
Exemplo 122. Considere no plano o sistema xOy. Determine o foco, o vértice e a diretriz da
parábola y = 18 (x2 − 2x − 7)
Solução. Vamos completar quadrados para encontrar a forma padrão da parábola:
1 2
(x − 2x − 7) = y
8
x2 − 2x = 8y + 7
x2 − 2x + 1 = 8y + 7 + 1
(x − 1)2 = 8(y + 1).
Sabemos, neste caso, que o vértice de parábola é V = (1, −1) ou seja, não está na origem do sistema de
coordenadas. Precisamos definir um novo sistema de coordenadas XO′ Y em que o vértice coincida
com a origem V = O′ = (1, −1) de forma a obter a equação reduzida da parábola e dessa forma
podemos determinar o foco e uma equação da diretriz. Note que fazendo a mudança de coordenadas
por translação (
X =x−1
Y =y+1
a equação da parábola no novo sistema de eixos fica X 2 = 8Y e nesse sistema a parábola tem vértice
na origem e eixo no eixo O′ Y . Assim as coordenadas do foco nesse sistema são F = (0, p2 ) e a equação
da diretriz é d : Y = − p2 . Para encontrar o parâmetro p note que 2p = 8 assim p = 4 e logo no novo
sistema temos F = (0, 2) e d : Y = −2. Mas queremos as coordenadas do foco e a equação da diretriz
no sistema original xOy, logo usamos as relações (8.1.1):
( (
x=X +1 x=0+1=1
⇔ ,
y =Y −1 y =2−1=1
de onde segue que as coordenadas do foco no sistema original são F = (1, 1) e
d : Y = −2 ⇔ d : y + 1 = −2 ⇔ d : y = −3.

8.2. Rotação
Considere no plano o sistema de coordenadas xOy e um ponto P . Tome agora um novo sistema
de coordenadas XOY com a mesma origem O, rotacionando os eixos Ox e Oy do sistema original,
em torno da origem O, por um ângulo θ. Pergunta-se qual é a relação entre as coordenadas de P no
sistema original xOy e as coordenadas de P no novo sistema XOY ?
118 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

Y y P
X

⃗j
Y
θ ⃗u
⃗v θ x
O ⃗i x

Figura 8.2.1. Rotação

Vamos denotar por ⃗u e ⃗v os vetores diretores unitários dos novos eixos e sejam ⃗i e ⃗j os vetores
diretores dos eixos do sistema xOy. Denotando por (X, Y ) e (x, y) as coordenadas de P nos sistemas
XOY e xOy, respectivamente, então temos:
−→
(8.2.1) OP = X ⃗u + Y ⃗v
−→
OP = x ⃗i + y ⃗j

Como fizemos uma rotação de ângulo θ dos vetores ⃗i e ⃗j para obter, respectivamente, ⃗u e ⃗v , então:

⃗u = (cos θ, sen θ) = cos θ ⃗i + sen θ ⃗j


(8.2.2) ⃗v = (− sen θ, cos θ) = − sen θ ⃗i + cos θ ⃗j.

Substituindo as equações (8.2.2) em (8.2.1) temos:


−→
x ⃗i + y ⃗j = OP = X ⃗u + Y ⃗v
= X (cos θ ⃗i + sen θ ⃗j) + Y (− sen θ ⃗i + cos θ ⃗j)
= (X cos θ − Y sen θ) ⃗i + (X sen θ + Y cos θ) ⃗j

segue que
(
x = X cos θ − Y sen θ (1)
(8.2.3) .
y = X sen θ + Y cos θ (2)

Dessa forma, expressamos as coordenadas antigas (x, y) do ponto P em função das novas (X, Y ).
Vejamos agora como obter as coordenadas novas em função das antigas. Multiplicando (2) por tan θ
temos:
(
x = X cos θ − Y sen θ
,
y tan θ = X tan θ sen θ + Y sen θ
8.2. ROTAÇÃO 119

somando as duas equações:


x + y tan θ = X (cos θ + tan θ sen θ)
 
1
z }| {
 cos2 θ + sen2 θ 
x + y tan θ = X 
 
cos θ

 

(x + y tan θ) cos θ = X
x cos θ + y sen θ = X.
Substituindo em (1)
x = x cos2 θ + y sen θ cos θ − Y sen θ
−x + x cos2 θ + y sen θ cos θ
Y =
 sen θ
− sen2 θ
z }| {
 cos2 θ − 1 
Y = x  + y cos θ
 
 sen θ 

Y = −x sen θ + y cos θ.
Então, as coordenadas de P no novo sistema XOY são dadas por:
(
X = x cos θ + y sen θ
(8.2.4) .
Y = −x sen θ + y cos θ

Podemos utilizar a notação matricial para reescrever as equações (8.2.3) e (8.2.4) respectivamente,
da seguinte forma:
         
x cos θ − sen θ X X cos θ sen θ x
(8.2.5) = e = .
y sen θ cos θ Y Y − sen θ cos θ y
 
cos θ sen θ
Chamamos a matriz Rθ = de matriz de rotação de ângulo θ.
− sen θ cos θ
π
Exemplo 123. Seja um ponto P = (6, 4) no sistema xOy, efetua-se uma rotação de ângulo 3
radianos nos eixos. Encontre as coordenadas de P no novo sistema.
Solução. Das equações (8.2.4) segue que

π π 1 3 √
X = 6 cos + 4 sen = 6 + 4 =3+2 3
3 3 2 √ 2
π π 3 1 √
Y = −6 sen + 4 cos = −6 + 4 = −3 3 + 2,
3 3 2 2
√ √ 
assim as coordenadas de P no novo sistema são 3 + 2 3, −3 3 + 2 .
Exemplo√ √
124. Considere
√ √
no plano o sistema xOy e os pontos F1 = (−1, −1), F2 = (1, 1),
A1 = (− 2 , − 2 ) e A2 = ( 2 , 22 ). Determine a equação da hipérbole com focos F1 e F2 e vértices
2 2 2

A1 e A2 .
120 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

Solução.
−1+1 −1+1
 Sabemos que o centro da hipérbole será o ponto médio do segmento F1 F2 , logo C =
2
, 2 = (0, 0) porém os focos não estão sobre nenhum dos eixos coordenados e sim sobre a
reta
1 − (−1)
y−1= (x − 1) =⇒ y = x.
1 − (−1)
Se consideramos um novo sistema de coordenadas XOY obtido do original pela rotação dos eixos Ox
e Oy em torno da origem de forma que o novo eixo OX coincida com a reta y = x que contém os
focos, então nesse sistema de coordenadas a equação da hipérbole será
X2 Y 2
− 2 = 1.
a2 b
Note que essa rotação será de ângulo θ = π4 , pois a inclinação da reta y = x é tan θ = 1.
Conhecendo os vértices A1 e A2 sabemos que
q√ √ √
2a = d(A1 , A2 ) = ( 2)2 + ( 2)2 = 4 = 2,
logo a = 1. A distância entre os focos nos permitirá encontrar o valor de c:
p √ √ √
2c = d(F1 , F2 ) = (1 + 1)2 + (1 + 1)2 = 8 = 2 2 =⇒ c = 2.
Pela relação b2 = c2 − a2 = 2 − 1 = 1, segue que b = 1. Portanto, a equação da hipérbole no novo
sistema de coordenadas é:
X 2 − Y 2 = 1.
Como queremos a equação da hipérbole em relação ao sistema de coordenadas original aplicamos as
equações de mudança de coordenadas por rotação (8.2.4):
( (
X = x cos π4 + y sen π4 X = x+y

2

Y = −x sen π4 + y cos π4 Y = y−x

2
Substituindo na equação, temos:
X2 − Y 2 = 1
(x + y)2 (y − x)2
− =1
2 2
(x + y)2 − (y − x)2 = 2
x2 + 2xy + y2 − (y2 − 2yx + x2 ) = 2
4xy = 2
2xy = 1.
8.3. IDENTIFICAÇÃO DE CÔNICAS 121

Apresentamos agora a relação entre as coordenadas antigas e as novas de um ponto P num sistema
que sofreu ambas transformações, uma translação e uma rotação.
Teorema 125. Se transladarmos a origem para o ponto O′ = (x0 , y0 ) e fizermos uma rotação
de ângulo θ dos eixos coordenados, então a relação entre as novas coordenadas (X, Y ) e as antigas
coordenadas (x, y) de um ponto P é dada por:
(
x = X cos θ − Y sen θ + x0
(8.2.6)
y = X sen θ + Y cos θ + y0
Observe que podemos reescrever as equações (8.2.6) na forma matricial:
      
x cos θ − sen θ X x
= + 0
y sen θ cos θ Y y0
ou, equivalentemente,     
X cos θ sen θ x − x0
=
Y − sen θ cos θ y − y0

8.3. Identificação de cônicas


Vimos que as cônicas têm equações de segundo grau em duas variáveis do tipo
(8.3.1) Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0,
em que A, B, C, D, E, F ∈ R e A, B, C não são simultaneamente nulos.
Mas nem toda equação nessa forma representa uma cônica. Podemos dividir as equações quadrá-
ticas do tipo (8.3.1) em três grupos de acordo com as curvas que elas representam:
• Equações de tipo elíptico: representam o conjunto vazio, um ponto, uma circunferência ou
uma elipse;
• Equações de tipo parabólico: representam o conjunto vazio, uma reta, duas retas paralelas
ou uma parábola;
• Equações de tipo hiperbólico: representam duas retas concorrentes ou uma hipérbole.
Exemplo 126. Reunimos alguns exemplos de equações quadráticas em duas variáveis e seus res-
pectivos lugares geométricos:
(1) Equações de tipo elíptico:
• x2 + y 2 + 1 = 0: Vazio;
• x2 + y 2 = 0: Ponto (0, 0);
• x2 + y 2 − 1 = 0: Circunferência;
• x2 + 2y 2 − 1 = 0: Elipse.
(2) Equações de tipo parabólico:
• (x + y)2 = x2 + 2xy + y 2 = 0: Uma reta;
• (x + y)(x + y + 1) = x2 + 2xy + y 2 + x + y = 0: Duas retas paralelas;
• x − y 2 = 0: Parábola.
(3) Equações de tipo hiperbólico:
• (x + y)(x − y) = x2 − y 2 = 0: Duas retas concorrentes;
• (x + y)(x + y + 1) = x2 − y 2 − 1 = 0: Hipérbole.
Em geral, dada uma equação de segundo grau do tipo (8.3.1) a técnica utilizada para identificar
a cônica ou cônica degenerada que ela representa consiste em simplificar a equação efetuando-se
mudanças no sistema de coordenadas, especificamente, translações e rotações de eixos e, desta forma,
eliminar os termos lineares e mistos e obter a equação na forma reduzida.
122 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

8.3.1. Eliminando os termos lineares. Usando uma translação conveniente podemos eliminar
os termos de primeiro grau da equação (8.3.1).
Considere a translação 
x = X + x0
,
y = Y + y0
substituindo em (8.3.1) temos:
A (X + x0 )2 + B (X + x0 ) (Y + y0 ) + C (Y + y0 )2 + D (X + x0 ) + E (Y + y0 ) + F = 0
expandindo
AX 2 + 2Ax0 X + Ax20 + BXY + By0 X + Bx0 Y + Bx0 y0 + CY 2 + 2Cy0 Y + Cy02 +
+DX + Dx0 + EY + Ey0 + F = 0.
Agrupando os termos
AX 2 + BXY + CY 2 + (2Ax0 + By0 + D) X + (Bx0 + 2Cy0 + E) Y +
+Ax20 + Bx0 y0 + Cy02 + Dx0 + Ey0 + F = 0.
Queremos determinar x0 e y0 de forma que os termos lineares se anulem, logo

2Ax0 + By0 + D = 0
.
Bx0 + 2Cy0 + E = 0
Se o sistema linear tiver solução, então teremos resolvido o problema. Com isso mostramos que:
Teorema 127. Uma translação dos eixos elimina os termos de primeiro grau da equação
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
se a nova origem O′ = (x0 , y0 ) satisfizer o sistema linear a seguir:

2Ax0 + By0 + D = 0
(8.3.2) .
Bx0 + 2Cy0 + E = 0

Note que se

2A B
(8.3.3) ∆ = = 4AC − B 2 ̸= 0,
B 2C
existe um único par (x0 , y0 ), solução do sistema (8.3.2). Caso o determinante se anule, podemos não
ter nenhuma solução (sistema impossível) ou um número infinito de soluções (sistema indeterminado).
Note também que após uma translação, os coeficientes dos termos de grau dois não se alteram e
a equação (8.3.1) no novo sistema de coordenadas XO′ Y será:
AX 2 + BXY + CY 2 + Ax20 + Bx0 y0 + Cy02 + Dx0 + Ey0 + F = 0.
| {z }
equação original avaliada em (x0 ,y0 )

Exemplo 128. Usando uma translação conveniente, elimine os termos lineares da equação
(8.3.4) x2 − 5xy − 11y 2 − x + 37y + 52 = 0.
Solução. Neste caso, A = 1, B = −5, C = −11, D = −1, E = 37 e F = 52. Queremos achar
o ponto O′ = (x0 , y0 ) tal que a translação
(
x = X + x0
y = Y + y0
8.3. IDENTIFICAÇÃO DE CÔNICAS 123

elimine os termos de primeiro grau em (8.3.4). Para isso, (x0 , y0 ) deve ser solução do sistema:
2x0 − 5y0 − 1 = 0
−5x0 − 22y0 + 37 = 0
Como 4AC − B 2 = −44 − 25 ̸= 0, o sistema linear acima possui uma única solução: x0 = 3, y0 = 1.
Logo a equação (8.3.4) se simplifica a
X 2 − 5XY − 11Y 2 + 69 = 0.
8.3.2. Eliminando o termo misto. Suponha que numa equação geral de grau dois Ax2 +Bxy+
Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 o coeficiente B é não nulo. Nosso objetivo a partir de agora é mostrar como
eliminar o termo misto xy através de uma rotação do sistema de coordenadas.
Queremos achar um ângulo θ, com 0 < θ < π2 , tal que ao aplicar uma rotação de ângulo θ no
sistema de coordenadas, a equação acima se reduza a
A′ X 2 + C ′ Y 2 + D′ X + E ′ Y + F ′ = 0.
Aplicando a mudança de coordenadas por rotação
(
x = X cos(θ) − Y sen(θ)
y = X sen(θ) + Y cos(θ)
em (8.3.1) teremos:
A (X cos(θ) − Y sen(θ))2 + B (X cos(θ) − Y sen(θ)) (X sen(θ) + Y cos(θ)) +
+C (X sen(θ) + Y cos(θ))2 + D (X cos(θ) − Y sen(θ)) +
+E (X sen(θ) + Y cos(θ)) + F = 0
Expandindo temos:
AX 2 cos2 (θ) − 2AXY sen(θ) cos(θ) + AY 2 sen2 (θ)+
+BX 2 sen(θ) cos(θ) + BXY cos2 (θ) − BXY sen2 (θ) − BY 2 sen(θ) cos(θ)+
+CX 2 sen2 (θ) + 2CXY sen(θ) cos(θ) + CY 2 cos2 (θ)+
+DX cos(θ) − DY sen(θ) + EX sen(θ) + EY cos(θ) + F = 0,
que pode ser reescrito como:
A′ X 2 + B ′ XY + C ′ Y 2 + D′ X + E ′ Y + F ′ = 0,
onde:
A′ = A cos2 (θ) + B sen(θ) cos(θ) + C sen2 (θ)
B ′ = −2A sen(θ) cos(θ) + B cos2 (θ) − B sen2 (θ) + 2C sen(θ) cos(θ)
C ′ = A sen2 (θ) − B sen(θ) cos(θ) + C cos2 (θ)
D′ = D cos(θ) + E sen(θ)
E ′ = E cos(θ) − D sen(θ)
F′ = F
Reescrevendo essas expressões, utilizando as fórmulas do seno e cosseno de ângulo duplo

(8.3.5) sen(2θ) = 2 sen(θ) cos(θ)


(8.3.6) cos(2θ) = cos2 (θ) − sen2 (θ)
124 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

temos que

B
A′ = A cos2 (θ) + sen(2θ) + C sen2 (θ)
2
B ′ = (C − A) sen(2θ) + B cos(2θ)
B
C ′ = A sen2 (θ) − sen(2θ) + C cos2 (θ)
2

D = D cos(θ) + E sen(θ)
E ′ = E cos(θ) − D sen(θ)
F ′ = F.
Para eliminar o termo misto precisamos fazer uma rotação de ângulo θ tal que B ′ = 0, isto é

B ′ = (C − A) sen(2θ) + B cos(2θ) = 0
B cos(2θ) = (A − C) sen(2θ)
cos(2θ) (A − C)
= (B ̸= 0)
sen(2θ) B

E assim, devemos escolher θ tal que:


A−C
(8.3.7) cot (2θ) = .
B

Logo, provamos o seguinte resultado:


Teorema 129. Se numa equação Ax2 +Bxy +Cy 2 +Dx+Ey +F = 0 o coeficiente B é não nulo,
então uma rotação dos eixos coordenados de ângulo 0 < θ < π2 tal que cot (2θ) = A−C
B
nos fornece
um novo sistema em que a equação não possui termo misto e fica da forma:
B B
(8.3.8) (A cos2 θ + sen 2θ + C sen2 θ)X 2 + (A sen2 θ − sen 2θ + C cos2 θ)Y 2 +
2 2
+ (D cos θ + E sen θ)X + (E cos θ − D sen θ)Y + F = 0.

