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COLEÇÃO HABITARE

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
Métodos e Técnicas Aplicados à
Habitação Social
Coordenadores/editores
Marcelo de Andrade Roméro
Sheila Walbe Ornstein

Grupo Coordenador

Programa de Tecnologia de Habitação HABITARE


D esde 1994, com financiamento e coordenação da
Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP/MCT), o
Programa de Tecnologia da Habitação (Habitare) vem
alavancando projetos de pesquisa em busca de soluções
para um dos principais problemas brasileiros. E sabemos
que, tão importante quanto financiar esses projetos, é
difundir seus resultados. Por isso, perseguindo o objetivo
de fazer com que o Programa Habitare seja o promotor de
um desenvolvimento científico e tecnológico que
contribua com a redução do déficit habitacional brasileiro,
o Grupo Coordenador do Programa lança a Série Coleção
HABITARE.

A série surge logo após o lançamento do Portal Habitare


(http://habitare.infohab.org.br/). Enquanto o portal vem
permitindo a transformação dos principais resultados das
pesquisas em reportagens, a Série Coleção HABITARE vai
permitir a publicação de obras com autoria das próprias
equipes de pesquisa. Assim, acreditamos estar abrindo um
novo canal para difusão dos resultados gerados em mais
de 40 projetos, desenvolvidos em áreas como
Disseminação e Avaliação do Conhecimento Disponível,
Construção e Meio Ambiente, Utilização de Resíduos na
Construção, Proposição de Critérios de Urbanização,
Normalização e Certificação, Inovação Tecnológica,
Avaliação de Políticas Públicas, Avaliação Pós-Ocupação e
Gestão da Qualidade e Produtividade.

Trata-se de mais uma estratégia que leva em conta a


importância de que os projetos contemplados tenham
desdobramentos, pois o Habitare é só o pontapé inicial de
iniciativas que devem chegar à sociedade.

Grupo Coordenador
Coleção HABITARE/FINEP

AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
Métodos e Técnicas Aplicados à
Habitação Social
Coordenadores/editores
Marcelo de Andrade Roméro
Sheila Walbe Ornstein

Porto Alegre
2003
© 2003, Coleção HABITARE Equipe Programa HABITARE
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Ana Maria de Souza
Construído - ANTAC Cristiane M. M. Lopes
Av. Osvaldo Aranha, 99 - 3 andar - Centro
90035-190 - Porto Alegre - RS Projeto Gráfico
Telefone (0XX51) 3316-4084 Regina Álvares
Fax (0XX51) 3316-4054
http://www.antac.org.br/ Textos de apresentação da capa
Arley Reis
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Diretor: Fernando de Nielander Ribeiro Revisão gramatical e bibliografia
Giovanni Secco
Área de Instituições de Pesquisa/AIPE Roseli Alves Madeira Westphal (INFOHAB)
Superintendente: Maria Lúcia Horta de Almeida
Editoração Eletrônica
Grupo Coordenador Programa HABITARE Amanda Vivan
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
Caixa Econômica Federal - CEF Fotolitos e Impressão
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Coan
Tecnológico- CNPq
Ministério de Ciência e Tecnologia - MCT Capa:
Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Lasar Segal - Favela, 1954/55
Construído - ANTAC Pintura a óleo com areia sobre tela de 65 X 50cm.
Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência Acervo do Museu Lasar Segall.
da República - SEDU
Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena Empresa - SEBRAE
Comitê Brasileiro da Construção Civil/Assoacialção Brasileira
de Normas Técnicas - COBRACON/ABNT
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).
Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído -
ANTAC
Apoio Financeiro
Financiadora de Estudos e Projetos - FINEP
A945 Avaliação Pós-Ocupação: métodos e técnicas aplicados à
Caixa Econômica Federal - CEF habitação social / Editores e Corrdenadores Marcelo de
Andrade Roméro e Sheila Walbe Ornstein. -- Porto Alegre :
Apoio Institucional ANTAC, 2003. -- (Coleção Habitare)
Universidade de São Paulo - USP
Faculdade de Arquitetura e urbanismo 294p.
Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo ISBN 85-89478-01-7

Fundação para a Pesquisa Ambiental - FUPAM 1. Avaliação pós-ocupação 2. Habitação de interesse


social 3. Procedimentos metodológicos 4. Construção civil I.
Roméro, Marcelo de Andrade. II. Ornstein, Sheila Walbe. III. Série.
Editores da Coletânea HABITARE
Roberto Lamberts – UFSC
Maria Lúcia Horta de Almeida - FINEP CDD-69.03
Sumário

Capítulo I – Estrutura e metodologia da pesquisa 12

1 Apresentação geral 13
1.1 Conjuntos habitacionais de interesse social 14
1.2 Desenvolvimento e habitação 17
1.3 Estrutura básica da pesquisa 22
1.4 Justificativas para o projeto 22
1.5 Objetivos específicos 23
2 Avaliação pós-ocupação (APO) 25
2.1 Formulação do problema e conceituação de APO 25
2.2 A APO nos campos internacional e nacional e a APO aplicada a conjuntos habitacionais 27
3 O estudo de caso 29
3.1 O distrito de São Luís 29
3.2 O empreendimento 30
4 Procedimentos metodológicos 36
4.1 Métodos e técnicas 37
4.2 Critérios de desempenho utilizados como parâmetros para avaliação técnica 40
4.3 Definição do universo da pesquisa em relação à totalidade do conjunto habitacional São Luís 41
4.4 Elaboração e aplicação dos instrumentos – coleta de dados 45
4.5 O pré-teste 46
4.6 Aplicação do questionário definitivo 46
4.7 Sistematização e tratamento dos dados 47
4.8 Cruzamento das respostas 49
4.9 Construção de mapas comportamentais 49
4.10 Aplicação de checklist técnico 49
4.11 Discussão sobre métodos e técnicas e conclusões 50

Capítulo II – APO funcional – Das unidades e das áreas condominiais 52

5 Considerações preliminares 53
6 Da unidade habitacional a alguns aspectos coletivos e/ou condominiais dos edifícios 54
6.1 Revisão conceitual e teórica 54
6.2 Procedimentos metodológicos 55
6.3 Critérios de desempenho 55
6.4 Avaliação técnica de desempenho 61
6.5 Avaliação da satisfação dos usuários 65
6.6 Diagnóstico: avaliação técnica versus aferição da satisfação dos usuários 77
6.7 Recomendações 78

Capítulo III – APO funcional – Dos espaços abertos do conjunto habitacional 80

7 Considerações preliminares 81
8 Dos espaços abertos 82
8.1 Diagnósticos 82
8.2 Espaços abertos e a literatura pertinente 88
9 Recomendações: redesenho dos espaços abertos 93

Capítulo IV – APO do sistema construtivo 96

10 Considerações preliminares 97
11 Procedimentos metodológicos 98
12 Características técnicas 98
12.1 Implantação 98
12.2 Sistema construtivo 99
12.3 Instalações elétricas 99
12.4 Instalações hidráulicas e sanitárias 99
12.5 Instalação de equipamentos de prevenção contra incêndio 99
13 Avaliação técnico-construtiva 100
13.1 Aspectos gerais 100
13.2 Terrapleno 100
13.3 Fundações 101
13.4 Estrutura 102
13.5 Vedos 102
13.6 Cobertura 103
13.7 Vãos 104
13.8 Paramentos 105
13.9 Pavimentos 106
13.10 Instalações hidrossanitárias 106
13.11 Instalações elétricas 107
13.12 Infra-estrutura e equipamentos complementares 108
14 Avaliação das instalações elétricas e consumo energético 108
14.1 Considerações preliminares 108
14.2 Potências médias e potências totais instaladas 109
14.3 Dimensionamento de circuitos e disjuntores 110
14.4 Índices e padrões de consumo 114
14.5 Conclusões 114
15 Avaliação da segurança contra incêndio 115
15.1 Objetivos 115
15.2 Metodologia 115
15.3 Legislação e normas vigentes 115
16 Diagnóstico 116
16.1 Considerações preliminares 116
16.2 Avaliação técnico-construtiva 116
16.3 Avaliação das instalações elétricas e consumo energético 118
16.4 Avaliação da segurança contra incêndio 118
17 Recomendações 119
17.1 Aspectos construtivos 119
17.2 Instalações elétricas 123
17.3 Segurança contra incêndio 123

Capítulo V – APO do conforto ambiental 132


18 Considerações preliminares 133
18.1 Variáveis que interferem na questão do conforto ambiental 133
18.2 O estudo de caso 135
19 Procedimentos metodológicos 136
19.1 Variáveis do conforto ambiental para os locais de habitação 137
19.2 Roteiros para a avaliação dos critérios de desempenho 147
20 Avaliação comportamental 153
20.1 Iluminação natural e artificial pública 153
20.2 Conforto higrotérmico de verão e inverno 154
20.3 Ventilação natural 157
20.4 Acústica 158
21 Avaliacão técnica 160
21.1 Insolação/orientação 160
21.2 Iluminação natural 167
21.3 Conforto higrotérmico de verão e inverno 173
21.4 Ventilação natural 176
21.5 Acústica 177
22 Recomendações 181
22.1 Para o estudo de caso 181
22.2 Para projetos futuros de conjuntos habitacionais 183
22.3 Conclusão geral de conforto ambiental 192

Capítulo VI – APO econômica 196


23 Considerações preliminares 197
24 Procedimentos metodológicos 199
24.1 Critérios gerais 199
24.2 Critérios específicos 202
24.3 Estruturação das variáveis 202
24.4 Propostas desenvolvidas 204
25 Análises e simulações 204
25.1 Elenco do conjunto de alterações sugeridas, com seus custos unitários e
quantidades do projeto original e das quatro propostas de alteração 204
25.2 Proposta 1 206
25.3 Proposta 2 206
25.4 Proposta 3 207
25.5 Proposta 4 207
25.6 Proposta 5 208
25.7 Proposta 6 208
25.8 Complementos no serviço de urbanização 209
26 Conclusões 210
26.1 Considerações sobre as soluções adotadas e priorizadas pelos usuários e/ou pela
avaliação técnica como elemento de intervenção 210
26.2 Custo agregado pelas intervenções propostas 211
26.3 Algumas indagações 214

Capítulo VII – APO – Equipamento comunitário – Escola 216


27 Considerações gerais 217
28 O estudo de caso 218
28.1 Considerações preliminares 218
28.2 O projeto de arquitetura 219
29 Procedimentos metodológicos 222
29.1 Considerações sobre os questionários 223
29.2 Considerações sobre os grupos focais 224
30 Avaliação técnico-construtiva 226
30.1 Considerações preliminares 226
30.2 Superestrutura 227
30.3 Alvenarias e detalhes técnico-construtivos 228
30.4 Instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias e pluviais 228
30.5 Batentes, portas, guarnições e ferragens 229
30.6 Instalações de combate a incêndio 229
30.7 Modificações introduzidas pelos usuários 230
31 Avaliação funcional 230
31.1 Relação das modificações no edifício para
uso mais adequado 232
31.2 Indicadores gerais utilizados para avaliação técnico-funcional 234
31.3 Conclusões da avaliação técnico-funcional 240
31.4 Aferição da satisfação dos usuários do Conjunto Habitacional
Jardim São Luis quanto ao equipamento escolar 240
31.5 Análise dos resultados da verificação da satisfação dos estudantes
quanto aos aspectos funcionais obtidos através dos grupos focais 242
31.6 Aferição da satisfação dos funcionários e professores quanto aos
aspectos funcionais com base na aplicação dos questionários 242
32 Avaliação de conforto ambiental 243
32.1 Determinação dos critérios de desempenho – Insolação/orientação 243
32.2 Avaliação técnica – Insolação 244
32.3 Determinação dos critérios de desempenho – Iluminação natural 245
32.4 Determinação dos critérios de desempenho – Acústica 248
32.5 Determinação dos critérios de desempenho – Ventilação 250
32.6 Determinação dos critérios de desempenho – Conforto térmico 253
33 Recomendações 256
33.1 Insolação 256
33.2 Iluminação natural 256
34 Conclusões 257

Capítulo VIII – Considerações sobre os procedimentos metodológicos adotados 262


35 Sobre a pesquisa 263
36 Sobre a experiência interdisciplinar 264
37 Dos métodos e técnicas utilizados 264
37.1 Medidas para aferição do desempenho físico 264
37.2 Observações, análises e avaliações do desempenho físico 265
37.3 Questionários 265
37.4 Entrevistas específicas 266
37.5 Mapas comportamentais 266
37.6 Registros fotográficos 267
37.7 Registros em videoteipe 267
37.8 Registros em fitas cassete 268
37.9 Grupos focais 268
38 Sobre os resultados e suas formas de apresentação 269

Capítulo IX – Bibliografia 270

Capítulo X – Anexos 282


39 Formulário do questionário definitivo aplicado 283
40 Equipe técnica e áreas de atuação 285
41 Minicurrículos dos coordenadores/editores 285
Agradecimentos

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos, pela viabilização da pesquisa e pelo


suporte financeiro.
CDHU – Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São
Paulo, pela concessão de dados e materiais.
FUPAM – Fundação para a Pesquisa Ambiental, pela gestão financeira e administrativa.
NUTAU/USP – Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo, por todo o apoio logístico, em especial à secretária Maria
Cristina Luchesi de Mello.
FAUUSP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo,
Departamento de Tecnologia da Arquitetura, pelo apoio logístico, e ao Videofau, pelo
apoio na produção do vídeo decorrente da pesquisa.
Pró-reitoria de pesquisa da USP – pelo suporte financeiro para aquisição de
equipamentos.
Aos alunos da disciplina de pós-graduação da FAUUSP AUT-5805 Avaliação Pós-Ocupação
das Edificações (1996 e 1997), por colaborar na elaboração e na aplicação dos instrumentos
de coleta de dados e na tabulação dos dados obtidos.
À arquiteta Nanci Saraiva Moreira – Fundação para o Desenvolvimento da Educação
(FDE), por suas contribuições na avaliação do equipamento escolar, e nas reflexões
sobre a prática pedagógica e sobre o desempenho estudantil.
Aos moradores que permitiram a entrada em suas casas e pela gentileza de fornecer
dados pessoais e comportamentais de suas famílias.
Ao Prof. Dr. Robert B. Bechtel, Department of Psychology, University of Arizona,
Tucson, EUA.
À Prof.ª Dr.ª Susan Saegert, Center for Human Environments, City University of New
York, EUA.
Ao Prof. Theo J. M. Van Der Voordt, Faculty of Architecture, Delft University of
Technology, Holanda.
I.
1 Apresentação geral

2 Avaliação pós-ocupação (APO)

3 O estudo de caso

4 Procedimentos metodológicos

12

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


I.
Estrutura e metodologia da pesquisa

1 Apresentação geral

A
pesquisa em questão foi desenvolvida utilizando-se como estudo de caso o Conjunto Habitacional

Jardim São Luís, ocupado a partir de 1993, situado na região sudoeste do município de São

Paulo (Administração Regional do Campo Limpo) e executado pela Companhia de

Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU), com unidades habitacionais em 13

edifícios iguais, modelo “H”, com quatro pavimentos com oito apartamentos cada.

Especificamente, foram considerados nesta pesquisa não somente as unidades habitacionais e seus

edifícios, mas também sua circunvizinhança, a infra-estrutura, os serviços, a escola e as áreas livres do

conjunto.

Este trabalho desenvolve, então, uma pesquisa teórico-prática, com a aplicação dos conceitos e dos

procedimentos metodológicos de avaliação pós-ocupação, com o objetivo de aperfeiçoar esses procedimentos

Estrutura e metodologia da pesquisa


e de experimentar técnicas pouco empregadas nas APOs social considerável, em que muitas famílias estão longe de
já desenvolvidas, o que possibilita a obtenção de resultados poder incorporar-se aos avanços de desenvolvimento
mais precisos e abrangentes. Tais procedimentos levam econômico, social e cultural de seu país.
sempre em consideração, além da avaliação de desempenho
Há, entretanto, de se avaliar a situação desses con-
técnico dos edifícios eleitos, a satisfação de seus usuários juntos habitacionais na realidade atual, seu impacto em
em relação aos aspectos priorizados. termos de habitação social irradiando nas vizinhanças e na
Adotaram-se basicamente os seguintes proce- cidade, a satisfação de seus usuários e as eventuais deman-
dimentos: aplicação de questionários aos usuários dos edifí- das latentes. Como deve ser um assentamento humano, o
cios estudados, entrevistas com os técnicos da companhia conjunto precisa oferecer para essa população condições
habitacional, mapas comportamentais (e de atividades) ambientais de qualidade, com as quais ela possa cultivar e
aplicados às áreas livres, vistorias técnicas, medições in loco mesmo melhorar sua cultura urbana, ou seja, seus hábitos
e grupos focais para o caso das crianças da escola. de viver em comunidade, exercendo seus direitos e respei-
tando os do próximo.
1.1 Conjuntos habitacionais de interesse social Entende-se, assim, que o ato de morar demanda
A questão da habitação de interesse social vem sendo um esforço considerável em termos de educação social e
focalizada principalmente como a necessidade de abrigo. ambiental, pedindo mudanças de comportamento em prol
Fica claro para todos que essa é uma necessidade vital, da “construção” de uma comunidade em que cada membro
mas também é preciso entender que o homem, como um usufrua as vantagens oferecidas em seu conjunto habi-
ser que vive em sociedade, não pode dispensar outras tacional e, ao mesmo tempo, contribua para a manutenção
características que são inerentes à sua cidadania e, portanto, dessas qualidades ambientais. Precisam, assim, criar sua
à sua necessidade habitacional. Por isso, observa Rodwin própria cultura.
(1987), a necessidade de abrigo vem sendo tratada em Com essas características é que se pode entender o
14
termos do assentamento humano e conseqüente que esses autores mencionam como mudanças fun-
desenvolvimento da região e do país. damentais que vêm sendo tomadas em relação à habitação
Além disso, observam Rodwin e Sanyal, apesar dos para os pobres, ou seja, o fato de que “estas não mais vêm
esforços contínuos que vêm sendo feitos em muitos países sendo consideradas como problemas, mas sim como
em prol de maior oferta habitacional, as condições das soluções extraordinariamente flexíveis e ajustáveis”
famílias mais pobres continuam em significativa (RODWIN, 1987, p. 5), que devem ser compreendidas
como uma fase de transição para uma comunidade
desvantagem, principalmente nos países em desen-
saudável, produtiva e eficiente.
volvimento. As políticas habitacionais e seus projetos estão
longe de ter sido implementados e mostram uma situação A essas colocações podem-se somar algumas po-
preocupante, em que ainda existe uma força de exclusão líticas públicas, como as que vêm sendo desenvolvidas pela

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano predominantemente em condições insalubres, organizados
do Estado de São Paulo (CDHU), que oferecem diferentes de diferentes maneiras.
oportunidades de escolha para essas populações, seja de Essa qualidade ambiental tão louvada prende-se às
conjuntos habitacionais feitos por chamamento empresarial, características de topografia e movimentação de terra,
seja daqueles construídos pelo processo de mutirão, em drenagem e insolação propostos pelo projeto do conjunto
que os interessados participam diretamente da fase de habitacional, por exemplo, mas também é dada pelo padrão
construção, ou, mais recentemente, com o programa de dos espaços abertos e respectivos detalhes de projeto e
atuação em cortiços1. construção.
É importante assinalar que, com o passar dos anos, Os padrões que deveriam impor qualidades, tanto à
houve uma total mudança na maneira de encarar a questão unidade habitacional como ao assentamento em si, por
habitacional, e a simples menção da política desenvolvida vezes não são atingidos porque a seleção de material de
pela CDHU agora em relação aos cortiços já é um sinal de baixo custo tem levado a uma rápida deterioração das obras
que não há mais como desocupar as unidades insalubres e e à ausência de manutenção da qualidade. Essa análise vale
colocar as populações em outros lugares, muitas vezes longe também para a infra-estrutura, que na grande maioria dos
dos empregos disponíveis. Atualmente, os poderes públicos casos não é implantada, embora haja leis expressas
procuram muito mais respeitar o assentamento existente, determinando que a venda de qualquer lote urbano só seja
procedendo ao que se tem chamado de reurbanização de aprovada quando o loteamento já tiver construído a infra-
favelas e cortiços. estrutura prevista e aprovada pelo município. Outras consi-
Não deixa de ser fundamental, entretanto, rever a derações podem ser feitas em torno da qualidade dos pa-
qualidade da própria unidade habitacional, assim como do drões da construção, em função das políticas públicas que
conjunto habitacional como um todo, para prevenir o dêem apoio financeiro aos mutuários. Estes necessitam de
surgimento de epidemias muito comuns em cortiços e em fiscalização rigorosa da construção, para que os materiais
favelas, devido às parcas condições ambientais em que se não sejam alterados, nem os traços de concreto e tipos de 15
encontram. Eva Blay, em seu livro Eu Não Tenho Onde Morar, argamassa. Todo cuidado é pouco quando se trata de conse-
destaca duas razões principais para a existência de guir qualidade de construção a custos acessíveis!
epidemias: a topografia e as condições de concentração de Esses aspectos são peculiares, de um modo geral,
população nos locais em que encontra facilidades para viver para toda a América Latina, com maior ou menor grau de
(BLAY, 1985, p. 66). Seus estudos focalizam 65 cortiços, adoção de medidas mitigadoras por parte dos poderes

1
FOLHA DE S. PAULO. Programa de cortiços tem primeira licitação. 10-Imóveis,
10-Imóveis 25 jan. 1998, p. 2.

Estrutura e metodologia da pesquisa


públicos em relação aos efeitos nocivos oriundos de habi- habitação mínima supunha que a uma redução na dimensão
tações de qualidade precária, em áreas igualmente desfa- da unidade corresponderia um aumento proporcional nos
vorecidas em termos de saúde ambiental (CARMONA; equipamentos e nas áreas livres. Mas a prática dessa teoria
BLENDER, 1987). não levou a resultados satisfatórios nem para um nem para
O subsídio para produzir uma casa barata, ou lotes outro desses aspectos.
semi-urbanizados, não tem sido suficiente para fixar a Alguns projetos mostram-se ser um desastre, como
população e lhe dar oportunidade de desenvolvimento e coloca Oscar Newman, pois, se o plano geral, incluindo as
inserção no mercado de trabalho. Ao contrário, com todo áreas verdes e de recreação, for dissociado de todas as
o subsídio dado pelos governos, assistiu-se ao longo do unidades, tem-se falta de segurança. “Muito rapidamente
tempo ao “passa-se uma casa”, semelhante ao “passa-se o haverá garrafas, vidros e lixo por toda parte. As caixas de
ponto comercial”, com a diferença de que, neste caso, trata- correio serão vandalizadas. Corredores, hall de entrada,
se da troca de local ou tipo de trabalho, e no primeiro, elevadores e escadas serão lugares perigosos para as pessoas
geralmente, de troca de um abrigo por dinheiro, obrigando passarem, estarão cobertos de grafite e sujos com lixo e
assim o ex-mutuário a voltar a morar “embaixo da ponte” dejetos humanos” (NEWMAN, 1996).
e de novo engrossar a fila dos sem-teto.
Os espaços públicos ou áreas verdes do conjunto
A produção de habitação barata, também associada
ficam logo vandalizados. Os apartamentos em si, embora
a baixo custo, pode voltar-se ainda para a construção de
modestos, são primorosamente tratados. Por que essa dife-
uma habitação mínima, como preconiza Alexander Klein.
rença brutal de comportamento dos moradores se os
Daí a importância dada à tipologia da unidade habitacional
espaços abertos também são parte das habitações?
e a seus agregados, nestes incluindo desde aspectos
urbanísticos como insolação, ventilação e coordenação A única resposta que se pode encontrar para essa
modular até sistemas pré-fabricados (KLEIN, 1980, p. 31). pergunta é a que muitos estudiosos na Holanda, na Ingla-
16 Muitos programas públicos foram feitos no Brasil, em terra e nos Estados Unidos, destacando o próprio Oscar
particular, e na América Latina, em geral, tendo como lema Newman, têm a oferecer: os moradores mantêm contro-
a moradia mínima que poderia, posteriormente, ser ladas, unicamente, aquelas áreas que são claramente
aumentada pelo próprio morador. De uma certa forma, demarcáveis e identificáveis como sua propriedade. Daí
esses programas perderam totalmente o controle urbanístico observar-se praticamente a ausência de manutenção dos
da área do conjunto, porque os padrões de espaço per- espaços exteriores em conjuntos habitacionais populares
mitidos foram, em geral, ultrapassados, construindo-se em (NEWMAN, 1996, p. 19). O mesmo autor revela recente
expansão, em altura, na frente e nos fundos da obra original, pesquisa feita em Pelotas, Brasil, por Medvedovski, que
o que, em muitos casos, levou à formação de uma “favela mostra que as indefinições da propriedade e, conseqüen-
incentivada por programas governamentais”. E o problema temente, de responsabilidades sobre esses espaços “cole-
ambiental de insalubridade cresceu. Claro que a tese da tivos” fazem que estes se encontrem abandonados ou

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


“privatizados”, neste último caso, por uma apropriação in- segurança, onde as crianças possam ir e vir sem se sentirem
devida de alguns usuários do conjunto (MEDVEDOVSKI, ameaçadas por intrusos ou pelos fora-da-lei?
1997).
1.2 Desenvolvimento e habitação
Talvez o bom urbanismo e conseqüente desenho
urbano não sejam suficientes para assegurar bons ambientes Pelos cálculos do Instituto de Pesquisas Econômicas
residenciais, que necessitam, para tanto, do cuidado Aplicadas (IPEA) 2 , a oferta de vagas de emprego na
contínuo dos moradores. Talvez seja por isso também que indústria tenderia a aumentar em âmbito nacional durante
se tem procurado fazer que os projetos evitem ter 1997. As previsões da Confederação Nacional da Indústria
corredores compartilhados por muitas habitações, o mesmo eram as de que haveria, em 1997, um crescimento da
podendo ser dito quanto aos halls de entrada e elevadores. indústria brasileira ao redor de 22%, de forma que ela
Essas áreas compartilhadas não inspiram a identidade e o voltaria a ser competitiva e teria um crescimento mais
respeito dos moradores, e muito menos lhes evocam a homogêneo que o do ano anterior.
necessidade de cuidar de sua manutenção e conservação. Esse crescimento, claro, iria variar conforme o tipo
Tornam-se espaços públicos anônimos, “terra de ninguém”, de indústria. As expectativas são de que o setor da
onde tudo é possível, desde o vandalismo até o crime, e Construção Civil venha a absorver mais mão-de-obra,
certamente a sujeira, que propicia a propagação de doenças. principalmente devido a projetos de infra-estrutura, em
Por outro lado, a apropriação de certos espaços públicos fase de aprovação no Banco Nacional de Desenvolvimento
por alguns moradores, resultado da “privatização” (pois Econômico e Social (BNDES)3 .
esta supõe a transmissão da posse da área, o que não ocorre,
Entretanto, tal crescimento pode variar de acordo
mas sim uma usurpação indevida) faz que esses espaços
com a região e o local. Trata-se, portanto, de estimativas
sejam moldados segundo as necessidades desses poucos
de empregos formais no chamado setor secundário da
usurpadores, que modificam o projeto original, sem
economia. A par deste, o emprego do setor informal (tabela
qualquer sanção, seja por parte do poder público 17
1) vem aumentando significativamente sua participação,
responsável, seja por parte daqueles moradores que foram
oculta, no equilíbrio do desenvolvimento, em todas as
deixados à margem, vendo seus direitos serem violados.
regiões do Brasil. Os dados que serão expostos a seguir
Como projetar e construir conjuntos habitacionais são tão expressivos em termos percentuais que,
saudáveis, com níveis mínimos de habitabilidade e obrigatoriamente, demandam reflexão.

2
GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.
3
GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.

Estrutura e metodologia da pesquisa


Tabela 1 – Perfil do emprego informal (por regiões – em %)
Fonte: IPEA/Gazeta Mercantil de 03/02/97

Se os últimos levantamentos e estimativas mostram ciclo de empresas informais nascentes, e assim sucessi-
um boom no emprego informal que praticamente atinge vamente. A economia como um todo, porém, acaba por se
50% da população ocupada4 , a grande hipótese a se fortalecer, o que resulta em desenvolvimento5 .
formular é que há uma competitividade latente em muitos Talvez o fenômeno aqui no Brasil, por ter-se
dos que ficaram desempregados, e essa energia tem sido
acentuado só recentemente, não permita admitir-se seme-
dirigida, positivamente, para a adaptação a novas circunstân- lhante conclusão. Ainda mais quando dados levantados
cias ou para o início de um “negócio”, ainda que informal.
pelo IPEA mostram que a informalidade no Nordeste, onde
Panoramas como esse são descritos por pesqui- já é tradição e atinge cerca de 60% dos empregos, é
sadores e estudiosos da sociedade asiática, mostrando que resultado da oferta de baixos salários com carteira assinada,
18
lá esse tem sido o caminho para o amadurecimento econô- de maneira semelhante ao que ocorre no Rio de Janeiro,
mico, uma vez que o desenvolvimento tem mostrado que onde também predomina um informal precário, como o
paulatinamente essas firmas, inicialmente informais, vão da região fluminense, com camelôs, vendedores de sanduí-
se inserindo no mercado formal, dando lugar a um novo ches nas praias e empresas de fundo de quintal6 .

4
GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.
5
UNITED NATIONS. Centre for Regional Development. Habitat II, Dialogue 1: "How Cities Will Look in the 21st Century". Proceedings of Habitat II,
II Dialogue 1:
How cities will Look in the 21st Century, 4 June 1996, Istanbul, Turkey.
6
GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


Já em São Paulo, comparativamente, pode-se dizer de domicílios do Estado, e o Município de São Paulo, apro-
que o informal, que cresceu bastante de 1985 a 1995, se ximadamente 31,59%9 .
caracteriza por sua sofisticação, representada pela criação As habitações precárias, traçando um paralelo com
de empresas terceirizadas de serviços de nível superior, as “formais”, anteriormente mencionadas, vêm aumen-
como advocacia, informática e escritórios de consultorias. tando consideravelmente. Entre 1988 e 1991, a Secretaria
Esse grupo atingiu em 1995 cerca de 42,33% da população da Habitação do Estado de São Paulo, por intermédio da
ocupada, quando em 1985 representava 33,87%7 . Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano
Nesse cenário informal, a indústria da construção (CDHU), construiu um total de 15.009 casas populares.
também pode ser focalizada traçando-se um paralelo com Por outro lado, o registro dos cortiços ou domicílios infor-
a previsão dos empregos formais crescentes. Pode-se dizer mais existentes em 1990 atinge cerca de 88 mil, abrigando
que os dois mundos convivem lado a lado, ambos com aproximadamente três milhões de pessoas10 . Finalmente,
peculiaridades bem definidas. Esse panorama de desenvol- é importante notar que as habitações informais do tipo
vimento, incluindo tanto setores formais como informais, favelas cresceram cerca de 132% entre 1980 e 199111 .
leva a descortinarem-se aspectos habitacionais pertinentes O Governo do Estado de São Paulo, através da
a esse tipo de condição social e econômica. CDHU, vem, entretanto, procurando diminuir os déficits
encontrados por meio de programas especiais que abran-
Em termos de domicílios particulares permanentes,
gem as famílias de baixa renda. Todas elas, por sua vez,
verifica-se nacionalmente a existência de cerca de 35
devem comprometer uma parte de seu salário para o paga-
milhões de unidades. O Estado de São Paulo, por sua vez,
mento de sua habitação. Desse modo, as famílias com renda
com aproximadamente 8 milhões de domicílios, participa
entre 1,0 e 3,0 salários mínimos (SM) têm uma prestação
com 23,24% do total nacional, enquanto a região metropoli-
mensal correspondente a 15% de seu salário. Essa porcen-
tana da Grande São Paulo atinge 11,40%, e o Município
tagem cresce para os grupos seguintes, com renda familiar
de São Paulo, 7,31%8 .
entre 3,1 e 5,0 SM, entre 5,1 e 8,5 SM ou entre 8,6 e 10,0
19
No âmbito do Estado de São Paulo, a participação SM, que, respectivamente, devem comprometer cerca de
da região metropolitana atinge cerca de 49,27% do total 20%, 25% e 30% de sua renda na compra da casa própria12 .

7
GAZETA MERCANTIL, 3 fev. 1997, p. A-5.
8
EMPLASA, Censo de 1991.
9
EMPLASA, Censo de 1991.
11
EMPLASA, Censo de 1991.
12
Regras Internas da CDHU, conforme SFH, para as duas faixas de maiores rendas familiares, enquanto para as duas de menor renda é conforme a Lei ICMS-
Habitação.

Estrutura e metodologia da pesquisa


Os programas habitacionais oferecidos pela CDHU são bastante amplos e diversificados, contando-se com cerca
de nove tipos diferentes, cujas principais características podem ser vistas de forma resumida no quadro a seguir.

20

Quadro 1 – Programa habitacional/CDHU


Fonte: Secretaria de Estado da Habitação/CDHU, 1997

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


Em termos de área construída por unidade habita- fábricas Ypiranga, recebem graciosamente as tintas15 . Há,
cional, pode-se dimensioná-la da seguinte maneira13 : (1) assim, um esforço conjunto da iniciativa privada com o
casa térrea isolada, de 36 a 46 m 2; (2) casa térrea geminada, poder público para renovar e manter o centro principal da
cerca de 33,40 m2; (3) sobrado geminado, de 44 a 48,50 cidade, por muitos conhecido como “o coração da cidade”.
m2; e (4) apartamento, com 45 m2.
Outras intervenções de recuperação de edifícios
Paralelamente aos programas habitacionais estaduais, históricos também vêm sendo feitas nas áreas centrais da
observa-se que se renovam prédios do velho centro de metrópole. Por exemplo, recentemente houve a inauguração,
São Paulo. Há um grande número de proprietários de pelo Governador, da Estação Júlio Prestes como Centro
edifícios na área central que estão reprogramando-os, com Cultural, com salas de concerto e outras atividades afins.
novas instalações elétricas, heliporto, sistema de automação O prédio dos Correios, projeto do arquiteto Ramos de
predial e fibra óptica, fazendo toda uma modernização que Azevedo, também foi alvo de um concurso público e será
vem sendo conhecida como retrofit. Entre esses edifícios modernizado, reformado, ampliado, passando igualmente
estão o Banco de Boston situado na rua Líbero Badaró, o a ser um espaço cultural. Outros prédios públicos das
Banco Mercantil de Futuros (BMF), a própria sede da proximidades também vêm recebendo especial atenção das
Associação Viva o Centro e o edifício Conde Prates14 . autoridades estaduais, com o objetivo de renová-los,
Essa modernização predial vem sendo feita com eventualmente modificando seu uso, e de, por exemplo,
manter as fachadas pintadas. Alguns casos necessitam de
firmas especializadas, muitas vezes em parcerias com
empresas estrangeiras de arquitetura e engenharia. Esse é restauração também nas instalações, banheiros, cozinhas e
saídas de incêndio16 .
o caso do Banco de Boston no edifício New BKB. Outros
edifícios vêm fazendo sua modernização seguindo um Com essas características, observa-se que, de um
cronograma conforme o orçamento disponível, pois os modo geral, a região metropolitana de São Paulo ainda
investimentos são bastante altos. De sua parte, a Secretaria concentra um complexo parque industrial e produtivo,
de Habitação do Município de São Paulo está incentivando talvez a principal estrutura de serviços de ponta do país, o 21
a pintura externa dos edifícios da área central, dando 50% centro financeiro nacional, um alto número de profissionais
de desconto sobre o imposto predial (IPTU) para os prédios qualificados e de mão-de-obra especializada. Isso permite
que tiverem sua fachada pintada e, com patrocínio das à região desempenhar o papel de elo entre as economias

13
Secretaria de Estado da Habitação/CDHU, 1997.
14
GAZETA MERCANTIL, 10 abr. 1997, p. D-1.
15
GAZETA MERCANTIL, 10 abr. 1997, p. D-1.
16
GAZETA MERCANTIL, 10 abr. 1997, p. D-1.

Estrutura e metodologia da pesquisa


internacionais globalizadas17. larga escala pelas companhias habitacionais nas regiões
metropolitanas brasileiras.
Do ponto de vista econômico, hoje, principalmente
em conexão com as atividades internacionais globalizadas,
1.3 Estrutura básica da pesquisa
a atividade terciária de ponta mantém-se concentrada na
região, sobretudo junto ao centro histórico, ao espigão da Tendo em vista a complexidade e as diversas
Avenida Paulista, ao corredor da Avenida Brigadeiro Faria variáveis consideradas na avaliação do estudo de caso em
Lima e na marginal do Rio Pinheiros, ao sul, também junto questão, bem como o entendimento da necessidade de
à Avenida Berrini. A população de renda alta acompanha desenvolvimento ou de aperfeiçoamento de métodos e
os setores de ponta da economia, vindo a se instalar técnicas específicas para cada um dos problemas colocados,
basicamente na região sul e oeste da cidade, porém sempre a pesquisa foi organizada em subáreas de avaliação, a saber:
intercalada por populações de renda mais baixa (as de média - avaliação dos aspectos funcionais e das áreas livres;
renda buscando o exemplo das de alta, e as de baixa bus- - avaliação dos aspectos construtivos;
cando situar-se tanto mais próximas dos serviços quanto - avaliação do conforto ambiental;
possível). Há assim, pode-se dizer, uma cidade fragmentada - avaliação econômica; e
em termos de qualidade de vida, mas que se complementa, - avaliação de equipamento comunitário (escola).
ainda que inconscientemente, em termos de atividades
econômicas formais e informais. Constituindo-se em esferas independentes de
pesquisa, embora com caráter claramente interdisciplinar,
Por essas razões, verifica-se que desenvolvimento e esse tipo de estrutura propiciou um intercâmbio bastante
habitação vêm se expandindo conjuntamente, com maior positivo entre instituições e entre as diferentes áreas do
ou menor qualidade, conforme o fragmento urbano a que estudo da arquitetura e do urbanismo.
correspondem.
O objetivo deste trabalho é focalizar as áreas de 1.4 Justificativas para o projeto
22
habitação de baixa renda que vêm recebendo insumos do 1.4.1 Justificativas gerais
CDHU, sobretudo aquela modalidade de “Empreitada APOs sistemáticas decorrentes deste projeto de
Global” (ver Quadro 1) para o caso da tipologia em “H” pesquisa irão colaborar para o avanço dos aspectos a seguir
de edifícios de apartamentos, via de regra repetidos em apontados.

17
CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo - Superintendências de Desenvolvimento Social, de Planejamento e
Controle e de Projetos. "Documento Elaborado por Ocasião da Visita do Especialista Holandês Dr. Theo van der Voordt", Voordt" julho de 1996. "A Região
Metropolitana tem 8.015 km2 de área e compõe-se de 39 municípios, dos quais 22 têm suas áreas urbanas conurbadas, constituindo uma aglomeração contínua,
que mede sua maior dimensão, no sentido leste–oeste, 90 km".

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


· As normas descritivas são muito mais conhecidas do 1.4.2 Justificativas específicas
que as normas de desempenho relacionadas ao comporta- De modo mais específico, esta pesquisa justifica-se,
mento das edificações durante o uso. em primeiro lugar, pelos Resultados Esperados constantes
· As normas relativas às avaliações e perícias são em número deste projeto e, em segundo lugar, pelos pontos a seguir
muito reduzido. abordados.
· A norma relativa a manutenção, NBR 5674 – · Existe grande demanda de informações sobre a
Manutenção de Edificações, é sumária e está sendo revi- aplicação da APO em conjuntos habitacionais passíveis
sada e complementada com a preparação de procedi- de serem adotados em outras regiões brasileiras por
mentos para a elaboração do Manual do Usuário. Esse parte de órgãos públicos e privados, e escolas de arqui-
é um aspecto importante, sobretudo no caso de conjun- tetura, engenharia, profissionais, fabricantes de materiais
tos habitacionais, onde os moradores não têm recursos e componentes, e daqueles que os comercializam.
para implementar programas de manutenção corretiva, · O NUTAU/USP, devido à experiência acumulada e à
extremamente onerosa, entendendo-se que os custos infra-estrutura básica disponível, atrelada à da FAUUSP,
de manutenção anuais médios podem atingir percentuais possui condições de transferir esses conhecimentos aos
superiores a 3%, em especial nas tipologias edificadas outros agentes interessados nessa ferramenta de controle
em questão. de qualidade, adotando, inclusive, veículos de difusão
· O Código de Proteção e Defesa do Consumidor, Lei em massa, tais como o vídeo.
n.° 8.078, de 11 de setembro de 1990 (consumidor aqui · Há necessidade de se estabelecerem rotinas de avali-
entendido desde o engenheiro, o arquiteto, o construtor ação de programas sociais, particularmente no caso de
até o usuário final) e o Manual do Profissional elaborado conjuntos habitacionais, que possam gerar diretrizes de
pelo CREA, embasado no primeiro, são pouco projeto, as quais levam em consideração o desempenho
conhecidos ou adotados pelos profissionais da área, físico dos ambientes no decorrer do uso e as necessi-
apesar do Convênio CREA – PROCON e da existência dades e níveis de satisfação dos moradores. 23
de ações legais coletivas por parte dos moradores de
· Há necessidade de se reduzirem custos de manutenção,
conjuntos habitacionais junto ao Ministério Público
aumentando o controle de qualidade sobre os processos
diante do desempenho inadequado das unidades e/ou
de produção e uso de ambientes construídos, a partir
da infra-estrutura urbana.
da redução de falhas já na fase de projeto.
· A NBR 9050/94 – Acessibilidade de Pessoas Porta-
doras de Deficiências a Edificações, Espaços, Mobiliário
1.5 Objetivos específicos
e Equipamentos Urbanos está também prevista na
Constituição de 1988, no caso dos edifícios públicos, De modo específico, objetiva-se apresentar
mas praticamente ignorada no caso dos conjuntos procedimentos metodológicos de APO referentes aos
habitacionais de interesse social. seguintes aspectos:

Estrutura e metodologia da pesquisa


a) socioeconômicos: origem, tempo de moradia, tama- segurança contra crimes nas áreas comuns dos edifícios;
nho e composição familiar; níveis de renda; consumo nível organizacional dos moradores para intervir ou
de energia; consumo individual e coletivo; faixa etária; implementar programas coletivos de manutenção; e
nível de escolaridade; atendimento à demanda de escolas outros. Neste item, serão também contemplados alguns
e hospitais; sociabilidade; situação do conjunto habi- aspectos básicos de uma avaliação estética a partir do ponto
tacional em relação ao bairro; entre outros; de vista do usuário;
b) infra-estrutura, superestrutura urbana e áreas d) avaliação do(s) sistema(s) construtivo(s): abrange
livres em geral: disponibilidade de comércio e serviços; uma amostra de edifícios e unidades habitacionais e do
distância dos edifícios/habitações ao transporte coletivo; edifício escolar mais próximo e das áreas livres (praças).
estacionamento de veículos em áreas públicas; rede de Inclui, no caso das edificações/unidades habitacionais,
iluminação pública; distribuição físico-espacial dos os seguintes aspectos: implantação/movimento de terra;
pontos de ônibus, dos equipamentos de saúde, educação, infra-estrutura; superestrutura; alvenaria; cobertura e
dos espaços de recreação, lazer e comunitários; distri- forros; pisos; revestimentos; caixilhos; vidros; pintura;
buição estimada do comércio e dos serviços formais e impermeabilização; louças; metais; instalações hidros-
informais; de áreas públicas, comunitárias e calçadas; sanitárias; instalações elétricas e telefonia; águas pluviais;
distribuição físico-espacial de telefones públicos e caixas instalações de gás; segurança contra fogo; segurança
de correio; segurança contra crimes nas áreas públicas de utilização; paisagismo; intervenções/usuários;
do conjunto; segurança contra incêndio no conjunto patologias em geral; entre outros;
(acessibilidade, combate); entre outros; e) avaliação funcional: abrange uma amostra dos
c) avaliação da satisfação dos usuários: abrange uma edifícios e de suas unidades habitacionais, de um edifício
amostra de edifícios e de suas unidades habitacionais, escolar mais próximo e das áreas livres (praças). Inclui,
do edifício escolar mais próximo e das áreas livres no caso das edificações/unidades habitacionais, os se-
24 (praças) ou similares. Inclui, no caso das edificações/ guintes aspectos: integração do uso residencial com
unidades habitacionais, os seguintes aspectos: aspecto outros usos; tratamento paisagístico das áreas comuns
visual; densidade ocupacional do edifício versus conforto do edifício; circulação vertical externa; número de pa-
psicológico individual e grupal (privacidade/terri- vimentos do edifício versus adequação à escala humana;
torialidade); possibilidade de intervenção no aparta- flexibilidade/arranjo espacial do apartamento; facilidade
mento versus adaptação ao uso; identificação dos mora- de manuseio/limpeza das janelas; facilidade de abertura
dores com o edifício e suas áreas comuns (manutenção/ de portas a 90° em função do espaço de utilização; área
tratamento paisagístico); espaços e equipamentos quali- útil do apartamento/morador; área útil do dormitório,
ficados e informais para convivência social, recreação área útil da sala, área útil da cozinha; área útil de serviço;
e lazer para crianças, jovens, adultos e idosos; condições área útil do banheiro/lavatório, pé-direito; circulação/
de estacionamento em áreas comuns dos edifícios; integração entre cômodos no apartamento; adequação

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


ao uso/equipamento/mobiliário/intensidade de sobre- 2 Avaliação pós-ocupação (APO)
posição de tarefas; área útil/área construída do aparta-
mento; adequação e acessibilidade dos deficientes físicos 2.1 Formulação do problema e conceituação de
aos apartamentos; entre outros; APO

f) avaliação energética e do conforto ambiental: O termo “qualidade” é conceituado como os aspec-


abrange uma amostra dos edifícios e de suas unidades tos do produto ou serviço que satisfazem as necessidades
habitacionais, do edifício escolar e das áreas livres (pra- do usuário, ou seja, está associado claramente (inclusive
ças). Inclui, no caso das edificações/unidades habita- no caso dos produtos da Construção Civil) ao desempenho
cionais, avaliações específicas para cada tipo de cômodo, satisfatório dos ambientes e das relações ambiente &
destacando-se: f.1) iluminação natural: tipo de abó- comportamento (RAC).
bada celeste; características do entorno do edifício, con- A preocupação com a qualidade na Construção Civil
siderando-se, inclusive, obstruções; tarefa e campo é bastante antiga, tanto que há 4.000 anos o Código de
visual; nível de iluminância; abertura; características do Hamurabi, na Mesopotâmia, já estipulava cinco regras para
ambiente interno; f.2) consumo de energia; f.3) prevenir defeitos nos edifícios.
acústica arquitetônica: fontes de ruído; atividades;
níveis máximos aceitáveis de intensidade sonora; Atualmente, apenas uma parcela dos países de-
reverberação; características e desempenho de materiais senvolvidos possui indicadores sobre a origem dos proble-
e componentes; f.4) conforto higrotérmico: mas patológicos nas construções. Em países como a Bélgi-
características climáticas e do entorno; atividades do ca, a Inglaterra, a Alemanha e a Dinamarca, de 36% a 49%
ambiente; características dos ambientes; orientação; das patologias encontradas durante o uso de um imóvel
insolação; características e desempenhos de materiais e são decorrentes de falhas de projeto, seguidas de 19% a
componentes; f.5) ventilação: implantação urbana; 31% de patologias com origem na execução. Tem-se
distância entre edifícios; direção predominante dos conhecimento também de que a baixa qualidade da mão-
25
ventos; dimensão e tipologia das aberturas; arranjo de-obra, no caso brasileiro, implica percentuais ainda mais
espacial da unidade e desempenho de cada ambiente e elevados de falhas na etapa de execução.
da unidade habitacional como um todo; e Por outro lado, nesta década tem aumentado consi-
g) avaliação econômico-funcional: abrange uma deravelmente o número dos estudos sobre qualidade, na
análise de “custos versus benefícios” dos edifícios e forma de eventos e pesquisas, junto aos setores produtivos,
unidades habitacionais, e leva em consideração as prin- sobretudo aqueles relacionados à série ISO 9000 (no Brasil
cipais sugestões ou melhorias implementadas pelos mo- NB 9000), ou seja, a propósito da Gestão da Qualidade,
radores, tais como modificações do mobiliário, aumento tendo em vista a redução, por um lado, dos custos das
da área construída, alterações das instalações hidráulicas falhas durante a produção e uso, e, por outro, dos custos
e elétricas, mudança nos acabamentos, entre outras. de qualidade.

