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Nissin-Ajinomoto Alimentos Ltda.
A/c: Departamento Jurídico
A/c: Departamento de Marketing
A/c: Departamento de Relações Institucionais
Rua Alves Guimarães, 1297
Jardim América – São Paulo
05410-002
Prezados senhores,
Rua Fradique Coutinho, 50 11º andar Pinheiros São Paulo SP 05416-000 Brasil
T (55+ 11) 3472-1600 Fax (55+ 11) 3472-1601 www.alana.org.br
I. O Instituto Alana
1
O termo ‘comunicação mercadológica’ compreende toda e qualquer atividade de comunicação
comercial para a divulgação de produtos e serviços independentemente do suporte ou do meio
utilizado. Além de anúncios impressos, comerciais televisivos, spots de rádio e banners na internet,
podem ser citados, como exemplos: embalagens, promoções, merchandising, disposição de produtos
nos pontos de vendas, etc.
2
Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/1990 - “Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos
desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos
de idade”.
2
II. A comunicação mercadológica ‘Nissin Miojo contém histórias’.
“Todo mundo tem uma história com Nissin. Histórias divertidas, histórias de
sobrevivência, histórias de crescer e ter que aprender a se virar, histórias de
aventuras e até histórias românticas... o fato é que Nissin está sempre presente
na nossa vida. Esta área é dedicada a essa divertida relação entre os Nissins que
você come e as histórias que acumula pelo caminho.”7
3
http://www.youtube.com/watch?v=CfIDWH24lo0. Acesso em 9.10.2013.
4
http://www.youtube.com/watch?v=LDswdan5juU. Acesso em 9.10.2013.
5
http://www.youtube.com/watch?v=C32g-HQIOx8. Acesso em 9.10.2013.
6
http://www.nissin.com.br/contem-historia/. Acesso em 10.10.2013.
7
http://www.nissin.com.br/contem-historia/. Acesso em 10.10.2013.
8
http://www.nissin.com.br/contem-historia/. Acesso em 10.10.2013.
3
Dentro do espaço ‘Historinhas’ é possível encontrar relatos de
consumidores que contam suas experiências com o produto ‘Nissin Lámem
Turma da Mônica’:
“TURMA DA MONICA E EU
AUTOR: LIANA,
9
http://www.nissin.com.br/contem-historia/categoria/historinhas/. Acesso em 10.12.2013.
10
http://www.nissin.com.br/contem-historia/categoria/historinhas/. Acesso em 10.12.2013.
4
Vídeos
‘Irmãos’, o primeiro vídeo da série, começa com a cena de um pai de família que
coloca dois pratos de macarrão em cima da mesa, sente o seu aroma e diz: 'TÁ
NA MESA PESSOAL’.
PAI: ‘AI!’
5
EDUARDO: ‘AI! DOEU!’
MÃE: ‘EDUARDO PARA DE ENCHER O SEU IRMÃO!’
EDUARDO/PAI: ‘FOI ELE QUEM COMEÇOU’
IRMÃO: ‘MENTIRA MÃE FOI ELE’
MÃE: ‘NÃO INTERESSA QUEM COMEÇOU, EU QUERO UM ABRAÇO DE
DESCULPAS AGORA!’
6
O segundo vídeo, divulgado em março de 2011, chama-se ‘Bang Bang’. A
trama do vídeo publicitário se inicia com a melodia de fundo no estilo de filmes
de faroeste, enquanto dois garotos se preparam para um duelo de pistolas
imaginárias feitas com as mãos. Ao final do duelo um dos meninos ‘morre’. Após
sua ‘morte’ tudo passa a rodar em câmera lenta e o garoto derrotado passa a
recordar seus amigos, enquanto sua voz aparece ao fundo narrando seu
‘testamento’:
7
RECEITA QUE PASSOU DA MINHA VÓ, PARA MINHA MÃE E PRA MIM’, o produto
‘miojo’ aparece na frente do amigo da personagem, Darwin, mas, ao perceber
que perderia a sua receita de família, o narrador-personagem muda de ideia e
‘revive’ revogando todas suas ‘disposições de última vontade’ e recuperando
todos os seus bens.
O último vídeo da série, ‘Lente’, inicia-se com uma música de fundo que
garante ares mágicos à comunicação mercadológica e uma criança olhando
através do fundo de um copo enquanto é iniciada a fala de um narrador-criança:
8
“É PENA QUE O EFEITO DESSA LENTE ACABA LOGO”.
