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CENTRO UNIVERSITÁRIO INTA – UNINTA

CURSO: BACHARELADO EM DIREITO


TURMA: 3-12N

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trabalho apresentado pela equipe de alunos


para obtenção de nota para Avaliação Parcial
na disciplina de Direito Constitucional II, em
primeiro semestre de 2018.

Professor Orientador: Dr. Marcus Pinto Aguiar

SOBRAL-CE
MAIO/2018
1

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Trabalho apresentado pela equipe de alunos para obtenção de nota para Avaliação
Parcial na disciplina de Direito Constitucional II, em primeiro semestre de 2018.

NOME MATRÍCULA EMAIL


CINTHIA KENNIA 406066 ckps@hotmail.com

DANIELE FEIJÃO MATOS 2017105272 Danifeijão1@hotmail.com

FLAIRTON MARCELO VALE 2017105560 flairtonhist@gmail.com

ISLANA KELLY A. RODRIGUES 1083740 Islana.direito@gmail.com

LUIZ ARAUJO PONTE JUNIOR 2017105796 Luiz_pontesjr@outlook.com

SARA VASCONCELOS 2017105403 sarahsousavasconcelos@hotmail.com

TAMIRES DE SOUSA VIEIRA 2017102052 thamyreshhh@gmail.com

__________________________________________
Professor Orientador: Dr. Marcus Pinto Aguiar

CONCEITO: _____________

SOBRAL-CE
MAIO/2018
2

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 3
2 CONTEXTO DA INSTITUIÇÃO/EQUIPAMENTO............................................... 4
3 DESCRIÇÃO DA VISITA EXECUTADA.............................................................. 7
4 DO DIREITO FUNDAMENTAL GARANTIDO PELA INSTITUIÇÃO.................. 8
4.1 ACORDOS E TRATADOS INTERNACIONAIS ..................................... 8
4.1.1 O surgimento da Lei Maria da Penha 9
4.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO VALOR
FUNDAMENTAL A PROTEÇÃO DA MULHER ........................................... 11
4.3 DIREITO À VIDA .................................................................................. 13
4.3.1 Direito a uma vida sem violência ......................................... 14
5 RESUTADOS ...................................................................................................... 17
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 18
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 19
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1 INTRODUÇÃO
Flairton Marcelo Vale

A sociedade brasileira é culturalmente regrada por regras sempre rígidas e


positivadas. Faz parte da vivência do brasileiro a positivação de práticas cotidianas.
Há nesse costume uma demonstração de o quanto ainda precisa desenvolver-se
enquanto sociedade moderna.
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 demonstra
claramente isso quando assegura inúmeros direitos fundamentais aos cidadãos
brasileiros e estrangeiros que aqui residem.
É sabido que todos têm o Direito à segurança, à vida, à integridade física e
moral como garantidores de um dos princípios da República que é a Dignidade da
Pessoa Humana. No entanto devido a vários fatores históricos e culturais, a mulher,
que adquiriu inclusive o direito à igualdade material na nova Carta, não teve o texto
constitucional como bem jurídica capaz de assegurá-lhes esses direitos que são
naturais e essenciais para a vida em sociedade.
Os diretos das mulheres é exemplo claro de que o Brasil sempre precisa
positivar demais a sua sociedade para garantir determinadas práticas
essencialmente cotidianas e que deveriam estar socialmente intrínsecas à vida
social, como costumes de uma sociedade desenvolvida e pacífica.
Com isso o presente trabalho trata-se de um relato de experiência vivida
pelos acadêmicos do 3º semestre do curso de direto das faculdades INTA em visita
a uma Instituição que tem como foco principal garantir algum Direito Fundamental.
A Delegacia de Defesa da Mulher de Sobral/CE foi escolhida justamente
pelos pontos supracitados, por ser uma Instituição que surgiu para resguardar os
direitos mais básicos às mulheres, através da Lei Maria da Penha.
Através de entrevista concedida (audiovisual) pelo Inspetor-chefe da
Instituição, o Sr. Dewayne Mesquita Sousa, foi possível averiguar como esse direito
é assegurado a partir desse equipamento, bem como a estrutura física do ambiente
e seus servidores.
Ao final deste trabalho espera-se perceber como se efetivam as políticas
elencadas nos acordos internacionais, no ordenamento jurídico brasileiro, bem como
na jurisprudência e da doutrina na prática do exercício de diário de garantidor de
direito fundamental às mulheres, no caso da delegacia da mulher.
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2 CONTEXTO DA INSTITUIÇÃO/ EQUIPAMENTO