Estrutura e metodologia da pesquisa


Embora uma parcela significativa das falhas ocorra em prática por meio da metodologia de APO.
na etapa de projeto (entendendo-se aqui que a produção e A APO, portanto, diz respeito a uma série de méto-
o uso de ambientes construídos incluem as etapas de pro-
dos e técnicas que diagnosticam fatores positivos e negati-
jeto, construção, fabricação de materiais e componentes,
vos do ambiente no decorrer do uso, a partir da análise de
uso, operação e manutenção), ou seja, naquela de menor
fatores socioeconômicos, de infra-estrutura e superestrutura
custo, os programas de qualidade no Brasil estão, no
urbanas dos sistemas construtivos, conforto ambiental,
momento, mais voltados à execução e à fabricação de mate-
conservação de energia, fatores estéticos, funcionais e
riais e de componentes, visando ao aumento de produti-
comportamentais, levando em consideração o ponto de
vidade da mão-de-obra e à redução de desperdícios. vista dos próprios avaliadores, projetistas e clientes, e tam-
São ainda poucas as empresas de consultoria e bém dos usuários. Mais do que isso, a APO se distingue
construtoras que conhecem ou que já implementaram das avaliações de desempenho “clássicas” formuladas nos
programas de controle de qualidade da etapa de projeto, laboratórios dos institutos de pesquisa, pois considera fun-
sendo, por conseguinte, poucos os arquitetos e os enge- damental também aferir o atendimento das necessidades
nheiros e outros profissionais projetistas que têm experiên- ou o nível de satisfação dos usuários, sem minimizar a im-
cia sobre o assunto. Via de regra, só se leva em consideração portância da avaliação de desempenho físico ou “clássica”.
o fator qualidade quando se pretende atender o cliente Nesse sentido, a APO tem grande validade “ecológica”,
externo, “contratante”, e raramente se tem em vista o cliente pois faz análises, diagnósticos e recomendações a partir
usuário final ou morador. Essa aplicação parcial do conceito dos objetos de uso, in loco, na escala e tempo reais.
de qualidade (quando ocorre) acaba apresentando um
impacto socioambiental ainda maior, quando se trata de
conjuntos habitacionais de baixa renda.
No Brasil, de um modo geral, pontos importantes
26 implícitos em sistemas de controle de qualidade, tais como
manutenção e defesa do consumidor, não estão sendo
levados em conta pelos profissionais, devido ao desconhe-
cimento do que ocorre no ambiente construído (seja este
edificado ou área livre) no decorrer do uso, no que se refere
tanto ao desempenho físico quanto à satisfação do usuário,
ou, ainda, no que se refere ao atendimento das suas neces-
sidades. O levantamento, a análise e as recomendações ex-
traídas desses dados, que visam realimentar o próprio
estudo de caso bem como futuros projetos, são um instru-
mental de controle de qualidade que pode ser colocado Figura 1 – Esquema da APO

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


A APO passa a ser ainda mais relevante no caso de americanos há mais de 40 anos, visando aferir em que medi-
programas de interesse social, tais como os conjuntos ha- da o desempenho dos ambientes influencia o comporta-
bitacionais, nos quais, no caso brasileiro, nas últimas déca- mento humano e vice-versa.
das, têm-se adotado soluções urbanísticas, arquitetônicas
Tanto na Europa como nos EUA, a partir do Pós-
e construtivas repetitivas em larga escala, para atender uma
Guerra, sobretudo a partir da década de 60, equipes inter-
população, via de regra, muito heterogênea, cujo repertório
disciplinares constituídas por arquitetos, engenheiros,
cultural, hábitos, atitudes e crenças são bastante distintos
geógrafos, paisagistas, antropólogos, psicólogos e outros
já no próprio conjunto, e mais ainda em relação aos
projetistas. começam a avaliar os resultados da arquitetura moderna
de “massa”, especialmente no caso dos grandes conjuntos
No caso dos fatores positivos, estes devem ser cadas- habitacionais. Além dos aspectos específicos do desem-
trados e recomendados para futuros projetos semelhantes;
penho físico das edificações, iniciam-se os estudos sobre
no caso dos fatores negativos encontrados, são definidas
padrões culturais, privacidade, territorialidade, personali-
recomendações que:
zação, apropriação, segurança, apropriação, faixa etária com
- minimizem ou até mesmo possibilitem a correção dos ênfase no usuário dos ambientes.
problemas detectados no próprio ambiente construído
Levantamentos internacionais no campo das relações
submetido à avaliação, por meio do estabelecimento de
programas de manutenção física e da conscientização Ambiente Construído - Comportamento Humano
dos usuários/moradores da necessidade de alterações (SAARINEN, 1995) indicam que até 1985 havia cerca de
comportamentais, tendo em vista a conservação do 2.950 pesquisadores nessa área, distribuídos em sua maioria
patrimônio público (praças, escolas, etc.), semipúblico nos EUA e no Canadá, e apenas 2,2% (65) na América
(áreas condominiais) ou privado (a própria unidade Latina, especialmente no México. Fica, portanto,
habitacional); e demonstrada a carência de consultores e pesquisadores na
- utilizem os resultados dessas avaliações sistemáticas área, notadamente na América do Sul. No Brasil, estima-
27
e interdisciplinares, embasadas em pesquisas aplicadas se que existam hoje menos de 30 pesquisadores docentes
a estudos de caso, para realimentar o ciclo do processo e pós-graduandos nesse campo, podendo-se dizer que em
de produção e uso de ambientes de futuros projetos São Paulo o centro gerador de conhecimentos sobre o
com a formulação de diretrizes, contribuições para assunto bem como de formação de pessoal é o NUTAU –
normas existentes e outros. USP/FAUUSP, em São Paulo.
Desde a década de 60, portanto, passa-se a verificar
2.2 A APO nos campos internacional e nacional e a relevância da aplicação da APO como mecanismo reali-
a APO aplicada a conjuntos habitacionais mentador de controle de qualidade ou de desenvolvimento
No campo internacional, os multimétodos de APO de projetos complexos e/ou populações especiais (ex.:
vêm sendo adotados por psicólogos ambientais norte- aeroportos, shopping centers, ginásios de esportes, hos-

Estrutura e metodologia da pesquisa


pitais, asilos, estabelecimentos penais, parques) e/ou imple- associação, podem ser destacados Robert B. Bechtel,
mentados em larga escala e repetitivamente (ex.: conjuntos Richard Wener, Wolfgang F. E. Preiser, Christopher
habitacionais, escolas, postos de saúde). Alexander, Claire Cooper Marcus, Amos Rapoport, Robert
Iniciam-se, assim, de forma sistemática, as pesquisas Sommer e Denise Lawrence.
sobre o desempenho físico dos ambientes voltadas para a Atualmente, a EDRA tem como associados mais
qualidade destes, ou seja, para o atendimento às neces- de 300 pesquisadores (entre estes, acredita-se que não mais
sidades dos usuários. Pode-se destacar, por exemplo, a do que 15 são brasileiros, concentrados principalmente no
atuação de Gerard Blachère junto ao Centre Scientifique Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em São Paulo).
et Technique du Bâtiment (CSTB), que publica em 1966 a Destaca-se que ocorreu, no caso dos EUA, o boom das
obra “Savoir-Batir-Habitabilité-Durabilité-Economie des avaliações dos programas sociais, e até 1978 Bechtel e
Bâtiments” (Editions Eyrolles). Entre outros trabalhos na Srivastrava contabilizaram mais de 1.500 APOs aplicadas
área, historicamente importantes, tem-se a obra de em conjuntos habitacionais.
BOUDON (1972), intitulada “Lived in Architecture”, que
No Brasil, deve-se destacar, no período de 1972 a
avalia o conjunto habitacional Pessac, próximo a Bordeaux,
1987, o desenvolvimento de pesquisas na linha da APO
França, projetado por Corbusier na década de 20. Na Grã-
realizadas no Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
Bretanha, destaca-se a fundação, em 1967, do Building
do Estado de São Paulo e, em anos recentes, por grupos
Performance Research Unit (BPRU), que objetivava o
emergentes, tais como aqueles existentes na Faculdade de
desenvolvimento sistemático de procedimentos empíricos
Arquitetura e Urbanismo; no Núcleo Orientado para a
para a avaliação de edifícios como parte integrante do
Inovação da Edificação (NORIE), da Universidade Federal
processo projetual. Ainda entre os pesqui-sadores ingleses,
do Rio Grande do Sul; na Faculdade de Arquitetura e
destaca-se David Canter, que em 1970 publica a obra
Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco; no
“Architectural Psychology”.
Grupo de Estudos Pessoa-Ambiente (GEPA), da Uni-
28
Nos últimos 15 anos, os estudos voltados às relações versidade Federal do Rio Grande do Norte; na Faculdade
Ambiente & Comportamento (RAC) na Europa estão de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do
abrigados na International Association for People – Rio de Janeiro; e no Laboratório de Psicologia Ambiental
Environment Studies (IAPS). da Universidade de Brasília, além de algumas atividades
Nos EUA, a APO e os estudos das RACs começam nesse campo realizadas pela empresa particular Centro de
a se consolidar, em especial, a partir da fundação da Tecnologia de Edificações (CTE), com sede na cidade de
Environmental Design Research Association (EDRA), em São Paulo.
1969, que passa a congregar pesquisadores de campos Porém, é o NUTAU/USP que hoje abriga os pesqui-
distintos, buscando o desenvolvimento de projetos sadores da FAUUSP na área e que possui, provavelmente,
conjuntos e interdisciplinares. Entre os pesquisadores dessa a mais longa e sistemática experiência nessa área no Brasil.

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3 O estudo de caso - atendimento de 75% da demanda da rede coletora de
esgoto;
3.1 O distrito de São Luís - índice de mortalidade infantil de 23,39 por 1.000 nasci-
De acordo com relatório elaborado pela CDHU18 , mentos vivos;
o município de São Paulo, no qual se localiza o Conjunto - taxa de alfabetização de 7 a 10 anos de 84,8% e de 11
Habitacional Jardim São Luís, tem 1.509 km² de área, 10,2 a 14 anos de 97,6%.
milhões de habitantes e densidade demográfica de 67,2
habitantes/hectare. A área urbanizada compreende 45.970
logradouros, com cerca de 16.000 km de extensão.
Embora a região metropolitana de São Paulo seja a
principal área urbana do Brasil, da qual a cidade de São
Paulo (Figura 2) é o centro populacional e econômico, sua
população vem sofrendo decréscimo na sua renda salarial.
A zona central e expandida da cidade concentra uma
população cuja renda média do chefe da família está entre
12 e 20 salários mínimos, enquanto a média do município
é de sete salários mínimos; nas regiões periféricas da zona
leste, é de três salários mínimos.
A queda na renda das famílias está sendo acom-
panhada pelo acréscimo de famílias residindo em habitações
subnormais. Dados estimados revelam que cerca de dois
milhões de habitantes residiam em favelas em 1993, e 1,5
milhão em cortiços. 29

Outros índices sociais significativos do município


são os seguintes: Figura 2 – Localização do Conjunto Habitacional na cidade
de São Paulo
- atendimento de 95% da demanda de abastecimento Fonte: CET, TTC, CDHU, SUPE e SEMPA apud PREFEITURA MUNICIPAL DE
SÃO PAULO. Proposta do Plano Diretor de SP para transportes, apud
de água; PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, s.d.

18
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL E URBANO DO ESTADO DE SÃO PAULO - CDHU. Subsídios à avaliação pós-ocupação dos
empreendimentos Jardim São Luís e Vila Sílvia, por ocasião da visita do especialista holandes Dr. Theo Van der Voordt em São Paulo. CDHU, 1996.

Estrutura e metodologia da pesquisa


O Jardim São Luís, no qual se localiza o Conjunto to o Censo 91 registrava 63,45% dos chefes de domicílio
Habitacional Jardim São Luís, constitui-se em parte da com renda de até cinco salários mínimos e 6,7% sem
Administração Regional (AR) de Campo Limpo, na zona rendimentos. A Figura 2 localiza o Conjunto Habitacional
sudoeste da cidade. O distrito de São Luís, desmembrado Jardim São Luís na área na qual ele está inserido.
de Santo Amaro e de Capela do Socorro, tem uma área de
24,7 km² e uma população de 204.284 habitantes, com 3.2 O empreendimento
taxa geométrica de crescimento anual (TGCA) de 2,0%. A
faixa etária dos habitantes do distrito é constituída por O empreendimento habitacional da CDHU no
43,1% até 19 anos, 30,2% de 20 a 34 anos e 4,0% de 60 distrito de São Luís está subdividido em Jardim São Luís I
anos ou mais. O censo de 1991 registra a existência de e II, também denominados Campo Limpo A e C.
55.426 domicílios particulares, sendo 91,8% ocupados. Em O Jardim São Luís II (Campo Limpo C), que possui
relação à infra-estrutura, a rede de abastecimento de água 573 unidades habitacionais, foi comercializado em 7 de
atendia 98,4% dos domicílios, e a rede de esgoto, 75% dos abril de 1993.
domicílios, com coleta de lixo atendendo 93% dos
domicílios19 . O empreendimento Jardim São Luís I (Campo
Limpo A) foi proposto para um total de cinco fases, num
O Conjunto Habitacional Jardim São Luís dista 17
total de 1.728 unidades habitacionais, com prédios de
km do centro da cidade de São Paulo, e o acesso pode ser
quatro pavimentos, parte no sistema de empreitada global
feito a partir da Marginal do Rio Pinheiros, na altura da
(EG) e parte em mutirão (União dos Movimentos de
Avenida João Dias, à direita, próximo ao Centro Empre-
Mutirões – UMM). A fase A1, com 416 apartamentos, foi
sarial, ou a partir da Praça da Sé, por meio de ônibus urbano.
comercializada em duas etapas: 160 UH em 16 de dezem-
Em termos habitacionais, a AR de Campo Limpo bro de 1993 e 256 UH em 29 de setembro de 1994. A fase
apresentava 67.826 favelas, abrangendo 84.861 moradores A2, com 480 apartamentos, também foi comercializada
30 e 1.563 cortiços, com 21.410 moradores em 1993, segundo em duas etapas: 320 UH em 25 de novembro de 1994 e
dados da SEHAB/FIPE. 160 UH em 22 de dezembro de 1995. As outras fases, A3
Em relação à renda familiar, os dados da Sempla/ (160 UH/UMM), A4 (384 UH/EG) e A5 (288 UH/EG),
92 registram que 62,2% das famílias do distrito de São foram inauguradas no decorrer de 1998 (Figura 3).
Luís apresentam renda de até oito salários mínimos, enquan-

19
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO HABITACIONAL E URBANO DO ESTADO DE SÃO PAULO - Jardim São Luís I e II e os equipamentos sociais do entorno.
São Paulo: CDHU, 1996.

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Desse primeiro cadastramento foram apurados os
seguintes dados:
- população total de 24.369 pessoas;
- 19,6% das famílias eram conviventes;
- 46,7% dos componentes com até 17 anos, com
população demandante de creches e pré-escolas
representando 21,1%;
- 62,1% dos chefes de família tinham até 35 anos, e
chefes com mais de 50 anos eram 6,4% do total;
- 23,5% das famílias se encontravam na faixa de até
três salários mínimos mensais, das quais 1,8% atingiam
um salário mínimo; 30,2% se encontravam na faixa de
mais de três a cinco salários mínimos, 36% na de mais
de cinco a dez salários mínimos, e 1,2% na de mais de
dez salários mínimos.
Em 1992, foram cadastradas 275 famílias para o
mutirão, sendo 153 titulares, das quais 28,74% se
encontravam na faixa de renda familiar de um a três salários
mínimos, 53,56% na faixa de mais de três a cinco salários
mínimos e 17,70% na faixa de mais de cinco a dez salários
mínimos.
31
Figura 3 – Implantação geral do empreendimento Jardim São Luís No empreendimento Jardim São Luís I houve desti-
nação de 160 UH para famílias removidas de área de risco
do Parque Otero, cujas 162 famílias cadastradas eram com-
postas em média de 4,4 pessoas, sendo 35% na faixa de 18
a 35 anos, 21% na faixa de 7 a 14 anos; 52% auferiam ren-
3.2.1 População atendida da familiar de um a três salários mínimos mensais e 24%
estavam na faixa de mais de três a cinco salários mínimos.
Para o empreendimento do Jardim São Luís I e II
foram cadastradas 6.308 famílias de 12 associações da Zona As famílias realmente habilitadas apresentam perfil
Sul, entre junho e dezembro de 1990. Parte dessas famílias de renda familiar de acordo com os dados organizados na
foi conduzida para outros empreendimentos. Tabela 2.

Estrutura e metodologia da pesquisa


Tabela 2 – Dados comparativos do perfil de renda das famílias
habilitadas no empreendimento Jardim São Luís I

3.2.2 Equipamentos sociais da vizinhança


32

Pelo estudo realizado pelo CDHU, constata-se que


a região da AR de Campo Limpo é carente em quase to-
dos os serviços e equipamentos da área social, principal-
mente no atendimento às crianças nas creches e nas pré-
escolas e no atendimento de saúde. Quanto à questão da
habitação, existem implantados na mesma área outros
empreendimentos para habitação de interesse social, edi-
ficações unifamiliares autoconstruídas, cortiços e favelas Foto 1 – Vista parcial do entorno – diferentes tipologias para
habitação de interesse social
(Foto 1).

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A área do distrito é bastante extensa, por isso a exis- 1.548, em 17 centros de juventude conveniados, atendendo
tência dos equipamentos não é suficiente para garantir o somente 6,04% da demanda no distrito, muito abaixo da
acesso e a utilização efetiva pelos moradores do conjunto média municipal, mas ainda um pouco melhor que a média
habitacional, pois há dependência de transporte entre o da AR de Campo Limpo, com nível de atendimento de
local de moradia e o local dos equipamentos. 4,38%.
Entre o Jardim São Luís I e II existe um cemitério Considerando o entorno da área Jardim São Luís I,
que ocupa parte da porção norte e leste do entorno do na distância entre 0 e 500 metros situa-se um centro de
Jardim São Luís I, o que sem sombra de dúvida limita a juventude; entre 500 metros e um quilômetro situa-se um
implantação de edificações e, conseqüentemente, de equi-
centro de juventude; entre um e 1,5 quilômetro situam-se
pamentos sociais nessa parte do entorno.
seis centros de juventude. Ou seja, o maior número de
A seguir, apresenta-se uma síntese sobre os equi- centros de juventude situa-se nas áreas mais distantes do
pamentos sociais existentes no distrito e no entorno do conjunto habitacional, dificultando o acesso dos jovens.
conjunto, à época da pesquisa, conforme levantamento da
CDHU. 3.2.2.2 Educação
Educação infantil
3.2.2.1 Equipamentos de bem-estar social
O atendimento infantil de pré-escola é realizado por
Creches (atendimento de crianças de até 3 anos
meio das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEIs)
e 11 meses de idade)
da rede municipal, estadual e particular. No distrito Jardim
A oferta de vagas no distrito Jardim São Luís é de
São Luís, a oferta é de 3.779 matrículas em 16 escolas,
2.750, em 29 creches da rede direta, indireta e conveniada,
com atendimento de 18,4% apenas, apresentando um déficit
atendendo apenas 14,3% da demanda, equivalente à média
de 16.808 vagas em 20 escolas. O atendimento fica abaixo
do município, e apresentando um déficit de 14.520 vagas
da média da AR e bem abaixo do nível dos outros distritos.
(121 creches-padrão para 120 crianças).
Considerando o entorno da área Jardim São Luís I, 33
Considerando o entorno da área Jardim São Luís I,
na distância entre 0 e 500 metros situam-se duas creches; na distância entre 0 e 500 metros situa-se uma EMEI; entre
entre 500 metros e um quilômetro situam-se oito creches; 500 metros e um quilômetro situam-se duas EMEI; entre
entre um e 1,5 km situam-se 11 creches. Ou seja, o maior um e 1,5 quilômetro situam-se quatro EMEI. Ou seja, o
número de creches situa-se nas áreas mais distantes do maior número de EMEI situa-se nas áreas mais distantes
conjunto habitacional, dificultando o acesso das crianças do conjunto habitacional, dificultando o acesso das crianças.
de menor idade. Educação de 1º e 2º graus
Centros de juventude (atendimento de crianças A educação de 1º e 2º graus é atendida em escolas
e adolescentes de 7 a 14 anos) da rede municipal e estadual. No distrito Jardim São Luís,
A oferta de vagas no distrito Jardim São Luís é de a oferta é de 41.554 vagas em 34 escolas, mas atende apenas

Estrutura e metodologia da pesquisa


95,4% da demanda, havendo um déficit de 2.001 vagas. A moradores do conjunto habitacional.
rede pública funciona na base da superutilização, com
Assistência secundária – hospitais
quatro ou cinco turnos diários, o que não garante ao aluno,
Na assistência secundária a oferta não atende ao
sequer, o mínimo de quatro horas de aula por dia,
mínimo de quatro leitos/mil habitantes/ano (índice da
prejudicando em muito a qualidade do ensino público.
Organização Mundial da Saúde – OMS), no geral do muni-
Considerando o entorno da área Jardim São Luís I, cípio. Na AR de Campo Limpo o índice é de 0,57 leitos/
na distância entre 0 e 500 metros situam-se duas Escolas mil habitantes/ano. Já no distrito Jardim São Luís há déficit
de Primeiro Grau, uma municipal (EMPG) e uma estadual total, pois não há nenhum leito hospitalar.
(EEPG), e uma EMPG com pré-escola; entre 500 metros
e um quilômetro situam-se três EMPG, seis EEPG e 3.2.2.4 Cultura e esporte

EMPG e uma Escola Municipal de Primeiro e Segundo A região da AR de Campo Limpo é muito carente
Graus (EMPSG); entre 1 e 1,5 quilômetro situam-se três em equipamentos de cultura e esporte. No Jardim São Luís
EMPG, cinco EEPG, cinco EEPSG e uma EEPG com há apenas uma casa de cultura com atividades, e 14 equi-
pré-escola. Ou seja, o maior número de equipamentos de pamentos de esporte, todos bastante simples. Além disso,
educação situa-se nas áreas mais distantes do conjunto habi- a AR de Campo Limpo é bastante violenta, fato que
tacional, dificultando o acesso das crianças e dos jovens. também se justifica pela ausência de equipamentos de lazer,
o que agrava a situação nos finais de semana.
3.2.2.3 Saúde
Assistência primária à saúde – centros de saú- Considerando o entorno da área Jardim São Luís I,
de, pronto-atendimento, ambulatórios na distância entre 0 e 500 metros situa-se um campo de
A assistência primária à saúde, dada por Unidade futebol apenas; entre 500 metros e um quilômetro situa-se
Básica de Saúde (UBS) municipal, estadual ou federal, apre- também apenas um campo de futebol; entre um e 1,5
34 senta-se muito precária na periferia do município. No quilômetro situam-se seis campos de futebol e dois centros
distrito Jardim São Luís há déficit de três equipamentos. desportivos municipais.

Considerando o entorno da área Jardim São Luís I, Em termos de áreas verdes públicas, observa-se no
na distância entre 0 e 500 metros situa-se uma UBS; entre entorno um total de oito áreas destinadas a essa função.
500 metros e um quilômetro situam-se duas UBS e um Na distância entre 0 e 500 metros situam-se três áreas verdes
centro de saúde estadual; entre um e 1,5 quilômetro situam- públicas; entre um e 1,5 quilômetro situam-se cinco áreas
se duas UBS, um centro de tratamento intensivo municipal verdes públicas, embora não seja mencionada a qualidade
(CTISM), um hospital municipal e um centro de saúde desses espaços. Ou seja, o número de equipamentos de
estadual. Ou seja, o número de equipamentos de saúde é cultura, esporte e lazer é insuficiente para atendimento aos
insuficiente para um atendimento de qualidade aos moradores do conjunto habitacional.

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3.2.2.5 Abastecimento fícios são compostos de dois módulos agrupados e unidos
O abastecimento por meio de equipamentos pú- por duas caixas de escadas não confinadas.
blicos é carente nas regiões periféricas. O distrito Jardim
São edifícios multifamiliares de quatro pavimentos,
São Luís dispõe de apenas dois minimercados e de duas
todos ocupados com unidades de habitação, inclusive o
feiras confinadas municipais. No entorno da área Jardim
térreo. Cada lâmina é constituída por quatro apartamentos,
São Luís I, há apenas dois sacolões, reforçando a carência
compondo oito unidades por pavimento (Figura 4).
da área em equipamentos públicos.

3.2.3 Conjunto Habitacional Jardim São Luís –


abrangência da proposta
O projeto do conjunto habitacional prevê não só a
construção de unidades de moradia, mas também de um
centro de convivência, creche, pré-escola, sistema de lazer,
estacionamentos e área para comércio, porém nem todos
esses equipamentos foram construídos até a presente fase
do empreendimento. O paisagismo proposto prevê a
utilização de espécies frutíferas, além das ornamentais, em
todo o conjunto, cuja execução também não ocorreu.
3.2.3.1 Implantação
Os edifícios foram implantados dois a dois,
obedecendo à mesma orientação em relação ao norte, ou
seja, leste–oeste no seu maior comprimento. Em relação à Figura 4 – Perspectiva isométrica do módulo de edifícios – dois
topografia, os edifícios foram posicionados perpen- edifícios e caixa de escada
Fonte: CDHU, 1996 35
dicularmente ao desnível. O terreno em questão apresenta
grande declividade, e a implantação impôs intensa movi- As faces laterais dos edifícios não apresentam aber-
mentação de terra, com o estabelecimento de platôs nos turas, portanto todas as unidades recebem suas aberturas
quais estão os prédios, resultando taludes acentuados e es- em faces paralelas, uma voltada para o “exterior” do módulo
cadarias para acessar a entrada principal. Em platôs interme- e a outra para a área comum entre os dois edifícios.
diários estão localizados os bolsões de estacionamento. Os acessos principais, circulação vertical e horizontal
3.2.3.2 Tipologia dos edifícios e dos apartamentos das unidades estão localizados nesta área comum, na qual
O edifício foi organizado em lâminas, implantadas também se situam os abrigos de gás e os medidores da ins-
duas a duas e articuladas através da caixa de escada. Tal talação elétrica e hidráulica. Sobre as caixas de escadas estão
configuração recebeu a denominação de módulo. Os edi- localizados os reservatórios de água.

Estrutura e metodologia da pesquisa


Os apartamentos obedecem à mesma organização sanitárias no banheiro estão em desacordo com o projeto
para todos os edifícios do conjunto, diferenciando-se apenas arquitetônico e de instalações, uma vez que tais louças fo-
na área das unidades localizadas nas extremidades das lâmi- ram colocadas junto à parede divisória com a cozinha, o
nas. O apartamento tem uma área útil de 37,69 m² (incluin- que exigiu a execução de saliência na parede de entrada,
do hall de distribuição) e contempla dois dormitórios, sala reduzindo o espaço de acesso ao banheiro. Assim, lavatório
e cozinha (separadas originariamente por um balcão), área e vaso sanitário foram fixados muito próximos entre si, in-
de serviço e banheiro, conforme pode ser verificado na viabilizando a colocação de box de chuveiro.
Figura 5. Destaca-se que a disposição efetiva das louças 3.2.3.3 Sistema construtivo
Os edifícios foram construídos segundo a técnica
da alvenaria armada de blocos de concreto. Os blocos de
escada recebem estrutura independente de concreto
armado. As fachadas externas foram revestidas e pintadas.
Foram adotados para a cobertura estrutura de madeira e
fechamento em telhas cerâmicas, sem coletores para águas
pluviais. Internamente, as unidades foram entregues aos
moradores sem revestimentos de parede, piso e forro. As
esquadrias utilizadas são de ferro, pintadas, com portas
internas em madeira.

4 Procedimentos metodológicos
No campo internacional, há inúmeras obras e estu-
36 dos voltados aos procedimentos metodológicos para a
avaliação de desempenho (pós-ocupação) da denominada
habitação de interesse social. Destacam-se no campo das
relações Ambiente & Comportamento (RAC), entre outros,
no contexto conceitual, teórico e metodológico, Bechtel
(1997) e Winkel (1993). Em termos dos procedimentos
para aplicação metodológica, em geral, e em um
determinado aspecto ambiental, ou ainda no que respeita
aos aspectos estatísticos, para análise e tabulação de dados,
Figura 5 – Planta original do apartamento
destacam-se Denzin (1994); Patton (1996); Reaves (1992)
Fonte: CDHU, 1996 e Rubin e Rubin (1995), Bechtel, Marans e Michelson

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(1987); Hayes e Lnec (1995). metodológicos específicos, tais como no âmbito do
A propósito de pesquisas aplicadas em estudos de desempenho térmico de habitações, têm-se, por exemplo,
caso, pode-se citar as excelentes obras de Baird et al. (1996); Akutsu, Vittorin e Yoshimoto (1995). A propósito de
Kernohan et al. (1992) e Sanoff (1991). Este último destaca pesquisas em APO aplicadas a estudos de caso específicos,
métodos e técnicas visuais. Quanto às análises sobre a têm-se Silva et al. (1993); Reis (1995); Kowaltowski e Pina
eficácia de programas habitacionais, têm-se, por exemplo, (1995); e Elali (1995), além de traba-lhos dirigidos às redes
Bratt, Keys, Schwartz e Vidal (1995); quanto a balanços de infra-estrutura urbana em con-juntos habitacionais e
sobre o estado da arte, o futuro da habitação social e a re- suas relações com os moradores (MEDVEDOVSKI, 1995).
lação com seus usuários, nos EUA, na Europa e em outros No que respeita à manutenção, à segurança e à aces-
locais, Preiser, Varady e Russell (1994); e a respeito de estu- sibilidade a portadores de deficiência física, podem ser
dos sobre relações AC internas à habitação, Marcus (1995). destacados estudos de desempenho técnico (HELENE,
Quanto a aspectos importantes como a manutenção, a 1992; THOMAZ, 1989; GUIMARÃES, 1995) e sobre
segurança e a gestão/autogestão condominial, têm-se os segurança em conjuntos habitacionais (REIS; LAY, 1995).
estudos de U-HAB (1995), Dunowicz, Gerscovich e Boselli Quanto à gestão da qualidade na construção civil, tem-se
(1993), e o trabalho de Newman (1996). Também podem como referencial Souza (1994). Também estão surgindo
ser mencionados diversos estudos que destacam os alguns estudos que podem nortear a formulação de critérios
resultados das pesquisas no campo da habitação e/ou de de desempenho mais compatíveis com as necessidades dos
suas relações com outros ambientes urbanos, públicos, usuários, observados os aspectos técnicos, econômicos e
semipúblicos, no âmbito da APO, com ênfases temáticas funcionais implícitos. Têm-se, entre eles, Vianna e Roméro
em aspectos como a acessibilidade/desenho universal, (1997), Ornstein, Roméro e Cruz (1997), Mascaró (1985)
privacidade e critérios qualitativos de desempenho e e Ghoubar (1995). Ainda se devem destacar as diretrizes
diretrizes de projeto em geral. Nessa linha, têm-se Winter de projeto elaboradas por Moretti (1997).
(1997), Coelho e Cabrita (1992); Marcus e Francis (1990) 37
e o Ministério do Equipamento Social e da Qualidade de 4.1 Métodos e técnicas
Vida (1985).
Considerando sua conceituação básica, a aplicação
No Brasil, os estudos e a literatura em geral são de métodos e técnicas de APO deve levar sempre em
mais restritos, mas sobretudo no final da década de 80 e consideração tanto o ponto de vista dos técnicos (vistorias,
nesta última década começam a surgir alguns trabalhos medições e análises realizadas), bem como a aferição dos
nos campos mencionados anteriormente. Entre eles, des- níveis de satisfação dos usuários. O cruzamento desses
tacam-se no âmbito conceitual, teórico e metodológico, dois tipos de procedimentos, os diagnósticos e os produtos
Ornstein, Bruna e Roméro (1995), Ornstein (1994) e decorrentes (recomendações, banco de dados, vídeo,
Ornstein e Roméro (1992). Quanto a procedimentos relatório) estão apresentados na figura a seguir.

Estrutura e metodologia da pesquisa


38

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39

Figura 6 – Fluxograma de desenvolvimento metodológico da APO

Estrutura e metodologia da pesquisa


4.1.1 Roteiro metodológico utilizado (questionário) e resultados das vistorias técnicas;
A APO orientou-se pelo seguinte roteiro metodo- (m) reuniões dos pesquisadores com técnicos do CDHU
lógico básico, o qual procurou realizar estudo comparativo para discussão de resultados;
entre dados coletados nos edifícios e apartamentos ocupa- (n) diagnóstico final;
dos por moradores oriundos da favela (OF) localizada na
(o) recomendações e diretrizes para futuros projetos
área de risco do Parque Otero e por moradores com inscri-
semelhantes; e
ção regular (IR) no cadastro do CDHU (a distribuição
amostral e localização das unidades no conjunto encontram- (p) inserção em vídeo de curta duração, integrante da
se descritas no 4.3 deste capítulo): pesquisa, dos principais resultados da APO funcional.

(a) contatos com técnicos do CDHU para seleção do Conforme poder-se-á verificar no decorrer desta
conjunto habitacional do estudo de caso; obra, outros procedimentos metodológicos específicos
foram adotados nesta pesquisa. A análise, por exemplo, do
(b) obtenção de dados socioeconômicos e dos projetos
edifício como um todo, da escola (equipamento comunitário
executivos completos do conjunto habitacional;
eleito para avaliação) e das áreas livres, em suas respectivas
(c) visitas de reconhecimento da área e registros
subáreas técnicas de avaliação (aspectos construtivos,
fotográficos;
análise funcional, conforto ambiental, análise econômica),
(d) apresentação da área de estudo para pós-graduandos necessitou de procedimentos metodológicos específicos,
participantes do levantamento de campo e dos como, por exemplo, medições, simulações, etc. A estrutu-
diagnósticos; ração temática de apresentação dos resultados propicia a
(e) formulação e aplicação do questionário pré-teste para descrição, em separado, dos procedimentos metodológicos
aferir níveis de satisfação dos moradores; específicos de cada uma das subáreas de avaliação.
(f) definição da amostra;
(g) formulação e aplicação dos questionários definitivos 4.2 Critérios de desempenho utilizados como
40
(81, sendo 33 em moradias de OF e 48 em IR); parâmetros para avaliação técnica
(h) leitura dos projetos executivos, especificações Foi estabelecido para cada área do conhecimento
técnicas e planilhas de custos originais; ou temática um conjunto de critérios de desempenho (ver
(i) pré-teste das vistorias técnicas, incluindo Figura 6) que pudesse servir como referencial de qualidade
levantamentos de mobiliário, equipamentos e nas análises técnicas, comportamentais e nos cruzamentos
conseqüentes índices de obstrução em 16 apartamentos; entre ambas. Esses critérios de desempenho são oriundos
(j) aplicação definitiva das vistorias técnico-funcionais de normas nacionais e internacionais, diretrizes de projeto,
em um total de 27 apartamentos (33% da subamostra indicadores qualitativos e quantitativos consagrados, códi-
de 81), sendo 9 de moradores OF e 18 de IR; gos de edificações, experiência profissional dos especialistas
(l) análise comparativa entre satisfação dos usuários envolvidos no projeto e outros.

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Por exemplo, quanto ao conforto ambiental, foi con-
siderado, entre outros, o nível mínimo de iluminação para
cada atividade estabelecido pela NBR 5413 (ABNT) e, para
a acústica, o nível de ruído de fundo máximo também para
cada atividade estabelecido pela NBR 10152 (ABNT)
(VIANNA; ROMÉRO, 1997).
Ainda, no que respeita ao consumo energético
(kWh/m2), considerou-se como referencial o indicador do
IBGE para a família paulistana e dados do especialista para
a classe média, levando-se em conta a área útil reduzida
associada ao aumento da presença de eletrodomésticos e à
utilização de chuveiro elétrico (ROMÉRO, 1997).
Critérios e referências dessa natureza também estão
sendo utilizados nas outras áreas do conhecimento objeto
desta APO como patologias nos edifícios, segurança contra
incêndio nos edifícios, conforto térmico, equipamentos
sociais, áreas livres, qualidade de vida no conjunto e outras.

4.3 Definição do universo da pesquisa em


relação à totalidade do Conjunto Habitacional
Jardim São Luís
Para efeito desta APO funcional, foi selecionado 41
um setor desse conjunto contendo 416 apartamentos (24%
da amostra total), distribuídos em 13 edifícios, dos quais
cinco abrigam população oriunda de favela (OF) removida
de área de risco do Parque Otero, num total de 160
domicílios (38%), ocupados a partir de dezembro de 1993,
e oito abrigam moradores com inscrição regular (IR) no
cadastro de moradores do CDHU, num total de 256
unidades (62%), ocupados a partir de setembro de 1994
(Figura 7). Em ambos os casos, os edifícios foram
Figura 7 – Implantação dos blocos ocupados por moradores
executados no pro-cesso “empreitada global”. oriundos da favela (OF) e por moradores com inscrição regular (IR)

Estrutura e metodologia da pesquisa


4.3.1 Determinação da amostragem Avaliação técnica – segundo nível
A definição amostral considerou os dois níveis de Para este segundo nível, foi escolhida uma sub-
abrangência da pesquisa: avaliação da satisfação dos usuá- amostra de 27 unidades do universo de 81, para a realização
rios – primeiro nível; e avaliação técnica – segundo nível. do levantamento técnico exaustivo, adotando-se o
Avaliação comportamental – primeiro nível procedimento da amostragem casual sistemática após a
Considerando esse universo, foi escolhida uma ordenação das unidades para garantia de “equirrepresen-
amostra intencional de 81 unidades (19,47% do total), o tação” nas diversas lâminas e pavimentos (TASCHNER,
que permite a extrapolação para o conjunto, visando 1997). Esses dados resultam da análise estatística apresen-
também garantir a distribuição proporcional entre as duas tada a seguir.
procedências (OF e IR), incluindo apartamentos de todas 4.3.1.1 Sistema de referências
as lâminas e nos distintos pavimentos, considerando Como universo-base para o cálculo do tamanho da
orientação solar, localização dos edifícios e dos apartamen- amostra e da escolha das unidades a serem levantadas,
tos nas lâminas. Essa distribuição amostral está apresentada foram utilizados os domicílios que já haviam sido
esquematicamente na Tabela 3. entrevistados na pesquisa comportamental. Para garantir a
equirrepresentação dos segmentos populacionais das duas
procedências (favela e fila normal) e das três categorias de
apartamento quanto à localização vertical dentro do prédio,
o procedimento escolhido foi a da amostragem casual
sistemática, após a ordenação das unidades.
A unidade amostral é, dessa forma, o domicílio a
ser submetido a uma avaliação técnica. É um universo finito,
real e enumerável, com tamanho 81. Por sua vez, esse 81 é
42
subconjunto do universo de 416 apartamentos e o
representa. Embora escolhidas de forma intencional, o
processo de seleção das unidades bem como o tamanho
Tabela 3 – Quadro de distribuição amostral
da amostra de 81 permitem a extrapolação para o Conjunto
Habitacional Jardim São Luís.
Do ponto de vista prático, foi elaborada sobre a
amostra principal – escolha preferencial (E) – uma amostra 4.3.1.2 Cálculo do tamanho da amostra
opcional (O) objetivando cobrir eventualidades dos O valor de n (tamanho da amostra) depende da
levantamentos in loco. Essas duas opções foram organizadas variabilidade apresentada em cada uma das variáveis em
em um quadro utilizado no campo para orientar as equipes estudo, da precisão desejada, da confiança que se quer
de pesquisadores, conforme apresentado na Tabela 4. depositar nos resultados e no universo dos domicílios.

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43

Tabela 4 – UH organizadas em amostra preferencial ou opcional

Estrutura e metodologia da pesquisa


Conforme já foi dito, o universo é finito, enumerável e tem das médias escalares. Foi utilizada a estatística:
existência real.
Como já foi efetuada a pesquisa comportamental Pr { | y-Y|> 0,13} = 0,10
no setor do conjunto estudado (amostra de 81 casos), pode-
se pensar na utilização da variabilidade de um estimado onde:
real, com média e desvio padrão conhecidos. As variáveis
Pr = probabilidade;
referentes à adequação ao uso, segurança, conforto,
privacidade, aparência, convivência social, características y = verdadeiro valor escalar na população; e
das áreas comuns e da vizinhança e manutenção e Y= valor escalar na amostra.
conservação de edifícios e das áreas comuns foram
mensuradas por meio de uma escala que transformou Explicando melhor a estatística usada, dizer que |
respostas com nível de mensuração qualitativo numa escala Y-y |, erro, não deve ultrapassar 13%, com confiança de
paramétrica que varia de 4 (ótimo) a 1 (péssimo). Já se 90%, significa dizer que em apenas 10% das possíveis
apuraram as médias, desvios padrão e modas das respostas amostras poderá haver erros superiores a 105, para o
referentes ao subconjunto de procedentes da favela. São tamanho da amostra calculado:
45 valores de média, cuja mediana foi a média da variável
2.10.1 (classificação da situação do espaço para trabalho no = t2S2 / d2
extra), com média igual a 2,5 e desvio padrão de 0,5. Não no = (1,64)2 (0,5)2 / (0,13)
é a variável de maior variabilidade, que é variável 8.8 n = 40
(qualificação da creche). Se essa variável fosse usada
(coeficiente de variação de 46,5%, desvio padrão de 0,99 e Como n/N tem valor apreciável, calculou-se a
média de 2,13), a amostra seria praticamente igual à de amostra para população finita:
44 uma população infinita, com os parâmetros de erro e
confiabilidade escolhidos (90% de confiança e 13% como
no / 1+ no – 1
erro máximo). n= n = 27
N
O levantamento técnico é por demais exaustivo e
demorado para permitir amostra tão grande. Além disso, a
variável de maior variabilidade é externa ao apartamento, 4.3.1.3 Processo de amostragem
referindo-se à qualidade da creche, e o levantamento técnico Escolheu-se o processo de amostragem sistemática.
visa verificar as condições objetivas da moradia em si. Dessa O comportamento da amostragem sistemática, em relação
forma, escolheu-se, para o cálculo da amostra, utilizar a à amostragem casual simples ou mesmo em relação à
variância da variável com média na mediana da distribuição estratificada, depende muito das propriedades da população.

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Para sua utilização mais eficaz, é preciso conhecer a do questionário proposto e da planilha técnica. Tais
estrutura dessa população. No presente caso, a estrutura instrumentos de coleta de dados foram elaborados e
perante duas variáveis importantes é conhecida: procedência devidamente testados na primeira fase da avaliação (pré-
habitacional e situação em relação ao andar. Dessa forma, teste) e sofreram, posteriormente, as devidas modificações.
as N unidades da população foram ordenadas de 1 a N; Do ponto de vista de seu conteúdo, o questionário
primeiramente, a população procedente da favela, do 1º ao (ver formulário em anexo, Capítulo X, seção 39) foi
último andar; depois a que não veio da favela, também do elaborado de tal forma que possibilitasse aferir o nível de
1º ao último andar. Através disso, ficou bastante simples satisfação dos usuários em relação aos seguintes aspectos/
selecionar e encontrar as unidades. Segundo Cocrhan níveis de abrangência e blocos temáicos (Quadro 2):
(1965), “a amostra sistemática se distribui de maneira mais
- às unidades de habitação;
uniforme através da população, e isso, às vezes, torna a
amostragem sistemática muito mais precisa que a - às áreas comuns dos edifícios;
amostragem casual estratificada”. - às áreas livres do conjunto habitacional; e
- aos equipamentos sociais e urbanos – escola
O intervalo de amostragem (N/n) foi 3, e o início
casual 2. A seleção amostral pode ser visualizada na figura
que se segue.

45

Figura 8 – Procedimentos para seleção amostral

4.4 Elaboração e aplicação dos instrumentos –


Coleta de dados
Foram feitas algumas entrevistas informais com
técnicos da Companhia Habitacional (incluindo o
engenheiro responsável pela obra) e com alguns moradores
Quadro 2 – Blocos temáticos abordados no questionário para
do conjunto, entrevistas estas que nortearam a formulação avaliação das UH

Estrutura e metodologia da pesquisa


4.5 O pré-teste meses.
Essa fase tem por objetivo verificar a eficiência dos Recomendações:
instrumentos de coleta de dados. Nesse caso, foram testados - aplicar o questionário conforme seleção amostral;
mediante a aplicação de 11 formulários a moradores - distribuir o mais homogeneamente possível entre
escolhidos aleatoriamente, para aferição da legibilidade das homens e mulheres;
perguntas, tempo de duração da aplicação e outros aspectos. - distribuir as entrevistas homogeneamente entre
Nessa fase, também ocorreu uma maior aproximação dos moradores oriundos de favela ou inscritos diretamente,
pesquisadores com a comunidade e iniciou-se o reconhe- conforme seleção amostral; e
cimento físico da área e de seu entorno, sendo já efetuados - solicitar ao usuário que responda sempre em relação
os primeiros registros fotográficos do trabalho. à situação predominante (ou seja, evitar respostas múl-
tiplas).

4.6 Aplicação do questionário definitivo Considerando-se os blocos de questões de 1 a 10,


discriminados no Quadro 2, a quantidade de questões
Conforme já mencionado, foram aplicados 81 contidas em cada item pode ser apreciada no Gráfico 1
questionários na fase 1 do Conjunto Habitacional Jardim que se segue.
São Luís, sendo 48 em apartamentos de IR e 33 em
apartamentos de OF. Os questionários definitivos foram Obs.: (a) ver legenda de 1 a 10 no Quadro 2; (b) os blocos
de 2 a 10 objetivaram aferir níveis de satisfação dos mora-
aplicados por alunos do Curso de Pós-Graduação da
dores/usuários.
FAUUSP (GAMBARDELLA et al., 1996) no 2° semestre
de 1997, sobretudo aos domingos. Os níveis de abrangência do questionário podem
ser visualizados na Figura 9, a seguir.
O questionário definitivo (ver capítulo X, seção 39)
contém 98 questões, em sua maioria do tipo múltipla
escolha, com escala de valores de 4 pontos (péssimo = 1,
46
ruim = 2, bom = 3 e ótimo = 4) mais o “não se aplica”
(NSA), além de cartões avulsos com as alternativas para a
questão 10.
Verificar:
- se o usuário não foi entrevistado anteriormente
(inclusive pré-teste);
- se é o chefe da família ou representante;
- se o usuário reside regularmente no edifício (não
temporariamente); e
- se o usuário mora no apartamento há pelo menos seis Gráfico 1 – Quantidade de questões por bloco temático

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Figura 9 – Níveis de abrangência do questionário

4.7 Sistematização e tratamento dos dados moda, média e desvio padrão (DP), em questões relativas
ao nível de satisfação dos usuários.
As informações foram reunidas em planilhas eletrô-
nicas para computador (Excel for Windows), de modo que Foram assim tabuladas as questões em planilhas com
cada aspecto estudado pudesse ser tabulado distintamente seus respectivos gráficos, e, em seguida, fez-se a compacta-
em uma planilha acompanhada do gráfico mais represen- ção dessas informações por blocos temáticos, objetivando
tativo dos resultados encontrados. As planilhas foram visualizar globalmente os resultados. Os gráficos decorren-
totalmente automatizadas, ou seja, com a introdução das tes das respostas de cada questão visaram comparar níveis
informações dos questionários em fórmulas, para se obte- de satisfação entre OF e IR, tal como nos exemplos (Tabela
rem automaticamente subtotais de cada aspecto analisado, 5 e Gráfico 2) que se seguem.
por número e percentuais no gráfico, além dos valores como

47

Tabela 5 – Exemplo de tabulação de dados por questão

Estrutura e metodologia da pesquisa


Gráfico 2 – Exemplo de gráfico resultante da tabulação de dados

Também foram construídos diagramas de barras hori- tem-se a seguir um diagrama de Paretto parcial para o caso
zontais que demonstram hierarquicamente as notas/médias das respostas OF, bloco temático “segurança”.
atribuídas pelos respondentes, da menor à maior, em ordem Esses dados foram tabulados, tanto para UF como
ascendente, segundo uma escala de quatro pontos, como para IR, no formato de gráficos e de diagramas de Paretto
instrumento complementar para visualização dos resultados (Tabela 6).
e instrumento de controle de qualidade. A título de exemplo,

48

Tabela 6 – Exemplo de diagrama de Paretto (bloco segurança/respostas OF)

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4.8 Cruzamento entre respostas atividades realizadas de modo repetitivo e sistemático por
Além da construção de gráficos do tipo “torta” para unidade de espaço, no decorrer de períodos
os dados tabulados de cada pergunta e dos diagramas de predeterminados (por exemplo, no decorrer do dia, a cada
Paretto, foram definidos alguns cruzamentos entre hora, da semana, etc.), e observadas as faixas etárias
respostas do questionário, tanto para OF como para IR, daqueles indivíduos ou grupos que as estão exercendo
visando detectar eventuais tendências de correlação. (BECHTEL; MARANS; MICHELSON, 1987;
BECHTEL, 1997).
Assim, foram construídos gráficos de barras
horizontais representativos de cruzamentos como: Esse instrumento é bastante útil para se entenderem
as múltiplas atividades de caráter social e de lazer
- número de ocupantes do apartamento versus nível de desenvolvidas em áreas coletivas, as zonas ou unidades de
satisfação quanto ao tamanho do apartamento; espaço que “atraem” ou “inibem” determinados usos. Os
- organização dos moradores para encaminhamento de mapas comportamentais podem também estar acom-
melhorias versus nível de satisfação quanto à manutenção, panhados de registros de trilhas e fluxos de pessoas e veícu-
conservação e operação da coleta de lixo; los, para se tentar minimizar eventuais conflitos e/ou sobre-
- nível de escolaridade versus nível de satisfação quanto posições. A visualização desses dados em mapas colabora
à segurança contra assaltos, roubos e invasões (edifício); nas tomadas de decisões de projeto (recomendações).
- sexo do entrevistado versus satisfação quanto à
Os mapas comportamentais devem ser acom-
temperatura da casa no verão e outros.
panhados de observações qualitativas de atividades in loco,
com um caráter mais antropológico.
4.9 Construção de mapas comportamentais
Para o caso das denominadas áreas livres, incluindo 4.10 Aplicação de checklist técnico
áreas comuns/condominiais dos edifícios, estacionamentos, Foi formulado e aplicado no 2° semestre de 1996
áreas para lazer e esportes (com ou sem equipamentos 49
um primeiro checklist (roteiro) técnico, a título de pré-teste,
específicos) e extrapolando o setor denominado de “fase que abrangeu especialmente edifícios, suas áreas comuns
1” do conjunto, foram construídos mapas comportamentais e 16 apartamentos. O checklist, tal como discriminado na
para análise das relações “ambiente versus comportamento”. Figura 7, orientou as primeiras vistorias realizadas pelos
Os mapas comportamentais são registros físicos das técnicos (GAMBARDELLA et al., 1996)20 .

20
Sobre esta técnica ver BAIRD et al., 1996 e LNEC, 1995.

Estrutura e metodologia da pesquisa


O checklist adotado como pré-teste incluiu os plotados em plantas baixas e em perspectivas volumétricas
seguintes blocos temáticos: todos os móveis e equipamentos existentes nos 27 apar-
(a) avaliação dos projetos e do “as built”; tamentos, o que permitiu calcular os índices de obstrução
(percentual de área ocupada por mobiliário e equipamentos
(b) infra-estrutura do conjunto (instalações de gás, coleta
em relação ao espaço disponível para uso destes e circu-
de lixo, taludes, etc.);
lação). Indicadores como m2 útil/morador e densidade de
(c) sistema construtivo (fundações, estrutura, alvenaria, ocupação também foram considerados.
cobertura e coleta de águas pluviais, forro, piso, reves-
timentos, pintura, esquadrias, instalações prediais, Além disso, foram feitas leituras de projeto, espe-
conforto ambiental, etc.); cificações técnicas e vistorias in loco por especialistas para
estruturação de avaliações técnicas relativas à patologias
(d) manutenção;
das edificações, segurança contra incêndio e outras.
(e) acessibilidade;
Também análises no âmbito da “economia do edifício”
(f) segurança contra crimes e contra incêndio; e indicam custos de manutenção preventiva e corretiva das
(g) funcionalidade dos apartamentos. melhorias implementadas (ou desejadas) pelos moradores
No caso do conforto ambiental, realizaram-se nas unidades em face do as built e assim por diante.
medições, cálculos e simulação com softwares (Arquitrop,
ESP-r) com base no projeto arquitetônico, nas especi- 4.11 Discussão sobre métodos, técnicas e
ficações técnicas dos materiais e do sistema construtivo, conclusões
nas condições de obstrução externa para luz e calor, nas Vários aspectos específicos e genéricos merecem ser
funções de cada cômodo dos apartamentos, entre outros aqui elencados sobre o conjunto de métodos e técnicas
quesitos, considerando-se sempre a interdependência entre adotados como instrumentos de avaliação, visando ao
conforto térmico, acústico e luminoso (VIANNA; contínuo aperfeiçoamento para aplicação em outros
50 ROMÉRO, 1997). conjuntos habitacionais semelhantes. São eles:
No caso do consumo de energia elétrica nos 27 (1) a APO é uma metodologia eficaz para desen-
apartamentos, foram levantados todos os equipamentos volvimento de diagnósticos que subsidiem recomen-
eletrodomésticos existentes, a distribuição dos pontos de dações e diretrizes calcadas nas efetivas necessidades
energia, os padrões de consumo. Calcularam-se, entre dos moradores/usuários;
outros indicadores, a potência média instalada (W/m2) e o (2) na construção do questionário, adotar algumas
consumo médio mensal da habitação, além de análises do perguntas com escalas de valores diferenciadas quanto
projeto quanto à potência instalada versus bitola da fiação ao número de pontos, visando também destacar escalas
adotada. ímpares (3 ou 5 pontos), ou seja, que contemplem o
Quanto à avaliação funcional, foram levantados e ponto neutro ou “regular”;

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(3) a diversidade de métodos e técnicas adotados
(questionários, entrevistas, observações, registros
fotográficos, vistorias técnicas, outros), sendo alguns
com resultados predominantemente quantitativos e
outros com resultados predominantemente quali-
tativos, e a comparação entre eles aumentam a confia-
bilidade dos diagnósticos finais e de seus cruzamentos;
(4) os síndicos devem ser antecipadamente comunicados
sobre a aplicação da APO, para facilitar o acesso; e os
resultados da pesquisa devem ser apreciados por eles e
por outros moradores interessados, quando da sua con-
clusão final;
(5) na tabulação de dados, o agrupamento das
informações extraídas dos questionários por pavimento
e/ou de acordo com a orientação solar destacou pro-
blemas específicos da posição do apartamento no bloco;
(6) os procedimentos estatísticos para análise de dados
podem ser ajustados e aprimorados, caso a caso;
(7) a compreensão das modificações e adaptações feitas
pelos moradores nos apartamentos, áreas comuns dos
blocos, áreas livres e estacionamentos auxiliam a en-
tender o comportamento do usuário como insumo para
51
a realimentação de projetos; e
(8) os produtos finais da APO, não só na forma de
relatório mas também no formato “vídeo”, colaboram,
de forma decisiva, na divulgação dos resultados da
pesquisa no meio acadêmico e profissional, facilitando
a leitura e a utilização das recomendações geradas.

Estrutura e metodologia da pesquisa


II.
5 Considerações preliminares

6 Da unidade habitacional a alguns aspectos coletivos e/ou condominiais dos edifícios

52

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II.
APO funcional - Das unidades
e das áreas condominiais

5 Considerações preliminares

A
avaliação funcional enfoca, em níveis distintos de profundidade, a avaliação funcional dos

ambientes internos dos apartamentos, alguns aspectos relevantes dos edifícios em seu conjunto,

passando pela avaliação das áreas externas, coletivas, e/ou condominiais dos blocos de edifícios
53
em “formato H”, interligados por duas caixas de escada, até a análise de aspectos das áreas livres e do

desenho urbano do conjunto habitacional. A propósito desses itens, além de análises e diagnósticos, faz

recomendações segundo os procedimentos da APO para o próprio estudo de caso e, principalmente, para

futuros projetos de conjuntos habitacionais, à luz de critérios de desempenho. Nos casos pertinentes, remete

a recomendações constantes de outros capítulos, especialmente no que respeita ao capítulo Avaliação

Econômico-Funcional.

