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Os Consórcios e o regime de tributação

A principal característica dos consórcios formados consoante o disposto nos artigos


278 e 279, da Lei n. 6.404/76, além de ser uma sociedade não personificada é o fato de
que este se extingue ao término do empreendimento
Os Consórcios de Empresas e o regime de tributação

I - Introdução

O Consórcio de Empresas, regulado pelos artigos 278 e 279 da Lei 6.404, de 15 de


dezembro de 1976, constitui-se em objeto de grandes questionamentos e discussões
na esfera jurídica e contábil, devida à sua complexidade; uma vez que este tipo de
sociedade admite que as companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo
controle ou não, possam constituir consórcio para executar determinado
empreendimento ou contratação de terceiros. Os membros participantes contratam
em igualdade, consoante a sua participação percentual no empreendimento. 

Sua principal característica, além de ser uma sociedade não personificada é o fato de
que este se extingue ao término do empreendimento. Sendo assim, é usado com
freqüência em execução de obras públicas e grandes projetos de investimento. É
imprescindível que o consórcio tenha prazo determinado previsto, segundo a Decisão
de Consulta SRF no. 272/98, da 6ª Região Fiscal. 

DECISÃO Nº 272 de 20 de Novembro de 1998 

EMENTA: CONSÓRCIO DE EMPRESAS 


1 - Para não ser equiparado a uma pessoa jurídica comum, o consórcio deve ser
constituído para a execução de um único empreendimento e ter prazo de duração
determinado;
2 - A escrituraç ão das operações correspondentes ao consórcio deverá ser feita na
contabilidade da administradora; 
3 - Os consórcios deverão reter e recolher, em CGC/CNPJ próprios, os tributos de fonte
incidentes sobre os rendimentos que pagarem.
4 - O faturam ento do consórcio será feito pela administradora do consórcio, com a
utilização do CGC deste, podendo alternativamente cada consorciada emitir fatura
relativamente à receita que lhe couber no empreendimento.

Segundo Rubens Requião,  "o consórcio  constitui uma modalidade técnica de


concentração de empresas. Através dele podem diversas empresas, associando-se
mutuamente, assumir atividades e encargos que isoladamente não teriam força
econômica e financeira, em capacidade técnica para executar. "

O Consórcio não tem personalidade jurídica própria, mantendo-se a autonomia


jurídica-tributária de cada uma das consorciadas, em outras palavras cabe dizer que as
consorciadas obrigam-se somente às condições previstas no contrato, respondendo
cada uma por suas obrigações, sem presunção de solidariedade. 
Cabe dizer então, que no caso de falência de uma das consorciadas não se estenderá
às demais, subsistindo o consórcio com outras contratantes e os créditos da falida
existentes, serão apurados e pagos conforme previsto no contrato de consórcio. 

No que tange à constituição do consórcio, estava prevista na antiga Instrução


Normativa SRF no, 105/84 (atual IN SRF no. 01, de 12.01.2000), a condicional de que,
se o consórcio pagasse rendimentos sujeitos à retenção na fonte ou auferisse
rendimentos em decorrência de suas atividades, somente nestas condições, estariam
obrigados à inscrição no CNPJ, mesmo que o consórcio não possuísse personalidade
jurídica própria, e inclusive estariam sujeitos ao mesmo regime tributário aplicável às
pessoas jurídicas. Porém, com o advento da IN SRF 14 de 10/02/98, a inscrição no CNPJ
tornou-se obrigatória (IN SRF 1/2000). 

Embora o regime tributário aplicável aos consórcios, seja o mesmo regime aplicado às
pessoas jurídicas, não os obriga nem os autoriza a apresentar a declaração de
rendimentos, conforme o Ato Declaratório Normativo - ADN nº 21, de 08/01/84, e
ainda, na aplicação do referido regime tributário, os rendimentos decorrentes das
atividades (principais e acessórias) desses consórcios devem ser computados nos
resultados das empresas consorciadas, proporcionalmente à participação de cada uma
no empreendimento. 