Tamires de Sousa Vieira

No Brasil, a implementação da Lei 11.340/2006 é um dos principais objetivos


do Pacto Nacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, estabelecido pelo
governo federal em 2007. As organizações não governamentais feministas têm
também dedicado esforços no monitoramento da implementação da Lei
11.340/2006. Por exemplo, a Articulação de Mulheres Brasileiras, com o apoio do
Centro Feminista de Estudos (CFEMEA), promoveu, em outubro de 2008, uma
videoconferência dedicada ao “Balanço Nacional da Implementação da Lei Maria da
Penha”, que contou com a participação de pelo menos 17 estados.
Ao contrário da aparente separação entre ‘adoção’ e ‘implementação’, as
lutas feministas e os momentos institucionais examinados neste artigo – da
delegacia da mulher à Lei Maria da Penha – mostram conexões e semelhanças
entre as lógicas dos processos de adoção e de implementação de leis e políticas
públicas. Quer no domínio da formulação/adoção, quer no da implementação,
ocorrem variadas formas de absorção/tradução que restringem e ampliam,
transformam e traem os significados e os escopos imprimidos pelas feministas aos
textos legais e às políticas públicas.
Há 30 anos, São Paulo recebia a primeira Delegacia de Defesa da Mulher do
País. A criação da delegacia especial veio após reclamações de mulheres sobre o
atendimento prestado em delegacias de polícia comuns, onde geralmente eram
ouvidas por homens.
O Secretário de Segurança Pública do estado à época, o atual presidente,
Michel Temer, conta que recebeu um grupo de mulheres que criticava a forma como
eram tratadas nas delegacias. “Quando iam reclamar de agressão de companheiro
ou de violência sexual, recebiam tratamento inadequado, do tipo 'quem sabe a culpa
é sua'”, relembra Temer.
A finalidade da delegacia era receber vítimas de violências físicas e sexuais
cometidas por desconhecidos, com o intuito de dar um atendimento mais
humanizado e acolhedor. A equipe de trabalho, entretanto, foi surpreendida por uma
outra demanda: mulheres agredidas pelos próprios companheiros.
5

“A ideia era oferecer um espaço diferenciado para a mulher, que seria


atendida por outras mulheres, para que ela ficasse mais à vontade para falar a
respeito desse assunto.” A primeira delegada especial para mulheres, Rosmary
Corrêa conta que o equipamento foi a primeira política pública direcionada a vítimas
de violência no Brasil.
As Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), são unidades especializadas da
Polícia Civil para atendimento às mulheres em situação de violência. As atividades
das DDM têm caráter preventivo e repressivo, devendo realizar ações de prevenção,
apuração, investigação e enquadramento legal, as quais devem ser pautadas no
respeito aos direitos humanos e nos princípios do Estado Democrático de Direito
(Norma Técnica de Padronização - DDM, SPM:2006). Com a promulgação da Lei
Maria da Penha, as DDM passam a desempenhar novas funções que incluem, por
exemplo, a expedição de medidas protetivas de urgência ao juiz no prazo máximo
de 48 horas.
A violência familiar é sempre progressiva. Aos primeiros sinais a vítima deve
procurar ajuda. Geralmente as agressões ocorrem nos ambientes familiares. A
delegacia orienta a mulher que sofra procura ajuda antes que se tornem
insuportáveis. Vale lembrar que os estupros em família não ocorrem
repentinamente, o agressor e/ou de alguma forma apresenta sinais. Existem
diversos serviços públicos e privados de ajuda a população, tais como Conselho
Tutelar, Defensoria Pública, Serviços de Psicoterapia e outros que asseguram o
direito das vítimas.