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


6 Da unidade habitacional a alguns aspectos renda, embora ainda sejam em número restrito os estudos
das áreas coletivas e/ou condominiais dos com resultados práticos dirigidos à manutenção e à gestão
edifícios (condominial) de conjuntos habitacionais
(MEDVEDOVSKI, 1998), com a participação dos
6.1 Revisão conceitual e teórica moradores no decorrer do uso. Alguns trabalhos discutem
No campo internacional, podem ser encontrados em detalhes o processo de produção (e as tipologias
estudos voltados à compreensão da privacidade ao longo decorrentes) na forma de “mutirão” ou de “ajuda mútua”
dos séculos, das relações interpessoais, sociais e entre e a experiência participativa nas tomadas de decisão pelos
cômodos da moradia, diante, por exemplo, das necessidades moradores (ABIKO; ALBIERI, 1996).
de cada época até o presente momento (RYBCZYNSKI,
Verifica-se também que no caso brasileiro ainda são
1996). Estudos em profundidade da evolução arquitetônica
relativamente reduzidos os estudos que abordam a
e do desenho urbano recentes, sob o prisma da habitação
em regiões metropolitanas, como no caso de New York, funcionalidade com detalhes, visando realimentar futuros
podem ser encontrados em obras como a de Plunz (1990). projetos, à luz de uma visão retrospectiva da produção
Existem também pesquisas interdisciplinares, como no caso habitacional de interesse social. Trabalhos já concluídos
de Portugal (LNEC, 1995), onde foi recentemente (IPT, 1987; ORNSTEIN et al., 1997; CRUZ, 1998), os
concluída a avaliação pós-ocupação de diversos conjuntos quais incluem indicadores como áreas úteis por cômodo
habitacionais, implantados a partir de 1985 e analisados versus área ocupada por mobiliário e equipamentos;
tanto do ponto de vista técnico como do ponto de vista densidade ocupacional (m²/morador); índice de obstrução
dos moradores, sob a ótica do contexto urbano até a (IO) por cômodo (percentual de área ocupada por
unidade habitacional. Ainda em Portugal, recentemente foi mobiliário e equipamentos em relação à área para utilização
publicada exaustiva e profunda análise tipológica e dos mesmos e para circulação) entre outros, além de análises
funcional da escala do bairro à unidade habitacional econômico-funcionais (GHOUBAR, 1995), sugerem que
54 há necessidade de aprofundar e sistematizar esses dados,
(COELHO; PEDRO, 1998), a qual faz uma abordagem
prática e de atualização de obras clássicas como Portas levando-se em conta a prática informal da autoconstrução
(1969) e Alexander et al. (1980). Outros trabalhos mais periférica, os elevados índices de satisfação desses usuários
específicos no que diz respeito aos conceitos de (CRUZ; ORNSTEIN, 1995) e em que medida essa
acessibilidade aos portadores de deficiências ou do desenho produção poderia fornecer insumos, inclusive no campo
universal, voltados às unidades habitacionais, podem ser das relações “ambiente versus comportamento”, para
verificados em Voordt (1990) e em MacDonald (1996). subsidiar o desempenho funcional dos conjuntos
habitacionais formais.
No Brasil, também existe uma forte tradição em
experiências (bem ou malsucedidas) no que tange à Em anos recentes, foram poucos os estudos no
produção habitacional destinada à população de baixa âmbito da arquitetura voltados às variáveis dimensionais e

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funcionais, associados aos aspectos ergonômicos do espaço de áreas úteis mínimas necessárias, por cômodo, são: (a)
habitacional. Muitas vezes, somente são adotados pelos BLACHÈRE: 14 m² úteis/morador, para qualidade de vida
profissionais brasileiros, no seu dia-a-dia, critérios mínimos regular; (b) PORTAS E LAUWE: respectivamente 10 m²
discutíveis, tais como o Código de Edificações do Muni- e 8 m² úteis/morador, dados como “mínimo crítico”.
cípio de São Paulo e o já ultrapassado Código Sanitário do
Estado de São Paulo. Porém, alguns esforços para elencar
critérios de desempenho funcional na forma de referenciais
de qualidade e de checklists têm sido feitos em particular
nos últimos dez anos, podendo-se fazer menção, entre
outros, aos trabalhos do IPT (1987) e de Boueri (1989),
para o caso de habitação de interesse social, autoconstruída
ou promovida pelo poder público, e de Oliveira, Lantelme Tabela 7 – Áreas úteis (m2/morador) recomendadas por diversas
entidades e países europeus, de acordo com o tamanho da família.
e Formoso (1995), para o caso de edifícios habitacionais e Fonte: ROSSO, 1990, p.138 (tabela adaptada)
comerciais.
É interessante, também, observar as recomendações
6.2 Procedimentos metodológicos técnicas para habitação social em vigor, no caso português:
A APO funcional orientou-se pelo roteiro metodo-
lógico constante no item 4.1.1 e no fluxograma da Figura
10, a seguir.

6.3 Critérios de desempenho


Um conjunto básico de critérios de desempenho
55
pode ser visualizado nas tabelas e gráficos que se seguem,
os quais serviram como referencial de qualidade na análise Obs.: T1 = 1 dormitório; T2 = 2 dormitórios e assim, sucessivamente

funcional dos apartamentos levantados. Tabela 8 – Dimensionamento da área habitável – o caso português
Fonte: Ministérios do Equipamento Social e da Qualidade de Vida, Portaria
Alguns dos indicadores nacionais e internacionais 580/83, despacho 41/85 p. 1520/82

21
Segundo Coelho e Pedro (1998, p. 340) define-se como: “[...] a soma das áreas de todos os cômodos da habitação, incluindo vestíbulos, circulações interiores,
instalações sanitárias, despensas, outros compartimentos de função similar e armários nas paredes, mede-se pelo perímetro interior das paredes que limitam a
habitação [...], descontando paredes interiores, divisórias [...]” (adaptação da língua portuguesa pelos autores do livro).
22
É interessante notar que termos de área útil, levantamentos realizados em empreendimentos sociais das cidades do Porto e de Lisboa (COELHO; PEDRO, 1998,
p. 346) indicaram médias entre 6,30 e 9,80 m2 úteis/habitante.
23
Ver nota 76.

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


56

Figura 10 – Procedimentos metodológicos – APO Funcional – ênfase em unidades habitacionais

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As recomendações técnicas portuguesas expressas tratamento de roupa, instalações sociais, espaços de entrada
de forma resumida na Tabela 9 estão em vigor desde 1985 e de circulação, armários, despensas e demais dependências,
e determinam de modo claro as exigências mínimas em como varandas e alpendres. Nesses casos, para possibilitar
termos de qualidade funcional, a serem atendidas pelo pro- o uso efetivo do mobiliário e de equipamentos mínimos
jeto de arquitetura, no caso da habitação: as atividades mais da habitação, exige-se a determinação de espaços suficientes
habituais relacionadas com o modo de vida previsível do para instalação, por exemplo, de geladeira: 0,60 x 0,60 m
agregado familiar e sua evolução; o número médio previsto (na cozinha) ou a inscrição de um círculo em planta de
de ocupantes; o espaço requerido pela movimentação das 1,20 m de diâmetro no espaço de entrada.
pessoas e pelo equipamento e mobiliário correntes,
Já no caso espanhol, podem ser encontrados os
circunstanciados a cada atividade exercida na habitação e
seguintes indicadores (MINISTERIO DE OBRAS
pelo seu uso normal; as interrelações e sobreposições no
PUBLICAS Y URBANISMO apud COELHO; PEDRO,
espaço e no tempo entre as atividades exercidas na
1998, p. 345):
habitação. (MINISTÉRIOS DO EQUIPAMENTO
SOCIAL E DA QUALIDADE DE VIDA, Portaria 580/
83, despacho 41/85, p. 1520/82, adaptação da língua
portuguesa pela autora do relatório).
Ou, ainda, no caso de cada ambiente ou “com-
partimento”, por exemplo, “quartos” ou “dormitórios”, os
dormitórios devem constituir espaços fechados com acesso
por porta; a forma e as dimensões do dormitório devem
permitir a circulação das pessoas e o uso fácil do seguinte
mobiliário habitual: camas individuais ou camas de casal,
mesas de cabeceira, cômoda e roupeiro; a legislação dos 57
dormitórios na habitação deve permitir a maior privacidade
Tabela 9 – Área útil por número de dormitórios – o exemplo
interna e externa relativamente aos espaços comuns de espanhol
Fonte: Institut de Tecnologia de la Construcción de Catalunya “Condiciones
circulação e habitação adjacentes (MINISTÉRIOS DO Minimas d´Habitati de Construcción dos Edificios a Contemplar en les
EQUIPAMENTO SOCIAL E DA QUALIDADE DE Ordenances d´Edificació” in Coelho & Pedro, 1998, p. 345

VIDA, Portaria 580/83, despacho 41/85, p. 1520/82,


adaptação da língua portuguesa pela autora do relatório).
Existem, assim, exigências seguidas atentamente nos
projetos de arquitetura para habitação social também para Outros indicadores nacionais e internacionais podem
os demais ambientes: sala, cozinha, somados ao local para ser visualizados a seguir.

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


58

Tabela 10 – Área útil mínima total recomendada para habitação em m2 (dormitórios + salas + cozinha + banheiro + área de serviço)

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59

Tabela 11 – Áreas úteis mínimas recomendadas por cômodo (m2)

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


No caso do Município de São Paulo, no qual se Se forem considerados os ambientes internos da
insere o Conjunto Habitacional Jardim São Luis, objeto de habitação, têm-se, por exemplo, como alturas reco-
estudo, os denominados empreendimentos habitacionais mendadas para acionamento de dispositivos (NBR 9050/
de interesse social (EHIS) devem atender à seguinte 94, p. 5):
legislação: (1) Decreto 31.601, de 26/05/92, (2) Decreto
a) interruptor entre 0,80 e 1,00 m
33.824, de 24/11/93; (3) Decreto 34.049, de 23/03/94,
(4) Decreto 35.433, de 23/08/95, (5) Decreto 35.553, de b) tomada entre 1,15 e 0,40 m
04/10/95, (6) Decreto 35.839, de 30/01/96, (7) Decreto c) registro com 1,00 m
35.892, de 14/02/96, (8) Decreto 36.366, de 06/09/96 e d) comando de janela entre 1,15 e 0,40 m
(9) Decreto 37.004, de 12/08/97. e) maçaneta de porta entre 1,00 e 0,40 m
Uma vez que muitos municípios brasileiros adotam, Outras recomendações constantes da NBR 9050/
em linhas gerais, a legislação formulada pela Secretaria da 94:
Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura do
Município de São Paulo, é interessante levar em a) vão livre mínimo de porta: 0,80 m (p. 19);
consideração a única exigência específica voltada à b) altura de eixo de barra de apoio em banheiro:
funcionalidade do apartamento do EHIS destinado a 0,76 m (p. 24);
“edificações multifamiliares”, na forma de conjuntos c) armários: altura mínima 0,30 e máxima 1,20 m;
habitacionais até cinco pavimentos, incluindo o térreo. puxadores e fechaduras: faixa de conforto de 0,80 a 1,00
· Área útil mínima por habitação de dois ou mais m (p. 34).
dormitórios igual a 36 m2, alínea “h” do art. 5º do A propósito de habitações autoconstruídas no
Decreto 34.049/94, alterado pelo Decreto 35.839/9624 . Município de São Paulo (CRUZ; ORNSTEIN, 1995), estas
Também, no que diz respeito à acessibilidade a apresentam os seguintes dados básicos encontrados nas
60 portadores de deficiência e considerando que uma parcela unidades pesquisadas:
dos apartamentos (no pavimento térreo, por exemplo) (a) área útil média: 52,00 m²;
deveriam atender a essas populações, deve-se considerar (b) área útil média por morador: 13,00 m² e
as recomendações da NBR 9050/94 – Acessibilidade de
(c) tipologia básica predominante: dois dormitórios,
pessoas portadoras de deficiências a edificações, espaço,
sala, cozinha, banheiro e área de serviço, um pavimento.
mobiliário e equipamentos urbanos (ABNT) visando ao
“desenho universal”. O Gráfico 3, a seguir, ilustra a situação citada acima.

24
No que tange ao conforto ambiental, a legislação municipal também prevê para as EHIS, na alínea “IV” do art. 42 do Decreto 31.601/92 “Condições de aeração,
insolação e iluminação das unidades habitacionais previstas no Código de Edificações do Município”.

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Gráfico 3 – Habitações autoconstruídas: áreas úteis por cômodo/m² – 50 casos

6.4 Avaliação técnica de desempenho bilizando a colocação de box de chuveiro (note-se,


6.4.1 Características do objeto de estudo entretanto, que diversos moradores alteraram tal layout).
O apartamento tem uma área útil de 37,69 m² 6.4.2 Levantamentos e diagnósticos
(incluindo hall de distribuição) e contempla dois dormi- 6.4.2.1 Ambientes internos dos apartamentos 61
tórios, sala e cozinha (separadas originariamente por um A partir dos levantamentos técnico-funcionais in loco,
balcão), área de serviço e banheiro, conforme pode ser foram feitos desenhos em AutoCad, de 27 apartamentos,
verificado na Figura 6, item 3. Destaca-se, em especial, contendo o arranjo espacial de cada unidade, o mobiliário,
que a disposição efetiva das louças sanitárias no banheiro equipamentos, louças sanitárias e peças de cozinha. Assim,
está em desacordo com o projeto arquitetônico e de cada apartamento é apresentado em planta
instalações originais, uma vez que tais louças foram (bidimensionalidade) e em perspectiva (para estudo da
instaladas junto à parede divisória com a cozinha, exigindo ocupação com base nos volumes gerados por mobiliário e
a execução de saliência na parede de entrada, o que reduziu equipamentos), conforme exemplificam as Figuras 11 e
o espaço de acesso ao banheiro. Assim, lavatório e vaso 12, demonstrativas do levantamento técnico-funcional e
sanitário foram fixados muito próximos entre si, invia- dos desenhos de um apartamento do setor objeto de estudo.

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Figura 11 – Exemplo de levantamento em planta realizado em um
dos apartamentos com formas de ocupação, mobiliário e
equipamentos

62

Figura 12 – Exemplo de desenho volumétrico (3D) realizado em um


dos apartamentos, com formas de ocupação, mobiliário e
equipamentos

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As vistorias técnico-funcionais foram realizadas pela equipe de pesquisadores em 27 apartamentos, distribuídos
nos 13 blocos, nos pavimentos inferiores (1°), nos superiores (4°) e intermediários (2° e 3°), dos quais nove abrigam
moradores OF, e 18, IR. Uma vez que se trata de edifícios e apartamentos iguais em termos dimensionais e de arranjos
espaciais e que os índices de obstrução (IO) encontrados (áreas ocupadas por mobiliário e equipamentos) apresentaram
diferenças pouco significativas entre as “duas populações” amostrais (OF e IR), foram calculados os indicadores médios,
conforme consta da Tabela 12, a seguir.

Tabela 12 – Indicadores dimensionais médios dos apartamentos levantados (27 casos)

Verificou-se que: exigidos ou recomendados para várias daquelas apon-


63
(a) os índices de obstrução (IO) obtidos são inferiores tadas nas tabelas e gráficos anteriores, sobretudo se
àqueles destacados em outros trabalhos na mesma linha comparadas com indicadores internacionais como Por-
(ORNSTEIN et al., 1997), sendo estes percentuais mais tas, Voordt e LNEC, ou até mesmo das habitações auto-
críticos no caso dos dormitórios e da área de serviço; construídas;
(b) as razões obtidas para os cômodos cozinha e banhei- (d) em especial, a área útil do banheiro está próxima ou
ro sugerem áreas úmidas muito distantes da forma além de alguns indicadores nacionais recomendados.
quadrada, o que pode significar custos mais elevados Em termos de área útil total (37,69 m2, incluindo
para execução em relação aos demais cômodos, além hall de distribuição), considerando-se a tipologia “dois dor-
dos custos específicos de instalações hidrossanitárias; mitórios para quatro moradores”, a referida área útil está
(c) as áreas úteis por cômodo estão aquém dos mínimos um pouco além daquela considerada mínima para o caso

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de EHIS pela legislação municipal (36 m2) e muito aquém uso” são de tendência favorável (médias entre 2,5 e 3,0).
da legislação portuguesa (43,5 m2, Tabela 2, para o caso Porém, no caso da subamostra de 27 casos, em ambas as
T2, ou seja, dois dormitórios) e da recomendação espanhola populações (OF e IR) existe insatisfação quanto ao tamanho
(Tabela 3, dois dormitórios). Também está muito aquém da área de serviço e, no caso dos provenientes de IR, em
da área útil média de uma habitação autoconstruída (52,00 relação ao local para passar roupa. Ainda, a grande maioria
m2), dado obtido em pesquisa recente na cidade de São dos moradores da subamostra de 27 casos (77%) indicou
Paulo (CRUZ; ORNSTEIN, 1995). Ainda a tipologia em haver falta de espaço para desenvolvimento de alguma
estudo é de difícil adaptação, ante as limitações atividade extra no apartamento, o que sugere o seu
dimensionais, à NBR 9050/94, a propósito da subdimensionamento.
acessibilidade a portadores de deficiência, em especial no 6.4.2.2 Segurança contra acidentes e de utilização
caso de áreas úmidas (banheiros, cozinhas e áreas de
A questão das caixas de escada interligadas das
serviço).
lâminas "H" são analisadas no item Segurança contra
Deve-se levar em consideração, nas análises fun- incêndio – APO do Sistema Construtivo.
cionais pautadas na subamostra de 27 habitações (extraídas
Abrigos de gás
das 81 anteriores), visando aferir densidade ocupacional e
Segundo Gambardella et al. (1996), os abrigos
outros aspectos, que, ao contrário da amostra maior, aqui
contêm botijões de 13 kg cada e foram construídos em
o número médio de ocupantes por apartamento é razoável
alvenaria com portinholas de tela metálica, nas áreas
(3,52), assim como a conseqüente área útil média por
externas comuns entre as lâminas de cada bloco. Essa
morador (10,37 m²), o que atende a indicadores propostos
localização prejudica o acesso principal ao bloco e o uso
por Lauwe e Portas, e àquele recomendado na Tabela 1,
dessa área como lazer para as crianças. Também aumenta
no caso de quatro moradores, havendo apenas diferenças
o risco de explosões e incêndios por sua utilização como
ligeiras quanto a este indicador entre apartamentos de OF
bancos e local de brincadeiras. A questão da insegurança
64 e aqueles de IR.
contra incêndios (explosão) está também associada ao fato
Também no caso de exemplos de empreendimentos constatado de que alguns moradores do 4° pavimento
sociais em Portugal, o indicador (área útil média por utilizam botijão de gás em sua própria cozinha “para ter
morador) encontrado no Jardim São Luis é superior àqueles pressão suficiente”, local que não tem condições de garantir
levantados naquele país. ventilação suficiente e condições de uso adequadas.
Por outro lado, se forem comparados os níveis de Abrigos de lixo
satisfação dos moradores dessa subamostra (27 casos) com Também segundo Gambardella et al. (1996), os
aqueles apontados nas Tabelas 7 e 8 (IR = 48 casos e OF denominados abrigos de lixo foram executados em posições
= 33 casos), verifica-se que, de um modo geral, as notas diversas. Em alguns casos, estão situados na frente do
atribuídas aos diversos aspectos do tópico “adequação ao edifício e, portanto, próximos dele. Em outros casos, ficam

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na base de taludes em pontos de acesso difícil, por meio 94 – Acessibilidade de pessoas portadoras de deficiências
de escadarias. Em locais com grande declividade, há o a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos.
arrastamento dos sacos de lixo pelas enxurradas (águas Entre os elementos relativos à acessibilidade mais
pluviais). importantes na implantação do conjunto estão a ausência
Canaletas de águas pluviais de:
As canaletas de águas pluviais próximas aos edifícios · vagas apropriadas de estacionamentos;
não têm, na maioria dos casos, proteção por meio de grelhas · guias rebaixadas;
ou placas de concreto junto aos acessos de usuários, o que · calçadas acabadas adequadamente e com largura
permitiria o fluxo de pessoas, inclusive portando carrinhos suficiente para passagem de pessoa em cadeira de rodas
de compras, de bebês e/ou em cadeiras de rodas. A (l = 1,20 m);
inexistência de proteção não só causa o acúmulo de detritos, · acesso aos edifícios e aos apartamentos por meio de
o que impede o fluxo contínuo de águas pluviais, mas rampas e/ou, no segundo caso, unidades habitacionais
também pode causar acidentes. para portadores de deficiência situados no pavimento
térreo e/ou instalação de elevadores em alguns dos
Taludes blocos;
Os inúmeros cortes existentes no terreno geraram · vão livre mínimo de porta = 0,80 m;
taludes, os quais não vêm recebendo a devida manutenção · unidades habitacionais com áreas úteis adequadas,
(por exemplo, com cobertura vegetal/grama), o que está especialmente para cozinhas e banheiros, juntamente
implicando um processo acelerado de erosão junto aos com a instalação de barras de apoio nos últimos
edifícios, com eventuais riscos de desmatamentos (dos ambientes mencionados e fixação de dispositivos
taludes). Tal situação pode causar não só riscos aos edifícios, elétricos, hidráulicos, para abertura e fechamento em
sobretudo no caso das áreas comuns, e aos apartamentos alturas adequadas, conforme já mencionado no item
situados no térreo e/ou no primeiro pavimento, mas Critérios de Desempenho, entre outros. 65
também às crianças que, por falta de espaços externos
qualificados como parques infantis/playgrounds, utilizam os 6.5 Avaliação da satisfação dos usuários
taludes como escorregadores e para outros tipos de
6.5.1 Adequação ao uso do apartamento
brincadeiras (é importante destacar que se verificou que
Foi considerado, no que diz respeito à aplicação dos
existe uma média superior a 30 crianças por bloco "H").
questionários, além das características básicas do
6.4.2.3 Acessibilidade a portadores de deficiência entrevistado e de sua família, questões relativas à adequação
O Conjunto Habitacional Jardim São Luís, do ao uso do apartamento e de privacidade. Para medir os
desenho urbano à unidade habitacional, não atende a níveis de satisfação dos usuários, adotou-se escala de quatro
praticamente nenhuma das recomendações da NBR 9050/ pontos (péssimo = 1, ruim = 2, bom = 3 e ótimo = 4),

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além da alternativa “não se aplica”. Em termos gerais, Pode-se dizer que, em princípio, os entrevistados
verifica-se que, no caso da amostra total na qual foram oriundos de IR são mais críticos em relação aos aspectos
aplicados questionários (81 apartamentos), o número de de possíveis sobreposições de atividades domésticas, pois
ocupantes por unidade é superior naqueles ocupados por têm como referência moradia anterior com desempenho
OF (em média 4,15 ou 8,36 m2 úteis por morador) do que superior aos OF (transferidos de favela).
naqueles ocupados por IR (em média 3,79 ou 9,62 m 2 úteis
Verifica-se que existe um nível mais elevado de
por morador)25 . Na grande maioria dos apartamentos, a
insatisfação quanto à adequação ao uso do apartamento
composição familiar é constituída de pai, mãe e filhos, e
por parte daqueles moradores de IR (tamanho da área de
nos apartamentos dos IR, 15% trata-se de mãe e filhos serviço, da cozinha e a situação do local para passar roupa),
contra 9% nos casos dos OF. Em termos de faixa etária, ao passo que os moradores OF apresentam insatisfação
os moradores OF são mais jovens (49% até 21 anos contra apenas quanto ao tamanho da área de serviço e ao espaço
43%, no caso dos IR). A escolaridade é baixa em ambos para trabalho extra. Constata-se ainda, em outro bloco de
os casos (com 52% dos entrevistados OF e 48% dos IR questões, que existe um elevado nível de insatisfação quanto
até 1° grau incompleto) e, quanto à renda familiar, há à privacidade entre apartamentos em ambos os casos (média
predominância de valores entre um e cinco salários mínimos e modas com tendências bastante negativas), o que pode
(75%) no caso dos IR. No caso da amostra de 81 aparta- estar associado às respostas negativas quanto às dimensões
mentos, têm-se os principais indicadores estatísticos que de alguns cômodos, eventual sobreposição de tarefas e
se seguem (Tabelas 13 e 14). metros quadrados úteis por morador indutores de estresse
No caso dos itens tamanho da área de serviço e cômodo (ver critérios de desempenho anteriores). Reforça essa idéia
para passar roupa, verifica-se que os entrevistados IR o fato de que a grande maioria dos respondentes de ambas
apresentaram respostas de tendência negativa, e os as populações acredita que falta espaço no apartamento
entrevistados OF, também de tendência negativa ou para desenvolver atividades como brincar com crianças,
66 ligeiramente satisfatória. estudar e fazer refeições, entre outras.

25
É interessante notar que, conforme aponta o item 2.4.2, a área por morador no caso da subamostra igual a 27 é adequada, se comparada com alguns indicadores
internacionais; já no caso da amostra maior, tanto para o caso de OF quanto para o caso de IR, segundo Portas e Lauwe , situam-se no “mínimo crítico”, aquém,
portanto, dos indicadores da Tabela 1 (dois dormitórios e quatro moradores).

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Tabela 13 – Níveis de satisfação dos moradores com relação à adequação ao uso – IR

67

Tabela 14 – Nível de satisfação dos moradores com relação à adequação ao uso – OF

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6.5.2 Privacidade versus funcionalidade satisfeitos com a privacidade interna do apartamento.
O número de ocupantes por apartamento é superior A questão da convivência social, pouco estimulada,
em OF (4,15) do que naqueles ocupados por IR (3,79). Os uma vez que as áreas externas aos apartamentos não são
moradores oriundos de OF e de IR entrevistados eram adequadas para tanto, associada ao fato da insegurança
predominantemente jovens (até 21 anos) e, em ambas as contra crimes, outro aspecto apontado por OF e IR como
populações, foi encontrado apenas 1% de moradores com insatisfatório, aumenta o estresse no interior das unidades
66 anos ou mais de idade. em face das densidades ocupacionais relativamente elevadas
Por outro lado, as Tabelas 18, 19, 20 e 21, acompa- dos apartamentos, seja em termos do número de moradores,
nhadas dos respectivos diagramas de Paretto, a seguir, seja em termos das obstruções decorrentes da grande
indicam a existência de grande insatisfação tanto no caso quantidade de móveis e equipamentos.
dos entrevistados IR como no caso daqueles OF, no que Mesmo considerando indicadores ligeiramente mais
diz respeito à privacidade26 em relação aos vizinhos ime- elevados, para o caso de OF, quanto aos aspectos de convi-
diatos entre apartamentos, bem como respostas de tendên- vência social, de um modo geral fica clara a necessidade,
cia negativa em termos de convivência social nas áreas tanto no caso do Conjunto Habitacional Jardim São Luís
comuns, coletivas e de lazer em geral existentes no conjunto, como em futuros projetos, de se estabelecer um equilíbrio
pouco qualificadas para atender a demandas, sobretudo de entre dimensões dos ambientes internos ao apartamento e
populações atualmente jovens, portadores de deficiência, alternativas, em termos de qualificação espacial, do desenho
ou mesmo populações atuais e/ou futuras na terceira idade. urbano das áreas livres, visando a atividades de lazer passivo
Todavia, tanto moradores IR quanto OF parecem estar e ativo.

68

Tabela 15 – Níveis de satisfação dos moradores com relação à privacidade – entrevistados IR – 48 casos

26
Ver também análise de privacidade versus problemas de ruídos/conforto acústico no capítulo referente à APO do Conforto Ambiental.

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6.5.3 Segurança contra acidentes, acessibilidade e 6.5.3.2 Acessibilidade
outros aspectos Os itens acessibilidade à portadores de deficiência
6.5.3.1 Segurança contra acidentes na escada (temporária ou permanente) e segurança contra acidentes, estão
Tantos os moradores entrevistados de IR como de interligados entre si. Há indicações de que tanto os morado-
OF atribuíram notas com tendência satisfatória ou positiva res IR como OF têm conhecimento das barreiras impostas
para o aspecto referente à caixa de escada que interliga as a eles pelo desenho urbano, pelo edifício, uma vez que as
duas lâminas do bloco "H" (médias 2,60 e 2,59 para IR e respostas a estes itens apresentam fortíssima tendência
OF, respectivamente), o que talvez denote um item pouco negativa. De fato, o conjunto habitacional praticamente
prioritário entre aqueles apreciados pelos moradores. não atende a nenhum dos quesitos desde a macroescala
(desenho urbano) até a unidade habitacional da NBR 9050/
Entretanto, se for verificado esse aspecto no contexto
9427 , “impedindo” essas pessoas de se socializarem e/ou
do item manutenção, conservação e operação dos corredores e escadas,
de ter condições mínimas de utilização da unidade
ao contrário, tanto moradores IR como OF indicam
habitacional.
tendências negativas (aquém da média mínima aceitável)
desses aspectos de manutenção, conservação e operação 6.5.3.3 Aparência: do conjunto habitacional à unidade
habitacional
de elementos construtivos, talvez associados ao fato de se
No que diz respeito à aparência (aspecto estético,
tratar de elementos de circulação não enclausurados, que
percepção visual), desde a ambientação interna do apar-
oferecem proteção limitada não só à segurança contra
tamento até a apreciação do edifício (bloco), do conjunto
acidentes no que diz respeito à largura dos patamares,
habitacional como um todo até as áreas comuns, coletivas,
degraus das escadas e fixação de guarda-corpos, mas
sejam estas últimas inseridas interlâminas de edifícios (áreas
também no que tange às chuvas e ventos.
condominiais), sejam elas públicas para atividades de lazer
A avaliação técnica de desempenho indicou também e/ou o centro comunitário (de convivência), verificou-se
diversos aspectos insatisfatórios no que diz respeito à tanto no caso dos moradores entrevistados IR quanto dos 69
segurança contra acidentes ou segurança de utilização não OF significativa apreciação de tendência negativa. Constata-
só nas áreas comuns/coletivas e de circulação do edifício se, entretanto, que a insatisfação é ainda maior entre os
mas também nas áreas livres (no âmbito do desenho urbano moradores IR, para os quais apenas a aparência da ambien-
do conjunto). tação interna do apartamento foi apreciada favoravelmente.

27
Normas rígidas e eficazes para a construção civil são o primeiro passo para uma melhoria da democratização do espaço urbano. “Pode-se, pois, dizer que parte
significativa da configuração urbana acaba promovendo uma marginalização dos deficientes” (FOLHA DE S. PAULO, 18 abr. 1998, p. A-2).

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Já no caso dos moradores OF, apenas as áreas comuns e o
centro comunitário (de convivência) foram considerados
insatisfatórios quanto à aparência.
Essas ponderações, ligeiramente diferenciadas entre
IR e OF, parecem se justificar na medida em que os mora-
dores oriundos de área de favela, com a transferência, tive-
ram ganhos de qualidade de vida significativos, ao passo
que aqueles de IR, não necessariamente.

Tabela 16 – Níveis de satisfação dos moradores com relação à aparência – entrevistados IR = 48 casos

70

Tabela 17 – Níveis de satisfação dos moradores com relação à aparência – entrevistados OF = 33 casos
Obs.: utilizada escala de valores de quatro pontos, a saber: péssimo = 1; ruim = 2; bom = 3 e ótimo = 4

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No caso do centro comunitário e das áreas comuns, apropriação na microescala que as famílias têm de sua
ambos considerados de aparência insatisfatória tanto por unidade habitacional, com possibilidades visíveis de
IR como por OF, verifica-se que, no caso do centro implementação de melhorias e de personalização, conforme
comunitário, de fato este está vandalizado e sem utilização; ficou demonstrado no levantamento dos 27 apartamentos.
no segundo caso, áreas comuns, constatou-se na época da
Para visualização com maior profundidade das
aplicação de questionários erosão de taludes, inexistência
análises acima, foram também apreciados alguns
de calçadas e/ou iluminação pública adequada, e
cruzamentos entre aspectos (muitos deles já mencionados)
quantidade significativa de lixo doméstico jogado nesses
que poderiam estar associados aos atributos valorativos
taludes, além da inexistência de espaços comuns
aplicados pelos moradores, tanto IR como OF, para os
qualificados para atividades socializantes ativas e passivas.
distintos matizes do aspecto aparência (estética).
Esse contexto gera insatisfação do ponto de vista da
aparência, possivelmente associada à insatisfação quanto à Apesar da dispersão de algumas respostas, pode-se
segurança e à manutenção das áreas coletivas, condominiais depreender o que se segue:
e públicas, estas últimas possivelmente devido à falta de (a) há indicações de que tanto moradores IR quanto
organização comunitária, atrelada à falta de conscientização OF consideram a atual casa em relação à anterior e a
dos mecanismos para que isso ocorra, consideradas pelos aparência do apartamento com desempenho de
moradores IR e OF como “terra de ninguém”. tendência positiva, denotando, portanto, satisfação
Embora no caso dos moradores de OF, as médias quanto a esses aspectos;
atribuídas à aparência de todo o conjunto habitacional e (b) há indicações de que, apesar de moradores IR e OF
do edifício (bloco) tenham sido consideradas ligeiramente considerarem o apartamento onde moram signifi-
acima da média mínima aceitável (respectivamente 2,55 e cativamente melhor do que a residência anterior, eles
2,76), pode-se constatar também que tanto moradores IR indicaram considerar a aparência do conjunto
como OF consideram esses dois aspectos quanto à habitacional ligeiramente positiva; 71
aparência como de tendência negativa e/ou ligeiramente (c) há indicações de que tanto os moradores IR quanto
positiva, possivelmente devido ao desenho urbano os OF consideram sua organização para encami-
massificante e à implantação de blocos "H" de forma nhamento de melhorias bastante insatisfatória. Uma vez
uniforme, não havendo compromissos com a que tanto IR como OF avaliam a aparência do edifício/
personalização e/ou identificação dos moradores e/ou bloco onde residem com tendência ligeiramente positiva
grupos destes com o locus onde moram, em nível “macro”.
ou negativa (não há consenso), pode-se depreender que
Ao contrário, no caso da ambientação interna dos alguns entrevistados consideram que a melhor ou pior
apartamentos, fica evidente a satisfação dos moradores IR aparência do edifício/bloco pode estar associada a
e OF quanto à aparência, provavelmente pelo domínio e relativamente pouca capacitação dos moradores para

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se organizarem visando ao encaminhamento (e até mes- dos vários elementos que compõem o conjunto habitacional
mo à implementação) de melhorias; (corredores, coberturas, fachadas, áreas externas, etc.), indica
que esses aspectos têm a ver com os níveis de satisfação
(d) há indicações de que tanto moradores IR quanto
dos usuários quanto a aspectos relacionados à funcionali-
OF consideram a sua própria capacitação para organiza-
dade do conjunto, adequação ao uso, acessibilidade, aparên-
ção visando ao encaminhamento de melhorias e à apa-
cia e outros.
rência das áreas comuns livres (áreas condominiais, áreas
de lazer, estacionamento, entre outras) de desempenho As Tabelas 18 e 19, a seguir, indicam os pontos de
insatisfatório, possivelmente porque não existe clareza vista dos moradores IR e OF quanto a esses itens.
quanto aos procedimentos a serem seguidos pelos Por outro lado, na aplicação dos questionários, tanto
moradores com vistas à manutenção dessas áreas moradores IR como OF acrescentam comentários ao final
comuns livres, especialmente no que tange às possíveis da entrevista (29% dos respondentes IR e 45% dos
alter-nativas para apropriação desses territórios comuns; respondentes OF), tendo destacado em comum os seguintes
pontos:
(e) há indicações de que tanto moradores IR como OF
consideram, com certa dispersão, a segurança contra - falta de organização entre os moradores;
vandalismo nos edifícios, ou seja, nas áreas condomi- - assistência limitada da CDHU; e
niais entre lâminas do bloco "H" cercadas, ligeiramente - ausência de segurança no conjunto habitacional.
satisfatória, acompanhando a tendência das respostas Também, as Tabelas 18 e 19 indicam, com alguma
quanto à aparência do edifício/bloco. dispersão, sobretudo no caso dos respondentes IR, elevados
Via de regra, o vandalismo pode estar associado à níveis de insatisfação quanto aos aspectos organizacionais
e de manutenção no conjunto habitacional. Em princípio,
aparência, porque o primeiro deteriora fachadas, o que já
não há um programa suficientemente adequado de uso,
vem ocorrendo em menor ou maior escala em vários blocos.
72 operação e manutenção dos blocos "H", desde as áreas
Todavia, tanto a avaliação técnica quanto a aferição da satis-
condo-miniais até o interior dos apartamentos, nem
fação dos moradores entrevistados sugerem que a deterio-
treinamento para que os moradores consigam gerenciar
ração é maior nas áreas externas aos blocos, nas quais os
adequadamente os condomínios, minimizando a
moradores e/ou comunidade em geral não têm um domínio
deterioração, ou seja, visando prolongar a vida útil dos
ou um controle sobre as formas de apropriação e/ou uso. blocos "H" e até mesmo das áreas externas coletivas. Não
6.5.3.4 Organização e manutenção: alguns aspectos da ficam claras para os mora-dores IR e OF, apesar de não
APO funcional considerarem insatisfatórios os gastos com condomínio e
A análise das respostas dos entrevistados IR e OF, energia elétrica, as esferas de atuação do CDHU após a
no que tange à satisfação quanto às formas organizacionais entrega das chaves, especialmente segundo a opinião dos
para encaminhamento de melhorias e quanto à manutenção moradores OF.

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Tabela 18 – Níveis de satisfação dos moradores com relação a aspectos organizacionais e de manutenção – entrevistados IR = 48 casos

73

Tabela 19 – Níveis de satisfação dos moradores com relação a aspectos organizacionais e de manutenção – entrevistados OF = 33 casos

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


Essa situação gera por longos períodos após a mais relevante para o respondente, e assim sucessiva-mente,
entrega das chaves a indefinição das áreas condominiais em escala (das médias) ascendente.
quanto ao tamanho desses condomínios e/ou a apropriação Os resultados são os que se seguem.
inadequada de áreas comuns/coletivas, sejam áreas de
estacionamento, sejam áreas internas aos blocos "H", ou Num segundo momento, foi realizada outra análise
outras. comparativa (GAMBARDELLA et al., 1996, p. 39-41) a
partir de percentuais obtidos para os quatro itens
6.5.3.5 Análise da importância relativa (para os usuários
considerados pelos entrevistados como os mais importantes
entrevistados) da funcionalidade no que concerne a
outros aspectos vinculados à qualidade de vida no e os quatro considerados os menos importantes segundo a
conjunto habitacional escala original de valores do questionário.
Nas Tabelas 20 e 21, a seguir, acompanhadas de
Assim, observando a somatória de percentuais dos
seus respectivos diagramas de Paretto, pode-se verificar os
três itens “mais votados”, os aspectos priorizados pelos
resultados da tabulação das questões 10.1 a 10.10 do
moradores IR e OF estão considerados no Quadro 3.
questionário aplicado aos moradores IR (N = 48) e OF (N
= 33) no que tange a dez aspectos relevantes da qualidade Por outro lado, os últimos aspectos considerados
de vida no conjunto habitacional, desde aqueles relativos à na escala de prioridades para os moradores entrevistados,
infra-estrutura (por ex.: facilidade de estacionamento e de ou seja, a somatória dos percentuais do oitavo, nono e
transporte ao trabalho) e a superestrutura urbana (por ex.: décimo itens eleitos, estão discriminados no Quadro 4.
facilidade de acesso ao comércio, escolas e postos de saúde), Da análise comparativa das Tabelas 20 e 21, mesmo
passando por aspectos de segurança (contra assaltos e considerando alguma dispersão dos resultados, e dos
roubos, contra incêndio) até aqueles específicos das Quadros 3 e 4, os tópicos vinculados aos aspectos
unidades habitacionais (por ex.: qualidade da construção; funcionais, a saber, (a) tamanho e disposição dos ambientes
conforto ambiental e tamanho e disposição dos ambientes no apartamento; (b) aparência do edifício; e (c) qualidade
74
no apartamento). A cada entrevistado, foram distribuídas das áreas externas comuns, tanto no caso dos entrevistados
dez cartelas, cada uma nomeando um desses aspectos, e o IR como OF, parecem, com ligeiras diferenças, não ocupar
respondente deveria ordenar desde aquele prioritário (mais posições de importância relativa relevante em termos de
importante) até o menos relevante ou importante. qualidade de vida no conjunto (condições de moradia), à
Os resultados dessa priorização ou hierarquização luz dos dez tópicos a eles apresentados. De fato, o item (a)
foram organizados tanto para IR como para OF, num tamanho e disposição dos ambientes no apartamento,
primeiro momento, segundo uma escala de 1 a 10 (portanto, apesar de sempre ocupar uma das cinco primeiras posições
considerando a média mínima aceitável 5,5), moda e desvio- tanto para IR como para OF, seja nas Tabelas 20 e 21, seja
padrão, sendo o primeiro (média) acompanhado do nos Quadros 3 e 4, em nenhum momento ocupa o 1° lugar.
diagrama de Paretto. A menor média refere-se ao aspecto Já os itens (b) aparência do edifício e (c) qualidade das

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áreas externas, nitidamente vinculados ao desenho urbano e à acessibilidade, ocupam sempre uma das últimas quatro
posições, tanto na apreciação de entrevistados IR como de OF.

Tabela 20 – Hierarquização da importância de distintos aspectos de qualidade de vida no conjunto habitacional, segundo os
moradores IR (N = 48)

75

Tabela 21 – Hierarquização da importância de distintos aspectos de qualidade de vida no conjunto habitacional, segundo os
moradores OF (N = 33)

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


Quadro 3 – Percentuais comparativos dos aspectos de qualidade de vida considerados mais importantes segundo entrevistados IR e OF
Fonte:Gambardella et al., 1996, p.39

76

Quadro 4 – Percentuais comparativos dos aspectos de qualidade de vida considerados menos importantes segundo entrevistados IR e OF
Fonte:Gambardella et al., 1996, p.39

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Pode-se também depreender que aspectos gerais da (b) ambientes externos aos apartamentos, ou áreas
qualidade de vida no bairro (no caso, com elevada taxa de comuns dos blocos (entre lâminas):
criminalidade) e em cidades de grande porte como São - riscos de acidentes devido a: inadequação/fragilidade
Paulo, pontos como segurança contra assaltos e roubos, de corrimãos; posicionamento de abrigos de gás
facilidade de acesso ao comércio, escolas e postos de saúde, (incluindo a utilização inadequada de botijões em
ou ainda, facilidade de transporte ao trabalho, se apartamentos);
sobrepõem, de certo modo, em importância àqueles - inexistência de locais adequados para lazer, sobretudo
específicos do edifício e do apartamento. Por outro lado, a das crianças;
pouca importância relativa de aspectos como “segurança - acesso às entradas dos edifícios dificultado para
contra incêndio” sugere desconhecimento e/ou falta de portadores de deficiência;
conscientização sobre o assunto, uma vez que foi detectada, - poucas alternativas das áreas livres em relação à
por exemplo, a transferência, em alguns casos, de botijão convivência social;
de gás do abrigo situado no térreo para apartamentos no
3° e 4° pavimentos. (c) ambientes externos aos blocos:
- riscos de acidentes devido à existência de canaletas de
águas pluviais desprotegidas (sem grelhas ou
6.6 Diagnóstico: avaliação técnica versus
aferição da satisfação dos usuários fechamentos superiores para passagem);
- abrigos de lixo inadequadamente posicionados,
Considerando-se os diagnósticos decorrentes da
provocando detritos espalhados nos taludes;
avaliação técnica e da aferição da satisfação dos usuários,
- diversas barreiras arquitetônicas e de desenho urbano
têm-se, resumidamente, os seguintes aspectos relevantes a
no que tange à acessibilidade a portadores de deficiência;
serem considerados:
- diversos pontos de vandalismo, sobretudo no centro
(a) ambientes internos dos apartamentos: comunitário;
- layout inadequado ao uso especialmente de banheiro, 77
- taludes desprotegidos, em fase acelerada de erosão;
cozinha e área de serviço; - poucas alternativas de convivência social devido à não-
- layout e dimensões inadequadas de todos os cômodos, qualificação para esses fins (faixas etárias, lazer passivo,
mobiliário, instalações e equipamentos elétricos e lazer ativo) das áreas livres externas;
hidrossanitários a portadores de deficiência; - estacionamentos sendo utilizados inadequadamente
- relação entre área útil total do apartamento e repertório como áreas de comércio, serviços e lazer, de modo
de mobiliário “popular” existente no mercado informal, nos fins de semana;
inadequada; - as aparências (aspectos estéticos) do centro
- privacidade limitada entre apartamentos devido à comunitário, das áreas comuns e dos blocos são
intensidade de ruídos; consideradas insatisfatórias pelos usuários. Pode-se dizer

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


que os moradores consideram nitidamente satisfatória sua produção (empreitada, mutirão) e das formas de acesso
apenas a aparência interna do apartamento, a qual pode à moradia (inscrições nas Companhias Habitacionais,
ser controlada por cada família, o que destaca a visão Cooperativas), carecem, em menor ou maior escala, de
da “terra de ninguém” dos espaços ou ambientes realizações concretas que levem a melhorias do
externos a ele; desempenho funcional (apartamentos e edifícios como um
(d) outros aspectos relevantes: todo), tendo em vista o atendimento às necessidades dos
- a segurança contra assaltos e roubos, a facilidade de moradores e, até mesmo, a satisfação destes no contexto
acesso ao comércio, serviços, educação e saúde, e a da qualidade de vida urbana. Tal situação tem persistido
facilidade de transporte ao trabalho destacaram-se como nos últimos trinta anos, apesar de esforços de algumas
aspectos fundamentais para os moradores, impondo- companhias habitacionais, tais como a CDHU, para
se prioritariamente a aspectos internos aos apartamentos implementar programas voltados à qualidade habitacional.
ou aos blocos, como aqueles funcionais de conforto A avaliação de desempenho técnico-funcional realizada
ambiental e aparência. Portanto, a localização do indicou a necessidade urgente de revisão do espaço
conjunto e a sua inserção na malha urbana são aspectos habitacional de interesse social proposto para as regiões
fundamentais para se propiciar qualidade de vida; metropolitanas brasileiras, com base na seguinte agenda
de estudos e pesquisas interligadas:
- existem dificuldades significativas na organização dos
moradores, para gerir e manter as áreas comuns, sejam (a) ampliação dos levantamentos e análises técnico-
estas interlâminas de blocos, sejam externas. Não existe funcionais dos conjuntos habitacionais destinados à
uma compreensão clara do que é “privado”, população de baixa renda, com base em checklists, e na
“semipúblico” ou “público”, criando-se eventuais aferição dos níveis de satisfação dos usuários/
conflitos e/ou expectativas em relação aos serviços da moradores, visando à estruturação de banco de dados
Companhia Habitacional, e invasões de áreas públicas contendo diagnósticos e recomendações (APO)
78 (estacionamento e ampliações indevidas de (BAIRD et al., 1996);
apartamentos no térreo). Por outro lado, situações de (b) acessibilidade a portadores de deficiência e
vandalismo (escola, centro comunitário) poderiam ser concepções espaciais fundamentadas no conceito do
reduzidas se houvesse a conscientização dos moradores. desenho universal (VOORDT, 1990);
(c) reestudo dimensional dos cômodos, calcado na
6.7 Recomendações coordenação modular e nas volumetrias dos ambientes;
Verificou-se que as habitações de interesse social (d) inserção de análises relativas à privacidade e à
oferecidas pelo poder público na Região Metropolitana de personalização dos cômodos da habitação (MARCUS,
São Paulo, independentemente do agente promotor 1995), levando em consideração especial a densidade
(estadual ou municipal), dos mecanismos adotados para ocupacional dos dormitórios;

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(e) redesenho e redimensionamento da área de serviço; (o) maior participação dos futuros usuários no processo
(f) redesenho do banheiro; de produção (projeto/construção) e treinamento
intensivo para que estes se habilitem a gerir, administrar
(g) previsão de espaço adequado para refeições de três
e manter os apartamentos e edifícios por conta própria,
a quatro pessoas na sala ou cozinha;
na forma de condomínios e ou cooperativas
(h) previsão de espaço destinado a depósito ou despensa (KERNOHAN, 1996). Nesse sentido, seria oportuna
de materiais não perecíveis e/ou comuns à família; uma análise acurada, por exemplo, de sistemas
(i) estudo do contexto cultural e da tipologia habitacional cooperativados europeus com o objetivo de verificar a
ante as possíveis diferenciações socioeconômicas e das sua aplicabilidade em larga escala no caso brasileiro,
necessidades de moradores oriundos de áreas específicas sendo o promotor público eventualmente o seu
(por exemplo, favelas); estimulador;
(j) análises tipológicas e dimensionais das unidades (p) redução da escala dos conjuntos (até 100 unidades
habitacionais e dos edifícios, diante da evolução da habitacionais) e efetiva inserção na malha urbana, com
composição familiar associada à combinação, num diversidades tipológicas.
mesmo edifício, de apartamentos com dois, três e quatro
dormitórios por exemplo, aumentando inclusive,
possibilidades de diversidade socioeconômica dos
moradores;
(k) separação e integração entre cômodos e atividades
na habitação (por exemplo, separação efetiva entre sala
de estar e cozinha e entre cozinha e área de serviço,
para adequar os cômodos à satisfação dos moradores);
(l) estudos ergonômicos visando à adequação de 79
mobiliário, equipamentos, louças e manuseio de
elementos construtivos (por exemplo, janelas e portas),
tendo em vista espaço para uso e circulação;
(m) interação entre espaço familiar (apartamento) e
espaços de uso coletivo (por exemplo, áreas de lazer);
(n) análises apuradas dos custos da habitação em função
de variáveis dimensionais de projeto, vida útil versus
custos de manutenção preventiva e assim por diante
(ver APO Econômica – Parte VI);

APO funcional - das unidades e das áreas habitacionais


III.
7 Considerações preliminares

8 Dos espaços abertos

9 Recomendações: redesenho dos espaços abertos

80

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III.
APO funcional - Dos espaços
abertos do conjunto habitacional

7 Considerações preliminares

U
ma das grandes demandas aos arquitetos e urbanistas continua sendo o projeto e a construção

de conjuntos habitacionais de interesse social. Nesses casos, pode-se dizer que há uma

premência em se terem projetos completos, isto é, que incluam também os espaços abertos,
81
tanto em termos de projeto como de espaço construído. Esses espaços abertos podem oferecer a seus

usuários uma qualidade ambiental digna da dimensão de sua cidadania, mas podem também, se forem

relegados a sobras de terrenos, sem funcionalidade e criatividade, imprimir-lhes uma alcunha de renegados

pela sorte e pela sociedade.

Daí os objetivos deste trabalho voltarem-se para o estudo desses espaços, suas características técnicas

de projeto e construção, contrapostas aos interesses dos usuários definidos por suas características culturais

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


e pelo contexto social da cidade e região em que se A reflexão sobre essas comunidades sociais urbanas
localizam. vem mostrando uma evolução teórica que focaliza os tipos
de preocupações que vêm sendo enfrentadas, mun-
A análise dessas características culturais feitas pelo
dialmente, por políticas, projetos e obras construídas.
processo da Avaliação Pós-Ocupação (APO) é fundamental
para o estudo de caso do Conjunto Habitacional Jardim Pela literatura específica pode-se acompanhar essa
São Luís, em São Paulo. Seus resultados são utilizados como evolução, verificando-se que, nos países adiantados, poste-
insumos à elaboração do redesenho dos espaços abertos riormente à Segunda Guerra Mundial, esses conjuntos
daquele conjunto habitacional, em prol da obtenção de habitacionais passam a atribuir maior atenção à utilização
segurança e conforto da população. Esta tem direito não dos espaços abertos de seu entorno. Pode-se destacar, então,
só ao abrigo que a unidade habitacional proporciona, mas, diferentes projetos trazendo distintas alternativas para essas
principalmente, como extensão de seu lar, ao uso de um áreas abertas, bem como uma enorme gama de literatura
entorno constituído por espaços abertos, áreas verdes, tecendo comparações entre as soluções adotadas em muitos
recreação e outros equipamentos comunitários. A qualidade casos estudados.
de vida resultante pode mesmo ser medida por melhorias Finalmente, as conclusões colocam em discussão a
como essas, que valorizam o espaço comunitário. qualidade do ambiente redesenhado diante da realidade
presente no Conjunto Habitacional Jardim São Luís em
Atualmente, a cultura urbana, direcionada pela
estudo e ao padrão urbano almejado pelos usuários
procura de segurança e conforto, tem levado, também aqui
(TISOVEC et al., 1998).
no Brasil, a um crescimento desigual da cidade, com áreas
típicas, com ambientes fechados de diferentes modos, com
cercas, controle de entrada de estranhos, em contraposição 8 Dos espaços abertos
a áreas que ainda se encontram desprovidas de qualquer
Procurando respostas às perguntas acima, passa-se
82 defesa contra a insegurança, sendo estas, portanto, muito
a examinar dados empíricos resultantes da Avaliação Pós-
propícias à formação de gangues de distribuição de drogas
Ocupação realizada junto aos usuários dos espaços abertos
e a roubos de várias espécies. Os conjuntos habitacionais
do Conjunto Habitacional Jardim São Luís, situado no
de interesse social têm se caracterizado por seus projetos
bairro de Campo Limpo, na cidade de São Paulo (TISOVEC
abertos inseridos nas cidades, mas, após certo tempo de
et al., 1997).
ocupação, seus moradores decidem fechá-los, como vem
ocorrendo em muitos exemplos, mesmo nos mais
tradicionais, como o Conjunto Habitacional Zézinho de 8.1 Diagnósticos
Magalhães, projetado pelo professor João Batista Vilanova Foram feitas entrevistas para avaliar o uso e a quali-
Artigas e que se localiza na Rodovia Dutra, já na região dade dos espaços abertos pelos moradores do conjunto,
metropolitana de São Paulo. focalizando, com isso, as características sociais e culturais

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da comunidade em relação a locais de consumo, áreas de o questionário ao modo de vida das pessoas que freqüentam
recreação e equipamentos de lazer, meios de transporte as áreas livres do conjunto habitacional e verificar como
utilizados, serviços públicos como correio e coleta de lixo, se apropriam desse espaço. A partir de observações
entre outros. A formulação das questões sofreu, como é programadas para os vários dias da semana e diferentes
de praxe, a aplicação de um teste que reorientou a forma horários, foi também possível elaborar um mapa
de fazer as perguntas, bem como inseriu outras questões comportamental e de atividades dessa comunidade nessas
que não tinham sido lembradas. Procurou-se, assim, adaptar áreas livres (Figura 13).