Exemplo 130. Seja a equação 4x2 − 4xy + 7y 2 + 12x + 6y − 9 = 0. Faça uma rotação para
eliminar o termo misto.
π
Solução. Pelo Teorema 129 sabemos que uma rotação de ângulo 0 < θ < 2
tal que
4−7 3
cot 2θ = = ,
−4 4
elimina o termo misto.
Para encontrarmos sen θ e cos θ, vamos construir um triângulo retângulo auxiliar da seguinte
forma: fixamos um ângulo agudo 2θ, o cateto oposto sendo 4 e o cateto adjacente 3, pelo teorema de
Pitágoras a hipotenusa será 5, conforme a figura a seguir:
8.3. IDENTIFICAÇÃO DE CÔNICAS 125

5
4


3

Note que com isso vamos obter cot 2θ = 34 , cos 2θ = 35 e sen 2θ = 54 . Resolvendo o sistema:
(
cos 2θ = cos2 θ − sen2 θ
,
1 = cos2 θ + sen2 θ
temos cos2 θ = 54 e sen2 θ = 51 , o que nos fornece cos θ = √25 e sen θ = √15 . (Observe que cos θ e sen θ
são positivos pois estamos supondo 0 < θ < π2 )
Substituindo esses valores na equação (8.3.8):
4 4 1 1 4 4 2 1 2 1
(4 · − 2 · + 7 · )X 2 + (4 · + 2 · + 7 · )Y 2 + (12 · √ + 6 · √ )X + (6 · √ − 12 · √ )Y − 9 = 0.
5 5 5 5 5 5 5 5 5 5

3X 2 + 8Y 2 + 6 5X − 9 = 0.
Exemplo 131. Considere a equação da cônica
√ √
3x2 − 10xy + 3y 2 + 12 2x − 4 2y + 32 = 0.
Faças as mudanças de coordenadas necessárias para eliminar os termos lineares e mistos, i.e., leve a
equação da cônica à forma reduzida. Identifique a cônica.
Solução. Como o coeficiente de √x2 é igual ao de y 2 , cot 2θ = 0, logo 2θ = π2 e a rotação é de
θ = π4 radianos. Temos então cos θ = 22 = sen θ e as equações de mudança de sistema de coordenadas
são: ( √ √
x = X √22 − Y √22
y = X 22 + Y 22
Substituindo estes valores na equação (8.3.8) obtemos a equação
(8.3.9) X 2 − 4Y 2 − 4X + 8Y − 16 = 0.
Agora precisamos fazer uma translação para eliminar os termos de primeiro grau, sejam então as
equações de mudança de sistema de coordenadas:
(
X = x′ + x0
.
Y = y ′ + y0
Substituindo estes valores na equação dada obtemos
(8.3.10) (x′ )2 − 4(y ′ )2 + x′ (2x0 − 4) + y ′ (8 − 8x0 ) + x20 − 4y02 − 4x0 + 8y0 − 16 = 0.
Como queremos que os termos em x′ e em y ′ se anulem, devemos ter para isso
2x0 − 4 = 0
8 − 8y0 = 0
126 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

O sistema linear acima possui uma única solução x0 = 2, y0 = 1. Substituindo esse valores, a
equação (8.3.10) se simplifica a
(x′ )2 (y ′ )2
(x′ )2 − 4(y ′ )2 − 16 = 0 ou equivalentemente − = 1,
16 4
após efetuarmos a translação de eixos definida por
(
x′ = X − 2
(8.3.11) .
y′ = Y − 1
Observamos que também poderíamos ter completado quadrados na equação (8.3.9) e chegado na
equação
(X − 2)2 (Y − 1)2
− =1
16 4
que se transforma em
(x′ )2 (y ′ )2
− =1
16 4
após efetuarmos a translação de eixos (8.3.11). Da forma reduzida, fica claro que esta equação
representa uma hipérbole cujo gráfico é dado na Figura 8.3.1.

Figura 8.3.1

Para uma identificação exata da curva representada por uma equação de segundo grau do tipo
(8.3.1) devemos, através de translações e rotações, obter uma equação reduzida, isto é, sem termos
lineares e misto. Para isso recomendamos seguir o seguinte roteiro:
(1) Se B = 0, complete quadrados para obter a simplificação da equação.
(2) Caso B ̸= 0 e ∆ = 4AC − B 2 ̸= 0 elimine os termos de primeiro grau via translação (já que
∆ ̸= 0 garante que existe uma única solução do sistema (8.3.2)) e logo o termo misto via
rotação.
(3) Caso B ̸= 0 e ∆ = 4AC − B 2 = 0 (o sistema (8.3.2) pode não ter solução) comece pela
rotação e logo complete quadrados.

Exemplo 132. Reduzir a equação x2 − 5xy − 11y 2 − x + 37y + 52 = 0.


8.3. IDENTIFICAÇÃO DE CÔNICAS 127

Solução. Como B ̸= 0 e 4AC − B 2 = ̸ 0 começamos pela translação para eliminar os termos


lineares. Para isso precisamos que

2x0 − 5y0 − 1 = 0
−5x0 − 22y0 + 37 = 0
logo x0 = 3 e y0 = 1. Ou seja a nova origem é o ponto (3, 1) e nesse sistema a equação fica
X 2 − 5XY − 11Y 2 + 69 = 0.
π
Para eliminar o termo misto devemos rotar a equação por um ângulo 0 < θ < 2
tal que
12
cot (2θ) = −
.
5
Veja que como cot(2θ) < 0 teremos que cos(2θ) também é negativo, pois 0 < 2θ < π e nesse
intervalo sen(2θ) > 0 o que implica que cot(2θ) e cos(2θ) possuem o mesmo sinal. Por enquanto,
esquecemos o sinal e construímos o triângulo retângulo associado

13
5


12

Assim
CA 12
cos(2θ) = = ,
H 13
(fazemos agora a correção do sinal) dado que cot(2θ) < 0 segue que devemos ter
12 5
cos(2θ) = − e sen(2θ) = (sempre positivo),
13 13
analogamente ao exemplo anterior, usando as fórmulas do ângulo duplo e a identidade fundamental,
concluímos que
1 5
cos(θ) = √ e sen(θ) = √ .
26 26
Agora podemos aplicar a mudança de coordenadas
(
X = x′ √126 − y ′ √526
Y = x′ √526 + y ′ √126
na equação X 2 −5XY −11Y 2 +69 = 0 ou encontrar os coeficientes A′ , B ′ , C ′ , D′ , E ′ , F ′ para chegarmos
na equação
23 ′ 2 3 ′ 2
(x ) − (y ) = 69
2 2
que se reduz a
(x′ )2 (y ′ )2
− = 1.
6 46
Exemplo 133. Reduzir a equação 16x2 − 24xy + 9y 2 + 15x + 17y + 15 = 0.
128 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

Solução. Como B ̸= 0 e ∆ = 4AC − B 2 = 0 primeiramente eliminaremos o termo misto


rotacionando por um ângulo θ tal que
7
cot (2θ) = − .
24
Neste caso temos o triângulo

25
24


7

7
e desta forma cos (2θ) = − 25 e sen (2θ) = 24
25
. Usando as fórmulas do ângulo duplo e da identidade
fundamental (como no Exemplo 130), concluímos que sen (θ) = 45 e cos (θ) = 35 , as equações de
mudança de coordenadas por rotação ficam
(
x = 53 X − 54 Y
y = 45 X + 35 Y
e a equação se reduz a
113 9
25Y 2 + X − Y + 15 = 0
5 5
Completando quadrados temos
 2  
9 113 37419
Y − =− X+
250 125 56500
e após efetuarmos a translação de eixos definida por
(
x′ = X + 56500
37419
(8.3.12) ,
y ′ = Y − 250
9

obtemos a parábola:
113 ′
2
(y ′ ) = −x.
125
8.3.3. Invariantes de uma equação de segundo grau. Por último, vejamos como somente
os valores de A, B e C na equação (8.3.1) definem o tipo de cônica que a equação representa.
Teorema 134. Considere uma equação de segundo grau em duas variáveis
Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0.
(1) O discriminante ∆ = 4AC − B 2 é invariante por translações e rotações.
(2) Se ∆ > 0 então a equação é de tipo elíptico (i.e., representa uma elipse, uma circunferência,
um ponto ou um conjunto vazio).
(3) Se ∆ < 0 então a equação é de tipo hiperbólico (i.e., representa uma hipérbole ou um par de
retas concorrentes).
(4) Se ∆ = 0 então a equação é de tipo parabólico (i.e., representa uma parábola, um par de
retas paralelas, uma reta ou um conjunto vazio).
8.3. IDENTIFICAÇÃO DE CÔNICAS 129

Demonstração. (1) Suponha que uma translação da origem para o ponto O′ = (x0 , y0 ) é
aplicada no sistema de coordenadas. De acordo com as contas feitas nas subseções anteriores
os coeficientes dos termos de grau dois não se alteram e a equação no novo sistema de
coordenadas XO′ Y é:
AX 2 + BXY + CY 2 + (2Ax0 + By0 + D) X + (Bx0 + 2Cy0 + E) Y +
+Ax20 + Bx0 y0 + Cy02 + Dx0 + Ey0 + F = 0.
O discriminante dessa equação também não sofreu alterações: ∆ = 4AC − B 2 .
Suponha agora que uma rotação de ângulo θ é aplicada no sistema de coordenadas. De
acordo com as contas feitas nas subseções anteriores a equação no novo sistema de coorde-
nadas XO′ Y é:
A′ X 2 + B ′ XY + C ′ Y 2 + D′ X + E ′ Y + F ′ = 0,
onde:
B
A′ = A cos2 (θ) + sen(2θ) + C sen2 (θ)
2
B ′ = (C − A) sen(2θ) + B cos(2θ)
B
C ′ = A sen2 (θ) − sen(2θ) + C cos2 (θ).
2
Podemos escrever

2A′ B ′

′ ′ ′2
4A C − B = det
B ′ 2C ′
 
2A cos2 θ + B sen 2θ + 2C sen2 θ (C − A) sen 2θ + B cos 2θ
= det  
2 2
(C − A) sen 2θ + B cos 2θ 2A sen θ − B sen 2θ + 2C cos θ
   
cos θ sen θ 2A B cos θ − sen θ
= det    
− sen θ cos θ B 2C sen θ cos θ
     
cos θ sen θ 2A B cos θ − sen θ
= det   det   det  
− sen θ cos θ B 2C sen θ cos θ
= (cos2 θ + sen2 θ)(4AC − B 2 )(cos2 θ + sen2 θ)
= 4AC − B 2 .
Portanto, o discriminante também é invariante por rotações.
Para os itens seguintes vamos considerar que foi feita uma rotação no sistema de eixos que
eliminou o termo misto da equação. De acordo com as contas feitas nas subseções anteriores
a equação no novo sistema de coordenadas XO′ Y é:
(8.3.13) A′ X 2 + C ′ Y 2 + D′ X + E ′ Y + F ′ = 0,
(2) Pelo item anterior o discriminante é invariante por rotações logo 4A′ C ′ = 4AC − B 2 > 0 o
que implica que A′ e C ′ têm o mesmo sinal e logo a equação de segundo grau (8.3.13) é de
tipo elíptico.
(3) Analogamente neste caso, 4A′ C ′ = 4AC − B 2 < 0 o que implica que A′ e C ′ têm o sinais
opostos e logo a equação de segundo grau (8.3.13) é de tipo hiperbólico.
130 8. TRANSLAÇÃO E ROTAÇÃO

(4) Finalmente, 4A′ C ′ = 4AC − B 2 = 0 implica que ou A′ = 0 ou C ′ = 0 e logo a equação de


segundo grau (8.3.13) é de tipo parabólico.

Para uma demonstração mais detalhada deste último teorema recomendamos a leitura do Apên-
dice A
CAPíTULO 9

Cônicas: definição geral via foco, diretriz e excentricidade

Apresentaremos agora uma nova definição de cônica que generaliza a definição de parábola mas
que também incluirá a elipse e a hipérbole. Tal definição dependerá de uma constante positiva
que denominaremos como excentricidade (veremos que este nome é coerente com o mesmo termo
já estudado nas seções anteriores). Conforme este índice, estritamente positivo, varia para valores
inferiores, iguais, ou superiores a 1 obteremos uma elipse, parábola ou hipérbole, respectivamente.

