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2.2.

Quimioterapia contra protozoários intestinais

2.2.1. Amebíase

A amebíase é uma doença com grande importância epidemiológica – estima-se


que 10% da população mundial está infectada por algum tipo de Entamoeba - que tem
por agente etiológico e, consequentemente como causador da patologia, o protozoário
Entamoeba histolystica. Esse protozoário possui duas morfologias, a forma de cisto
(infectante) e a de trofozoíto. Além disso, esse parasita pode desempenhar uma relação
de comensalismo, e assim viver harmonicamente com o organismo humano, ou
provocar invasões teciduais, o que acarretará a diarreia aguda no hospedeiro, que é o
quadro clínico mais comum da doença (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).
Nesse contexto, para se conseguir pensar em uma terapia contra tal protozoário,
é preciso que se entenda onde eles agem e quais são as implicações de suas ações no
organismo, as quais consistem na lize de células da mucosa do cólon. Desse modo, a
infecção por E. histolytica ocorre em decorrência da ingestão de cistos (forma infectante
do protozoário) via oral, pela ingesta de água e comida contaminadas, ou via fecal. Essa
via de transmissão também implica no modo de diagnóstico da doença, que em grande
parte dos casos ocorre pela procura do parasito nas fezes do doente. Além disso, como
complicação da doença, o trofozoíto pode conseguir perfurar a musoca intestinal,
chegando ao fígado pela circulação portal, causando abcesso hepático (MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 2004).
Segundo essa perspectiva, na quimioterapia para a amebíase, temos alguns
fármacos que se diferenciam de acordo com o local e o tipo da infecção. Tendo isso em
vista, pode-se dizer que temos dois fármacos principais, o metronidazol (ou tinidazol
que se diferencia do metronidazol apenas pelo tempo de meia vida) e a diloxanida. Eles
são usados em conjuntos nos pacientes em que se observa quadro de amebíase com
disenteria aguda e para amebíase hepática. Porém, o fármaco diloxanida também pode
ser usado separadamente nos casos em que paciente apresenta amebíase intestinal
crônica ou naqueles pacientes que são portadores do parasito (sem desenvolver qualquer
tipo de doença) (RANG e DALE, 2012).
Nesse sentido, o primeiro fármaco (metronidazol) atua destruindo os trofozoítos
da E. histolytica, mas não conseguem ter ação nos cistos do protozoário. Esse fármaco é
usado para a quimioterapia da amebíase invasiva do intestino ou do fígado, sendo
transformado pelo próprio parasito em um composto que tem a capacidade de danificar
o DNA da E. histolytica, o que provoca o processo de apoptose da célula parasitária
(RANG e DALE, 2012).
Em relação às propriedades farmacocinéticas do metronidazol, Goodman e
Gilman, em 2012, descreveram:

Há preparações de metronidazol disponíveis para administração oral,


intravenosa, intravaginal e tópica. O fármaco é em geral completa e
prontamente absorvido após a ingestão oral, alcançando concentrações
plasmáticas de 8-13 µg /mL em 0,25-4 h após uma única dose de 500 mg (as
concentrações eficazes médias do composto são de 8 µg /mL ou mais para a
maior parte dos protozoários e bactérias suscetíveis). Uma relação linear
entre a posologia e a concentração plasmática aplica-se a doses entre 200-
2.000 mg. Doses repetidas a cada 6-8 h resultam em algum acúmulo do
fármaco; a depuração sistêmica é dependente da dose. A meia-vida
plasmática do metronidazol é de aproximadamente 8 h, e seu volume de
distribuição se aproxima do observado para a água corporal total. Menos de
20% do fármaco liga-se às proteínas plasmáticas. Com exceção da placenta, o
metronidazol penetra bem nos tecidos e líquidos corporais, incluindo as
secreções vaginais, o líquido seminal, a saliva, o leite materno e o LCS.

Por fim, quanto aos efeitos adversos do medicamento para o organismo humano,
pode-se observar desconforto do aparelho intestinal, cefaleias, neuropatias ocasionais e
gosto amargo/metálico na boca. Além disso, quando ingerido com álcool, pode provocar
náuseas e rubor (DAVID e GOLAN, 2009).
Além do metronidazol, tem-se a diloxanida - conhecida também por furoato de
diloxanida – que é o fármaco utilizado para o tratamento do paciente assintomático e
para aqueles doentes com amebíase intestinal crônica. Esse medicamento é usualmente
administrado de forma profilática. Assim como o metronidazol, a dilaxanida também
possui ação amebicida direta nas formas trofozoítas, o que faz com que esse fármaco
afete o encistamento e, assim, o modo de transmissão da doença. Por fim, como
propriedades farmacológicas, cita-se a administração por via oral e, como efeito adverso
mais comum, tem-irritações gastrointestinais (RANG e DALE, 2012).

2.2.2. Giardíase
A giardíase é, também, uma infecção por protozoário que invadem o intestino e,
assim como a amebíase, é uma doença de grande importância epidemiológica, visto que
é considerada uma mazela prevalente em todo mundo. Nesse contexto, as vias de
transmissão do parasita flagelado Giardia lamblia, que também existe nas formas de
cito e trofozoíto, se dá por meio da ingestão de cistos pelas vias oral e fecal. Além disso,
pode-se cita como quadro clínico da infecção diarreia, dor abdominal, podendo
complicar para anorexia em virtude da má absorção nutricional (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004).
Outra forma de explicar a sintomatologia foi descrita por Goodman e Gilman,
em 2012, que descreveram a doença em três síndromes:

A infecção por Giardia resulta em uma de três síndromes: um estado de


portador assintomático, uma diarreia aguda autolimitada ou uma diarreia
crônica. A infecção assintomática é a mais comum; esses indivíduos
excretam cistos de Giardia e funcionam como fonte de novas infecções. A
maior parte dos adultos com infecção sintomática desenvolverá uma doença
autolimitada aguda com fezes aquosas e de mau cheiro, distensão abdominal
e flatulência. Entretanto, uma significativa proporção desses indivíduos
desenvolverá uma síndrome de diarreia crônica (mais de duas semanas de
doença) com sinais de má absorção (esteatorréia) e perda ponderal.

Quanto à forma de tratamento, para a giardíase também se recomenda o


metronidazol e o tinidazol, fármacos os quais os mecanismos de ação, os efeitos
adversos e a farmacocinética já foram discutidos por esse estudo no tópico acima
(tópico da amebíase). Por fim, no quadro abaixo estão representados os fármacos
indicados pelo Ministério da Saúde, em 2004, pelo seu Guia de Bolso de Doenças
Infecciosas e Parasitárias.
Figura 1: Quadro de fármacos sugeridos pelo Ministério da Saúde para a quimioterapia da giardíase.

Fonte: Ministério da Saúde, 2004.


Referências Bibliográficas

BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As Bases


Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12ª ed. McGraw-Hill. Rio
de Janeiro, 2012.

RANG, H. P.; DALE, M. M.; RITTER, J. M. et al. Farmacologia. 7ª ed. Elsevier. Rio
de Janeiro, 2012.
GOLAN, D. E.; TASHJIAN, A. H.; ARMSTRONG, E. J. et al. Princípios de
Farmacologia: A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2ª ed. Guanabara
Koogan. Rio de Janeiro, 2009.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Doenças Infecciosas e Parasitárias, Guia de Bolso. 4ª ed.
Distrito Federal, 2004.

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