Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
Nas últimas décadas houve um aumento significativo em relação à utilização de drogas para a realização de
atitudes criminais. Dentre estas o assalto sexual, que geralmente acomete pessoas do sexo feminino, com
idade entre 15-22 anos, onde normalmente o infrator conhece características da vítima. As drogas utilizadas
para a realização desta prática incluem Flunitrazepam (Rohypnol®), Cetamina, Gama-hidroxibutirato
(GHB). Estas drogas são geralmente utilizadas em festas raves, ou em “night-clubs”, onde a maioria dessas
são utilizadas juntamente com outras drogas, como o álcool, anfetamina, canabinóides, opiáceos e cocaína,
onde esta co-ingestão proporciona aumento nos efeitos, induzindo a euforia, a desinibição e o aumento da
libido. Nas vítimas do assalto sexual observa-se um efeito amnésico, onde os indivíduos expostos não se
lembram o que ocorreu durante o efeito da droga. Dados de outros países demonstram números alarmantes
em relação a prática deste crime, já no Brasil estes dados são escassos, havendo apenas relatos de apreensão,
mas não de detecção destas drogas. O presente trabalho tem como objetivo avaliar os efeitos causados pelas
substâncias na prática do “assalto sexual”.
ABSTRACT
In the last decades there were some meaningful increases in relation to the use of drugs for the
accomplishment of criminal attitudes. Amongst these, the sexual assault, that generally attack people of the
feminine sex, with age between 15-22 years, where the infractor is known characteristics of the victim. The
drugs used for the accomplishment of this practice include Flunitrazapen (Ropynol®), Ketamine, Gamma-
hydroxybutyrate (GHB). These drugs are generally used in raves parties, or “night-clubs”. Where the
majority of these is used together with other drugs, as the alcohol, amphetamine, cannabinoids, opiates and
cocaine, where this co-ingestion provides increase in the effects, inducing the euphoria, the shameless and
the libido increase. In the victims of the sexual assault is observed the amnesic effects, where the displayed
individuals do not remember what occurred during the drug effect. Data of other countries demonstrate
alarming numbers in relation to the practice of this crime, ever in Brazil this data are scarce, there is only
account apprehension, but don’t detection from this drugs. The present work has as objective to evaluate the
effect caused by substances in the practice of the “sexual assault”.
Drug Club ou Drogas de clubes são substâncias utilizadas principalmente por jovens durante festas
em casas noturnas, discotecas, ou raves, a fim de aumentar a socialização e estimulação sensorial
(GAHLINGER, 2004); (GUERREIRO et al, 2011) e associadas ao uso com álcool, podem modificar os
comportamentos habituais das pessoas para facilitar o abuso sexual ou qualquer outra atitude criminal.
(ELSOHLY; SALAMONE, 1999) sendo os alvos em sua maioria jovens do sexo feminino (LEBEAU et al,
1999); (SCHWARTZ et al, 2000); (DOWO et al, 2002). Esta prevalência é confirmada em uma pesquisa
realizada na França por Grossin e colaboradores em 2003, que demonstraram após análise de 418 casos de
assaltos sexuais, a predominância de 86% dos casos envolvendo o sexo feminino com idade entre 15 e 22
anos, onde na maioria destes foram observadas penetrações do tipo vaginal, anal e oral.
A maioria destas substâncias possuem propriedades amnésicas e consequentemente, as vítimas não
se recordam exatamente sobre que circunstâncias que ocorreu o delito caracterizado como “assalto sexual”.
Dentre as drogas utilizadas para realização deste tipo de crime estão os anestésicos Gama-hidroxibutirato
(GHB) e Cetamina e o benzodiazepínico Flunitrazepam (Rohypnol®). Os efeitos observados em indivíduos
expostos propositalmente incluem: Confusão mental, redução da pressão arterial, perda da memória e
náuseas, entre outros (LEBEAU et al, 1999); (KINTZ et al, 2003); (GAHLINGER, 2004); (GUERREIRO et
al, 2011).