Visando os princípios, direitos e garantias da Constituição Federal de 1988, A


Delegacia da Mulher tem como objetivos:

 Assegurar o combate à violência contra as Mulheres, que tem como


objetivo específico o fortalecimento e a efetiva implementação de
atendimento policial especializado para mulheres;
 Assegurar tranquilidade à população feminina vítima de violência,
através das atividades de investigação, prevenção e repressão dos
6

delitos praticados contra a mulher;


 Auxiliar as mulheres agredidas, seus autores e familiares a encontrarem
o caminho da não violência, através de trabalho preventivo, educativo e
curativo efetuado pelos setores jurídico e psicossocial.

O Ceará registrou 97 casos de violência doméstica nas quatro primeiras


semanas de 2017, uma média de 3,5 casos por dia. Apesar de o número ser
considerado alto, fica abaixo da média diária de anos anteriores; em 2016 foram
denunciadas 25 agressões por dia.
Sobral é responsável por quase metade dos casos de violência contra a mulher
neste início de ano, foram 46 casos de agressões. Em Barbalha, na região Cariri,
foram 14 casos.
A Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) estima que 65% das mulheres
assassinadas no Ceará sejam vítimas de crimes passionais. Ou seja, a cada 10
mulheres mortas, seis são vítimas de feminicídio, cometidos por namorados, maridos
ou ex-companheiros. Os demais assassinatos ocorrem por envolvimento com a
criminalidade ou outros motivos, que se configuram como homicídio.
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3 DESCRIÇÃO DA VISITA EXECUTADA

Daniele Feijão Matos

Aos 2 (dois) dias do mês de maio de 2018, com o objetivo de verificar a política
de atendimento em defesa dos direitos da mulher, nós, alunos do 3º semestre do
curso de Direito noturno, do Centro Universitário INTA, realizamos visita à Delegacia
Especializada de Atendimento à Mulher de Sobral - CE, através dos seguintes
acadêmicos: Daniele Feijão Matos, Luiz Araújo Pontes Júnior, Islana Kelly Araújo
Rodrigues e Flairton Marcelo Vale. Chegando à Delegacia da Mulher, encontramos o
inspetor chefe, Dewayne Mesquita Sousa, a quem agradecemos pela receptividade
e pela valiosa entrevista com relatos do dia a dia da instituição. Indagamos ao
inspetor sobre o funcionamento da Delegacia, informou que tinha consciência das
deficiências existentes, porém fazia o possível para desenvolver suas atividades da
melhor forma. Ato continuo, prosseguimos a entrevista, onde abordamos os
seguintes questionamentos: Lei Maria da Penha e a sua importância para efetivação
dos Direitos Humanos; como proceder em casos de violação do referido diploma
legal; como é realizado o apoio a vitima; como os profissionais lotados na DDM
enxergam as recentes mudanças na lei 11.340/2006; indagamos ainda acerca dos
dados estatísticos da instituição; para concluir a entrevista, passamos a fala ao
entrevistado para considerações finais, e ele o- usou para reafirmar os objetivos da
especializada, dirigiu – se as mulheres - já que estávamos gravando em mídia
digital - para que não deixassem de procurar a Delegacia em casos de violação de
direitos, assegurou que, as mesmas contarão com apoio irrestrito do órgão.
Finalizamos a entrevista. Logo após, o inspetor Dewayne nos mostrou toda a
estrutura física do equipamento, nos apresentou aos demais profissionais lotados
naquela especializada, inclusive a Delegada Titular da DDM, Dra. Adriana Melo
Soares Savi, no entanto, por problemas de saúde da mesma, não foi possível
entrevista-la. Concluindo a visita, restou constatado que a Delegacia atua de forma
satisfatória no enfretamento à violência contra a mulher, e que apesar das suas
limitações físicas e/ou de pessoal, ali é desenvolvido um trabalho imprescindível
para a garantia dos direitos fundamentais e humanos.
8