9
III. A abusividade presente nos vídeos publicitários.
O apelo infantil resta claro também pelo uso de frase que associa o
produto a histórias (‘NISSIN MIOJO, CONTÉM HISTÓRIAS’) e aproximam o
produto às crianças por meio da associação de frase (“NISSIN MIOJO, SEMPRE
COM VOCÊ”) à imagem da criança.
Ao levar em conta este fator conclui-se que nem todas as crianças têm a
capacidade de entender, por inteiro, a proposta persuasiva da publicidade, que
11
Bjurström, Erling, ‘Children and television advertising’, Report 1994/95:8, Swedish Consumer Agency
.disponível em: http://biblioteca.alana.org.br/biblioteca/CriancaConsumo/Biblioteca2.aspx?v=6&pes=10
Acesso em 21.3.2013.
10
só se conforma completamente aos 12 anos de idade, como também enuncia
ERLING BJURSTRÖM12:
12
Bjurström, Erling, ‘Children and television advertising’, Report 1994/95:8, Swedish Consumer Agency
.disponível em: http://biblioteca.alana.org.br/biblioteca/CriancaConsumo/Biblioteca2.aspx?v=6&pes=10
Acesso em 21.3.2013.
11
Primeiramente, é importante ressaltar que o macarrão instantâneo está
na lista dos alimentos processados que devem reduzir a quantidade de sódio em
sua composição13, em decorrência de um termo de compromisso14 firmado
entre o Ministério da Saúde e associações do setor alimentício brasileiro.
13
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,governo-e-industria-de-alimentos-fecham-acordo-
para-reduzir-sodio,703297,0.htm. Acesso em 11.12.2013
14
Termo de Compromisso nº 004/2011 firmado entre Ministério da Saúde e ABIA (Associação Brasileira
das Indústrias de Alimentação), ABIMA (Associação Brasileira das Indústrias de Massas Alimentícias),
ABITRIGO (Associação Brasileira das Indústrias de Trigo) e ABIP (Associação Brasileira da Indústria de
Panificação e Confeitaria.
15
http://nutricao.saude.gov.br/sodio_reformulacao.php. Acesso em 11.12.2013
12
VI - ALIMENTO COM QUANTIDADE ELEVADA DE GORDURA TRANS é aquele que
possui em sua composição uma quantidade igual ou superior a 0,6 g para 100 g
ou 100 ml na forma como está exposto à venda.
VII - ALIMENTO COM QUANTIDADE ELEVADA DE SÓDIO é aquele que possui em
sua composição uma quantidade igual ou superior a 400 mg de sódio por 100 g
ou 100 ml na forma como está exposto à venda”
16
http://www.nissin.com.br/lamen-turma-da-monica/lamen-turma-da-monica-galinha/. Acesso em
17.10.2013.
13
Tabela Nutricional correspondente a 80g de macarrão instantâneo e 5g de
tempero, o que equivale a 1 unidade de ‘Nissin Lámen Hot Calabresa’17.
17
http://www.nissin.com.br/nissin-lamen-hot/lamen-hot-calabresa/. Acesso em 17.10.2013.
18
http://www.nissin.com.br/nissin-lamen-hot/lamen-hot-calabresa/. Acesso em 17.10.2013.
14
Quantidade por porção % Valores Diários
Valor Energético 483 Kcal=2029 kJ 24
Carboidratos 66g 22
Proteínas 13g 17
Gorduras Totais 19g 35
Gorduras Saturadas 8,1g 37
Gorduras Trans 0 -
Fibra Alimentar 2,4g 10
Sódio 1727mg 72
19
A RDC Nº 24/2010 considera alimento com alto teor de sódio aquele que contém em sua composição
quantidade igual ou superior a 400 mg de sódio por 100 g e no caso das gorduras saturadas, quantidade
igual ou superior a 5 g de gordura saturada por 100 g.
20
http://www.adria.com.br/produtos/massas/com-ovos. Acesso em 16.12.2013.
15
Outro ponto de destaque é o fato de que a tabela nutricional brasileira se
baseia em valores adequados para a população adulta, o que difere dos valores
recomendados para a população infantil pela OMS21.
21
http://veja.abril.com.br/140307/p_096.shtml. Acesso em 16.12.2013.