Sejam d uma reta no plano, F um ponto não pertencente a d e e um número real positivo.
Queremos analisar o conjunto dos pontos P do plano tal que a razão das distâncias de P a F e a d
sejam iguais à constante e, isto é:
d(P, F )
= e.
d(P, d)
Definção 135. Sejam d uma reta fixada e F um ponto fixado que não pertencente a d. Uma
cônica C, é o conjunto formado pelos pontos P do plano cuja distância ao ponto F é um fator da
distância à reta d, ou seja,
d(P, F ) = e d(P, d), com e ∈ R+ .
O ponto F é chamado de foco, a reta d é chamada de diretriz e o número real positivo e é
chamado de excentricidade da cônica.
Proposição 136. Seja C uma cônica de foco F , diretriz d e excentricidade e. Então, se escolher-
mos como sistema de coordenadas, um referencial ortogonal tal que o eixo das ordenadas seja a reta
diretriz d e o foco esteja sobre o eixo das abscissas, então a equação geral da cônica é uma equação
de grau dois da forma
(9.0.1) (1 − e2 )x2 − 2px + p2 + y 2 = 0 para algum p ̸= 0.
Demonstração. Como estamos supondo que no referencial o foco F está sobre o eixo das
abscissas, podemos escrever F = (p, 0) com p ̸= 0 e o eixo das ordenadas é a reta diretriz d então d
tem equação d : x = 0.
y

d
P = (x, y)

x x
F = (p, 0)

Pela definição acima, um ponto P = (x, y) qualquer da cônica deve satisfazer d(P, F ) = e d(P, d).
Utilizando a fórmula da distância entre pontos temos
p
d(P, F ) = e d(P, d) =⇒ (x − p)2 + y 2 = e|x|.
131
132 9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE

Se elevamos ao quadrado ambos os membros desta equação temos:


(x − p)2 + y 2 = e2 x2
x2 − 2px + p2 + y 2 − e2 x2 = 0
(1 − e2 )x2 − 2px + p2 + y 2 = 0.
Note que, inversamente, podemos mostrar que qualquer ponto cujas coordenadas satisfazem a última
equação é um ponto que satisfaz a condição geométrica da definição de cônica. Portanto, escolhido
o sistema de coordenadas inicial, podemos dizer que uma cônica pode ser dada pelo conjunto dos
pontos do plano que satisfazem a equação geral de grau dois (9.0.1). □

Pela definição, o foco F não está na diretriz d. Portanto p ̸= 0 na equação geral da cônica. Se
fizermos x = 0 na equação (9.0.1), temos o absurdo y 2 + p2 = 0. Ou seja, este resultado mostra que
a cônica nunca intercepta a diretriz d.
Proposição 137. Seja C uma cônica com excentricidade e. Temos as seguintes possibilidades:
(a) Se e < 1, então C é uma elipse.
(b) Se e = 1, então C é uma parábola.
(c) Se e > 1, então C é uma hipérbole.
Demonstração. Pela Proposição 136, temos que a equação geral da cônica é da forma
(1 − e2 )x2 − 2px + y 2 + p2 = 0
para algum p ̸= 0. Vamos estudar os casos em que e = 1 e e ̸= 1.
• Caso e = 1: Neste caso a equação geral assume a forma
−2px + y 2 + p2 = 0.
Isolando o termo y 2 encontramos a equação da parábola
p
y 2 = 2p(x − )
2
cujo vértice é ( p2 , 0) e cujo eixo de simetria é coincidente com o eixo x.
• Caso e ̸= 1: Neste caso (1 − e2 ) ̸= 0. Portanto podemos dividir a equação geral por (1 − e2 )
e obtemos
2px y2 p2
x2 − + = − .
1 − e2 1 − e2 1 − e2
Completando quadrados em x encontramos
2
y2 p2 p2 p2 e 2

p
x− + = − + = .
1 − e2 1 − e2 1 − e2 (1 − e2 )2 (1 − e2 )2
p2 e2
Por fim, dividindo ambas as parcelas por (1−e2 )2
, determinamos a equação reduzida:
 2
p
x−
1 − e2 y2
(9.0.2) + = 1.
p2 e 2 p2 e2
(1 − e2 )2 1 − e2
Considere agora as seguintes possibilidades para e ̸= 1:
9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE 133

– Caso 0 < e < 1: Se 0 < e < 1, temos que 1−e2 > 0 e ambos os denominadores da equação
p
acima são positivos, então trata-se da equação de uma elipse de centro C = ( 1−e 2 , 0),

eixo maior no eixo x e

p2 e 2 p2 e 2
a2 = e b 2
= .
(1 − e2 )2 1 − e2

Note que, de fato, o denominador da variável x é maior que o denominador da variável


y e logo faz sentido chamá-los de a2 e b2 , respectivamente, pois como 0 < e < 1 então
0 < 1 − e2 < 1 e logo (1 − e2 )2 < 1 − e2 , tomando inversos:

1 1
>
(1 − e )
2 2 1 − e2

e multiplicando por p2 e2 temos o resultado desejado.


– Caso e > 1: Se e > 1, neste caso 1 − e2 < 0 e para que ambos os denominadores da
equação (9.0.2) sejam positivos consideramos −(1 − e2 ) > 0. Desta forma obtemos a
equação (reduzida) da hipérbole

 2
p
x−
1 − e2 y2
(9.0.3) − = 1.
p2 e2 p2 e2
(1 − e2 )2 e2 − 1

p
com centro C = ( 1−e 2 , 0), eixo real sobre o eixo x e

p2 e 2 p2 e 2
a2 = e b 2
= .
(1 − e2 )2 e2 − 1

Figura 9.0.1. Cônicas com o mesmo foco e diretriz e diferentes excentricidades


134 9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE

Observação 138. No caso da elipse temos que c2 = a2 − b2 logo


p2 e2 p2 e 2
c2 = −
(1 − e2 )2 1 − e2
p2 e 2
 
1
= −1
(1 − e2 ) 1 − e2
p2 e 2 1 − (1 − e2 )
 
=
(1 − e2 ) 1 − e2
p2 e 2 e2
=
(1 − e2 ) 1 − e2
p2 e2
= e2
(1 − e ) 2 2

= a2 e2 .
Analogamente, para a hipérbole c2 = a2 + b2 logo
p2 e2 p2 e2
c2 = +
(1 − e2 )2 e2 − 1
p2 e 2
 
1
= −1
(1 − e2 ) 1 − e2
p2 e 2 1 − (1 − e2 )
 
=
(1 − e2 ) 1 − e2
p2 e 2 e2
=
(1 − e2 ) 1 − e2
p2 e2
= e2
(1 − e2 )2
= a2 e2 .
2
Em ambos casos e2 = ac 2 donde segue que e = ac . Com isso provamos que o fator e da Definição 135
é, de fato, a excentricidade como foi definida no Capítulo 7.
Definção 139. Chamaremos de eixo focal de uma cônica C, à reta perpendicular à diretriz d e
que passa pelo foco F .
Proposição 140. O eixo focal é um eixo de simetria de todas as cônicas.
Demonstração. Seja P um ponto de uma cônica C e Q o seu simétrico com relação ao eixo
focal. Por serem simétricos em relação ao eixo focal, d(P, d) = d(Q, d) e d(P, F ) = d(Q, F ). Logo da
igualdade d(P, F ) = e d(P, d) temos d(Q, F ) = e d(Q, d). Portanto Q ∈ C.
d
P
eixo focal
F
Q


9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE 135

Note que na prova da Proposição 136, quando fizemos a escolha do referencial, o eixo das abscissas
escolhido, é exatamente o eixo focal. Se considerarmos esse referencial é mais fácil de verificar que
o eixo focal é um eixo de simetria de C pois (x, y) ∈ C se, e somente se (x, −y) ∈ C. Ou seja, (x, y)
satisfaz a equação (9.0.1) se, e somente se, (x, −y) satisfaz a equação (9.0.1).
Observação 141. Se denotarmos por O o ponto de intersecção da diretriz d com o eixo focal, no
referencial considerado na Proposição 136, o ponto O é exatamente a origem do referencial. Alguns
autores preferem escolher o foco F como sendo essa origem.
O objetivo agora é determinar os pontos de interseção das cônicas com o eixo focal. Considere
a equação geral da cônica, conforme a Proposição 136. Como, segundo este referencial, o eixo das
abscissas é o eixo focal, fazendo y = 0 a equação geral fica (1 − e2 )x2 − 2px + p2 = 0, temos:
(1) Se e = 1, então 2px − p2 = 0. Portanto a cônica intercepta o eixo focal em apenas um ponto
E = ( p2 , 0), que é precisamente o ponto médio do segmento F O.

(2) Se e ̸= 1, na equação de segundo grau acima, temos que


∆ = 4p2 − 4(1 − e2 )p2 = 
4p2 − 
4p2 + 4e2 p2 = 4e2 p2 > 0.
p p
Logo esta equação tem duas soluções distintas x1 = 1+e e x2 = 1−e que correspondem aos
p p
pontos E1 = ( 1+e , 0) e E2 = ( 1−e , 0) de interseção do eixo focal com a cônica.
Note que na nossa definição não necessariamente p é positivo. Porém para facilitar a
exposição a seguir, vamos assumir que F = (p, 0) com p > 0.
p
Como e > 0, temos sempre a desigualdade 0 < 1+e < p. Portanto o ponto E1 está sempre
entre a origem O e o foco F . Vamos agora analisar a posição do ponto E2 .
p p
Se e < 1, então temos 0 < 1+e < p < 1−e . Logo o foco está entre E1 e E2 e ambos, E1 e
E2 estão à direita do eixo y.

p p
Se e > 1, temos a desigualdade 1−e < 0 < 1+e . Portanto E2 está à esquerda do eixo y e
E1 está à direita do eixo y, porém à esquerda do foco F .
136 9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE

Note que o ponto E2 é sempre mais distante da origem que o ponto E1 , tanto no caso
e < 1 quanto e > 1.
Exemplo 142. Suponha que o eixo das abscissas é o eixo focal, que a diretriz está sobre o eixo
das ordenadas e que o eixo das abscissas é orientado positivamente do ponto de interseção dos eixos
na direção do foco. Achar a equação da cônica:

(1) com excentricidade e = 2 √ e p = 1;
(2) com p = 4 e passa por (2, 2 2).
Solução. (1) Como e ̸= 1, a equação da cônica é:
p
(x − 1−e2
)2 y2
p2 e2
+ p2 e2
=1
(1−e2 )2 1−e2

(x + 1)2 y2
2 + 2 = 1,
1 −1
logo a cônica é a hipérbole
(x + 1)2 y 2
− = 1.
2 2
(2) Como a equação também pode ser assim representada:
(1 − e2 )x2 − 2px + y 2 + p2 = 0,
substituindo as informações temos:
(1 − e2 )x2 − 8x + y 2 + 16 = 0.

Para obter o valor de e usamos o fato que a cônica passa pelo ponto (2, 2 2):

(1 − e2 )22 − 8 · 2 + (2 2)2 + 16 = 0
4(1 − e2 ) − 
16
+ 8 +
16
= 0

4(1 − e2 ) = −8
(1 − e2 ) = −2
e2 = 3

e = 3.
Logo, trata-se de uma hipérbole de equação
4 2
(x − −2
) y2
16·3 + 16·3 =1
4 −2

(x + 2)2 y 2
− =1
12 24
9.1. ESCOLHA DE UM NOVO REFERENCIAL PARA AS CÔNICAS COM e ̸= 1 137

Exemplo 143. Ache a equação de uma elipse de excentricidade 23 , foco F = (2, −1) e diretriz
x + 2y − 5 = 0.

Solução. Se P = (x, y) é um ponto da elipse então


p
d(P, F ) = (x − 2)2 + (y + 1)2 ,
|x + 2y − 5|
d(P, d) = √
1+4

então
 2
2 2 2 1
(x − 2) + (y + 1) = (x + 2y − 5)2
3 5
4
x2 − 4x + 4 + y 2 + 2y + 1 = (x2 + 2xy − 5x + 2yx + 4y 2 − 10y − 5x − 10y + 25)
45
45x2 − 180x + 180 + 45y 2 + 90y + 45 = 4(x2 + 4xy − 10x + 4y 2 − 20y + 25)

simplificando temos: 41x2 − 16xy + 29y 2 − 140x + 170y + 125 = 0.

9.1. Escolha de um novo referencial para as cônicas com e ̸= 1


Nesta seção, para facilitar a exposição a seguir, vamos assumir que F = (p, 0) com p > 0. O leitor
deve ter notado que ficaria mais interessante, se ao invés de utilizar a diretriz d como sendo o eixo
das ordenadas y, escolhêssemos um novo eixo Y como sendo a reta perpendicular no ponto médio do
p
segmento E1 E2 . Fazendo então a translação para a nova origem O = ( 1−e 2 , 0) temos que a mudança

de coordenadas passaria a ser dada pelas equações:


(
p
X =x− 1−e2
Y = y.

Nas Figuras 9.1.1 e 9.1.2 representamos o velho e o novo referencial.

d Y

F x
O O X

Figura 9.1.1
138 9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE

Y d

x
O O F X

Figura 9.1.2

p pe 2
As coordenadas do foco no novo sistema serão F = (p − 1−e 2 , 0) = ( e2 −1 , 0). A seguir, vamos
p p pe
determinar as coordenadas de E1 e E2 no novo referencial. Temos E1 = ( 1+e − 1−e 2 , 0) = ( e2 −1 , 0).
pe
Como a nova origem é o ponto médio do segmento E1 E2 , então E2 = (− e2 −1 , 0).
2
Neste novo referencial temos que d(O, F ) = |epe pe
2 −1| . Temos também d(O, E1 ) = |e2 −1| . Para facilitar

a notação no novo referencial, vamos denotar c = d(O, F ) e a = d(O, E1 ). Então c = ae. Logo a
−p a a2
equação da diretriz é X = 1−e 2 = e = c .

Proposição 144. Seja C uma cônica de excentricidade e ̸= 1, foco F e diretriz d. Se escolhermos


como referencial o eixo X como o eixo focal, o eixo Y como a reta perpendicular ao ponto médio do
segmento E1 E2 , onde E1 , E2 são os pontos de intersecção da cônica com o eixo focal, então a equação
da cônica neste novo referencial é da forma
X2 Y2
+ =1
a2 a2 − c 2
a2
onde a = d(O, E1 ) e c = d(O, F ). Além disso, c = ae e a equação da diretriz será d : X = c
.
Demonstração. Já vimos no início desta seção que c = ae e que a equação da diretriz é esta
do enunciado. Pela Proposição 137, tínhamos que a equação da cônica é da forma
p
(x − )2 2
1 − e2 + y = 1.
p2 e 2 p2 e 2
(1 − e2 )2 1 − e2
No novo sistema teremos
X2 Y2
+ = 1,
a2 a2 − c 2
conforme aos resultados que apresentamos no inicio desta seção. □
Se C é uma cônica de excentricidade e ̸= 1, então pela Proposição 144 temos que a equação da
cônica é da forma
X2 Y2
+ =1
a2 a2 − c 2
e c = ea. √
Se e < 1, então c < a. Logo a2 − c2 > 0 e definindo b = a2 − c2 , temos que a equação da Elipse
é da forma
X2 Y 2
+ 2 = 1.
a2 b
9.1. ESCOLHA DE UM NOVO REFERENCIAL PARA AS CÔNICAS COM e ̸= 1 139

Note que como b2 = a2 − c2 < a2 , então b < a.


Se e > 1, como c = ea, temos c > a. Então pela Proposição 144, como a equação da cônica é da
forma
X2 Y2
+ = 1,
a2 a2 − c 2
podemos reescrevê-la na forma
X2 Y2
2
− 2 − a2
= 1,
√ a c
e fazer b = c2 − a2 . Assim a equação passa a ser
X2 Y 2
− 2 = 1,
a2 b

com b = c − a .
2 2

Corolário 145. Seja C uma cônica de excentricidade e ̸= 1. Sob o novo sistema de coordenadas
descrito na Proposição 144 o eixo X e o eixo Y passam a ser eixos de simetria da cônica.
Demonstração. De fato, como a equação é da forma
X2 Y2
+ = 1,
a2 a2 − c 2
se (X, Y ) é um ponto da cônica, então (X, −Y ), também é. Logo o eixo X é um eixo de simetria da
cônica. Analogamente, como (−X, Y ) também está na cônica, então Y é um eixo de simetria. □
Observação 146. Sabemos que as cônicas com e ̸= 1 tem dois focos, veremos agora que podemos
associar uma reta diretriz a cada foco. Se a equação da cônica é a dada pela Proposição 144, então
as coordenadas dos focos são F = (±c, 0). Provamos na Proposição 144 que se consideramos o foco
2
F = (c, 0) a equação da diretriz é d : X = ac . Consideremos agora a reta d′ simétrica a d em relação
2
ao eixo Y então a equação de d′ é d′ : X = − ac . Mostraremos que essa reta é a diretriz para o foco
F ′ = (−c, 0).

