Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CENA UM
EXT, TARDE. CINZENTA
Perolet anda pela rua. Sente que é seguido. Vira-se bruscamente. Mão no
bolso verifica o revólver, com cuidado. Com temor ele se direciona ao
local onde o vulto se escondeu. Alternadas imagens entre Perolet se
aproximando e a coluna onde, supostamente, o bandido se escondeu.
Quando cruza a coluna não há mais vulto, apenas um menino(a) que
vende qualquer coisa. O(a) menino(a) entrega-lhe uma mensagem.
Perolet a lê em off:
PEROLET
“Cruel Perolet, amanhã ou eu depois vou te matar”.
Assustado, suor frio pelo rosto. Olha a menina(o) que o olha. Leva a mão
como se fosse pegar o revolver. Pega uma moeda do colete e dá para o(a)
menino(a). Perolet olha para os lados procurando, e sai, rapidamente].
CENA DOIS
INT. RESIDÊNCIA. TARDEY
Perolet chega à sua casa. A mulher o recebe, arrumando o avental.
IRMA
Chegou cedo hoje.
Perolet vai ao armário e bebe qualquer negócio. Depois, abre uma gaveta
e pega uma carta. A mulher lê:
Irma fica assustada e fica sem fala. Perolet pega a carta da mão dela,
amassa a carta e joga-a no lixo. Detalhar o lixo. Encosta-se no armário,
olha para ela e cruza os braços. Não sabe o que fazer.
CENA TRÊS
INT. CASA E ESCRITORIO DE PEROLET.
Perolet está no escritório. Mexe em algumas caixas, cuidadosamente.
Tocam a campainha, ele estremece, quase deixa cair uma caixa. Irma
2
IRMA
Olha!
PEROLET
Perolet. Sabemos que jogou nossa primeira carta no
cesto de arame. Você está brincando com fogo.
Perolet se levanta.
Estão me vigiando.
E querem me matar.
CENA QUATRO
INT. DELEGACIA. DIA
Plano geral: Conversa de Perolet com um policial que faz anotações. O
policial sorri, divertido, enquanto anota.
PEROLET
... E digo para o senhor que... eu...
desconfio até da polícia, eu confesso...
até da polícia.
POLICIAL
Tranquilize-se, senhor Perolet... fique calmo...
PEROLET
...mas eu não sou um espião... nunca fui...
POLICIAL
amistoso
3
Tranquilize-se...
fica melhor para o senhor que se vá para casa.
Descanse... tudo está anotado...
descanse um pouco...
PEROLET
Mas o senhor tem que entender...
POLICIAL
Não faça caso dessas peças de mau gosto...
isso deve ser coisa de algum de seus concorrentes.
O senhor é uma pessoa conhecida...
bem conceituado... é natural que haja invejosos...
CENA CINCO
INT. CASA DO PEROLET. NOITINHA
Perolet e Irma tomam um chá. Ela o serve.
PEROLET
Irma... Resolvi que vou me tranquilizar.
Assim querem os policiais.
Então, vou me tranquilizar...
IRMA
Mas o que é que eles disseram?
PEROLET
Disseram que tudo aquilo não era nada... com eles,
não é nada mesmo...
dizem que...
suspira.
IRMA
balança a cabeça, ansiosa
PEROLET
Ora, ora... tenho lá medo desses valentões?
IRMA
É uma bomba! É uma bomba.
CENA SEIS
INT. CASA DE PEROLET
Perolet está de cama ou deitado em um sofá. Irma entra apertando as
mãos.
IRMA
Tudo bem com você?
PEROLET
Agora estou melhor.
IRMA
Os policiais levaram a tal bomba para análise...
PEROLET
Alguma novidade, alguma pista?
IRMA
Não se levante...
Trouxeram o laudo enquanto você se recuperava.
PEROLET
Então... ?
IRMA
A bomba consta de um envoltório enegrecido,
de lata, contendo...
cara de muxoxo...
5
PEROLET
Mousse de chocolate?
IRMA
... o laudo continua...
A bomba é totalmente comestível e,
portanto, inócua.
Na verdade é uma bomba de chocolate...
dessas de padaria...
Querido...
Fade.
CENA SETE
Inspetor, um tanto nazista, chega na casa de Perolet. Vê o número da
casa. Bate. Entra. Perolet recebe um inspetor. Aperto de mãos. O
inspetor nota IRMA e de vez em quando lança um olhar no corpo da
mulher. A cada olhar ela se cobre com mais pudor.
PEROLET
Inspetor?
KIRINO
Kirino... Inspetor Kirino
KIRINO
batendo os calcanhares, novamente.
Minha senhora.
PEROLET
Nessa grande cidade...
tem alguém que deseja me matar.
O inspetor anota.
KIRINO
Inimigos! O Sr. tem inimigos?
