ACTA MECHANÌCA ET MOBILITATEM

Vol. 5, N.1 – 2020

ISSN 2525-9350

DETERMINAÇÃO DAS VARIÁVEIS DE EXPOSIÇÃO PARA

UM SISTEMA DE DESINFECÇÃO POR RADIAÇÃO UV

Juan C. Campos Rubioa RESUMO

a
e Luciano M. G. Vieira
a
Universidade Federal de Minas Gerais
Grupo de Tecnologia e Inovação em Materiais
Departamento de Engenharia Mecânica
Av. Antônio Carlos 6627, B. Horizonte (MG)
juan@ufmg.br
Diversas são as formas possíveis de vias de transmissão, disseminação e
consequentemente de contaminação pelo Novo Coronavírus, causador da
COVID-19, tais como, gotículas de saliva, espirros, acessos de tosse, contato
próximo, superfícies contaminadas, entre outros. Sabe-se, por outro lado, que
o vírus sobrevive por algumas horas em suspensão no ar ou até três dias sobre
superfícies, estruturas e objetos de plástico ou aço inoxidável. Assim sendo,
se torna imprescindível limpar adequadamente os ambientes, de forma a
eliminar de maneira rápida os vírus que estiverem nesses locais.
Normalmente, isto é feito, por meio do uso de desinfetantes líquidos, álcool,
Lysoform®, cloro, entre outros. Esta solução apresenta algumas limitantes
relacionadas a sua aplicação, tempo gasto na aplicação, níveis de toxicidade
ao uso imediato, entre outros. Este trabalho, tem por objetivo geral, o
desenvolvimento de um "sistema inteligente de desinfecção por radiação de
luz ultravioleta (UV) de veículos usados no transporte de pacientes
possivelmente infetados por COVID-19. Onde, o uso de radiação ionizante,
evita os riscos de ter locais onde não haverá acesso de fluidos de limpeza
(falta de cobertura de desinfecção). Assim, pode-se citar como objetivo
específico a identificar o tempo e volume adequado para uma maior
eficiência.

Palavra-chave: Desinfecção, Transporte, Luz ultravioleta.

INTRODUÇÃO organismos, potenciais agentes contaminantes, como

Comumente os métodos de desinfecção usam
fluidos relativamente agressivos, e podem ocasionar
algum tipo de irritação nas pessoas que entraram em
contato com o fluido, já seja na aplicação, ou aqueles
que venham a ter contato posterior com o ambiente ou
equipamento, logo após a desinfecção, ou ainda, que a
ação do desinfetante provoque danos aos
equipamentos.
Como relatado em inúmeros trabalhos
científicos, a radiação ultravioleta (UV), permite a
limpeza de germes nocivos, como os relacionados a
vírus. A radiação UV tem comprovada eficiência, por
exemplo, no tratamento de água e esgoto, onde permite
a inativação de uma grande variedade de
microrganismos, com baixas doses e,
consequentemente, baixo custo operacional. No
último tempo, países severamente atingidos pela
última pandemia, como a China e Espanha, vem
usando este tipo de desinfecção por luz UV, para
desinfetar salas e elevadores de centros de saúde.
Desta forma, podem ser eliminados micro-
são os do Coronavírus (Fig. 1).
Conforme alertados pela Sociedade Ásia-
Pacífico de Microbiologia Clínica e Infecção, a
desinfecção por UV é eficaz, entretanto deve ser usada
com cuidado, pois a luz pode causar câncer de pele.
Base a isto, é importante que o local a ser irradiado,
deve ser fechado, para evitar o contato direto com o
pessoal de apoio.
Deste modo, torna-se importante, o
desenvolvimento de um sistema (equipamento), capaz
de realizar as tarefas de desinfecção ou esterilização,
para eliminar micro-organismos, que permita o uso de
radiação ionizante ultravioleta e que tenha como
característica a rapidez, eficiência e segurança na sua
operação.
Diversas são as formas possíveis de vias de
transmissão, disseminação e consequentemente de
contaminação pelo Novo Coronavírus, causador da
COVID-19, tais como, gotículas de saliva, espirros,
acessos de tosse, contato próximo, superfícies
contaminadas, entre outros. Sabe-se, por outro lado,
que o vírus sobrevive por algumas horas em suspensão
no ar ou até três dias sobre superfícies, estruturas e
objetos de plástico ou aço inoxidável.