Já o valor do imposto retido na fonte sobre rendimentos auferidos pelos consórcios


será compensado na declaração de rendimentos das pessoas jurídicas consorciadas, no
exercício financeiro competente, proporcionalmente à participação contratada. 

II - O contrato de consórcio e seu arquivamento na Junta Comercial

O consórcio deve ser constituído mediante contrato, aprovado pelo órgão da


sociedade competente para autorizar a alienação de bens do Ativo não Circulante, do
qual devem constar, segundo o artigo 279 da Lei das S/A: 

 "I - a designação do consórcio se houver; 


II - o empreendimento que constitua o objeto do consórcio; 
III - a duração, endereço e foro; 
IV - a definição das obrigações e responsabilidade de cada sociedade consorciada, e
das prestações específicas; 
V - normas sobre recebimento de receitas e partilha de resultados; 
VI - normas sobre administração do consórcio, contabilização, representação das
sociedades consorciadas e taxa de administração, se houver; 
VII - forma de deliberação sobre assuntos de interesse comum, com o número de votos
que cabe a cada consorciado; 
VIII - contribuição de cada consorciado para as despesas comuns, se houver. 

Parágrafo único. O contrato de consórcio e suas alterações serão arquivados no


registro do comércio do lugar da sua sede, devendo a certidão do arquivamento ser
publicada.  "

A competência para aprovação do contrato de consórcio é regulada pela Instrução


Normativa, do Departamento Nacional do Registro do Comércio – DNRC - nº 74/98,
onde dispõe que nas Sociedades Anônimas, a competência caberá ao Conselho de
Administração, salvo disposição estatutária em contrário ou á Assembléia Geral,
quando inexistir o Conselho de Administração. 

Nas sociedades limitadas, simples, ou outras sociedades contratuais, serão


consideradas as aprovações dos sócios, por deliberação majoritária. E nas sociedades
em comandita por ações será a Assembléia Geral. 

O contrato de consórcio e suas alterações devem ser arquivados na JUNTA COMERCIAL


do Estado, na localidade da sua sede, devendo a certidão de arquivamento ser
publicada com observância do regime das publicações legais, conforme o disposto no
artigo 289 da Lei das Sociedades Anônimas.

Para tanto, serão apresentados na Junta Comercial do Estado os seguintes


documentos, no mínimo:

- capa do processo/requerimento; 
- contrato, alteração ou distrato do consórcio, no mínimo, em três vias, sendo pelo
menos uma original; 
- decreto de autorização do Presidente da República, no caso de consórcio de
mineração;  e, 
- comprovante de pagamento do preço dos serviços. 

III – Regime de tributação

Determina a Instrução Normativa, da Receita Federal do Brasil, no. 834/08 , em seu


arrt. 4º, que o faturamento do consórcio correspondente às operações próprias do
consórcio e será efetuado pelas pessoas jurídicas consorciadas, mediante a emissão de
Nota Fiscal ou Fatura próprios, proporcionalmente à participação de cada uma no
empreendimento. 

Qualquer que seja o critério do faturamento, a contribuição do PIS/PASEP e COFINS


devem ser recolhidas por todas as empresas consorciadas na proporção da sua
receita. 

As empresas consorciadas, são contribuintes de PIS e COFINS , proporcionalmente à


sua participação no consórcio, devendo recolher a contribuição em seus respectivos
nomes e CNPJ, foi o entendimento da SRF, dada pela Solução de Divergência nº 06
Cosit, publicada em 03/06/03, que sanou as dúvidas pertinentes de legislações
anteriores, entre as normas da IN 306/03, no artigo 13 (revogada pela IN 480/2004).
Vejamos a Solução de Consulta abaixo, que também trata a temática sob estudo:

SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 523 de 13 de Novembro de 2007 

EMENTA: CONSÓRCIO ENTRE EMPRESAS NACIONAIS.

O consórcio, constituído nos termos dos arts. 278 e 279 da Lei nº 6.404, de 1976, não
possui personalidade jurídica própria, mantendo-se a autonomia jurídico-tributária de
cada uma das consorciadas. 