PEROLET
Não! Não acredito que tenha.
Mas eu sei que essas pessoas querem me fazer mal e
estão informados de todos os meus movimentos.
KIRINO
Prometo trabalhar nesse caso.
sai. Da rua.
CENA OITO
EXT. RUA
Perolet sai do escritório, topa com outro pacote, maior ainda. Olha para
todos os lados. Tomadas do rosto. Leva o pacote para dentro. Fica na
dúvida se abre ou não. Hesita em cortar os barbantes e no fim, nervoso
joga o pacote pela janela. Do alto ele vê que uma cobra sai de lá de
dentro. Perolet parte para a rua. Pega as cartas que tem no bolso e joga
uma a uma para a rua. De repente para em uma carta. E, abre
atentamente. Imagem do panfleto:
7
CENA NOVE
INT. AGÊNCIA JUVE
Perolet bate na porta com força. A porta se abre. Entra numa sala escura.
O detetive está sentado com os braços sobre a mesa cheia de papeis.
Perolet o cumprimenta. Senta-se.
DETETIVE
uma pessoa muito estranha aos padrões da normalidade. Entre o sinistro
e o amalucado, se possível, estrábico, dono de uma voz de locutor antigo.
Sou o diretor da Agência
e faço minha propaganda através de circulares
enviadas a comerciantes
que figuram no guia telefônico.
PEROLET
Entendo... entendo... O senhor tem razão.
Isso é lógico e honradamente comercial.
DETETIVE
Eis o ponto.
Pausadamente
Eis - o – ponto.
Mas o Sr. Veio aqui para contar sua história.
DETETIVE
Essa bomba... não era uma caixinha com areia?
PEROLET
8
DETETIVE
Se fosse verdadeira o senhor não estaria aqui.
PEROLET
Gaguejando.
DETETIVE
Sorrindo.
PEROLET
Simples e profundo!
DETETIVE
O mestre Holmes bem se orgulharia de seu aluno.
Quem seria beneficiado com a sua morte?
Quem herdaria seus bens?
PEROLET
9
Minha esposa.
DETETIVE
Ela tem vinte anos a menos que o senhor.
O homem que o seguiu,
que escreveu a ameaça no tal papel era, certamente,
o amante dela.
Mas, é claro,
isso tudo ainda é especulação de minha parte.
Estou apenas jogando com os dados. Senhor Perolet,
a investigação completa lhe custará dois mil francos.
Mil à vista e mil na entrega do culpado à polícia.
Eu o levarei em pessoa,
como prova de minha capacidade e eficiência.
PEROLET
num sopro de voz, enquanto tira o talão do bolso
Preenche um cheque.
Tem certeza?
KIRINO
Finalmente pegamos você, Archibaldo Gomes.
Agora você não escapa.
DETETIVE
Acho que não terei tempo de utilizar isto,
meu caro senhor.
KIRINO
enquanto se efetua a prisão.
10
Senhor Perolet,
tenho a satisfação de comunicar que...
descobrimos seu misterioso inimigo.
O golpe que estava tramando...
uma secreta armadilha.
Este homem, Archibaldo Gomes,
português de nascimento e vigarista internacional,
esteve empregado, durante certo tempo,
numa companhia de seguros,
tendo a oportunidade de informar-se de todos...
todos os contratos recusados por motivo de doença
cardíaca do proponente.
Pesquisou o senhor. Inventou então,
o ardil de perseguição
e da tal ”agressão indireta”,
oferecendo seus serviços de detetive particular às
mesmas pessoas depois de atemorizá-las com
ameaças.
Tudo o que ele pode ter dito ao senhor é pura
invenção para chocá-lo...
e, matá-lo.
As vítimas sempre acharam que esse homem era um
extraordinário detetive devido às suas lógicas
conclusões...
sempre resolvendo os casos a que se propunha
resolver...
tudo bandalheira.
PEROLET
suspirando aliviado.
Como descobriram?
KIRINO
Nada demais.
Interceptamos algumas de suas cartas pelo Correio. A
sua senhora nos deu mais detalhes sobre mensagens e
bilhetes...
e foi ela quem deu a pista definitiva:
ela nos falou do oferecimento de serviços que a
Agência Juve ofereceu ao senhor.
Tivemos, então, a certeza de estar na presença do
autor da “agressão indireta”,
procurado pela polícia internacional.
Uma discreta vigilância fez o resto.
11
PEROLET
entregando o cheque ao Inspetor.
KIRINO
Senhor Perolet, fique tranquilo.
Não quero seu dinheiro.
Este é o meu trabalho, do qual muito me orgulho. Os
homens de coração de cristal, como o senhor... são
aqueles que têm vida mais longa.
CENA 10
Perolet volta mais contente para a residência. Entra.
PEROLET
depondo suas coisas na mesa.