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2.3.

Instituições educativas e Ensino Técnico Secundário (1950/1960): o caso do


Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira

Em Fortaleza, o crescimento populacional sinaliza uma forte tendência à


transferência rural-urbano, que faz crescer demandas sociais por serviços públicos,
sobretudo, nas áreas da educação e saúde, uma tendência que marca o Brasil desse
período, em processo de acelerada urbanização. Em função disso, continua o empenho
político em reter parte da população rural, do que é parte o chamado Ruralismo
pedagógico, iniciado nos anos 1920 e 1930; em função disso surgem alguns projetos
voltados para a criação de estabelecimentos de ensino agrícola, conforme ilustra o caso
do Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira (1947), um modelo americano de ensino
do Pós-Guerra em regime de internato e semi-internato, que atraiu centenas de rapazes
sertanejos em busca de qualificação na área agrícola e suscitou a criação de instituições
similares em outras cidades cearenses, conforme estudo de José Wagner de Almeida
(2013).
Para tratar do ensino agrícola no Ceará, propusemos a revisitação do passado de
uma instituição de ensino situada em Lavras da Mangabeira. Estudá-la exigia a adoção
de uma perspectiva de entrelaçamento dos campos da História da Educação e da
Educação Comparada. A adoção de um enfoque na perspectiva comparada foi
inevitável, haja vista que esta modalidade de ensino no Brasil, assim como a educação
pública de modo geral, passou por inúmeras reformulações.
Quando nos debruçamos sobre o assunto, vemos que tais ações estão bem
presentes, no período compreendido entre o século XIX, no Brasil imperial, reaparecem
nas primeiras décadas do século XX, culminado com o período entre 1940 a 1950, em
que tivemos vários acordos de “cooperação técnica” firmados entre o governo brasileiro
e norte-americano no pós-Segunda Guerra Mundial (MENDONÇA, 2006).
Pensar sobre a história do Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira nos
afastava de uma visão local, por seus nexos mais amplos com modelos curriculares e
políticas educacionais externas. Percebíamos, pouco a pouco, diante dos achados da
pesquisa, que havia muitas dimensões da política educacional que perpassavam a vida
desta instituição de ensino. Nosso olhar se volta, então, para as questões de âmbito
nacional e internacional em educação rural, no que diz respeito ao ensino agrícola,
buscando identificar que elementos foram balizadores, na tomada de decisão para o
envio ao Ceará de uma proposta de criação desta instituição de ensino agrícola.
Na esteira desses acontecimentos é que houve a disseminação de políticas
voltadas para o ensino agrícola, por ser o Brasil de então um país agrário e com um
baixo nível de escolarização. No Ceará, conforme censo de 1950, o segmento
demográfico de cinco anos em diante que sabia ler e escrever, numa população de
448.236 habitantes, era apenas 20,73%. A maioria, perfazendo 79,27 da população, era
analfabeta e parte desta residia no campo. Em Lavras da Mangabeira, o percentual que
residia na zona rural ficava em torno de 91,5% da população local. Segundo a literatura
consultada, a influência norte-americana foi decisiva na implantação e renovação do
ensino agrícola no Brasil, em meados do século XX. Porém, outro momento da sua
história agrária passou a merecer de nossa parte mais atenção.
Sabíamos que o ensino agrícola, assim como outras esferas da vida política
nacional, foi influenciado desde o XIX por missões externas, ligadas à política de
instrução e à educação pública no Brasil, que nos levariam ao tempo o Império e das
primeiras décadas da República. Nesse sentido, ao levantar questões referentes ao
ensino agrícola nacional, em especial no Ceará, deparamo-nos com a necessidade de
investigar as suas conexões com experiências e demandas internacionais para este setor
da economia, sabendo ser o Brasil uma nação aberta à ingerência estrangeira, tendência