A popularidade destas drogas se deve ao fato de serem de baixo custo, e se apresentarem em diversas
formas, como pós, comprimidos, ou líquidos, que podem ser utilizados por via oral, o que facilita o uso, e
dispensa a utilização de objetos para o consumo, como cachimbos ou seringas (GAHLINGER, 2004).
Há poucos dados e referências na literatura nacional, quanto ao uso, prevalência e apreensões de tais
drogas no Brasil, entretanto estas substâncias são utilizadas principalmente com a finalidade de uso
recreacional para promoverem em seus usuários desinibição e aumentarem sua energia durante um longo
período de tempo (SMITH et al, 2002).
2. DESENVOLVIMENTO
2.1. Flunitrazepam
2.2. Cetamina
A cetamina é um derivado da fenciclidina (PCD), foi introduzido no mercado nos anos de 1960
como um anestésico dissociativo, e causa profunda analgesia, catalepsia e sedação superficial (SILVA,
2010). Seu uso na prática clínica diminuiu com a introdução de alguns produtos mais seguros e mais
eficazes, mas é usada ainda em uma base limitada em ajustes críticos de cuidado, principalmente por causa
de sua habilidade de manter a pressão sanguínea e a respiração, e é também utilizado por médicos
veterinários para induzir a sedação nos animais para cirurgias, viagens e a eutanásia (SMITH et al, 2002);
(GOODMAN; GILMAN, 2003); (GAHLINGER, 2004).
A droga é difícil de ser produzida em laboratórios clandestinos, por isso, a maioria de seus
consumidores o adquire roubando-o ou extraviando-o de clínicas veterinárias ou de qualquer estabelecimento
que a comercialize (SMITH et al, 2002); (GAHLINGER et al, 2004). Originalmente, a droga pode ter sido
usada como um adulterante de comprimidos de Metilenodioximetilanfetamina (MDMA) e
Metilenodioxietilanfetamina (MDEA). Como os usuários se tornaram mais familiares com os efeitos da
cetamina, seu uso como um único agente ilícito emergiu. A droga é insípida, inodora e incolor e também
pode ser adicionada às bebidas e ser usada para facilitar o assalto sexual (SMITH et al, 2002). Com a pessoa
consciente ou com a consciência reduzida, a vítima pode desenvolver amnésia anterógrada tão rapidamente
quanto 15 minutos após a ingestão (KATZUNG, 2003). Os usuários podem ainda injetar (intravenosamente
ou intramuscularmente), ingerir, fumar, ou mesmo inalar o produto (SMITH et al, 2002); (GAHLINGER,
2004); (CHAKRABORTY et al, 2011).
A cetamina apresenta metabolização hepática em norcetamina, o qual exerce atividade reduzida no
SNC, essa é posteriormente metabolizada e excretada na urina e na bile. Tem grande volume de distribuição
e rápida depuração. A ligação proteica é muito menor com a cetamina do que com outros anestésicos
parenterais (GOODMAN; GILMAN, 2003); (KATZUNG, 2003); (SILVA, 2010).
O seu mecanismo de ação tem sido relacionado principalmente com a inibição não competitiva dos
receptores glutaminérgicos do tipo NMDA (N-metil-D-aspartato). Entretanto, tem sido também proposta a
interação com receptores glutaminérgicos não NMDA, receptores opióides (µ>κ>δ), receptores para o ácido
gama-amino butírico do tipo A, receptores nicotínicos e muscarínicos e com os canais de sódio, potássio e
cálcio (VALADÃO et al, 2002). Na interação com o NMDA, a droga se liga de uma forma não-competitiva
ao receptor de PCP e inibe a ativação do glutamato. A cetamina foi elaborada para inibir a recaptação
neuronal da norepinefrina, da dopamina, e da serototina (SMITH et al, 2002).
Seus efeitos são rápidos no início e duram aproximadamente 30-45 minutos. Os efeitos analgésicos
são observados em doses baixas, enquanto que as doses elevadas causam amnésia. Os pacientes descrevem
frequentemente um sentimento dramático de dissociação do sentido de autoconfiança. As alucinações visuais
também são comuns. A toxicidade cardiovascular é devida à ativação e às manifestações simpáticas
causando reflexos como a hipertensão, taquicardia e palpitações. A toxicidade respiratória inclui a apneia e
depressão respiratória. Os pacientes podem desenvolver confusão mental, negativismo, hostilidade e delírio.