CONTRIBUINTE.

Contribuinte do IRPJ e das contribuições sociais decorrentes da atividade consorcial


não é o consórcio, mas sim a consorciada, que, no regime do lucro real, deverá manter
contabilidade que reflita proporcionalmente a do consórcio, segundo sua participação.
Cabe a cada uma das empresas participantes do consórcio apropriar individualmente
suas receitas e despesas, proporcionalmente à sua participação percentual no rateio
do empreendimento, e computá-las na determinação do lucro real, presumido ou
arbitrado, nas respectivas DIPJ, observado o regime tributário a que estão sujeitas no
ano-calendário correspondente, bem como calcular e recolher a contribuição para o
PIS/Pasep e a Cofins.

RECEITA AUFERIDA POR CONSORCIADA COM ALUGUEL DE BENS AO CONSÓRCIO. 

A receita de aluguel auferida pela consorciada, decorrente da locação de bens ao


consórcio, deverá compor a base de cálculo dos tributos e contribuições da consorciada
beneficiária. 

BENS ADQUIRIDOS PELO CONSÓRCIO. 

Os bens adquiridos pelo consórcio compõem o ativo permanente das consorciadas, na


proporção de sua participação. 

EMISSÃO DE DOCUMENTO FISCAL. 

Cabe a cada empresa consorciada, inclusive à administradora, a emissão de Nota-


Fiscal ou documento equivalente, levando-se em conta a participação que detém no
empreendimento. É irrelevante, para este fim, o fato de o consórcio estar obrigado a
ter inscrição própria no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica - CNPJ. 

RETENÇÃO DE TRIBUTOS E CONTRIBUIÇÕES. 

A retenção de que trata o art. 1º da Instrução Normativa SRF nº 480, de 2004, deverá
ser efetuada em nome de cada empresa participante do consórcio, tendo por base o
valor constante da correspondente nota fiscal de emissão de cada uma das pessoas
jurídicas consorciadas. Os valores retidos poderão ser deduzidos, pelo contribuinte
(consorciada), do valor do imposto e contribuições da mesma espécie devidos,
relativamente a fatos geradores ocorridos a partir do mês da retenção.

(...)

No que tange ao Imposto retido na fonte, a fonte pagadora dos rendimentos sujeitos
ao IR-fonte, pagos na atividade de consórcios, são as empresas consorciadas,
responsáveis pelas obrigações tributárias proporcionalmente à participação de cada
uma no empreendimento, mas a retenção e o recolhimento do imposto, bem como os
deveres instrumentais correspondentes, por elas devidos, poderão ser efetuados em
nome e CNPJ do consórcio.  

Para pagamentos efetuados à Órgãos Públicos Federais, no fornecimento de bens e


serviços, a retenção deverá ser efetuada em nome de cada empresa participante do
consórcio, tendo por base o valor constante da correspondente nota fiscal de emissão
de cada uma das pessoas jurídicas consorciadas. (Instrução Normativa RFB n.
480/2004, art. 16). 

IV - Escrituração - Princípios a serem observados: 

A emissão de notas fiscais de comercialização daquilo que há de ser produzido em


consórcio pode ser feita tanto pela administradora do consórcio, fazendo-se referência
à existência deste e à parcela que cabe a outra consorciada, como também podem ser
feitas por ambas às consorciadas proporcionalmente à parcela de receita que cabe a
cada uma, devendo a forma escolhida constar no contrato de consórcio a ser utilizada
uniformemente durante o empreendimento. 

Os registros das operações relativas ao consórcio podem ser feitos pela consorciada-
administradora em livros específicos para efeitos de controle, mas a respectiva receita
bruta que lhe couber deverá ser levada ao seu próprio resultado. É o que está
estipulado na Norma Brasileira de Contabilidade – NBC-T n. 10/20 – Consórcios,
expedida pelo Conselho Federal de Contabilidade – CFC (Resolução CFC n.
1.035/2005), conforme segue o trecho que é destacado a seguir:

10.20.2. REGISTRO CONTÁBIL

10.20.2.1. O Consórcio de Empresas deve registrar os atos e os fatos administrativos


mantendo contabilidade distinta das empresas consorciadas.