83

Figura 13 – Mapa comportamental e de atividades dos espaços abertos do setor estudado

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


Numa primeira vistoria, já se constata que o conjunto da camada orgânica, dificultando essas iniciativas
habitacional não oferece nenhum equipamento urbano para relativas à “apropriação do território”;
abrigar atividades humanas, contemplando uma quantidade - existem inúmeras barreiras físicas aos percursos
excessiva de taludes e “terras de ninguém”. seguros por parte dos pedestres, pois a construção
Durante o levantamento dos pontos focais, per- de muros delimitando os blocos coibiu o fluxo de pedes-
cursos e atividades (Figura 15) (TISOVEC et al., 1988, p. tres das áreas de menor para as de maior cota e vice-
13-16) e da análise dos projetos originais, constatou-se, versa. A população optou, então, pelo improviso com
além do desenvolvimento de uma série de atividades infor- riscos de quedas, em caminhos menos longos: evitam
mais decorrentes da desqualificação dos espaços abertos, as escadas e os taludes, e utilizam os extremos dos esta-
principalmente o que se segue: cionamentos, ou seja, corredores entre os muros dos
blocos de edifícios e o talude do campo de futebol, ne-
- movimento de terra é abusivo, configurando-se cessitando equilibrarem-se por valas de drenagem e
em barreiras físicas, o que dificulta a circulação e a inte- terrenos erodidos;
gração entre edifícios/blocos;
- a avenida principal do conjunto não possibilita
- lazer infantil ocorre nos bolsões de esta- acesso direto a ele, obrigando os moradores a fazer
cionamento, competindo com carros e/ou com esta- um significativo contorno, o que torna os bolsões mais
cionamentos cobertos e é “interiorizado”, por medidas vulneráveis;
de segurança. O ruído das crianças nas áreas comuns
- a pavimentação dos estacionamentos é
dos edifícios prejudica as demais atividades. Ao mesmo
inadequada, demonstrando-se, em alguns pontos, prin-
tempo, o arranjo do relevo (taludes, cotas) praticamente
cipalmente no que tange à camada de revestimento as-
não possibilita, na grande maioria dos blocos, a vigilân-
fáltico, comprometida;
cia direta por parte dos moradores sobre as crianças
menores. Os projetos originais dos playgrounds são - a iluminação pública e nas áreas comuns é
84 deficiente, gerando desempenho inadequado do ponto
inviáveis economicamente, devido ao grande número
de taludes, muros de arrimo e grades que implicariam; de vista da segurança contra crimes;

- a arborização prevista em projeto não foi im- - o centro comercial previsto em projeto não foi
plementada; caso o fosse, as massas opacas concebidas executado, sendo substituído, no local previsto para
gerariam barreiras físicas, tornando-se simples adereços tanto, por blocos residenciais. Tal situação obriga os
das vias de circulação e com possibilidades de aumento moradores a deslocamentos extensos para obtenção de
dos problemas de segurança contra crimes. Os mora- serviços e comércio cotidianos;
dores tomaram iniciativas isoladas para plantar espécies - assim, serviços e comércios estão sendo ofere-
em vasos e junto aos taludes. Neste último caso, os sig- cidos por ambulantes, de forma informal e
nificativos movimentos de terra implicaram a redução desordenada;

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- há a ocorrência da tradicional feira livre aos sá- do ponto de consumo, o que se compra, em que dia e pe-
bados, junto ao acesso principal, obrigando os mora- ríodo, tipo de compra, existência ou não de ambulantes no
dores proprietários de veículos a realizar contornos por conjunto, que tipo de mercadoria vendem e que caminho
vias secundárias; fazem para se dirigir às compras; (4) Ponto de Transporte
- o centro comunitário está depredado por van- Coletivo e Meio de Transporte Disponível, verificando
dalismo, encontrando-se distanciado da demanda e se possui ou não automóvel, se utiliza transporte coletivo,
desativado; onde toma o ônibus e qual o percurso que faz para o ponto
de ônibus; (5) Caracterização da Segurança e do Con-
- os equipamentos para coleta de lixo dos blocos forto, incluindo como classifica as áreas livres, que tipo de
residenciais têm projeto e execução que não previram vandalismo ocorre, se as pessoas se machucam nas escadas,
as tarefas de limpeza e transferência do lixo para o cami- se brincam nas escadas, como é a iluminação artificial e
nhão, servindo apenas como depósito para os mora- como são as áreas contíguas aos blocos de apartamentos,
dores e dificultando o serviço da empresa concessionária onde estaciona o carro, se a área é limpa ou não, por que a
responsável pela coleta, que sempre acaba deixando criança brinca nos estacionamentos, qual a importância do
resíduos pelo chão; não existem equipamentos para estacionamento, se tem amigos no conjunto, se o barulho
coleta de lixo nas áreas de circulação de pedestres e nos de carros incomoda, que outras atividades ocorrem nos
estacionamentos. estacionamentos, se pratica lazer junto ao estacionamento
Foi aplicado um total de 45 questionários aos e de quem acha que é a área fora do prédio; (6) Atividades
usuários dos espaços abertos do setor estudado do conjunto e Áreas de Lazer, que verifica que espaço as famílias
habitacional. ocupam para lazer e a qualidade desse local; (7) Áreas
Verdes e Arborização, focalizando como usa as áreas
O questionário considerado para aplicação definitiva
gramadas, nas partes planas e nas íngremes, se é importante
conta com os seguintes blocos de perguntas: (1) Carac-
o plantio, qual o tipo de cultivo e se estaria disposto a
terização do Entrevistado, abrangendo nome, idade, 85
plantar e a cuidar; (8) Serviços Públicos, Correio e
escolaridade, profissão, renda familiar aproximada, número
Coleta de Lixo, verificando se recebe correspondência,
de integrantes da família, quantidade de membros por faixa
onde se localizam as lixeiras, se estaria disposto a participar
etária, endereço, tempo de residência, local anterior de resi-
de coleta seletiva de lixo, qual a qualidade da higiene das
dência e tipo de moradia anterior; (2) Caracterização
áreas livres e o que classifica como serviços, se são
Comportamental, que trata da qualidade da moradia ante-
atendidos ou não.
rior em relação à atual, no conjunto habitacional, focalizan-
do a aparência do edifício, das áreas comuns livres, do Em relação aos resultados do levantamento realizado
centro de convivência e do próprio conjunto habitacional; em termos de faixa etária, 27% dos entrevistados foram
(3) Tentativa de Localizar os Pontos Focais para a adultos jovens na faixa etária entre 30 e 39 anos, 26% foram
Determinação de Percursos, abrangendo a localização jovens entre 10 e 19 anos, 16% adultos de 40 a 49 anos,

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


13% jovens entre 20 e 29 anos, 9% foram crianças de até seja por isso que o futebol e a feira livre sejam um grande
9 anos, 7% adultos entre 50 e 59 anos e somente 2% de atrativo de lazer, ou ainda explique por que é bom brincar
seniors, com idade superior a 60 anos. nos bolsões de estacionamento, pois as expectativas de lazer
Com relação ao grau de educação dos entrevistados, diferenciado por conhecimento cultural podem até ser
observa-se que 58% têm Primeiro Grau incompleto, em inimagináveis. Mesmo sem contar as questões de segurança,
que podem afligir qualquer tipo de população, observou-
contraposição a 20% com Primeiro Grau completo. Não
se que os resultados abaixo descritos são compatíveis com
foi entrevistada nenhuma pessoa com Terceiro Grau, ou
aqueles obtidos nas vistorias técnicas.
seja, educação universitária.
Já em termos de profissão, a maioria dos A análise dos resultados obtidos mostra que o
entrevistados era estudante (31%). Seguem-se em termos conjunto habitacional como um todo, principalmente em
percentuais os faxineiros (16%), as donas de casa (11%), seus espaços abertos livres, não oferece segurança aos
os seguranças (7%) e as manicures (4%). moradores, para que realizem atividades externas à
habitação, durante o período noturno. Também confirmou
Com relação à renda familiar dos entrevistados, que é nos fins de semana que há maior intensidade e
destacam-se as famílias entre um e três salários mínimos diversidade de atividades nas áreas externas, aí ocorrendo
(37%), e de mais de três a cinco salários mínimos (28%), encontros, bate-papos informais, crianças brincando no
mas 18% dos entrevistados disseram não saber em que playground, pedalando bicicletas, jogando futebol ou
faixa de renda sua família se situava. basquete, empinando pipas, ou ainda outras atividades de
Ainda quanto aos entrevistados, é importante notar lazer, em especial as brincadeiras das crianças nos
que 39% pertencem a famílias com quatro pessoas, 15% a estacionamentos.
famílias com cinco pessoas e 11%, com três. As famílias Outra grande atração dos moradores do Conjunto
maiores estão entre as menores porcentagens, como as de Habitacional Jardim São Luís é a feira livre, que, bloqueando
86 dez pessoas (2%). o acesso às vias principais, ocorre na Rua Um, aos sábados,
Além desses dados, destaca-se que 39% dos tornando-se um ponto focal das atrações, juntamente com
moradores entrevistados residiam anteriormente em casa o campo de futebol. Este era “administrado” à época do
ou apartamento de aluguel, mas 30% moravam em favela, levantamento por um morador que construiu um
enquanto 15% em casa própria autoconstruída. alambrado ao redor do campo e que ainda organiza as
partidas.
Essas características do entrevistado podem dar uma
idéia das expectativas das famílias em termos de qualidade Se, de um lado, o centro comunitário não funciona,
de sua habitação e mesmo da comunidade, principalmente estando depredado, praticamente vandalizado, de outro, as
quanto a aspectos culturais, muito relacionados às atividades principais atividades da comunidade, de lazer e recreação,
que podem ser desenvolvidas nos espaços abertos. Talvez realizam-se nos dois bolsões de estacionamento (Foto 2) e

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nas principais ruas que lhe dão acesso. São áreas Diante dessas constatações, claro que a primeira per-
praticamente planas em relação ao relevo do terreno onde gunta que se formula é: “mas o projeto do conjunto habita-
se localiza o Conjunto Habitacional Jardim São Luís, que, cional não previa áreas verdes, árvores e outros equipa-
por isso mesmo, atuam como pontos focais de enorme mentos de lazer e recreação”?
atração. Em contraposição, as áreas propriamente livres Sim, de fato, a análise do projeto mostra que essas
são constituídas por grandes taludes de até sete metros de áreas estavam previstas, isto é, projetadas, mas nunca foram
desnível (Foto 3), o que dificulta tanto a circulação dos construídas. Existiam 1.087 árvores e arbustos
moradores como sua ocupação para quaisquer finalidades especificados para as áreas livres do conjunto. Também
recreativas. tinham sido programados vários equipamentos, como
mesas, quiosques, playgrounds, bancos, pranchas para
exercícios abdominais, e até mesmo um anfiteatro. Nada
disso foi implantado.
As áreas livres tornaram-se, então, “terras de
ninguém”, impróprias para a permanência humana. Inibem
qualquer tipo de atividade espontânea. Aquelas poucas
atividades que ocorrem foram observadas em locais não
projetados para tal, como na área dos estacionamentos e
Foto 2 – Bolsão de estacionamento nas escadas. Essas constatações são típicas dos moradores
do conjunto, onde 35% acham ruim a aparência das áreas
comuns livres, 29% acham boa e 27% acham péssima.
Examinando-se mais detidamente essa situação, vê-
se que houve muito movimento de terra para a construção
87
do conjunto habitacional. Foram previstos pequenos
“patamares isolados e distintos uns dos outros, para abrigar
prédios na forma de "H", cercados de taludes”, não
deixando praticamente qualquer terreno plano entre os
edifícios (TISOVEC et al., 1997, p. 13).
Observa-se, ainda, que o arranjo do relevo e das
massas edificadas não permite que se criem espaços livres
próximos aos edifícios, de modo a possibilitar o arranjo de
Foto 3 – Taludes de até sete metros de desnível
uma área de recreação infantil passível de vigilância direta
pelos moradores, possivelmente olhando seus filhos brincar,

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


seja pela manhã ou tarde. O projeto das edificações em H, conjunto habitacional; (6) selecionar locais adequados para
reconhecidamente um “carimbo” próprio do conjunto, está a coleta seletiva de lixo.
pobremente iluminado. Isso mais as dificuldades
topográficas resultam numa circulação difícil de pessoas
8.2 Espaços abertos e a literatura pertinente
entre os edifícios e as respectivas unidades habitacionais.
Essa circulação vem sendo feita em caminhos improvisados Focalizar o redesenho de espaços abertos em
e inseguros, em que o pedestre acompanha as valas de conjuntos habitacionais é um setor do desenho urbano em
drenagem, num terreno povoado de erosões, com riscos geral. Nesse sentido, é bom começar pela área urbana em
de quedas, principalmente nas épocas de chuvas. O que esses conjuntos estão inseridos, verificar as influências
transporte coletivo mais usado é o ônibus (49%), seguindo- sociais, econômicas e culturais resultantes dessa inserção,
se a lotação (28%). O acesso aos estacionamentos é feito verificar quais os principais acessos e trajetos em termos
por vias secundárias, praticamente dedicadas ao percurso de rotas de residência–trabalho–compra–lazer–residência,
de entrada no conjunto. em âmbito local e regional, verificar como deve ocorrer a
Há uma desorganização na ocupação da área do extensão da malha urbana existente, com a implantação
Conjunto Habitacional Jardim São Luís que é do conjunto habitacional.
freqüentemente invadida por vendedores ambulantes, que A idéia de conjuntos habitacionais serem construídos
acabam se fixando em alguns pontos no caminho para os como extensão da cidade em que se situam (“ensanches”)
edifícios, buscando diretamente seus clientes. O lixo vem associada aos estudos do professor Manuel de Solà-
acumula-se e espalha-se. Morales i Rubió, da Universidade da Catalunha, em que
Entre as recomendações apontadas pela pesquisa, relaciona os ensanches à noção de se ter uma diretriz pública
destacam-se aquelas que estão diretamente relacionadas inicial que defina o ajuste necessário à ordenação do
ao redesenho das áreas verdes do conjunto habitacional território, bem como as atuações que serão relegadas à
88 (TISOVEC et al., 1997, p. 17-18): iniciativa privada. É assim que Solà-Morales i Rubió
(1) a comunidade deveria utilizar o espaço para considera essas áreas como o resultado de seu papel
creche e centro comunitário onde seja possível organizar mutante na cidade. A nova dimensão urbana, diz, é
atividades de uso comum como hortas, limpeza de jardins originada da soma da cidade antiga a essa nova extensão
e despertar a educação ambiental; (2) criar melhorias nos (ensanche) em relação a condições de escala, ou tamanho da
caminhos improvisados, implantando percursos de área em face à cidade antiga. Ressalta, assim, a posição de
pedestres e escadas com corrimãos onde necessário; (3) proximidade, contigüidade ou afastamento entre as áreas
executar um projeto de arborização com áreas de vegetações antigas e áreas novas propostas. Faz, ainda, considerações
arbustivas, baixas e médias; (4) implantar playgrounds e outros sobre as dimensões do quarteirão e das ruas, assim como
equipamentos como caramanchão, churrasqueira, banco sobre a tipologia das edificações. Nessas diretrizes, Solá-
de areia; (5) instalar um projeto de iluminação externa do Morales i Rubió trata da utilização dos elementos urbanos

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como corretivos entre os tecidos novos (das extensões ou aspecto aberto com jardim cercado; o espaço sob a
ensanches) e o casco antigo (a velha cidade), focalizando os construção; garagem e espaço de serviço; mais espaços
anéis viários perimetrais, as praças de distribuição e as vias adjacentes; (4) Acesso – à habitação: linear; único; múltiplo;
de penetração (SOLÁ-MORALES, 1977). terminal/de ligação em deck.
Há assim, igualmente, uma possível relação entre Analisando essas considerações, chega-se a preciosas
os espaços abertos, tanto em relação ao conjunto ferramentas auxiliares de projeto ou redesenho dos espaços
habitacional considerado como uma extensão da cidade, abertos. Assim, a inexistência de equipamentos nas
como em conexão com os demais espaços abertos da cidade adjacências do conjunto habitacional, ou além de uma dis-
em si. Para que servem os espaços abertos em conjuntos tância passível de ser feita a pé, pode ser causa de privação
habitacionais? São entendidos como extensão da habitação social, levando ao que se chamou em muitos casos de “tris-
e, por isso mesmo, seus moradores sentem-se parte do teza das cidades novas”. Essas colocações mostram também
grupo, participando como cidadãos de atividades que a área toda do conjunto habitacional deve ser consi-
comunitárias, seja em jogos de futebol, seja na orientação derada como um local a ser partilhado por adultos e por
escolar das crianças, seja organizando festas sazonais, crianças simultaneamente, portanto um território sem
tratando da horta comunitária, ou ainda planejando guetos de qualquer espécie, e, como tal, o projeto deve
programas de descanso dominicais, entre outros? atender a essas peculiaridades.
A não ser que cada metro quadrado de espaço aberto Em termos de espaços para sentar, há de se
seja efetivamente colocado em uso, como o espaço interior considerarem determinadas áreas onde o sítio pode ter risco
de cada habitação, a terra e os recursos podem vir a ser de erosão, determinadas áreas gramadas ou plantadas. Por
desperdiçados ou mal aplicados (TANDY, 1978). isso, devem-se prever muros e mudanças de nível, de modo
a eliminar rotas que encurtem o caminho. Por outro lado,
Por isso, como publica Cliff Tandy, é preciso
alguns espaços para sentar devem ser previstos perto de
conhecer as quatro características dos espaços abertos para, 89
áreas apropriadas para jogos de jovens e crianças.
analisando-as em relação ao estudo de caso, poder propor
um redesenho que tenha o poder de tornar essas áreas Com relação aos carros, é preciso estudar as
atrativas como ponto focal de várias atividades da vantagens de acessos segregados versus mistos, devendo-se
comunidade. Há que considerar assim: (1) O domínio – fazer um balanço levando em conta aspectos de
identificando se o espaço é privado, comunal ou privado e conveniência, economia, segurança e acesso à moradia.
comunal ao mesmo tempo; (2) A circulação – distinguindo Quanto aos serviços previstos para a comunidade, há de
a de pedestres e veículos, espaço das rotas (avenidas) de se considerar: acessos de emergência; espaço e limitações
acesso local, e espaços não-rotas; (3) Condições das para acesso de carga, aí incluindo as flexibilidades
bordas (ou limites) – levando em conta o não-aspecto, o proporcionadas pelas tecnologias atuais, como caminhões
aspecto controlado, o aspecto aberto, com faixa privada; o coletores, contêineres de dejetos; acessos para bombeiros;

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


ajustes no planejamento interno, incluindo posição de método pelo qual o homem cria um ambiente construído
portas e janelas, bem como outros aspectos que podem que preencha suas aspirações e represente seus valores
ser de grande utilidade no resultado final do projeto e (MOUGHTIN, 1992).
vivência da área comum externa às habitações.
O autor afirma que o desenho urbano deve envolver
Outras considerações ligadas ao desenho urbano as pessoas, ativamente, no seu processo de desenvolvimento
merecem atenção, como aquelas que tratam do terreno ou e de melhoria de suas imediações, “mas a participação não
área objeto do projeto, devendo-se: evitar locais com pode ser imposta: tem que começar de baixo para cima”
drenagens pobres; estudar a orientação da implantação das (MOUGHTIN, 1992, p. 11). Ou seja, o usuário deve
moradias em relação às vistas da paisagem; a posição e interessar-se por ser parte da construção e conservação do
níveis em relação à base das árvores; tirar vantagens da ambiente em que vive. Em outras palavras, o homem é o
topografia em geral. Em termos de microclima, deve-se ponto central do estudo do desenho urbano, com seus
providenciar um enquadramento e abrigo dos fluxos ou valores, aspirações, poder ou habilidade para exercê-lo.
correntes de ar, das temperaturas muito elevadas ou muito
Aprofundando a reflexão, no entanto, é preciso
baixas. Assim, não se deve permitir, por exemplo, que a
compreender que essa situação não é estática, pois a cultura
localização das edificações venha a canalizar e acelerar o
que a determina nunca é totalmente estática, mas está em
vento, gerando turbulência.
constante estágio de mudança. Por isso o arquiteto ou
Em todas essas considerações deve-se lembrar que urbanista que trabalha com o desenho urbano deve ser um
a identificação social do conjunto habitacional é muito ator significativo ao interpretar os valores culturais e desejos
importante. Assim, o morador deve poder identificar, de daqueles que serão os usuários de seu projeto.
longe, o seu “bairro”, que é o conjunto habitacional, ter
consciência daquele grupo fisicamente localizado e Os conceitos básicos do desenho urbano podem
demarcado com marcos urbanos apropriados que lhe ser resumidos em algumas palavras-chave que remontam
saúdem a aproximação e também lhe permitam reforçar aos estudos como os de Vitrúvio, Zevi e Corbusier,
90
os contatos sociais, assinalando agradáveis pontos de arquitetos e grandes pensadores da organização dos
encontros. Essas características que marcam o lugar do espaços. Essas palavras-chave são: Ordem; Unidade;
morador devem dar-lhe o orgulho de ser dono de uma Proporção; Escala; Harmonia; Simetria, Equilíbrio e Ritmo;
habitação naquele “bairro”, criando em seu âmago o sentido e Contraste (MOUGHTIN, 1992).
de responsabilidade pela conservação de seu espaço urbano, A ordem vem associada à intenção de definir a devi-
fazendo-o lutar na comunidade pela manutenção daquela da medida em relação às proporções do todo. Em outras
qualidade ambiental. palavras, trata-se da seleção de módulos para, partindo deles,
Como se vê, o desenho urbano deve levar em conta construir o trabalho inteiro. De uma certa maneira, todos
todas as considerações acima, entrelaçando-as com a arte os estudiosos dessa questão estão em acordo de que a
de construir as cidades. Cliff Moughtin diz ser esse o ordem na arquitetura é parte do esquema muito maior da

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natureza. Pensam, então, que a arte da natureza e a arte do materializada por meio de uma completa unidade. Desse
homem estão muito interligadas. Finalmente, pode-se modo, a unidade é o mais importante dos conceitos básicos
entender que a ordem traz uma satisfação à compreensão do desenho urbano, na gramática da composição formal
do projeto ou da própria obra. Por isso, a ordem permite tanto na arquitetura como no urbanismo. Seguem assim a
acomodar as contradições circunstanciais da realidade simplicidade da forma visível como de particular
complexa. Admite controle e espontaneidade, retidão importância na produção de singularidade no desenho
(justiça), facilidade e improvisação no todo (MOUGHTIN, urbano. O ambiente reduz-se, assim, à compreensão do
1992, p. 27). padrão de sinais e peças de evidência (pegadas),
Desse modo, o desenho urbano deve considerar não evidenciadas pelo estabelecimento de centros ou lugares,
só seu objeto em si, mas suas correlações com outros direções ou caminhos e áreas ou domínios. Cabe ao desenho
objetos, sabendo-se que as formas de seus edifícios urbano criar uma unidade visual para cada um desses
influenciarão nas formas dos edifícios adjacentes. Não se componentes da cidade, desenvolvendo uma imagem forte.
pode negligenciar esse princípio dado ao risco de falência. “Isto é o que falta na maior parte do planejamento da cidade
Ao contrário, é preciso ligar beleza, utilidade e durabilidade moderna”, segundo Moughtin (1992, p. 33).
para o sucesso de projetos de grandes aglomerações A terceira palavra-chave é proporção. Diz respeito
urbanas. Nesse sentido, o princípio da ordem na cidade às características da composição, cujos elementos são
está relacionado com os meios que o povo percebe, lê ou arranjados de maneira coerente, introduzindo ordem visual
compreende seu ambiente, identificando um padrão e unidade através de proporções dadas por diferentes pesos
coerente, donde a necessidade de se projetar uma imagem aos elementos da composição. Pode-se reconhecer, no
forte da cidade, como também de seu papel social. Portanto, entanto, um elemento dominante na composição, ou seja,
a imagem e a percepção podem ser obtidas a partir de um ponto focal que domine a composição arquitetônica.
elementos como caminhos, margens (limites), distritos, nós No desenho urbano este ponto focal pode ser a praça
e marcos urbanos. principal da cidade ao redor da qual os edifícios cívicos 91

A unidade é um conceito básico para que o desenho são dispostos. Outra forma de atingir essa unidade de
urbano consiga que seu projeto realize uma certa ordem composição é obtendo-se uma proporção através da
fora do caos, formando um padrão, uma linguagem constante repetição de um padrão particular de edifícios
arquitetônica, ou seja, uma linguagem visual para a cidade. ou de seus elementos visuais principais. Mas pode-se
Assim, pode-se relacionar uma boa arquitetura ou bom sublinhar que qualquer composição que se quebre em duas
desenho urbano com a qualidade da idéia que o arquiteto partes iguais deve ser evitada, pois essa dualidade não
ou urbanista está tentando expressar. resolvida ou separação de unidade em duas subdivisões é
Daí entender-se a arquitetura e o desenho urbano um defeito a ser evitado.
como uma concreta expressão de uma idéia abstrata, Escala é a relação entre as partes de uma compo-

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


sição ou projeto entre si e no todo. Em outras palavras, é harmonia inerente no sistema de proporções almejado.
um sistema de proporções aplicadas à arquitetura ou ao Atualmente, a repetição do elemento “arcadas comerciais”
desenho urbano. Assim sendo, depende de uma comparação levando a uma unidade e modulação da cidade pode ser
entre as dimensões e proporções de outro conjunto. Muitas considerada um elemento que cria harmonia, por meio de
vezes, este é dado pela escala humana como uma me-dida proporções similares. Na cidade a harmonia pode ser criada
de dimensão real, pois os edifícios e as cidades são em suas distintas partes, entendidas como microcosmo do
projetados para a família humana. Daí também o fato de todo, por meio de módulos de distâncias para serem
essa escala ser relacionada com a eficiência de produção e percorridas a pé. Em outra escala, a harmonia pode ser
de mercado, devido aos grupos sociais e econômicos. Em obtida pelo domínio do lar (residência).
termos sociais, a escala pode se referir a diversos grupos,
A simetria tornou-se um meio pelo qual se faz uma
como comunidades de vizinhança, distritos, municípios (ou
disposição idêntica de elementos em cada lado de um eixo.
comunidade local), regiões metropolitanas (e também aglo-
Dessa forma, foram realizados grandes composições
merações urbanas e microrregiões), além de macrorregiões,
como o Nordeste brasileiro, ou mercados regionais, como arquitetônicas e desenhos urbanos, principalmente de cunho
o mercado sul-americano. A distância da percepção do ser clássico ou neoclássico. Nesse sentido, simetria é um acordo
humano é importante para o sucesso do desenho urbano em relação às diferentes partes e ao esquema total geral,
de layouts monumentais que se transformem nos marcos tendo como paradigma uma certa parte selecionada como
de referência da cidade. A arte do desenho urbano é a de padrão (MOUGHTIN, 1992, p. 51). Desse modo, uma
usar essas escalas apropriadamente. simetria forma uma espécie de balanço entre as partes e
elementos de uma composição. Pode-se, assim, sempre
A harmonia está relacionada com o todo da
considerar uma delas como um centro de interesse. Por
composição, seja arquitetônica, seja de desenho urbano.
outro lado, como mostra Cliff Moughtin, deve-se evitar a
Desde os tempos clássicos a harmonia era estabelecida pela
quebra da composição em dois centros de interesse e, nesse
92 ordem dos elementos segundo as teorias dos “designers”
caso, deve-se procurar introduzir um outro elemento que
gregos clássicos, ou em relação a construções góticas da
reúna qualidades para ser o ponto de equilíbrio entre todas
Idade Média. Sempre existia uma relação entre os ele-
as demais partes da composição. Em contraposição, a
mentos ou partes características de determinada di-mensão
assimetria é um equilíbrio informal de uma arquitetura não-
em relação à escala humana e o todo em pro-jeto ou
axial, ou, em outras palavras, um grande peso junto a um
construção. Cada um dos resultados assim obtidos pode
ponto focal do equilíbrio pode ser contrabalanceado por
resultar em harmonia nas composições. “O módulo ou
um peso menor a uma distância maior. Tem-se, assim, um
medida usada para alcançar a harmonia pela proporção
edifício que está balanceado ao se olhar, ou seja, em sua
era estabelecida pela base da coluna dividida em 30 partes
forma visual.
e os elementos da estrutura eram múltiplos desse módulo”
(MOUGHTIN, 1992, p. 43). A beleza era encontrada na Pode haver equilíbrio mas também dois centros de

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interesse e, nesse caso, pode-se introduzir um terceiro arte de fazer arquitetura esses conceitos se sobrepõem e se
edifício que domine completamente os outros dois, embora reforçam mutuamente. Podem, assim, ser usados para
os elementos centrais dominantes formem a unidade análises das qualidades estéticas de um desenvolvimento
dominante necessária. Observa-se, assim, que a assimetria urbano e, mais especificamente, para orientar o processo
é o equilíbrio informal da arquitetura não-axial. Esses de elaboração do desenho urbano. Essa é a arte de criar
conceitos estendidos para o desenho urbano resultam numa um ambiente construído que atenda às aspirações de seus
questão mais complexa, que requer grande sensitividade, usuários e, ao mesmo tempo, externe seus valores sociais e
pois as forças visuais não podem ser calculadas como na culturais.
mecânica, mas somente podem ser sentidas (MOUGHTIN,
1992, p. 56).
9 Recomendações: redesenho dos espaços
O ritmo na arquitetura é o produto do agrupamento
abertos
de elementos, por exemplo, dando ênfase em intervalos,
acentuando determinada direção e pela articulação dos O projeto dos espaços abertos deste conjunto
elementos que estruturam a composição. Desde uma habitacional privilegia o veículo individual, ainda que em
simples coluna até um círculo num plano podem dar o suas imediações existam pontos de parada de ônibus. Assim,
módulo de uma ordem, assim como a Roma antiga, na a mistura de circulações em um terreno bastante acidentado
Forma Urbis, mostra um ritmo pulsando na escala da cidade, em termos de topografia não cria espaço para as crianças
como afirma Moughtin (1992, p. 58). Assim, esse ritmo pequenas nem para os idosos. Há sempre o perigo de
pode ser encontrado também em outras cidades, com os escorregar nas erosões e na própria rede de drenagem. Daí
contrastes geralmente mantidos numa certa proporção para o medo das mães de família que não deixam seus filhos se
evitar uma sobrecarga de percepção. O correto equilíbrio afastarem das entradas dos edifícios junto às caixas de
na arquitetura, segundo Cliff Moughtin, resulta de um escada, porque não têm o domínio visual do território,
balanceamento entre complexidade e repouso, como uma daquilo que está ocorrendo enquanto seus filhos estão 93
chave para a ordem. Desse modo, uma boa composição é brincando.
harmoniosa, dependendo de alcançar unidade pelo uso da À noite os espaços abertos são mais tenebrosos, pois
proporção, apresentando elementos de contraste diluídos não há iluminação pública e, desse modo, não há segurança
na unidade da composição, o que cria o elemento surpresa para que os moradores tenham atividades externas nesse
e afasta a enfadonha repetição das condições existentes. horário.
Mas a dificul-dade está em se estabelecer o grau de contraste
(a) O Redesenho Proposto, com possíveis interven-
correto.
ções de curto, médio e longo prazos, vem ao encontro
O Desenho Urbano depende essencialmente desses do que já vem sendo feito em muitos casos de conjuntos
elementos aqui analisados. Mas há de se considerar que na habitacionais.

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


(b) Os acessos de carros por vias secundárias ao apartamentos ficam distribuídos em lajes que formem
estacionamento são propostos como vias controladas, terrenos aterraçados, de modo a constituir uma grande
isto é, que terminam em cul de sac (com retorno, ou em praça onde se localizam os edifícios em forma de "H",
outras palavras, sem saída), e os proprietários de carros todos na mesma cota, permitindo maior comunicação
tendo suas próprias chaves para entradas bem demar- entre os vizinhos, áreas ajardinadas ou com hortas e
cadas. outros locais à sombra de árvores, junto a bancos, como
(c)Acessos por transporte coletivo são feitos por uma pontos de encontros diários, além de estacionamento
“entrada principal”, bem demarcada, com portaria, no nível inferior.
próxima da qual se encontra o ponto de ônibus. (i) Uma proteção de cerca viva, podendo ser
Eventualmente, poderá haver um porteiro eletrônico acompanhada por um alambrado ou muro de outro
para cada unidade habitacional, com os nomes dos mo- material, permite evitar a entrada de intrusos,
radores, que devem ser chamados diretamente pelos vendedores ambulantes e outros que não pertencem ao
visitantes. grupo de moradores, nem são seus convidados. Isso
(d)A segregação de tráfego fica, assim, estabelecida. provavelmente permitirá diminuir o vandalismo nas
Em outras palavras, ficam bem delimitadas as circu- construções degradadas com escritas, riscos e outros.
lações de pedestres e veículos dentro do conjunto habita- A seguir, apresentam-se perspectivas esquemáticas
cional, bem como os acessos por distintos modos de (Figuras 14 e 15) que mostram alguns dos principais
transporte. aspectos do redesenho proposto.
(e)Os acessos de veículos pelas vias secundárias sem
saída devem permitir o recolhimento do lixo
doméstico guardado em contêineres especiais.
94
(f) Os caminhos de pedestres devem ser bem
demarcados, de modo a permitir acessos aos distintos
prédios do conjunto, bem como às áreas de lazer com
caramanchões, bancos, playgrounds, banco de areia e
outros equipamentos.
(g)Os pontos de maior atração do conjunto,
atuando como marcos da comunidade, são o campo
de futebol e a creche com o centro comunitário.
(h)Para superar os problemas topográficos, os

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Figura 14 – Campo de futebol com a respectiva arquibancada e o
conjunto habitacional ao fundo

95

Figura 15 – Acesso de veículo ao estacionamento em subsolo, por


via secundária sem saída. Playground, ao lado do conjunto
habitacional, em plano superior, sobre o estacionamento.

APO funcional - dos espaços abertos do conjunto habitacional


IV.
10 Considerações preliminares

11 Procedimentos metodológicos

12 Características técnicas

13 Avaliação técnico-construtiva

14 Avaliação das instalações elétricas e consumo energético

15 Avaliação da segurança contra incêndio


96
16 Diagnóstico

17 Recomendações

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IV.
APO econômica

10 Considerações preliminares

A
presente avaliação técnica vincula-se às patologias construtivas existentes nos edifícios que

compõem o Conjunto Habitacional Jardim São Luís.

Para a consecução dos objetivos desta avaliação técnica, para levantar, tabular e analisar os 97

dados visando diagnosticar as patologias construtivas nos edifícios em questão, adotou-se como metodologia

de abordagem seguir os dez órgãos básicos constituintes do edifício, academicamente adotada pelos

pesquisadores do grupo de disciplinas da “Tecnologia da Construção” da Faculdade de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP), que, por sua vez, consideram que a construção de um

edifício depende de inúmeras operações pela adoção dos mais variados materiais e técnicas que se

complementam na sua realização.

APO econômica
A complexidade dessas operações requer uma coor- incêndio basearam-se nos procedimentos básicos da
denação efetiva por meio de análise das técnicas e tecno- Avaliação Pós-Ocupação (APO), que, por meio de seus
logias conhecidas, bem como das maneiras de operar todo métodos e técnicas, estabelece o seguinte roteiro de
o processo com reflexo no canteiro de obras, cujos resulta- abordagem:
dos se fazem presentes mediante a ação e coordenação das - definir as variáveis que serão avaliadas do ponto de
intervenções dos vários profissionais que nela atuam. vista dos técnicos para as três áreas em análise;
A adoção da sistematização dos órgãos do edifício - definir os critérios de avaliação para cada uma das
disciplina e facilita sobremaneira uma melhor compreensão áreas. Esses critérios iniciam-se pela normalização
brasileira existente, por recomendações na área e,
na abordagem dos vários elementos que irão inserir-se no
finalmente, pela bagagem técnica e prática dos
problema construtivo, em que cada órgão é responsável
avaliadores;
por determinada função. Para tanto, para caracterizá-lo há
- descrever os materiais e técnicas empregados em cada
a necessidade de se executarem obras, que, por sua vez,
um dos três itens que serão avaliados;
dependem de materiais e técnicas. Assim sendo, a
- avaliar as variáveis escolhidas à luz dessas normas e
nomenclatura adotada e uniformizada por meio de critério
recomendações;
anatômico conduz à possibilidade de se manter o mesmo
- comparar esses resultados com a avaliação da
relacionamento entre elementos, nas várias fases do
satisfação dos usuários, ou seja, com a opinião dos
planejamento, construção e uso do edifício, sob a égide
usuários a respeito das mesmas questões; e
dos seus dez órgãos: terrapleno, fundação, estrutura,
- elaborar um diagnóstico sobre cada um dos três
cobertura, vedos, vãos, paramentos, pavimentos, instalações aspectos em análise, baseado na avaliação dos técnicos
hidrossanitárias e eletromecânicas, complementadas pela e na avaliação dos usuários.
infra-estrutura urbana e por equipamentos complementares.

98 A metodologia adotada vem, portanto, facilitar todo


o processo de abordagem visando levantar e diagnosticar 12 Características técnicas
as principais patologias existentes no Conjunto Habitacional
12.1 Implantação
Jardim São Luís – CDHU – SP – Campo Limpo, cujas
características são enfatizadas a seguir. O conjunto foi implantado com edifícios conjugados,
módulos dois a dois, segundo a melhor orientação solar, ou
seja, sentido leste–oeste no seu maior comprimento.
11 Procedimentos metodológicos
Topograficamente, foram posicionados perpen-
Os procedimentos metodológicos referentes às dicularmente ao desnível do terreno segundo patamares
avaliações (1) dos aspectos construtivos, (2) das instalações seqüenciais, pois este apresenta, em regra, grande decli-
elétricas e consumo de energia e (3) da segurança contra vidade. Esse pormenor resultou numa representativa

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movimentação de terra, que forma platôs nos quais os edi- Os sistemas elétricos e hidráulicos obedeceram aos
fícios estão implantados. Seus taludes são acentuados, padrões usuais para habitações de interesse social, cuja
dificultando os acessos de pedestres pelas escadarias de técnica e material básico é o PVC (plástico).
concreto armado. Nos patamares intermediários estão
localizados os bolsões de acesso e estacionamento de
12.3 Instalações elétricas
veículos.
O projeto das instalações elétricas dos apartamentos
do Conjunto Habitacional Jardim São Luís possui três
12.2 Sistema construtivo
circuitos independentes, sendo o primeiro para a sala e os
O sistema construtivo básico adotado para a dormitórios (110 V), o segundo para a cozinha e o banheiro
construção da estrutura e dos vedos dos edifícios em (110 V), e o terceiro para o chuveiro elétrico (220 V).
questão foi a técnica da “alvenaria armada” de blocos de
concreto. O sistema de escadas foi executado em estrutura A Tabela 22, a seguir, demonstra as características
independente de concreto armado comum. técnicas de cada um dos circuitos para as unidades atendidas
em tensão de 110 V.
Os paramentos externos foram tratados com
chapisco de cimento e areia (1:3) e depois revestidos com
argamassa impermeabilizante e pinturas à base de PVA. 12.4 Instalações hidráulicas e sanitárias
Internamente às unidades habitacionais, as moradias foram As instalações hidráulicas e sanitárias foram
entregues aos moradores sem os revestimentos de parede, executadas em PVC marrom para solda no tocante às
piso e teto. instalações de água fria, e PVC branco para as instalações
No sistema de cobertura utilizaram-se estrutura de de esgoto primário e secundário. A descarga de bacia é
madeira em peroba-rosa e o cobrimento em telhas cerâ- feita por meio de caixa externa elevada, e todos os ralos
micas do tipo plan, sem calhas e coletores de chapas secos e sifonados são aparentes no apartamento inferior,
galvanizadas para captação e escoamento das águas pluviais. sem a presença de forro. Em alguns pontos de interligação, 99
os cotovelos são do tipo azul e possuem roscas metálicas.
As fundações foram feitas em estacas de concreto
armado (pré-moldadas), com variações para strauss,
complementadas na sua meso-estrutura com blocos e 12.5 Instalação de equipamentos de prevenção
baldrames também em concreto armado comum. contra incêndio

No sistema de vãos utilizaram-se esquadrias de cha- Foi feito levantamento dos equipamentos de
pa dobrada de ferro galvanizado tratadas com primer incêndio – extintores e baterias de emergência para as caixas
(zarcão), depois pintadas com esmalte; e nas folhas das de escada – para os 13 blocos estudados. Os resultados
portas internas utilizou-se madeira compensada pintada apontam para um percentual de cerca de 70% de extintores
com esmalte. válidos e carregados.

APO econômica
Tabela 22 – Quadro geral de instalações elétricas dos apartamentos

13 Avaliação técnico-construtiva Para tanto, procurou-se seguir cronologicamente o


levantamento das patologias (anomalias) construtivas a
13.1 Aspectos gerais partir do terrapleno, passando pelo sistema estrutural,
cobertura, vedos, até as instalações elétricas e hidráulicas,
O objetivo principal desta etapa é levantar e diag-
num processo de busca constante para otimização dos
nosticar por meio de análise técnica (avaliação) as patolo-
100 trabalhos.
gias dos dez órgãos, da infra-estrutura urbana e equipa-
mentos complementares dos edifícios construídos e em
uso pelos moradores. 13.2 Terrapleno
Este órgão tem como função a implantação do
A metodologia adotada se fundamentou na
edifício. Para tanto necessita de várias obras, destacando-
realização de visitas técnicas in loco, entrevistas com os
se as plataformas, taludes e drenos, executados segundo as
moradores, observações diretas do estágio dos elementos
técnicas da terraplanagem, cortes, consolidação de aterros
construtivos utilizados, associando-se com registros
e drenagens.
fotográficos, estudos de APO e insumos para avaliação
técnica realizados pelos professores e alunos de pós- As patologias constatadas neste órgão dizem respeito
graduação da FAUUSP. principalmente à execução dos taludes e drenos. Há falhas

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de projeto na execução de taludes, pois os mesmos são 13.3 Fundações
bastante inclinados. Com isso, os acessos verticais por meio É o órgão responsável pela consolidação do terreno
de escadas não apresentam o desempenho desejável, pois e do edifício, pela execução de obras como estacaria, blocos,
a grande maioria das diferenças de nível entre patamares baldrames e sapatas, executadas segundo as técnicas de
está na ordem de 7,00 metros de altura. Sua declividade abertura de valas, estaqueamento, reaterro, alvenarias
não atende às proporções ideais numa relação 1:2, pois, armadas, concreto armado comum e protendido.
via de regra, apresentam a relação 1:1, dificultando o acesso
bem como a manutenção do revestimento vegetal (grama). Neste conjunto habitacional não se notou a
existência de patologias significativas. Apenas em um
Tanto as cristas como os pés dos taludes deveriam edifício foi verificada a existência de trincas no sistema de
ser tratados convenientemente para minimizar as erosões, vedos provocadas por recalque diferencial nas fundações
revelando falhas principalmente de obra e de projeto. localizadas numa esquina do edifício n° 34 (ver Foto 4),
Nota-se, entretanto, que a compactação dos solos sem conseqüência maior para a estabilidade do edifício.
dos patamares foi bem executada, tendo sido, inclusive, As fundações desse conjunto, segundo informes dos
acompanhada por laboratório especializado segundo moradores e técnicos que participaram da obra, são em
informações dos moradores e técnicos que trabalharam na estacas do tipo strauss, cravadas por meio de brocas
obra. O terrapleno resultante apresenta maior quantidade rotativas acopladas em caminhões específicos, cuja diâmetro
de áreas de corte do que aterro, revelando as condições e profundidade são respectivamente de 0,25 e 10,00 metros,
acidentadas do terreno escolhido e contrapondo as con- numa distância modular de 3,00 metros.
dições necessárias para obras desse gênero.
Os blocos de fundação repousam sobre as estacas
Outra patologia constatada diz respeito à drenagem acima referidas, cujas dimensões básicas são de 40x40x45
das águas pluviais dos patamares e das áreas específicas cm quando isoladas, e de 100x40x45 cm quando duplas.
em torno dos edifícios. Em alguns locais utilizaram-se sapatas diretas e tubulões, 101
As canaletas e calçadas no entorno dos edifícios, no cuja identificação não foi possível, pois não se teve acesso
que diz respeito ao seu dimensionamento compatível com aos projetos.
a drenagem, apresentam falhas de execução, principalmente Os baldrames, que juntamente com os blocos cons-
quanto à durabilidade dos materiais utilizados, pois já tituem a infra-estrutura, são de concreto armado comum,
apresentam degradação superficial. cuja dimensão básica é de 30x35 cm, somente nas paredes
externas estruturais, e internamente é de 20x35 cm.
Os muros de arrimo, localizados na região mais baixa
da gleba, foram executados segundo a técnica gabião e Ainda segundo informações de moradores e técnicos
apresentam boas condições, respondendo satisfatoriamente já referidos anteriormente, os baldrames não foram
pela sua função de proteção aos taludes limítrofes. devidamente impermeabilizados, no entanto não se

APO econômica
constataram patologias vinculadas à existência de umidade independência se caracteriza pela adoção de juntas de
nos pisos e paredes internas e externas. dilatação formadas pela movimentação entre os corpos
estruturais constituintes.
13.4 Estrutura As patologias encontradas foram mínimas, apenas
Trata-se do órgão destes edifícios de significativo nestas juntas entre as estruturas, pois não foram
peso com relação a custo e desempenho técnico, pois segun- adequadamente previstas e tratadas, resultando em pontos
do os construtores chegam a representar, juntamente com de vazamento, que, por sua vez, permitem a entrada das
o sistema de vedos, cerca de 30% do valor global da obra. águas pluviais nos patamares e nas portas de entrada dos
apartamentos.
A estrutura responde pela função estabilidade do
edifício, cujas obras para edificá-la vinculam-se aos pilares, Notaram-se também na estrutura principal pequenas
muros, vigas, lajes e outros, segundo determinadas técnicas, patologias, sem comprometimento à estabilidade dos
destacando-se a técnica da alvenaria de tijolos comuns edifícios. Trata-se de trincas horizontais provocadas pela
cerâmicos, concreto armado, carpintaria e alvenaria movimentação das cintas de amarração existentes na altura
estrutural, concreto misto e, para o caso específico desses das vergas e contravergas do sistema de vãos.
edifícios, a técnica de alvenaria armada em blocos de
concreto de boa qualidade. 13.5 Vedos
Na estrutura principal dos edifícios, utilizaram-se 13.5.1 Vedos internos e externos
blocos de concreto vazado justapostos e/ou assentados
O sistema de vedos externos e internos tem como
com argamassa de cimento e areia, e a cada 1,00 m foram
função principal vedar os ambientes, dando-lhes conforto
colocados ferros verticais para formar os pilaretes; nos
ambiental. Suas principais obras referem-se às paredes,
blocos duplos, ferros ø ½”, e nos simples, ferros de 3/8”,
tabiques e tetos, executados segundo as técnicas das alve-
inclusive na execução das vergas, contravergas e umbrais
102 narias, carpintaria, marcenaria e rebocos.
em obediência rigorosa às recomendações dos técnicos de
alvenaria armada. Posteriormente à colocação das Tanto as paredes internas como as externas foram
armaduras, todos os vazios dos blocos foram preenchidos executadas com blocos de concreto variando apenas as
com argamassa tipo grout, executada na própria obra, dimensões.
composta de cimento, areia e pedrisco, com traço 1:2:3 As patologias constatadas referem-se aos problemas
(argamassa forte), adensada e vibrada por processos de umidade provocada pelas águas das chuvas (externo
mecânicos. para interno) e águas de lavagem (interno para externo). O
A estrutura das caixas de escadas, conforme motivo, segundo os técnicos, vincula-se à porosidade dos
mencionado anteriormente, foi construída em concreto blocos de concreto, que, em regra geral, em que pesem as
armado comum, independente da estrutura principal. Essa exigências da fiscalização, estavam sem um controle maior

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de qualidade devido às várias partidas e procedências. as vertentes, estrutura da cobertura, telhamento e lajes
impermeabilizadas, segundo as técnicas da carpintaria
Esses vedos foram entregues sem revestimento
interno, sendo um fator técnico complicador no processo estrutural, telhamento, concreto armado protendido, entre
de impermeabilização e isolamento termoacústico. Segundo outras.
os moradores, o conforto ambiental no interior das Para estes edifícios, inicialmente foram previstas
edificações não apresenta bom desempenho, pois no frio é telhas em fibrocimento e calhas de chapas galvanizadas.
gelado e no verão é quente, constituindo-se em patologia No entanto, por questões de ordem técnica, optou-se por
representativa. telhas cerâmicas do tipo plan com testeira, beirais e estrutura
Outras patologias observadas dizem respeito a: em madeira peroba-rosa. Nos beirais, utilizou-se forro de
madeira do tipo macho–fêmea, com acabamento em testeira
- acúmulo de poeira e absorção de água das chuvas no de madeira.
rebaixo dos panos de alvenaria sob a caixilharia; e
- pontos de infiltração na junção dos vedos com a As patologias registradas dizem respeito às falhas de
caixilharia das janelas, vitrôs e também alguns pontos projeto e execução das obras, pois em vários edifícios as
de empenos das fachadas provocados pela deficiência telhas apresentavam problemas de infiltração no teto, devido
na colocação dos blocos e de rejuntamento. ao deslizamento e quebras. Sua manutenção tornou-se difícil
pela tipologia adotada e pela diferenciação de medidas, fruto
Mas, no geral, o sistema de vedos atende às da falta de controle de qualidade da indústria oleira.
necessidades e funções para que foi projetado e executado.
Outra patologia observada diz respeito à exigüidade
13.5.2 Forros (tetos) de dimensão dos beirais (estreitos) e ausência total de
Os tetos são lajes de concreto armado aparente, captação das águas pluviais em chapa galvanizada, bem
moldadas no local da obra, solidarizando-se com as cintas como de condutores. Essas falhas permitem escoamento
de amarração (concreto) no respaldo das alvenarias. As das águas pluviais em queda livre, prejudicando
patologias construtivas referem-se a ondulações existentes, 103
sobremaneira a necessária proteção às fachadas dos
motivadas pelas marcas das formas de madeira e falta de edifícios, pois as umedecem e infiltram-se internamente
um cuidado maior na sua execução e vedação durante a nas salas, cozinhas e dormitórios.
concretagem. Notaram-se também, nos tetos dos
A falta de proteção (beirais) dos patamares das
apartamentos do último pavimento, pontos de umidade
escadas, peitoris e vedações em elementos vazados de
provocada pelo deslocamento das telhas da cobertura.
concreto permite a entrada das águas pluviais, agravando
o conforto ambiental mínimo aos usuários. Outra patologia
13.6 Cobertura vinculada à cobertura diz respeito à falta de vedação entre
Este sistema tem como função a proteção zenital e a laje de teto, estrutura da cobertura e telhamento, o que
o conforto ambiental do edifício. Suas principais obras são permitie o acesso indesejável de pombos e pássaros.