Os ambientes ruidosos têm sido correlacionados às vezes com os efeitos negativos (causam efeitos que não
são esperados), assim alguns indivíduos preferem não usar a droga em ambientes de clubes. As pessoas que
continuam a abusar o uso de cetamina podem desenvolver um vício severo e uma síndrome de retirada que
requer a desintoxicação. As alucinações, a amnésia, e os sonhos vívidos fazem com que seja difícil de
discernir os efeitos que a droga induziu na realidade, rendendo a vítima incerteza do que aconteceu (SMITH
et al, 2002); (GAHLINGER, 2004); (SILVA, 2010); (CHAKRABORTY et al, 2011).
Não existe nenhum antídoto para intoxicação por cetamina. Como a intoxicação por flunitrazepam, é
necessária a realização de cuidados de suporte com atenção especial à função respiratória e cardíaca. Os
clínicos podem esperar que a depressão respiratória e cardiovascular sejam realçadas quando a cetamina é
ingerida com álcool, mas a morte apenas por ingestão de cetamina é rara (CHAKRABORTY et al, 2011). Os
efeitos alucinógenos da cetamina podem ser minimizados colocando o paciente em área onde haver redução
dos estímulos ambientais (SMITH et al, 2002).
Os níveis séricos de cetamina e de seu metabólito ativo na urina, norcetamina, não estão geralmente
prontamente disponíveis na maioria dos testes clínicos (SMITH et al, 2002); (GUERREIRO et al, 2011), e o
interpretar resultados de teste de laboratório, os clínicos devem estar cientes que os testes de imunoensaios
para PCP (fenciclidina) podem não ser os mesmos para cetamina (SMITH et al, 2002); (CHAKRABORTY
et al, 2011). Mas seu metabólito ativo, norcetamina, pode ser detectado por técnicas mais precisas e seguras,
como Cromatografia gasosa ou líquida em amostras de sangue, urina ou cabelo (GUERREIRO et al, 2011);
(CHAKRABORTY et al, 2011).
3. CONCLUSÃO
Com a realização do estudo das drogas (GHB, flunitrazepam e cetamina) empregadas como drug
club e também para a realização do assalto sexual, verifica-se a finalidade de categorizar o uso destas
substâncias quanto às consequências do seu uso, devido ao fato da perda da memória ser mencionada como
um dos principais efeitos nos indivíduos expostos.
A literatura relata números alarmantes na Europa e nos Estados Unidos, no entanto o Brasil não
apresenta qualquer dado de agressão ou do perfil do usuário. Vale salientar que a negligência quanto às
políticas adequadas de apreensão, identificação e técnicas apropriadas para a detecção em usuários é a maior
dificuldade encontrada.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRESEN, H., STIMPLF, T., SPRYS, N., SCHNITGERHANS, T., MÜLLER, A. Liquid ecstasy - a
significant drug problem. Dtsch Arztebl Int, v.105, n.36, p.599-603, 2008.
BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Portaria nº 344/98.
Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/344_98.htm> Acesso em 31/01/2013.
CHAKRABORTY, K., NEOGI, R., BASU, D. Club drugs: Review of the 'rave' with a note of concern for
the Indian scenario. Indian J Med Res, v.133, p.594-604, 2011.
COUPER, J. F., LOGAN, L.B. Determination of γ-hydroxybutyrate (GHB) in biological specimens gas
chromatography-mass spectrometry. J Anal Toxicol, v.24, p.1-7, 2000.
DOWO, M.S., STRONG, J.M, JANICAK, G.P. The behavional and cognitive effects of two
benzodiazepines associated whit drug-facilitated sexual assault. J Forensic Sci, v.47, n.5, p.1101-1107, 2002.
DRUMMER, O.H., ODELL, M. The forensic pharmacology of drugs of abuse. London An Mold, p.229-230,
2001.
