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propagar tal movimento no “ambiente social do estado”, afirmava que “para ela (a
educação) voltou suas vistas desde a hora inaugural” de seu governo.
No tocante ao ensino primário, o Interventor Pedro Ludovico Teixeira avaliou
qualitativamente o ensino elementar praticado em Goiás, “quer pelas escolas estaduais
quer pelas municipais quer pelas particulares, ainda se filia ao tipo tradicional que é o
régio ligeiramente evoluído” (Relatório, 1933, p. 13). Em contrapartida, afirmava que
em termos da quantidade de escolas primárias o avanço era notável. O número de
escolas primárias, de fato, cresceu no período 1930/1945.
Em 1949, havia 1000 escolas isoladas espalhadas pelas zonas rurais e pelas
cidades goianas. Muito aquém das necessidades da população que então habitava as
terras goianas e infinitamente aquém das necessidades postas pelos projetos de
povoamento e ocupação do território. Neste sentido, destacou-se a desigualdade entre
capital e interior estadual e entre o estado e outras unidades federativas ressaltando que
Goiás possuía 26,4% de alfabetizados perdendo somente para quatro estados do
nordeste: Maranhão, Paraíba, Alagoas e Piauí (Souza, 1949).
A partir do fim do Estado Novo, o programa de unidade e integração de Goiás
teve sua face alterada. Já em 1946, o governo federal brasileiro retomou, através da
criação da Comissão de Estudos para a Localização da Nova Capital (1946-1949), o
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caminho para o oeste brasileiro, porém, em bases distintas da Era Vargas. Em 1953,
outra comissão foi instituída: a Comissão de Localização da Nova Capital Federal
(1953). Ao invés de colônias agrícolas, entrava em cena novamente a idéia de
transferência da capital federal para o meio do mapa do Brasil, a qual sustentou-se em
argumentos relacionados a defesa da nação, as benesses do clima e a fertilidade da terra.
Por outro lado, o fracasso da CANG redirecionou os esforços estatais
relacionados à ocupação produtiva da terra ensejando o delineamento de projetos que
intencionavam subsidiar a migração de estrangeiros – ao invés dos nacionais – para
Goiás. No período 1950-1957, tornou-se visível nacionalmente uma das consequências
desastrosas e imprevistas da CANG. Muitas famílias camponesas que tinham sido
atraídos pela propaganda deste Colônia Agrícola durante a década de 1940 não haviam
conseguido inserir-se no projeto governamental ou ali haviam fracassado na produção
de alimentos dirigiram-se a região de Trombas e Formoso, região de terras devolutas,
tomando posse da terra. Posteriormente, estas famílias seriam expulsas a custa da
grilagem, o que desencadeou sua reação na defesa do seu direito a terra e a deflagração
de um conflito que ocorreu entre 1950 e 1957.
Na perspectiva de evitar outro fracasso, em 1949, o Conselho de Imigração e
Colonização da Presidência da República planificou, em parceira com o governador
goiano, Jeronimo Coimbra Bueno, “um amplo programa imigratório e da colonização”
(Latour, 1949, Apresentação) que alocaria nas zonas rurais goianas um contingente nada
desprezível de imigrantes refugiados de guerra norte-europeus (notadamente, poloneses
e croatas). Esperava-se que o amalgama de características biológicas e culturais de
migrantes estrangeiros e nacionais pudesse forjar o trabalhador rural idealizado no
programa de integração nacional. Conforme Souza (1949, Introdução), “a técnica do
primeiro somada ao destemor e a fibra do segundo fará de Goiás e do Maciço Central
Brasileiro o teatro de uma civilização rural sólida porque racional, a refulgir no peito do
Continente Sul-Americano”.
Todo este movimento fazia de Goiás uma nova fronteira no interior das
fronteiras nacionais. Como a escola primária se inseriu neste panorama? Antes de tudo,
como instituição restritamente difundida pelo estado, como uma ausência. No que toca a
interiorização da capital federal, ponderou-se que poderia ser temerário leva-la para
lugar tão atrasado culturalmente (Lima & Vieira, 2011). No tocante ao projeto de
imigração estrangeira, cogitou-se a importância de sua expansão haja vista que as
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Referências Bibliográficas
ALVES, M. F. Política e escolarização em Goiás: Morrinhos na Primeira República. Belo
Horizonte: FAE/UFMG, 2007 (Tese de doutorado).
SILVA, L. S. da. Progresso e sertão goiano: a espera. In: BOTELHO, T. R. (org.). Goiânia:
cidade pensada. Goiânia: Ed. UFG, 2002, pp. 129-152.
SOUZA, J.G. Goiás: uma nova fronteira humana. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de
Geografia/IBGE, 1949.
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Este programa de integração é aqui entendido como um amplo conjunto de ações, iniciativas, projetos e
políticas de caráter predominantemente estatal, mas também partilhado por indivíduos, grupos
profissionais, ordens religiosas, associações e entidades culturais, econômicas e sociais não estatais
localizados tanto no centro dinâmico da nação quanto nas regiões, periferias, sertões e fronteiras a serem
integradas.
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A importância de Goiás neste programa decorre de sua posição geográfica centralizada no espaço Brasil
e, não menos importante, das propagadas riquezas de suas vastas terras. Portanto, importância relacionada
à defesa do país contra ataques vindo de nações estrangeiras, à defesa contra ataques na ordem interna da
nação, à constituição de um ponto de distribuição e articulação de uma malha de transportes e
comunicação inter-regionais no centro geográfico, à produção e abastecimento de alimentos e de minérios
e, por tudo isso, ao ideal de um Brasil Novo (integrado, saneado, civilizado, interiorizado, capitalizado).
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Ao contrário da leitura historiográfica que considera que a década de 1930 representou uma espécie de
gênese da institucionalização e expansão da escola primária em terras goianas, os avanços educacionais
do período 1930-1960 davam continuidade ao movimento de renovação iniciado no final da década de
1910 quando se criou a escola primária graduada (1918) e instituíram-se programas de ensino que
propugnavam os métodos ativos e a centralidade da criança no processo escolar (Alves, 2007).
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Em especial, destaco os salários pagos as professoras do Grupo Escolar Modelo que recebiam 400 mil
réis mensais enquanto as professoras dos demais grupos escolares espalhados pelo interior do estado
tinham vencimentos de 300 mil réis por mês. O orçamento aqui citado é o referente ao exercício de 1939,
aprovado pelo decreto-lei 1.490, de 31/12/1938, publicado no Correio Oficial número 3.813, em
31/12/1938. A previsão orçamentária de outros períodos mantém a mesma lógica. De outro lado, no
documento Listagem dos professores primários do estado de Goiás da Diretoria Geral de Educação,
secção de Instrução consta os nomes das professoras, o município e/ou localidade onde trabalhavam, a
condição de normalista ou leigo e o salário mensal de cada uma.