Você está na página 1de 9

_________________

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
TRIBUNAL ADMINISTRATIVO

PLENÁRIO

Processo n.º 29/2015 – P

ACÓRDÃO N.º 12/2017

Acordam, em Plenário, os Juízes Conselheiros do Tribunal


Administrativo:

O Reitor da UEM, com os demais elementos de identificação nos


autos, inconformado com a decisão vertida no Acórdão n.º
258/2014 – 1ª, de 23 de Setembro de 2014, que deu provimento ao
recurso interposto por Manuel Jossai Namburete Cumbi, anulando
o despacho de 24/7/2011, exarado pelo Reitor da UEM, que demite
o apelado das suas funções, veio junto desta instância jurisdicional,
interpor recurso de apelação. Admitido o recurso, o apelante foi
notificado a fls. 232 para apresentar alegações, tendo às

1
apresentado passados 30 dias, ao invés de 15 dias, conforme
evidencia a fls. 235 dos autos, infringindo assim, o preceituado no
artigo 142 do LPAC, aplicável por força do disposto no artigo 228 da
Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro.

As suas alegações constam de fls. 236 a 245 dos autos, que de


seguida se apresenta:

“Há vícios e factos no acórdão recorrido, que consubstanciam a


violação ou errada aplicação da lei substantiva ou processual, pelo
facto de os Juízes Conselheiros da Primeira Secção do TA, terem
subsumido incorrectamente o recurso contencioso como tendo
fundamento o desvio do poder, facto nunca provado.

O tribunal a quo não teve mérito na decisão que tomou de anular o


despacho recorrido, concedendo provimento ao recurso sem ao
menos demostrar, que norma relativa ao processo disciplinar a
UEM violou ao tomar a decisão baseada no seu poder
discricionário, decisão essa que o tribunal a quo não protestou, ou
seja, não houve qualquer juízo de censura do processo disciplinar e
do respectivo despacho punitivo, o qual aplicou uma pena prevista
na lei, sem erro sobre os pressupostos de facto e de ofensa ao
princípio in dubio pro reo.

O tribunal prolatou o acórdão com fundamento no desvio do poder,


não tendo especificado os pressupostos a ele inerentes. O que é,
quando ocorre e, no recurso em causa, o fundamento para a
decisão se basear no desvio de poder”.

2
O apelante conclui alegando que não houve qualquer desvio de
poder, nem erro sobre os pressupostos de facto e de ofensa ao
princípio in dubio pro reo e não houve, muito menos, má
interpretação e errada aplicação da lei. Conclui, ainda, que os
fundamentos do recurso apresentados pelo recorrente são o vício de
forma e a violação da lei, mas, o tribunal a quo introduziu um novo
fundamento (desvio de poder).

Termina, requerendo a procedência das alegações, a anulação do


acórdão recorrido e consequente a manutenção do despacho
exarado pelo Reitor da UEM.

Em momento posterior, o apelante foi notificado sobre a promoção


do Ministério Público, para se pronunciar. Em resposta, alegou que
aquando da contestação da petição inicial, indicou a localização dos
seus mandatários, com vista a serem notificados relativamente aos
actos processuais subsequentes. Alega, ainda, que a insistência em
notificar a UEM cria um prejuízo institucional relacionado com a
burocracia interna o que leva a que a notificação chegue aos
mandatários intempestivamente.

“Os oficiais furtam-se ao comando processual inerente às


notificações, ao contrariarem o disposto no n.º 1 do artigo 253.º do
CPC. Finaliza, requerendo que se mande os oficiais notificar os
mandatários judiciais nos precisos termos legais”.

Notificado o apelado, a fls. 250-verso, apresentou as suas contra-


alegações de fls. 251 a 257 dos autos, referido que:

3
“O apelante apresentou as suas alegações passados 30 dias ao
invés, de 15 dias, conforme prescreve o artigo 142 da LPAC,
aplicável por força do artigo 228 da Lei n.º 7/2014, de 28 de
Fevereiro. Este facto consubstancia em deserção da instância.

O apelante não demostra a violação ou errada aplicação da lei nem


a nulidade da decisão que impugna, limitando-se a discutir factos,
tal como o fez na primeira instância, na qual o apelado produziu
toda a prova que levou o tribunal a denotar o desvio de poder.

O processo disciplinar instaurado e a prática do acto não foram


motivados por um fim legalmente estabelecido, senão estar
mergulhado no desvio de poder.

Tudo o que está a dizer, o apelado já o disse com toda a prova na


petição inicial, indicando a base legal a qual o apelante não refutou.