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Figura 1. Métodos de desinfecção por radiação de luz UV no
transporte público chinês (Fonte: @hectorretamal -
http://u.afp.com/35h6)
Assim sendo, se torna imprescindível limpar
adequadamente os ambientes, de forma a eliminar de
maneira rápida os vírus que estiverem nesses locais.
Normalmente, isto é feito, por meio do uso de
desinfetantes líquidos, álcool, Lysoform®, cloro, entre
outros.
Figura 2. Efeitos e aplicações de ondas eletromagnéticas
Esta solução apresenta algumas limitantes
relacionadas a sua aplicação, tempo gasto na
aplicação, níveis de toxicidade ao uso imediato, entre
outros. Por sua vez, o uso de radiação UV, é um
método rápido, seguro e eficaz para realizar a limpeza
de ambientes, em especial de ambientes e
equipamentos médicos.
Este trabalho, tem por objetivo geral, o
desenvolvimento de um "sistema inteligente de
desinfecção por radiação de luz UV" de veículos
usados no transporte de pacientes possivelmente
infetados por COVID-19. Onde, o uso de radiação
ionizante, evita os riscos de ter locais onde não haverá
acesso de fluidos de limpeza (falta de cobertura de
desinfecção). Assim, pode-se citar como objetivo
específico a identificar o tempo e volume adequado
para uma maior eficiência.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Na segunda metade do século 19, James Clerk
Maxwell, apresenta seu estudo, denominado de “teoria
clássica do eletromagnetismo”, onde se sentaram as
bases para o estudo das ondas eletromagnéticas. Esta
teoria, logo após, foi comprovada por Heinrich Hertz.
Estes estudos permitem afirmar que as radiações
eletromagnéticas, se propagam no espaço e,
caracterizam-se por possuir um campo magnético e
um campo elétrico que se geram mutuamente e se
propagam perpendicularmente um em relação ao outro
e na direção de propagação da energia, transportando
assim energia sob a forma de radiação
eletromagnética. A radiação eletromagnética varia
conforme a frequência da onda. Dependo da faixa de
frequência, estas ondas eletromagnéticas podem criar
diversos efeitos, os quais tem utilizações diversas,
como pode ser vista na Fig. 2. As principais variáveis
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que caracterizam uma radiação eletromagnética são o destruir ou danificar a estrutura RNA viral (parte
seu comprimento de onda e a sua frequência. Quanto externa do vírus, composta justamente por gordura),
maior a frequência, maior a energia associada à sejam suficientes para exterminar, também, esses
radiação eletromagnética. micro-organismos.
As radiações ionizantes são ondas
eletromagnéticas que carregam consigo, energia Tabela 1. Comparação genômica de cepas de SARS-CoV 1
suficiente, para fazer com que os elétrons se e SARS-CoV 2 (Argelles, 2020).
desprendam de átomos e moléculas, alterando sua
estrutura, num processo conhecido como ionização.
Como resultado, os mesmos tornam-se eletricamente
carregados. Os efeitos da radiação ionizante na matéria
podem ser variados, desde nucleares, a químicos,
elétricos e biológicos: causando, por exemplo, quebra
de ligações químicas, mudanças de condutividade,
assim como efeitos biológicos, tais como queimaduras
por radiação ou morte de tecidos, ou ainda, a mutação
do código genético das células, ou ainda, usada em
terapias baseadas na exposição à radiação para o
tratamento do câncer, entre outros. Kovalski et al. (2020) apresentaram valores de
As radiações não ionizantes, por sua vez, são as energia necessária para tornar inativo o vírus, os quais
que não produzem ionizações, ou seja, não possuem podem ser vistos na Tabela 2.
energia suficiente para arrancar elétrons dos átomos do
meio por onde está se deslocando, causando apenas, a Tabela 2. Resumo dos estudos ultravioleta sobre
excitação eletrônica dos átomos (elétron muda de Coronavírus (Kovalski et al., 2020)
orbital) e moléculas, podendo, por exemplo, quebrar
moléculas e ligações químicas.
Efeitos biológicos: Os efeitos biológicos da
radiação ionizante são bastante diversos. Atualmente,
existem, por exemplo, terapias baseadas na exposição
à radiação para o tratamento do câncer.