APO econômica
13.7 Vãos As patologias constatadas nessas janelas são
Este órgão, também de significativa representati- decorrentes da pouca espessura das chapas metálicas de
vidade ao bom desempenho do edifício, tem como função ferro dobradas utilizadas nos requadros, venezianas e
precípua as comunicações interna e externa dos ambientes. batentes, estando constantemente sujeitas à oxidação, cor-
rosão e amassamento pela ação de movimentos e impactos.
Suas principais obras são as esquadrias e/ou
caixilharias, representadas pelas portas, janelas, vitrôs e ou- Seu sistema de acionamento e fixação é
tros vãos, com ou sem ventilação. São executadas segundo excessivamente frági pela constante degradação das
as técnicas de serralharia, carpintaria e vidraçaria, empre- borboletas e carrancas, principalmente aquelas situadas no
gando-se materiais oriundos do ferro, madeira, plásticos, pavimento térreo. (Foto 4). As janelas da sala são do tipo
concreto e vidros dos mais variados, existentes no mercado de correr, subdivididas em quatro panos (dois fixos e dois
da construção civil. de correr), o que permite pequena abertura para o exterior,
A caixilharia desses edifícios, por problemas econô- revelando baixo desempenho funcional e construtivo.
micos (baixo custo), é em “chapas dobradas de ferro”, As janelas do banheiro, da cozinha e da área de
segundo várias tipologias ditadas pelo sistema de movi- serviço são do tipo basculante. Todas elas também são de
mentação (manejo) e ventilação.
chapa de ferro dobrada, apresentando como principal
Nos dormitórios, internamente, as janelas são do patologia a fragilidade à ação mecânica (movimentação e
tipo guilhotina e, externamente, são janelas venezianas impacto) e à corrosão, portanto com durabilidade
metálicas de abrir, cujo sistema de travamento se processa comprometida.
por meio de fechos metálicos, travas (borboleta) e carrancas
As patologias referidas anteriormente nesses
externas.
caixilhos se acentuam pela dimensão dos vãos: janelas da
sala e dormitórios (1,20 x 1,20 m), vitrôs da cozinha (1,00
104 x 1,20 m); todos executados em perfis “T”, “U”, e “L”,
com espessura de 1,2 a 1,5 mm e dimensão dos requadros
em torno de 1” x ½”. Com isso, sua movimentação se
torna difícil, pois, via de regra, entortam, possibilitando,
inclusive, a entrada de vento e de água da chuva; portanto,
sua estanquidade está comprometida, o que incomoda
sobremaneira os moradores.

Foto 4 – Detalhe das palhetas metálicas das venezianas Outro detalhe que resulta em patologia vincula-se à
mostrando sua fragilidade e o processo de degradação dos
peitoris e carrancas
segurança, pois a caixilharia está subdividida horizon-
talmente em espaços em torno de 20 cm, possibilitando,

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assim, a entrada de pessoas, principalmente nos aparta- rebocos, pinturas, azulejamentos, técnicas do marmorista,
mentos situados no pavimento térreo. marcenaria, impermeabilização e tratamentos acústicos e
térmicos. Visa, portanto, atender às várias condicionantes
Constataram-se também patologias que dizem
técnicas e de satisfação do usuário, como durabilidade,
respeito à ausência de peitoris internos. Os existentes são
estanquidade, segurança, conforto térmico, acústico, tátil,
em argamassa fina, revelando total fragilidade, e a grande
psíquico, em que a relação entre custo e benefício se faça
maioria tem suas quinas quebradas. O mesmo ocorre para
presente.
os peitoris externos, executados em placas de argamassa
armada. Pela sua má execução e projeto incompatível no Dentro dessas colocações é que se analisou o desem-
que tange à distribuição das armaduras e exigüidade da penho desse importante órgão. Assim sendo, segundo
espessura, em regra geral, estão quebrados e sujeitos a uma observação in loco e informação dos técnicos e moradores,
degradação contínua e crescente. os revestimentos iniciais adotados nesses edifícios, por
questões econômicas, foram mínimos quantitativos.
Ainda com relação ao sistema de vãos, há as portas
internas e externas. Seus batentes são também em chapa Foram entregues apenas com revestimento externo,
dobrada de ferro e apresentam patologias significa-tivas mediante aplicação de argamassa forte e pintura à base de
pelo acima exposto. PVA e/ou tinta acrílica. Nesse particular, pequenas pato-
logias foram notadas, constituídas por manchas, devido à
Todos os batentes metálicos apresentam patologias baixa impermeabilidade interna dos tijolos de blocos de
significativas, pois são frágeis, não têm detalhes compatíveis concreto. A esse pormenor associa-se o total compro-
de arremate junto à argamassa das paredes e apresentam metimento das argamassas e dos peitoris do pavimento
corrosão pela ação de água de chuva e de lavagem. pela existência de bolor, provocados principalmente pelo
As folhas das portas internas são de madeira, cujo respingo das águas das chuvas (em queda livre) advindas
requadro é maciço, contraplacando com Duratex. Revelam- da cobertura.
se frágeis aos impactos, à ação da umidade e com baixa As patologias mais representativas deste órgão – 105
acusticidade, portanto estão comprometidos tecnicamente. revestimentos – estão centradas principalmente nas áreas
internas molhadas situadas nos banheiros, cozinhas e áreas
13.8 Paramentos de serviço.

Este órgão, responsável pelo conforto ambiental, As tintas externas, à base de PVA, e internas, à base
apresenta um dos maiores índices percentuais de custo de esmalte e/ou barra impermeável, pelo seu baixo desem-
sobre o orçamento global da obra. Suas principais obras penho técnico, apresentam patologias plenamente
estão vinculadas aos revestimentos e condicionamento indesejáveis e minimamente compatíveis.
acústico, térmico e de impermeabilização, que, por sua vez, Patologias similares ocorrem com os revestimentos
são executadas segundo várias técnicas, destacando-se os das paredes das cozinhas e das áreas de serviço.

APO econômica
A adoção de revestimentos plásticos não teve contrapiso e a regularização são de péssima qualidade, com
aderência e resistência desejadas, estando, após três anos desagregação das argamassas devido à má execução, cujos
de uso, totalmente comprometidos no que tange à sua traços não atendiam às especificações técnicas. Para sanar
função. essa patologia, a maioria dos apartamentos foi reformada
com a colocação de pisos cerâmicos nas áreas molhadas e
As patologias internas enfatizadas, principalmente
de carpete nos dormitórios e na sala.
aquelas existentes nos banheiros, são ampliadas pela
deficiência de ventilação de seus caixilhos, aliado à falta de Os pisos das áreas comuns cobertas e abertas foram
manutenção e erro de projeto na fase de especificação dos tratados e entregues no contrapiso desempenado (térreo,
materiais e técnicas adotados. escadas e patamares de distribuição dos apartamentos). Em
vários edifícios, também se constatou desagregação da
Toda a caixilharia foi tratada com primer (zarcão),
argamassa, revelando patologia similar ao exposto
após tinta esmalte em duas demãos, e não apresenta
anteriormente.
patologias maiores, com exceção dos pontos de ferrugem.
As patologias são complementadas pelo desnível
As cores adotadas são pastéis, com predominância
existente nos pisos, necessitando, em muitos casos, do uso
do gelo, revelando timidez, falta de criatividade na adoção
de rodo para direcionar e conduzir as águas servidas para
de cores mais fortes e desenhos significativos para valo-
os ralos após os usos específicos.
rização plástica das fachadas.
Além das patologias da caixilharia, outras vinculadas
13.10 Instalações hidráulicas
ao descolamento e degradação das argamassas e pinturas
externas e internas se fazem presentes, devido princi- Tem como função o fornecimento de água e
palmente à existência e ação da umidade. captação e condução do esgoto, águas servidas e pluviais,
cujas obras vinculam-se às redes de água fria, esgoto,
pluviais e outros pormenores comple-mentares. As técnicas
106 13.9 Pavimentos
utilizadas para execução dessas obras são instalações de
Os pavimentos representados pelos pisos têm como água, esgoto, pluviais, canalização de ferro galvanizado e
função precípua a circulação. Suas principais obras são de plástico.
pisos, rampas, escadas e concordâncias (rodapés), cujas
As patologias constatadas a seguir fundamentaram-
execuções se processam por meio de técnicas vinculadas à
se nas observações in loco e informações dadas pelos
carpintaria, taqueamento, ladrilhamento, assentamento de
técnicos e usuários dos apartamentos. Existe imperfeição
granilites, execução de concreto desempenado (argamassas),
na execução dos ralos sifonados dos boxes e áreas de
aplicação de mármores, resinas plásticas e outros.
serviço, o que, pelas frestas e falta de aderência com a laje
Considerando-se que os apartamentos foram de piso, resultou em vazamentos pontuais. As Fotos 5 e 6
entregues sem acabamento nos pisos, constatou-se que o revelam estas e outras patologias complementares.

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Outra patologia constatada diz respeito aos ralos
sifonados do pavimento térreo, cuja manutenção e limpeza
é precária devido ao seu ponto de instalação (cota) estar
excessivamente baixo, pois a tubulação de esgoto passa
sob os baldrames.
Há também falha de projeto e execução relativa à
disposição das louças sanitárias não coincidentes com o
projeto original. A disposição adotada e executada junto à
parede divisória com a cozinha e área de serviço exigiu a
construção de áreas (ressaltos na parede), funcionando
como parede hidráulica, num processo de otimização e
racionalização das instalações. Esse pormenor ocasionou
a redução da largura de acesso ao banheiro, bem como a
excessiva proximidade na colocação do lavatório, do vaso
Foto 5 – Detalhe do conserto da ligação de água dos lavatórios,
fruto da má qualidade da mão-de-obra utilizada sanitário e do chuveiro elétrico, prejudicando sobremaneira
suas funções, a colocação e o dimensionamento do box.
Em alguns casos, notou-se a elevação do nível dos
pisos dos banheiros para a passagem de tubulações,
revelando, principalmente, erro de projeto e de execução
da obra.

13.11 Instalações elétricas


107
Tem como função a energização e mecanização dos
equipamentos eletromecânicos por intermédio de obras e
materiais, destacando-se as redes de força, iluminação, tele-
fonia, aparelhos em geral, seguindo as técnicas das instala-
ções de alta e baixa tensão, telefone e outros.
Segundo observações e informações de técnicos e
moradores, essas instalações foram bem executadas, no
Foto 6 – Ralos de piso situados no teto apresentando umidade no entanto há patologias fundamentadas no projeto pela
seu entorno devido à má vedação. Canalização de esgoto com insuficiência de tomadas diante do número de equipa-
acabamento comprometido junto aos vedos
mentos encontrados nos apartamentos.

APO econômica
Notam-se a execução de gambiarras, adaptações em Mais uma patologia constatada, ainda vinculada à
pontos e fiações para suprir essa deficiência. segu-rança externa, diz respeito à ausência de projeto no
Ainda com relação às patologias originadas pelo que tange ao tratamento das vedações do entorno dos
projeto, destaca-se a ausência de pontos de 220 V na pia edifícios. Esse pormenor obriga os moradores a adotarem
da cozinha, o que prejudica sobremaneira o desempenho sistemas de grades de proteção extremamente
doméstico dos moradores. Extrapolando para as áreas compartimentadas, ocasionando um processo de
externas, notou-se também deficiência na iluminação exter- comprometimento dos espaços mínimos necessários ao
na nas áreas comuns dos blocos, acessos e estacionamentos. “encontro/socialização”.
Também foram constatadas patologias referentes à
13.12 Infra-estrutura e equipamentos disciplina da recepção, guarda e retirada do lixo dos
complementares apartamentos, pois as caixas existentes são pequenas e
Em complementação às patologias já enfatizadas, insuficientes, permitindo o indesejado e comprometedor
notaram-se outras ligadas à infra-estrutura, como segurança, espalhamento do lixo.
manutenção, acessos e iluminação (acima referida). No que Faltam também áreas e equipamentos de lazer, muito
tange à segurança, as patologias se situam principalmente embora tenham sido projetados, o que viria a colaborar
na porta principal dos apartamentos. Sua fragilidade é para a melhoria da integração e sociabilidade entre os
notória, induzindo sua substituição, pois mais de 80% das moradores.
portas já foram trocadas e/ou foi colocada grade de pro-
As patologias vinculadas às manutenções técnicas
teção. Esse problema é sentido também nas áreas das janelas
são inúmeras, destacando-se as áreas externas, lixo, taludes,
e vitrôs dos apartamentos do pavimento térreo, pois
gramado e estacionamento com sua cobertura em processo
praticamente todos os seus vãos foram gradeados.
acelerado de degradação.
As escadas de acesso apresentam patologias no seu
108
corrimão, pois a tela utilizada como fechamento está
praticamente toda degradada e, pela sua fragilidade, denota 14 Avaliação das instalações elétricas e
adoção de material não condizente com o necessário consumo energético
desempenho técnico.
14.1 Considerações preliminares
Outra patologia vinculada a esse item diz respeito à
segurança dos botijões de gás localizados no acesso comum Este item avalia, inicialmente, as instalações elétricas
do pavimento térreo. Eles ficam expostos a possíveis ações das 27 unidades habitacionais que foram também objeto
criminosas, pois, além de estarem instalados em condições de avaliações comportamentais. Posteriormente, traça algu-
precárias, suas grades de proteção, pela sua fragilidade, mas comparações entre os resultados do Conjunto Habita-
permitem acesso indesejado. cional Jardim São Luís em outras pesquisas semelhantes.

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14.2 Potências médias e potências totais instaladas
Conforme indicam o Gráfico 4 e a Tabela 23, as potências totais encontradas nas unidades avaliadas variaram de
6.500 a 16.000 watts por unidade habitacional, com maior número de incidência entre 8.000 e 12.000 watts e média de
8.817 watts ou 8,8 kW. Com relação às potências instaladas por ambiente e por unidade de área, surpreendeu-nos a
proximidade dos valores encontrados nas cozinhas e dormitórios.

Gráfico 4 – Potências instaladas


totais por apartamentos/unidades
avaliadas

109

Tabela 23 – Potências

APO econômica
A Tabela 23 mostra que a maior incidência de bastante grande, embora seja um pouco menor do que na
equipamentos diversos, além da cozinha, não se encontra área de serviço. A média situa-se próxima aos 1.500 watts,
na sala, mas sim nos dormitórios. É nesses ambientes que com variação entre 500 e 7.000 watts. Em muitas unidades
são realizadas atividades de lazer, de passar roupa, secar o foi encontrada uma gama variada de equipamentos, tais
cabelo e alguns trabalhos para complementação da renda como geladeira, freezer, forno elétrico, forno de
doméstica, utilizando computadores e/ou máquinas de microondas, e equipamentos menores, como batedeira,
costura, entre outros. liquidificador, mixer, entre outros.
Dessa forma, o circuito dos dormitórios está com As potências nas salas, de fato, surpreenderam pela
suas potências no limite, uma vez que condutores de pequena quantidade de equipamentos. A sala não é o único
diâmetro 1,5 mm2 resistem apenas a 15,5 ampères, ou seja, ambiente da unidade habitacional que é utilizado para
cerca de 1.700 watts para tensão de 110 V. atividades de lazer, além de ser de pequenas dimensões e
possuir pouca iluminação natural.
A potência instalada por unidade de área do setor
residencial é bastante superior a do setor comercial. A média
nas unidades avaliadas é de cerca de 200 W/m2, enquanto 14.3 Dimensionamento de circuitos e disjuntores
no setor comercial é inferior a 100 W/m2 nos edifícios Nota-se no Gráfico 5 que, nos circuitos dos
contemporâneos. banheiros, os chuveiros encontrados possuem potências
A iluminação artificial é responsável por cerca de médias de 4.500 watts, e os circuitos possuem um limite
5% em média da potência total dos apartamentos avaliados, de 7.920 watts, considerando-se aqui um condutor de 6,0
enquanto a sua participação no consumo é de cerca de mm2 e uma tensão média de 220 V, conforme especificado
25% do total. no projeto de instalações (ver Quadro 1). Os 3.420 watts
restantes são suficientes para a utilização de secadores de
110 Vale ressaltar que cada dormitório possui apenas
cabelo (1.000 a 2.000 watts) e/ou aparelhos de barbear.
um ponto para tomada e, nessas condições, o uso de benja-
mins e extensões é muito comum. Somente em 9 das 27 unidades avaliadas, a potência
instalada da sala e dormitórios situa-se nos limites
Nas áreas de serviço, as potências apresentaram permitidos pela fiação de projeto, ou seja, condutores com
muita variação e pouca uniformidade, tendo em vista 1,5 mm2 e corrente de projeto limite de 15,5 ampères.
principalmente a utilização ou não das máquinas de lavar Considerando as potências instaladas encontradas nas
roupa. Em alguns apartamentos encontraram-se duas avaliações, sugere-se para esse circuito fiação de 2,5 mm2,
máquinas de lavar roupa, e, em outros, chuveiros elétricos o que permitie potências instaladas de até 2.415 watts,
usados como torneiras de água quente no tanque. considerando correntes máximas de 21 ampères e tensão
Também nas cozinhas a somatória das potências é média de 110 V.

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Gráfico 5 – Potências instaladas em cada uma das unidades avaliadas

Nas cozinhas e áreas de serviço, cerca de 40% dos constante elevação da potência instalada nas cozinhas
apartamentos avaliados possuem potências instaladas acima residenciais. Dessa forma, o percentual de 40% de unidades
111
dos limites permitidos pela fiação estabelecida em projeto, que se encontram com potências instaladas além do limite
ou seja, condutores com 2,5 mm2 e corrente de projeto estabelecido pelo projeto de instalações elétricas tende a
limite de 21 ampères. Considerando as potências instaladas elevar-se com o tempo, agravando ainda mais as condições
encontradas nas avaliações destes 40%, sugere-se fiação das instalações.
de 4,0 mm2, o que permite potências instaladas de até 3.220 Como demonstra a Figura 16, o projeto arquite-
watts, considerando correntes máximas de 28 ampères e tônico inicial previu apenas uma tomada por dormitório,
tensão média de 110 V. Se equipamentos como o freezer mas, tendo em vista a potência média instalada de 1.786
doméstico forem instalados pelos moradores, o condutor watts, faz-se necessária, no mínimo, a previsão de mais
de 4,0 mm2 torna-se extremamente importante nesse tipo uma tomada por dormitório em projetos semelhantes
de habitação. Um outro aspecto que merece destaque é a futuros.

APO econômica
Instalação elétrica atual Instalação elétrica proposta

Figura 16 – Projeto adotado e projeto proposto

112

Uma avaliação do projeto elétrico existente, confor- tes poderiam atingir 3.080 watts em tensão de 110 V.
me demonstrado na Tabela 24, a seguir, indica que o circuito O projeto existente carece de uma tomada de uso
1 poderia ter a espessura do seus cabos, fase, neutro e específico para a torneira elétrica, uma vez que muitos
terra, elevados para 2,5 mm 2 e, conseqüentemente, as moradores as instalam mesmo sem ter carga suficiente para
potências desses ambientes poderiam atingir 2.310 watts tanto. O circuito do chuveiro, ou circuito 3, é o único que
em tensão de 110 V. O circuito 2, da cozinha e área de se encontra em condições bastante razoáveis de uso e
serviço, poderia ter a espessura de seus cabos elevada para operação. Todas essas modificações propostas encontram-
4,0 mm2 e, conseqüentemente, as potências desses ambien- se na Tabela 24.

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Tabela 24 – Quadro geral das instalações elétricas do apartamento

Tendo em vista a avaliação realizada nesse conjunto e a grande quantidade de apartamentos visitados, fotografados
e analisados, sugere-se a distribuição de circuitos e cargas para os apartamentos de acordo com a tabela a seguir.

113

Tabela 25 – Quadro proposto

APO econômica
14.4 Índices e padrões de consumo mentos eletrodomésticos, que realizam tarefas das mais
De todos os energéticos envolvidos no setor residen- diversas.
cial, a eletricidade é aquele que vem crescendo com maior A Tabela 26 indica que o consumo médio por
intensidade, de 4% a 5% ao ano, seguida do gás liquefeito unidade de área nas unidades avaliadas é de 4,2 kWh/m2.
de petróleo ( GLP), e essa tendência não deve reverter-se Os dados encontrados junto às famílias de classe média,
no curto e médio prazos, devido à facilidade de aquisição conforme já mencionado, é de cerca de 4,0 a 5,0 kWh/
de bens de consumo e à demanda reprimida nessa área m2/mês por unidade habitacional. Nota-se, portanto, que
nos últimos dez anos. A utilização mais intensiva do GLP o consumo por unidade de área das habitações sociais
no aquecimento de água para banho e cocção, reduzindo o avaliadas não é diferente dos consumos encontrados nas
peso da eletricidade, confronta-se com a larga utilização habitações de famílias com renda média acima de 20 salários
do chuveiro elétrico devido à facilidade de aquisição e seu mínimos. Essa situação é explicada pela reduzida área das
preço altamente competitivo. habitações de interesse social e pela presença de uma série
O consumo médio da família paulistana divulgado de eletrodomésticos na cozinha, na sala e, principalmente,
pelo IBGE em 1985 era de 144 kWh/mês, para uma média nos dormitórios. Com relação ao consumo mensal, os
de quatro pessoas. Alguns estudos realizados no primeiro valores não são reduzidos e a média anual é de 180 kWh/
semestre de 1997 junto a famílias de classe média e classe mês por unidade habitacional, atingindo valores que
média alta na cidade de São Paulo indicam que, para uma ultrapassam os 200 kWh em determinados períodos.
média de cinco pessoas por família, o consumo médio é
de cerca de 500 kWh/mês. Esse levantamento, que vem
14.5 Conclusões
sendo feito periodicamente, denota a cada ano uma elevação
dos consumos individuais proporcionada pela facilidade As habitações de interesse social possuem uma
atual de aquisição de eletrodomésticos, a elevação da renda elevada variedade de equipamentos eletrodomésticos e uma
familiar e a oferta cada vez mais intensa de novos equipa- concentração de potência instalada nos dormitórios, além
114 de sala e cozinha.
Os circuitos que interligam os dormitórios e a sala
possuem fiação subdimensionada para a potência instalada
encontrada. Nesse sentido, recomenda-se a utilização de
fios com seção de 2,5 mm2 para esses ambientes, tanto
para iluminação como para tomadas.
Parte dos circuitos das cozinhas e área de serviço
possuem fiação subdimensionada para a potência instalada
encontrada. Nesse sentido, recomenda-se a utilização de
Tabela 26 – Dados médios gerais para as 27 unidades avaliadas fios com seção de 4,0 mm2 para as tomadas desses

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ambientes. A iluminação pode permanecer juntamente com As medidas de proteção ativa são compostas de
o circuito da sala e dormitórios. sistemas e equipamentos instalados no edifício que só vêm
a atuar numa situação de incêndio para minimizar as perdas,
A quantidade de uma tomada por dormitório é insu-
como, por exemplo, os hidrantes, os extintores, o alarme, a
ficiente para a potência instalada encontrada e para o padrão
iluminação de emergência, etc.
de utilização desses ambientes.
Já as medidas de proteção passiva são aquelas
É necessária a instalação de uma tomada de 220 V
incorporadas à construção e que possuem a propriedade
para a torneira elétrica na cozinha.
de proteção desde a sua implantação no edifício. Fazem
15 Avaliação da segurança contra incêndio parte dessas medidas, por exemplo, as paredes resistentes
ao fogo, as portas corta-fogo, as rotas de fuga e seus com-
15.1 Objetivos ponentes.

Os objetivos foram avaliar as condições de segurança


contra incêndio dos edifícios do conjunto habitacional e 15.3 Legislação e normas vigentes
propor medidas corretivas para os problemas encontrados,
15.3.1 Legislação municipal
tendo como base as regulamentações nos âmbitos municipal
e estadual, as normas técnicas brasileiras que tratam da A proteção contra incêndio dos edifícios em questão
questão e os requisitos básicos internacionalmente aceitos. deve atender à Lei Municipal nº 11.228/92, Código de
Obras e Edificações do Município de São Paulo (COE), e
também ao disposto no Decreto Municipal nº 32.329/92,
15.2 Metodologia
que complementa a referida lei.
Foram realizadas vistorias nos edifícios do conjunto
habitacional e medições efetuadas em quatro deles, escolhi- A questão da segurança das instalações de GLP é
dos aleatoriamente (Blocos 2, 5, 7 e 11). regulamentada pelo Decreto Municipal nº 24.714/87, que
dispõe sobre a utilização de gás combustível em edifícios 115
Utilizou-se para orientação básica um conjunto de
e em construções em geral no Município de São Paulo.
documentos composto de plantas de localização, de implan-
tação e de arquitetura dos edifícios e de dados fornecidos 15.3.2 Legislação estadual
pela equipe técnica do NUTAU, sobre a situação de No Município de São Paulo, o Corpo de Bombeiros
equipamentos que compõem o sistema de segurança contra do Estado de São Paulo acompanha as exigências das
incêndio desses edifícios. regulamentações municipais, complementando-as nos
A avaliação realizada apresenta uma abordagem da aspectos que tangem às instalações de proteção contra
proteção contra incêndio a partir de dois parâmetros, a incêndio, através do Decreto Estadual no 38.069/93 –
saber: as medidas de proteção ativa e as medidas de proteção Especificações para Instalações de Proteção Contra Incên-
passiva. dios.

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15.3.3 Normas brasileiras 16 Diagnóstico
As normas brasileiras da área de segurança contra
incêndio são adotadas por muitos dos órgãos municipais e 16.1 Considerações preliminares
estaduais brasileiros que não possuem regulamentações A etapa de diagnóstico é a comparação entre as infor-
locais pertinentes e são referidas como documentos com- mações prestadas pelos usuários – por meio dos ques-
plementares de legislações locais. Para o caso em questão, tionários e das entrevistas com pessoas-chave – e a avaliação
tais normas são as seguintes: dos técnicos para os itens técnico-construtivos, de insta-
lações elétricas e consumo energético e de segurança contra
a) NBR 9077 – Saídas de emergência em edifícios –
incêndio. Para tanto, a redação desta etapa do trabalho
Procedimento. Nesta norma são fixadas condições
lançou mão da tabulação dos dados dos questionários
mínimas para a população de uma edificação abandonar
aplicados à população oriunda de favelas (OF) e oriunda
o local atingido por um incêndio, protegida dos seus
de inscrições regulares (IR). Como existem duas populações
efeitos, e também para permitir o fácil acesso do auxílio
com origens diferenciadas e, portanto, tabulações
externo para o combate ao fogo e a retirada de pessoas
diferenciadas, este diagnóstico, ao realizar cada uma de
em perigo;
suas análises, considerou, sempre que possível, a análise
b) NBR 10898 – Sistema de iluminação de emergência das duas populações separadamente.
– Procedimento. Esta norma fixa as exigências a que o
sistema de iluminação de emergência deve satisfazer 16.2 Avaliação técnico–construtiva
quando instalado nos diferentes tipos de edificações,
16.2.1 Segurança contra acidentes nas escadas
garantindo-se iluminação adequada às rotas de fuga; externas

c) NBR 12693 – Sistema de proteção por extintores de A avaliação técnica apontou problemas de segurança
incêndio – Procedimento. Esta norma define o sistema em praticamente todas as escadas do conjunto, favorecendo
116
o risco de acidentes. Em alguns blocos, os gradis das escadas
de proteção por extintores de incêndio a ser instalado
estão totalmente destruídos, favorecendo enormes riscos
nas edificações, o qual depende do tipo de risco existente
à população local, principalmente para as crianças, devido
no local; e
às suas baixas estaturas. Analisando o ponto de vista dos
d) NBR 13435 – Sinalização de segurança contra usuários provenientes das inscrições, nota-se que para 65%
incêndio e pânico – Procedimento. Esta norma dos usuários a segurança contra incêndio é boa ou ótima,
determina as exigências quanto à sinalização de saída, enquanto para 35% é ruim e péssima. Esse quadro de
de equipamentos e de situações de perigo, de acordo opiniões é explicado, em parte, pelo nível de conscientização
com o tipo de ocupação e outras características da dos moradores, ou seja, para aqueles que são incomodados
edificação. pelo problema, as opiniões provavelmente encontram-se

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entre ruim e péssimo, e para aqueles que pouco refletiram coberturas são devidas, principalmente, às falhas de projeto,
sobre o assunto, a tendência situa-se entre bom e ótimo. ou seja, beirais muito estreitos, falta de calhas, excesso de
Analisando o ponto de vista dos usuários provenientes da água no pavimento térreo devido às águas de chuva e
favela, nota-se que para 70% dos usuários a segurança respingos e existência de espaços entre o forro e a cobertura,
contra incêndio é boa ou ótima, enquanto para 30% é ruim que permitem o acesso de pombos e outros pássaros
e péssima. Mais uma vez, verifica-se aqui que a população transmissores de doenças, facilitam entupimentos e
oriunda da favela apresentou um nível mais elevado de deslocamento de telhas pela ação do vento, e a conseqüente
conscientização em relação a essa questão. penetração de água no forro. Vale ressaltar que observações
no local e vistorias realizadas demonstraram que
16.2.2 Manutenção de fachadas
praticamente inexiste manutenção no sistema da cobertura,
Do ponto de vista técnico, as fachadas de todos os
incluindo forros, telhas e frestas.
blocos avaliados apresentaram diversos problemas que
constam do relatório técnico, inclusive com fotografias Do ponto de vista dos usuários oriundos das
ilustrativas. Tais problemas são originários de deficiências inscrições regulares, para 48% dos entrevistados a
de projeto, como é o caso das pingadeiras e dos pinos de manutenção é boa e ótima, e para 52%, é ruim e péssima,
fixação das janelas nas fachadas; de construção, como é o ou seja, opiniões bastante divididas. Do ponto de vista dos
caso do traço da argamassa, que provavelmente sofreu usuários oriundos das favelas, para 70% dos entrevistados
sérias alterações durante a etapa de obra; e, finalmente, do a manutenção é boa e ótima, e para 30%, é ruim e péssima,
uso e da manutenção em pingadeiras, pinos e fachadas. ou seja, opiniões diferentes daquelas provenientes das
Sintetizando, as fachadas apresentam problemas técnicos inscrições, e nota-se aqui uma tendência bem mais definida
de projeto, de execução e de uso e operação. e apontando para uma manutenção boa e ótima. Esta é a
primeira análise em que os usuários oriundos da favela
Do ponto de vista dos usuários oriundos das inscri-
apresentaram opiniões divergentes em relação aos técnicos.
ções, para 55% a manutenção das fachadas é ótima e boa, 117
e para 43%, é ruim e péssima, ou seja, as opiniões estão 16.2.4 Manutenção de instalações hidráulicas e de
parcialmente divididas, com uma ligeira tendência para os esgoto
aspectos positivos. Para os usuários oriundos das favelas, Do ponto de vista dos técnicos, as avaliações rea-
a situação é inversa, ou seja, para 64% a manutenção é lizadas nos apartamentos indicaram problemas de ins-
ruim e péssima, e para 44%, é boa e ótima. Vale ressaltar talações hidráulicas provenientes de conexões de PVC em
que as tendências nas opiniões da população oriunda da instalações de água fria, tanto na cozinha como no banheiro,
favela são mais coincidentes com as opiniões dos técnicos. o que tem gerado uma certa manutenção nesses ambientes,
mormente para aqueles usuários que promovem reformas
16.2.3 Manutenção da cobertura nos apartamentos. Com o passar do tempo, há uma ten-
Do ponto de vista dos técnicos, as falhas nas dência à aceleração dessas manutenções, principalmente

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na tubulação vertical de água fria que interliga o registro usuários, não somente por meio de suas respostas aos
de pressão e o cotovelo do chuveiro. Esse ponto, devido questionários, mas também pela verificação in loco de suas
aos esforços e ao peso do chuveiro, tende a se partir e a atitudes, as instalações elétricas e, conseqüentemente, o
promover um vazamento constante e crescente. projeto de instalações elétricas dos apartamentos, não estão
Do ponto de vista dos usuários oriundos das preparados para as atuais condições de uso e ocupação de
inscrições regulares, para 77% dos entrevistados a equipamentos elétricos da classe social em questão. Em
manutenção das instalações de esgoto é boa e ótima, e todos os ambientes avaliados, conforme demonstra este
para 23%, é ruim e péssima. Com relação às instalações relatório, item 5, existe subdimensionamento de instalações.
hidráulicas, para 88% dos entrevistados é boa e ótima, e Além disso, o atual projeto apresenta problemas de cálculo
para 12%, é ruim ou péssima, ou seja, para ambas as no seu circuito 3, que foi calculado para um conjunto de
instalações as opiniões apontam para tendências bastante fios com 6 mm2 de espessura e tensão de 220 V, onde foi
positivas. Do ponto de vista dos usuários oriundos das dimensionado um disjuntor de 40 ampères. Em condições
favelas, para 79% dos entrevistados a manutenção das normais de uso, os condutores de 6 mm2 resistem a 36
instalações de esgoto é boa e ótima, e para 18%, é ruim e ampères, logo o disjuntor nunca poderia ser superior à
péssima. Com relação às instalações hidráulicas, para 88% capacidade de condução de corrente dos fios.
dos entrevistados é boa e ótima, e para 12%, é ruim ou
péssima (neste ponto, exatamente as mesmas opiniões que 16.4 Avaliação da segurança contra incêndio
os moradores oriundos das inscrições regulares). Da mesma Foi identificada uma série de problemas relacionados
forma, sobre ambas as instalações, as opiniões apontam
à manutenção de equipamentos e de problemas de
para tendências bastante positivas.
especificação de materiais de construção e acabamento,
Analisando ambos os pontos de vista, os usuários sempre relacionados à questão de segurança contra
são unânimes em afirmar que a manutenção das instalações incêndio. Nas entrevistas informais realizadas com os
de água fria e esgoto não apresentam dificuldades sig- usuários, notou-se que essas questões não lhes são
118
nificativas, e este fato é explicado pela baixa vida útil dos desconhecidas e, de certa forma, os preocupam, não
edifícios, que em média é de quatro anos. Considerando- somente no caso de um eventual sinistro, mas também
se uma vida útil média de sete anos para tubos e conexões com relação às crianças e sua segurança em escadas,
de PVC para água fria, os problemas mais sérios deveríam patamares e na proximidade com os abrigos de gás.
começar ao final do ano de 2002.
Com relação ao apartamento, os problemas mais
graves relacionados a proeminências de focos de incêndio
16.3 Avaliação das instalações elétricas e estão diretamente ligados às instalações elétricas, uma vez
consumo energético que estas estão subdimensionadas nos circuitos de sala e
Como se verificou nas análises levantadas, tanto do dormitórios e, dessa forma, favorecem por aquecimento
ponto de vista dos técnicos como do ponto de vista dos focos de incêndio. Um segundo problema encontrado no

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interior dos apartamentos é a emenda dos fios que alimen- relação entre os problemas ocorridos com as instalações
tam o chuveiro elétrico, que são feitas com fitas isolantes e elétricas e possíveis focos de incêndio. Somente 19%
raramente utilizam conectores apropriados para esse fim. apontaram conceitos situados entre ruim e péssimo.
Analisando o ponto de vista dos usuários Comparando ambas as populações, nota-se um nível maior
provenientes das inscrições, nota-se que, com relação ao de conscientização por parte dos moradores da favela.
edifício, para 56% dos usuários a segurança contra incêndio
é boa ou ótima, enquanto para 44%, é ruim e péssima.
17 Recomendações
Esse quadro de opiniões não aponta nenhuma tendência
expressiva e é explicado em parte pelo nível de As patologias encontradas têm como origem os
conscientização dos moradores, ou seja, para aqueles que pormenores técnicos vinculados ao projeto, à execução das
são incomodados pelo problema, as opiniões obras, aos materiais e a outros motivos externos ao canteiro.
provavelmente encontram-se entre ruim e péssimo, e para Para sanar as patologias enfatizadas durante o trabalho, há
aqueles que pouco refletiram sobre o assunto, a tendência necessidade de se adotarem terapias preventivas e corretivas.
situa-se entre bom e ótimo. Para o apartamento, ou seja,
As preventivas, em regra geral, dizem respeito ao
para a unidade habitacional, a maioria dos usuários apontou
projeto, e as corretivas, à execução da obra, uso e manu-
valores situados entre bom e ótimo (77%), denotando total
tenção dos edifícios.
desconhecimento da relação entre os problemas ocorridos
com as instalações elétricas e possíveis focos de incêndio. Com base nas pesquisas, análises, diagnósticos,
Somente 19% apontaram conceitos situados entre ruim e observações e informações obtidas in loco, associadas aos
péssimo. elementos do Relatório – Avaliação Pós-Ocupação desses
Analisando o ponto de vista dos usuários prove- prédios, realizada pelos alunos da disciplina AUT 805/96
nientes da favela, nota-se que, com relação ao edifício, para do curso de Pós-graduação da FAUUSP, recomenda-se o
55% dos usuários a segurança contra incêndio é boa ou que se segue. 119
ótima, enquanto para 45%, é ruim e péssima. Esse quadro
de opiniões não aponta nenhuma tendência expressiva e é 17.1 Aspectos construtivos
explicado, em parte, também pelo nível de conscientização 17.1.1 Terapias preventivas
dos moradores, ou seja, para aqueles que são incomodados
Estas terapias dizem respeito, principalmente, às
pelo problema, as opiniões provavelmente encontram-se
falhas oriundas dos projetos. Para tanto, seguindo-se a
entre ruim e péssimo, e para aqueles que pouco refletiram
cronologia sistematizada dos órgãos do edifício,
sobre o assunto, a tendência situa-se entre bom e ótimo.
recomendam-se os pontos a seguir.
Para o apartamento, ou seja, para a unidade habitacional, a
maioria dos usuários apontou valores situados entre bom Terrapleno
e ótimo (67%), denotando desconhecimento parcial da - Tomar cuidados específicos na escolha dos terrenos,

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optando por aqueles cuja topografia, tipo de solo, de escada;
vegetação, cursos d’água e infra-estrutura urbana sejam - maiores cuidados no detalhamento do sistema de
compatíveis com a tipologia e uso dos edifícios em vergas e contravergas dos vãos (caixilharia), bem como
questão; melhorar as cintas de amarração junto às lajes de piso e
- projetar patamares e taludes dentro da boa técnica, cobertura para evitar fissuramentos.
numa declividade não superior à proporção de 1:2, o Cobertura
que possibilita, inclusive, uma melhor manutenção da
- Projetar beirais mais generosos, pois os existentes
cobertura vegetal (grama);
protegem muito pouco os panos de fachada;
- o mesmo procedimento do item anterior quanto aos
- o mesmo quanto à adoção de calhas e condutores,
acessos e escadas dentro das mínimas condições de
visando principalmente à proteção das paredes (zona
conforto;
de peitoris) dos apartamentos situados no térreo;
- projetar com o cuidado devido o sistema de drenagem
- melhorar o projeto de vedação entre o sistema de vedos
dos patamares, cristas e pés de taludes, de forma a evitar
(paredes) e a cobertura, pois existem espaços entre
possíveis erosões;
ambos, permitindo o acesso indesejável de pombos e
- destinar áreas de terreno para o pavimento térreo, de
pássaros;
forma a possibilitar áreas de lazer para os moradores
- prever sistema de amarração das telhas plan, de forma
entre as lâminas dos blocos e entre conjuntos, pois as
a minimizar seu deslocamento.
existentes são extremamente exíguas.
Vedos
Fundações
- Ponderar melhor sobre as especificações técnicas
- Nos projetos de fundações, observar pormenores
vinculadas à adoção dos blocos de concreto, pois estes
técnicos vinculados ao estaqueamento e blocos situados
têm apresentado desempenho técnico aquém das
120 muito próximos às cristas dos taludes, dando, assim,
necessidades normais de conforto ambiental, com
ensejo para possíveis deslizamentos com reflexos
ênfase para o térmico;
danosos de movimentação por recalque diferencial;
- especificar melhor a qualidade desses blocos em face
- evitar nos projetos, dentro do possível, zonas de aterro.
da sua porosidade não compatível com as exigências
Estrutura de estanquidade e durabilidade;
- Neste particular, apenas recomendam-se tratamentos - melhorar a paginação dos blocos, bem como suas
preventivos durante a fase de projeto, como a inserção juntas;
cuidadosa de juntas de dilatação, devidamente - evitar no projeto a adoção de rebaixo nos panos
detalhadas e especificadas, juntas estas existentes entre inferiores das janelas, de forma a evitar deposição da
as estruturas principais dos edifícios e respectivas caixas poeira atmosférica e o conseqüente comprometimento

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da fachada pela sujeira e manchas. durável aliado à inserção da cor, bem como de desenho
Vãos que revele a valorização plástica mínima dos edifícios,
dando-lhes o caráter necessário;
- Melhorar sobremaneira os detalhes e especificações
técnicas, com ênfase para a espessura das chapas de - avaliar por meios científicos o desempenho dos
ferro dobrada, pois toda a caixilharia encontra-se revestimentos para o atendimento do conforto
comprometida nos aspectos funcionais e de ambiental visando à realimentação do projeto/obra.
durabilidade; Pavimentos
- rever o sistema de espaçamento e movimentação da - Como terapia preventiva, recomenda-se na fase do
caixilharia, inclusive os acessórios (ferragens), como projeto uma melhor ponderação sobre a inserção de
carrancas, borboletas, alavancas de manejo e fechos; especificações de pisos cerâmicos nas áreas molhadas,
- rever por completo o desenho da caixilharia, visando onde a relação custo versus benefício se faça presente;
dotá-la de estanquidade compatível; - melhorar as indicações e detalhamentos dos arremates
- estudar melhor os peitoris externos e internos com junto aos vedos e caimentos junto aos ralos;
detalhes e materiais duráveis;
- desenhar e especificar melhor os pisos externos.
- rever por completo o projeto no que tange às aberturas
diante da segurança que se encontra comprometida, Instalações hidráulicas
principalmente no pavimento térreo; - Recomenda-se rever nos próximos projetos as cotas e
- outro problema de projeto que deve ser previsto é o localização da tubulação de esgoto, caixas de inspeção
dimensionamento e posicionamento da caixilharia dos e ralos do pavimento térreo, pois atualmente passam
banheiros e área de serviço, pois permitem pouca abaixo dos baldrames, numa profundidade que dificulta
iluminação e ventilação, o que ocasiona a formação de a manutenção;
bolor, com o conseqüente comprometimento estético - adotar paredes hidráulicas compatíveis com as 121
e de salubridade. instalações, evitando o sacrifício das áreas dos banheiros;
Paramentos - melhorar o projeto das instalações, de maneira a
- Melhorar paginação dos blocos na fase do projeto, discipliná-lo e harmonizá-lo com os ambientes;
bem como especificar materiais de acabamento para os - reavaliar a localização e dimensões dos abrigos de
banheiros, área de serviço e cozinha condizentes com gás, tornando-os independentes da circulação de
o mínimo de durabilidade. Sugere-se a adoção de pedestres do térreo, dentro da legislação vigente, de
azulejos, pois as tintas plásticas existentes estão forma a dar segurança aos usuários;
degradadas, o que revela sua incompatibilidade; - avaliar as condições de segurança contra incêndio,
- projetar os revestimentos de fachada com material visando à adoção de projeto específico.

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Instalações elétricas número de telefones públicos mínimos para atender à
- Recomenda-se como terapia preventiva realizar uma demanda;
avaliação nos prédios em uso, de maneira a constatar a - desenhar e criar condições de execução do
real demanda elétrica diante dos usos, costumes e equipamento urbano para as áreas comuns num estreito
equipamentos eletroeletrônicos existentes; vínculo com o tratamento paisagístico mínimo.
- melhorar as dimensões das tubulações secas 17.1.2 Terapias corretivas
(conduítes), para possibilitar possíveis aumentos de
Diante das características contratuais e de uso desses
demanda de energia com reflexos no dimensionamento
edifícios, as terapias corretivas vinculam-se também às
do quadro geral;
falhas de projeto, obra (materiais e técnicas utilizados) e
- melhorar o projeto elétrico das áreas externas entre outros pormenores. Entre elas, destaca-se:
blocos e áreas comuns, sistema de acesso e
- refazer o gramado dos taludes com adoção de
estacionamento, dando-lhes a possibilidade de cumprir
vegetação e detalhes para sua contenção;
suas funções.
- recuperar o concreto degradado das canaletas das águas
Infra-estrutura
pluviais e sistema de calçadas e pátios;
- Recomenda-se que seja prevista nos projetos futuros
a melhoria das condições de segurança contra roubos e - tratar as juntas existentes entre a estrutura principal
vandalismo dos edifícios com a inserção de vedação dos edifícios e a caixa de escada para evitar vazamentos
compatível (grades); de águas pluviais;

- melhorar todo o sistema de acesso de pedestres, - vedar as juntas existentes entre a caixilharia e os vedos
estacionamentos, escadas, dentro do conforto com material plástico;
necessário, inclusive com pormenores vinculados aos - corrigir os vazamentos existentes na laje de cobertura
122 deficientes físicos, idosos, gestantes e outros; de alguns apartamentos;
- melhorar a implantação dos blocos de maneira a - corrigir os vazamentos dos pisos dos banheiros junto
possibilitar a inserção de áreas de lazer para várias faixas aos ralos sifonados;
etárias, minimizando a ocupação que por ora é excessiva; - realinhar e fixar melhor as telhas da cobertura, bem
- inserir projeto dos equipamentos urbanos; como vedar o espaço existente entre a laje de teto e a
cobertura para evitar acesso de pássaros;
- ponderar sobre os espaços/ambientes, o mobiliário
doméstico existente e sua possível reformulação junto - inserir calhas e condutores na cobertura e realizar
à cadeia produtiva; pintura (tratamento) das testeiras de madeira e rufos;
- inserir pontos de ônibus devidamente abrigados e - recuperar os peitoris das janelas externas, bem como

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toda a caixilharia existente, em vista da sua fragilidade; elaborados no sul da Europa, com os quais se teve contato.
- eliminar as umidades existentes nas paredes (altura Adotando as terapias preventivas e corretivas aqui
dos peitoris) do pavimento térreo; elencadas, o sistema de produção dessas habitações de
interesse social, no caso a CDHU, poderá melhorar o pro-
- eliminar a umidade e refazer toda a pintura dos
banheiros e áreas de serviço; cesso de atendimento ao usuário, visando à melhoria de
sua qualidade mínima, em que pese a aceitação de regular
- recuperar as grades de proteção dos corrimãos das para boa revelada pela APO junto aos moradores.
escadas com material mais resistente;
Há, no entanto, dentro de uma extrapolação maior,
- repintar as fachadas e caixilharia. a necessidade de melhorar o dimensionamento de alguns
Recomenda-se também a realização do as built dos ambientes, com destaque para banheiros e área de serviço,
projetos e inserção do “material técnico de uso” dos de dotar os ambientes de um melhor conforto ambiental,
edifícios e áreas complementares. bem como de garantir segurança e privacidade mínima.

Os edifícios em questão, perante esta pesquisa,


reflexões e informações de APO, conforme anteriormente 17.2 Instalações elétricas
mencionado, apresentam desempenho técnico regular, pois · Elevar a espessuras dos cabos do circuito 1, fase,
as patologias construtivas mais representativas dizem neutro e terra, para 2,5 mm2 para que os ambientes em
respeito às falhas e/ou omissões de projeto, ficando as questão alcancem 2310W em tensão 110V.
falhas (anomalias) de obra e outras numa menor escala. · Aumentar a espessura dos cabos do circuito 2 da
As patologias a serem ponderadas e minimizadas cozinha e área de serviço para 4,0mm2 para alcançar
por intermédio de terapias corretivas, visando à melhoria 3080W em tensão de 110V.
das condições dos moradores, dizem respeito ao: sistema · Incluir uma tomada para uso da torneira elétrica.
de vãos (caixilharias), paramentos, instalações elétricas, 123
condições de segurança, acessos, cobertura, sistema de
17.3 Segurança contra incêndio
iluminação/ventilação, conforto ambiental, infra-estrutura
e equipamentos urbanos. 17.3.1 A implantação
A proteção contra incêndio ao nível urbano deve
Estatisticamente, calcularam-se os índices
fazer parte das regras para implantação de infra-estrutura
percentuais resultantes da pesquisa, análise e diagnósticos
urbana, além das regras de zoneamento.
no que tange às patologias enfatizadas. Assim sendo, as
patologias (falhas) com origem no projeto representam 17.3.1.1 Implantação em nível urbano
(55%), de execução da obra (22%), materiais (15%) e outros Ao nível da infra-estrutura urbana, a provisão de
intervenientes (8%), portanto muito próximos dos índices um sistema de suprimento adequado de água para combate,

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atualmente representada pela rede urbana de hidrantes lâminas (cada bloco é constituído de duas lâminas de
públicos, deveria ser minimamente garantida. A provisão fachada contínua), até o limite do lote. Tais fatores estão
da rede de hidrantes é de obrigação da agência de relacionados à facilidade de propagação de incêndio entre
fornecimento de água da região e deveria fazer parte da blocos ou lâminas e à facilidade de acesso dos equipamentos
rede normal de distribuição de água potável que, para e equipes de combate e salvamento aos blocos.
atender às necessidades da atividade de combate ao fogo, Em termos de segurança dos ocupantes, deve-se
precisa de uma pressão/vazão adequada e pontos para garantir áreas de refúgio para os ocupantes dos blocos,
captação de água (pontos de hidrantes) bem distribuídos. preferencialmente dentro do próprio lote, isto é, em áreas
O espaçamento entre hidrantes deve ser condizente com o onde os ocupantes poderiam permanecer sem serem
risco proporcionado pelos tipos de ocupação existentes na afetados pelos efeitos do incêndio por um certo período.
região, sendo este espaçamento maior em áreas estritamente O problema da acessibilidade no interior do lote é
residenciais de baixa densidade e menor em áreas bastante evidente no caso dos blocos de edifícios do
densamente ocupadas. conjunto em questão, pois existe um desnível acentuado
Ainda, ao nível urbano, deveria haver uma ao longo de toda a área. Assim, a aproximação de veículos
de bombeiros, tanto para salvamento de pessoas como para
preocupação quanto à acessibilidade dos veículos de
combate a um eventual incêndio, fica restrita às duas
bombeiros numa situação de emergência, que poderia ser
grandes áreas de estacionamento, que são os únicos locais
mais bem regulamentada por meio de regras de
relativamente planos, apesar do acesso a esses locais se dar
zoneamento. Ruas estreitas, com curvas ou declives acen-
por um trecho de acentuado aclive. Destes locais, os
tuados, obstruções causadas por excesso de equipamentos
bombeiros serão obrigados a carregar os equipamentos
urbanos ao longo das ruas, como postes e fiação elétrica, necessários para o atendimento da emergência nos blocos.
placas de sinalização de grandes dimensões, etc., também
tendem a dificultar a rápida chegada do socorro. Essa situação pode se tornar mais grave para o
124 conjunto de edifícios formado pelos blocos 2 a 4, pois o
Infelizmente, a atual lei de zoneamento não desnível entre os blocos e o passeio chega a dez metros.
contempla a questão da acessibilidade de equipamentos
Outra opção de acesso seria pela via pública
para combate a incêndio, no âmbito tanto do dimen-
diretamente aos blocos, que só é possível em alguns casos
sionamento das ruas como dos afastamentos adequados
e, mesmo nestes, com certa dificuldade, devido aos
no interior do lote. A área do conjunto habitacional não é
desníveis existentes e ao cercamento dos blocos.
coberta por rede de hidrantes urbanos.
Um dos aspectos favoráveis da arquitetura dos
17.3.1.2 Implantação no lote edifícios são as lâminas com as fachadas de janelas dos
Ao nível da implantação de edificações no lote, deve dormitórios, isto é, fachadas com aberturas livres de
ser considerado o afastamento entre os blocos e entre as obstáculos, voltadas para áreas abertas, e não para o espaço

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interior, entre as duas lâminas que compõem um mesmo unidades habitacionais por meio de paredes e pisos
bloco. resistentes ao fogo, é plenamente atendida pelo sistema
Esse aspecto, associado à baixa altura dos edifícios, construtivo empregado, constituído de laje (piso/teto), de
facilita o acesso dos bombeiros aos apartamentos através concreto e de parede de alvenaria de blocos de concreto.
das janelas dos dormitórios, tanto para salvamento como b) Rotas de fuga
combate, caso estas não estejam gradeadas. No entanto, O tipo de ocupação, a altura e a população dos
existe uma tendência de gradeamento dessas aberturas pelos edifícios em questão são aspectos que, dentro dos
próprios moradores, principalmente nos apartamentos parâmetros de avaliação considerados, permitem a
localizados no piso térreo. instalação de escadas do tipo não-enclausurada, mais
O afastamento entre os blocos, de, aproximada- conhecida como escada comum ou aberta.
mente, 12 metros, e entre as duas lâminas do mesmo bloco,
A legislação municipal exige largura mínima do
de, aproximadamente, oito metros, é suficiente para inibir
espaço de circulação coletiva de 1,20 m para este caso, e a
a propagação do incêndio entre edifícios, considerando a
norma brasileira, de 1,10 m.
intensidade que pode atingir um incêndio nesse tipo de
edificação e as dimensões das aberturas. Tal distância atende Quanto às dimensões dos degraus para escada
às exigências da regulamentação do Corpo de Bombeiros, coletiva, a primeira exige até 18 cm de espelho e o mínimo
que determina oito metros, no mínimo, para afastamento de 27 cm de piso, enquanto a segunda, de 16 cm a 18 cm
“entre paredes de materiais incombustíveis, com aberturas de espelho e de 27 cm a 32 cm de piso.
em ambas as paredes” (item 7.3.1.1 do Decreto Estadual
Através dos valores de largura efetiva do patamar e
nº 38.069/93).
da escada e dos requisitos da legislação municipal e de
17.3.2 O edifício norma, conclui-se que a largura dos espaços de circulação
17.3.2.1 Medidas passivas atende somente à exigência da norma brasileira. No 125
As medidas passivas requeridas para garantia da levantamento realizado, foi medida a largura efetiva das
segurança contra incêndio dos blocos do conjunto escadas e patamares, isto é, a medida livre no seu ponto
habitacional são, basicamente, o isolamento das unidades mais estreito, compreendida entre os guarda-corpos (Tabela
habitacionais para impedir a propagação rápida do incêndio 27).
para unidades adjacentes e as rotas de fuga adequadamente
Tais dimensões não comprometem a circulação
dimensionadas e equipadas. Isso pode ser explicitado pelos
normal e a possibilidade de evacuação rápida de todos os
itens de “a” a “d”, a seguir.
ocupantes de cada conjunto de 12 unidades habitacionais
a) Compartimentação vertical e horizontal servidas por uma escada, considerando que o número
A compartimentação, isto é, o isolamento das médio de ocupantes por habitação é de quatro pessoas.