10.20.2.2. O saldo apurado na demonstração de resultado do consórcio de empresas


deve ser transferido às empresas consorciadas na proporção prevista no contrato,
podendo as empresas consorciadas efetuarem os registros por operação ou saldo das
contas.

10.20.2.3. Caso as empresas consorciadas forneçam ou adquiram materiais ou serviços


em transações operacionais com o consórcio, estas devem ser tratadas, contabilmente,
como fornecedores ou clientes.

(...)

Devido à autonomia que cada empresa mantém (princípio da autonomia dos


estabelecimentos), apenas a parcela correspondente a participação da consorciada irá
compor a base de cálculo de IRPJ por ela devido, bem como, por óbvio, as despesas ou
custos incorridos pela outra consorciada não podem ser aproveitados. 

A Solução de Divergência no. 207/2001, ,da 7a. Região Fiscal estatui que a
determinação das proporções de receita atribuídas às duas consorciadas, nacional e
estrangeira, que integram um mesmo grupo econômico, não está submetida às regras
do preço de transferência, eis que, entre elas, não haverá operação de importação,
exportação ou aquisição, aplicando-se, apenas as regras gerais relativas à distribuição
disfarçada de lucros. 

O imposto de renda e as contribuições sociais (4,65%), de PIS, Cofins e CSLL, serão


recolhidos individualmente, pelas participantes, observada a participação de cada
empresa consorciada no empreendimento, com utilização no campo próprio do Darf,
do CNPJ destas empresas. 

A Pessoa Jurídica que optar pela tributação com base no lucro presumido poderá
observar o regime de caixa para fins da incidência das contribuições para o PIS/PASEP
e COFINS, desde que utilize o mesmo critério em relação ao IRPJ e à CSLL. 

Dessa forma, uma vez cumprida a obrigação de promover a inscrição no cadastro de


contribuinte do imposto (CCM E CNPJ), caberá ao consórcio o cumprimento de todas
obrigações inerentes aos contribuintes do tributo. 

Assim, ao consórcio impõe-se também a emissão dos documentos fiscais referentes às


operações que promover, bem como a escrituração dos livros, decorrentes de
aquisições por ele realizadas. 

V - Apuração dos Resultados

Cada pessoa jurídica participante do consórcio deverá apropriar suas receitas, custos e
despesas incorridos, proporcionalmente à sua participação no empreendimento,
conforme documento arquivado no órgão de registro, e de acordo com o disposto na
IN RFB no. 834/08. 

VI - Dispensa na entrega das Declarações

Por não se caracterizarem como Pessoas Jurídicas, os consórcios estão dispensados da


apresentação da DIPJ, DCTF e DIRF, a entrega cabe apenas aos consorciados, onde a
tributação que incidir sobre cada consorciado na proporção de sua participação no
rateio do empreendimento deverão ser computadas na determinação do lucro real,
presumido ou arbitrado, nas respectivas DIPJ, observado o regime tributário a que
estão sujeitas no ano-calendário correspondente, conforme pode ser visualizado na
Solução de Consulta 523/2007, acima transcrita.

Da mesma forma, cabe a cada empresa consorciada, por ocasião da apresentação de


suas respectivas DCTF trimestrais, incluir nestas, as informações relativas aos tributos e
contribuições a que se refere o artigo 8º da IN SRF 786/2007, pertinentes aos
resultados auferidos, no trimestre, na proporção da participação de cada uma no
empreendimento objeto do consórcio. 

Por fim, cabe também a cada empresa consorciada incluir nas suas respectivas DIRF,
como pessoa jurídica, as retenções efetuadas e recolhidas, vinculadas nos
empreendimentos em prejuízo da entrega, aos respectivos beneficiários, dos
Comprovantes de Rendimentos pagos e de retenção do IRRF. 

Curitiba, 30 de setembro de 2009. 


(atualizado em 13.07.2010)

Luís C. Pereira
Consultor de tributos

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