DETERMINAÇÃO DAS VARIÁVEIS DE

EXPOSIÇÃO
Nesta seção, uma metodologia para determinar o
tempo mínimo de exposição é apresentada. Neste O tempo mínimo de exposição pode ser
sentido, torna-se imprescindível conhecer o determinado pelas equações abaixo. A área equivale a
comportamento do patógeno a ser combatido, quando um terço (1/3) de circunferência e comprimento l = 50
submetido a um ambiente. cm. O valor escolhido para a doses aplicada foi o
Diversos artigos científicos apresentam
maior, D = 2410 J /m2. Assim a intensidade na
resultados referentes à cepa de Coronavírus
superfície da amostra I é aproximada identificada por:
responsável pelo surto anterior de Síndrome
Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV-1) e desta I = PUVC / AExposição = ηP / 2/3(πr) . l (1)
forma prever o comportamento e os métodos de atacar
a esta nova cepa de Coronavírus. Para validar este tipo
Onde:
de comparação, Argelles (2020) apresentou um estudo
η é um fator de atenuação em que η ≤ 1; e
de comparação das sequências genômicas entre as
r é a distância da lâmpada à amostra;
duas variantes mais importantes do Coronavírus PUVC é a potência da lâmpada germicida
(SARS-CoV-1 e SARS-CoV-2). Estas amostras de (normalmente 15 W ou 30 W).
vírus foram coletadas por meio do banco de dados de Observação: lembrando que 1 watt é equivalente a 1
sequências genéticas do National Institutes of Health
joule por segundo (1 W = 1 J/s).
(NIH - USA) (NC 004718 para SARS-CoV-1, NC
Para uma lâmpada germicida convencional de 30
045512 para SARS-CoV-2).
W, apenas cerca de um terço da potência original P é
Os resultados apresentados na Tabela 1, mostram dissipada como radiação UV-C. Além disso,
claramente que, os dois patógenos, são parentes dependendo da localização e do formato da lâmpada,
genômicos próximos, com 79% de identidade de apenas uma fração da radiação UV-C emitida atingirá
sequência, sugerindo que as cepas têm respostas
a superfície. Abandonando uma análise mais
comparáveis à inativação de UV-C. Desta forma,
aprofundada, e realizando uma estimativa
pode-se afirmar que os valores de referência usados conservadora e razoável, pode-se estimar, também,
para determinar a dosagem necessária de luz UV, para

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que ao menos 10% da energia da lâmpada é disponível
no espectro UV (η=10%).
A área exposta AExposição é estimada usando
espalhamento esférico, onde r é a distância da fonte de
UV-C à superfície irradiada.
t≈D/I (seg) (2)
A combinação (1) e (2) produz uma equação para
determinar o tempo aproximado de exposição t para
atingir a dosagem de inativação alvo D = 2410 J/m2
para SARS-CoV-2:
t ≈ 5 min
O valor de tempo de exposição encontrado,
demonstra que utilizando um número maior de
lâmpadas, é possível desinfetar um meio ambiente em
tempo adequado, permitindo que o ambiente fique
disponível para o uso seguro em poucos minutos.
A radiação UV-C tem sido eficaz contra todos os
Coronavírus em diversas investigações publicadas.
Alguns cientistas como Heßling et al. (2020), apontam
valores de limite superior de 10,6 mJ/cm2, calculado
para a dose mediana de redução logarítmica (em meio
de baixa absorbância), assim como, outras estimativas
provavelmente mais realistas, apontem para valores de
3,7 mJ /cm2.
Isto nos leva a acreditar que o valor utilizado nos
cálculos deste trabalho, apresentam alta margem de
segurança.
1m
1,5m
Figura 3. Exemplo de uso de desinfecção por luz ultravioleta
em ambulâncias.
CONCLUSÕES
Como pode ser verificado, neste trabalho, o
controle microbiológico usado para eliminar e impedir
a proliferação de vírus e bactérias, tem sido usado nos
últimos meses, para combater o contágio ambiental
pelo novo Coronavírus. Os procedimentos de limpeza,
com base na aplicação do produto e nebulização,
altamente difundidos, apresentam limitantes quanto ao
tipo de superfície, toxicidade, entre outros.
A luz UV (ultravioleta) é utilizada há muitos
anos para desinfetar ambientes e hospitais em todo o
mundo, o que gerou o termo UVGI – “Irradiação
germicida ultravioleta”. Os fótons energéticos da luz
UV-C quebram as ligações químicas do DNA de vírus
e bactérias, inativando-os ou matando-os.
Este trabalho, além de mostrar está alternativa
tecnologicamente viável, apresentou a determinação
do tempo necessário para garantir a inativação do
vírus, usando valores com estimativas bastante
seguras.
AGRADECIMENTOS
Os autores gostariam de agradecer o apoio do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), e da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).
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