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NOVO PLURAL 12 – LIVRO DO PROFESSOR

Português • 12.º Ano • Ensino Secundário


TESTES SUMATIVOS
NOME: ________________________________________________________________________ ANO: ______ TURMA: ______ N.º ______

TESTE 2 Bernardo Soares, Livro do Desassossego + poesia do heterónimo Álvaro de Campos Unidade 1

GRUPO I
Apresente as respostas de forma bem estruturada.

Texto A
Leia o texto.
Descendo hoje a Rua Nova do Almada, reparei de repente nas costas do homem que a descia adiante 1
de mim. Eram as costas vulgares de um homem qualquer, o casaco de um fato modesto num dorso de
transeunte ocasional. Levava uma pasta velha debaixo do braço esquerdo, e punha no chão, no ritmo de
andando, um guarda-chuva enrolado, que trazia pela curva na mão direita.
Senti de repente uma coisa parecida com ternura por esse homem. Senti nele a ternura que se sente 5
pela comum vulgaridade humana, pelo banal quotidiano do chefe de família que vai para o trabalho, pelo
lar humilde e alegre dele, pelos prazeres alegres e tristes de que forçosamente se compõe a sua vida, pela
inocência de viver sem analisar, pela naturalidade animal daquelas costas vestidas.
Volvi os olhos para as costas do homem, janela por onde vi estes pensamentos. A sensação era
exatamente idêntica àquela que nos assalta perante alguém que dorme. Tudo o que dorme é criança de 10
novo. Talvez porque no sono não se possa fazer mal, e se não dá conta da vida, o maior criminoso, o mais
fechado egoísta é sagrado, por uma magia natural, enquanto dorme. Entre matar quem dorme e matar uma
criança não conheço diferença que se sinta.
Ora as costas deste homem dormem. Todo ele que caminha adiante de mim com passada igual à
minha, dorme. Vai inconsciente. Vive inconsciente. Dorme, porque todos dormimos. Toda a vida é um 15
sonho. Ninguém sabe o que faz, ninguém sabe o que quer, ninguém sabe o que sabe. Dormimos a vida,
eternas crianças do Destino. Por isso sinto, se penso com esta sensação, uma ternura informe e imensa por
toda a humanidade infantil, por toda vida social dormente, por todos, por tudo.
É um humanitarismo direto, sem conclusões nem propósitos, o que me assalta neste momento. Sofro
uma ternura como se um deus visse. Vejo-os a todos através de uma compaixão de único consciente, os 20
pobres diabos homens, o pobre diabo humanidade. O que está tudo isto a fazer aqui? […]
Desvio os olhos das costas do meu adiantado, e passando-os a todos mais, quantos vão andando nesta
rua, a todos abarco nitidamente na mesma ternura absurda e fria que me veio dos ombros do inconsciente
a quem sigo. Tudo isto é o mesmo que ele; todas estas raparigas que falam para o atelier, estes 25
empregados jovens que riem para o escritório, estas criadas de seios que regressam das compras pesadas,
estes moços dos primeiros fretes – tudo isto é uma mesma inconsciência diversificada por caras e corpos
que se distinguem, como fantoches movidos pelas cordas que vão dar aos mesmos dedos da mão de quem
é invisível. Passam com todas as atitudes com que se define a consciência, e não têm consciência de nada,
porque não têm consciência de ter consciência. Uns inteligentes, outros estúpidos, são todos igualmente 30
estúpidos. Uns velhos, outros jovens, são todos da mesma idade. Uns homens, outros mulheres, são do
mesmo sexo que não existe.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares, (recolha e transcrição dos textos de Richard Zenith,
Lisboa, Assírio & Alvim, 1998.

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1. Considerando os dois primeiros parágrafos do texto, explicite a representatividade do elemento do real quotidiano observado,
acidentalmente, pelo narrador.

2. «Volvi os olhos para as costas do homem, janela por onde vi estes pensamentos.» (l. 9)
Explique o valor da metáfora sublinhada, relacionando-a com o tema geral do texto.

3. Caracterize a visão da cidade transmitida pelo narrador no último parágrafo, apontando três características dos transeuntes
observados.