Y
d′ d
P′ P

F′ O F X

De fato, seja C a cônica dada pelo conjunto dos pontos P = (x, y) do plano que satisfazem
d(P, F ) = e d(P, d) e seja C ′ a cônica dada pelo conjunto dos pontos P = (x, y) do plano que
satisfazem d(P, F ′ ) = e d(P, d′ ).
Sejam P ∈ C um ponto qualquer e P ′ seu simétrico em relação ao eixo Y . Segue do Corolário
145 que P ′ também pertence à cônica C, logo
(9.1.1) d(P ′ , F ) = e d(P ′ , d).
Pela simetria também temos d(P ′ , F ) = d(P, F ′ ) e d(P ′ , d) = d(P, d′ ), logo substituindo em (9.1.1)
temos
d(P, F ′ ) = e d(P, d′ ).
140 9. CÔNICAS: DEFINIÇÃO GERAL VIA FOCO, DIRETRIZ E EXCENTRICIDADE

Ou seja, P ∈ C ′ . Repetindo o raciocínio partindo de um ponto P ∈ C ′ teremos que d(P, F ) = e d(P, d),
ou seja P ∈ C. Concluimos que C = C ′ .
O que queremos dizer com isso é que o conjunto dos pontos P do plano que satisfazem d(P, F ) =
ed(P, d) é o mesmo conjunto de pontos que satisfazem d(P, F ′ ) = e d(P, d′ ), logo podemos definir a
cônica considerando o foco F e a diretriz d ou considerando o foco F ′ e a diretriz d′ .
Exemplo 147. Mostre que a curva de equação 9x2 − 4y 2 − 18x + 24y − 63 = 0 é uma hipérbole.
Ache seu centro, excentricidade, focos e diretriz.
Solução. Vamos completar quadrados
9(x2 − 2x + 1) − 4(y 2 − 6y + 9) = 63 + 9 − 36
9(x − 1)2 − 4(y − 3)2 = 36
(x − 1)2 (y − 3)2
− = 1.
4 9
A equação corresponde a uma hipérbole de centro C = (1, 3) cujos eixos real e imaginário são paralelos

2 2 2
aos eixos

coordenados. Temos que a = 2 e b = 3 logo c = b + a = 9 + 4 = 13 assim c = 13 e
13 ′
e = 2 . Transladando a origem ao centro da hipérbole, sabemos que, no novo sistema XO Y , os focos
√ √ 2
são F = (± 13, 0), a equação da diretriz correspondente ao foco F = ( 13, 0) é d : X = ac = √413
√ 2
e a equação da diretriz correspondente ao foco F ′ = (− 13, 0) é d′ : X = − ac = − √413 . Logo, no

sistema original, as diretrizes são d : x = 1 + √413 e d′ : x = 1 − √413 e os focos F ′ = (1 − 13, 3) e

F = (1 + 13, 3).
CAPíTULO 10

Equações paramétricas

Neste capítulo vamos estudar representações analíticas de uma curva por meio de um par de
equações que expressam cada uma das coordenadas dos pontos de essa curva em função de um
parâmetro.
Seja F (x, y) = 0 a equação de uma curva C no plano e suponha que as coordenadas x e y de cada
ponto P = (x, y) sobre a curva C sejam dadas como funções de uma terceira variável t pelas equações
(
x = f (t)
.
y = g(t)
Tais equações são denominadas equações paramétricas da curva C com parâmetro t.
Cada valor de t determina um ponto (x, y) que podemos marcar em um plano coordenado. Quando
t varia, o ponto (x, y) = (f (t), g(t)) varia e traça a curva C.
Exemplo 148. Esboce e identifique a curva definida pelas equações paramétricas
(
x = t2 − 2t
.
y =t+1
Solução. Cada valor de t fornece um ponto na curva, como mostrado na tabela:
t −2 −1 0 1 2 3 4
2
x = t − 2t 8 3 0 −1 0 3 8
y = t + 1 −1 0 1 2 3 4 5
Por exemplo se t = 0 então x = 0 e y = 1 e assim o ponto correspondente é (0, 1). Para esboçar o
gráfico, marcamos os pontos (x, y) determinados por diversos valores do parâmetro e os unimos para
produzir a curva

Podemos interpretar cada ponto como a posição de uma partícula que se move ao longo da curva
na direção das setas quando t aumenta, em que t representa o tempo.
Observe que a curva traçada poderia ser uma parábola. Isso pode ser confirmado pela eliminação
do parâmetro t.
Exemplo 149. Elimine o parâmetro t para encontrar uma equação cartesiana da curva dada no
Exemplo 148.
141
142 10. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS

Solução. A partir da segunda equação obtemos que t = y − 1, substituindo na primeira temos


x = t2 − 2t = (y − 1)2 − 2(y − 1) = y 2 − 2y + 1 − 2y + 2 = y 2 − 4y + 3 = (y − 2)2 − 4 + 3
e assim a curva representada pelas equações paramétricas
(
x = t2 − 2t
y =t+1

é, de fato, a parábola (y − 2)2 = x + 1.


No Exemplo 148, não colocamos nenhuma restrição no parâmetro t, de modo que assumimos que
t poderia ser qualquer número real. No entanto, algumas vezes restringimos t a um intervalo. Por
exemplo, a curva parametrizada
(
x = t2 − 2t
, 0≤t≤4
y =t+1

é a parte da parábola do Exemplo 148 que começa no ponto (0, 1) e termina no ponto (8, 5). A seta
indica a direção na qual a curva é traçada quando t aumenta de 0 até 4.

De forma geral, a curva com equações paramétricas


(
x = f (t)
, a≤t≤b
y = g(t)

tem ponto inicial (f (a), g(a)) e ponto final (f (b), g(b)).

10.1. Equações paramétricas das cônicas


Vamos reescrever as equações das cônicas utilizando equações paramétricas.

10.1.1. Equações paramétricas da elipse. Considere a elipse de centro C = (x0 , y0 ) e eixo


maior paralelo ao eixo x descrita pela equação
(x − x0 )2 (y − y0 )2
+ = 1.
a2 b2
Como temos uma soma de quadrados que resulta em 1 isso lembra a identidade fundamental da
trigonometria, então se chamamos
x − x0 y − y0
= cos t e = sen t,
a b
10.1. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS DAS CÔNICAS 143

podemos expressar as coordenadas de qualquer ponto sobre a elipse em função do parâmetro t. Logo,
as equações paramétricas da elipse são:
(
x = x0 + a cos t
, t ∈ [0, 2π).
y = y0 + b sen t
Caso o eixo maior da elipse seja paralelo ao eixo y, a equação será
(x − x0 )2 (y − y0 )2
+ = 1.
b2 a2
Chamando
x − x0 y − y0
= cos t e = sen t,
b a
as equações paramétricas da elipse neste caso são:
(
x = x0 + b cos t
, t ∈ [0, 2π).
y = y0 + a sen t

10.1.2. Equações paramétricas da hipérbole. Considere a hipérbole de centro C = (x0 , y0 )


e eixo real paralelo ao eixo x descrita pela equação
(x − x0 )2 (y − y0 )2
− = 1.
a2 b2
Note que da identidade fundamental cos2 t + sen2 t = 1 segue que:
cos2 t + sen2 t = 1
cos2 t sen2 t 1
2
+ 2
=
cos t cos t cos2 t
1 + tan t = sec2 t
2

sec2 t − tan2 t = 1
Assim, chamando
x − x0 y − y0
= sec t e = tan t,
a b
as equações paramétricas da hipérbole são:
(
x = x0 + a sec t π π π 3π
, t ∈ (− , ) ∪ ( , ).
y = y0 + b tan t 2 2 2 2
Agora, se a hipérbole tem o eixo real paralelo ao eixo y, a equação será
(y − y0 )2 (x − x0 )2
− = 1.
a2 b2
Chamando
x − x0 y − y0
= tan t e = sec t,
b a
as equações paramétricas da hipérbole neste caso são:
(
x = x0 + b tan t π π π 3π
, t ∈ (− , ) ∪ ( , ).
y = y0 + a sec t 2 2 2 2
144 10. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS

Outro par de equações pode ser definido utilizando funções hiperbólicas. O cosseno hiperbólico e
o seno hiperbólico são definidos, respectivamente, por

et + e−t et − e−t
cosh t = e sinh t = ,
2 2
em que e neste caso denota a constante neperiana e ≃ 2, 71 (não confundir com o e da excentricidade).
Veja que

(et + e−t )2
cosh2 t =
4
e + 2et e−t + e−2t
2t
=
4
e2t + 2 + e−2t
=
4
e, analogamente,

(et − e−t )2
sinh2 t =
4
e2t − 2et e−t + e−2t
=
4
e − 2 + e−2t
2t
=
4
logo

e2t + 2 + e−2t e2t − 2 + e−2t


cosh2 t − sinh2 t = −
4 4
−2t

2t
e + 2 +
 e −

 2t
 e−2t
e + 2 − 

=
4
4
= = 1,
4
ou seja, as funções hiperbólicas satisfazem a relação da hipérbole. Logo, se o eixo real é paralelo ao
eixo x e chamamos
x − x0 y − y0
= cosh t e = sinh t,
a b
as equações paramétricas da hipérbole também podem ser:
( (
x = x0 + a cosh t x = x0 − a cosh t
, t∈R , t∈R
y = y0 + b sinh t y = y0 + b sinh t

onde o primeiro conjunto de equações descreve o ramo direito e o segundo o ramo esquerdo da
hipérbole.
Caso o eixo real seja paralelo ao eixo y as equações paramétricas são dadas por
( (
x = x0 + b sinh t x = x0 + b sinh t
, t∈R , t ∈ R.
y = y0 + a cosh t y = y0 − a cosh t
10.1. EQUAÇÕES PARAMÉTRICAS DAS CÔNICAS 145

10.1.3. Equações paramétricas da parábola. Queremos agora obter as equações paramétri-


cas da parábola. Para isso considere uma parábola com vértice em V = (x0 , y0 ) e eixo de simetria
paralelo ao eixo x, descrita pela equação
(y − y0 )2 = 2p(x − x0 ).
Fazendo y = t obtemos as equações paramétricas da parábola
2
x = x + (t − y0 )

0
2p , t ∈ R.
y =t

Analogamente, se o eixo de simetria for paralelo ao eixo y as equações paramétricas são



x = t
(t − x0 )2 , t ∈ R.
y = y0 +
2p
CAPíTULO 11

Coordenadas polares

Vamos apresentar uma outra forma de caracterizar pontos do plano R2 . No sistema usual, de
coordenadas cartesianas retangulares, utilizamos dois eixos representados por duas retas perpendi-
culares. Na alternativa que iremos apresentar, um ponto é localizado especificando sua posição em
relação a uma reta fixa e a um ponto fixo. A vantagem de considerar esse novo sistema está em que
certas curvas têm equações mais simples quando esse sistema é usado.

11.1. Definição do sistema de coordenada polar


Fixamos no plano um ponto O que chamaremos de polo e uma semi-reta Op chamada de eixo
polar. Então a cada ponto P do plano podemos associar um par ordenado de números P = (r, θ) tal
que r é o comprimento do segmento OP e θ é o ângulo entre o segmento OP e o eixo polar (medido
a partir do eixo polar no sentido anti-horário). Logo r ⩾ 0 e θ ∈ [0, 2π) (eventualmente, dependendo
da situação, poderemos considerar θ variando em outros conjuntos). Denotaremos o sistema polar
por (O, p).

Exemplo 150. Considere um sistema polar (O, p). Para cada θ no conjunto
{0, π/6, π/4, π/3, π/2, 2π/3, 3π/4, 5π/6}
encontre, no sistema polar, o ponto (r, θ) em que r = sen θ.
Solução. Os pontos (r, θ), onde r = sen θ são indicados na figura a seguir:

Observe que, no caso que θ percorra todos os valores do intervalo [0, 2π) temos uma circunferência.
147
148 11. COORDENADAS POLARES

Exemplo 151. Considere um sistema polar (O, p) e a circunferência de raio 1/2, centrada no
ponto de coordenadas polares (1/2, π/2). Prove que esta circunferência é dada por
C = {(r, θ) | θ ∈ [0, π), r = sen θ}.
Solução. Seja P = (r, θ) um ponto na circunferência C e Q o ponto (1, π/2). Observe que OQ
é um diâmetro da circunferência logo o triângulo OP Q é retângulo.

Note que o diâmetro OQ é a hipotenusa do triângulo e seu tamanho é 1. Também podemos


observar que o ângulo α = ∠P OQ é π2 − θ, logo ∠OQP = π2 − α = π2 − ( π2 − θ) = θ. Por fim, como
sen θ é cateto oposto sobre hipotenusa, podemos concluir que sen θ = OP
1
= r.
Desta forma, demonstramos que qualquer ponto P na circunferência C pode ser representado em
coordenadas polares por (sen θ, θ) com θ ∈ [0, π).
Exemplo 152. Considere um sistema polar (O, p) e a reta s paralela ao eixo polar que passa pelo
ponto de coordenadas polares A = (1, π/2), como indicado na figura. Determine a equação desta reta
em coordenadas polares.

Solução. Considere P = (r, θ) ∈ s. Como a reta é paralela ao eixo polar, a distância entre s e
o eixo polar é igual a 1. Assim, temos que sen θ = 1r , como indicado na figura abaixo.
11.2. RELAÇÕES ENTRE AS COORDENADAS DE UM PONTO NOS DOIS SISTEMAS 149

Portanto, a equação da reta s no sistema polar é s : r sen θ = 1.

11.2. Relações entre as coordenadas de um ponto nos dois sistemas


Alguns objetos geométricos tem equações polares mais simples e outros equações em coordenadas
cartesianas mais simples. Em muitas situações será mais conveniente usar o sistema polar ao invés
do cartesiano e vice-versa. Para isso precisamos conhecer como se relacionam as coordenadas de um
ponto em ambos sistemas.
Suponha que (O, p) é o sistema polar tal que o polo está posicionado na origem do plano cartesiano
xOy e fazemos o eixo das abscissas coincidir com o eixo polar. Seja P um ponto cujas coordenadas
polares são (r, θ) e suas coordenadas cartesianas são (x, y), como indicado na figura.

