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RESUMO: " Ritos de morte na lem bra nça de vel hos" concretizou-se como pesq uisa a partir
do desconforto vivido pelas autoras em suas relações profissionais, o nde a questão da morte
era sempretangenciada. Caracteriza-se como u ma investigaçãode inspiração fenomenológica ,
que utilizando-se do relato oral de sujeitos de terceira idade, procu rou recu perar, decodificar
e interpretar os ritos mortuários. Dos depoimentos surgiram as u nidades de sig nificado :
Sentimentos e Sig nificados diante da Morte; A Hora da Morte; A M o rt e Anu nciada ;
Preparativos do Corpo ; A Sentinela; O Cortejo Fúnebre ; A Ú ltima Morad a ; A Volta para
Casa ; A Mort, e Lem brad a ; e sobre elas incidiu a nossa análise . Esta n os possibilitou a
com preensão do vivenciar a morte, refletir as atitudes dos profissionais de saúde ao assistir
o cliente e seus familiares nesta experiência existencial do ser-para-a-morte. A morte
raciona lizada pelo con hecimento científico , im pessoalizada nos cuidados tecnologizados
esconde novos ritos, transm utados pelas novas representações q ue a sociedade construiu .
UNITERMOS: Atitudes pera nte a morte - Rituais fu nerários - Idosos - Eq uipe de assistência
ao paciente
1. I NTRODUÇÃO
Ritos de morte na lembrança de velhos concre req uer, somente, explicações técnico-científicas.
tizou-se como pro posta de pesq uisa a partir da Os ritos presentes em n ossa sociedade mo
verbalização do desconforto vivido pelas autoras , d e rna , m a l g rado tod a tecn o l ogia e ciê n cia
em suas re lações profissionais, onde a q uestão racionalista , ocupam um espaço fu ndamental
da morte era sem pre tangenciad a . Enquanto en mente legítimo e necessário à eufemização da
fermeiras, sem pre nos preocu pou a dificu ldade angústia do finir. Tais ritos têm caráter protetor da
que os profissionais de saúde e m gera l , particu lar sociedade e restau ra m o conj u nto socia l . Apre
mente osde enfermagem , enfrentam ao lida r com senta m-se com o teatralidades, representações'
a morte, em atividades cotidianas. de crenças, sentimentos e emoções q u e esta be- .
A m o rte , o e n frenta mento do limite, é lece m a agregação social , cimentam as relações,
insuportavelmente angustia nte , e esta angústia construindo elos de ligação, pela pa rticipação de
precisa ser domesticada pelas representações todos e de-cada um, numa m esma representação
simbólico-sociais que a m ediatizam , relativizando, socia l .
a estranheza do evento. As interpretações míticas Por considerar a morte e o seu cortej o de ritos
da morte cum prem esta fu nção : esvazia r a a ngús como da ordem do societa l , do pertencimento
tia experimentada dia nte de u m fato ameaçador e grupal , é que tentamos analisá-los como fenômeno
tomaro fe nômeno caótico , familiar. Fazerdele um socia l . A com preensão da morte ê do morrer, e
fato sobre o qual o homem tem alg u m controle não não a sua explicação , coloca-se para o profissi-
Trabalho apresentado como Tema Livre no 46° Congresso Brasileiro de Enfermagem. Porto Alegre, 30 de outubro a 4
de novembro de 1 994.
1 Professora visitante do Departamento de Enfermagem da U FSC. Membro do N úcleo de Pesquisas é Estudos sobre
Quotidiano em Saúde - N U P EQS-SC .
2 Professora da Escola de Enfermagem da U FMG . Membro do N U P EQS-MG.
o nde os fa m i l i a res têm acesso re l ativo. A continuação do lado de cá, onde o j u lgamento vai
im preg naçãoda morte fica distanciada da moradia se processar a partir das obras rea l izadas aq u i , e
e também dos fa m i l iares. As marcas, os sinais da assi m , será conferido ao entra nte u m l ugar.
morte fi ca m assi m re servados a u m l u g a r A repetição é assim u m a maneira de negociar
i m pessoal , longe d o s l ugares de afeto e convívio. com a morte, domesticando a idéia do "nunca
Se a escolha do l ugar fosse a própria casa , por mais".
ser mais fa m i liar, espaço de proxe m i a , por outro
lado as marcas desta morte i m preg nariam este Morte e mana
loca l de lem branças dolorosas, com as quais a
fa mília teria de conviver: À morte e ao morto são conferidos poderes
"Foi aqui nesta sala que ela esteve (. . .) Para mágicos. Em bora um outro sujeito asseg u re não
meus filhos não guardarem aquela hora triste senti r medo.e que o "morto não faz mal a ninguém,
na casa, parece que o hospital é menos duro tenho medo é de vivo': a associação e ntre a morte
para a família". e o poder mágico é representação sempre presente,
Anular ÓS sinais da morte , mobil izá-los na ao longo da história do homem. MAUSS(4} vai
espacial idade não con h ecida e d ista nciada da denom inar "mana" essa força sobrenatural e
vida cotid iana e , para tal , a bri r m ão do conforto i ndefi n ida e faz dela uma categoria de anál ise
emocional· q u e a casa pode proporcionar àquele sociológ ica: .
que morre. A ambigüi9ade é i nsolúvel. Permanecer "O mana não é simplesmente uma força, um
pessoa q u e va i morrer, é quem com u n ica a sua As pessoas não morrem mais em casa e sim
própria morte, aparece no depoimento de D. nos hospitais. E nestes observamos m u ita dificu l
Ra i m u nd a , q u a ndo ela busca , na memóri a , as dade para se a n u nciar a presença da morte. Em
lembranças da morte .de sua avó . gera l , não fica claramente defi n ido a quem cabe
"De manhã ela disse: Olha, prepara que eu vou fazer esta com u n icação. Então ela passa a ocor-
ABSTRACT: This a phenomenologial study rites i n the memory of elderly people , orig inated
from the discomfort lived by the a uthors in their professional life dealing with death and dying .
Verbal i nformation from elderly people was collected with the objective of recovery a nd
decod ing mortuary rites. N i n e themes orig inated from these informations: feel i ngs a nd
meanings i n relation to death , the time of death , the a n n unciation death , the body's
preparations, the watcher, the fu nera l procession , the g rave, the ret u m to home, the
remembered death. The resu lts gave the a uthors opportun ity to understand better the
attitudes of health professionals in ca ri ng for patients and their fam i l ies i n this existencial
experience of to - be - for - death . The death rational ized by scientific knowledge a nd
nonpersonal tech nolog ical care h ides new rites, transmuted by new representations which
the society built.
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