Texto B
Leia o texto.
1 Acordo de noite, muito de noite, no silêncio todo.
São – tictac visível – quatro horas de tardar o dia.
Abro a janela diretamente, no desespero da insónia.
E, de repente, humano,
5 O quadrado com cruz de uma janela iluminada!
Fraternidade na noite!
Fraternidade involuntária, incógnita, na noite!
Estamos ambos despertos e a humanidade é alheia.
Dorme. Nós temos luz.
10 Quem serás? Doente, moedeiro falso, insone simples como eu?
Não importa. A noite eterna, informe, infinita,
Só tem, neste lugar, a humanidade das nossas duas janelas,
O coração latente das nossas duas luzes,
Neste momento e lugar, ignorando-nos, somos toda a vida.
15
Sobre o parapeito da janela da traseira da casa,
Sentindo húmida da noite a madeira onde agarro,
Debruço-me para o infinito e, um pouco, para mim.
Nem galos gritando ainda no silêncio definitivo!
Que fazes, camarada, da janela com luz?
20
Sonho, falta de sono, vida?
Tom amarelo cheio da tua janela incógnita...
Tem graça: não tens luz elétrica.
Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!
25-11-1931
Álvaro de Campos – Poesia, ed. de Teresa Rita Lopes, Lisboa, Assírio & Alvim, 2002.

4. Indique três sentimentos desencadeados no sujeito poético pelas diversas sensações experimentadas ao acordar, sozinho, na
noite e revelados nas estrofes um a quatro.

5. Interprete a apóstrofe final do poema, integrando-a na poética de Álvaro de Campos.

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GRUPO II
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta.
Escreva, na folha de respostas, o número do item e da letra que identifica a opção escolhida.

Leia o texto.

Sozinhos na cidade
Os modelos de organização em sociedade têm evoluído de múltiplas formas, mas o impacto dessa 1
mutação na estrutura da família é um dos dados mais interessantes e, porventura, mais pertinentes naquilo
que vai exigir de respostas no futuro ao Poder Político. Em 30 anos, cada família portuguesa perdeu,
sensivelmente, um elemento. Em 1983, de acordo com a Pordata, a dimensão média dos agregados
domésticos privados era de 3,3 pessoas e em 2015 tinha baixado para as 2,5 pessoas. A oferta de habitação 5
pensada no século passado não é, por isso, nem de perto nem de longe condizente com as necessidades
manifestadas hoje por quem quer fixar-se numa cidade.
Vejamos, por exemplo, o que está a acontecer no Porto, urbe fervilhante que atrai cada vez mais gente
mas que se esvazia de forma permanente de moradores. Os números revelados, na mais recente reunião
municipal, pelo vereador da Habitação, Manuel Pizarro, são alarmantes no que traduzem de mudança de 10
paradigma. Não há casas municipais suficientes para tantas pessoas sós ou idosas. E a Câmara não tem
como dar resposta a este fenómeno: das 13 mil habitações tuteladas pelo Município, mais de três mil têm
só um morador. E metade dos candidatos em lista de espera para uma nova habitação, grande parte dos
quais de idade avançada, quer residir num T1. A juntar a isto, não há T0 disponíveis e as condições de
acesso a muitas destas casas não cumprem os requisitos mínimos em matéria de mobilidade. «Temos de 15
mudar a política de habitação social. Isto é muito mais urgente do que a reabilitação dos bairros.» Tem
toda a razão Manuel Pizarro.
O adiar da maternidade, o número crescente de divórcios e o envelhecimento têm sido fortes
impulsionadores da desagregação do conceito de família. E se o câmbio na norma está a ter este reflexo na
20
habitação social, não devemos isolá-lo de uma outra realidade que, em particular nas grandes cidades do
litoral, tem ganho dimensão: os agregados familiares mais numerosos não conseguem encontrar
habitações a preços convidativos, uma vez que o mercado da construção ou reabilitação, por estar
fortemente alicerçado na lógica do arrendamento, prefere apostar nos T0 e nos T1, por garantirem uma
maior taxa de rentabilidade. 25
Que estamos mais sozinhos e mais velhos não é novo. O que é novo é a urgência de lançarmos um
debate amplo, que responsabilize todos e não apenas as autarquias, sobre a forma como queremos e vamos
viver nos próximos anos. No fundo, decidir que papel está destinado, nas grandes cidades, ao parque
habitacional, seja ele público e privado: um que seja integrador e harmonioso; ou um que contribua para
cavar ainda mais fundo o fosso que separa o centro da periferia. 30

As pessoas das suas raízes.