Logo, pelas relações trigonométricas cos θ = xr e sen θ = yr . Então as coordenadas cartesianas de


P serão dadas por
(
x = r cos θ
(11.2.1) .
y = r sen θ
Observe que se P não coincide com o polo então
 p


 r = x2 + y 2
cos(θ) = √ x


x2 +y 2
 sen(θ) = √ y
x2 +y 2



tan(θ) = y , x ̸= 0

x

Exemplo 153. Determine as coordenadas cartesianas do ponto P cujas coordenadas polares são

(4, 3
).
Solução. Como as coordenadas polares de P são (4, 2π 3
) temos r = 4 e θ = 2π
3
. Utilizando as
relações entre coordenadas polares e cartesianas, segue que
2π 1
x = r cos θ = 4 cos = 4(− ) = −2 e
3 2

2π 3 √
y = r sen θ = 4 sen = 4( ) = 2 3.
3 2

Portanto, em coordenadas cartesianas P é descrito pelo par (−2, 2 3).
Exemplo
√ 154. Determinar as coordenadas polares do ponto P cujas coordenadas cartesianas são
(1, − 3).
150 11. COORDENADAS POLARES

Solução. Utilizando as relações entre coordenadas polares e cartesianas, temos


p q √ √ √
r = x2 + y 2 = (1)2 + (− 3)2 = 1 + 3 = 4 = 2 e
√ !
y 3
θ = arctan = arctan − .
x 1
3π 5π
Note que como P está no quarto quadrante, devemos ter 2
≤ θ ≤ 2π. Desta forma, θ = 3
eP
em coordenadas polares é escrito pelo par (2, 5π
3
).
Exemplo 155. Determine a equação polar do lugar geométrico dos pontos do plano cuja equação
em coordenadas cartesianas é x2 + y 2 − 4x − 2y + 1 = 0.
Solução. Através das substituições r2 = x2 + y 2 , x = r cos θ e y = r sen θ encontramos
r2 − 4r cos θ − 2r sen θ + 1 = 0.
Exemplo 156. Vamos revisitar o Exemplo 151. Considere um sistema polar (O, p) e a circunfe-
rência de raio 1/2, centrada no ponto de coordenadas polares (1/2, π/2). Prove que esta circunferência
é dada por
C = {(r, θ) | θ ∈ [0, π), r = sen θ}.
Solução. Vamos escrever a equação desta circunferência em coordenadas cartesianas, então
iremos fazer a transformação para coordenadas polares utilizando as relações estabelecidas.
Observe que, em coordenadas cartesianas, a equação de C é x2 + (y − 21 )2 = 14 .

Substituindo x = r cos θ e y = r sen θ e realizando as manipulações algébricas necessárias, encon-


traremos as seguintes equivalências
1 1
(r cos θ)2 + (r sen θ − )2 =
2 4
1 1
r2 cos2 θ + r2 sen2 θ − r sen θ + =
4 4
2 2 2
r (cos θ + sen θ) − r sen θ = 0
r2 − r sen θ = 0
r(r − sen θ) = 0.
A última equação é satisfeita se r = 0 ou r − sen θ = 0. No primeiro caso obteríamos um único ponto
(não é a equação da circunferência) logo r = sen θ como queríamos.
2
Exemplo 157. Determinar a equação em coordenadas cartesianas da equação polar r = .
1 − cos θ
11.2. RELAÇÕES ENTRE AS COORDENADAS DE UM PONTO NOS DOIS SISTEMAS 151

Solução. Substituindo r e r cos θ por seus valores em função de x e y, com o auxílio de mani-
pulações algébricas temos
2
r=
1 − cos θ
r − r cos θ = 2
p
x2 + y 2 − x = 2
p
( x2 + y 2 )2 = (2 + x)2
x2 + y 2 = 4 + 4x + x2
y 2 = 4x + 4
y 2 = 4(x + 1)
que é a equação de uma parábola.
Exemplo 158. A lemniscata é uma curva plana definida como sendo o conjunto dos pontos
P (x, y) cujo produto das distâncias a dois pontos fixos de coordenadas cartesianas (a, 0) e (−a, 0)
tem o valor constante a2 , ou seja
d(P, (a, 0)) · d(P, (−a, 0)) = a2 .
Usando a fórmula da distância e abrindo as contas, temos que em coordenadas cartesianas a equação
da lemniscata é
(x2 + y 2 )2 − 2a2 (x2 − y 2 ) = 0,
já usando as relações (11.2.1) obtemos
r2 = 2a2 cos(2θ),
que é a equação da lemniscata em coordenadas polares.
Para esboçar o gráfico observamos que cos(2θ) é negativo nos intervalos π4 < θ < 3π
4
e 5π
4
<θ<

4
e, portanto, a lemniscata não corta a região compreendida entre as bissetrizes dos quadrantes.
Vejamos uma tabela de valores para as coordenadas (r, θ) da curva:
π π 3π 5π 5π 7π 11π
θ √0 6 4 4 6
π
√ 4 4 4
r a 2 a 0 0 a a 2 0 0 a

Representando esses pontos no sistema de coordenadas polares obtemos:

Exemplo 159. Vejamos mais exemplos das curvas que podemos esboçar usando coordenadas po-
lares:
152 11. COORDENADAS POLARES

(1) (θ − π − cos r)(θ − cos r) = 0

p
(2) r = | cos(2θ)|

(3) r = 3 + cos(9θ) + 2 sen(3θ)

12 12
 
(4) r = sen2 5
θ + cos4 5
θ
11.3. EQUAÇÕES DAS CÔNICAS EM COORDENADAS POLARES 153

2θ−π

(5) r = esen(θ) − 2 cos(4θ) + sen5 24

11.3. Equações das cônicas em coordenadas polares


Queremos determinar as equações das cônicas no sistema polar. Para isso, utilizaremos a definição
das cônicas via foco, excentricidade e diretriz apresentada no Capítulo 9.
A equação polar de uma cônica assume uma forma simples quando consideramos o polo O no
foco F e o eixo polar coincidente com o eixo focal. Em todos os casos assumiremos que o foco F
encontra-se à direita da diretriz.
11.3.1. A elipse em coordenadas polares. Seja P = (r, θ) um ponto na elipse e tracemos
os segmentos F P , P d e a projeção de P sobre o eixo polar. Assim como esquematizado na figura a
seguir.

Veja que d(F, P ) = r e d(F, d) = p. Note que, utilizando o triângulo retângulo formado por P , F
e o ponto de projeção de P no eixo polar, encontramos
d(P, d) = d(F, d) + d(F, P ) cos θ = p + r cos θ.
Reescrevendo a definição da elipse, teremos
d(P, F ) r
= e =⇒ = e.
d(P, d) p + r cos θ
Ao isolarmos r na última igualdade obtemos a equação polar da elipse, cujo foco está a direita da
diretriz,
ep
r= , 0 ≤ θ < 2π.
1 − e cos θ
Observação: A equação que deduzimos é baseada na suposição inicial de que a diretriz encontra-
se à esquerda do polo. Se a diretriz se encontra à direita do polo, por argumentos semelhantes,
podemos mostrar que a equação da elipse é
ep
r= .
1 + e cos θ
154 11. COORDENADAS POLARES

11.3.2. A parábola em coordenadas polares. Seja P = (r, θ) um ponto na parábola e tra-


cemos os segmentos F P e P d. Como na figura a seguir.

Procedendo de forma análoga ao caso anterior, teremos


d(P, F ) r
= 1 =⇒ = 1.
d(P, d) p + r cos θ
Isolando r nesta igualdade, determinamos a equação polar da parábola
p
r= , 0 < θ < 2π.
1 − cos θ
Observação: Se a diretriz se encontra à direita do polo, por argumentos semelhantes, podemos
mostrar que a equação da parábola é
p
r= .
1 + cos θ
11.3.3. A hipérbole em coordenadas polares. Uma vez mais, procederemos como nos casos
anteriores. Porém, devemos dedicar mais atenção à dedução do ramo da hipérbole que está à esquerda
da diretriz.
Iniciamos com a dedução de um ramo localizado à direita da diretriz (mais próximo do foco). Seja
P = (r, θ) um ponto no ramo direito da hipérbole e tracemos os segmentos F P e P d, como na figura
a seguir.

Similarmente aos casos anteriores, teremos


d(P, F ) r
= e =⇒ = e.
d(P, d) p + r cos θ
11.3. EQUAÇÕES DAS CÔNICAS EM COORDENADAS POLARES 155

Isolando r nesta igualdade, determinamos a equação polar do ramo direito da hipérbole

ep
r= .
1 − e cos θ

Prosseguiremos com a dedução do ramo localizado à esquerda. Para nos auxiliar a determinar a
distância entre P = (r, θ) (no ramo da esquerda) e a reta diretriz d, vamos traçar os eixos dos sistema
cartesiano com a origem coincidente com o foco, como na figura abaixo.

Por construção, temos que a equação da diretriz no sistema cartesiano é d : x = −p, pois d(F, d) =
p, e a abscissa do ponto P será −r cos θ. Logo d(P, d) = −p − r cos θ.
Por fim, juntando as informações e, aplicando na fórmula da cônica via sua excentricidade podemos
deduzir

d(P, F ) r
= e =⇒ = e.
d(P, d) −p − r cos θ

Isolando r nesta igualdade, determinamos a equação polar do ramo esquerdo da hipérbole

−ep
r= .
1 + e cos θ

Até o momento identificamos as equações de ambos os ramos da hipérbole. Agora vamos dedicar
nossa atenção à discussão dos valores possíveis de θ para cada ramo, para isso as assíntotas nos
auxiliarão.
Os valores de θ para os quais o primeiro ramo está definido serão aqueles para os quais

1 − e cos θ > 0,

caso contrário r assumiria valores negativos e isto é conflitante com nossa definição de sistema polar.
Considere as assíntotas da hipérbole e o ângulo θ1 (inclinação de uma delas) tal que tan θ1 = ab ,
como indicado na imagem.
156 11. COORDENADAS POLARES

O cosseno deste ângulo pode ser descrito através do triângulo retângulo de hipotenusa c e cateto
a, logo cos θ1 = ac . Como ac = e, temos ac = 1e . De fato, se θ1 < θ < π então cos θ1 > cos θ, ou seja,
1
cos θ <
e
e cos θ < 1
0 < 1 − e cos θ
Portanto, o ramo 1 ficará bem definido para ângulos θ maiores do que
1
θ1 = arccos .
e
O segundo ângulo que indicará o superior limite para θ é
1
θ2 = 2π − θ1 = 2π − arccos .
e

Logo o ramo 1 da hipérbole ficará bem definido para ângulos θ tais que
1 1
0 < arccos < θ < 2π − arccos < 2π.
e e
Passamos agora ao ramo 2. O estudo que devemos fazer é análogo, isto é: devemos determinar
−ep
valores de θ para os quais r = estará bem definido. Como r > 0, desejamos que a seguinte
1 + e cos θ
11.3. EQUAÇÕES DAS CÔNICAS EM COORDENADAS POLARES 157

desigualdade seja satisfeita


1 + e cos θ < 0.
Com a ajuda das retas assintotas, o valor de ângulo inicial para o qual r estará bem definido
ocorrerá quando a partir de
1
θ3 = π − θ1 = π − arccos .
e

O valor final de θ ficará determinado por


1
θ4 = π + θ1 = π + arccos .
e

Logo, o ramo 2 da hipérbole ficará definido para ângulos θ tais que


1 1
0 < π − arccos < θ < π + arccos < 2π.
e e

Como último comentário, observe que em nossas deduções supomos que a diretriz é a reta x = d.
Por argumentos similares, podemos assumir que y = d, ou y = −d, e podemos deduzir que as equações
das cônicas serão determinadas pela igualdade, onde o sinal no denominador varia em acordo com o
sinal de d:
ep
r= .
1 ± e sen θ
158 11. COORDENADAS POLARES

4
Exemplo 160. Identifique a cônica cuja equação polar é r = .
2 + cos θ
Solução. Dividindo ambas as parcelas da fração por 2, encontramos

2
r= 1 .
1 + cos θ
2

Comparando com a forma padrão da cônica r = 1+eepcos θ , podemos perceber que a excentricidade da
1
nossa cônica é e = e p = 2. De acordo com nossa discussão, o lugar geométrico da equação polar
2
é uma elipse posicionada à esquerda da diretriz.
1
Exemplo 161. Encontre a equação polar da cônica cuja excentricidade é e = , o foco está na
3
origem, e a diretriz é d : x = −4.
1
Solução. Para determinar a equação, basta substituir e = e p = 4 na fórmula deduzida
3
1
ep 3
4 4
r= =⇒ r = 1 = .
1 − e cos θ 1 − 3 cos θ 3 − cos θ

Exemplo 162. Determinar a cônica descrita pela igualdade

144
r= ,
13 − 5 cos θ
e escrever sua equação em coordenadas cartesianas.

Solução. Inicialmente, vamos dividir ambas as parcelas da fração por 13


144
13
r= 5 .
1− 13
cos θ

Logo
5 144 144
e= < 1 (elipse) e ep = =⇒ p = .
13 13 5
Com as informações que nos temos até aqui sabemos que trata-se de uma elipse com focos no eixo
x, um deles na origem e a diretriz está à esquerda deste foco. Queremos agora encontrar a, b e o
centro da elipse. Para isso, determinemos a interseção da elipse com o eixo focal o que nos fornecerá
os vértices A1 e A2 . Fazendo θ = 0 e θ = π na equação dada temos as coordenadas polares de tais
vértices: A1 = (8, π) e A2 = (18, 0) que em coordenadas cartesianas são A1 = (−8, 0) e A2 = (18, 0).
Com essa informação temos que 2a = d(A1 , A2 ) = 26 logo a = 13 e ainda o centro é o ponto médio de
A1 A2 , ou seja C = (5, 0). Falta determinar o valor de b e para isso usaremos que e = ac , substituindo
5 c
as informações que temos 13 = 13 , donde c = 5. Como na elipse b2 = a2 − c2 = 132 − 25 = 144 segue
que b = 12. Logo a equação em coordenadas cartesianas é

(x − 5)2 y2
+ = 1.
132 122
11.3. EQUAÇÕES DAS CÔNICAS EM COORDENADAS POLARES 159

Observação 163. Uma outra forma de obter essa equação é aplicando as mudanças de coorde-
nadas do sistema polar para o sistema cartesiano na equação dada, assim:
r(13 − 5 cos θ) = 144
13r − 5r cos θ = 144
13r − 5x = 144
132 r2 = (144 + 5x)2
132 (x2 + y 2 ) = 1442 + 1440x + 25x2
(132 − 25)x2 − 1440x + 132 y 2 = 1442
122 x2 − 122 · 10x + 132 y 2 = 124
122 (x2 − 10x + 25) + 132 y 2 = 124 + 25 · 122
122 (x − 5)2 + 132 y 2 = 122 (122 + 25) = 122 · 132
(x − 5)2 y2
+ = 1.
132 122
Exemplo 164. Seja a equação da hipérbole em coordenadas cartesianas
(x + 5)2 y 2
− = 1.
16 9
Determine a equação polar do ramo direito desta cônica.
Solução. Vamos começar verificando que, de fato, um dos focos dessa hipérbole está na origem
do sistema de coordenadas original. Para isso fazemos a translação
(
X =x+5
,
Y =y
assim a equação fica
X2 Y 2
− = 1.
16 9 √ √
Observamos que o eixo real está no eixo X e a = 4, b = 3, logo c = a2 + b2 = 16 + 9 = 5. Logo,
no novo sistema, os focos tem coordenadas F = (±5, 0) que corresponde aos focos F1 = (−10, 0) e
F2 = (0, 0) no sistema original. No sistema transladado o vértice está na origem e logo as equações
2
das diretrizes são: d : X = ± ac = ± 16
5
, o que leva às equações
a2 16
d : x = −5 ± = −5 ±
c 5
9
no sistema original. Note que d : x = − 5 é a diretriz correspondente ao foco F = (0, 0) (e está à
esquerda do foco) e que o eixo focal está no eixo x, assim a equação polar do ramo direito da hipérbole
será da forma:
ep
r= .
1 − e cos θ
Neste caso e = ac = 54 e p = d(F, d) = 95 . Portanto a equação polar que descreve o ramo à direita da
hipérbole é
9
4 9
r= 5 = ,
1 − 4 cos θ 4 − 5 cos θ
onde
4 4
arccos( ) < θ < 2π − arccos( ).
5 5
CAPíTULO 12

Quádricas

12.1. Introdução
As quádricas são superfícies no espaço R3 descritas por equações do segundo grau em três variáveis.

Figura 12.1.1. Torre de controle do aeroporto de Newcastle.

