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MUDANÇAS NA VIDA E NO CORPO: VIVÊNCIAS DIANTE DA GRAVIDEZ NA

PERSPECTIVA AFETIVA DOS PAIS.

 Pesquisa em formato de entrevista realizada na escola de enfermagem da UFRJ com 06


mães e 03 pais;
 Objetivo: Descrição e análise das vivências dos pais durante a gravidez sob a
perspectiva da afetividade
 Os pesquisadores levaram em conta que a gestação tem grandes repercussões na família
e na construção de laços afetivos;

 E é considerado um momento de crise evolutiva que normalmente acontece no


desenvolvimento;

 É considerado crise pq gera uma resposta adaptativa na vida dos pais, uma vez que
surgem novos fatos, naturais ou acidentais;

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Vivendo intensas mudanças na vida:

Planejamento:

São 3 relatos que têm como principal assunto o planejamento de ter o filho:

1° relato) O casal tinha desejo de ter um filho e nasceram trigêmios;

2° relato) O casal não esperava ter filhos no momento, a gravidez foi uma surpresa, mas foi
aceita com felicidade;

3° relato) também sem planejamento, chegaram a pensar em aborto, mas mudaram de ideia e o
pai ficou torcendo para ser menina.

Conclusão dos relatos: O momento de gerar os filhos é um enfrentamento muito comum, e nos
casos nos quais não houve planejamento, havia um desejo prévio, consciente ou inconsciente.

A aceitação da gravidez pela família foi uma preocupação constante entre os entrevistados:

Nos relatos o rapaz diz não saber se ia aceitar a gravidez por medo da reação do pai dele, pq ele
ainda estava namorando, já a mulher ficou com medo do julgamento da mãe dela e das irmãs;

Influências sobre o relacionamento: Os casais passaram a viver juntos, ou seja, mesmo com a
gravidez inesperada, houve a antecipação da formação de um núcleo familiar.

As atitudes e respostas masculinas diante da gestação podem variar, indo desde entusiasmo à
resistência ou mesmo ambivalência. No relato o pai diz que não ficou muito comovido, diz que
ficou feliz mas não deslumbrado

Mesmo com as reações sendo diferentes, as preocupações e as mudanças de planos de vida


são comuns: No relato a mãe fala que eles não têm emprego bom, que não sabia como ia lidar
com a filha sem uma boa estrutura, mas mesmo assim a filha seria bem vinda

Preocupação com recursos para o sustento e criação dos filhos: Uma mãe diz que vai ser
complicado e planeja deixar o bebê com a filha mais velha de 15 anos para poder trabalhar. A
mãe de trigêmeos não sabe o que fazer para sustentar os três filhos, como dar uma boa educação
e qualidade de vida.

Incerteza quanto à aceitação e participação ou o medo da desaprovação e


descontentamento por parte dos familiares: Fabiana engravidou e não podia contar com o
companheiro. Houve também conflitos familiares que com o tempo foram resolvidos.

Maria terminou o namoro durante a gravidez pq o companheiro queria o aborto. Ela relata que
foi difícil contar para os pais mas eles apoiaram a filha.

Problemas emocionais com a família e com o parceiro; Quando o núcleo familial se encontra
estruturado, os desafios e enfrentamentos são encarados de forma mais branda; Já quando essa
estrutura não foi constituída e a mulher se encontra na condição de solteira, os enfrentamentos
passam a ser divididos por poucos ou nenhum membro da família.

Distanciamento espacial ou afetivo: Em dois relatos, os discursos dizem que a família aceitou
a gravidez, mas ao mesmo tempo houve algum tipo de distanciamento;

Vivendo intensas mudanças no corpo:

No que diz respeito às mudanças corporais, o que ganhou destaque no discurso das mães foram
as modificações na aparência: crescimento do abdome e inchaço; e as alterações como enjôos e
vômitos;

- Um relato diz que se a grávida sentiu-se como tal pelas mudanças, ainda discretas, em seu
corpo;

- Outra dizia sentir dor nas costas por causa do barrigão;

- O marido de uma mãe expressou sua preocupação em ‘estar junto’ e, por conseguinte, suas
próprias sensações de desconforto compartilhadas com as de sua esposa;

Atualmente, o homem participa e se envolve mais ativamente no período gestacional da


companheira. Ele vem se fazendo mais comprometido no ciclo
gravídico-puerperal, pelas mudanças de comportamento: ‘’ então ela
vomitava tudo e eu vendo aquela cena o tempo todo e ela no sofrimento, [...] tem uma hora que
você não sabe o que faz para ajudar a pessoa e sofre junto com a pessoa. Entendeu?! Eu quase
vomitava com ela para ser um pouco solidário’’.

Oscilações de humor: Eu ficava muito nervosa por causa do serviço. Qualquer coisinha ficava
nervosa e descontava nele.

Conclusões:

No estudo, as intensas mudanças na vida estão relacionadas às alterações nos planos, no


cotidiano e nos próprios relacionamentos com a família.

Já as mudanças no corpo se inscrevem tanto no corpo físico quanto no afetivo.

Todos esses fatores estão intrinsecamente conectados e influenciam em maior ou menor grau
mediante a própria percepção ou significado que a pessoa atribui ao evento;
O enfoque biomédico, ainda tão presente na prática, centraliza a atuação do profissional apenas
no processo biofisiológico da gestação;
Faz-se necessária a adoção também de um enfoque humanizado, para perceber esse fenômeno
em sua completude;

O olhar profissional precisa se estender além do corpo feminino que gesta, buscando o
acolhimento da mulher, a inclusão do núcleo familiar no processo de gestação, valorizando a
construção da paternidade e das relações familiares na formação do vínculo.

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