Pedro Ivo Carvalho, in Jornal de Notícias, 18.01.2017.

1. As mudanças que se têm verificado a nível de organização em sociedade


(A) não interferem na estrutura familiar.
(B) merecem especial atenção pelo impacto causado na estrutura familiar.
(C) resolvem-se mais facilmente a nível familiar.
(D) não se refletiram, praticamente, na estrutura familiar.

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2. A acentuada diminuição do agregado familiar nas últimas décadas reflete-se


(A) nas relações familiares.
(B) no equilíbrio da economia familiar.
(C) no desajuste entre a oferta e a procura de habitação adequada.
(D) na dificuldade em encontrar casa na cidade.

3. «Temos de mudar a política de habitação social.».Esta afirmação do vereador da Habitação da Câmara do Porto justifica-se
(A) pela desorganização em que se encontra atualmente a atribuição de casas municipais.
(B) pelos problemas causados pelo envelhecimento da população.
(C) pelos problemas levantados pelas mutações da estrutura familiar, para os quais os serviços camarários não têm resposta.
(D) pela grande procura de casas municipais, não conciliável com a oferta.

4. A propósito do parque habitacional, o penúltimo parágrafo


(A) dá continuidade à reflexão apresentada no parágrafo anterior.
(B) apresenta uma outra vertente do problema.
(C) dá uma visão global da problemática abordada.
(D) apresenta uma visão pessimista do futuro.

5. O texto apresenta a seguinte estrutura:


(A) introdução (primeiro parágrafo), desenvolvimento (2.º e 3.º parágrafos) e conclusão (último parágrafo).
(B) introdução (ll. 1 a 3), desenvolvimento (2.º e 3.º parágrafos) e conclusão (último parágrafo).
(C) introdução (primeiro parágrafo) e desenvolvimento (2.º e 3.º e 4.º parágrafos).
(D) introdução (primeiro parágrafo), desenvolvimento (2.º parágrafo) e conclusão (3.º e 4.º parágrafos).

6. «O mercado da construção ou reabilitação, […] prefere apostar nos T0 e nos T1, por garantirem uma maior taxa de
rentabilidade. » (ll. 22-24)
Nesta frase, a última oração estabelece com a anterior uma relação de
(A) condição.
(B) comparação.
(C) causa.
(D) consequência.

7. Na expressão «O adiar da maternidade» (l. 18), a palavra sublinhada tem a função de


(A) modificador do nome.
(B) complemento do nome.
(C) modificador do verbo.
(D) complemento direto.

8. «Que estamos mais sozinhos e mais velhos não é novo.» (l. 25)
Divida e classifique as orações da frase transcrita.

9. Identifique o antecedente do pronome que inicia esta frase. «Isto é muito mais urgente do que a reabilitação dos bairros». (l. 16)

10. «As pessoas das suas raízes.» (l.30)


Reescreva esta frase final do texto, inserindo o predicado que o contexto permite subentender.

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GRUPO III
Lugar de encontros e desencontros, a cidade é uma criação humana cuja atração não para de crescer. No entanto, a par das
janelas de oportunidades que abre, ela também pode fechar, dramaticamente, a porta do coração dos seus habitantes.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de 200 e um máximo de 300 palavras, defenda um ponto de vista
pessoal sobre a problemática apresentada.
Fundamente o seu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustre cada um deles com, pelo menos, um
exemplo significativo.