4 DO DIREITO FUNDAMENTAL GARANTIDO PELA INSTITUIÇÃO

4.1 ACORDOS E TRATADOS INTERNACIONAIS


Cynthia Kênnia Ponte Sousa

O desrespeito aos direitos das mulheres é um fato que ocorre no mundo inteiro.
Não existindo nenhuma distinção de idade, classe social ou grau de instrução, nem
de raça ou orientação sexual. A ideia de que a mulher é sexo frágil, submissa e
inferior ao homem, vem desde os primórdios da civilização. Contudo, essa
concepção ao longo do tempo tem se modificado e a realidade surge com a mulher
buscando ser reconhecida e valorizada no mesmo nível que o homem, sendo ambos
detentores de direitos e que por isso devem ser tratados de forma igualitária como
manda a Constituição Federal brasileira.
Para modificar esse cenário de violência e abusos surgiram vários movimentos
que cobravam a igualdade de direitos tantos sociais quanto fundamentais para
homens e mulheres e, leis que garantissem proteção à sua dignidade.
A violência doméstica e familiar contra a mulher é um fenômeno histórico.
Havia a figura patriarcal, em que o pai era o eixo da família e todos os demais eram
submissos a ele, o homem crescia com a ideia de que também quando chegasse a
fase adulta iria se tornar aquela figura, e sua mulher, consequentemente será
submissa. Assim, a mulher era tida como um ser sem expressão, que não podia
manifestar a sua vontade, e por isso sempre foi discriminada, humilhada e
desprezada.
Por mais que a sociedade lute para não haja desigualdade entre homens
e mulheres, como visa a própria Constituição Federal, ainda é cultivada essa ideia
da família patriarcal e de desigualdade entre os sexos, assim, como consequência a
criança que cresce vendo sua mãe sendo vítima da violência doméstica, e considera
a situação natural.
9

4.1.1 O surgimento da Lei Maria da Penha

A lei Federal 11.340 de combate a violência doméstica e familiar


sancionada em agosto de 2006, foi batizada como Lei Maria Da Penha em
homenagem à professora Maria da Penha Maia que ficou paraplégica por conta do
marido ter tentado assassiná-la.
No ano de 1983, por duas vezes o seu então marido, Marco Antônio
Heredia Viveiros, economista e professor universitário tentou matá-la. Na primeira
vez, Maria da Penha ficou paraplégica, após a simulação de assalto realizada por
seu marido, que lhe deferiu um tiro de espingarda, fazendo com que sua coluna
fosse obstruída. Já na segunda tentativa de morte, o ataque ocorreu quando a vítima
tomava banho e recebeu uma descarga elétrica.
Seguindo atitude de várias outras mulheres vítimas de violência
doméstica, Maria da Penha também denunciou o seu marido pelas agressões que
sofrera, e que lhe deixaram marcas físicas (paraplegia irreversível) e psicológicas.
Em junho de 1983 as investigações pela primeira tentativa de homicídio
foram iniciadas, porém a denúncia só foi oferecida em setembro do ano seguinte
perante a 1ªVara Criminal de Fortaleza.
No dia 31 de outubro de 1986 o réu foi pronunciado e em 1991 foi
condenado pelo Tribunal do Júri. A defesa do réu apelou pedindo a nulidade,
alegando falha na elaboração dos quesitos, e o então recurso foi acolhido e no dia
15 de março de 1996, Marco Antônio foi submetido a um novo julgamento, sendo
imposta pena de dez anos e seis meses de prisão. Novamente a sentença foi alvo
de apelação e o réu continuou recorrendo em liberdade, porém, passados mais de
dezenove anos após da data dos atos, o réu foi preso, e cumpriu dois anos de
prisão.
A repercussão do caso de violência doméstica sofrida por Maria da Penha
foi além do âmbito nacional, inconformada com a omissão da Justiça Brasileira, por
não ter aplicado medidas de investigações e nem mesmo punição ao agressor,
dentro de um prazo razoável de duração do processo, Maria da Penha juntamente
com o Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o comitê Latino-
Americano de Defesa dos direitos da Mulher (CLADEM), formalizou uma denúncia
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contra o Brasil à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, órgão da


