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Páginas 33-342

ISTO

Educação Literária

1.1 Os dois primeiros versos confirmam esta hipótese - «Dizem que finjo ou minto /
Tudo que escrevo»: o sujeito indeterminado («Dizem») sugere que houve reacções
(erróneas e negativas) à sua teoria poética apresentada em «Autopsicografia». A essas
«críticas» responde com um incisivo «Não», passando, seguidamente, a esclarecer o
motivo por que «fingir», no seu enquadramento teórico, não é «mentir».

2. O sujeito poético refuta a acusação de que é alvo, afirmando a sinceridade e


espontaneidade do ato de criação poética («simplesmente»), ao sentir «com a
imaginação», não usando «o coração». Reforça a ideia de que a criação poética
implica, apenas, a emoção intelectualizada, a que foi filtrada pela inteligência, ou seja,
as sensações/ emoções são somente matéria poética «em bruto», que devem ser,
primeiro, ficcionadas/imaginadas e só posteriormente materializadas em poesia.

3. O sujeito poético compara as suas emoções (os seus anseios, vivências, insucessos,
isto é, a realidade que vive e experiencia) a «um terraço», uma espécie de capa
(«Sobre outra cousa ainda»), sobre aquilo que considera ser perfeito e que o fascina: a
poesia, o produto da intelectualização dessas emoções.

4. O sujeito poético conclui, argumentando que, ao escrever, se distancia da realidade,


liberta-se «do que […] está ao pé» (o mundo material, o «coração»; as aparências, o
«terraço»), pois está ciente de que a criação da obra de arte, aquilo que é realmente
verdadeiro e belo, só se pode concretizar através deste distanciamento.

5. Através da interrogação retórica «Sentir?» e da exclamação «Sinta quem lê!»,


ambas de clara intenção irónica, o sujeito poético vem, uma vez mais, reforçar a sua
teoria: o distanciamento do poeta do «coração» no ato de criação, pela
intelectualização das sensações, introduzindo um novo interveniente, o leitor, a quem
reserva as emoções suscitadas pela leitura do poema.

6. A teoria poética que apresenta, tudo aquilo que escreve e como escreve, pode
resumir-se no pronome demonstrativo «Isto», que intitula o poema.

7. A composição poética é constituída por três quintilhas, apresenta versos


hexassilábicos («Di/zem/ que/ fin/jo ou/min/to»), com rima cruzada e emparelhada,
segundo o esquema ababb.
Gramática

1. Deíticos pessoais e temporais: «finjo», «minto», «escrevo», «sinto», «uso»,


«sonho», «passo», «escrevo» (referente: o momento do ato enunciativo);

deíticos pessoais: os pronomes «eu» e «me» e o determinante possessivo «meu»


(referente: sujeito poético).

2. Oração subordinada substantiva completiva e subordinada adjetiva relativa


restritiva.

Escrita

Sugestão de resposta:

1.1

Podemos observar, como pano de fundo, o entrelaçamento de linhas, constituindo


algumas formas geométricas. Predomina o tom pastel, com o qual elementos a
vermelho, azul, verde e preto contrastam. Desta geometrização, sobressai a figura (a
azul e verde) do poeta (tendo em conta o título da pintura), que parece ter um
momento de criação poética, já que toma alguns apontamentos no seu bloco de notas.
Podemos também ver, do seu lado direito, um gato e, do seu lado esquerdo, uma
garrafa com líquido transparente. Em cima da mesa (a vermelho e pastel), está uma
faca e um fruto cortado ao meio.

Simbolicamente, representa-se o momento da criação poética, de inspiração e de


trabalho artístico – note-se, por exemplo, a separação da cabeça do resto do corpo, a
sugerir que a mente se encontra noutro lugar diferente, no mundo da imaginação e da
ficção. Veja-se, ainda, que a cabeça está ao contrário e o coração está desenhado no
seu estômago, enfatizando a excecionalidade do poeta – não pensa e não sente como
um comum mortal.

Há uma relação de semelhança, já que tanto a composição plástica como os poemas


de Pessoa estudados refletem sobre o que é a poesia e ser poeta. Podemos
estabelecer uma conexão entre o fingimento artístico pessoano e O Poeta – a cabeça
ao contrário sugere a intelectualização e as emoções «fingidas»; o coração fora do seu
lugar pode remeter para o facto de a emoção ser relegada para um segundo plano
nesta teoria artística.

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