Geometricamente, alguns exemplos de quádricas podem ser obtidos por meio da rotação de uma
cônica em torno de um eixo.
• Na Figura 12.1.2 obtemos a quádrica chamada elipsoide, gerada pela rotação de uma elipse
em torno do seu eixo maior.

Figura 12.1.2. Elipsoide gerado pela rotação de uma elipse em torno do seu eixo
maior.

• Na Figura 12.1.3 obtemos a quádrica chamada paraboloide elíptico, gerado pela rotação de
uma parábola em torno do seu eixo.
161
162 12. QUÁDRICAS

Figura 12.1.3. Paraboloide elíptico gerado pela rotação de uma parábola em torno
do seu eixo.

• Na Figura 12.1.4 obtemos a quádrica chamada hiperboloide de uma folha, gerada pela rotação
de uma hipérbole em torno do seu eixo transverso.

Figura 12.1.4. Hiperboloide de uma folha gerado pela rotação de uma hipérbole em
torno do seu eixo transverso.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 163

• Na Figura 12.1.5 obtemos a quádrica chamada hiperboloide de duas folhas, gerada pela ro-
tação de uma hipérbole em torno do seu eixo real.

Figura 12.1.5. Hiperboloide de duas folhas gerado pela rotação de uma hipérbole em
torno do seu eixo real.

No entanto, nem todas as quádricas podem ser obtidas desta maneira, por uma rotação. Nem
mesmo um elipsoide, um hiperboloide ou um paraboloide, conforme veremos mais adiante.
Algebricamente, uma quádrica é definida por uma equação do segundo grau em três variáveis, a
saber,
Q = {(x, y, z) ∈ R3 | ax2 + by 2 + cz 2 + dxy + exz + f yz + mx + ny + pz + q = 0},
onde a, b, c, d, e, f, m, n, p, q ∈ R são os coeficientes e pelo menos um dentre a, b, c, d, e ou f é não
nulo. Alguns exemplos de equações de quádricas são
• 3x2 + 2y 2 + z 2 − xy + 3 = 0;
• z = x2 + 2y 2 ;
• 3x2 + 2y 2 − z 2 = 1.
Na Seção 12.2 a seguir fazemos uma descrição mais precisa, tanto algébrica quanto geométrica,
de cada uma das quádricas. Para simplificar a discussão, vamos considerar as chamadas equações
reduzidas, que tem alguma particularidade nos coeficientes.

12.2. Descrição algébrica e geométrica das quádricas


Vamos discutir aqui as equações e propriedades algébricas e geométricas das quádricas na forma
reduzida (canônica), onde a equação tem muitos coeficientes nulos.

12.2.1. Elipsoide.
Definção 165. O elipsoide é a superfície definida pela equação
x2 y 2 z 2
(12.2.1) + 2 + 2 = 1,
a2 b c
onde a, b, c ∈ R são escalares positivos. Os valores 2a, 2b e 2c representam as medidas dos três eixos
do elipsoide. A Figura 12.2.1 ilustra esta quádrica.
164 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.1. Elipsoide.

Observação 166. Se o centro do elipsoide for o ponto C = (x0 , y0 , z0 ) e os eixos forem paralelos
aos eixos coordenados, a equação na forma padrão do elipsoide seria
(x − x0 )2 (y − y0 )2 (z − z0 )2
(12.2.2) + + = 1.
a2 b2 c2
Se além disso, a = b = c = r então obtemos a equação de uma esfera ou superfície esférica de
centro (x0 , y0 , z0 ) e raio r:
(x − x0 )2 (y − y0 )2 (z − z0 )2
+ + = 1 ⇔ (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2 = r2 .
r2 r2 r2
Uma discussão importante neste assunto consiste no estudo das interseções da quádrica com planos
paralelos aos planos coordenados.
Interseção com planos verticais paralelos ao plano yz.
A interseção do elipsoide definido pela equação (12.2.1) com o plano dado por x = k, com k ∈ R, é
descrita por
( 2
y z2 a2 − k 2
(12.2.3) + = .
b2 c2 a2
x=k
r
a2 − k 2
Caso −a < k < a, definindo γ := > 0, temos que a primeira equação em (12.2.3) pode
a2
ser escrita como
y2 z2
+ = 1,
(γb)2 (γc)2
o que significa que (12.2.3) representa uma elipse paralela ao plano yz, com eixos medindo 2γb e
2γc. Note que para k = 0 temos γ = 1, que é o maior valor possível para γ. Isto significa que
temos a maior elipse. Por outro lado, conforme o valor de k se aproxima de a, o valor de γ diminui,
se aproximando de zero. Isto significa que as elipses vão diminuindo de tamanho. A Figura 12.2.2
ilustra esta situação.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 165

Figura 12.2.2. Interseções do elipsoide com o plano x = k para −a < k < a.

Caso k = a ou k = −a, o sistema (12.2.3) fica


( 2
y z2
+ =0 ,
b2 c2
x=k
ou seja, a elipse se degenerou em um único ponto, conforme vemos na Figura 12.2.3.

Figura 12.2.3. Interseção do elipsoide com o plano x = a.

Finalmente, caso k > a ou k < −a, o sistema (12.2.3) fica


( 2
y z2
+ =β ,
b2 c2
x=k
com β < 0, o que é claramente impossível. Assim, a interseção é vazia e está ilustrada na Figura
12.2.4.
166 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.4. O elipsoide não intersecta o plano x = k para k > a ou k < −a.

Interseção com planos paralelos ao plano xz ou ao plano xy.


A interseção do elipsoide com planos da forma y = k ou z = k, com k ∈ R, é inteiramente análoga
ao que foi feito acima. As Figuras 12.2.5–12.2.8 ilustram o que ocorre nestes casos.

Figura 12.2.5. Interseção do elipsoide com o plano y = k para −b < k < b.


12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 167

Figura 12.2.6. Interseção do elipsoide com o plano z = k para −c < k < c.

Figura 12.2.7. Interseção do elipsoide com o plano z = c.

Figura 12.2.8. O elipsoide não intersecta o plano z = k para k > c ou k < −c.
168 12. QUÁDRICAS

12.2.2. Hiperboloide de uma folha.


Definção 167. O hiperboloide de uma folha é a superfície definida pela equação
x2 y 2 z 2
(12.2.4) + 2 − 2 = 1,
a2 b c
onde a, b, c ∈ R são escalares positivos. A Figura 12.2.9 ilustra o hiperboloide no qual a elipse que é
a “cintura” tem eixos medindo 2a e 2b.

Figura 12.2.9. Hiperboloide de uma folha.

Interseção com planos verticais paralelos ao plano yz.


A interseção do hiperboloide de uma folha definido pela equação (12.2.4) com o plano dado por x = k,
com k ∈ R, é descrita por
( 2
y z2 a2 − k 2
(12.2.5) − = .
b2 c2 a2
x=k
r
a2 − k 2
Caso −a < k < a, definindo γ := > 0, temos que a primeira equação em (12.2.5) pode
a2
ser escrita como
y2 z2
− = 1,
(γb)2 (γc)2
o que significa que (12.2.5) representa uma hipérbole paralela ao plano yz, com focos na direção do
eixo y, sendo 2γb a distância entre seus vértices. A Figura 12.2.10 ilustra esta situação.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 169

Figura 12.2.10. Interseções do hiperboloide com o plano x = k para −a < k < a. Os


focos estão na direção do eixo y.

Caso k = a ou k = −a, o sistema (12.2.5) fica


( 2
y z2
− 2 =0 ,
b2 c
x=k
ou seja, (cy − bz)(cy + bz) = 0. Assim, a hipérbole se degenerou em um par de retas, conforme vemos
na Figura 12.2.11.

Figura 12.2.11. Interseção do hiperboloide com o plano x = a: um par de retas


concorrentes. Note que o plano tangencia a “cintura” do hiperboloide.
170 12. QUÁDRICAS
r
k 2 − a2
Finalmente, caso k > a ou k < −a, definindo ξ := > 0, temos que a primeira equação
a2
em (12.2.5) pode ser escrita como
y2 z2
− + = 1,
(ξb)2 (ξc)2
o que significa que (12.2.5) representa uma hipérbole paralela ao plano yz, com focos na direção do
eixo z, sendo 2ξc a distância entre seus vértices. A Figura 12.2.12 ilustra esta situação.

Figura 12.2.12. Interseções do hiperboloide com o plano x = k para k > a ou k < −a.
Os focos estão na direção do eixo z.

Interseção com planos verticais paralelos ao plano xz.


A interseção do hiperboloide de uma folha com planos da forma y = k, com k ∈ R, é inteiramente
análoga ao que foi feito acima. A Figura 12.2.13 ilustra o que ocorre neste caso.

Figura 12.2.13. Interseção do hiperboloide de uma folha com o plano y = k para


k > b.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 171

Interseção com planos horizontais paralelos ao plano xy.


A interseção do hiperboloide de uma folha definido pela equação (12.2.4) com o plano z = k, k ∈ R,
é descrita por
( 2
x y2 c2 + k 2
(12.2.6) + 2 = .
a2 b c2
z=k
Note
r que agora a interseção do hiperboloide com qualquer plano horizontal é uma elipse. Definindo
c2 + k 2
ζ := > 0, temos que a primeira equação em (12.2.6) pode ser escrita como
c2
x2 y2
+ = 1,
(ζa)2 (ζb)2
o que significa que (12.2.6) representa uma elipse paralela ao plano xy, com eixos medindo 2ζa e 2ζb.
Para k = 0 temos ζ = 1, que é o menor valor possível para ζ, fornecendo a “cintura” do hiperboloide.
Por outro lado, conforme o valor absoluto de k aumenta, o valor de ζ aumenta também, fornecendo
elipses cada vez maiores. As Figuras 12.2.14–12.2.16 ilustram o que ocorre neste caso.

Figura 12.2.14. Interseção do hiperboloide de uma folha com o plano z = k.


172 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.15. Interseção do hiperboloide de uma folha com o plano z = k.

Figura 12.2.16. Interseção do hiperboloide de uma folha com o plano z = k.

Observação 168. O hiperboloide de uma folha definido em (12.2.4) tem o eixo z como eixo
central. Isto se deve ao fato do termo negativo na equação estar na expressão de z. Se considerarmos
a equação
x2 y 2 z 2
− 2 + 2 + 2 = 1,
a b c
o eixo central será o eixo x. Caso este eixo seja y, a equação será
x2 y 2 z 2
− 2 + 2 = 1.
a2 b c
Toda a discussão feita anteriormente pode ser imediatamente adaptada para estes dois casos.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 173

12.2.3. Hiperboloide de duas folhas.

Definção 169. O hiperboloide de duas folhas é a superfície definida pela equação

x2 y 2 z 2
(12.2.7) − − 2 + 2 = 1,
a2 b c
onde a, b, c ∈ R são escalares positivos. A Figura 12.2.17 ilustra este hiperboloide.

Figura 12.2.17. Hiperboloide de duas folhas.

Para este hiperboloide também podemos adaptar facilmente a discussão feita para o de uma folha
para analisar as interseções com planos paralelos aos planos coordenados. Deixamos como exercício
o detalhamento das afirmações nas Figuras 12.2.18–12.2.21.

Figura 12.2.18. As interseções do hiperboloide de duas folhas definido em (12.2.7)


com planos da forma x = k, com k ∈ R, são hipérboles com focos na direção do eixo z.
174 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.19. As interseções do hiperboloide de duas folhas definido em (12.2.7)


com planos da forma z = k são elipses para k > c ou k < −c. Conforme o valor
absoluto de k aumenta, as elipses ficam cada vez maiores.

Figura 12.2.20. As interseções do hiperboloide de duas folhas definido em (12.2.7)


com planos da forma z = k são pontos para k = c ou k = −c.

Figura 12.2.21. Os planos z = k não intersectam o hiperboloide se −c < k < c.


12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 175

Observação 170. O hiperboloide de duas folhas definido em (12.2.7) tem o eixo z como eixo
central. Isto se deve ao fato do termo positivo na equação estar na expressão de z. Se considerarmos
a equação
x2 y 2 z 2
− 2 − 2 = 1,
a2 b c
o eixo central será o eixo x. Caso este eixo seja y, a equação será
x2 y 2 z 2
− + 2 − 2 = 1.
a2 b c
12.2.4. Cone.
Definção 171. O cone é a superfície definida pela equação
x2 y 2 z 2
(12.2.8) + 2 − 2 = 0,
a2 b c
onde a, b, c ∈ R são escalares positivos. A Figura 12.2.22 ilustra o cone.

Figura 12.2.22. Cone.

Interseção com planos paralelos aos planos coordenados.


A interseção do cone definido pela equação (12.2.8) com o plano dado por x = k, com k ∈ R, é
descrita por
y2 z2 k2
(
− + =
(12.2.9) b2 c2 a2 .
x=k
Para qualquer k ̸= 0, o sistema (12.2.9) representa uma hipérbole paralela ao plano yz, com focos
na direção do eixo z. Caso k = 0, obtemos

(cy − bz)(cy + bz) = 0
,
x=k
ou seja, um par de retas concorrentes. As interseções com planos horizontais são elipses (considerando
o caso degenerado, quando k = 0 e a interseção se reduz a um único ponto). Veja as Figuras 12.2.23–
12.2.26.
176 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.23. Interseção do cone com o plano x = k, com k ̸= 0: hipérbole paralela


ao plano yz, com focos na direção do eixo z.

Figura 12.2.24. Interseção do cone com o plano x = 0: um par de retas concorrentes.

Figura 12.2.25. Interseção do cone com o plano z = k, com k < 0: uma elipse.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 177

Figura 12.2.26. Interseção do cone com o plano z = 0: um ponto.

12.2.5. Parabolóide elíptico.


Definção 172. O parabolóide elíptico é a superfície definida pela equação
x2 y 2
(12.2.10) z= + 2,
a2 b
onde a, b ∈ R são escalares positivos. A Figura 12.2.27 ilustra o parabolóide.

Figura 12.2.27. Parabolóide elíptico.

A interseção do parabolóide elíptico definido pela equação (12.2.10) com o plano vertical dado
por x = k, com k ∈ R, é descrita por

k2 y2
z= 2+ 2

(12.2.11) a b .
x=k

Para qualquer k ∈ R, o sistema (12.2.11) representa uma parábola paralela ao plano yz, com foco e
vértice na direção do eixo z. Note que o foco e o vértice de cada parábola ficam cada vez mais para
cima conforme o valor absoluto de k aumenta. Veja a Figura 12.2.28.
178 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.28. Interseção do parabolóide com planos verticais dados por x = k, com
k ∈ R: parábolas.

As interseções com planos horizontais dados por z = k, com k ≥ 0, são elipses descritas por
 2
 x y2
+ =k
a2 b2 ,
z=k

(considerando o caso degenerado, quando k = 0 e a interseção se reduz a um único ponto). Note que
a interseção é vazia no caso k < 0. Veja a Figura 12.2.29.

Figura 12.2.29. Interseção do parabolóide com planos horizontais da forma z = k,


com k ≥ 0: elipses.

Observação 173. O parabolóide elíptico definido pela equação (12.2.10) tem o eixo z como eixo
de simetria. Isto se deve ao fato do termo isolado na equação ser z. Se considerarmos a equação
y2 z2
x = 2 + 2,
b c
o eixo de simetria será o eixo x. Caso este eixo seja y, a equação será
x2 z 2
y= + 2.
a2 c
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 179

12.2.6. Parabolóide hiperbólico (sela).


Definção 174. O parabolóide hiperbólico é a superfície definida pela equação
x2 y 2
(12.2.12) z= − 2,
a2 b
onde a, b ∈ R são escalares positivos. A Figura 12.2.30 ilustra o parabolóide.