Organização dos Estados Americanos (OEA).
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem como principal
tarefa analisar as petições apresentadas, denunciando violações aos direitos
humanos. Possuem legitimidade para formular tais petições qualquer indivíduo,
grupo ou ONG legalmente conhecida por pelo menos um Estado-membro do OEA, a
vítima da violação também tem legitimidade para peticionar.
O governo brasileiro apresentou-se omissão perante as indagações
formuladas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Em 1998 a
Comissão solicitou informações ao estado, não obtendo qualquer reposta. Em 1998,
reiterou, o pedido anterior, novamente sem sucesso. Tornou a fazê-lo em 2000 e
também não obteve qualquer esclarecimento.
Como se passaram mais de 250 dias desde a transmissão da petição ao
Brasil e este não havia apresentado observações sobre o caso, os fatos relatados na
denuncia seriam presumidos verdadeiros. O governo brasileiro teria nova chance
para dentro de um mês se manifestar.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos publicou um relatório
em 16 de abril de 2001, nesse relatório nº 54/2001 é realizada uma profunda análise
do fato gerador da denúncia, e também as falhas cometidas pelo governo brasileiro,
já que é parte da Convenção Americana e Convenção de Belém do Pará e assim
assumiu perante a comunidade internacional o compromisso de implantar e cumprir
os dispositivos constantes desses tratados.
Desse modo, concluiu a Comissão que a ineficácia judicial, a impunidade
e a impossibilidade de a vítima obter uma reparação mostram a falta de
cumprimento do compromisso do governo brasileiro de reagir adequadamente à
violência doméstica do crime até a elaboração do relatório nº54/2001, a impunidade
verificada por conta, principalmente da lentidão da justiça e da inutilização
desenfreada de recursos, revela que o Estado brasileiro, de fato, não aplicou
internamente as normas constantes das convenções por ele ratificadas.
Com a pressão que o governo brasileiro sofreu perante órgãos
internacionais passou a cumprir os tratados e convenções dos quais faz parte. O
projeto inicial da lei Maria da Penha começou em 2002, e foi elaborado com a
participação de 15 ONGs que trabalhavam com a violência doméstica. O Grupo de
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Trabalho Interministerial que elaborou o projeto foi criado pelo Decreto 5.030/2004, e
tinha a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres como coordenadora.
A Deputada Jandira Feghali, relatora do projeto da Lei contra a violência
doméstica realizou audiências públicas em vários Estados, foram feitas alterações e
o Senado Federal substituiu o projeto original (PLC 37/2006), após a Lei nº 11.340
foi sancionada pelo Presidente da República em 07 de agosto de 2006, e está em
vigor desde 22 de setembro de 2006.

4.2 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA COMO VALOR FUNDAMENTAL A


PROTEÇÃO DA MULHER

Sara Souza Vasconcelos

Quando se fala em princípios logo se pensa nas palavras bases, pilares,


alicerces. Aqui pretende-se tratar do principio da dignidade da pessoa humana como
valor fundamental e a delegacia da mulher como garantidora desse principio, que é
violado muitas vezes por meio da violência que pode ser oriunda de terceiros, no
âmbito familiar ou doméstico.
A Constituição da República Federativa do Brasil, garante em seu artigo 1º
inciso terceiro, o princípio da dignidade humana, assim dispondo:
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado
Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.”