22
‘Diretriz da OMS: Consumo de Sódio por Adultos e Crianças’
23
‘Diretriz da OMS: Consumo de Sódio por Adultos e Crianças’
16
Os resultados da Seção de Antropometria e Estado Nutricional da
Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, consolidados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas - IBGE e apresentados
oficialmente em 2010, revelam um salto no número de crianças de cinco a nove
anos com excesso de peso ao longo de 34 anos: em 2008-09, 34,8% dos
meninos estavam com o peso acima da faixa considerada saudável pela
Organização Mundial de Saúde. Em 1989, este índice era de 15%, contra 10,9%
em 1974-75. Observou-se padrão semelhante nas meninas, que de 8,6% na
década de 70 foram para 11,9% no final dos anos 80 e chegaram aos 32% em
2008-0924.
Por outro lado, a POF 2008-2009 apontou que o déficit de peso entre as
crianças de cinco a nove anos foi baixo em todas as regiões, oscilando ao redor
da média nacional de 4%, resultados que estão de acordo com a progressiva
queda da desnutrição infantil observada pela POF25
24
Disponível em
http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1699&id_pagina=
1. Acesso em 20.2.2013.
25
“Excesso de peso foi diagnosticado em cerca de um terço dos meninos e meninas, excedendo, assim,
em mais de oito vezes a freqüência de déficit de peso. Quadros de obesidade corresponderam a cerca
de um terço do total de casos de excesso de peso no sexo feminino e a quase metade no sexo
masculino.” Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF/ 2008-2009. Antropometria e Estado Nutricional
de Crianças, Adolescentes e Adultos no Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Rio de Janeiro, 2010, p. 49.
17
Alteração dos hábitos alimentares da população e sua associação com o
crescimento da epidemia de obesidade e o aumento de incidência de doenças
crônicas não transmissíveis
Diante de uma população cada vez mais afetada por essas enfermidades,
aumentam vertiginosamente os gastos do Estado brasileiro com o sistema de
saúde pública e de seguridade social, pois mais e mais cidadãos se tornam
incapacitados para o trabalho em consequência de seus problemas de saúde.
26
http://noticias.terra.com.br/brasil/doencas-relacionadas-a-obesidade-custam-r-488-milhoes-por-ano-
ao-sus,96cc1cc74338d310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html. Acesso em 19.3.2013.
27
Disponível em http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_plano.pdf. Acesso em 27.2.12.
18
DCNT são um problema de saúde de grande magnitude, e correspondem a 72%
de causa de mortes, tendo havido um acréscimo das taxas de mortalidade por
diabetes e câncer na última década. Dentre os fatores de risco apontados, estão
o consumo de alimentos com alto teor de gordura e de refrigerantes em 5 ou
mais dias por semana.
19
Em resposta à Resolução WHA63.14 a OMS publicou, em 2012, o
documento ‘A framework for implementing the set of recommendations on the
marketing of foods and non-alcoholic beverages to children’, com o objetivo de
orientar os governos que querem implementar as recomendações em seus
territórios por meio de políticas públicas29.
29
http://www.who.int/dietphysicalactivity/framework_marketing_food_to_children/en/. Acesso em
11.3.2013.
30
“Let me remind you. Not one single country has managed to turn around its obesity epidemic in all
age groups. This is not a failure of individual will-power. This is a failure of political will to take on big
business.
I am deeply concerned by two recent trends.
The first relates to trade agreements. Governments introducing measures to protect the health of their
citizens are being taken to court, and challenged in litigation. This is dangerous. The second is efforts by
industry to shape the public health policies and strategies that affect their products. When industry is
involved in policy-making, rest assured that the most effective control measures will be downplayed or
left out entirely. This, too, is well documented, and dangerous. In the view of WHO, the formulation of
health policies must be protected from distortion by commercial or vested interests.”
20
obesidade ao redor do mundo, e que deve haver vontade política para reverter
a situação existente. Nesse sentido, a indústria deve ser responsabilizada, não
apenas por influir na questão da alimentação da população pelo estímulo
desenfreado ao consumo de seus produtos, mas também por influenciar
negativamente as políticas públicas na área da saúde.
31
http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/docs/biblioteca/pesquisas/Datafolha_consum
ismo_infantil_final.pdf. Acesso em 16.11.2013.
32
http://biblioteca.alana.org.br/banco_arquivos/arquivos/docs/biblioteca/pesquisas/propaganda-
infantil-maio-2011.pdf. Acesso em 16.11.2013.
21
O Cartoon Network, dentre várias outras constatações, concluiu que “O
mais fácil de pedir... e conseguir” (pelas crianças) é justamente o produto
alimentício. Com 56% de respostas, comidas, lanches e doces são os produtos
mais fáceis de serem ‘conseguidos’ pelas crianças quando pedem aos adultos33.