OBSERVAÇÕES:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente dos
algarismos que o constituam (ex.:/2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre 200 e 300 palavras –, há que atender ao seguinte: – um desvio
dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido; – um texto com extensão
inferior a 80 palavras é classificado com zero pontos.
FIM

GRUPO I
A
1. O narrador fixa a atenção «nas costas vulgares de um homem qualquer », um anónimo e modesto transeunte. A visão deste homem banal
provoca no narrador um sentimento próximo da ternura, que advém do facto de ver nele, não apenas o visível, mas a vida imaginada,
quotidiana, familiar, humilde, simples, com as alegrias e tristezas próprias da humanidade, que vive sem necessidade de analisar a vida.
2. A metáfora da janela aplicada às costas do homem é muito sugestiva. Ao olhar aquelas costas, o narrador abre o pensamento para além
daquilo que vê nelas: umas costas que dormem. A partir daqui, a reflexão alarga-se a todos os transeuntes representados naquele homem e a
todos os que vê à volta dele, é a reflexão sobre o adormecimento coletivo, a inconsciência não pensante dos homens vulgares, que nada
podem contra o destino, a humanidade vista como «um pobre diabo», um conjunto de «fantoches movidos por cordas».
3. O tema central do fragmento é, sem dúvida, a questão da consciência, do pensamento que se impõe obsessivamente à sensação. No texto,
o narrador parte da sensação visual (a visão de umas costas e dos transeuntes) para o pensamento, e vê, nos outros, uns seres capazes de
viver sem pensar, inconscientes. É a problemática levantada pelo ortónimo, que sofre da dor de pensar, que lhe anula o sentir. Assim, os
transeuntes deste texto de Bernardo Soares são semelhantes à «ceifeira» do poema de Fernando Pessoa ortónimo.
Quanto ao narrador, que afirma no início «Quando outra virtude não haja em mim, há pelo menos a da perpétua novidade da sensação
liberta...» é afinal, contraditoriamente, aquele que está amarrado ao pensamento e, por isso, a sensação liberta será aquela que o conduz a
esse imparável pensamento.
B
4. Ao acordar, sozinho, na noite, o sujeito poético experimenta diversas sensações (auditivas: o silêncio, o tictac; visuais: a janela iluminada do
vizinho e a luz da sua própria janela; e tácteis: a humidade da noite), que desencadeiam os seguintes sentimentos:
– «desespero» pela «insónia» que o despertou;
– surpresa, júbilo e depois curiosidade, face à luz de uma janela, que assinala a presença de outro ser humano em vigília como ele;
– «fraternidade» e comunhão com esse outro ser, acordado como ele, naquela hora de solidão noturna.
5. O poema termina com a apóstrofe «Ó candeeiros de petróleo da minha infância perdida!», que remete, de imediato, para um sentimento de
nostalgia da infância irremediavelmente perdida pelo sujeito poético. Esta nostalgia, desencadeada pela visão da luz de um candeeiro de
petróleo como os da sua infância, é um tema que Álvaro de Campos partilha com Fernando Pessoa ortónimo.

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Português • 12.º Ano • Ensino Secundário


TESTES SUMATIVOS

GRUPO II
1. (B)
2. (C)
3. (C)
4. (B)
5. (A)
6. (C)
7. (B)
8. «Que estamos mais sozinhos e mais velhos» – oração subordinada substantiva completiva; «não é novo» – oração subordinante.
9. Antecedente: «mudar a política de habitação social».
10. Que separa as pessoas das suas raízes.
GRUPO III

1. O texto de opinião deve ser organizado, segundo um plano prévio, em três partes: introdução, desenvolvimento, conclusão.
2. O texto deve:
– respeitar o tema;
– mobilizar informação adequada;
– explicitar um ponto de vista sustentado em argumentos e respetivos exemplos;
– usar um discurso valorativo (juízo de valor implícito ou explícito);
– apresentar coerência, coesão, clareza e concisão.
3. Ao nível da correção linguística e da organização lógico-conceptual, deve apresentar:
– correta marcação e proporcionalidade dos parágrafos (introdução e conclusão muito breves, desenvolvimento mais extenso);
– encadeamento lógico das ideias, com uso dos conectores;
– adequação do vocabulário;
– correção ortográfica e sintática;
– pontuação adequada.

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