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04/06/2019 Os 100 dias do governo Bolsonaro são marcados pelo desmonte da política de aids – Agência AIDS

11/04/2019 - 14h08
Os 100 dias do governo Bolsonaro são marcados pelo
desmonte da política de aids

A análise de 100 dias de um governo é simbólica, mas prefiro


acreditar que os governos devem ser analisados todos os
dias. Neste artigo, proponho uma reflexão profunda sobre os
100 dias de Bolsonaro à frente do Brasil na ótica da epidemia
de aids e suas coinfecções, como a tuberculose e as
hepatites virais.

A postura catastrófica e preconceituosa do presidente contra


as pessoas vivendo com HIV/aids começou muito antes das
eleições. Em 2010, em entrevista ao extinto programa CQC, da
Band, Bolsonaro disse, em tom de julgamento, que a aids é
problema de cada um. Na época, ainda deputado, sua fala
não teve o peso que deveria ter tido. Eleito presidente,
Bolsonaro mostrou que não era somente uma frase, mas que
seu governo viria para destruir o pouco que resta do que já foi
considerando um “programa de referência para o mundo”.

Nestes 100 dias, a amostra já foi assustadora, pois não só não abriu diálogo com os
movimentos sociais, como tomou decisão causando estragos de difícil solução.

A campanha de Carnaval deste ano foi um desastre, o governo não direcionou a


mensagem e quando falamos com todos, não falamos com ninguém.

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Não direcionar a mensagem de prevenção para a população LGBTQI+ deixou claro que o
atual governo desconsidera os dados epidemiológicos e não reconhece este público como
cidadão. São populações que estão no topo da pirâmide da infecção pelo HIV.

O senhor ministro da Saúde, Henrique Mandetta, teve uma fala equivocada quando quis
restringir o combate a aids a  família. De que família ele está falando? Poderia ser a família
escolar? Família de trabalho? Família de diversão?

Não, o conceito de família deste governo é baseado em épocas remotas onde a guilhotina
poderia ser um caminho para quem discordasse.

A cartilha de homens trans que se encontrava na página no Ministério foi uma das
primeiras vítimas da atual gestão, quando no dia 3 de janeiro foi tirada do ar.  A homofobia
pulsa no sangue de grande parte desta família, digo, governo.

Falar para todos e não para os grupos mais vulneráveis com linguem adequada e direta, é
uma forma de fugir das responsabilidades e não criar desconforto junto aos conservadores.

A troca de gestores no Departamento de Aids, que considero compreensiva, uma vez que
mudou o governo, foi feita sem qualquer diálogo com a sociedade civil, não fomos
chamados para debater se quer um programa de saúde pública contra aids.

No início de març, nos deparamos com outra bomba. O governo suspendeu a distribuição
dos kits de autoteste de HIV, com a justificativa de que a “ Anvisa identificou uma falha no
insumo, o que implica na impossibilidade de interpretação do resultado”. A nota técnica foi
feita sem esclarecimentos. Não sabemos até agora quando este insumo estará disponível
novamente no SUS.

A saga desta gestão contra a luta a favor dos direitos humanos e das pessoas vivendo com
HIV/aids voltou ao centro das atenções nesta semana. O presidente Jair Bolsonaro vetou o
projeto de lei que impedia a desaposentadoria das pessoas com HIV. Estamos falando de
pessoas que, por muitos anos, viveram com a doença e hoje convive com sequelas físicas e
psicológicas em decorrência da aids.

O gosto pela destruição nestes 100 dias também chegou ao Departamento de Aids. Na
última semana, o governo decidiu incluir tuberculose e hanseníase neste espaço.

Acredito que o programa de tuberculose, que há anos deixa a desejar sem uma ação que
venha amenizar a epidemia, não terá solução em uma casa nova. Também não vejo
nenhuma justificativa para incluir a hanseníase no Departamento, afinal não justifica nem
como coinfecção com as pessoas com HIV/aids e nem como forma de transmissão sexual.

O Departamento de Aids se tornou uma fábrica de letrinhas, onde o objetivo é manter no


anonimato   patologias tão importantes, como é a tuberculose e a hanseníase, a serem

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combatida em uma desvairada loucura de um governo sem políticas públicas.

Meu temor nesta sopa de letrinhas não está relacionado a divisão de verbas e sim a uma
atuação política que foi construída durante três décadas. A situação está ligada a
incompetência e a famigerada política ideológica de aparelhamento do Estado.

Com relação as hepatites virais, vale lembrar que o governo foi capaz de enviar
medicamento de hepatite C há um mês do vencimento. Foi uma irresponsabilidade jamais
vista nos últimos ano. Vidas  foram colocadas em risco para encobrir o desastre que está
vivendo a saúde pública.

É importante lembrar que muitos ativistas e mesmos profissionais da saúde que


construíram a luta contra a aids no Brasil, hoje assiste o trabalho caminhando para o
escuro esgoto da ignorância e do conservadorismo.

Todas estas questões não foram discutidos, os verdadeiros segmentos que representam a
luta contra aids talvez não tiveram o contraponto, mas temos que resistir a essa brutal
violência. É preciso resistir às atitudes deste governo nestes 100 dias ou estaremos fadados
a cair em um anonimato onde nossas vozes serão caladas e o verdadeiro ativismo será
esmagado pela máquina governamental, atingindo os direitos fundamentais das pessoas
vivendo com HIV e outras patologias.

* José Araújo Lima Filho é ativista e presidente do Epah (Espaço de Prevenção


Humanizada).

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Morre o Departamento de Aids no Brasil: avanço da necropolítica

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22/05/2019 - 17h14

O Departamento das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais (DIAHV), que já foi num
passado não muito longínquo o Programa Brasileiro de HIV/Aids, morreu no dia 17 de
maio de 2019, num decreto do governo que rearranja o organograma do Ministério da
Saúde.

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17 de maio: mais direitos, menos armários!

17/05/2019 - 14h03

A ciência e o ativismo LGBT, aliado às pessoas vivendo e convivendo com HIV/aids,


foram responsáveis pelos avanços nas medicações, com a descoberta dos
antirretrovirais, e um atendimento humanizado, olhando para o indivíduo além da
infecção, que ajudam muitos a seguir suas vidas.

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O direito de todas as mulheres à maternidade

08/05/2019 - 17h28

Falar de maternidade é falar de um momento de reorganização tanto emocional


quanto social das mulheres em geral e na mulher que vive com HIV é potencializada
essa carga emocional por vários fatores como medos, angústias, julgamentos,
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discriminação, preconceito, etc., o que também afeta esse novo ser social que se
apresenta, trazendo mais culpas e […]

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A intersecção entre gênero, de ciência e HIV/aids para a garantia de


direitos humanos

02/05/2019 - 15h59

Nas últimas décadas, criaram-se diferentes datas e marcos em alusão às distintas


lutas por direitos e pela dignidade humana, o Dia Internacional da Pessoa com
deficiência, o Fim da Violência Contra Mulher, o Dia Mundial de Luta Contra a Aids, e o
Dia Internacional de Direitos Humanos são alguns deles.

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