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O
nipresente só Deus é. Foi
o que aprendemos, pelo
menos os não ateus nem
agnósticos, na infância.
Pois Onipresente tam-
bém é o livro de Ricardo
Cavallini, especialista em comunicação
interativa, que contextualiza a transição
atravessada pela atividade de marke-
ting atualmente, ajudando os profissio-
nais da área a entender –e a preparar-
-se para– os possíveis cenários futuros.
Onipresente é, na verdade, a internet
na vida das pessoas, plugadas nela 24
horas por dia. E fato é que a onipresen-
ça está modificando o modus operandi
das empresas ao lhes tirar a segurança
dos modelos de negócio predefinidos
e estáveis e substituí-los pela máxima
“cada caso é um caso”. Se o especialista
em tecnologia da informação e inova-
ção Silvio Meira tem dito que o mun-
do do futuro será um eterno beta teste,
Foto: Beto Riginik
Modelos
Em entrevista exclusiva a Adriana
Salles Gomes e Jorge Carvalho, respec-
tivamente editora-executiva de HSM
Management e coordenador de pro-
jetos especiais da HSM, Cavallini conta
de negócio
como as empresas podem adaptar seus
eta
modelos de negócio aos quatro Es do
mix de marketing, além de conceituar
o modelo beta e ilustrá-lo com o case
de seu livro, desenvolvido conforme
preceitos da quinta e da sexta ondas da
inovação [veja quadro na página 30].
Com 20 anos de experiência em in-
teratividade, o que Cavallini fez foi adi-
cionar ao slogan informal do Google,
“always beta”, conceitos como o con-
sumidor pós-consumo (sem tempo)
de Seth Godin e o freemium de Chris
Anderson e adaptá-los ao Brasil. Bem-
-humorado, resume: “Nada aqui é
Como evitar que seu marketing igual, né? Deus é onipresente, mas, em
vire commodity? O consultor nenhum outro lugar, é brasileiro”.
como eu, então não vou levá-lo a sério que junta o everyplace e o exchange prarem Onipresente impresso também.
quando ele diz que não entendeu ou do novo mix da estratégia de marke- Nesse caso, eu, como autor, investi em
que discorda”. E o outro seria aceitar ting, dois dos quatro Es. A segunda uma tiragem feita por uma pequena
tudo que falassem e retalhar o livro. edição do meu primeiro livro, O Mar editora –as editoras tradicionais re-
Você não pode ter preconceito, mas, keting Depois de Amanhã, já podia jeitaram terminantemente a ideia de
ao mesmo tempo, precisa ter uma li- ser baixada de graça na internet des- combinar o download grátis com a im-
nha de pensamento e mantê-la. de o final de setembro de 2008 e, com pressão, o que me levou a rejeitá-las.
A realização do beta teste não ape- Onipresente, resolvi disponibilizar o Em breve, ficará mais fácil ainda fazer
nas melhorou muito a qualidade do download grátis como opção princi- isso, porque a impressão sob demanda
livro; como efeito colateral, ganhei pal desde o início. deve se popularizar no Brasil.
muitos leitores entre os testadores. Em relação ao livro anterior, recebi E tem mais: o leitor pode comprar a
reclamações sobre o download gratui- impressão em condições diferentes das
Experiência e evangelismo, dois dos to: “Eu comprei o livro, paguei por ele, usuais. Ela não tem um preço fixo; va-
novos Es do mix... Você disse que e agora você vai liberá-lo de graça?”. ria conforme, por exemplo, o preço da
gosta de executar e eu pergunto: o Alguns ainda não entenderam que, fotocópia na faculdade onde vou fazer
modelo de negócio beta é o de apren- no caso dos livros, paga-se mais pelo palestra e vender o livro. No interior de
der (e planejar) fazendo, como define papel e pela distribuição, os trabalhos São Paulo, já vendi o livro a R$ 6, que
Henry Mintzberg? Com o pensamen- da editora e da livraria (que ficam com era o preço da fotocópia ali. E, se uma
to de design permanente, como diz 90% da receita), do que pelo conteúdo, empresa comprar um lote de livros e
David Kelley, da Ideo? que cabe ao autor (10%). Mas eles vão quiser que eu, autor, vá entregá-los,
Sim, acho que é por aí. entender rápido, como aconteceu com autografá-los e bater um papo, cobro
a música, cuja separação de conteúdo R$ 100 de taxa simbólica, mais o preço
E a distribuição do livro? e entrega já é bem compreendida pelo de cada livro. Tem a ver com o prin-
Sim, outra lógica 2.0 que usei foi a público graças à distribuição digital. cípio da rede social; o autor se põe no
distribuição gratuita do livro online, Agora, deixei a possibilidade de com- mesmo patamar de seus leitores.
