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16/10/2020 ConJur - Opinião: A metamorfose da inspeção do trabalho na Covid-19

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OPINIÃO

A metamorfose da inspeção do trabalho


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em tempos de crise da Covid-19
16 de outubro de 2020, 10h36 Imprimir Enviar CARÁTER EXCEPCIONAL
Inspeções virtuais garantem
Por Carlos Alberto de Oliveira fiscalização de prisões apesar da
Covid
 Ouvir: Opinião: A me 0:00
35 MIL INFECTADOS
Juízes da execução penal mantêm
estabilidade em prisões na epidemia

OPINIÃO
Em cenário marcado pelas restrições trazidas pela pandemia da Covid-19,
Pragmácio Filho: O mito da
muitos profissionais precisaram sair do seu ambiente de trabalho para
recontratação de empregados
prestar serviços no aconchego de seu lar. Isso ocorreu tanto na iniciativa
privada quanto na pública. AMBIENTE JURÍDICO
Obstrução de fiscalização ambiental
É sabido que cabe à União organizar, manter e executar a inspeção do trabalho.
constitui crime
O grande desafio é como executar a fiscalização do trabalho em tempos de
pandemia, quando trabalhadores e fiscais fazem parte do grupo de risco e estão
em casa. Facebook Twitter

Considerando que a maioria das ações fiscais realizadas pelos inspetores do


Linkedin RSS
trabalho ocorre no chão de fábrica (para usar uma expressão histórica), este
artigo se propõe a evidenciar a
reinvenção na forma de fiscalizar dos
auditores fiscais do trabalho,
nomenclatura utilizada no Brasil em
contrapartida à inspeção do trabalho
no cenário mundial.

A MP 927, posteriormente
transformada na Lei 14.020/2020,
trouxe inovações com a finalidade de
abrandar os impactos da pandemia e frear a transmissão do vírus,
principalmente com restrições à circulação de pessoas, possibilitando o
trabalho remoto ou home office.
https://www.conjur.com.br/2020-out-16/opiniao-metamorfose-inspecao-trabalho-covid-19 1/4
16/10/2020 ConJur - Opinião: A metamorfose da inspeção do trabalho na Covid-19

Na maioria das vezes, as irregularidades existentes nas empresas são


constatadas pelo visita do auditor fiscal à empresa quando é feita a verificação
do local, a entrevista aos empregados, a análise da documentação e a
constatação de inconsistência entre o documentado e a realidade dos fatos.

Assim é que irregularidades concernentes ao vínculo empregatício são


facilmente constatadas pela presença do trabalhador sem o devido registro em
livro, ficha ou sistema eletrônico. De igual forma, as irregularidades com
relação ao descanso e a sobrejornada são facilmente observadas pela análise do
controle de jornada, inclusive pela constatação de prestação de serviços quando
o colaborador deveria descansar ou estar fora do ambiente de trabalho.

As questões supramencionadas ficaram mais complexas com a pandemia, mas


não impossíveis de fiscalizar, vez que a empresa possui várias obrigações de
prestar informações a sistemas eletrônicos, mesmo antes da pandemia, como
exemplo informação através do e-social.

Com o intuito de apoio às empresas, visando, sobretudo, à manutenção de


emprego e renda, as figuras do suspensão do contrato e redução de jornada
tiveram novos contornos, inclusive com reflexo na esfera previdenciária,
através do benefício emergencial para as empresas que aderiram o modelo.

Infelizmente novas fraudes surgiram como redução fictícia na jornada de


trabalho e suspensão do contrato com permanência do trabalhador na empresa,
assim como realização de horas extras incompatíveis com a finalidade da
norma que é o da diminuição da exposição do empregado à contaminação pelo
vírus.

Um dos desafios que a inspeção do trabalho teve de enfrentar foi como


identificar os casos de irregularidades, fiscalizando remotamente. Entretanto o
desafio foi superado, vez que o cruzamento das informações de vários sistemas
obrigatórios, bem como o surgimento de vários aplicativos usados
conjuntamente com os existentes, possibilitou a fiscalização indireta.

A bem da verdade, a fiscalização trabalhista já usa o expediente da fiscalização


indireta quando a empresa é notificada para apresentação de documentos
através de notificação eletrônica ou até mesmo por correspondência com aviso
de recebimento, como exemplificadamente nos casos de comprovação de cotas
de aprendizagem e PCD, fiscalização eletrônica do FGTS.

Através da notificação para apresentação de documentos, a empresa fica


obrigada não somente a apresentar os documentos expressamente solicitados
como também a prestar informações ao agente fiscal que emitiu a notificação.
A omissão de documentos e a falta de informações são passíveis de autuação e
fiscalização reiterada.

Os instrumentos internos como Sistema Jornada e Khronus possibilitam,


através de inserção de arquivos do registro eletrônico de ponto, calcular a
jornada dos trabalhadores, produzindo diversos arquivos com indícios de
irregularidades desde excesso de jornada como ausência de descanso ou sua
concessão em desacordo com a norma posta.

https://www.conjur.com.br/2020-out-16/opiniao-metamorfose-inspecao-trabalho-covid-19 2/4
16/10/2020 ConJur - Opinião: A metamorfose da inspeção do trabalho na Covid-19

Através do sistema denominado Pentaho, é possível saber não somente os


casos de suspensão e redução de jornada que geraram o benefício emergencial
assim como se há indícios de fraudes na sua concessão. Também através do
Pentaho se consegue verificar se houve demissões de PCD em desacordo com
a legislação.

O fim da carteira de trabalho física para uma grande maioria de trabalhadores,


dando lugar à carteira de trabalho digital, bem como o advento do e-social, que
já exige de grande parte das empresas a prestação de informações de
movimentação de admissão, demissão, folha de pagamento e informações
sociais através de meio eletrônico, cria a possibilidade de ação fiscal à
distância e com maior precisão.

Todavia, nem todos os auditores estão em trabalho home office, continuando a


fiscalização no local e subsidiando os casos suspeitos verificados na
fiscalização indireta e que exige a presença do auditor no meio ambiente de
trabalho.

As inovações no mundo do trabalho reinventam a fiscalização trabalhista, mas,


por maiores que possam ser, jamais tirarão o fiscal de agir próximo ao
trabalhador, pois alguns ilícitos trabalhistas só podem ser constatados com a
verificação in loco, como no caso do combate às condições análogas à de
escravo e ao trabalho do menor, bem como outras formas de trabalho indigno.

Por fim, a inspeção do trabalho se instrumentaliza no mesmo passo em que o


Direito avança e metamorfoseia-se para acompanhar as mudanças no mundo
do trabalho para que haja a correta aplicação das normas ao caso concreto,
proporcionando equilíbrio na relação entre capital e trabalho.

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Carlos Alberto de Oliveira é auditor fiscal do trabalho, especialista em Direito e Processo do


Trabalho pela Ematra-RJ e em Negociação Coletiva pelo convênio UFRGS/MPOG.

Revista Consultor Jurídico, 16 de outubro de 2020, 10h36

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16/10/2020 ConJur - Opinião: A metamorfose da inspeção do trabalho na Covid-19

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