Figura 12.2.30. Parabolóide hiperbólico (sela).

A interseção do parabolóide hiperbólico definido pela equação (12.2.12) com o plano vertical dado
por x = k, com k ∈ R, é descrita por

k2 y2
z= 2− 2

(12.2.13) a b .
x=k

Para qualquer k ∈ R, o sistema (12.2.13) representa uma parábola voltada para baixo, paralela ao
plano yz, com foco e vértice na direção do eixo z. Note que o foco e o vértice de cada parábola ficam
cada vez mais para cima conforme o valor absoluto de k aumenta. Veja a Figura 12.2.31.

Figura 12.2.31. Interseção da sela com planos verticais dados por x = k, com k ∈ R:
parábolas voltadas para baixo.
180 12. QUÁDRICAS

A interseção do parabolóide hiperbólico definido pela equação (12.2.12) com o plano vertical dado
por y = k, com k ∈ R, é descrita por

x2 k 2
z= 2− 2

(12.2.14) a b .
y=k

Para qualquer k ∈ R, o sistema (12.2.14) representa uma parábola voltada para cima, paralela ao
plano yz, com foco e vértice na direção do eixo z. Note que o foco e o vértice de cada parábola ficam
cada vez mais para baixo conforme o valor absoluto de k aumenta. Veja a Figura 12.2.32.

Figura 12.2.32. Interseção da sela com planos verticais dados por y = k, com k ∈ R:
parábolas voltadas para cima.

As interseções com planos horizontais dados por z = k, com k ∈ R, são hipérboles paralelas ao
plano xy, descritas por  2
 x y2
− 2 =k
a2 b .
z=k

Para k < 0 os focos da hipérbole estão na direção do eixo y. Se k > 0, os focos estão na direção do
eixo x. Para o caso k = 0, temos um par de retas concorrentes. Veja as Figuras 12.2.33–12.2.35.

Figura 12.2.33. Interseção do parabolóide com planos horizontais da forma z = k,


com k < 0: hipérboles com focos na direção do eixo y.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 181

Figura 12.2.34. Interseção do parabolóide com planos horizontais da forma z = k,


com k > 0: hipérboles com focos na direção do eixo x.

Figura 12.2.35. Interseção do parabolóide com o plano z = 0: um par de retas


concorrentes.

12.2.7. Cilindro. Um cilindro é uma superfície obtida pela translação de uma curva na direção
de uma reta ou, equivalentemente, a translação de uma reta sobre uma curva. Vamos discutir aqui o
cilindro hiperbólico. Os outros tipos (elíptico e parabólico) são inteiramente análogos.

Definção 175. Um cilindro hiperbólico reto é o conjunto

x2 y 2
 
3
(12.2.15) C= (x, y, z) ∈ R | 2 − 2 = 1 ,
a b

onde a, b ∈ R são escalares positivos. A Figura 12.2.36 ilustra o cilindro hiperbólico.


182 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.36. Cilindro hiperbólico.

Note que o fato de não aparecer z na equação significa que dado qualquer ponto da hipérbole

x2 y 2
− 2 = 1,
a2 b

a reta vertical (perpendicular ao plano xy) que passa por este ponto está contida no cilindro.
A interseção do cilindro definido em (12.2.15) com o plano vertical dado por x = k, com k ∈ R, é
descrita por
 2
 y k 2 − a2
=
b2 a2 .
x=k

Portanto, a interseção é não vazia para k ≤ −a ou k ≥ a. As Figuras 12.2.37–12.2.39 ilustram o que


pode ocorrer.

Figura 12.2.37. Interseção do cilindro com planos verticais dados por x = k, com
k < −a ou k > a: um par de retas paralelas.
12.2. DESCRIÇÃO ALGÉBRICA E GEOMÉTRICA DAS QUÁDRICAS 183

Figura 12.2.38. Interseção do cilindro com o plano x = −a: uma reta.

Figura 12.2.39. Interseção do cilindro com planos x = k, com −a < k < a: o


conjunto vazio.

A interseção do cilindro definido em (12.2.15) com planos verticais da forma y = k, com k ∈ R, é


descrita por
 2
 x k 2 + b2
=
a2 b2 .
y=k

Portanto, a interseção é não vazia para todo k ∈ R e consiste em um par de retas. A Figura 12.2.40
ilustra esta situação.
184 12. QUÁDRICAS

Figura 12.2.40. Interseção do cilindro com planos verticais dados por y = k, com
k ∈ R: um par de retas paralelas.

As interseções com planos horizontais dados por z = k, com k ∈ R, são hipérboles paralelas ao
plano xy, descritas por
 2
 x y2
− =1
a2 b2 .
z=k

Note que todas as hipérboles são exatamente iguais, independentemente de k. Veja a Figura 12.2.41.

Figura 12.2.41. Interseção do cilindro com planos horizontais da forma z = k: hi-


pérboles iguais com focos na direção do eixo x.

12.3. Exercícios resolvidos


Nesta última seção das notas de aula vamos resolver alguns exercícios sobre quádricas.

x2 y 2
Exemplo 176. Considere a, b > 0, a sela de equação z = 2 − 2 e as interseções com planos da
a b
forma x = k, com k ∈ R, ilustrados abaixo. Determine o vértice e o foco da parábola no plano yz,
em termos de a, b e k.
12.3. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 185

Solução. Sabemos que no plano yz, a parábola de equação (y − y0 )2 = 2p(z − z0 ) tem vértice
V = (y0 , z0 ), foco F = (y0 , z0 + p2 ) e diretriz de equação z = z0 − p2 . Na Figura 12.3.1 foram
representadas as parábolas em que p < 0 (à esquerda) e p > 0 (à direita).

Figura 12.3.1. Parábola no plano yz

x2 y2
No caso do exemplo, a interseção do plano x = k com a sela z = a2
− b2
é a parábola:

k2 y2 k2
 
2 2
z = 2 − 2 ⇔ y = −b z − 2 ,
a b a

k2 b2  2
logo y0 = 0, z0 = 2 e p = − . Assim o vértice dessa parábola é V = (y0 , z0 ) = 0, ka2 e o foco
a 2
2 2
F = (y0 , z0 + p2 ) = 0, ka2 − b4 . Ambos foram ilustrados na figura a seguir:
186 12. QUÁDRICAS

Exemplo 177. Considere a sela dada por 5x2 − 4y 2 − 8z = 0 e as interseções com planos y = k,
com k ∈ R, ilustrados abaixo. Determine os valores de k para os quais o foco da parábola no plano
xz fica acima do eixo x.

Solução. A interseção do plano y = k com a sela 5x2 − 4y 2 − 8z = 0 é a parábola:


k2
 
2 2 2 8
5x − 4k − 8z = 0 ⇔ x = z+
5 2
2
no
 plano xz. Neste caso temos que x0 = 0, z0 = − k2 e p = 45 , logo o foco é F = (x0 , z0 + p2 ) =
2
0, − k2 + 52 . Para que o foco fique acima do eixo x a ordenada do ponto dever ser positiva, logo
devemos ter que
r
k2 2 2 k2 4 2 4
− + >0⇔ > ⇔ >k ⇔ > |k|.
2 5 5 2 5 5
Portanto, o foco fica acima do eixo x para − √25 < k < √25 .
Na figura a seguir, podemos observar as parábolas para diferentes valores de k.
12.3. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 187

Figura 12.3.2. Parábolas com foco acima do eixo x, para k = 0 e k = 0.65

Figura 12.3.3. Parábola com foco no eixo x para k = √2 e embaixo do eixo x para
5
k = 1.09

x2 y2
Exemplo 178. Considere a sela de equação z = 2 − 2 e as interseções com planos da forma
a b
z = k, com k ∈ R, ilustrados abaixo. Mostre que todas as hipérboles têm as mesmas assíntotas,
qualquer que seja k ∈ R \ {0}.
188 12. QUÁDRICAS

Solução. Vamos a dividir a solução em dois casos. Primeiro considere k > 0. A interseção do
2 2
plano z = k com a sela z = xa2 − yb2 é a hipérbole

x2 y 2 x2 y2
− = k ⇔ √ − √ = 1,
a2 b2 ( ka)2 ( kb)2
no plano xy. Para cada valor de k > 0, as equações das assíntotas da hipérbole são
√
 kb b
y = ± √ x = ± x,
 ka
 a
ou seja não dependem do valor de k.
12.3. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 189
2
x2
Analogamente, considere k < 0, então −k > 0. A interseção do plano z = k com a sela z = a2
− yb2
é a hipérbole
x2 y 2 y2 x2
− 2 + 2 = −k ⇔ √ − √ = 1,
a b ( −kb)2 ( −ka)2
no plano xy. Para cada valor de k < 0, as equações das assíntotas da hipérbole são
√ 
−kb b
y = ± √  x = ± x,
 −ka
 a
ou seja não dependem do valor de k e ainda coincidem com as assíntotas do caso anterior em que
k > 0. Portanto, mostramos que qualquer que seja k ∈ R \ {0} todas as hipérboles têm as mesmas
assíntotas.
b
Na figura a seguir, ilustramos várias das hipérboles para k ̸= 0 e as retas de equação y = ± x, o
a
que evidencia o comportamento assintótico.

Figura 12.3.4

Vamos resolver alguns exercícios que destacam uma propriedade muito interessante, satisfeita
tanto pelo hiperboloide de uma folha quanto pelo paraboloide hiperbólico (sela). É um fato que
possivelmente não percebemos nem intuímos quando observamos estas duas quádricas: elas contém
retas.
Exemplo 179. Seja H o hiperboloide de uma folha dado por x2 + y 2 − z 2 = 1. Por qualquer ponto
P0 = (x0 , y0 , z0 ) ∈ H passam duas retas inteiramente contidas em H.
190 12. QUÁDRICAS

Solução. Mostraremos que existem dois vetores não paralelos ⃗v1 e ⃗v2 tais que P0 + λ⃗v1 ∈ H e
P0 + λ⃗v2 ∈ H para todo λ ∈ R.
Queremos encontrar condições para a existência de um vetor não nulo ⃗v = (α, β, γ) ∈ R3 tal que
para todo λ ∈ R tem-se:

1 = (x0 + λα)2 + (y0 + λβ)2 − (z0 + λγ)2


= x20 + 2x0 αλ + α2 λ2 + y02 + 2y0 βλ + β 2 λ2 − z02 − 2z0 γλ − γ 2 λ2
= (α2 + β 2 − γ 2 )λ2 + 2(x0 α + y0 β − z0 γ)λ + (x20 + y02 − z02 )

Note que x20 + y02 − z02 = 1 pois P0 ∈ H, logo temos que para todo λ ∈ R:

1 = (α2 + β 2 − γ 2 )λ2 + 2(x0 α + y0 β − z0 γ)λ + 1


0 = (α2 + β 2 − γ 2 )λ2 + 2(x0 α + y0 β − z0 γ)λ

Mas a igualdade acima é satisfeita para todo λ ∈ R se, e somente se,

α2 + β 2 − γ 2 = 0 e x0 α + y0 β − z0 γ = 0.

Logo queremos determinar se existem números reais α, β, γ que sejam solução do sistema:

α2 + β 2 − γ 2 = 0
(∗)
x0 α + y0 β − z0 γ = 0

Note que γ ̸= 0 pois se γ = 0 da primeira equação teríamos que α = β = γ = 0 e ⃗v = ⃗0 o que


contradiz que ⃗v é um vetor diretor de uma reta.
Como o tamanho de ⃗v não importa (só importa sua direção), podemos supor (por conveniência)
que γ = 1 (se z0 ≥ 0) ou γ = −1 (se z0 < 0), bastaria multiplicar ⃗v por γ1 ou − γ1 . Em qualquer um
dos casos o produto z0 γ será sempre não-negativo.
Assim, da primeira equação segue que α2 + β 2 = 1, ou seja, os números reais α e β pertencem à
circunferência unitária e logo existe um t ∈ R tal que α = cos(t) e β = sen(t).
A seguir, vamos definir
p uma função φ(t) = x0 cos(t) + y0 sen(t) − z0 γ e para simplificar a notação
vamos denotar r := x20 + y02 . Agora observe que novamente temos
 x 2  y 2
0 0
+ = 1,
r r
y0
ou seja, os números reais xr0 e r
pertencem à circunferência unitária e logo existe um t0 ∈ R tal que
x0
r
= cos(t0 ) e yr0 = sen(t0 ).
Logo,

φ(t0 ) = x0 cos(t0 ) + y0 sen(t0 ) − z0 γ


= r cos2 (t0 ) + r sen2 (t0 ) − z0 γ
q
= x20 + y02 − z0 γ
q
= 1 + z02 − z0 γ,

onde nap última igualdade


p usamos que P0 ∈ H. Agora note que 1 + z02 > z02 , tomando raiz a ambos
lados 1 + z02 > z02 = |z0 | e por outro lado z0 γ = z0 (±1) = |z0 | donde podemos concluir que
φ(t0 ) > 0.
12.3. EXERCÍCIOS RESOLVIDOS 191

Por outro lado,


 π  π  π
φ t0 − = x0 cos t0 − + y0 sen t0 − − z0 γ
2 2  2  
π π π  π 
= x0 cos(t0 ) cos + x0 sen(t0 ) sen + y0 sen(t0 ) cos − y0 sen cos(t0 ) − z0 γ
2 2 2 2
= x0 sen(t0 ) − y0 cos(t0 ) − z0 γ
(( ((
=( r cos(t 0 ) sen(t0 ) − (
r sen(t0 ) cos(t0 ) − z0 γ
((( (( ((( ((

= −z0 γ
Analogamente prova-se que φ t0 − π2 = φ t0 + π2 = −z0 γ ≤ 0. Como a função φ(t) é contínua,
 

pelo Teorema do Valor Intermediário do Cálculo I, sabemos que existem números reais t̄, t̂ ∈ R com
t0 − π2 ≤ t̄ < t0 < t̂ ≤ t0 + π2 , tais que φ(t̄) = φ(t̂) = 0. Portanto, ⃗v1 = cos(t̄), sen(t̄), γ e


⃗v2 = cos(t̂), sen(t̂), γ resolvem (∗) o que implica que as retas r1 : X = P0 + λ⃗v1 e r2 : X = P0 + λ⃗v2
estão totalmente contidas no hiperboloide.