Se o ser humano é titular de direitos e garantias, é porque deve ser tratado


dignamente. Observa-se que o inciso terceiro do artigo primeiro da nossa
Constituição trata da dignidade da pessoa humana como dever de proteção do
Estado, centralizando-se na pessoa. O Estado e a ordem jurídica existem em razão
da pessoa humana. Assim sintetiza Vicente Paulo e Marcelo Alexandrino:
12

A dignidade da pessoa humana assenta-se no reconhecimento de duas


posições jurídicas ao indivíduo. De um lado, apresenta-se como um direito
de proteção individual, não só em relação ao Estado, mas, também, frente
aos demais indivíduos. De outro, constitui dever fundamental de tratamento
igualitário dos próprios semelhantes. (PAULO, VICENTE, 2015, p.94)

Se a dignidade da pessoa humana é um direito inerente à pessoa, uma


garantia a todos e um dever do Estado, porque os crimes cometidos contra a mulher
até o ano de 2006 eram tratados em juizados especiais criminais, responsáveis pelo
julgamento de crimes considerados de menor potencial ofensivo?
Primeiramente, deve-se ter em mente que existe um marco histórico a ser
discutido, marco histórico este que tem como referência a Lei 11.340/2006 ou como
é popularmente conhecida, a Lei Maria da Penha.
Antes dessa tão aclamada lei ser criada e sancionada, os crimes cometidos
contra a mulher no ambiente familiar e domésticos eram tratados como crimes de
menor potencial ofensivo porque eram vistos como crimes normais dentro de uma
sociedade machista. Em caso de lesões graves o agressor chegava a pegar um ano
de cadeia em regime fechado, ou então essa pena era convertida em pena
pecuniária, prestação de serviço ou multa.
Depois que a lei 11.340/2006 foi promulgada em 7 de agosto de 2006 a
violência contra a mulher passou a ser tratada em juizados especializados de
violência doméstica e familiar contra mulher, como por exemplo, a Delegacia
Especializada no Atendimento à Mulher. Se antes dessa lei não havia a previsão de
decretação de prisão preventiva ou flagrante do agressor, depois dela com a
alteração do parágrafo 9º do artigo 129 do Código Penal, passa a existir essa
possibilidade, desde que seja constatado que a vida da mulher corre risco.
Esta assim elencada no código penal:

“Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.

Violência Doméstica (Incluído pela Lei nº 10.886, de 2004).


§ 9o Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão,
cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido,
ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade: (Redação dada pela Lei nº 11.340, de
2006)
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 3 (três) anos. (Redação dada pela Lei
nº 11.340, de 2006)”.
13

A Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher tem como objetivo


assegurar essa dignidade da pessoa humana, que é inerente a todos, e se ela é
inerente a todos, pertence também à mulher, não só ao homem. Já que
convenciona-se a dignidade da pessoa humana como um princípio do próprio
Estado.

4.3 DIREITO À VIDA

Islana Kelly Araújo Rodrigues

O direito à vida é um direito fundamental assegurado a todas as pessoas, a


Constituição Federal (BRASIL, 1988) assim diz, “Art. 5º - Todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade.”
Segundo Alexandre de Moraes (2009), “o direito à vida é o mais fundamental
de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à existência e exercício de
todos os demais”. Nesse sentido, pode-se observar que os demais direitos estão
intimamente ligados ao direito de estar vivo, no entanto existir não basta, é preciso
ter uma vida, na qual seus direitos não sejam violados, cuja integridade física, moral,
intelectual, patrimonial estejam preservados.
Direito à vida significa que uma pessoa não pode ser torturada, exposta a
humilhações e nem ter sua existência ceifada por outra pessoa. No entanto, até o
ano de 2006 as mulheres não pareciam estar resguardadas pela mesma Carta
Magna que defendia a igualdade entre homens e mulheres, uma Constituição que
diz que TODOS são iguais perante a lei.
Contudo, conquistar esse espaço, esse reconhecimento tem seus obstáculos e
lutas, a começar pelas leis que garantem a sua proteção e integridade como um
todo.
14

4.3.1 Direito a uma vida sem violência

O histórico de luta das mulheres nos mostra que nem sempre seus direitos
eram garantidos. Foram necessários movimentos feministas que reivindicassem
essas garantias essenciais à vida com dignidade. Nesse sentido, foram criados
mecanismos que asseguram às mulheres proteção especial, considerando a
fragilidade que possuíam em relação ao sexo masculino.

O que preconiza a LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.