ligada ao lugar que ocupou no processo colonial, que lhe acompanhará no século XX.
A história do ensino agricola no Brasil começa com uma série de tentativas
frustadas e ensaios isolados até a criação, em 1906, do Ministerio da Agricultura,
Industria e Comercio – MAIC. AO Novo Ministério caberia difundir e supervisionar o
Ensino Agrícola, marco oficial dessa modalidade de ensino. Em 1946 com a Lei
Orgâniga do Ensino Agrícola, sancionada pelo Decreto Lei nº 9.613, institucionará o
ensino agrícola e o definara em seu Art. 2º as finalidades e o que deveria esta
modalidade de ensino do ensino atender; tais como os interesses dos que trabalham nos
serviços e misteres da vida rural, promovendo a sua preparação técnica e a sua
formação humana. aos interesses das propriedades ou estabelecimentos agrícolas,
proporcionando-lhes, de acordo com as suas necessidades crescentes e imutáveis, a
suficiente e adequada mão de obra e aos interesses da Nação, fazendo continuamente a
mobilização de eficientes construtores de sua economia e cultura.
No Ceará os reflexos destas políticas educacionais foram sentidos quando da
criação de vários estabelecimentos de ensino agrícola na década de 1947. Embora o
início das atividades somente se efetivasse a partir da década de 1950, como foi o caso
da Escola de Iniciação Agrícola de Lavras da Mangabeira em 1954. O Diário Oficial da
União de fevereiro de 1957 – Seção I, p. 3302, menciona as seguintes escolas em
efetivo exercício das atividades de ensino agrícola no Ceará. Vejamos: Escola de
Iniciação Agrícola de Lavas da Mangabeira, Escola de Iniciação Agrícola de Pacatuba;
Escola Agrotécnica de Crato; Escola de Iniciação de Pacoti; Escola Agrícola de Iguatú –
Curso de Extensão Rural de Economia Doméstica.
Em outro registro presente no Serviço de documentação – Secretaria Geral –
Ministério da Educação e Cultura - MEC, 1970, vamos encontrar a relação nominal dos
Colégios e Ginásios Agrícolas do Ceará cadastrados até o ano de 1970. Cito-os: Colégio
Agrícola de Acopiara; Colégio Agrícola do Crato; Colégio Agrícola de Lavras da
Mangabeira; Colégio Agrícola Iguatu; Ginásio Agrícola de Granja; Ginásio Agrícola de
Guaraciaba do Norte; Ginásio Agrícola de Santana de Acaraú; Ginásio Agrícola de
Tianguá; Ginásio Agrícola de Uruburetama.
Assim, logo que decidimos nos debruçar sobre o estudo em questão, fomos
levados a pensar sobre as implicações que teríamos pela frente, sendo uma delas,
identificar por que as políticas do ensino agrícola foram marcadas pela ingerência
internacional, haja vista que a produção acadêmica por nós visitada mostrava o ensino
agrícola e suas instituições sempre vinculadas, ora à iniciativa privada, como foi o caso
dos presbiterianos em São Paulo e Minas Gerais, ora pelos portugueses, no caso da
Escola Agrícola de São Bento das Lages da Bahia, primeira Escola Agrícola do País.
Como resultado da influência europeia, tínhamos uma realidade que fomentava debates
e, ao mesmo tempo, nos questionava. Esse componente estrangeiro foi o que despertou
em nós a curiosidade em conhecer esse fenômeno, buscando pistas que nos levasse a
compreendê-lo.
As escolas no Ceará que lidaram que o ensino agrícola, eram resultado dessa
ingerência? E o Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira? A medida em que no
questionávamos mais um desafio aparecia. Foi assim que descobrimos que nosso olhar
tomaria rumos mais largos. Passamos, então, a centrar nossa preocupação em procurar
responder à pergunta central: Se o ensino agrícola representou uma possibilidade de
resgatar o Brasil do atraso, por meio de uma política agrícola assentada na concepção de
modernidade e/ou de “desenvolvimento”, como explicar a decadência desse ramo de
ensino e o descaso para com as instituições que lhe deram feição? Essa, portanto, foi a
perspectiva nodal, seguimos durante a realização deste trabalho investigativo.

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