A indicação do vício de forma e da violação da lei alegada pelo


apelado, levou o tribunal a quo a classificar todos e quaisquer
factos provados, para fundamentar a sua decisão, guiado pelo
princípio de ampla tutela jurisdicional e o dever do Juiz apreciar
todas as questões, segundo a máxima mihi factum dabo tibi ius (dá-
me os factos, lhe darei o direito), conforme atesta o n.º 1 do artigo
156.º CPC, conjugado com n.º 1 do artigo 3 da Lei n.º 7/2009, de
11 de Março, aplicáveis por força do artigo 15 da Lei n.º 25/2009,
de 28 de Setembro.

O Tribunal a quo, refere o apelado, não afastou nem corrigiu nada,


a verdade é que houve cumulação de vícios, qualquer um era

4
bastante para o mérito da acusa, por isso, o tribunal limitou-se
aplicar a lei a factos apresentados e provados pelo apelado e
admitidos pelo apelante.

O apelante divagou, nada disse, nada discutiu e demostrou em


matéria de lei claramente que não tinha nada para dizer, senão só
recorrer para dilatar a solução do problema e manter o apelado fora
das suas actividades, por pura má-fé, com o objectivo de
desencorajar o apelado a retomar a sua actividade, sentindo-se
combatido”.

O apelado conclui, afirmando que o apelante não conseguiu afastar,


de facto e de jure, as provas produzidas pelo recorrido.

Termina, pedindo a rejeição das alegações, porque foram


apresentadas intempestivamente e a manutenção da decisão do
acórdão recorrido.

Presentes os autos ao Digníssimo Magistrado do Ministério Público


junto desta instância jurisdicional, este promoveu a fls. 258 e 258-
verso dos autos; o seguinte.

1- Os prazos processuais, são peremptórios e cominativos.

2- Ex vi do n.º 3 do artigo 145.º do CPC. “O decurso do prazo


peremptório extingue o direito de praticar o acto”.

Nesta conformidade,

3- O direito de praticar o acto, está extinto.

5
4- O apelante apresentou as alegações intempestivamente.

Assim sendo,

4.1 Verifica-se a preclusão, ou seja, impossibilidade de impugnar


uma decisão judicial, por via de recurso, por terem decorrido os
respectivos prazos.

Assim, promovo, que seja declarada extinta a instância, nos termos


ínsitos da alínea c) do artigo 287.º do CPC”.

Foram colhidos os vistos legais dos Juízes Conselheiros

Cumpre apreciar e decidir.

Questão Prévia

O apelante foi notificado a fls. 227 de todo o conteúdo do douto


Acórdão n.º 258/2014 – 1.ª, de 23 de Setembro, no dia 13 de
Novembro de 2014. Inconformado com o conteúdo do acórdão, veio
requerer a interposição do recurso conforme ilustra o doc.
constante a fls. 229. Admitido o recurso, aquele, foi a fls. 232 dos
autos, notificado da admissão do mesmo, no dia 6 de Maio de 2015,
tendo, assim, apresentado as alegações extemporaneamente, no dia
8 de Junho do mesmo ano.

6
O Digníssimo Magistrado do Ministério Público promoveu a extinção
da instância, por preclusão do prazo, ou seja, a impossibilidade de
impugnar uma decisão judicial por via de recurso, por terem
decorrido os respectivos prazos.

Compulsados os actos e analisadas as peças processuais, com base


na lei aplicável, conclui-se que o apelante apresentou as alegações
fora do prazo, o que viola o preceituado no n.º 1 do artigo 142 da
Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho, aplicável por força do artigo 228 da
Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro.

Pelo exposto, e acolhendo a douta promoção do Ministério Público,


os Juízes Conselheiros deste Tribunal reunidos em plenário,
acordam em rejeitar liminarmente o recurso, por caducidade do
direito, nos termos da alínea i) do n.º 2 do artigo 51 da LPAC, com
referência ao artigo 228 da Lei n.º 7/2014, de 28 de Fevereiro.

Sem custas por deles estar isento.

Registe- se, notifique-se e publique-se.

Maputo, 24 de Abril de 2017

Machatine Paulo Marrengane Munguambe - Presidente

7
João Varimelo - Relator

Filomena Cacilda Maximiano Chitsonzo

Amílcar Mujovo Ubisse

José Luís Maria Pereira Cardoso

David Zefanias Sibambo

Aboobacar Zainadine Daúto Changa

José Maurício Manteiga

Isabel Cristina Pedro Filipe

Rufino Nombora

8
Pelo Ministério Público

Fui Presente

Edmundo Carlos Alberto

Vice-Procurador Geral da República

Você também pode gostar