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Contudo, no caso das dimensões dos degraus (Tabela 28), os valores se apresentam insatisfatórios, principalmente
devido à grande variação existente entre eles. A medida máxima do espelho foi constatada no último degrau superior de
um lance de escada, e a medida mínima, num primeiro degrau, não apenas numa escada em particular, mas em várias
delas.

Tabela 27 – Largura efetiva das passagens (em metros)

Tabela 28 – Dimensões dos degraus das escadas (em centímetros)

126 c) Guarda-corpos e corrimão devendo ser instalados em ambos os lados da escada e não
De acordo com a norma brasileira, a altura de contempla a questão dos guarda-corpos.
guarda-corpos deve ser de, no mínimo, 1,05 m acima do No geral, o posicionamento e a geometria dos
piso acabado, constituídos por balaustradas, grades, tela corrimãos devem atender às seguintes condições:
ou assemelhados, de modo que uma esfera de 15 cm de a) prolongar-se por, pelo menos, 0,30 m do início e do
diâmetro não possa passar por nenhuma abertura. A altura
término da escada;
dos corrimãos exigida pela norma brasileira deve estar entre b) estar afastados, pelo menos, 40 mm das paredes às
0,80 m e 0,92 m acima do piso acabado.
quais são fixados;
Já a legislação municipal estipula a altura de c) ter seção circular com diâmetro entre 38 mm e 65
corrimãos entre 0,80 m e 1,00 m acima do piso acabado, mm;

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d) permitir o contínuo deslocamento da mão ao longo
de toda a sua extensão, sem encontrar quaisquer
obstruções, arestas ou soluções de continuidade; e
e) ter os seus extremos de início e término arredondados
de encontro à parede.
A ancoragem e os materiais utilizados na compo-
sição dos corrimãos devem atender rigorosamente às condi-
ções estipuladas no item 4.8.3 da norma brasileira NBR
9077/1993.
Nas vistorias realizadas, foi constatado o não-
cumprimento a todas as condições acima descritas, que
garantiriam a segurança na circulação normal e em situação
de emergência. Em todos os lances de escada, em ambos
os lados e no lado interno dos patamares, foram instalados
guarda-corpos metálicos. No lado externo dos patamares,
os guarda-corpos são de alvenaria de bloco de concreto.
Os guarda-corpos de alvenaria apresentam altura
constante de 1,0 m. Já a altura dos guarda-corpos metálicos,
compostos de balaustres ancorados no piso das escadas
ou dos patamares, é variada nas medições realizadas. Os
valores encontrados constam da Tabela 29.
127

Tabela 29 – Altura dos guarda-corpos (em metros)

APO econômica
Tais valores são resultado da má instalação dos possível notar a destruição de muitas das telas que
guarda-corpos, que variam de acordo com a profundidade preenchem o espaço entre os balaustres dos guarda-corpos,
da ancoragem dos seus balaustres no piso. A altura mínima o que retrata a fragilidade de tal dispositivo de proteção.
exigida por norma é de 1,05 m. Num dos blocos, os próprios moradores removeram todas
as telas, que, segundo eles, estavam em estado precário, e
Os pontos de ancoragem dos balaustres no piso se
as substituíram por barras intermediárias soldadas.
encontram sem a camada de argamassa de proteção em
muitos casos, deixando a parte metálica com os parafusos Em muitos guarda-corpos vistoriados, também se
de fixação expostos. A falta de proteção a choques mecâ- verificou a corrosão acentuada na barra do suporte da tela
nicos e à ação da chuva pode ocasionar, em médio prazo, a metálica, especificamente em sua aba inferior, ocasionada
corrosão e o enfraquecimento do ponto de fixação. pela água de chuva acumulada nesse local, o que torna a
tela mais suscetível a deformações e a destacamentos.
O corrimão incorporado no guarda-corpos, tanto
nas escadas como nos patamares, não permite o contínuo d) Sinalização de equipamentos
deslocamento da mão ao longo de toda a sua extensão. A O único equipamento que deve ser sinalizado, no
fixação superior do guarda-corpos/corrimão é realizada caso desse conjunto habitacional, é o extintor. A instalação
por uma peça em “L” chumbada no pilar ou viga que da sinalização dos extintores, conforme exigências da
interrompe a continuidade do deslocamento da mão, além norma NBR 12693, apesar dos equipamentos serem bem
de apresentar um afastamento insuficiente do pilar ou viga visíveis, auxilia na identificação do espaço ocupado por
para a passagem da mão. eles, de modo que a sua falta pode ser notada quando da
Além disso, não apresenta os seus extremos de início sua retirada do local.
e término arredondados de encontro à parede, além de Observou-se a falta de sinalização de identificação
não ser contínuo em toda a sua extensão, nem ter prolon- e alerta de caixas de entrada de energia, de água, da
128 gamento mínimo exigido no início e término da escada. localização das baterias de iluminação de emergência, do
Desse modo, o dispositivo instalado para proteção armazenamento de GLP, etc.
dos usuários nos patamares e lances de escada do conjunto, 17.3.2.2 Medidas ativas
devido às características constatadas, pode ser considerado a) Sistema de iluminação de emergência
somente como guarda-corpos, pois não satisfaz as O sistema de iluminação de emergência tem apenas
condições que definem os corrimãos. Adicionalmente, a um único ponto de iluminação por pavimento, situado sobre
altura de guarda-corpos exigida pela norma é superior à uma das extremidades do patamar, próximo à porta das
altura do corrimão, sendo, portanto, necessária a instalação unidades habitacionais. Esse posicionamento não é, a priori,
deste último em altura e condições adequadas. o mais adequado, pois pode não proporcionar uma unifor-
Além das irregularidades quanto às normas, foi midade de iluminação nas áreas do patamar e da escada. A

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sua alimentação é realizada por duas baterias com tensão Observou-se, através de dados de vistoria a todos
de 12 V e capacidade de 53 A, que devem ser redimen- os extintores pela equipe técnica do NUTAU, que estes
sionadas caso se aumente o número de lâmpadas atendidas. estão dentro do prazo de validade, com exceção de cinco
A localização da fonte de alimentação da iluminação extintores de água pressurizada. Quanto às condições da
de emergência atende às exigências da norma pertinente, carga deles, constatou-se, através da leitura dos
no entanto foi constatado em vistoria realizada pela equipe manômetros, que 30% dos extintores de água pressurizada
técnica do NUTAU que, do total de 13 blocos do conjunto, e 25% dos extintores de pó químico necessitavam ser
apenas cinco apresentavam o sistema em estado recarregados.
operacional. Nos demais blocos, as baterias que compõem Algumas outras irregularidades foram encontradas,
o sistema se encontravam descarregadas e/ou em mau como a falta de alguns extintores e do manômetro de um
estado de conservação, apresentando vazamentos ou fiação extintor de água pressurizada, além de uma substituição
desconectada. do extintor original por um outro não apropriado. Tal
b) Extintores de incêndio situação é resultado da falta de conhecimento dos mora-
O sistema de extintores de incêndio do edifício foi dores sobre a necessidade de manutenção dos extintores,
avaliado baseado no Decreto Estadual do Corpo de Bom- pois, na entrega dos apartamentos, não houve, segundo
beiros. alguns deles, nenhum tipo de instrução ou recomendação
para manuseio ou manutenção desse equipamento.
Segundo o decreto citado, cada pavimento deve
possuir, no mínimo, duas unidades extintoras, sendo uma 17.3.3 Segurança das instalações de GLP
adequada à extinção de fogos em madeira, papel, tecidos, Foram verificadas, adicionalmente, questões relativas
etc. (extintor de água pressurizada ou espuma mecânica) e aos botijões de GLP, localizados num abrigo coletivo junto
outra destinada à extinção de fogos em equipamentos ao piso térreo, entre as duas caixas de escada de cada bloco,
energizados (extintor de pó químico ou dióxido de
e à saída do gás na cozinha dos apartamentos. 129
carbono).
No abrigo coletivo, cada apartamento possui um
Com base nesses requisitos, verificou-se que todos
espaço para colocação de dois botijões, um conectado à
os pavimentos estão devidamente protegidos e atendem à
tubulação de suprimento de gás até a unidade habitacional
legislação vigente com relação a extintores de incêndio,
e outro sobressalente.
pois existe um extintor de água pressurizada de 10 litros e
um de pó químico de 4 kg em cada patamar de todos os Os botijões de GLP estão situados num local
edifícios. Com relação à instalação deles, é recomendável ventilado, protegidos por abrigo em material incombustível
diminuir a altura de seus pontos de fixação, pois a e apresentando saídas de espera para conexão de gás
encontrada, de aproximadamente 1,85 m, dificulta a retirada encanado, conforme exigências da legislação municipal.
dos extintores para uso em caso de emergência. Contudo, observou-se a presença irregular de objetos no

APO econômica
interior do compartimento individual exclusivo de depósito dos guarda-corpos no piso comprometem a segurança dos
de botijões de GLP. espaços de circulação coletiva no seu uso normal e, em
Nos apartamentos, o encanamento do gás tem uma caso de emergência, a saída dos ocupantes de modo seguro.
Tais situações só podem ser evitadas se forem objeto de
saída fixa junto ao local estipulado para a instalação do
fogão. A conexão do gás ao fogão nem sempre é efetuada preocupação na fase de execução da obra.
de modo satisfatório, devido a problemas de localização Diante da série de problemas detectados nos guarda-
da entrada do gás no equipamento, principalmente em corpos, seria importante a proposição de um novo sistema
alguns modelos de fogão que não oferecem alternativa de que, inclusive, contemplasse a instalação de corrimãos
pontos de entrada. apropriados. Uma sugestão seria a substituição dos guarda-
corpos metálicos por alvenaria de blocos de concreto,
A tubulação flexível de plástico utilizada para
conexão do gás, neste caso, fica vulnerável ao calor gerado semelhante ao que ocorre atualmente num dos lados do
patamar, e a fixação de corrimãos nestes, fazendo os
pelo aquecimento do forno, pois não está projetado para
eventuais reforços necessários à estrutura da caixa de
resistir a altas temperaturas, podendo romper e permitir o
vazamento do gás ao ambiente. Isso tem gerado escada, para suportar a nova carga. Nesse caso, os
moradores ainda se beneficiariam da melhor proteção
inconvenientes, como ter o cuidado de afastar o
equipamento da parede da cozinha durante o uso do forno, contra chuvas na área de circulação coletiva.
estreitando o espaço de passagem no interior do ambiente. Quanto aos cuidados com os extintores de incêndio,
seria necessário um manual de instrução básica sobre seu
17.3.4 Considerações finais
uso e manutenção aos moradores no momento da entrega
Questões de segurança contra incêndio no âmbito dos apartamentos, estimulando, inclusive, o treinamento
urbano que poderiam ser consideradas no projeto de periódico no manuseio desses equipamentos. Tal manual
130 conjuntos habitacionais estão essencialmente relacionadas deveria, também, abordar questões básicas de segurança
à acessibilidade de veículos do corpo de bombeiros o mais contra incêndio, principalmente relativas aos cuidados com
próximo possível dos edifícios. No caso do conjunto em a manutenção do sistema de iluminação de emergência, o
questão, um problema grave identificado foi o forte aclive armazenamento e uso do gás e o manuseio de outras fontes
nas duas vias de acesso aos estacionamentos, que deve, de calor que podem ocasionar incêndios e explosões, além
inclusive, dificultar a entrada de veículos de prestação de de procedimentos básicos em caso de incêndio.
serviços públicos como os de coleta de lixo.
No que tange aos detalhes construtivos dos edifícios,
tanto as variações nas dimensões da largura dos patamares
e escadas, dos degraus das escadas, como a altura e a fixação

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131

APO econômica
V.
18 Considerações preliminares

19 Procedimentos metodológicos

20 Avaliação comportamental

21 Avaliacão técnica

22 Recomendações

132

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V.
APO do conforto ambiental

18 Considerações preliminares

O
s estudos relativos ao Conforto Ambiental foram subdivididos em cinco grandes áreas ou

disciplinas com especificidades distintas, neste relatório denominadas de “subáreas”, a saber:

Iluminação Natural, Insolação, Conforto Higrotérmico, Ventilação Natural e Acústica.

133
18.1 Variáveis que interferem na questão do conforto ambiental

Todas as subáreas do Conforto Ambiental dependem de uma multiplicidade de variáveis, que vão de

um plano muito geral a um muito específico e que poderiam ser divididas em três grandes classes:

a) variáveis climáticas e do entorno à edificação;

b) variáveis relativas às exigências humanas e funcionais; e

c) variáveis de projeto e construtivas.

APO do conforto ambiental


Detalhando-se os parâmetros próprios do Conforto to, índice de reprodução de cor e temperatura de cor;
Ambiental, essas distintas variáveis poderiam ser - tipo de luminária: rendimento, curva de distribuição/
exemplificadas como se segue. intensidade luminosa, design.
Iluminação natural Acústica arquitetônica
- Tipo de abóbada celeste que varia com a latitude, época A acústica pode ser equacionada por meio das
do ano (avaliada basicamente para o solstício de verão, seguintes variáveis:
o de inverno e os equinócios), com as condições climá-
- fonte de ruído (tipo, potência, freqüência, intensidade)
ticas como nebulosidade e com a poluição (possibilidade
e posição (interna ou externa ao ambiente em estudo);
maior ou menor de raios luminosos atravessarem a
- atividades: níveis máximos aceitáveis de intensidade
atmosfera);
sonora para o desenvolvimento da distintas atividades,
- características do entorno ao edifício considerado, inteligibilidade e reverberação dos sons nos ambientes;
fazendo parte delas as obstruções naturais e construídas
- envoltória do edifício: relação entre parte opaca e
(dimensões, cores, localizações em relação às aberturas);
transparente com suas respectivas áreas, coeficiente de
- tarefa e campo visual, nível de iluminância, luminân- perdas de transmissão sonora (isolamento que cada uma
cias, contrastes e presença ou não de ofuscamento, todos delas propicia);
como variáveis importantes para o desempenho visual - características internas: volumes, formas e áreas
das diferentes atividades humanas; parciais do ambiente, coeficientes de absorção sonora
- características das aberturas, suas tipologias (laterais, dos materiais internos dos ambientes, distância em
zenitais, de correr, pivotante, etc.), suas dimensões, tipos relação às fontes de ruído.
de vidros, manutenção, tipos de caixilhos, fatores de
Conforto higrotérmico e ventilação
sombra (como persianas, cortinas, brises, etc.);
O conforto higrotérmico pode ser equacionado por
134
- características do ambiente interno, como suas dimen-
meio das seguintes variáveis:
sões, cores das paredes, tetos e pisos, e do mobiliário
(como cores e texturas). - características climáticas: radiação solar (que depende
da latitude do lugar, da época do ano e da hora do dia),
Iluminação artificial
tipo de abóbada, temperatura, umidade relativa, direção,
A iluminação artificial pode ser equacionada por freqüência e velocidade dos ventos;
meio das seguintes variáveis:
- características do entorno: dimensão e disposição das
-tarefa e campo visual, nível de iluminâncias, luminân- obstruções;
cias e contrastes; - atividade do ambiente: zona e condições de conforto;
-tipo de sistema (direto, indireto, semidireto, etc.); liberação de calor pelos ocupantes;
-tipo de lâmpadas: potência, fluxo luminoso, rendimen- - características da envoltória do edifício: espessura,

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orientação e área dos vedos opacos e transparentes, pro- riormente, escolheu-se outra amostra de 27 unidades
priedades térmicas dos diferentes materiais da envol- habitacionais para aprofundamento e detalhamento dos
tória, o comportamento desses materiais em termos de estudos técnicos, quando foram analisados os requisitos
resistência, inércia e atrasos térmicos, a dimensão, de cada ambiente da habitação sob o ponto de vista das
posição, orientação e tipologia das aberturas, a presença distintas subáreas do Conforto Ambiental, pois há distintas
ou não de elementos de controle da radiação solar; exigências de conforto a serem cumpridas em cada um
- característica do ambiente: formas, dimensões e deles.
volumes dos ambientes, fontes de calor internas Implantação
(iluminação artificial, ocupação e equipamentos).
Os edifícios foram implantados dois a dois, obede-
No próximo capítulo, apresentam-se as variáveis que cendo à mesma orientação em relação ao norte, ou seja:
foram consideradas na avaliação de cada uma das subáreas leste–oeste no seu maior comprimento. Em relação à topo-
do Conforto Ambiental visando aos estudos da habitação grafia, os edifícios foram posicionados perpendicularmente
popular – tema central desta pesquisa – e quais os critérios ao desnível. O terreno em questão apresenta grande
adotados para isso. declividade, e a implantação impôs intensa movimentação
de terra, com o estabelecimento de platôs nos quais estão
18.2 O estudo de caso os prédios, resultando taludes acentuados e escadarias para
acessar a entrada principal. Em platôs intermediários estão
Universo da pesquisa e amostras
localizados os bolsões de estacionamento.
Como existem 416 unidades e aproximadamente
cinco cômodos28 ou ambientes por unidade, tratar-se-ia de Alguns aspectos tipológicos
2.080 ambientes a serem analisados. Esse número seria As faces laterais dos edifícios não apresentam aber-
extremamente elevado, e do ponto de vista metodológico turas, portanto todas as unidades recebem suas aberturas
a análise individual de cada um deles nem seria necessária, em faces paralelas, uma voltada para o “exterior” do módulo
135
já que se pode trabalhar com amostragem estatística. e a outra para a área comum entre os dois edifícios.
Entre a amostra de 416 unidades correspondentes Os apartamentos obedecem à mesma organização
aos 13 blocos estudados, foi selecionada uma amostra de para todos os edifícios do conjunto, diferenciando-se apenas
81 apartamentos para a análise comportamental (aplicação na área das unidades localizadas nas extremidades das
de questionários de avaliação junto aos usuários). Poste- lâminas.

28
Os dormitórios estão sendo considerados como um só ambiente, pois se situam sempre numa mesma fachada para todos os blocos estudados.

APO do conforto ambiental


19 Procedimentos metodológicos ambientes da habitação por meio do software
denominado Daylight do Department of the Built
As principais etapas de construção desta metodo-
Environment da Anglia Polythecnic, Inglaterra. Foram
logia estão descritas a seguir.
feitas também medições dos níveis de iluminâncias
Primeira etapa – avaliação da satisfação dos usuários,
externas e internas por meio de luxímetros da marca
por parte dos usuários, por meio do questionário
Lutron modelos LX 101;
abrangendo 14 questões referentes às subáreas de
· conforto térmico e ventilação natural: foram
conforto ambiental. Os resultados demonstrados em
feitas simulações por meio do software Arquitrop,
gráficos e analisados podem ser apreciados no item 20
desenvolvido pelo Prof. Mauricio Roriz, da USP de
Avaliação Comportamental, a seguir.
São Carlos, e foi utilizada também a metodologia com
Segunda etapa – estabelecimento de critérios gerais e
algoritmos matemáticos para avaliação do
específicos de desempenho luminoso, térmico e acústico
comportamento térmico de componentes da
para a unidade habitacional e para cada um dos
edificação, basicamente paredes e cobertura. Como
ambientes a serem estudados.
referência, foram adotados valores estipulados pelo
Terceira etapa – estabelecimento de uma escala de Centre Technique et Scientifique du Batiment (CSTB),
valores para cada critério ou variável considerada. francês;
Quarta etapa – estruturação das variáveis ambientais · acústica: foram feitas medições externas aos blocos,
em matrizes de interface que inter-relacionam algumas nas vias de circulação do conjunto e também de acesso
dessas variáveis, conforme o enfoque da análise técnica. ao conjunto habitacional por meio do equipamento
Quinta etapa – realização das diversas análises técnicas decibelímetro da marca Lutron, modelo SL 4001.
por meio de uma leitura dos casos estudados, qua- Foram utilizados dados referenciais de isolamento de
136 lificando-os e/ou quantificando-os, preenchendo a(s) componentes da edificação (basicamente laje de piso
matriz(es) de avaliação. Nesta etapa de avaliação técnica, e paredes) encontrados na literatura técnica e baseados
foram utilizadas as seguintes metodologias de análise no conceito de Transmission Loss Coeficient – coeficientes
para as distintas subáreas do conforto ambiental: de isolamento acústico.
· insolação: estudos por meio das cartas solares para Sexta Etapa – síntese de todas as análises parciais num
avaliação dos horários de insolação e de traçados de diagnóstico mais geral. Nesse momento, são utilizadas
máscaras para avaliação dos efeitos das obstruções as informações relevantes no levantamento de campo
externas; através de uma interpenetração, inclusive estatística, das
· iluminação natural: foram feitas simulações das respostas dos questionários dos usuários. O que se
condições de iluminação natural para os distintos propõe aqui é um cruzamento da avaliação técnica com

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a avaliação do usuário. O fechamento desta última etapa fisiológico de adaptação à luz, ao som e ao calor.
é uma análise do desempenho da tipologia funcional,
São as exigências humanas e funcionais que vão
construtiva e arquitetônica estudada.
determinar os critérios de desempenho em si tanto para os
Sétima Etapa – elaboração de recomendações para o
locais da habitação quanto para outros tipos de ambientes
estudo de caso e para futuros projetos de conjuntos
e projetos.
habitacionais.
Nesta etapa do trabalho, foi abordada cada uma das
subáreas do Conforto Ambiental – Iluminação Natural,
19.1 Variáveis do conforto ambiental para os
locais de habitação Conforto Higrotérmico, Insolação, Ventilação Natural e
Acústica, por meio de:
19.1.1 Determinação dos critérios de avaliação
Determinação dos critérios gerais de desempenho de - variáveis que interferem em cada um desses aspectos;
conforto ambiental para os locais da habitação - justificativas e observações sobre as variáveis do
A definição dos critérios de desempenho a serem Conforto Ambiental para os espaços das habitações no
cumpridos em cada subárea do conforto ambiental está Conjunto Habitacional Jardim São Luís;
em função de duas grandes variáveis: - fixação dos critérios de desempenho de cada um dos
1. uso do espaço – aspectos ligados à funcionalidade ambientes das habitações no Conjunto Habitacional
de cada ambiente, levando-se em consideração as Jardim São Luís.
condições mínimas para a realização de cada atividade, Justificativas e observações sobre as variáveis do con-
as superposições de funções, etc. É a forma como o forto ambiental para os espaços das habitações no
usuário percebe e usa o espaço. São as exigências Conjunto Habitacional Jardim São Luís
funcionais;
Como foi apontado anteriormente, um fator 137
2. exigências humanas em relação ao conforto
essencial como dado de projeto em relação aos critérios de
luminoso, térmico e acústico, que são condicionantes
desempenho para todos os parâmetros do conforto
impostas pela percepção física dos fenômenos de luz,
ambiental é a função do ambiente (atividade a ser
som e calor, independentemente da função. São os
desenvolvida). Nesse sentido, em relação à habitação é
limites inferiores e superiores de luz, som e calor que o
necessário considerar cada dependência em separado:
indivíduo pode suportar. Evidentemente, se há limites
dormitório, sala, cozinha, banheiro e área de serviço, pois
superiores e inferiores, há também valores que estariam
apresentam diferentes exigências de conforto.
compreendidos dentro do que se chama de “zonas de
conforto” e que partem do pressuposto de que, sob Em relação aos parâmetros de conforto ambiental,
essas circunstâncias, o indivíduo faria o mínimo esforço não foi considerada neste trabalho a iluminação artificial,

APO do conforto ambiental


a não ser na avaliação da satisfação dos usuários. Isso se Evidentemente, para habitação, o único critério
deveu a duas razões principais: adotado é o primeiro, pois não foram consideradas as
atividades de “leitura” e “costura” como características
a) por não ser um parâmetro importante nas condições
dessa função (são atividades intermitentes, não regulares,
gerais de conforto para habitação ou para o consumo
e com dificuldade de se determinarem com exatidão os
de energia;
locais onde se realizam).
b) por ser um parâmetro muito manipulável pelo
usuário, dependente de seu gosto e opções pessoais e A seguir passa-se a fazer um detalhamento maior
de difícil levantamento de dados internamente a cada do ponto de vista qualitativo quanto às características da
unidade. iluminação natural, acústica, conforto térmico, insolação/
orientação e ventilação natural, para cada um dos ambientes
Em relação ao conforto térmico, para o caso da
da habitação. Os aspectos quantitativos são determinados
função “habitação”, objeto deste trabalho, praticamente
mais à frente.
não há diferenciações em relação aos distintos ambientes.
O único ambiente que poderia ter uma diferenciação em Dormitório
relação aos demais seria a área de serviço, partindo-se do A iluminação não tem que apresentar características
pressuposto de um maior esforço físico para o especiais para as funções normais deste espaço – estar e
desenvolvimento da atividade, diferenciação esta não dormir –, não se caracterizando como um parâmetro
quantificável e não considerada neste trabalho. Em termos prioritário em termos de desempenho e assumindo,
gerais, pode-se dizer que as exigências do conforto térmico portanto, um papel secundário na análise global.
são ditadas pelo homem como ser biológico (entendido
Os níveis de iluminância gerais estipulados pela
este como uma máquina termorreguladora). Pressupõe-se
NBR 5413 são relativamente baixos, e para os locais de
que a temperatura ótima para o homem brasileiro está na
138 espelho, penteadeira e cama, um pouco mais altos. Estes
faixa dos 24 ºC aos 26 ºC, com umidade relativa média.
últimos não são considerados para a determinação dos
Com relação à iluminação natural, três são os critérios de desempenho, pois dependem da posição do
critérios gerais de desempenho, a saber: mobiliário e de uma interferência e gosto muito pessoais.
· níveis mínimos de iluminância para cada atividade No entanto, os pontos de luz são considerados para a análise
(estabelecidos pela NB 5413 da ABNT); de consumo de energia.
· não-incidência de sol direto para as atividades visuais Quando há o desenvolvimento de outras funções,
de acuidade média (leitura, escrita, costura, etc.); e como estudo (leitura e escrita) e costura, a iluminação
· uniformidade máxima entre dois pontos quaisquer do adquire importância, exigindo um maior nível de
local. iluminância (lux) no plano de trabalho e a não-incidência

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de sol direto para se evitarem contrastes excessivos e, limites.
portanto, ofuscamento. Normalmente, quando essas
Quanto ao conforto térmico, insolação e ventilação,
atividades ocorrem, fica por conta do usuário a solução de
os mesmos princípios destacados no caso do dormitório
colocação do plano de trabalho mais próximo à janela.
valem também para o ambiente sala.
Neste trabalho não foram adotadas estas últimas atividades
como as normais para o dormitório. Cozinha
Para a Iluminação não há requisitos especiais a serem
Em termos gerais, o parâmetro “iluminação natural”
cumpridos. O nível de iluminação geral é relativamente
está mais associado (e dependente) ao parâmetro
baixo, sendo necessário um nível maior em alguns pontos
“insolação”, analisado mais adiante.
localizados (pia, mesa e fogão), que muitas vezes é resolvido
A acústica é parâmetro fundamental para este local com a iluminação artificial. Para os critérios de desempenho,
(dormitório). Ela é mais importante aqui do que em a iluminação localizada (artificial) não é considerada.
qualquer outro local da habitação. O ruído é conflitante
com a principal função nele exercida, que é dormir. Este A acústica perde importância para este local (os
parâmetro adquire peso importante na análise global e é requisitos de desempenho assemelham-se aos da sala) e se
determinado pelo nível máximo aceitável de ruído de fundo torna um parâmetro secundário na análise global. Níveis
nesse ambiente. de ruído maiores que os do dormitório são aceitáveis para
a atividade principal deste espaço, que serve para a
Quanto ao conforto térmico, insolação e ventilação
preparação e consumo de alimentos, evidentemente dentro
são os parâmetros mais importantes, pois são necessários
de determinados limites. A cozinha pode ter maior
durante algum tempo no dia ao longo de todo o ano, por
importância acústica como local de produção de ruído
motivos não só de conforto mas também higiênicos.
(através dos encanamentos e do desenvolvimento da própria
Insolação (ganhos térmicos) e ventilação (perdas térmicas) 139
atividade) em relação a outros locais da habitação e a outras
fazem o balanço térmico necessário às condições gerais de
unidades habitacionais.
conforto (ambiente fresco no verão e quente no inverno).
Quanto ao conforto térmico, insolação e ventilação,
Sala
os mesmos princípios destacados nos casos do dormitório
Para a iluminação valem todas as observações
e da sala valem para o ambiente cozinha, porém neste
apresentadas para a função “dormitório”. Para esse espaço,
ambiente deve haver controle do período de insolação
a acústica perde importância e se torna um parâmetro
(incidência direta no plano de trabalho) por três motivos:
secundário na análise global. Níveis de ruído maiores que
os dos dormitórios são aceitáveis para a atividade principal 1) a insolação não é muito conveniente para a conser-
desse espaço (estar), evidentemente dentro de determinados vação dos alimentos;

APO do conforto ambiental


2) incidência de sol direto no plano de trabalho pode sala e cozinha valem para o ambiente banheiro, sendo a
ser perigosa, pois existe neste local atividade de corte ventilação o parâmetro mais importante, principalmente
na preparação de alimentos e possíveis ofuscamentos em se tratando de ambiente úmido e produtor de odores.
podem causar acidentes; Área de Serviço
3) a insolação vai, necessariamente, aumentar os ganhos Para a iluminação não há requisitos especiais.
térmicos num local que, por sua própria função, já Adquire papel secundário na análise global. A acústica
produz calor. Isso pode acarretar um ganho térmico também não tem importância para este local.
excessivo e, conseqüentemente, o desconforto.
Quanto ao conforto térmico, insolação e ventilação
A ventilação também é parâmetro importante, pois são os parâmetros mais importantes, pois são necessários
existe neste local produção de calor e vapor d’água. A durante algum tempo no dia ao longo de todo o ano, por
ventilação seria necessária para dissipá-los, caso contrário motivos não só de conforto, mas principalmente higiênicos.
poder-se-ia ter um desconforto térmico e condensações A insolação é parâmetro fundamental por ser este um local
nas paredes e teto com produção de bolor. úmido e pela própria função nele exercida, que é a lavagem
e secagem de roupa.
Banheiro
Para a iluminação não há requisitos especiais a serem Determinação dos critérios específicos de desempe-
cumpridos. O nível de iluminação geral é relati-vamente nho das variáveis do conforto ambiental para os locais
baixo, sendo necessário um nível mais alto na pia e no da habitação com suas escalas de valores
espelho, o que, na maior parte das vezes, é resolvido com Em função das variáveis que interferem na questão
a iluminação artificial. de conforto ambiental e das justificativas e observações
sobre os parâmetros do conforto para os distintos espaços
A acústica não tem importância para este local (os
da habitação, pode-se fixar os critérios específicos de
requisitos de desempenho assemelham-se aos da sala e
140 desempenho que foram a base para todo o restante deste
cozinha) e se torna um parâmetro secundário na análise
trabalho.
global. Níveis de ruído maiores que os do dormitório são
aceitáveis para a atividade principal deste local, que é a hi- Critério de desempenho para a insolação/orientação
giene pessoal, evidentemente dentro de determinados Os critérios de desempenho para os diversos locais
limites. O banheiro pode ter maior importância acústica da habitação são dados pela Tabela 30.
como local de produção de ruído por causa dos encana-
mentos, ou seja, como fonte de ruído para outros ambientes
do apartamento e para outras unidades habitacionais.
Quanto ao conforto térmico, insolação e ventilação,
os mesmos princípios destacados nos casos do dormitório,

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141
Tabela 30 – Critérios de desempenho para a insolação/orientação29

O critério básico de desempenho refere-se à insolação necessária a cada ambiente, por questões higiênicas e de
conforto térmico, conforme a Tabela 30. Tal critério recebe as qualificações a seguir (Tabela 31).

29
Esta tabela refere-se mais ao estudo de caso, cidade de São Paulo.

APO do conforto ambiental


142

Tabela 31 – Qualificação dos critérios de desempenho insolação

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Critérios de desempenho para iluminação natural - Nível de iluminância local não considerado.
Dormitório - Uniformidade: não necessária.
- Nível de iluminância mínimo a 1 m do centro da parede - Incidência de sol direto: ver item Insolação
oposta à janela = 150 lux30.
Área de serviço
- Nível de iluminância local (espelho, penteadeira e
- Nível de iluminância mínimo a 1 m do centro da parede
cama) não considerado. oposta à janela = 150 lux.
- Uniformidade: não necessária.
- Nível de iluminância local não considerado.
- Incidência de sol direto: ver item Insolação. - Uniformidade: não necessária.
Sala - Incidência de sol direto: ver item Insolação
- Nível de iluminância mínimo a 1 m do centro da parede Escala de valores – Iluminação natural
oposta à janela = 150 lux.
Como já foi mencionado no item anterior deste
- Nível de iluminância local não considerado. relatório, o único critério de desempenho adotado baseou-
- Uniformidade: não necessária. se naquele de níveis mínimos de iluminância da NBR 5413.
- Incidência de sol direto: ver item Insolação. Para a norma esse nível é geral, mas para este trabalho
Cozinha estipulou-se uma zona mais desfavorável dos ambientes,
- Nível de iluminância mínimo a 1 m do centro da parede que é a par-te oposta às janelas (a 1 m do centro da parede
oposta à janela = 150 lux. de fundo). Esses níveis foram determinados através da
relação entre o Coeficiente de Luz Diurna (CLD) real, para
- Nível de iluminância local: avaliado o plano da pia e
cada ambiente estudado, e o Coeficiente de Luz Diurna
do fogão.
mínimo, que, por sua vez, garante os níveis mínimos de
- Uniformidade: não necessária.
iluminância mencionados. Essa comparação pode ser feita
- Incidência de sol direto: ver item Insolação.
mais diretamente por meio dos próprios níveis de 143
Banheiro iluminância (lux) calculados para cada caso. Essa última
- Nível de iluminância mínimo a 1 m do centro da parede análise recebe as qualificações a seguir.
oposta à janela = 150 lux.

30
A norma brasileira NBR 5413 da ABNT estipula um nível de iluminância geral mínimo de 150 lux para todas as dependências da habitação.

APO do conforto ambiental


Tabela 32 – Qualificação dos critérios de desempenho luminotécnico

O critério de avaliação de desempenho luminotécnico adotado foi o da Tabela 32.


O desempenho luminotécnico também poderia ser equacionado através da relação entre área de piso e área iluminante
das aberturas, com as qualificações a seguir.

144

Tabela 33 – Relação entre área de piso e área iluminante das aberturas

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Critérios de desempenho para o conforto higro- - ser regulável pelo usuário;
térmico - ter boa estanquidade a ventos e à água; e
O desempenho térmico de envoltória foi avaliado - ter área efetiva mínima de ventilação de 0,5 m².
através do comportamento térmico dos materiais e soluções
Escala de valores – ventilação natural
construtivas, para fachadas e coberturas, por meio do:
Os critérios básicos de desempenho recebem as
- Coeficiente de Transmissão Térmica Global K (watt/ qualificações apresentadas na Tabela 34.
m² ºC);
Critérios de desempenho para acústica arquitetônica
- Coeficiente de Resistência Térmico Global R (m² ºC/
O critério de desempenho acústico para habitação
watt); e
refere-se ao problema de isolamento entre dois ou mais
- resultado final dos ganhos térmicos por meio das locais (sejam eles na relação externo/interno ou interno/
temperaturas internas máximas para situação crítica de interno), para se garantirem níveis sonoros máximos
verão (adotado como dia de referência para este cálculo aceitáveis para o desenvolvimento de cada atividade. O
o dia 22 de dezembro, solstício de verão). isolamento acústico entre dois ambientes e/ou espaços está
Critérios de desempenho para ventilação natural31 diretamente associado à tecnologia construtiva da parede
Para dormitório, sala e cozinha, as aberturas devem e/ou piso que os separa. A norma brasileira ABNT 10152
cumprir as seguintes condições: não estipula níveis sonoros máximos aceitáveis discrimi-
nados por ambiente da habitação e sim para toda a unidade
- ser reguláveis pelo usuário;
habitacional. Esse valor é fixado em 40 dB(A) e, evidente-
- ter boa estanquidade a ventos e à água; mente, se refere à atividade mais crítica do ponto de vista
- ser cruzadas ou bilaterais; e acústico, que é dormir. Para outros locais (sala, cozinha e
- ter área efetiva mínima de ventilação de 1 m² (para serviços), recomenda-se neste tra-balho a adoção de níveis
abertura de entrada mais a de saída ou no caso de uma superiores – de até 55 dB(A) –, dependendo da situação.
145
só abertura)32. A Tabela 35 fornece os níveis médios de ruído para
Para W.C. e área de serviço a ventilação deve cumprir se poder avaliar a qualidade acústica dos ambientes da
as seguintes condições: habitação.

31
Este item refere-se mais ao estudo de caso, cidade de São Paulo.
32
As portas não foram consideradas para o cômputo da área efetiva de ventilação.

APO do conforto ambiental


146

Tabela 34 – Qualificação dos critérios de desempenho – ventilação natural

Tabela 35 – Níveis de ruídos médios para habitação

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Escala de valores – acústica Roteiro de avaliação de desempenho – insolação/
Como já foi apresentado, o critério básico de orientação
desempenho acústico adotado é o de níveis de ruído A seguir, são apresentadas as Matrizes de Avaliação
aceitáveis esti-pulados pela NB 95. Esses níveis foram de Desempenho de Insolação/Orientação para a tipologia
equacionados por meio da relação entre o isolamento estudada. As variáveis que influenciam são:
acústico propiciado pela envoltória da construção e o
· a latitude do lugar, no caso de São Paulo, 24º sul;
isolamento mínimo neces-sário para cada ambiente,
· a época do ano e hora do dia;
levando-se em conta os níveis de ruídos externos das vias
de circulação próximas a cada bloco de apartamento ou os · as orientações das fachadas que possuem aberturas;
níveis de ruídos de aparta-mentos contíguos. Essas relações · as obstruções externas, inclusive as propiciadas pelo
recebem as qualificações a seguir. posicionamente de cada uma das lâminas dos blocos
sobre outra; e
· a função do local.
Estas matrizes estão estruturadas em nove colunas,
a saber:
1ª coluna: relação dos ambientes;
Tabela 36 – Qualificação dos critérios de desempenho acústico 2ª coluna: números dos blocos;
3ª coluna: quantidade de ambientes pelo total dos
blocos;
4ª coluna: são dadas as orientações reais, a partir do
19.2 Roteiros para avaliação dos critérios de
norte verdadeiro;
desempenho
5ª coluna: o andar onde o ambiente considerado se
A seguir, apresentam-se os roteiros de avaliação encontra; 147
utilizados para a análise técnica de cada uma das subáreas 6ª coluna: são representados os diagramas ou cartas
do Conforto Ambiental, referentes à tipologia construtiva solares, base para os estudos de insolação para cada
adotada na APO Conjunto Habitacional Jardim São Luís, ambiente33;
com o objetivo de tornar mais claros os passos da avaliação 7ª coluna: são representadas as horas de insolação
técnica, assim como seus resultados. divididas em duas colunas – verão e inverno. Os

33
Notar que, para cada orientação real e, portanto, para cada diagrama solar, existe uma outra orientação e um outro diagrama, que são complementares, bastando
para isso somar 180º. Ou seja, para cada bloco, têm-se sempre duas orientações reais e dois diagramas solares considerados nesta análise. Na realidade, haveria
quatro orientações, mas as duas referentes às fachadas menores não foram consideradas, pois não possuem aberturas.

APO do conforto ambiental


períodos de insolação podem ser lidos diretamente dos
diagramas solares;
8ª coluna: são representadas as qualificações das
orientações dos respectivos ambientes; e
9ª coluna: observações.

Figura17 – Esquema de leitura das orientações das


148 fachadas com azimutes 6º, 96º, 186º e 276º

A Tabela 37 exemplifica a matriz de estudos de insolação.

Tabela 37 – Matriz de avaliação de desempenho – orientação/insolação

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Roteiro de avaliação de desempenho – iluminação Roteiro de avaliação de desempenho – térmico e
natural ventilação
Na Matriz de Avaliação de Desempenho de O roteiro de verificação é mais um guia dos pontos
Iluminação Natural, os resultados dos estudos de principais que devem ser considerados quando de um
iluminação são dados das seguintes formas: projeto de Arquitetura que pretenda ter as mínimas
· a distribuição em planta das curvas de distribuição condições satisfatórias de conforto ambiental do ponto de
isolux com suas respectivas bandas de valor em termos vista térmico e da ventilação natural. O objetivo final desta
de Coeficientes de Luz Diurna (CLD), em porcentagem, avaliação é deteminar o balanço térmico dos ambientes
e também com os valores mínimos, máximos e médios em termos de ganhos e perdas de calor e as temperaturas
de CLD e da relação de uniformidade; internas resultantes.
· a distribuição dos valores dos CDLs, em porcentagem, 1. Corrigir o norte verdadeiro do projeto.
em cada um dos pontos estudados da malha de cálculo 2. Traçar as orientações das fachadas que recebem
(aproximadamente de metro em metro); insolação.
· a distribuição da luz natural em corte central à janela 3. Determinar as horas de insolação de cada fachada.
da parede da sala ou da cozinha, na relação CLD versus 4. Determinar a presença ou necessidade de elementos
Distância da Janela; de controle e obstruções da insolação e seus efeitos de
· resumo dos dados de cálculo apresentados num quadro mascaramento.
e numa tabela onde há as seguintes variáveis: dimensões 5. Determinar a radiação solar incidente em cada um
do ambiente, espessura das paredes externas, dos paramentos externos nos respectivos horários de
coeficientes de reflexão das superfícies internas, altura insolação, em watt/m2
do plano de trabalho, dimensões e posição das aberturas, 6. Determinar as áreas opacas da envolvente que
coeficiente de transmissão dos vidros, perda de área recebem insolação direta, fachadas e coberturas, em m 2,
iluminante com os caixilhos e dimensões e posição das diferenciando-as por solução construtiva. 149
obstruções externas. 7. Determinar as áreas transparentes ou translúcidas
Para o preenchimento dessas matrizes, são feitos os da envolvente que recebem insolação direta, fachadas e
cálculos para a determinação dos níveis de iluminância para coberturas, em m2.
cada local. Esses cálculos são efetuados através de um 8. Determinar o coeficiente de absorção solar das
roteiro de cálculo, que se baseia no software Daylight e superfícies opacas que recebem insolação (a).
também em croquis (plantas e cortes) para cada caso 9. Determinar o fator solar (S) das partes transparentes
estudado. Como, para o critério de desempenho, interessa e translúcidas.
o nível mínimo de iluminância, adotou-se como ponto de 10. Determinar os coeficientes de condutância
referência para os cálculos um ponto central a um metro superficial interno e externo (hi e he) e as resistências
da parede de fundo, oposta à da abertura. térmicas superficiais (1/hi e he), em m2 ºC/watt.

APO do conforto ambiental


11. Determinar os coeficientes de condutibilidade 18. Achar as perdas pela ventilação.
térmica (l) de cada material da envoltória (watt/m ºC). 19. Achar as perdas pela envolvente através das
12. Determinar a resistência térmica dos componentes fórmulas:
(R em m2 ºC/watt) e o coeficiente de transmissão Q’op = k S . Área
térmica global (K em watt/m2 ºC) de cada componente
da envoltória. Q’tr = k Str . Área
13. Determinar os ganhos térmicos de cada um dos 20. Verificar os critérios de desempenho em termos de
paramentos externos da envoltória, hora a hora, e o índices e parâmetros de conforto.
ganho máximo total devido à insolação, através das 21. Verificar as condições gerais de ventilação natural
fórmulas: dos espaços:
- obtenção dos dados climáticos de direção e freqüência
Qop (watts) = [ a.k . Ig + (Dt)] . Área op dos ventos;
he - caracterização do entorno em termos de obstruções
aos ventos;
Qtrans (watts) = [ (a.k . + t) . Ig + (Dt)] . Área trans - orientação dos edifícios;
he - estabelecimento das necessidades de ventilação;
- localização das aberturas;
- características das aberturas;
sendo: Qop = carga térmica que penetra pela parte opaca; Qtrans = idem para - layout interno dos espaços;
parte transparente; a = coef. de absorção (%); Ig = radiação solar (W/m2.h); K=
coef. de transmissão térmica (W/m2 ºC); he = coef. de condutância superficial
- dimensionamento.
externo (W/m2 ºC); t = coef. de transmissão do vidro; (a.k + t) = fator solar.
he
Por meio de todas essas informações, têm-se
condições de fazer o balanço térmico do edifício e ter como
150 resultado de análise as temperaturas internas do ar para
14. Determinar o número de pessoas do local e sua quaisquer épocas do ano, sendo mais interessante a
respectiva carga térmica. condição de projeto mais crítica para nós, que é verão.
15. Determinar os equipamentos e suas respectivas
Roteiro de avaliação de desempenho – acústica
cargas térmicas.
Os dados de desempenho acústico para a tipologia
16. Determinar a iluminação artificial e sua respectiva
construtiva analisada são representados em tabelas onde
carga térmica.
constam:
17. Somar os ganhos pela insolação, pelas pessoas,
pelos equipamentos e pela iluminação artificial, achando, · uma descrição da solução construtiva para lajes e
portanto, o ganho total para a condição mais crítica de paredes;
conforto, ou seja, verão. - o isolamento acústico propiciado, em dB(A), para cada

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um desses elementos; e Para ruídos aéreos, foram adotados para níveis
- os níveis de ruídos perturbadores em dB(A) – fontes intensos de ruído perturbador 85 dB(A), para níveis médios,
de ruído. 75 dB(A), e para fracos, 65 dB(A).

Lajes Paredes
Para a laje foi considerado um nível de ruído aéreo Paredes internas entre habitações geminadas
perturbador de 75 dB(A), que corresponde a um nível Consideram-se somente as paredes quando não há
sonoro de conversa coletiva para freqüências médias (250 ligação pelo forro entre os dois locais (ou seja, quando a
Hz a 1K). Outros exemplos de ruídos internos à habitação parede chega até o telhado), ou, então, o conjunto parede/
são: forro, quando a interligação acontece. Para ruído aéreo,
foi utilizado o mesmo critério que para lajes, ou seja, 85
- aspirador de pó: máx. 70 dB(A) para 500 Hz; dB(A) para níveis intensos, 75 dB(A) para níveis médios e
- rádio, TV: máx. 75 dB(A) para 500 Hz – 1K; 65 dB(A) para níveis fracos.
- ar-condicionado: máx. 65 dB(A) para 125-250 Hz; Paredes externas
- descarga de vaso sanitário: 70 dB(A); Para o caso das paredes externas, foi considerada a
- máquina de lavar: 60-75 dB(A); situação mais crítica do ponto de vista acústico, que é o
- liqüidificador, batedeira: 75-90 dB(A). isolamento do ruído aéreo entre dois ambientes, sendo um
deles o externo e tendo como ruído de fundo perturbador
Para lajes, além dos ruídos aéreos mencionados, têm-
o tráfego urbano (vias de circulação, estacionamentos) ou
se os ruídos de impacto, normalmente mais intermitentes
o ruído proveniente de áreas de lazer externas (pátios,
e ocasionais, porém perturbadores. O isolamento contra
quadras de esporte, etc.).
impactos dos pavimentos depende, principalmente, da
natureza do acabamento do assoalho e, até certo ponto, da Como níveis sonoros para diferentes tipos de vias
rigidez da ligação entre o assoalho e o resto do pavimento. de tráfego urbano, têm-se os valores da Tabela 38. O valor
Para ruído de impacto, foi considerado um nível sonoro de referência adotada para a APO do Jardim São Luís foi o 151
de 80 dB(A). de tráfego médio de 75 dB(A).

Tabela 38 – Níveis sonoros urbanos

APO do conforto ambiental


Salienta-se que a inclinação da via de tráfego aumen- O nível de isolamento necessário em dB(A) deter-
ta os níveis sonoros em aproximadamente 3 dB(A), assim minados em função da atividade mais crítica, do ponto de
como as más condições de pavimentação e a presença de vista acústico, para a habitação, que é dormir (com 40 dB(A)
obstáculos para controle de velocidade máxima (tartarugas máximo de ruído de fundo), e considerando-se como fonte
e lombadas). Todos os edifícios que estão colocados na de ruído externo o tráfego urbano de 75 dB(A), é a diferença
borda das vias de circulação de tráfego pesado (ônibus) entre esses dois valores, ou seja, 35 dB(A).
são os que estão submetidos às piores condições acústicas Com os parâmetros preestabelecidos acima, os
em termos de implantação. critérios de isolamento acústico da envolvente da habitação
são apresentados a seguir.

152

Tabela 39 – Isolamentos acústicos mínimos necessários

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20 Avaliação comportamental

20.1 Iluminações natural e artificial pública


Para os aspectos relativos à iluminação natural, foi considerada a seguinte questão do questionário de campo:
4.1Como você classifica seu apartamento em relação à iluminação natural?
Os resultados foram os seguintes:

Figura 18 – Avaliação comportamental: iluminação natural

153
Como se vê pelos dados apresentados, a maioria Para aqueles relativos à iluminação artificial, foram
absoluta dos entrevistados considera a iluminação natural consideradas as questões:
do apartamento ótima ou boa. Na realidade, a análise técnica
4.2 Como você classifica seu apartamento em relação à
confirma tal tendência. Porém, se se considerarem somente
iluminação artificial nas áreas comuns do edifício?
os apartamentos do térreo e do primeiro andar, entre as
4.3 Como você classifica seu apartamento em relação à
caixas de escada, e a pergunta relativa aos ambientes da
iluminação artificial nas vias públicas do conjunto?
sala, cozinha e área de serviço, a resposta seguramente seria
diferente, pois estes ambientes dispõem de pouca luz natural 4.4 Como você classifica seu apartamento em relação à
devido às obstruções do bloco da frente e das escadas iluminação artificial nas vias públicas do bairro?
laterais. Os resultados são apresentados nas Figuras 19 a 21.

APO do conforto ambiental


Como se observa pelos dados apresentados, cerca
de ¾ (76,54%) dos entrevistados consideram satisfatória a
iluminação interna aos blocos. Isso se deve ao fato de que
todos eles têm iluminação das escadas e áreas comuns.
Situação oposta é encontrada quando se avalia a iluminação
pública do conjunto e do bairro. Com relação ao conjunto,
85,19% consideraram a iluminação do bairro muito
deficiente, enquanto 70,38% classificaram como ruim ou
péssima. Realmente, a iluminação pública deixa muito a
desejar no sentido de que não propicia níveis de iluminância
suficientes em todas as áreas críticas. Esse fato também
está associado à sensação de insegurança que as pessoas
demonstraram em morar em tal região.

20.2 Conforto higrotérmico de verão e inverno


Para os aspectos relativos ao conforto higrotérmico
de verão, foi compilada a questão:
4.9 Como você considera a temperatura de sua casa no verão?
Quanto à situação de conforto de verão, porcen-
tagem significativa dos entrevistados (43,21%) demonstrou
insatisfação. Primeiramente, pensou-se que essa insatisfação
pudesse estar relacionada a dois principais fatores para a
154 análise técnica: a orientação oeste e os apartamentos de
cobertura. Ambas as superfícies são mais frágeis do ponto
de vista térmico pela maior incidência de radiação solar no
período crítico para o conforto, que é exatamente o verão.
Isolaram-se na amostra os apartamentos de leste, oeste e
cobertura para verificar a mudança de comportamento dos
usuários. As respostas não foram conclusivas, pois não
confirmaram de maneira significativa as justificativas
técnicas esperadas. As repostas relativas à insatisfação foram
as seguintes: leste (53,57%), oeste (34,62%) e cobertura
Figuras 19 a 21 – Avaliação comportamental: iluminação artificial (38,46%), conforme os gráficos a seguir.