33
http://biblioteca.alana.org.br/CriancaConsumo/Biblioteca2.aspx?v=6&pes=17. Acesso em 30.1.2013.
34
http://www.abima.com.br/noticias_setor_detalhe.php?cod=932. Acesso em 16.12.2013.
22
e, principalmente, personagens infantis nas embalagens; (ii) forte presença do
marketing “nutricional” por meio de “dicas de saúde”, “informações sobre
nutrientes”35.
23
relações sociais, o que a torna um indivíduo hipervulnerável e hipossuficiente,
inclusive nas relações de consumo. Com sua capacidade de crítica e reflexão
diminuta, a criança pode ser, de fato, comparada a uma esponja, com grande
capacidade de absorção de informações não filtradas que possuirão, a princípio,
igual credibilidade e papel em sua formação.
37
Bjurström, Erling, ‘Children and television advertising’, Report 1994/95:8, Swedish Consumer Agency
.disponível em: http://biblioteca.alana.org.br/biblioteca/CriancaConsumo/Biblioteca2.aspx?v=6&pes=10
Acesso em 21.3.2013.
38
Parecer sobre PL 5921/2001 a pedido do Conselho Federal de Psicologia, ‘A Publicidade Dirigida ao
Público Infantil – Considerações Psicológicas’.
http://www.pol.org.br/pol/export/sites/default/pol/publicacoes/publicacoesDocumentos/Cartilha_publ
icidade_infantil.pdf. Acesso em 14.5.2012.
24
A posição dos especialistas aponta de forma evidente para a condição de
desigualdade entre o público infantil e a publicidade, em que se ressalta a
hipossuficiência do primeiro em relação à segunda. A criança se mostra munida
de poucas defesas diante dos apelos publicitários, vitimada pela própria
condição da infância.
“As vontades infantis costumam ser ainda passageiras e não relacionadas entre
si de modo a configurarem verdadeiros objetivos. Logo, as crianças são mais
suscetíveis do que os adolescentes e adultos de serem seduzidas pela
perspectiva de adquirem objetos e serviços a elas apresentados pela
publicidade.” (grifos inseridos)
“Se problema moral há com a manipulação, esse não se resume ao fato de ela
existir em variadas relações sociais. O problema moral ocorre quando o
beneficiário da manipulação é o manipulador, e não a pessoa manipulada.”
39
A mídia – interferências no aparelho psíquico. In Adolescência – pelos caminhos da violência: a
psicanálise na prática social. Ed. Casa do Psicólogo. São Paulo, SP, 1998, página 146.
25
julgamento, fica impossibilitada de defender seus interesses – tarefa que se
coloca a cargo dos responsáveis.
40
http://biblioteca.alana.org.br/biblioteca/CriancaConsumo/Biblioteca2.aspx?v=1&art=54. Acesso em
21.3.2013.
26
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação,
à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de
toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.”
27
As normas legais que tratam da proteção à infância não fazem referência
expressa à proteção da criança nas relações de consumo. Assim, de maneira
complementar, no âmbito da legislação consumerista, o artigo 36 do Código de
Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078 de 11 de Setembro de 1990, define que:
“Artigo 36: A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor,
fácil e imediatamente, a identifique como tal.” (grifos inseridos)
Ante a todos estes marcos jurídicos, aliados ao fato de que a criança não
compreende a publicidade tal como ela é, resta claro que o direcionamento de
estratégias de comunicação mercadológica às crianças é prática comercial
desleal, que viola a proteção à infância e as normas de direito do consumidor,
revestindo-se de patente abusividade e, portanto, ilegalidade.
28
V. Conclusão.
Em razão disso, o Instituto Alana vem repudiar a forma como tem sido
veiculada e desenvolvida a ora questionada comunicação mercadológica, na
medida em que viola as normas legais de proteção das crianças e, por
conseguinte, NOTIFICAR a empresa Nissin-Ajinomoto Alimentos Ltda. para que
cesse toda a comunicação mercadológica posta em questão pela presente
Notificação, relativa à promoção dos produtos da linha de macarrões
instantâneos ‘Nissin’, no prazo de 15 dias a partir do recebimento desta, sob
pena destas abusivas práticas comerciais virem a ser noticiadas aos órgãos
competentes, os quais certamente tomarão as medidas legais cabíveis no
sentido de coibi-las.
Cordialmente,
Instituto Alana
Projeto Criança e Consumo
29