A propriedade estabelecida no Exercício 179 pode ser vista na vida real, na torre de controle do
aeroporto de Newcastle, ilustrada na Figura 12.1.1.
Exemplo 180. Considere o hiperboloide de uma folha H = {(x, y, z) ∈ R3 | x2 + y 2 − z 2 = 1} e
um escalar m ∈ R. Mostre que a reta dada por

x + my − z = m
r:
mx − y + mz = 1
está inteiramente contida em H.
Solução. Note que a reta r pode ser descrita por

x − z = m(1 − y)
r: .
1 + y = m(x + z)
Portanto, m(x + z)(x − z) = m(1 − y)(1 + y), o que implica x2 − z 2 = 1 − y 2 . Assim, r ⊂ H.
Exemplo 181. Considere a sela S = {(x, y, z) ∈ R3 | z = x2 − y 2 } e o ponto A = (1, 2, −3).
Verifique que A ∈ S e encontre as equações paramétricas das duas retas que passam por A e estão
inteiramente contidas em S.
Solução. Primeiramente, note que 12 − 22 = −3 e assim, A ∈ S. Agora, queremos obter um
vetor ⃗v = (a, b, c) ∈ R3 tal que (1 + at, 2 + bt, −3 + ct) = A + tv ∈ S para todo t ∈ R. Isto equivale a
(1 + at)2 − (2 + bt)2 = −3 + ct
1 + 2at + a2 t2 − 4 − 4bt − b2 t2 = −3 + ct
(a2 − b2 )t2 + (2a − 4b − c)t = 0 para todo t ∈ R.
Logo, devemos ter 
a2 = b 2
,
c = 2a − 4b
que tem como soluções v1 = (a, a, −2a) e v2 = (a, −a, 6a), a ∈ R. Escolhendo a = 1, obtemos as duas
retas  
 x=1+t  x=1+t
r1 : y =2+t e r2 : y =2−t
z = −3 − 2t z = −3 + 6t
 
satisfazendo z = x2 − y 2 . A Figura 12.3.5 mostra uma das retas contidas na sela.
192 12. QUÁDRICAS

Figura 12.3.5. Uma reta inteiramente contida na sela.


APÊNDICE A

Invariantes de uma equação de segundo grau

Vamos estudar a equação geral de grau 2 da forma:


(A.0.1) Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
em que A, B, C, D, E, F ∈ R e A, B, C não são simultaneamente nulos.
Queremos saber como se comportam os coeficientes A, B, C, D, E, F quando uma translação e/ou
rotação é aplicada ao sistema de eixos.
Primeiramente, note que podemos escrever Ax2 + Bxy + Cy 2 de forma matricial como segue:
 
A B2  
Ax2 + Bxy + Cy 2 = x y   x
 
(A.0.2)
B y
2
C
e ainda o termo à esquerda da equação (A.0.1) pode ser reescrito matricialmente como
 
A B2 D2  
  x
2 2
  B 
E 
(A.0.3) Ax + Bxy + Cy + Dx + Ey + F = x y 1  2 C 2  y .

  1
D E
2 2
F
Vamos denotar por:
 B

A 2
 , tr = tr(K) = A + C e g = det(K) = AC − B
2
K=
B
C 4
2
e ainda denotaremos por
 
A B2 D
2

BDE AE 2 CD2 F B 2
 
B E

U =2 C 2
e Det = det(U ) = ACF + − − − .
  4 4 4 4
D E
2 2
F
Definção 182. Os números tr, g e Det de uma equação Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
são chamados, respectivamente, de traço, gênero e determinante da equação geral de grau dois.
A seguir, vamos mostrar que esses valores não se alteram com algumas transformações do plano.
Lema 183. Os valores tr, g e Det são invariantes por translação e rotação dos eixos coordenados.
Demonstração. Se denotarmos por :
   
x X
v t = x y 1 1×3 Vt = X Y
   
v = y  V = Y  1 1×3 ,
1 3×1 1 3×1
193
194 A. INVARIANTES DE UMA EQUAÇÃO DE SEGUNDO GRAU

(em que At = (aji ) é a matriz transposta de A = (aij )) a equação geral de grau dois na forma matricial
(A.0.3) pode ser assim representada:

(A.0.4) vt · U · v = 0
Agora se denotarmos por
 
1 0 x0
T = 0 1 y0 
0 0 1
podemos escrever as equações de translação (8.1.1) como:
(A.0.5) v = T · V.
Ao aplicar uma translação no sistema de eixos, a equação (A.0.4) assume a forma:
(T · V )t · U · (T · V ) = 0
(V t · T t ) · U · (T · V ) = 0
(A.0.6) V t · (T t · U · T ) · V = 0,

que é nova equação geral de grau dois após a translação. Note que U ′ = T t · U · T é a matriz dessa
nova equação. Vamos calcular os valores tr, g e Det dessa matriz.
 B D

  A 2 2  
1 0 0  
 1 0 x0

T t · U · T =  0 1 0  B E
 2 C 2  0 1 y0

x0 y 0 1   0 0 1
D E
2 2
F
 B B D

A 2
Ax 0 + 2
y 0 + 2
 
 B B E

(A.0.7) =
2
C 2
x 0 + Cy 0 + 2


 
B D B E 2 2
Ax0 + 2 y0 + 2 x + Cy0 + 2
2 0
Ax0 + Bx0 y0 + Cy0 + Dx0 + Ey0 + F

Ao se eliminar a última coluna e a última linha tanto de T t · U · T quanto de U , obtemos K. Como


K não se altera por translação, então tr e g também não se alteram por translação.
Para determinar o determinante de T t · U · T , observe que como o determinante do produto é o
produto dos determinantes, tem-se:
(A.0.8) det(T t · U · T ) = det(T t ) · det(U ) · det(T ).
Como det(T t ) = det(T ) = 1, segue que det(T t · U · T ) = det(U ) = Det. Em outras palavras, Det é
invariante por translação.
Agora, vamos analisar a rotação por um ângulo θ. Denotando por R a matriz
 
cos θ − sen θ 0
R = sen θ cos θ 0 ,
0 0 1
temos que a rotação (8.2.3) pode ser escrita pelo produto de matrizes:
(A.0.9) v =R·V
A. INVARIANTES DE UMA EQUAÇÃO DE SEGUNDO GRAU 195

Ao aplicar a rotação no sistema de eixos, a equação (A.0.4) assume a forma:


(R · V )t · U · (R · V ) = 0
(V t · Rt ) · U · (R · V ) = 0
(A.0.10) V t · (Rt · U · R) · V = 0,
que é nova equação geral de grau dois após a rotação. Note que U ′′ = Rt · U · R é a matriz dessa nova
equação. Então:
(A.0.11) det(Rt · U · R) = det(Rt ) · det(U ) · det(R)
e como det(Rt ) = det(R) = cos2 θ + sen2 θ = 1, provamos assim que det(Rt · U · R) = det(U ) = Det,
ou seja, Det também é invariante por rotação.
Para calcular tr e g, basta analisar o produto Rt · U · R:
 B D

  A 2 2  
cos θ sen θ 0   cos θ − sen θ 0
B 
Rt · U · R = − sen θ cos θ 0  E
 2 C 2  sen θ cos θ 0

0 0 1   0 0 1
D E
2 2
F
 
A cos θ + B2 sen θ B
2
cos θ + C sen θ D
2
cos θ + E
2
sen θ  
  cos θ − sen θ 0
 B B D E

=−A sen θ + 2 cos θ − 2 sen θ + C cos θ − 2 sen θ + 2 cos θ sen θ cos θ 0
 
  0 0 1
D E
2 2
F
 
2
A cos θ + B sen θ cos θ + C sen θ 2
(C − A) sen θ cos θ + B2 cos 2θ D
2
cos θ + E2 sen θ
 
 B 2 2 D E

=  (C − A) sen θ cos θ + 2 cos 2θ A sen θ − B sen θ cos θ + C cos θ − 2 sen θ + 2 cos θ 
 
D E D E
2
cos θ + 2 sen θ − 2 sen θ + 2 cos θ F
 
A cos2 θ + B2 sen 2θ + C sen2 θ C−A
2
sen 2θ + B
2
cos 2θ D
2
cos θ + E
2
sen θ
 
 C−A B 2 B 2 D E

(A.0.12) =  
2
sen 2θ + 2
cos 2θ A sen θ − 2
sen 2θ + C cos θ − 2
sen θ + 2
cos θ ,

 
D E D E
2
cos θ + 2 sen θ − 2 sen θ + 2 cos θ F
em que nas últimas duas linhas utilizamos as fórmulas do seno e do cosseno do ângulo duplo
sen 2θ = 2 sen θ cos θ
cos 2θ = cos2 θ − sen2 θ.
Eliminando a última linha e a última coluna ficamos com a matriz K ′′ (i.e., a matriz K da equação
obtida após aplicar a rotação):
 
A cos2 θ + B2 sen 2θ + C sen2 θ C−A
2
sen 2θ + B2 cos 2θ
K ′′ =  
C−A B 2 B 2
2
sen 2θ + 2 cos 2θ A sen θ − 2 sen 2θ + C cos θ
    
cos θ sen θ A B2 cos θ − sen θ
=    = R−θ · K · Rθ ,
B
− sen θ cos θ 2
C sen θ cos θ
196 A. INVARIANTES DE UMA EQUAÇÃO DE SEGUNDO GRAU

logo
(A.0.13) det(K ′′ ) = det(R−θ · K · Rθ ) = det(R−θ ) · det(K) · det(Rθ ).
Porém, como det(R−θ ) = det(Rθ ) = cos2 θ + sen2 θ = 1, então vemos que det(K ′′ ) = det(K) = g, isto
é, g não se altera por rotação.
Para determinar que o traço é invariante por rotação, note que
B  B 
tr(K ′′ ) = A cos2 θ + sen 2θ + C sen2 θ + A sen2 θ − sen 2θ + C cos2 θ
2 2

= A(cos2 θ + sen2 θ) + C(sen2 θ + cos2 θ)
= A + C = tr(K) = tr.

Já vimos que as cônicas têm equações de segundo grau em duas variáveis do tipo (8.3.1), mas nem
toda equação nessa forma representa uma cônica. Estudaremos um pouco mais as chamadas cônicas
degeneradas.
Teorema 184. Considere a equação Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 com tr > 0 e g > 0.
Então:
(a) Se Det < 0, esta equação representa uma elipse.
(b) Se Det = 0, esta equação representa um ponto (também chamado de elipse degenerada).
(c) Se Det > 0, esta equação não define nenhum ponto do plano (figura também chamada de
elipse imaginária).
Demonstração. Como g ̸= 0, de acordo com o Teorema 127, podemos fazer uma translação e
obter uma equação sem os termos lineares D e E.
Se B = 0, então após a translação teremos uma equação da forma A′ X 2 + C ′ Y 2 + F ′ = 0. Caso
contrário, pelo Teorema 129, podemos escolher θ tal que cot 2θ = A−C B
e, após aplicar a rotação,
teremos uma equação da forma acima.
Dessa forma, pelo Lema 183, como tr, g e Det são invariantes por translação e rotação, podemos
dizer que g = A′ C ′ e tr = A′ + C ′ . Como g > 0, então A′ e C ′ têm o mesmo sinal. Como tr > 0, A′
e C ′ são positivos.
Como vimos nas demonstrações dos Teoremas 127 e 129, apenas a translação altera o termo
constante (F ) da equação geral.
Note que Det = A′ C ′ F ′ . Logo, F ′ = Det
g
. Portanto, o sinal de F ′ é o mesmo que o sinal de Det,
já que g > 0. Então:
(a) Se Det < 0, podemos escrever a equação da seguinte forma:
X2 Y2
(A.0.14)  +  =1
Det Det
−gA′ −gC ′
A equação representa uma elipse.
(b) Se Det = 0, então F ′ = 0 é a única solução de A′ X 2 + C ′ Y 2 = 0 é (X, Y ) = (0, 0).
(c) Se Det > 0, então F ′ > 0 e então a equação não possui solução real.

Teorema 185. Considere a equação Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 com g > 0 e tr < 0.
Então:
(a) Se Det > 0, esta equação define uma elipse.
(b) Se Det = 0, esta equação define uma elipse degenerada.
A. INVARIANTES DE UMA EQUAÇÃO DE SEGUNDO GRAU 197

(c) Se Det < 0, esta equação não define nenhum ponto do plano (elipse imaginária).
Demonstração. Com os mesmos argumentos do teorema anterior, temos uma equação da forma
A′ X 2 + C ′ Y 2 + F ′ = 0 com A′ < 0 e C ′ < 0. O restante da análise segue de forma similar. □
Teorema 186. Considere a equação Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0 com g < 0. Então:
(a) Se Det ̸= 0, essa equação define uma hipérbole.
(b) Se Det = 0, essa equação define duas retas concorrentes (hipérbole degenerada).
Demonstração. De forma similar ao procedimento realizado no Teorema 184, temos uma equa-
ção A′ X 2 + C ′ Y 2 + F ′ = 0, com g = A′ C ′ , que, por hipótese, tem sinal negativo. Então, A′ e C ′ têm
sinais contrários.
Como F ′ = Det g
, logo, se Det ̸= 0, podemos escrever a equação (A.0.14). Se um dos denominadores
é positivo, o outro é negativo e, então, a equação representa uma hipérbole.
Se Det = 0,q então F ′ = 0. Nesse caso, a equação A′ X 2 +C ′ Y 2 = 0 se escreve das seguintes formas:

adotando k = − CA′ (como A′ e C ′ têm sinais contrários, k sempre existe), a equação pode ser do
tipo Y = ±kX, o que representa duas retas concorrentes. □
Proposição 187. Considere a equação geral de grau dois Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
com g = 0. Então, tr ̸= 0.
2
Demonstração. Se tr = 0, então A = −C. Como tr2 = A2 + 2AC + C 2 e g = AC − B4 , então
B 2 = 4AC = −2A2 − 2C 2 . Portanto, 2A2 + B 2 + 2C 2 = 0. Esta última igualdade ocorre se, e somente
se, A = B = C = 0. Porém isso contradiz o fato de que a equação é de grau dois. □
Teorema 188. Considere a equação geral de grau dois Ax2 + Bxy + Cy 2 + Dx + Ey + F = 0
com g = 0. Então:
(a) Se Det ̸= 0, então essa equação define uma parábola.
(b) Se Det = 0, essa equação define duas retas paralelas ou uma única reta (que chamamos de
parábola degenerada), ou ainda nenhum ponto do plano (que chamaremos de retas paralelas
imaginárias).
Demonstração. Se B ̸= 0, podemos fazer uma rotação de ângulo θ tal que cot 2θ = A−C
B
ea
equação tomará a forma A′ X 2 + C ′ Y 2 + D′ X + E ′ Y + F = 0.
Como g = 0, pela Proposição 187, tr ̸= 0. E como g = A′ C ′ = 0, então exatamente um
dos valores A′ ou C ′ é nulo. Vamos supor A′ = 0 e C ′ ̸= 0. Portanto, a equação é da forma
C ′ Y 2 + D′ X + E ′ Y + F = 0, completando quadrados temos:
2
E′ (E ′ )2

′ ′
(A.0.15) C Y + + D X + F − = 0.
2C ′ 4C ′
E′
Se fizermos a translação x′ = X e y ′ = Y + 2C ′
temos a equação:

′ ′ 2 (E ′ )2
′ ′
(A.0.16) C (y ) + D x + F − = 0.
4C ′
Se Det ̸= 0, como
 D′ 
0 0 2
 

C′
 C ′ (D′ )2
Det = det  0 0
=− ,
 
  4
(E ′ )
2

D′
2
0 F−
4C ′
198 A. INVARIANTES DE UMA EQUAÇÃO DE SEGUNDO GRAU

então D′ ̸= 0 e a equação (A.0.16) pode ser assim escrita:


D′ ′ F (E ′ )2
(y ′ )2 = −
x − + .
C′ C ′ 4(C ′ )2
D′ (E ′ )2
 
′ 2 ′ F
(y ) = − ′ x + ′ − .
C D 4C ′ D′
Esta é a equação de uma parábola.
(E ′ )2 (E ′ )2
No caso em que Det = 0, então D′ = 0 e (y ′ )2 = − CF′ + 4(C F
′ )2 . Se − C ′ + 4(C ′ )2
> 0, temos duas
(E ′ )2 (E )′ 2
retas paralelas. Se − CF′ + 4(C ′ )2
= 0, temos duas retas iguais. Ou se − CF′ + 4(C ′ )2 < 0, temos um

conjunto vazio. □

Você também pode gostar