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Figuras 22 a 25 – Avaliação comportamental: temperatura da casa no verão

Para os aspectos relativos ao conforto higrotérmico dão para a parte interna das caixas de escada, principalmente
de inverno, foi compilada a questão: aqueles dos andares térreo, primeiro e até segundo. Pode- 155
4.10 Como você considera a temperatura de sua casa no se notar que na época de inverno as salas, cozinhas e áreas
inverno? de serviço desses apartamentos não recebem nenhuma
Quanto à situação de conforto de verão, pratica- radiação solar direta. Assim como no caso anterior,
mente a metade dos entrevistados (49,38%) demonstrou isolaram-se na amostra os apartamentos de leste, oeste e
insatisfação, o que não difere muito da avaliação feita para cobertura para verificar a mudança de comportamento dos
a condição de verão. Para a época mais fria do ano, as ori- usuários. As respostas também não foram conclusivas, pois
entações leste–oeste das duas lâminas dos blocos realmente não confirmaram de maneira significativa as justificativas
são muito convenientes, pois uma pega o sol da manhã e técnicas esperadas. As repostas relativas à insatisfação foram
outra, o sol da tarde. O problema maior, e acredita-se causa as seguintes: leste (53,57%), oeste (42,31%) e cobertura
da insatisfação manifestada, refere-se aos ambientes que (53,85%), conforme os gráficos a seguir.

APO do conforto ambiental


Figuras 26 a 29 – Avaliação comportamental: temperatura da casa no inverno

156
Ainda relativamente à associação entre aspectos de
conforto higrotérmico, foi compilada a questão:
4.11 Você já observou a presença de focos de umidade na
sua casa?
Os resultados estão dispostos na Figura 30.

Figura 30 – Avaliação comportamental: presença de focos de


umidade na casa

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20.3 Ventilação natural Os valores relativos à insatisfação do usuário do
Para os aspectos relativos à ventilação, foram ponto de vista da ventilação natural – cozinha (23,46%);
compiladas as questões: banheiro (64,2%); área de serviço (35,81%); no resto
(9,87%) – demonstram o óbvio: o local mais crítico é o
4.5 Como você classifica seu apartamento em relação à
sanitário. Essa situação está relacionada ao fato de este ter
ventilação na cozinha?
sua abertura voltada para a área de serviço e com área
4.6 Como você classifica seu apartamento em relação à
efetiva de ventilação muito pequena. Para a cozinha e a
ventilação no banheiro?
área de serviço, as situações mais críticas também estão
4.7 Como você classifica seu apartamento em relação à
relacionadas aos apartamentos voltados para o pátio interno,
ventilação na área de serviço?
entre as caixas de escadas, e, particularmente, aqueles per-
4.8 Como você classifica seu apartamento em relação à
tencentes às lâminas voltadas a oeste (que estão numa zona
ventilação no resto do apartamento?

157

Figura 31 a 34 – Avaliação comportamental: ventilação natural

APO do conforto ambiental


mais desfavorável à ventilação natural, ou seja, numa zona oeste. Cabe lembrar que problemas de bolor em sua quase
de baixa pressão). Para o resto do apartamento (quartos e totalidade de casos estão relacionados à falta de ventilação
salas), o grau de satisfação é alto pelo fato de a ventilação e de incidência de insolação direta.
ser satisfatória (é cruzada pelos locais e as áreas de aberturas
são de tamanho razoável). De uma maneira geral, o partido
20.4 Acústica
arquitetônico de colocar um apartamento por lâmina (no
seu sentido transversal) é muito bom para a ventilação Para os aspectos relativos à acústica, foi compilada
natural, pois garante que esta seja cruzada por todos os a questão:
locais. O que prejudica no caso específico do Conjunto
5.3 Como você considera seu apartamento em relação ao
Habitacional Jardim São Luís é a presença de lâminas muito
barulho vindo de áreas vizinhas ou externas?
próximas e fechadas lateralmente pelas escadas.
Ainda com relação à associação entre aspectos de
conforto térmico e aqueles da ventilação natural, foi
compilada a questão:
4.12 Você já observou a presença de bolor na sua casa?

158
Figura 36 – Avaliação comportamental: barulho vindo de áreas
vizinhas ou externas

Figura 35 – Avaliação comportamental: presença de bolor na casa De todos os parâmetros do conforto ambiental, e
do ponto de vista global, a acústica foi o parâmetro mais
Os resultados afirmativos de quase 30% segura- crítico para o usuário que a pesquisa de campo revelou.
mente estão associados aos banheiros, cozinhas e áreas de Quase ¾ dos entrevistados (72,84%) apontaram problemas
serviço (que são as áreas úmidas) do apartamento, princi- de perturbação com ruídos externos. Como se verá a seguir,
palmente para a condição mais crítica descrita anteriormen- pela segunda pergunta efetuada, as causas são múltiplas –
te, que se refere às habitações voltadas para o pátio interno o partido arquitetônico em “H” associado a detalhes
e situadas particularmente em lâminas com orientação construtivos e à organização dos espaços livres do conjunto.

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A partir dessa avaliação inicial, procurou-se saber A terceira fonte de perturbação, porém não menos
basicamente qual era a fonte de perturbação do ruído, por importante, é o ruído proveniente do teto (14,3%), o que
meio da seguinte pergunta: caracteriza fragilidade de isolamento da laje de piso por
5.3.1 De onde vem o barulho que o perturba? ruído de impacto. Perturbação por ruídos laterais, pela
parede, representam quase 10% e denotam também
fragilidade de isolamento dessa estrutura.
Os baixos índices de perturbação pela lateral
comprovam o bom desempenho geral da solução dada às
paredes (bloco de concreto de 14 cm). A análise técnica
demonstrou que o desempenho das paredes não é tão bom
assim, mas a avaliação do usuário não permite deduzir
esse fato.
O índice de perturbação “por cima” comprova a
fragilidade da solução de laje (concreto de 12 cm sem
contrapiso), principalmente para ruídos de impacto, como
apontado na análise técnica. Na realidade, o questionário
Figura 37 – Avaliação comportamental: de onde vem o barulho que
o perturba de campo para avaliação do usuário não especifica o tipo
de ruído perturbador proveniente dos apartamentos
superiores (se de impacto ou aéreo). Nesse sentido, pela
A primeira fonte de perturbação são as áreas externas análise técnica, pode-se afirmar que eles seriam mais de
aos blocos, com cerca de 40,5%. Isso se deve basicamente impacto, em função da fragilidade da solução construtiva
à proximidade das vias de circulação e dos bolsões de esta- das lajes. 159
cionamento (previstos e clandestinos), ao excesso de veícu-
los pertencentes ao conjunto e à fragilidade da janela, que Salienta-se também que os dados apresentados acima
isola muito pouco. se referem à avaliação global do conjunto, com base na
amostra de apartamentos estudados. Isso, em termos de
A segunda fonte de ruído são as áreas internas aos
avaliação de conforto, é sempre perigoso, pois se trabalha
próprios blocos, com cerca de 31%. Isso se deve à forte
com médias.
reverberação dos ruídos no pátio interno entre as duas
lâminas, à proximidade das duas lâminas, o que compro- Em outras palavras, tem-se um apartamento com
mete a privacidade acústica, e, por fim, ao elevado número excelentes condições de conforto acústico e outro com
de crianças por bloco (cerca de 33,5 em média), que por péssimas condições, e diz-se que a condição de conforto é
falta de espaço e de segurança acabam brincando no pátio. “regular”, ou coisa semelhante. Isso não é absolutamente

APO do conforto ambiental


verdade, e haveria duas situações a serem consideradas de 21 Avaliação técnica
formas distintas.
Todas as análises técnicas efetuadas para as diversas
Com base no descrito acima e para demonstrar a subáreas do conforto ambiental procuram aferir os critérios
gravidade dos problemas acústicos em alguns casos e as de desempenho aqui estabelecidos. Além desses critérios,
boas condições de conforto em outros, de formas distintas, outro que foi importante e determina a forma como os
agruparam-se alguns apartamentos considerando mais duas estudos foram realizados foi a enorme interde-pendência
condições e critérios: entre os diferentes fatores que interferem nas condições
de conforto luminoso, térmico e acústico. Em outras
· Grupo 1: apartamentos mais próximos às vias de
palavras, a alteração em uma das variáveis implica quase
circulação e fontes externas de ruído (estacionamentos
sempre o comprometimento de outra(s) variável(eis) da
e áreas de lazer), portanto mais ruidosos; e
análise.
· Grupo 2: apartamentos muito bem protegidos de
ruídos externos e, portanto, mais silenciosos. 21.1 Insolação/orientação
Os resultados desse levantamento com relação à A seguir é apresentado um exemplo de Matriz de
perturbação dos ruídos provenientes do exterior para os Avaliação de Desempenho de Insolação/Orientação. Essas
apartamentos do Grupo 1 estão na Figura 38. matrizes apresentam 23 gráficos de estudo de insolação
que contemplam as orientações de todos os edifícios e
ambientes do conjunto habitacional em estudo. As variáveis
que foram consideradas para essa análise são:
- a latitude do lugar, no caso de São Paulo, 24º sul;
- a época do ano e a hora do dia;
160 - as orientações das fachadas que possuem aberturas;
- as obstruções externas, inclusive as propiciadas por
cada uma das lâminas dos blocos sobre a outra e pelas
caixas de escada;
- a função do local.
Essas matrizes, por sua vez, estão estruturadas em
nove colunas:
1ª coluna: relação dos ambientes;
2ª coluna: números dos blocos (de 1 a 13);
Figura 38 – Avaliação comportamental: de onde vem o barulho que
o perturba 3ª coluna: a orientação da fachada que contém a

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abertura, medida a partir do Norte Verdadeiro em períodos de insolação assinalados nestas colunas podem
sentido horário; ser lidos diretamente dos diagramas solares;
4ª coluna: o(s) andar(es) considerado(s); 7ª coluna: são representadas as qualificações das
5ª coluna: os diagramas ou cartas solares, base para os orientações dos respectivos ambientes, para as condições
estudos de insolação para cada ambiente34; de verão e inverno; e
6ª coluna: são representadas as horas de insolação 8ª coluna: observações que justificam as qualificações
divididas em duas colunas – verão e inverno. Os dadas na 7ª coluna.

161

34
Notar que, para cada orientação real e, portanto, para cada diagrama solar, existe uma outra orientação e um outro diagrama, que são complementares, bastando
para isso somar 180º. Ou seja, para cada bloco, têm-se sempre duas orientações reais e dois diagramas solares considerados nesta análise. Na realidade, haveria
quatro orientações, mas as duas referentes às fachadas menores não foram consideradas, pois não possuem aberturas. Estes estudos basearam-se na carta solar
para a latitude 24º.

APO do conforto ambiental


21.1.1 Diagnósticos e conclusões da área total estudada, para os períodos de verão e inverno,
As tabelas a seguir apresentam a globalização das respectivamente. A Tabela 40 dá os valores por ambiente e
porcentagens das qualificações “bom”, “ruim” e “péssimo” por andar, e a 41 apresenta os valores globalizados somente
para cada um dos 2.496 ambientes dos 416 apartamentos por ambientes.

162

Tabela 40 – Globalização das qualificações – insolação – verão

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163

Tabela 41 – Globalização das qualificações – insolação – inverno

APO do conforto ambiental


Dormitórios
Todos os dormitórios estão voltados para fora do “H”, ou seja, 50% têm orientação leste (azimute 96º), e 50%,
orientação oeste (azimute 296º).

Figura 39 – Perspectiva com indicação dos dormitórios

Para a condição de verão, mais crítica do ponto de o clima de São Paulo, porém também significativo para a
vista térmico, somente 1,9% dos dormitórios apresentam análise de desempenho geral das edificações, pode-se
164 uma orientação favorável, os quais correspondem àqueles constatar que 100% dos dormitórios cumprem os critérios
dos blocos 2 e 5 do primeiro andar e que usufruem de de desempenho estabelecidos como referência. O motivo
bom mascaramento propiciado pelos blocos 3 e 6. Os é simples: todos estão com orientação praticamente oeste
98,1% restantes apresentam orientação “ruim” e são os (azimute = 276º), pegando boa parte do sol da tarde.
blocos que têm insolação excessiva durante o período mais Salas, cozinhas e áreas de serviço
crítico do ano do ponto de vista térmico, que é o período
Exatamente 50% de todos esses ambientes estão
compreendido entre outubro e março, segundo avaliação
voltados para o pátio interno, formado pelas duas caixas
técnica, tomado como referência o solstício de verão (22
de escada. Os outros 50% estão localizados nas quatro
de dezembro).
extremidades do “H”.
Para o período de inverno, menos significativo para

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Figura 40 – Indicação das salas e das cozinhas/áreas de serviço Figura 41 – Sombras no verão

Para os ambientes que se encontram no pátio interno,


as obstruções externas causadas pela lâmina do bloco em
frente às janelas juntamente com as obstruções causadas
pelas duas caixas de escada prejudicam tremendamente a
insolação. Todos os ambientes que dão para os pátios
internos, do térreo ao último andar, têm sua insolação
prejudicada e não cumprem o critério de desempenho. A
gravidade desse problema aumenta à medida que se desce
em altura nos andares (ou seja, o térreo é o pior), mas
mesmo os apartamentos situados no quarto andar não
cumprirão os critérios fixados como satisfatórios. Pode-se
notar, para esses últimos, que eles não recebem insolação 165
no solstício de inverno. Obviamente, para a iluminação Figura 42 – Sombras no inverno
natural e a ventilação, esses apartamentos são bem mais
satisfatórios em relação aos dos andares térreos ou mesmo Para 50% dos ambientes que estão localizados nas
àqueles situados no primeiro ou segundo andares. extremidades do “H”, a situação melhora substancialmente,
Essa avaliação específica para os ambientes voltados tanto do ponto de vista da insolação quanto da iluminação
para o pátio interno pode ser constatada pelos estudos de natural e ventilação. Como se pode notar pelas Matrizes
mascaramento (cartas solares) apresentados na quinta de Avaliação de número 10 a 13, 50% dos ambientes têm
coluna das matrizes de avaliação. Reproduziu-se um desses classificação “bom” para a condição de inverno. O motivo
estudos para se conseguir avaliar com maior precisão os é óbvio: pela não-existência da segunda caixa de escada
efeitos de obstrução mencionados. em um dos lados do “H”, os ambientes ficam livres para

APO do conforto ambiental


receber insolação. Os outros 50% para a condição de inver- (fundamental para este local, inclusive do ponto de vista
no ainda se encontram na condição “ruim”, pois a única higiênico) isso não resolve.
caixa de escada existente obstrui exatamente o sol nesta
Conclusão geral dos estudos de insolação
época do ano. Para a condição de verão, todos os ambientes
Deve-se lembrar que, embora o fator “orientação/
continuam tendo condição insatisfatória, ou seja, recebem
mais sol do que o necessário, com exceção daqueles do implantação dos edifícios” não seja o único a interferir
primeiro andar, que recebem em torno de duas horas e dez diretamente nas condições de conforto, ele se apresenta
minutos de insolação. como um dos principais, pois definirá de imediato a
quantidade de radiação incidente em cada uma das fachadas
A seguir, apresentam-se dois esquemas exem-
(dada em W/m2).
plificando a questão de obstrução ou não das caixas de
escada, dependendo da posição do apartamento. Pelos resultados apresentados anteriormente, pode-
se concluir que a tipologia tipo “H” adotada pela CDHU,
associada à forma de implantação adotada no conjunto
habitacional, acarreta sérios problemas para boa parte dos
apartamentos, principalmente para aqueles voltados para a
parte interna do pátio.
Para a situação de verão, há 89,9% dos ambientes
com a qualificação “ruim” ou “péssimo”, e 13,1% como
“bom”. Para a condição de inverno, mais da metade (54,2%)
recebe qualificações negativas, entre “ruim” e “péssimo”,
e 45,8%, “bom”.
Esses valores poderiam ter sido melhorados em
166 parte:
· com a adoção de uma outra implantação para os
Figura 43 – Obstruções dos apartamentos das extremidades edifícios (que privilegiasse o eixo longitudinal dos blocos
com orientação norte–sul ao invés de leste–oeste);
Banheiros
· pela adoção de uma outra tipologia formal para os
Do ponto de vista da insolação, a qualidade dos ba-
blocos de apartamentos (ver item “recomendações para
nheiros foi classificada pelos critérios de desempenho como
novos projetos”);
“péssima” em 100% dos casos, pois todos eles têm abertura
voltada para a área de serviço e não para o exterior. Se · pela adoção de elementos de controle da radiação solar
para a ventilação isso pode resolver em alguns casos, para para as aberturas (principalmente dos dormitórios); e
a iluminação natural e principalmente para a insolação · pela adoção de uma outra tipologia de janela.

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Quanto a este último aspecto, a tipologia de janela lizados entre as caixas de escada, 1º andar, corres-
adotada para os dormitórios, com lâmina interna de correr pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13;
e folha externa do tipo “veneziana”, não é a melhor · Caso 2-2: dormitórios e salas dos apartamentos loca-
tipologia do ponto de vista do controle da insolação. lizados entre as caixas de escada, 2º andar, corres-
pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13;
21.2 Iluminação natural · Caso 2-3: dormitórios e salas dos apartamentos loca-
A seguir, apresentam-se os critérios para a avaliação lizados entre as caixas de escada, 3º andar, corres-
técnica relativa à iluminação natural dos diferentes locais pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13;
das unidades habitacionais. · Caso 2TP: dormitórios e salas dos apartamentos loca-
lizados nas pontas, térreo, correspondentes às condições
O método utilizado para avaliação das condições
de todos os blocos de 1 a 13;
de iluminação natural dos distintos ambientes da habitação
· Caso 2P-1: dormitórios e salas dos apartamentos loca-
foi o software denominado Daylight, do Department of
lizados nas pontas, no 1º andar, correspondentes às
the Built Environment da Anglia Polythecnic de Londres.
condições de todos os blocos de 1 a 13;
O objetivo foi avaliar a distribuição dos níveis de · Caso 2P-2: dormitórios e salas dos apartamentos loca-
iluminâncias (lux) no interior dos espaços, medidos por lizados nas pontas, no 2º andar, correspondentes às
meio do Coeficiente de Luz Diurna (CLD). Foram feitas condições de todos os blocos de 1 a 13;
16 simulações, que abrangem os seguintes casos e
· Caso 2P-3: dormitórios e salas dos apartamentos loca-
condições: lizados nas pontas, no 3º andar, correspondentes às
· Caso 1-T: dormitórios dos apartamentos de centro condições de todos os blocos de 1 a 13;
dos blocos, sem obstrução externa e correspondendo · Caso 3-T: cozinhas e áreas de serviço dos apartamen-
às condições dos blocos 1, 4, 7, 10 e 13. Apesar de a si- tos entre as caixas de escada, andar térreo, correspon-
mulação ter sido feita para o andar térreo, ela pode ser 167
dentes às condições de todos os blocos de 1 a 13;
extrapolada para os demais andares dos blocos exata- · Caso 3-1: cozinhas e áreas de serviço dos apartamentos
mente por não haver obstruções externas significativas entre as caixas de escada, 1º andar, correspondentes às
nessas condições; condições de todos os blocos de 1 a 13;
· Caso 1-T bloco 2: dormitórios dos apartamentos de · Caso 3-2: cozinhas e áreas de serviço dos apartamen-
centro, com obstrução externa e andar térreo; tos entre as caixas de escada, 2º andar, correspondentes
· Caso 2-T: dormitórios e salas dos apartamentos lo- às condições de todos os blocos de 1 a 13;
calizados entre as caixas de escada, andar térreo, corres- · Caso 3-3: cozinhas e áreas de serviço dos apartamen-
pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13; tos entre as caixas de escada, 3º andar, correspondentes
· Caso 2-1: dormitórios e salas dos apartamentos loca- às condições de todos os blocos de 1 a 13.

APO do conforto ambiental


Os principais dados para as simulações de ilumi-nação estão resumidos na Tabela 42.

Tabela 42 – Dados para cálculo de iluminação natural

Medições luminotécnicas
Foram realizadas medições de iluminação natural
para a tipologia construtiva estudada, por meio de “luxíme-
168
tros”. Foram utilizados dois aparelhos para medições
simultâneas, interna e externa, aferidos pelo Instituto de
Pesquisas Tecnológicas (IPT).
As medições foram realizadas nos pontos “P”
assinalados para todos os casos. Os resultados das medições
são apresentados na Tabela 43.

Foto 7 – Medição externa

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169

Tabela 43 – ( Continua )

APO do conforto ambiental


Tabela 43 – Resultados das medições dos níveis de iluminância (lux)

21.2.1 Diagnósticos e conclusões · Caso 2-T: dormitórios e salas dos apartamentos lo-
A seguir, passa-se a relatar os principais resultados calizados entre as caixas de escada, andar térreo, corres-
obtidos com as simulações no programa Daylight e com pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13.
as medições. Nesta situação os dormitórios cumprem o desempe-
· Caso 1-T: dormitórios dos apartamentos de centro nho, enquanto o problema se encontra exatamente na sala,
dos blocos, sem obstrução externa. pelo fato de esta estar localizada entre as caixas de escada.
Estes são os apartamentos que têm melhores A obstrução causada pelas escadas é significativa do ponto
condições de iluminação natural devido ao fato de não de vista da insolação e, portanto, da iluminação natural
terem obstruções externas. O critério de desempenho também. Como se pode perceber pela simulação, metade
estipulado por esta pesquisa fixa o valor mínimo de CLD da sala fica escura, com valores da ordem de 0,5%, resul-
170
de 1,7% para um ponto central do local a 1,0 metro da tando em níveis de iluminâncias inferiores aos 150 lux
parede de fundo. Os valores encontrados estão na ordem estipulados por norma, o que ocasiona o uso prolongado
de 2,0%, o que propicia valores maiores que 150 lux para da iluminação artificial.
70% do tempo. · Caso 2-1: dormitórios e salas dos apartamentos
· Caso 1-T- bloco 2: dormitórios dos apartamentos de localizados entre as caixas de escada, 1º andar, corres-
centro, com obstrução externa e andar térreo. pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13.
Já para os apartamentos que apresentam obstruções Obviamente, à medida que se desloca em altura, o
externas, os níveis de iluminância não são satisfatórios, efeito das obstruções laterais das caixas das escadas tende
pois atingem valores entre 0,5% e 1,0%, inferiores, portanto, a se atenuar. Porém, neste caso, ainda não é suficiente para
ao valor mínimo de referência de 1,7%. garantir boas condições de iluminação natural para a sala,

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que apresenta valores de iluminâncias inferiores aos · Caso 2P-1: dormitórios e salas dos apartamentos
recomendados. localizados nas pontas, no 1º andar, correspondentes
· Caso 2-2: dormitórios e salas dos apartamentos às condições de todos os blocos de 1 a 13.
localizados entre as caixas de escada, 2º andar, corres- A obstrução da caixa da escada em apenas um dos
pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13. lados evidentemente melhora um pouco a situação, porém
Valem as mesmas observações do caso acima. ela ainda é significativa. Os resultados para este caso e
· Caso 2-3: dormitórios e salas dos apartamentos para o 2P-2 e 2P-3 não são suficientes para cumprir o
localizados entre as caixas de escada, 3º andar, corres- critério de desempenho para a sala e a torna muito escura
pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13. na parte do fundo.
· Caso 3-T: cozinhas e áreas de serviço dos apartamen-
Idem aos dois casos anteriores. A conclusão é que
tos entre as caixas de escada, andar térreo, correspon-
o efeito de obstrução das caixas das escadas é significativo
dentes às condições de todos os blocos de 1 a 13.
em relação à iluminação natural, a ponto de comprometê-
la independentemente do andar. Para todos os casos, as áreas de serviço cumprem o
requisito de desempenho basicamente por dois motivos:
apresentam uma abertura maior em relação à área de piso
e têm dimensões reduzidas. Já as cozinhas apresentam
problemas de iluminação natural. Só haverá luz suficiente
no plano do fogão. Na pia e na mesa, não.

171

Foto 9 – Tentativa de se melhorar a iluminação natural da sala


com a porta de vidro (original) alterada pelos moradores (porta
Foto 8 – Obstrução das caixas de escada de madeira)

APO do conforto ambiental


· Caso 3-1: cozinhas e áreas de serviço dos apartamentos · Caso 3P-3: cozinhas e áreas de serviço dos apar-
entre as caixas de escada, 1º andar, correspondentes às tamentos localizados nas pontas, 3º andar, corres-
condições de todos os blocos de 1 a 13. pondentes às condições de todos os blocos de 1 a 13.
As cozinhas deste caso são ainda melhores em
função da diminuição do efeito das obstruções devido à
altura do apartamento. Apresentam boas condições de
iluminação natural, favorecendo até os pontos mais afas-
tados da janela. Haverá luz suficiente no plano do fogão,
no da pia e no da mesa.

Foto 10 – Iluminação da cozinha e área de serviço

· Caso 3TP: cozinhas e áreas de serviço dos


apartamentos localizados nas pontas, andar térreo,
172
correspondentes às condições de todos os blocos de 1
a 13.
Para este caso e todos os similares, as áreas de serviço
cumprem o requisito de desempenho basicamente por três
motivos: apresentam uma abertura maior em relação à área
de piso, têm dimensões reduzidas e têm uma obstrução no
mínimo 50% menor que nos casos anteriores. As cozinhas
deste caso são as únicas que apresentam condições de
iluminação natural. Haverá luz suficiente no plano do fogão, Fotos 11 e 12 – Apartamentos de ponta – melhor iluminação
natural
no da pia e no da mesa.

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Conclusões finais O segundo passo para análise térmica é o levanta-
Como se pode observar pelos dados resultantes da mento das áreas, volumes, ocupantes, carga térmica forma-
avaliação técnica, inclusive das medições realizadas, os da pela iluminação artificial e outras fontes de calor internas
efeitos das obstruções decorrentes das tipologias funci- e, principalmente, das características térmicas das diferentes
onais/arquitetônicas e da implantação do conjunto no soluções construtivas do edifício em questão, para as
desempenho da iluminação natural não são bons. Entende- diferentes fachadas e cobertura.
se o papel desempenhado pelo custo e disponibilidade da O terceiro passo seria o cálculo das cargas térmicas
terra para a construção de habitações populares, o que
transmitidas para o interior do edifício, também pelas dife-
acarreta, muitas vezes, a escolha de terrenos não muito
rentes fachadas e cobertura, considerando-se aqui a diver-
satisfatórios. Apesar disso, acredita-se que o próprio partido
sidade das soluções construtivas e a diferenciação entre
arquitetônico adotado deve tentar ao máximo melhorar
partes opacas e transparentes.
esses efeitos negativos.
Em termos gerais, pode-se dividir os ganhos
No caso do Conjunto Habitacional Jardim São Luís,
térmicos em:
a densidade do conjunto, o partido de implantação urbano
e os partidos arquitetônicos através da escolha de blocos - insolação: fachadas e coberturas;
em formas de “H” fazem que ocorram obstruções em um - ocupação;
número muito elevado, o que prejudica sensivelmente a - equipamentos; e
insolação e a iluminação natural, principalmente nos - iluminação artificial.
apartamentos dos andares inferiores e para os locais que
No caso da habitação e da avaliação do Conjunto
dão para o hall (pátio) interno dos blocos.
Habitacional Jardim São Luís, a única variável importante
em termos de ganhos térmicos é a primeira, ou seja, a
21.3 Conforto higrotérmico de verão e de inverno insolação, já avaliada neste trabalho. As cargas térmicas
Avaliação térmica global – um recorte metodológico provenientes da ocupação e da iluminação artificial 173
A avaliação térmica global de um edifício dá-se equivalem a menos de 5% da carga térmica total e são,
através da determinação de ganhos e perdas térmicos, portanto, desprezíveis. No caso dos equipamentos, o único
dentro de um princípio denominado “balanço térmico”. que contribui termicamente de uma maneira sensível é o
fogão, para o caso das cozinhas.
Ganhos térmicos
O primeiro passo para a análise do desempenho Perdas térmicas
térmico global de um edifício é o levantamento da As perdas térmicas são duas: pela envolvente da
quantidade de radiação recebida pela sua envolvente, em edificação, através de partes opacas e transparentes e,
watt/ m 2/h, portanto diretamente ligada à orientação, para principalmente, através da ventilação natural, que é
cada uma das fachadas e cobertura. abordada separadamente neste trabalho.

APO do conforto ambiental


Perdas e ganhos térmicos se contrabalançam, dando fundamental para edifícios, principalmente em climas
as condições de conforto ou desconforto, dependendo de tropicais como o brasileiro, onde a quantidade de calor
cada caso e de qual das duas parcelas for maior. recebida por aquele é excessivamente grande, pois ela é
Avaliação térmica pelas fachadas normalmente responsável pela maior carga térmica que
penetra nos recintos.
Esta avaliação tem que ser referir às análises de
insolação e ser dividida em duas situações: fachadas Para os apartamentos dos últimos andares de todos
transparentes e fachadas opacas. os prédios do Conjunto Habitacional Jardim São Luís, a
solução da cobertura vai ser a definidora entre um bom ou
Fachadas transparentes
mau desempenho térmico, ou seja, entre desconforto e
Em termos gerais, todos os ambientes com
conforto ambiental.
orientação 276º (aberturas dos dormitórios) vão apresentar
um aquecimento indesejado na época mais crítica, do ponto A Figura 44, a seguir, apresenta as características
de vista do conforto térmico, que é o verão, a menos que térmicas da solução construtiva da cobertura. Mostra
apresentem elementos de controle da radiação solar e que também a qualificação de seu desempenho.
possibilitem a ventilação natural. O critério de desempenho térmico adotado para
Fachadas opacas avaliação das coberturas é:
Em geral, para as edificações habitacionais, as Timax – ti < 6ºC,
paredes opacas, no caso específico analisado, bloco
onde T imax = temperatura interna máxima da
estrutural de concreto com espessura externa total de 14
superfície da cobertura
cm, contribuem pouco para o ganho térmico total dos
ambientes, porque os pontos frágeis, do ponto de vista ti = temperatura interna do ar.
174 térmico, são as áreas transparentes e a cobertura.
Foram estimados valores médios para R e K de 0,34
m ºC/W e 2,9 W/m2 ºC, respectivamente, para as paredes
2

externas. Esses valores de R e K são aceitáveis devido à


espessura do bloco e das câmaras de ar.
Avaliação térmica para coberturas
Todas as coberturas têm a mesma solução constru-
tiva apresentada na Figura 40.
A importância da solução dada à cobertura é

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175

Figura 44 – Características e desempenho da cobertura

APO do conforto ambiental


Avaliações captação dos ventos e, conseqüentemente, a ventilação dos
Como demonstrado, a cobertura não cumpre os locais.
critérios de desempenho térmico. Em outras palavras, isso
significa que ela deixa passar carga térmica da insolação
em excesso, que, conseqüentemente, irá aquecer em demasia
os ambientes e causar desconforto.
As temperaturas internas atingem seus máximos de
32,3 ºC às 17h para o 4º andar com orientação 276º; 31,8
ºC às 14h para o 4º andar com orientação 96º; 31,7 ºC às
17h para o térreo.

21.4 Ventilação natural


Figura 45 – Comportamento da tipologia arquitetônica em relação
A avaliação da ventilação natural tem que ser feita aos ventos
sob três aspectos distintos:
1) a tipologia volumétrica/arquitetônica dos edifícios; 2º A implantação urbana
2) a implantação urbana; e Toda implantação urbana, analisada do ponto de
3) as dimensões, posições e tipologia das aberturas. vista da ventilação natural, tem de ser equacionada através
de duas variáveis básicas de projeto:
Segue-se a avaliação básica desses tópicos.
a) localização das fachadas que contêm as aberturas
1º A tipologia volumétrica/arquitetônica dos edifícios
em relação à direção predominante do vento; e
O maior problema relacionado à ventilação natural
b) distanciamento dos edifícios entre si.
176 dos edifícios do Conjunto Habitacional Jardim São Luís
diz respeito exatamente à tipologia arquitetônica adotada. Do ponto de vista do primeiro desses parâmetros, o
A tipologia em “H” com duas lâminas paralelas faz que da localização das fachadas que contêm as aberturas em
aquela voltada para o azimute 96º receba os ventos relação à direção predominante do vento, o projeto do
predominantes, tanto no verão quanto no inverno, para Conjunto Habitacional Jardim São Luís é bom, pois o eixo
São Paulo, que têm direção sudeste. Por conseqüência, a longitudinal dos edifícios está praticamente perpendicular
lâmina posterior, voltada para o azimute 276º, fica na zona à direção dos ventos (Figura 45). Quando se olha mais
de sucção ou baixa pressão causada pela lâmina da fachada atentamente a implantação do conjunto, o que se percebe
96º e tem sua ventilação natural comprometida, como imediatamente é que o problema não está na orientação
mostra o desenho da figura abaixo. Há muitas janelas dos edifícios e sim no espaçamento entre os blocos e na
obstruídas e voltadas para poços internos, dificultando a tipologia arquitetônica adotada, como já mencionado.

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Nesse sentido, não há nenhuma outra implantação 21.5 Acústica
que resolva o problema causado pela tipologia arquitetônica, 21.5.1 Acústica urbana
pois, para qualquer lado que se “vire” o edifício, sempre O primeiro passo para a análise da acústica do ponto
se terá uma lâmina em zona de alta pressão e outra em de vista urbano é a determinação dos Níveis de Ruído
baixa pressão (ou então as duas em baixa pressão, o que Externos (dB(A)) a serem tomados como referência. Os
seria pior ainda). valores da tabela abaixo apresentam a classificação das vias
Do ponto de vista do segundo parâmetro menci- de tráfego urbano adotada para a APO do Conjunto
onado, o do distanciamento mínimo entre os edifícios, a Habitacional Jardim São Luís, que tem como base valores
implantação do Conjunto Habitacional Jardim São Luís padrão encontrados na literatura técnica.
não favorece seu cumprimento, pois os edifícios estão muito
próximos uns dos outros. A implantação do conjunto do
ponto de vista da ventilação natural é condicionada por
outras variáveis de projeto – fundamentalmente topografia
do terreno, área disponível e densidade do conjunto. Apesar
de se entenderem as limitações reais do problema do custo
da terra e da disponibilidade efetiva de áreas livres públicas
para a construção de habitações populares, acredita-se que
a adoção de outra tipologia arquitetônica poderia trazer Tabela 44 – Níveis sonoros para tráfego urbano
maiores benefícios.
3º As dimensões, posições e tipologia das aberturas Salienta-se que a inclinação da via de tráfego
As tipologias das aberturas, principalmente as da aumenta os níveis sonoros em aproximadamente 3 dB(A),
cozinha, área de serviço e banheiro, propiciam uma área assim como as condições ruins de pavimentação das vias e
177
efetiva de ventilação inferior à necessária. também a presença de obstáculos para controle de
No caso desta amostra (primeira fase do con-junto) velocidade (tartarugas ou lombadas).
a única tipologia de janela que atende ao critério de área Para um maior aprofundamento desta avaliação
efetiva de ventilação é a dos dormitórios. No caso dos técnica, inclusive como meio de compará-la com os valores
banheiros, sala e cozinha, todas as tipologias adotadas não padrão apresentados na tabela anterior, foram realizadas
cumprem o critério de desempenho. No caso específico 15 diferentes medições acústicas na área de estudo, sendo
das aberturas dos banheiros, além de terem área muito uma delas para verificação de volume de tráfego (ônibus,
reduzida, ainda abrem para a área de serviço, que fica blo- caminhões, automóveis e motos) na entrada principal do
queada com as roupas penduradas nos varais, prejudicando conjunto habitacional, nas esquinas da Rua Ramos Rosa e
ainda mais a ventilação desses espaços. Avenida 1 (esta última já dentro do Conjunto). Dez outras

APO do conforto ambiental


medições foram realizadas em pontos externos aos blocos Esses resultados de volume de tráfego, quando
de apartamentos, e as últimas quatro nos pátios internos, plotados em gráfico proposto por Bolt Beranexk e
entre as caixas de escada de quatro blocos. Newman, indicam situações “definitivamente inaceitáveis”
para tráfego de ônibus e caminhões por hora e
Além das medições, foi feita também uma leitura
“normalmente aceitáveis” para o tráfego de automóveis
do espaço de todo o conjunto habitacional do ponto de
por hora.
vista acústico e constatou-se a existência de três estaci-
onamentos clandestinos (irregulares em relação ao projeto) De fato, os caminhões e ônibus, embora em menor
– um adjacente ao bloco 2, outro ao bloco 4 e outro ao número, produziram impactos muito significativos no ruído
bloco 11. A localização dessas áreas é, obviamente, inade- urbano.
quada do ponto de vista acústico, tomando-se causa de
21.5.2 Acústica arquitetônica
desconforto.
A metodologia geral para avaliação das condições
Resultados da medição do fluxo de tráfego urbano de desempenho acústico das unidades habitacionais foi a
A medição foi feita na entrada do Conjunto de, primeiramente, analisar os níveis externos de ruído;
Habitacional Jardim São Luís, nas esquinas da Rua Antônio em segundo lugar, de avaliar a capacidade de isolamento
Ramos Rosa e Avenida 1 (acesso ao conjunto). Durante da envolvente da edificação, principalmente paredes e
uma hora foram contados os números de caminhões mais janelas; em terceiro lugar, de estabelecer os níveis máximos
ônibus e de carros mais motos. A tabela abaixo apresenta permissíveis de ruído para a habitação; e, por fim, de deter-
os resultados. minar os níveis sonoros internos resultantes.

178

Tabela 45 – Volume de tráfego urbano no Conjunto Habitacional Jardim São Luís

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Os resultados finais dessa análise de desempenho Para ruído de impacto foi considerado um nível
acústico para a tipologia construtiva analisada são sonoro de 80 dB.
apresentados na Tabela 69.
Paredes
Nessa tabela encontram-se os seguintes dados: Para o caso das paredes, foi considerada a situação
· uma descrição da solução construtiva para lajes e mais crítica do ponto de vista acústico, que é o isolamento
paredes; de ruído aéreo entre dois ambientes, sendo um deles o
· o isolamento acústico propiciado em dB para cada externo e tendo como ruído de fundo perturbador o tráfego
uma dessas soluções; e urbano (inclusive o proveniente do estacionamento) e,
· uma previsão dos níveis de ruído perturbador em principalmente, o ruído produzido nas áreas comuns de
dB(A) – fontes de ruído. circulação de cada um dos blocos.

Lajes Para tanto, foi feito levantamento dos ruídos


Para o caso das lajes, foi considerado um nível de produzidos no conjunto, conforme levantamento já
ruído perturbador aéreo de 75 dB(A), o que corresponde a apresentado.
um nível sonoro de conversa coletiva para freqüências Critério de desempenho
médias (250 Hz a 1 KHz). Outros exemplos de ruídos Os níveis de isolamento necessário em dB(A) foram
internos à habitação são: determinados em função da atividade mais crítica do ponto
- aspirador de pó: máx. 70 dB(A) para 500 Hz; de vista acústico para a habitação, que é dormir, com 35
- rádio ou TV: máx. 75 dB(A) para 500 Hz – 1 KHz; dB(A) de ruído de fundo máximo aceitável.
- ar-condicionado: máx. 65 dB(A) para 125-250 Hz;
- descarga de bacia sanitária: 70 dB(A);
179
- máquina de lavar: 60 – 75 dB(A);
- liquidificador, batedeira: 60 – 75 dB(A).
Para lajes, além dos ruídos aéreos acima men-
cionados, há os ruídos de impacto, normalmente mais
intermitentes e ocasionais, porém perturbadores.
O isolamento contra impactos nos pavimentos
depende principalmente da natureza do acabamento do
assoalho e, até certo ponto, da rigidez da ligação entre o
assoalho e o resto do pavimento.

APO do conforto ambiental


180

Tabela 46 – Avaliação de desempenho acústico das lajes e paredes

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22 Recomendações insolação refere-se ao excesso de sol incidente em 50%
dos dormitórios entre as 10 e as 12 horas da manhã, no
22.1 Para o estudo de caso
período de verão, e nos outros 50% dos dormitórios, entre
Cabem aqui algumas considerações iniciais sobre a as 12 e as 18 horas, também durante todo o período mais
questão das “recomendações para o estudo de caso”. A quente do ano. Tais situações, como descritas na análise
primeira delas se refere à pergunta “são elas viáveis do técnica, acarretam desconforto do ponto de vista térmico,
ponto de vista de execução e de custos?”. O que se pode exatamente pelo excesso de radiação (watt/m2 h) incidente
perceber em relação às questões do conforto ambiental na parte mais frágil da edificação, que é a parte transparente
em suas diversas subáreas de abordagem é que, quando (aberturas). Só existem duas alternativas relativamente
equívocos são cometidos, fica difícil corrigi-los (quando viáveis para se corrigir essa questão:
não impossível) do ponto de vista de execução e há custos
1. colocar elementos de controle da radiação solar nas
elevados e, normalmente, resultados duvidosos em termos
aberturas; e
de desempenho. Como mudar a tipologia em “H” adotada?
2. trocar a tipologia das janelas dos dormitórios.
Como dar uma outra orientação aos edifícios? Como mudar
o layout do apartamento para que banheiros não fiquem Na primeira dessas alternativas, os elementos de
sem o mínimo de insolação, iluminação e ventilação? controle da radiação solar deveriam ser distintos para as
Como se verá a seguir, as recomendações para os fachadas leste (96º) e oeste (276º), exatamente pelo fato de
estudos de caso são poucas. Nos itens que se seguem, que, no primeiro caso, deveriam mascarar somente o
haverá referências somente às alternativas que apresentam período compreendido entre os meses de outubro a março
algum grau de viabilidade de execução. Outras alternativas e das 10 às 12 horas e, no segundo, mascarar no mesmo
que envolvem mudanças na concepção do projeto serão período do ano, porém com duração maior (entre as 12h e
relatadas no item Recomendações para futuros projetos, as 17h30, como mínimo). 181

item importante para que certos erros não sejam repetidos Na segunda dessas alternativas, a melhor escolha
e para que os acertos sejam explorados. seria uma tipologia de janela que propiciasse o controle da
Para uma melhor compreensão das recomendações insolação, sem, no entanto, bloquear a ventilação natural e,
que se seguem, tanto para o estudo de caso quanto para se possível, otimizando-a. Existem no mercado janelas com
novos projetos, aconselha-se a leitura prévia dos itens essas características.
anteriores deste trabalho. Iluminação natural
Insolação Para os casos que envolvem cozinhas e banheiros
A principal recomendação do ponto de vista da sem iluminação natural, não existem recomendações que

APO do conforto ambiental


resolvam essa situação, a não ser o uso da iluminação Conforto térmico
artificial, providenciada pelo próprio usuário. Pode-se perceber que existem três alternativas para
Para os casos que envolvem subdimensionamento melhorar o desempenho térmico dessa cobertura.
da iluminação natural, ou seja, para os quais se detectaram 1ª Pintura clara externa da telha
níveis de iluminância inferiores aos recomendados pela NB A cor é a primeira barreira contra os ganhos tér-
5413, só existem três recomendações possíveis, das quais micos. Com ela pode-se reduzir em até 60% esses ganhos.
duas não cabem ao CDHU ou são impossíveis de serem A pintura como um meio de controle dos problemas
feitas em alguns casos: térmicos apresenta um grande inconveniente – a
1º aumento da área iluminante da janela, trocando-se necessidade de uma manutenção constante.
sua tipologia ou, principalmente, aumentado-se a 2ª Ventilação natural da cobertura
dimensão da janela; Ventilando-se a cobertura, dissipa-se, automatica-
2º uso de cores mais claras nos ambientes; e mente, uma boa parte da carga térmica que penetraria
3º eliminação ou diminuição das obstruções externas. através dela e entraria nos ambientes. É uma excelente
solução, prática e econômica (tem uma boa relação entre
A segunda recomendação é de decisão de cada
seu custo e seu desempenho).
usuário, envolvendo questões pessoais.
3ª Melhorar o isolamento térmico da cobertura
A terceira recomendação, na maioria dos casos, é
Isso poderá ser feito com a adoção de isolantes
inviável.
térmicos entre a telha e o forro ou como parte do próprio
Só nos resta a primeira opção, e os valores de área forro. Essa solução também é muito eficiente, porém custa
necessários estão em função de cada caso. O parâmetro- mais que as soluções anteriores e envolve uma boa execução
182 base para essa recomendação é o valor do Coeficiente de (por exemplo, não deixar ocorrer infiltrações em contato
Luz Diurna Mínimo de 0,015 ou 1,5% para as aberturas com o isolante).
da fachada oeste (276º) e de 0,017 ou 1,7% para as da
Ventilação natural
fachada leste (96º).
Quanto às recomendações de projeto para o
O próprio usuário já percebeu esse problema, tanto Conjunto Habitacional Jardim São Luís, relacionadas à
que já tomou a iniciativa de alterar a tipologia e dimensões ventilação natural, não existem soluções corretivas, a não
das janelas. Evidentemente, essa decisão não foi tomada ser:
considerando-se apenas o parâmetro de iluminação natural,
1. aumentar a área efetiva de ventilação para
mas também o do conforto térmico através da insolação e
da ventilação natural. - cozinhas: mínimo de 1,0 m2, e

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- banheiros: mínimo de 0,5 m 2, sem que esses locais densidade e caixilharia metálica constituída de chapas
estejam obstruídos; e dobradas ou perfis ocos.
2. trocar as tipologias das janelas por outras mais
eficientes para cumprir a dupla condição verão/inverno e 22.2 Para futuros projetos de conjuntos
ventilação higiênica e de conforto. habitacionais

Acústica Insolação/orientação dos edifícios


Segundo todos os estudos realizados e os resultados A implantação dos edifícios é fator definidor do
obtidos, recomenda-se: desempenho térmico dos ambientes, pois determina a priori
1. do ponto de vista da relação dos edifícios com a a quantidade de insolação a ser recebida para cada local
circulação externa, a única proposta factível seria o em termos de carga térmica incidente (watt/m2h) em suas
remanejamento dos três estacionamentos clandestinos dos diferentes superfícies (cobertura, como área prioritária, e
atuais locais (ao lado dos blocos 2, 4 e 11) para outro local. paredes).
Propõe-se a área próxima ao campo de futebol entre a Rua É fator absolutamente determinante também em
4 e o Bloco 13, bloco que estaria protegido desse novo relação ao desempenho dos ambientes do ponto de vista
estacionamento por um talude necessário para o movimento da ventilação natural, pois implica o posicionamento das
de terra; aberturas de entrada e saída de ar em relação à direção
2. a segunda proposta, de eficiência acústica parcial, predominante dos ventos, tanto para o período quente
seria a de murar o Centro Comunitário na entrada do quanto para o frio. Outro aspecto importante associado à
Conjunto (esquina entre a Avenida 1 e a Rua Antônio ventilação natural versus orientação é em relação à
Ramos Rosa. A eficiência da colocação de muros para estanquidade à água das aberturas, pois a região apresenta
isolamento de ruído urbano é relativa, pois estes teriam um clima úmido cuja característica é a de apresentar chuvas
que ser muito altos e estar muito próximos às fachadas, o 183
torrenciais com presença simultânea de ventos fortes.
que não é o caso. Apesar disso, poder-se-ia pelo menos
Uma vez definida a implantação do edifício em
amenizar um pouco o nível de ruído, que é alto, uma vez
questão, praticamente nada mais há de se fazer. As possíveis
que o Centro está completamente exposto ao mesmo;
alterações para se corrigirem problemas oriundos de uma
3. a terceira e última proposta seria a troca das janelas, má orientação são poucas, de desempenho duvidoso e
se não todas, pelo menos as dos dormitórios em situações custos normalmente elevados.
acusticamente mais críticas, por uma tipologia que
propiciasse um isolamento maior – em torno de pelo menos Critério de Desempenho para a Insolação/Orientação
25 dB(A). Essa condição é satisfatoriamente preenchida Os critérios de desempenho para os diversos locais
com madeiras e metais, em vez de materiais de baixa da habitação são apresentados nas Tabelas 47 e 48.

APO do conforto ambiental


Tabela 47 – Critérios de desempenho para a insolação para edifícios situados entre as latitudes 16o e 32o

184

Tabela 48 – Critérios de desempenho para a insolação para edifícios situados entre 0o e 16o de latitude

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Iluminação natural prioritário em termos de desempenho e assumindo, por-
Com relação à iluminação natural, três são os tanto, um papel secundário na análise global de conforto
critérios gerais de desempenho, a saber: ambiental.

· níveis mínimos de iluminância para cada atividade Os níveis de iluminância gerais são relativamente
(estabelecidos pela NB 5413 da ABNT); baixos, e os locais (espelho, penteadeira e cama), um pouco
· não-incidência de sol direto para as atividades visuais mais altos. Estes últimos não foram considerados para a
de acuidade média (leitura, escrita, costura, etc.); determinação dos critérios de desempenho, pois dependem
· uniformidade máxima entre dois pontos quaisquer do da posição do mobiliário e de uma interferência e gosto
local. muito pessoal de cada usuário.

Evidentemente, para habitação, o único critério Cozinha


adotado foi o primeiro, pois não foram consideradas as Para a iluminação, não há requisitos especiais a serem
atividades de “leitura”, “escrita” e “costura” como cumpridos. O nível de iluminação geral é relativamente
características da função habitação (são atividades baixo, sendo necessário um nível maior em alguns pontos
intermitentes, não regulares, e com dificuldade de se localizados (pia, mesa e fogão), que, muitas vezes, é
determinarem com exatidão os locais onde se realizam). resolvido com a iluminação artificial. Para os critérios de
Quando existe o desenvolvimento dessas atividades, a desempenho, a iluminação localizada não foi considerada.
iluminação adquire importância, o que exige um maior nível Banheiro
de iluminância (lux) no plano de trabalho e a não-incidência Para a iluminação, não há requisitos especiais a serem
de sol direto. Quando essas atividades ocorrem, fica por cumpridos. O nível de iluminação geral é relativamente
conta do usuário a colocação do plano de trabalho mais baixo, sendo necessário um nível mais alto na pia e no
próximo à janela. Nesse trabalho, não foram adotadas estas espelho, que, na maior parte das vezes, é resolvido com a
185
últimas atividades como as normais para nenhum dos iluminação artificial.
espaços da habitação.
Área de Serviço
Quanto aos diferentes espaços da habitação, Para iluminação, não há requisitos especiais. Adquire
determinaram-se as características relativas à iluminação papel secundário na análise global.
natural a seguir.
As recomendações relativas à iluminação natural
Dormitório e sala para os diversos espaços da habitação são apresentadas na
A iluminação não tem que apresentar características tabela a seguir e referem-se aos valores mínimos dos
especiais para as funções normais desse espaço – estar e Coeficientes de Luz Diurna (CLD) para pontos situados a
dormir –, não se caracterizando como um parâmetro um metro da parede de fundo do local, oposta às aberturas.