Art. 1o Esta Lei cria mecanismos para coibir e prevenir a violência
doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da
Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Violência contra a Mulher, da Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher e de outros tratados
internacionais ratificados pela República Federativa do Brasil; dispõe sobre
a criação dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; e
estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar.

Art. 2o Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação


sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde
física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.

Art. 3o Serão asseguradas às mulheres as condições para o exercício


efetivo dos direitos à vida, à segurança, à saúde, à alimentação, à
educação, à cultura, à moradia, ao acesso à justiça, ao esporte, ao lazer, ao
trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência
familiar e comunitária.
§ 1o O poder público desenvolverá políticas que visem garantir os
direitos humanos das mulheres no âmbito das relações domésticas e
familiares no sentido de resguardá-las de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
§ 2o Cabe à família, à sociedade e ao poder público criar as
condições necessárias para o efetivo exercício dos direitos
enunciados no caput.

Um desses meios utilizados pelo poder público a fim de propiciar a garantia dos
direitos protegidos pela Lei 11.340/06 é a Delegacia de Defesa da Mulher. Uma
delegacia especializada que busca efetivar os direitos adquiridos na Lei Maria da
Penha.
As Delegacias de Defesa da Mulher integram a estrutura da Polícia Civil, que é
um órgão do Sistema de Segurança Pública de cada estado e tem como finalidade o
atendimento especializado à mulher em situação de violência de gênero.
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A DDE da cidade de Sobral, no estado do Ceará, atende mulheres da


comunidade e de distritos adjacentes, buscando levar a punição dos agressores dos
inúmeros casos existentes de violência contra a mulher, assim como inibir novos
casos. Na delegacia é feito o atendimento às vítimas, orientação sobre os
procedimentos e encaminhamento para órgãos especializados conforme a
necessidade. Assegurando que os direitos da mulher sejam protegidos, sobretudo o
direito à vida e sua integridade.
As Delegacias têm competência para receber denúncias e apurar crimes, por
exemplo: lesão corporal; ameaça; estupro e atentado violento ao pudor; maus-tratos;
abandono de incapaz; constrangimento ilegal; sequestro e cárcere privado; sedução;
aborto provocado por terceiro; corrupção de menores; rapto; vias de fato; corrupção
de menores; importunação ofensiva ao pudor; induzimento; instigação ou auxílio ao
suicídio; lesão corporal seguida de morte; posse sexual mediante fraude; atentado
ao pudor mediante fraude; assédio sexual; ato obsceno; supressão de documento;
crimes de injúria, calúnia e difamação.
Se algum desses crimes for relatado em qualquer delegacia (não apenas na
DDE) deve-se fazer o Registro de Ocorrência: R.O, após o R.O., solicitar as
Medidas Protetivas de Urgência. Não basta fazer o R.O. para estar sob as medidas
protetivas. Isto só ocorre a partir do momento que o juiz concede tais medidas.
As Medidas Protetivas de Urgência que a mulher em situação de violência
poderá requerer na delegacia para serem encaminhadas ao juiz são: suspensão da
posse e do porte de armas; afastamento do agressor do lar, domicílio ou local de
convivência com a mulher; proibição de se aproximar da mulher em situação de
violência, como também de seus familiares e testemunhas; proibição de fazer
contato com a mulher, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de
comunicação; proibição do agressor de frequentar determinados lugares que a
mulher frequenta; restrição ou suspensão de visitas aos filhos; prestação de
alimentos provisionais ou provisórios;
As Medidas Protetivas de Urgência que o Juiz poderá aplicar a fim de proteger
a mulher: encaminhá-la, junto com seus filhos, a programa oficial ou comunitário de
proteção ou atendimento: centros de referência e atendimento à mulher, casas-
abrigo, etc.; determinar o retorno da mulher e seus filhos para casa, após o
afastamento do agressor; determinar o afastamento da mulher de sua casa, sem
16

prejuízo dos direitos relativos a bens, guarda dos filhos e alimentos; determinar a
separação de corpos.
A DDE da cidade de Sobral, no estado do Ceará, atende mulheres da
comunidade e de distritos adjacentes, buscando levar a punição dos agressores dos
inúmeros casos existentes de violência contra a mulher, assim como inibir novos
casos. Na delegacia é feito o atendimento às vítimas, orientação sobre os
procedimentos e encaminhamento para órgãos especializados conforme a
necessidade. Assegurando que os direitos da mulher sejam protegidos, sobretudo o
direito à vida e sua integridade.
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5 RESULTADOS
Luiz Araújo Pontes Júnior