DUER, C.W., BYERS, L.K., MARTIN, V.J. Application of convenient extraction procedure to analyze
gamma-hydroxybutyric acid in fatalities involving gamma-hydroxybutyric acid, gamma-butyrolactone, and
1,4-butanediol. J Anal Toxicol, v.25, p.576-581, 2001.
ELSOHLY, M.A., SALAMONE, S.J. Prevalence of drugs used in cases of alleged sexual assault. J Anal
Toxicol, v.23, p.141-46, 1999.
GAHLINGER, P.M. Club Drugs: MDMA, Gamma-Hydroxybutyrate (GHB), Rohypnol, and Ketamine. Am
Fam Physician, v.69.n.11, p.2619-2627, 2004.
GOODMAN, L.S., GILMAN, G.A. Bases Farmacológicas da Terapêutica. Rio de Janeiro. Mc Graw Hill,
10ª ed., p.259-264, 2003.
GROSSIN, C., SIBILLE, I., LORIN de la GRANDMAISON, G., BANASR, A., BRION, F., DURIGON, M.
Analysis of 418 cases of sexual assault. Forensic Sci Int, v.131, n.2-3, p.125-130, 2003.
GUERREIRO, D.F., CARMO, A.L., SILVA, J.A., NAVARO, R., GÓIS, C. Um novo perfil de Abuso de
Substâncias em Adolescentes e Jovens Adultos. Acta Med Port, v.24, p.739-756, 2011.
HINDMARCH, I., ELSOHLY, M., GAMBLES, J., SALAMONE, S. Forensic urinalysis of drug use in case
of alleged sexual assault. J Clin Forensic Med, v.8, p.197-205, 2001.
HORNFELDT, S.C., LOTHRIDGE, K., DOWNS, U.C.J. Forensic Science Update: gamma-hydroxybyrate
(GHB). Forensic Science Communications, v.4, n.1, 2002.
KATZUNG, G.B. Farmacologia básica e clínica. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 8ª ed. p.240-260, 2003.
KINTZ, P., VILLAIN, M., TRACQUI, A., CIMIRELE, V., BERTRAND, L. Buprenorphine in drug-
facilitated sexual abuse: a fatal case involving a 14-years-old. J Anal Toxicol, v.27, p.527-29, 2003.
LEBEAU, A.M., MONTGOMERY, A.M. MILLER, L.M., BURMEISTER, G.S. Analysis of biofluids for
gamma-hydroxybutyrate (GHB) and gamma-butyrolactone (GBL) by headspace CG-FID and CG-MS. J.
Anal Toxicol, v.24, p.421-28, 2000.
LEBEAU, A.M., ANDOLLO, W., HEARN, L.W., BASELT, R., CONE, E., FINKLE, B., FRASER, D.,
JENKINS, A., MAYER, J., NEGRUZ, A., POKLIS, A., WALLS, C., RAYMON, L., ROBERTSON, M.,
SAADY, J. Recommendations for toxicological investigations of drug-facilitated sexual assault. J Forensic
Sci, v.44 (1), p.227-230, 1999.
RANG, H.P., DALE, M.M, RITTER, J.M., FLOWER, R.J. Rang e Dale Farmacologia. Rio de Janeiro.
Elsevier, 6ª ed. p.479-491, 2007.
SCHWARTZ, H.R., MILTEER, R., LEBEAU, A.M. Drug-facilitated sexual assault (“date-rape”). South
Med J, v.93, n.6, p.558-561, 2000.
VALADÃO, A.A., MAZZEI, S., OLESKOVICZ, N. Injeção epidural de morfina ou cetamina em cães:
Avaliação do efeito analgésico pelo emprego de filamentos de von Frey. Arq Bras Med Vet Zootec, v.54,
n.4, p.383-89, 2002.
WOOD, D.M., WARREN-GASH,C., ASHRAF, T., GREENE, S.L., SHATHER,Z., TRIVEDY, C.,
CLARKE, S., RAMSEY, J., HOLT, D.W., DARGAN, P.I., Medical and legal confusion surrounding
gamma-hydroxybutyrate (GHB) and its precursors gamma-butyrolactone (GBL) and 1,4-butanediol (1,4BD).
An Int J Med, v.101, n.1, p.23-29, 2008.