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É fato que, ao longo das décadas, os direitos trabalhistas de certo modo avançaram.

Também é fato que esses avanços no sentido dos direitos e das garantias ao trabalhador
não foram graças a classe empresarial, mas sim resultado da luta de movimentos
sindicais e de trabalhadores. Nos últimos anos, houve até um crescimento expressivo
das vagas formais de emprego no Brasil, no entanto as más condições de trabalho
também cresceram no mesmo período. Diversas pesquisas indicam baixos salários, alta
rotatividade e acidentes no cotidiano dos trabalhadores. Para os especialistas, essa
situação faz parte de um cenário global com a precarização das relações trabalhistas.
Consequência disso são as constantes greves e rebeliões sociais que sinalizam a
insatisfação de trabalhadores com essa situação.
Segundo os especialistas, existem duas grandes forças por detrás da precarização: a
primeira delas é a multiplicação de ofertas de vagas de emprego que pagam muito mal,
exigem a intensificação da força de trabalho e ofereçam más condições aos
funcionários, fazendo com que as empresas passem a contratar mais pessoas nessa
lógica para obter ganhos de produtividade às custas da saúde do trabalhador. Essa
primeira força é um modelo de exploração da força de trabalho que ainda existe, porém
vem perdendo força desde 2013 e não é mais a principal arma do capitalismo contra o
trabalhador na disputa para gerar mais lucro, o que nos leva a segunda força por detrás
da precarização: o ataque aos direitos trabalhistas conquistados ao longo de décadas.
Como exemplo dessa segunda força, durante o governo de Michel Temer, tramitaram no
congresso nacional diversos projetos de lei, cuja essência era precarizar o trabalho por
intermédio da retirada dos direitos trabalhistas. Entre os 27 projetos, estavam aqueles
que visavam diminuir a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho de 16 para
14 anos, que impediam que o trabalhador reclamasse na justiça do trabalho o
reconhecimento dos seus direitos, caso ele se sentisse lesado pelo empregador, que
procuravam universalizar a terceirização e que buscavam a impor a lógica daquilo que
tinha sido negociado na hora da contratação sobre o que já está legislado e garantido na
CLT.
A atual política que prevalece no país tem muito a ver com a mudança estrutural que o
país está atravessando e que em grande medida está sendo orquestrada pelo estado para
garantir os interesses das grandes empresas e dos grandes bancos. Exemplo disso é uma
das frases mais emblemáticas dita pelo presidente Jair Bolsonaro em uma entrevista,
durante a disputa pela eleição presidencial: “O trabalhador terá que escolher entre mais
direito e menos emprego, ou menos direito e mais emprego”.
Considerando-se que a sociedade capitalista é dividida em classes sociais, como já dizia
Karl Marx, é fato que essas classes têm interesses antagônicos. Pode-se afirmar então
que conflitos e a precarização no mundo do trabalho são causados basicamente pela
divergência desses interesses entre as classes.
Ainda segundo Karl, a tecnologia atua em dois sentidos: se de um lado ela fomenta a
concorrência entre os capitais, do outro ela reduz os custos através da diminuição da
força de trabalho necessária para gerar mais lucro, ou seja, menos mão de obra e
consequentemente mais desemprego, mais terceirização e mais fragmentação da classe
trabalhadora.

É neste sentido que a indústria 4.0 vem se estabelecendo no país e não dá pra falar dessa
transformação sem falar de tecnologia. A internet e o uso de dispositivos móveis, como
smartphones, tablets e notebooks transformaram para sempre a sociedade e o mercado
de trabalho. Mais uma vez, boa parte dos trabalhadores será substituída por máquinas de
altíssima tecnologia e o mercado será restrito somente àqueles com capacitação e
conhecimentos técnicos específicos, como cientistas de dados, construtor de jornadas de
realidade aumentada (RA) e realidade virtual (RV), desenvolvedores de software de
inteligência artificial (IA) e empreendedores de nanotecnologia. O restante dos
trabalhadores vai ficar no setor de serviços de maneira totalmente precarizada, sob uma
nova forma de escravidão com o “verniz” do empreendedorismo. Estes são os
motoristas, entregadores e outros profissionais que já atuam nos aplicativos, porém sem
nenhum vínculo empregatício com a empresa que possa garantir seus direitos. Quanto
ao meio ambiente, a suposta sustentabilidade da indústria 4.0 pode ser considerada
como outra grande farsa do capitalismo, com uma nova forma de produzir e
oferecer serviços aos países do hemisfério norte, desenvolvidos o verniz da indústria
verde e socialmente responsável. Já nós nos países do hemisfério sul do planeta,
continuaram nos serviços de exploração de minérios, submetidos ao desmatamento e a
todo tipo de ação predatória. Se por um lado o capitalismo se organizou para vencer a
luta contra o proletariado, por outro a classe trabalhadora submetida e condições sub-
humanas vem se fragmentando, cada vez mais. Como se não bastasse a incidência da
indústria 4.0, tem-se um governo que produz leis severas retirando direitos históricos e
essenciais, sem se preocupar com um futuro que seja sustentável e justo para todos os
seus cidadãos.

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