Este trabalho de pesquisa pôde identificar a necessidade da sociedade


brasileira a positivação dos costumes mais necessários a uma cultura de paz. O
ordenamento brasileiro é rígido e acumula cada vez mais regras que poderiam ser
garantidas com o texto supremo da Constituição, mas devido a inúmeros fatores, há
sempre a necessidade de legislar e firmar práticas que garantam direitos
fundamentais no Brasil.
A mulher precisa constantemente de proteção pela carga histórica de
desvantagens e submissão ao patriarcalismo aculturado pelo Brasil. A sociedade
brasileira historicamente é machista e tratou a mulher como ser submisso às
vantagens masculinas.
Os tratados internacionais de Direitos Humanos foram cruciais para assegurar
à mulher direitos básicos que garantem a Dignidade da Pessoa Humana. Os Direitos
Humanos são universais e surgiu no painel internacional, por se tratar de uma busca
de todas as nações. Os documentos que dão base a esses direitos foram de suma
importância para garantir tais direitos às mulheres.
A lei Mara da Penha é um marco para o ordenamento jurídico brasileiro e
mundial quanto à proteção à mulher na vida doméstica. É sabido de sua importância
e sua rigidez. É um texto moderno e que serve inclusive de referência para o direito
internacional.
A Delegacia de Defesa da Mulher é uma Instituição que garante a força da Lei
Maria da Penha quanto a tratar exclusivamente desses direitos ameaçados. A
Instituição surgiu com a lei e ambos garantem a força necessária para efetivamos
dos direitos femininos.
A Delegacia de Defesa dos Direitos da Mulher é uma instituição séria que
busca dar celeridade aos processos que envolvem violência doméstica. Por ter
exclusividade legislacional e público específico, a Delegacia da Mulher dá celeridade
processual a investigação dos casos que envolvem a Lei Maria da Penha, sendo por
isso a efetivadora desses direitos.
A Instituição procura dentro das dificuldades de pessoal, físico e social
garantir um bom atendimento às vítimas de violência domésticas atendidas por ela.
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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Luiz Araújo Pontes Júnior

Este trabalho buscou apresentar a luta pelos direitos das mulheres, ligado
intrinsicamente à Lei Maria da Penha. Verificou-se que a Delegacia da Mulher é a
instituição estruturante de todo o trabalho jurídico de proteção às vítimas de
violência doméstica.
A Delegacia de Defesa dos Direitos da Mulher é uma Instituição séria que
procura garantir a efetivação da Lei Maria da Penha, bem como dar celeridade aos
processos investigativos e de recepção de denúncias.
A Instituição procura sempre fazer seu papel na sociedade de tornar a
legislação efetiva e válida, bem como assegurar a mulheres e transexuais direitos
fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988.
O trabalho serve também de base para futuros estudos vinculados à Lei Maria
da Penha; os Direitos Fundamentais e a Delegacia de Defesa dos Direitos da
Mulher.
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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.

BRASIL. Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. Brasília, 2006

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Violência


intrafamiliar: orientações para a prática em serviço. Brasília: Ministério da Saúde,
2001. (Caderno de Atenção Básica, 8)

M. FLÁVIO. Curso de Direito Constitucional: 2. Ed. São Paulo: Thomson Reuters


Brasil, 2018.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 24.ed. São Paulo: Atlas, 2009.
p.35.

PAULO, V.; MARCELO, A.; Direito Constitucional Descomplicado: 14. Ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método: 2015.

RIO DE JANEIRO. Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos.


Uma vida sem violência é um direito das mulheres. RJ/SEASDH: Rio de Janeiro,
2013.

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