Será que essa bagunça vai contaminar vas de distribuição: entre vendidos e concorrentes no mercado, o que pode
todo ambiente e tipo de negócio, indo dados até hoje, já foram pelo menos fazê-lo definhar lentamente.
além do conteúdo e de bens culturais? 5.188 exemplares de Onipresente. As Os jornais, e talvez as grandes redes
Sim, facilidade e personalidade podem métricas são outras no mundo onli de TV também, vão morrer da manei-
ser os critérios de cobrança em outras ne: 2.768 baixados no site principal, ra como os conhecemos hoje. Na ver-
áreas de negócios também. E a distri- 520 em uma das visualizações de dade, a categoria será transformada.
buição online sempre será um modelo slideshares, 400 que viram páginas E, nessa metamorfose, alguns players
de negócio disponível no leque de op- no Google Books lidas online, mil de quebrarão de fato.
ções. O meio digital impacta o modo venda do autor e 500 estimados de
de produzir e distribuir produtos, venda da editora, fora distribuições Como os gestores vão conseguir acom-
mesmo quando o produto não é digi- não monitoradas. E foram 13.356 panhar essa transformação sem que-
tal, como um arquivo MP3 de música apenas na contabilidade online d’O brar? Como você faz para antecipar
ou um PDF de livro. Assim como não Marketing Depois de Amanhã. Es- essas mudanças, por exemplo?
precisamos dos Kindles da vida para tamos falando do conceito de cauda A única receita, acho eu, é não mais
mudar o mercado de livros –eu poder longa do Anderson, né?! separar trabalho e hobby. Por exem
vender e divulgar meu livro online já plo, eu sempre gostei muito de tec-
o muda–, não precisamos de produtos Como esse raciocínio da cauda longa se nologia e games, como um bom geek.
e serviços digitais para transformar aplica no mercado de conteúdo exata- Comecei a brincar de desenvolvedor
outros mercados. A mera existência mente? Os grandes jornais e grandes de software, inclusive. Essas coisas
da internet já transforma tudo, porque emissoras da TV aberta vão morrer? são meu hobby, me divertem e me
impõe competitividade inédita aos de- Eric Schmidt [CEO do Google] diz que ajudam a enxergar muita coisa, além
mais canais. negócios de larga escala ainda manda- de render alguns trocados. A tecno-
Se quisesse vender online meu livro, rão –e coexistirão com os de nicho... logia auxilia as pessoas a cultivar
eu teria ali uma margem muito su- Sim, haverá espaço para todos os mo- hobbies. O iPhone, como plataforma
perior à do modelo tradicional de delos. Sobre quem vai morrer e quem para desenvolver aplicativos, me faci-
distribuição, o que possibilitaria que vai viver, é o seguinte: quem conti- litou muito isso e me deu acesso a um
eu, mesmo vendendo muito menos, nuar fazendo o que está fazendo, do jei- mercado mundial. A plataforma blog
conseguisse o mesmo lucro ou um to que está fazendo, vai virar commodi me permite ter um blog destinado a
até maior. E ainda correria o risco ty. Ou seja, estará entregando algo cuja achar gadgets diferentes para con-
de vender tanto quanto ou mais que diferença de valor não será percebida sumo, o wishlist, algo engraçado que
pela via tradicional por não ter tra- pelos consumidores e que terá muitos abre muitas janelas de ideias.