APO do conforto ambiental


Isso garantiria níveis de iluminâncias de 150 lux como dioso que não há possibilidade de construção de
mínimos durante 70% do tempo para todas os períodos residências em tal área.
do ano, o que eliminaria a necessidade de uso da iluminação Implantação geral do conjunto habitacional
artificial e, portanto, contribuiria para a diminuição do
· Em área situada próxima a aeroporto, evitar a im-
consumo de energia elétrica.
plantação do conjunto habitacional a 2 km da rota de
O Coeficiente de Luz Diurna (CLD) é definido aproximação das aeronaves.
como a proporção de luz natural que chega num · Sob a rota de aproximação, evitar a implantação a 10
determinado ponto do ambiente em relação ao total de luz km da cabeceira da pista utilizada para o pouso. Em
natural disponível no exterior do edifício. condições favoráveis, a implantação será possível a
Acústica distâncias entre 5 e 10 km da cabeceira da pista, sob
Implantação rota de aproximação, desde que a decisão seja precedida
A escolha da orientação correta dos edifícios sob o de uma avaliação acústica do local.
ponto de vista acústico é fundamental para se obterem · Evitar a implantação de conjuntos habitacionais a 3
boas condições de habitabilidade neles. km da rota de ascenção das aeronaves, em medida
paralela à pista. Evitar a implantação a uma distância
De um modo geral, as áreas em volta de vias de
inferior a 15 km da cabeceira da pista.
tráfego urbano são classificadas em quatro zonas distintas,
em função do volume de tráfego de automóveis e · Nos casos de rodovias e vias expressas com trânsito
caminhões tomados separadamente, a saber: intenso de caminhões e ônibus, evitar a implantação do
conjunto a uma distância inferior a 300 m do eixo da
1. região definitivamente aceitável: não existe via, quando a configuração for de “fundo de vale”. Essa
praticamente possibilidade de queixa dos moradores distância poderá ser diminuída em até 150 m, desde
em tal região; que as edificações sejam construídas com fachadas cegas
186
2. região normalmente aceitável: embora o ruído já seja voltadas para a via (nos primeiros 150 metros).
elevado, não traz maiores conseqüências para · A distância de 300 m indicada acima poderá ser redu-
construções convencionais. Pode haver queixas zida a 50 m, desde que se obedeça à configuração de
esporádicas de alguns moradores mais sensíveis; implantação das edificações indicadas na figura abaixo.
3. região normalmente inaceitável: o nível de ruído é Nesse caso, os bloqueios ao ruído das vias poderão ser
muito elevado, o que exige construções com prévio edifícios multipisos, sem desvão no pavimento térreo e
tratamento acústico. Praticamente todos os moradores com aberturas apenas nas fachadas opostas à via. Essa
apresentam queixa de excesso de barulho; e recomendação é válida para as edificações construídas
4. região definitivamente inaceitável: os níveis de ruído nos primeiros 100 m do conjunto habitacional.
são tão elevados e o tratamento acústico é tão dispen- · No caso de rodovias, vias expressas, vias férreas e

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metrô a céu aberto, sendo plano o terreno, evitar a · Planejar construções ou ambientes não particularmente
implantação a uma distância inferior a 200 m do eixo suscetíveis ao ruído, para atuarem como anteparos entre
da via. Essa distância poderá ser reduzida a 50 m, desde a fonte sonora ruidosa e as áreas que requerem silêncio.
que sejam executadas barreiras entre o conjunto e a Equipamentos mecânicos (por exemplo, bombas e
via. máquinas) devem ser instalados em locais afastados das
· Nos casos em que as áreas destinadas à implantação áreas de repouso e, se possível, no subsolo dos edifícios.
de conjuntos habitacionais localizarem-se nas proxi- O ruído da casa de máquinas pode ser atenuado por paredes
midades de zona industrial, será necessária a análise da pesadas, acrescidas, em alguns casos, de revestimento
natureza, intensidade, modo e horário de ocorrência acústico e/ou piso flutuante.
do ruído gerado nessa zona.
Lajes e paredes
Perfil das vias de circulação Para isolamento acústico de lajes e paredes,
Não adotar o perfil em “U”, pois se aumenta o nível recomenda-se o exposto na Tabela 49.
sonoro reverberante entre os edifícios.
Para ruídos de impacto, uma das maneiras mais efici-
Áreas comuns de lazer e estacionamentos entes de se reduzir esse tipo de ruído consiste em se colocar
Evitar colocar tais áreas próximas aos dormitórios uma capa elástica na construção do piso. Ou seja, um dos
e na direção predominante dos ventos. métodos mais efetivos de se eliminar esse tipo de ruído é
introduzir descontinuidades no caminho a ser percorrido
Topografia
pelo ruído. Essas descontinuidades devem consistir de ma-
Tirar partido da topografia. Se a área escolhida
teriais que diferem grandemente em elasticidade e densi-
possui elevações, depressões e vegetação, poder-se-á tirar
dade daqueles da estrutura sólida do edifício. Por exemplo,
partido delas para solucionar ou talvez amenizar o problema
é possível suspender um teto por meio de suportes flexíveis
acústico. Os exemplos abaixo sintetizam esse conceito.
ou elásticos, construir o piso de uma sala sobre enchimento
Pátios externos e internos de cortiça ou outro material elástico (piso flutuante), ter 187
Evitar a formação de pátios externos e internos que pisos emborrachados (por exemplo, para circulação) ou
estejam sujeitos à reverberação. construir paredes internas que são “unidas” ou ligadas à
estrutura monolítica por meio de tirantes flexíveis.
Layout do edifício
· Separar as fontes de ruído dos locais que requerem Como princípio de tratamento dos pisos para isola-
silêncio pela maior distância possível. mento de ruído de impacto, tem-se:
· Adotar outras tipologias volumétricas que não a “H”; · não adotar lajes entre pisos com menos de 10 cm de
por exemplo, em “Y” ou em duas lâminas paralelas espessura, mais argamassa de regularização e
com uma única caixa de escada e o acréscimo de cor- acabamento para melhorar o isolamento para ruídos
redores de acesso. de impacto.

APO do conforto ambiental


Tabela 49 – Recomendação de isolamento sonoro mínimo para lajes e paredes

188

Figura 46 – Métodos para redução de ruído de impacto

35
IPT, op. cit, p. 53.

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Isolamento acústico das fachadas quando de um projeto de habitações de interesse social e
As fachadas voltadas para as vias de circulação de que pretenda ter as mínimas condições satisfatórias de
tráfego urbano devem ser, de preferência, opacas, conforto ambiental do ponto de vista da ventilação natural.
respeitadas, evidentemente, as implicações com a ventilação Etapas de verificação
natural, o conforto térmico e a iluminação natural. Oito são os passos principais para este roteiro de
Pelas características do nosso clima, a ventilação projeto. Os três primeiros passos dizem respeito ao nível
desempenha papel fundamental no bom acondicionamento urbano e ao entorno, e os cinco últimos, ao edifício.
térmico dos edifícios. É preciso ventilar na maior parte do 1º Passo – Obtenção dos dados climáticos de:
tempo. A melhor solução acústica para as aberturas é não
- velocidade (ventos reinantes);
voltá-las para as vias de circulação de tráfego urbano.
- direção; e
Quando isso não for possível, dever-se-á utilizar,
- freqüência dos ventos (ventos dominantes).
pelo menos nos dormitórios, vidraças duplas, com colchões
2º Passo – Caracterização do entorno em termos de:
de ar ou de dois vidros soldados entre si por interposição
de filmes plásticos e, portanto, sem colchão de ar. - topografia;
- vegetação; e
A influência das esquadrias também é grande. É
- edifícios e outros anteparos.
desejável utilizarem-se esquadrias que apresentem boas
características de isolamento acústico. Essa condição é 3º Passo – Orientação dos edifícios:
satisfatoriamente preenchida com madeiras e metais em - orientar sempre as aberturas de entrada nas zonas de
vez de materiais de baixa densidade e caixilharia metálica pressão, ou seja, o mais perpendicularmente à direção
constituída de chapas dobradas ou perfis ocos. incidente dos ventos; e
- as aberturas de saída nas fachadas de baixa pressão.
Quanto às esquadrias, um dos aspectos mais
importantes refere-se ao seu modo de abertura (de correr, 4º Passo – Estabelecimento das necessidades de 189
pivotante, etc.). As frestas decorrentes, os jogos nas peças, ventilação:
a falta de precisão da esquadria freqüentemente são as - para ventilação higiênica; e
causas de um enfraquecimento sensível do isolamento - para ventilação de conforto.
acústico, que pode ser corrigido por esquadrias que fechem 5º Passo – Localização das aberturas:
por pressão e que tenham necessariamente materiais - localizá-las em função das distribuições das pressões
elásticos nas juntas. da fachada principal (a de incidência dos ventos) e do
Ventilação natural “projeto da fachada” (quebra-sóis, por exemplo);
Apresenta-se a seguir um “guia” dos pontos princi- - localizar as aberturas de entrada e saída para dar melhor
pais que não podem ser esquecidos ou desconsiderados distribuição ao fluxo de ar interno.

APO do conforto ambiental


6º Passo – Características das aberturas: 5. Avaliar e considerar possíveis alterações nas direções
- tipologia e tamanho das aberturas, tanto de entrada predominantes dos ventos (tanto para os períodos
quanto de saída. Aberturas reguláveis e com boa quentes quanto frios do ano) devido ao relevo e
estanquidade aos ventos, água e ruídos. topografia nas imediações do terreno, assim como
7º Passo – Layout interno dos espaços: possíveis construções vizinhas.
- garantir a melhor distribuição do fluxo de ar interno 6. Áreas verdes não devem estar localizadas a montante
nos espaços. dos ventos dominantes para a situação de período
8º Passo – Dimensionamento: quente.
7. Prever sombreamento nas áreas de permanência
- por efeito dos ventos e por efeito chaminé.
prolongada, pontos de paradas e áreas destinadas à
Recomendações práticas circulação de pedestres.
Os principais pontos relativos aos princípios e 8. Evitar grandes extensões de áreas pavimentadas
critérios de projeto dos edifícios habitacionais do ponto (inclusive estacionamentos) próximas às edificações e
de vista da ventilação natural são os seguintes. na direção dos ventos dominantes. Preferir revestimento
Implantação e áreas externas com vegetação do tipo forrageiro pisotável em vez de
1. Em áreas de topografia acidentada, optar por pavimentação contínua (levando-se em conta,
pendentes voltadas para a direção dos ventos obviamente, a intensidade de utilização dessas áreas).
predominantes no período quente do ano. 9. Garantir a porosidade do conjunto, evitando grandes
2. Orientar as vias principais na direção dos ventos massas compactas que se comportem como barreiras
predominantes para a condição de período quente. As para os ventos dominantes.
ruas perpendiculares a esta direção devem ser 10. Proteger as aberturas da incidência direta dos ventos
suficientemente largas para que não prejudiquem a no período mais frio do ano. Isso pode ser garantido
190 ventilação das edificações situadas a sotavento. tirando-se partido, por exemplo, de barreiras naturais
3. No caso de avenidas largas, alternar áreas (vegetação e/ou topografia), de construções vizinhas,
pavimentadas com canteiros centrais e sombrear o leito ou garantindo-se o critério de número 11.
carroçável e os passeios. 11. Evitar a disposição de edificações de forma a criar
4. Tirar o máximo proveito dos ventos, implantando os afunilamentos na direção dos ventos dominantes,
edifícios com as aberturas de entrada do ar o mais quando a velocidade média dos ventos, registrada na
perpendicularmente à direção predominante dos ventos estação meteorológica, ultrapassar 6 m/s para condição
para o período mais quente do ano. Isso implica optar de período frio.
por soluções de lotes não alinhados na direção dos 12. Para edificações sobre pilotis, prever a localização
ventos dominantes para facilitar a ventilação das de barreiras que provoquem perda de carga para os
unidades habitacionais. ventos predominantes do período frio (quando houver).

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13. Em conjuntos habitacionais com tipologias de que permita o máximo possível a permeabilidade da
unidades mistas (unidades térreas e de vários ventilação pelos diversos locais da habitação.
pavimentos), localizar as unidades térreas a barlavento 18. Garantir aberturas de entrada e saída do ar, e não
das edificações mais altas. somente aberturas de entrada, para todos os locais.
14. Para as regiões com dupla condição inverno/verão 19. Garantir se possível, as aberturas de entrada do ar
(períodos frio e quente), garantir boa estanquidade das ao nível do usuário, e as de saída, em posições mais
aberturas, aos ventos. Isso se dá quando da escolha da elevadas, favorecendo, assim, a ventilação natural.
tipologia da abertura a ser utilizada. Para as regiões 20. Os ambientes deverão propiciar ventilação higiênica,
quentes durante todo o ano, a estanquidade não é independentemente da época do ano, em regiões com
necessária. período frio não ao nível do usuário.
15. Para todas as regiões, garantir boa estanquidade 21. Nunca abrir a ventilação de sanitários para espaços
das aberturas à chuva. Isso se dá quando da escolha da internos da edificação, mas, sim, para espaços externos.
tipologia da abertura a ser utilizada. 22. Evitar a dispersão do vapor e odores produzidos
16. Para regiões com clima predominantemente quente em banheiros, cozinhas e área de serviço para os demais
e úmido,respeitando-se os critérios de projeto ambientes da habitação, por meio de layout adequado.
estabelecidos para as demais subáreas de conforto 23. Garantir a ventilação dos espaços internos da
ambiental, adotar tipologias das aberturas que propiciem unidade habitacional destinados à permanência
a maior área útil possível de ventilação, ou seja, área de prolongada, de forma a atender às exigências dos
vão. usuários relativas à ventilação higiênica. Para isso,
17.Para regiões com clima predominantemente quente observar as taxas de renovação de ar recomendadas na
e úmido, adotar partido arquitetônico de layout interno tabela abaixo.

191

Tabela 50 – Vazão de ar mínima recomendada para atender às exigências de higiene dos usuários
Fonte: ALUCCI, OP. CIT (1986)

APO do conforto ambiental


24. Garantir a ventilação dos espaços internos da “bom”. Para a condição de inverno, mais da metade (54,2%)
unidade habitacional destinados à permanência recebe qualificações negativas, entre “ruim” e “péssimo”,
prolongada, de forma a atender às condições de e 45,8%, “bom”.
conforto higrotérmico em qualquer época do ano. Para Esses valores poderiam ter sido melhorados em parte:
isso, observar as taxas de renovação de ar recomendadas · com a adoção de uma outra implantação para os
na tabela abaixo. edifícios (que privilegiasse o eixo longitudinal dos blocos
com orientação norte–sul, ao invés de leste–oeste);
· pela adoção de uma outra tipologia formal para os
blocos de apartamentos (ver item Recomendações para
novos projetos);
· pela adoção de elementos de controle da radiação solar
para as aberturas (principalmente dos dormitórios); e
· pela adoção de uma outra tipologia de janela.
Tabela 51 – Taxas de renovação de ar recomendadas – ventilação de
conforto Quanto a este último aspecto, a tipologia de janela
Fonte: ALUCCI, OP. CIT (1986)
adotada para os dormitórios – com lâmina interna de correr
e folha externa do tipo “veneziana” – não é a melhor
22.3 Conclusão geral de conforto ambiental tipologia do ponto de vista do controle da insolação.
Conclusão geral dos estudos de insolação Conclusão geral dos estudos de iluminação natural
Deve-se lembrar que, embora o fator “orientação/ Como se pode observar pelos dados resultantes da
implantação dos edifícios” não seja o único a interferir avaliação técnica, inclusive das medições realizadas, os
diretamente nas condições de conforto, ele se apresenta efeitos das obstruções decorrentes das tipologias funcio-
como um dos principais, pois definirá de imediato a nais/arquitetônicas e da implantação do conjunto no
192 quantidade de radiação incidente em cada uma das fachadas desempenho da iluminação natural não são bons. Entende-
(dada em W/m2). se o papel desempenhado pelo custo e disponibilidade da
terra para a construção de habitações populares, o que acar-
Pelos resultados apresentados anteriormente, pode- reta, muitas vezes, na escolha de terrenos não muito satisfa-
se concluir que a tipologia do tipo “H” adotada pela CDHU, tórios. Apesar disso, acredita-se que o próprio partido ar-
associada à forma de implantação adotada no con-junto quitetônico adotado deve tentar ao máximo melhorar esses
habitacional, acarreta sérios problemas para boa parte dos efeitos negativos.
apartamentos, principalmente para aqueles volta-dos para
No caso do Conjunto Habitacional Jardim São Luís,
a parte interna do pátio.
a densi-dade do conjunto habitacional, o partido de
Para a situação de verão, há 89,9% dos ambientes implantação urbano e os partidos arquitetônicos através
com a qualificação “ruim” ou “péssimo”, e 13,1%, com da escolha de blocos em formas de “H” fazem que ocorram

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obstruções em um número muito elevado, o que prejudica Pessoas submetidas a situações de muito ruído du-
sensivel-mente a insolação e a iluminação natural, rante o dia podem tornar-se susceptíveis, com o tempo, a
principalmente nos apartamentos dos andares inferiores e perturbações causadas por níveis sonoros não tão elevados.
nos locais que dão para o hall interno (pátio) dos blocos. É o fenômeno que todos sentem quando saem da cidade e
vão ao campo ou à praia, em lugares muito silenciosos, e
Conclusão geral dos estudos de acústica
são perturbados à noite por grilos ou latidos a distância.
Todas as análises e todos os dados até aqui apresen-
Outra causa possível é que os ruídos perturbadores,
tados levam às conclusões a seguir.
nesse caso, seriam provenientes não das vias de circulação,
1° Os problemas acústicos no Conjunto Habita-
mas de outras fontes de ruídos, tais como áreas de lazer ou
cional Jardim São Luís são importantes e significativos,
bolsões de estacionamento, ao redor dos blocos de
pois mais da metade dos moradores do conjunto aponta
apartamentos. Não foi possível relevar no levantamento
problemas nesse sentido (ver avaliação da satisfação dos
de campo e na análise técnica dados que possibilitassem a
usuários, item 20.4).
comprovação dessas afirmações.
2° Esses problemas têm basicamente duas causas
5° As conseqüências dos problemas acústicos para
principais:
o usuário do conjunto são várias. Muitos pesquisadores já
a) solução construtiva, principalmente: se posicionaram diante do problema do ruído como
- das lajes para todas as tipologias estudadas; elemento perturbador, de tal maneira que colocaram o grau
- das aberturas que são frágeis e não adequadas do ponto de irritabilidade ou perturbação do ruído como dependente
de vista do isolamento acústico; e da relação entre mente e meio, ou seja, entram nessa relação
b) a implantação dos blocos em relação às vias de muitas variáveis, como a própria condição física e psíquica
circulação. do indivíduo, características inerentes à atividade e dados
3° A perturbação causada pelos ruídos externos para que poderiam ser chamados de culturais. Não existe uma
os blocos dos Grupos 1 e 2, próximos às vias de maior vo- for-ma rígida de determinar esses efeitos, mesmo porque
193
lume de tráfego, pode estar sendo subestimada pelas eles podem estar dependentes de fatores circunstanciais.
avaliações dos usuários em função de uma diminuição da Apesar disso, alguns deles podem ser aferidos de uma
sensibilidade e acuidade auditiva com o tempo, sem que, maneira relativamente precisa, principalmente os efeitos
com isso, suas conseqüências sejam menos sérias ou impor- fisiológicos:
tantes. · a exposição do ouvido a intensidades sonoras elevadas
4° Os altos índices de perturbação demonstrados e de maneira permanente conduz a uma diminuição da
para os blocos dos Grupos 3 e 4, que apresentam melhores capacidade auditiva;
condições de implantação do ponto de vista acústico, · o ruído interfere no sono e, portanto, no descanso,
podem ter como causa um fenômeno de excitação e susceti- mesmo quando o indivíduo se adapta a ele. Pode levar
bilidade acústica. à insônia;

APO do conforto ambiental


· para sobrepor-se aos efeitos do ruído e poder concen- Janelas: são os pontos acusticamente mais frágeis,
trar-se na sua atividade, exige-se do indivíduo um grande pois propiciam muito pouca isolação – cerca de 14 a 15
esforço nervoso, que conduz a estados neurastênicos e dB(A), em média. Pode-se constatar que, mesmo para um
psíquicos, sendo geralmente necessário um período de nível de ruído (aéreo) de tráfego fraco, com cerca de 65
descanso para a recuperação; dB(A), o isolamento propiciado fica bem abaixo dos 25
· o ruído interfere seriamente na eficiência do trabalho, dB(A) necessários.
diminuindo a atenção e tornando difícil a concentração. Na realidade, do ponto de vista acústico, o grande
Interfere na inteligilibidade da conversação; ponto fraco não são as paredes, mas as aberturas nelas
· o ruído provoca nos ouvidos lesões de surdez; decresce contidas. Das tipologias de janelas, originais e alteradas,
em 20% a reação visual; no aparelho respiratório, acele- nenhuma cumpre os critérios de desempenho em termos
ração do ritmo; no aparelho circulatório, lesões nas coro- de isolamento mínimo necessário.
nárias; pressão arterial elevada; alteração do nível de 8° A forma dos edifícios em “H” ou duplo “H”
açúcar no sangue; no aparelho digestivo, afecção nos nem sempre é a mais aconselhável. Isso vai depender da
órgãos; alteração no funcionamento dos intestinos com situação de implantação em questão. O aspecto mais nega-
diarréia ou prisão de ventre e enjôos. tivo dessa tipologia é a vulnerabilidade acústica das fachadas
voltadas para o pátio interno em função de elevados níveis
6° A forma dos edifícios em “H” ou duplo “H”
de ruído produzidos entre as duas lâminas do bloco (e
nem sempre é a mais aconselhável. Isso vai depender da
principalmente entre as caixas de escada) pelas crianças
situação de implantação em questão. Os esquemas abaixo
que acabam utilizando esse espaço para lazer em função
exemplificam essas duas situações.
da pouca alternativa de espaços externos para esse fim. Os
7° O desempenho acústico dos blocos em relação a: ruídos produzidos internamente aos edifícios, além de se
Laje: para ruídos de impacto, tem uma qualificação transmitirem verticalmente (laje e piso – por impacto e vi-
de desempenho “ruim”, porque o isolamento propiciado bração), reverberam nos pátios internos, o que aumenta o
está bem abaixo do necessário. Para ruídos aéreos, cumpre desconforto e a falta de privacidade acústica entre as unida-
194 as condições na maioria das situações, ou seja, com ruídos des habitacionais.
de média e fraca intensidade, o que, para habitação, significa 9° Há situação de vulnerabilidade nas fachadas dos
conversas sem gritaria, TV e som em volumes médios. No dormitórios dos blocos 3 e 4 (voltados para si), pois é a
caso de haver ruídos perturbadores aéreos mais elevados, única área plana entre os blocos e, por esse motivo, utilizada
que corresponderiam a gritarias, TV e som em volumes pelas crianças como área de lazer. Essa atividade produz
mais altos, a laje não cumpre o requisito de desempenho. ruído muito próximo às janelas dos quartos.
Apesar disso, pode-se inferir que esta última situação não 10° A localização dos três estacionamentos clan-
representa a mais normal e freqüente e, sim, significa destinos contíguos às fachadas 276° dos blocos 2 e 11 e à
exceção. fachada 96° do bloco 4 está muito próxima das janelas dos
Paredes: Cumpre as condições de desempenho acús- dormitórios. Isso traz, obviamente, um acréscimo em
tico para as três condições de ruído urbano especificadas. termos de ruído externo para o interior dos apartamentos.

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11° A direção predominante dos ventos (SE) favo- mente afastados das vias de circulação, e o ruído é atenuado
rece a propagação do ruído, principalmente daquele prove- pela distância.
niente do campo de futebol, e coloca as fachadas 96° dos 15° Em outras palavras, pode-se dizer que para todos
blocos 7, 10 e 13 em condição desfavorável do ponto de os edifícios e apartamentos situados próximos às vi-as de
vista acústico. circulação de tráfego, inclusive aqueles próximos aos
12° Os grandes taludes amenizam os efeitos do ruí- estacionamentos oficiais e clandestinos, as condições de
do urbano (principalmente do estacionamento 1) por meio conforto acústico são inadequadas, ou seja, haverá níveis
da absorção e interrupção dos raios sonoros diretos. de ruídos internos maiores que os 40 dB máximos aconse-
13° O tráfego urbano não é intenso, o que resulta lháveis para a atividade mais crucial, que é dormir.
em níveis sonoros menores e bastante satisfatórios. 16º Em relação à implantação dos edifícios, os resul-
14° Os blocos, na maioria dos casos, estão relativa- tados finais são apresentados nas Tabelas 52 e 53, a seguir.

195
Tabela 52 – Resultados finais das
classificações de desempenho acústico dos
ambientes

Tabela 53 – Resultados finais das classificações de desempenho


acústico dos ambientes

APO do conforto ambiental


VI.
23 Considerações preliminares

24 Procedimentos metodológicos

25 Análises e simulações

26 Conclusões

196

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VI.
APO econômica

23 Considerações preliminares

A
contribuição que uma avaliação econômica e funcional pode dar à avaliação pós-ocupação

está centrada sobre a melhor visibilidade das correlações existentes entre as variáveis dos

desenhos espaciais (com as suas especificações e quantidades) e os seus custos derivados,


197
ante os benefícios ali alcançados.

Ainda que da análise das relações entre custo e benefício não se possa cientificamente monetarizar

algumas qualidades de grande importância para o usuário, como beleza, atualidade, diferenciação e flexibilidade,

poder-se-á com mais facilidade aferir a capacidade que os espaços têm de abrigar um mobiliário básico e

convencional com critérios mínimos de ergonomia, como também se pode averiguar quais serão os custos

de uso, manutenção, reparo ou substituição de materiais e componentes da construção, sem falar da higiene

APO econômica
que uma ventilação e uma iluminação adequadas exercem adotarem as soluções priorizadas pelos usuários e/ou pelas
dentro das habitações. recomendações técnicas efetuadas, de uma forma tal que
servisse para avaliar o impacto no custo final para cada
A habitação popular e econômica é um grande
uma das alterações propostas.
desafio tanto para a arquitetura como para a engenharia de
custos. A necessidade de se obter o máximo de eficiência A tipologia analisada – VG.22.A (edifício de
com o mínimo de investimento de dinheiro, tempo e espaço apartamentos modelo “H”) – da Companhia de
tem servido ao longo do tempo como a justificativa mais Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) do
utilizada para a adoção de soluções de projeto e construtivas Estado de São Paulo veio acompanhada de um excelente
que vão atender apenas minimamente às necessidades e detalhamento de desenhos e orçamentos, o que permitiu
expectativas de seus moradores. Assim, para o “popular” um estudo mais rápido e preciso. A questão primeira que
e “econômico” se destinam quase que exclusivamente se apresentou foi a do tratamento que se deveria dar aos
custos anotados em Cruzeiros (Cr$) de abril de 1990.
especificações de espaços, materiais e componentes de mais
Inicialmente, buscou-se atualizá-los pela Tabela de
baixo desempenho, não considerando nesta análise
Composição de Preços para Orçamentos (TCPO.10) da
problemas com o uso, manutenção e substituição precoce
Pini Sistemas, o que foi feito para julho de 1997, mas não
de seus elementos. Este tipo de classificação traz como
teve utilidade, pois poderia induzir a interpretações
conseqüência uma sobrecarga de custo na etapa de uso
imprecisas na hora de comparação das duas bases. Então,
das habitações, quando é exatamente o “popular” que não
decidiiu-se manter a análise dentro da mesma base de dados
dispõe de recursos suficientes para manter esses elementos
da CDHU para aquela data de abril de 1990. Para qualquer
com custos relativamente elevados. Esses aspectos, além inserção de elementos novos, os seus custos seriam
de outros, conduziram a habitação dita de “interesse social” corrigidos pelos índices setoriais das “Edificações” da
às contradições que vive ainda hoje: segregação espacial, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), de
distantes do trabalho e dos serviços de lazer e cultura, de São Paulo. Isso exigiu uma apropriação mais adequada do
198 custos baixos de gestão construtiva e custos altos de orçamento original da CDHU, para torná-lo mais compacto
manutenção, além de uma demasiada compactação do e visível, de uma forma tal que servisse para avaliar o
programa funcional e das suas dimensões. impacto, nos custos, das alterações que os estudos de
Dessa forma, o objetivo desta “avaliação econô- intervenção tinham em vista.
mica”, que também é funcional por se tratar de espaço fí- Observa-se que, somente quando se posicionam os
sico, é o de apontar algumas direções de solução, obvia- móveis dentro dos ambientes, é que se pode verificar o
mente passíveis de contestação, mas que, acredita-se, serem conforto ou constrangimento que se está criando. Essa
absolutamente mínimas e necessárias para promover a habi- tipologia do VG.22.A, de aproximadamente 42 m2 de área
tação popular a estágios suficientes de satisfação dos seus privativa, não fugiu de uma ocorrência de “aperto”. As
moradores. Averigou-se o custo a ser agregado para se plantas “confortáveis”, com programas funcionais

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análogos, se situam regularmente entre 50 e 60 m2, que e consumos extraídos do orçamento original da CDHU;
um desenho mais espontâneo naturalmente alcançaria. Análises e Simulações, que apresenta o elenco das alterações
sugeridas, por planta, com seus custos resultantes, bem
Achou-se adequado também que a análise econô-
como a comparação com o orçamento original; e
mico-funcional deveria se dar sobre vários cenários: o
Conclusões, com as considerações finais e as reflexões
original; um com intervenções básicas sugeridas pelos usuá-
resultantes das análises das simulações.
rios; um outro otimizando os arranjos funcionais do partido
original; e outro ampliando a planta com a locação do As apresentações não pretendiam ser muito extensas,
mobiliário. mas não poderiam deixar de ser claras o suficiente para
permitir um acompanhamento analítico preciso, e assim
Essa orientação resultou em cinco intervenções, em
propiciar a elaboração de uma crítica por parte do leitor.
que as “variáveis ativas” (as objetivadas) foram: dimensão
Os estudos buscaram visualizar e quantificar as implicações
dos compartimentos; circulação interna; posição de
mobiliário; portas e janelas; e especificação dos acabam- nos custos das intervenções simuladas. Essas simulações
entos e dos caixilhos externos. As “variáveis passivas” (as não esgotam as possibilidades de novos arranjos ou
coadjuvantes) foram: dimensão das lajes; cobertura; incursões com um perfil mais tecnológico. Por enquanto,
alvenarias; e fundações, que variaram em função das esta “avaliação econômico-funcional” pretende dar uma
“variáveis ativas”. As “não-variáveis” foram: dimensão das melhor visibilidade das variáveis de custos significativos
janelas; localização do setor hidráulico; programa funcional na definição da qualidade da habitação, que, com seus
geral da edificação; o bloco de escadas e caixas d’água; indicadores, possam realimentar o exercício dialético da
toda a instalação hidráulica; a maior parte da instalação criação projetual.
elétrica; os serviços preliminares; a implantação das
edificações; e o canteiro de obras. Não foram consideradas 24 Procedimentos metodológicos
as variáveis de custo: da terra, da infra-estrutura urbana,
dos projetos, gerenciamento das obras, custos financeiros, 199
24.1 Critérios gerais
ou quaisquer outros investimentos. Assim, os custos
A análise econômica efetuada foi desenvolvida sobre
analisados correspondem aos custos referidos nas planilhas
a previsão orçamentária do organismo responsável pelo
originais do VG.22.A da CDHU e aos custos das
empreendimento – CDHU – para a tipologia VG.22A. Tal
especificações suplementares das intervenções sugeridas.
medida foi adotada a fim de se evitarem erros na extra-
Este capítulo está organizado em três grandes itens: polação das especificações e das quantificações. A partir
Procedimentos Metodológicos, que define os critérios das planilhas originais, foi processada uma síntese que lhe
gerais e específicos adotados nas análises, além de trazer o desse uma visibilidade mais rápida e precisa, paralelamente
material referencial que compreende os desenhos das ao estudo das plantas e das suas possíveis inserções para
plantas originais e alteradas, e também as planilhas de custos melhorar as suas utilidades.

APO econômica
Figura 47 - Material referencial - planta 1, apartamento padrão Figura 48 - Material referencial - planta 2, apartamento padrão
VG.22. A VG.22. A
Projeto Original Básico - Arquitetônico Projeto Original Básico - Construtivo
200

Os dados analisados dizem respeito à tipologia Para uma compreensão mais precisa dos custos que
VG.22A, composta de duas lâminas (bloco duplo “H”), se encontravam na moeda cruzeiro (Cr$), de abril de 1990,
somando um total de 32 apartamentos de dois dormitórios. sob a vigência do Plano Collor I, foi processada uma plani-
A área construída total é igual a 1.516,16 m2, com área cons- lha na base da Pini Sistemas de julho de 1997, com o progra-
truída privativa útil por apartamento de 42,23 m 2, área cons- ma Volare 3.0. Foram usados os mesmos quantitativos e
truída total de 47,38 m2, e a área coletiva tem 5,15 m2. As as especificações análogas anotadas nas planilhas da
Figuras 47 a 51 ilustram a proposta arquitetônico-construtiva CDHU, e verificou-se que eles se igualavam. Portanto, as
adotada para o empreendimento que é objeto do estudo de duas metodologias não guardavam discrepâncias significati-
caso e sobre o qual esta análise econômica foi desenvolvida. vas entre si. Este orçamento adotou os códigos correspon-

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Figura 49 - Material referencial - planta 3, apartamento padrão Figura 50 - Material referencial - planta 4, apartamento padrão
VG.22. A VG.22. A
Projeto Original Básico com Ocorrências de Ocupação Projeto Original com Ocorrências de Ocupação
201

dentes aos serviços da TCPO.10. tiveram que ser tomados diante das turbulências provocadas
nos índices pelos “Planos Econômicos” entre abril de 1990
Todas as demais necessidades de complementação (data-base do orçamento da CDHU) e outubro de 1997
e/ou atualização de insumos em geral e seus custos tiveram (data-base do custo dos caixilhos metálicos pesquisados
como referências a TCPO.10 da Pini Sistemas e o mercado no mercado). Esse indexador foi empregado, principal-
de materiais da Construção Civil da RMSP, em reais (R$) mente, para retroagir os custos mais recentes, referentes a
de julho de 1997. Para o indexador de custos setoriais – serviços não existentes no orçamento original da CDHU,
Edifícios –, foi empregado o índice FIPE, publicado pela e assim se obterem todos os orçamentos na mesma base
revista “Construção” da Editora Pini. Cuidados especiais de abril de 1990.

APO econômica
As intervenções foram dirigidas buscando atender
os desejos majoritários manifestados pelos usuários no que
diz respeito, basicamente, aos materiais empregados na
construção e ao tamanho dos cômodos.
No caso das ampliações, foram considerados pro-
porcionalmente aos quatro pavimentos, os serviços que
resultaram em ampliação das áreas coletivas da laje de co-
bertura e telhado. Os demais serviços ampliados estão na
proporção exclusiva do apartamento.

24.3 Estruturação das variáveis


Não é muito difícil, quando se posicionam os móveis
convencionais e usuais de uma habitação popular, verificar
o aperto ou conforto que se está criando. Essa tipologia
do VG.22.A, de aproximadamente 42 m2 de área privativa,
não fugiria de uma ocorrência de “aperto”. As plantas
“confortáveis” se situam regularmente entre 50 e 60 m2, o
que um desenho menos limitante prova com muita
facilidade.
Foi definido que a análise econômico-funcional se
202 Figura 51 - Material referencial - planta 9, apartamento padrão daria sobre vários cenários: o original; um mínimo sugerido
VG.22. A
pelos usuários; um outro otimizando o partido da tipologia;
Esquema das Instalações Elétricas
e outro ampliando a planta com a locação do mobiliário.
Esse cenário compreendeu cinco possibilidades, que mais
à frente serão apresentadas.
24.2 Critérios específicos
As “variáveis ativas” são: dimensões dos comparti-
O desenho da planta original, com as suas especifi-
mentos; organização da circulação interna a eles; posição
cações, foi objeto de análise e intervenção para se constatar
das portas, janelas e equipamentos; especificação dos acaba-
o impacto que estas acarretariam nos custos de construção,
mentos; especificação da caixilharia externa.
na funcionalidade da planta e no uso e manutenção da ha-
bitação. As “variáveis passivas” são: dimensão das lajes, co-

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berturas, alvenarias e fundações. Elas ficaram dependentes - azulejos na parede defronte ao lavatório do banheiro,
das variáveis ativas. em faixa de 60 x 30 cm.

As “não-variáveis” são: as dimensões da maior parte Alteração nas janelas e portas


das janelas; o posicionamento do setor hidráulico; o progra- - Substituição da porta-caixilho de entrada na sala por
ma do setor hidráulico; o programa geral da edificação; o folha de madeira, reforçada;
bloco de escadas e caixas d’água; toda a instalação hidráu- - colocação de porta na cozinha;
lica; a maior parte das instalações elétricas; os serviços preli-
- colocação das portas nos quartos;
minares; a implantação das edificações; e o canteiro de
- colocação de porta-caixilho no acesso cozinha/área
obras.
de serviço;
Essas variáveis (e não-variáveis) todas estão estru-
- remoção da janela da área de serviço;
turadas (organização e associação) de forma a contemplar
- ampliação da área da janela da sala;
as sugestões e desejos declarados pela maioria dos usuários
consultados pela pesquisa de APO, na qual este estudo - ampliação da área de vidros, por conta da ampliação
econômico se insere. Estão organizadas, basicamente, em da janela da sala;
três grupos, a saber: - substituição das duas janelas dos dormitórios por
janelas de alumínio de correr, série 25, três lâminas,
- acabamentos – revestimento de paredes, pintura, pisos,
duas com venezianas de PVC (uma cega) e uma de
etc.;
vidro;
- componentes – caixilharia, alvenarias, lajes, cobertura,
- substituição das janelas da cozinha e da sala por janelas
instalações elétricas e hidráulicas;
de alumínio maxi-ar, série 25;
- espacialidade – articulação e dimensionamento dos
- redução na área de pintura dos caixilhos de metal;
cômodos dos apartamentos. 203
- ampliação na área de pintura dos caixilhos de madeira.
Elenco das Alterações Sugeridas
Alteração no revestimento das paredes Intervenção na dimensão dos espaços

- Azulejos na parede da cozinha, defronte à pia, até o - Alteração na área das lajes;
teto; - alteração na área da cobertura;
- azulejos na parede da área de serviço, defronte ao - alteração na área das alvenarias;
tanque, até 1,50 m; - alteração na área de revestimento de paredes e tetos;
- azulejos nas paredes dentro do box do banheiro, até o - alteração na área de pintura de paredes e tetos;
teto; - alteração na área dos pisos;

APO econômica
- alteração no comprimento dos rodapés; - PROPOSTA 4 – Idem à planta 7, mais a reorganização
- alteração nas cargas das fundações. do setor hidráulico (planta 8).
Foram desenvolvidas também propostas “comple-
Intervenção nas instalações elétricas
mentares”, que se associam às propostas básicas, compondo
- Substituição da fiação das tomadas, de 1,5 mm2 passar
outras duas:
para 2,5 mm2;
- PROPOSTA 5 – soma da Proposta 1 (planta 5) com
- substituição do disjuntor das tomadas, de 15 ampères
a proposta 3 (planta 7) – Melhoria nos acabamentos de
para 20 ampères.
paredes de apoio às instalações hidráulicas; melhoria
Alterações adotadas na qualidade dos caixilhos; aumento no número de
Foram adotados os seguintes conjuntos de alterações: tomadas; reorganização dos acessos à cozinha; com
ampliação da área construída e dos serviços;
1. alterações nos revestimentos das paredes;
- PROPOSTA 6 – soma da proposta 2 (planta 6) com
2. alterações nas janelas e portas;
a proposta 4 (planta 8) – Melhoria nos acabamentos de
3. alterações nas dimensões dos espaços; paredes de apoio as instalações hidráulicas; melhoria
4. alterações nas instalações elétricas; na qualidade dos caixilhos; aumento no número de
5. fechamento do vão da “mesa divisória” entre a sala e tomadas; reorganização dos acessos à cozinha; com
a cozinha. ampliação da área construída e de serviços; mais a
reorganização do setor hidráulico.
24.4 Propostas desenvolvidas
As intervenções acima pontuadas se associam entre 25 Análises e simulações
204 si nas quatro propostas básicas:
A seguir, é apresentado um painel comparativo das
- PROPOSTA 1 – Melhoria nos acabamentos de pare- qualidades e custos resultantes das alterações ocorridas,
des de apoio às instalações hidráulicas; melhoria na qua- no edifício, na mesma base de dados e data.
lidade dos caixilhos; aumento no número de tomadas;
reorganização dos acessos à cozinha (planta 5);

- PROPOSTA 2 – Idem à planta 5, mais a reorganização


do setor hidráulico (planta 6);
- PROPOSTA 3 – Ampliação da área construída e dos
serviços dali derivados (planta 7);

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25.1 Elenco do conjunto de alterações sugeridas, Alterações nas dimensões dos espaços
com seus custos unitários e quantidades do - Ampliação das áreas das lajes de piso e cobertura;
projeto original e das quatro propostas de
alteração - ampliação da área de telhamento da cobertura;
- ampliação das áreas das alvenarias estruturais e de
Alterações nos revestimentos das paredes e pisos
vedação;
- Colocação de azulejos na parede da cozinha, defronte
à pia, até o teto; - ampliação da área de revestimentos de paredes e tetos;

- colocação de azulejos na parede da área de serviço, - ampliação ou diminuição da área de pintura de paredes
defronte ao tanque, até 1,50 m; e tetos;
- colocação de azulejos nas paredes dentro do box do - ampliação da área dos pisos;
banheiro, até o teto; - ampliação das cargas de fundação.
- colocação de azulejos na parede defronte do lavatório
Alterações nas instalações elétricas
do banheiro, em faixa de 60 x 30 cm;
- Substituição da fiação das tomadas, de 1,5 mm2 para
- colocação de pisos e rodapés cerâmicos no banheiro
2,5 mm2;
e na lavanderia.
- acréscimo de disjuntores de 20 ampères;
Alterações nas janelas e portas
- acréscimo de tomadas 110 V.
- Substituição da porta-caixilho da entrada do apar-
tamento por outra de melhor qualidade; Outras alterações
- colocação de porta na entrada da cozinha; - Fechamento do vão da “mesa divisória” entre a
- colocação de porta-caixilho no acesso da cozinha para cozinha e a sala;
a área de serviço; - colocação de calhas de cobre nos beirais dos telhados;
- remoção da janela da área de serviço; - substituição dos condutores de águas pluviais por PVC 205
- substituição das duas janelas dos dormitórios por mais ferro fundido;
janelas de alumínio de correr, série 16, com três lâminas, - substituição do telhado de fibrocimento por telhas de
duas com venezianas de PVC e uma de vidro; barro do tipo francesa;
- substituição das janelas da cozinha e da sala por janelas - substituição da estrutura do telhado para servir às
de alumínio basculante ou maxi-ar, série 16 ou 25; telhas de barro;
- redução na área de pintura dos caixilhos de metal; - substituição dos pára-peitos metálicos por alvenaria
- ampliação na área de pintura dos caixilhos de madeira; de blocos de concreto.
- substituição dos peitoris das janelas por elementos
armados com telas metálicas.

APO econômica
25.2 Proposta 1 (Planta 5) 25.3 Proposta 2 (Planta 6)
Projeto original com as alterações sugeridas pelos O mesmo que na Proposta 1, mais alterações no
usuários, e das consideradas como necessárias para o seu setor hidráulico.
bom desempenho, sem ampliação da área construída.

206

Figura 52 – Planta 5, apartamento padrão VG.22. A – Projeto Figura 53 – Planta 6 – Projeto original com alterações no setor
original com algumas alterações efetuadas pelos moradores hidráulico, sem alterações na área construída

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25.4 Proposta 3 (Planta 7) 25.5 Proposta 4 (Planta 8)
Projeto original com área expandida. Idem à Proposta 3, mais alterações no setor
hidráulico.

207

Figura 54 – Planta 7 – Projeto alterado, com área expandida e Figura 55 – Planta 8 – Projeto alterado com área expandida e
manutenção da organização do setor hidráulico alterações no setor hidráulico

APO econômica
25.6 Proposta 5 (Planta 5 + 7)
Soma das Propostas 1 e 3.

Tabela 54 – Valores totais resultantes da proposta 5

25.7 Proposta 6 (Planta 6 + 8)


Soma das Propostas 2 e 4.

208

Tabela 55 – Valores totais resultantes da Proposta 6

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Tabela 56 – Tabela geral dos custos das seis propostas de intervenção ante o projeto original

25.8 Complementos no serviço de urbanização custo por apartamento em Cr$ de 04/1990 = Cr$
As alterações propostas relacionadas a aspectos 64.581,26.
externos ao edifício foram somadas ao custo de urbanização Soma das alterações nos “serviços de urbanização” = 209
e analisadas de forma independente, a saber: Cr$ 72.426,01
1. mudança no desenho das canaletas de microdrenagem Considerando que todos os demais custos “extra-
em volta das edificações: acréscimo no custo por edifício” (da terra, da urbanização, dos projetos, do
apartamento em Cr$ de 04/1990 = Cr$ 1.923,61; gerenciamento, etc.) estimados que somem um mesmo valor
2. colocação de grama em placas sobre taludes em volta igual ao da edificação = Cr$ 805.140,43, ou seja,
das edificações: acréscimo no custo por apartamento, correspondam a 50% do preço final do apartamento, tem-
em Cr$ de 04/1990 = Cr$ 5.921,14; se, então, que esses Cr$ 72.426,01 correspondem a um
3. pavimentação dos estacionamentos e de seus acessos, acréscimo de 9% nos custos “extra-edifício”, ou 4,5% no
com guia de concreto e pista de brita: acréscimo no preço final do apartamento.

APO econômica
26 Conclusões importante como indutor de novos modelos, pela sua
competência técnica, alcance territorial, demandas especiais
Felizmente, não se constataram problemas crônicos
e seu histórico pioneiro e inovador. Portanto, a presente
de ordem tipológica, senão de especificações e de arranjos
avaliação aponta para os aspectos apresentados a seguir
internos facilmente corrigíveis. Constatou-se a presença
como fatores conclusivos do trabalho
de vestígios do “padrão popular oficial” de baixa eficiência,
que acaba por ofuscar parcialmente a qualidade apontada
pelo inteligente sistema estrutural e construtivo que a 26.1 Considerações quanto a soluções adotadas
CDHU adotou nesse caso. e priorizadas pelos usuários e/ou pela avaliação
As políticas habitacionais populares, todos sabem, técnica como elemento de intervenção
estão aguardando uma solução definitiva, elas que Em relação às soluções adotadas e priorizadas pelos
atenderiam 60% das famílias brasileiras que têm rendas de usuários e/ou pela avaliação técnica como elemento de
até dez salários mínimos, segundo o PNAD/94 do IBGE. intervenção, tem-se que:
Essas políticas “definitivas” exigirão mais recursos, num
(1) a proposta de espaço integrado (cozinha/sala) não
plano com financiamentos a juros próximos do rendimento
das “poupanças populares” (cadernetas e FGTS) e por foi bem aceita pelos moradores. A intervenção prevê o
prazos que poderiam passar dos 30 anos de amortização. fechamento do vão original da bancada e o isolamento
da cozinha através de uma porta, bem como espaço
Essas políticas habitacionais terão que ser classi- extra para um freezer (plantas 6, 7 e 8);
ficadas por regiões de demandas diferenciadas. Assim, uma
(2) também os usuários tiveram o desejo de azulejar as
cidade de porte pequeno poderia se bastar com programas
paredes que servem de apoio à pia da cozinha, ao tanque
de prédios de apartamentos com quatro pavimentos. Mas
da área de serviço, ao lavatório e box do banheiro; assim
as metrópoles, como São Paulo, pela complexidade dos
210 como pretendem melhorar o acabamento dos “pisos
seus problemas, demandariam programas mais avançados
úmidos”, pelo menos do banheiro e da lavanderia;
para fazer frente à pressão migratória, ao elevado custo da
terra e à ausência crônica de infra-estrutura de serviços (3) a área de serviço, integrada à cozinha, não está
públicos e sociais na escala necessária. Assim, a Região funcionalmente resolvida. É desejada a ampliação dessa
Metropolitana de São Paulo (RMSP) está exigindo uma área de serviço, inclusive para abrigar a presença muito
verticalização mais adensada, que, entre outras alternativas, comum de bicicletas;
poderá ser obtida pelo emprego de elevadores em edifícios (4) ao fechar o vão original da mesa de concreto, os
entre 10 e 20 pavimentos. usuários tiveram o desejo de fechar a cozinha com uma
Diante das dificuldades enfrentadas pelo setor da porta para separá-la definitivamente da sala;
habitação de interesse social, a CDHU tem um destaque (5) tem surgido necessidade de espaço para um segundo

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refrigerador/freezer; o emprego do alumínio ou, ainda, de chapas de aço
(6) a porta de entrada da sala foi considerada frágil, e com tratamento especial;
querem substituí-la por uma de melhor qualidade, (9)os cômodos, sobretudo os dormitórios, e por
reforçando o valor simbólico que a “entrada” tem em extensão a sala, cozinha e área de serviço, estão a pedir
qualquer cultura; uma pequena expansão que acomode com um mínimo
(7) os pontos de tomadas estão subdimensionados para de conforto e funcionalidade os equipamentos e móveis
o uso comum de equipamentos eletrônicos, numa escala regulares. Essa “habitação popular” está indicando que,
que não pode mais ser classificada como “popular”, na Região Metropolitana de São Paulo, tem
pois esse item em quase nada se diferencia do padrão especificidades distintas de outras regiões do Estado
adotado pelas classes médias menores. A presença de São Paulo e do restante do país.
bastante comum de máquinas de costura nas salas está
indicando que a unidade habitacional também pode
26.2 Custo agregado pelas intervenções
servir para gerar rendas complementares importan- propostas
tíssimas para a perspectiva permanente e justa de
ascensão socioeconômica. As inúmeras extensões Quanto às duas linhas de intervenções simuladas,
improvisadas colocam a instalação elétrica superando uma de melhoria nas especificações de materiais e
seus limites de demanda máxima, o que põe em risco o componentes, e outra de ampliação na área construtiva,
seu desempenho e a segurança dos usuários; em ambas também foi simulado um novo arranjo no setor
(8) os caixilhos de chapa de aço das fachadas encontram- hidráulico, para lograr uma melhoria na área de serviço.
se danificados e em estágio avançado de deterioração Em relação ao custo agregado por estas intervenções,
por oxidação e desprendimento, exigindo a sua urgente tem-se:
substituição, como já vem ocorrendo. Esse custo a) nas intervenções para melhoria nas especificações
extraordinário poderia ser evitado se os caixilhos fossem de materiais e componentes (plantas 5 e 6), os custos 211
de melhor qualidade, como facilmente se consegue com da unidade foram acrescidos em aproximadamente 6%;

Tabela 57 - Proposta 1 – Planta 5 – Alterações nos acabamentos e instalações elétricas

APO econômica
Tabela 58 - Proposta 2 – Planta 6 – Alterações nos acabamentos, instalações elétricas e intervenções no bloco hidráulico

b) nas intervenções para ampliação da área construída da unidade (plantas 7 e 8), a área foi ampliada em aproximadamente
17%, e os custos da unidade foram acrescidos de 7% a 8%;

Tabela 59 - Proposta 3 – Planta 7 – Ampliação da área do apartamento

212

Tabela 60 - Proposta 4 – Planta 8 – Ampliação da área do apartamento e intervenções no bloco hidráulico

c) nas intervenções para melhoria nas especificações de materiais e componentes, e para ampliação da área construída
da unidade (plantas 5 + 7), a área foi ampliada em cerca de 17%, e os custos da unidade foram acrescidos em 13%;

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Tabela 61 - Proposta 5 – Planta 5 + Planta 7 – Alterações nos acabamentos, instalações elétricas e ampliação da área do apartamento

d) nas intervenções para alterações no setor hidráulico e para ampliação da área construída da unidade (plantas 6 + 8),
a área foi ampliada em aproximadamente 17%, e os custos da unidade foram acrescidos em 13%.

Tabela 62 - Proposta 6 – Planta 6 + Planta 8 – Alterações nos acabamentos, instalações elétricas, intervenções no bloco hidráulico e ampliação
da área do apartamento

213

Essa não-proporcionalidade entre o aumento de área edifício foi de 7%. Esses aumentos nos custos do edifícios
e de seus custos é previsível e aqui aparece com as caracte- se refletem de forma mais discreta no preço final do
rísticas específicas a essa tipologia de edificação. Melho- apartamento, pelo inclusão dos demais custos “extra-
raram-se o acabamento, as instalações elétricas e a organi- edifício”, e respectivamente caem para 3% e 3,5%, cuja
zação do bloco hidráulico, e também ampliou-se a área do soma é 6,5%. Portanto, todas essas melhorias de
apartamento em 17%, e os custos só aumentaram 13%. fundamental importância no desempenho funcional e de
Por conta da melhoria nos acabamentos e componentes, o uso da habitação resultaram num acréscimo de 6,5% no
aumento do custo do edifício foi de 6% e, por conta do preço final.
aumento da área do apartamento, o aumento do custo do

APO econômica
26.3 Algumas indagações do edifício, reduzindo inadvertidamente a importância dos
Para finalizar, restariam algumas indagações junto custos de manutenção e de uso durante pelo menos 30
aos usuários, e outras junto aos planejadores da CDHU. anos de vida regular do edifício. A questão fica mais
dramática quando se constata que, em menos de dez anos,
Dos usuários dever-se-ia saber se eles reconhecem
haverá substituição total de elementos importantíssimos
como “econômicas” (como acredita-se que sejam) as
nos orçamentos e no desempenho físico do edifício, como
alterações propostas, isto é, se o aumento nos custos dos
os caixilhos de fachada executados em chapa de aço de
edifícios de 6% a 13%, que teriam um correspondente
baixa durabilidade.
custo/preço final no empreendimento da ordem de 3% a
6,5% são plausíveis diante das vantagens que propiciam. Também é urgente que se analisem os “custos do
Ou seja, se essa relação entre custo e benefício é entendida empreendimento” junto aos demais custos de urbanização,
como favorável. Essas reduções de incidências, nos custos infra-estrutura e terra, projetos, de gerenciamento,
do edifício para os custos do empreendimento, de 6% para financeiros, etc.
3% e 13% para 6,5%, respectivamente, como já foi referido, À construção dos edifícios corresponde aproxi-
têm por hipótese (indicada pelas planilhas dos empreen- madamente 50% dos “custos do empreendimento”,
dimentos privados e públicos) que ao edifício correspon- verificável nos próprios empreendimentos da CDHU-SP.
dam 50% dos custos totais do empreendimento, em que Portanto, não há sentido prático em concentrar as análises
entrariam os custos da terra, dos projetos, da infra-estrutura de custos só na edificação. Em muitos casos, um aumento
de redes e equipamentos, além da administração e da na densidade ocupacional liberaria recursos financeiros
comercialização do empreendimento. mais do que suficientes para a melhoria na área e no
Dos planejadores da CDHU ter-se-ia que saber se acabamento das habitações, para a instalação dos
não é mais adequado, para o desempenho do edifício duran- elevadores, melhoria nas dimensões e qualidades dos
214 te os seus pelo menos 30 anos de vida, e para a defesa dos equipamentos públicos/comunitários, e melhoria no
interesses do usuário, que se dilatassem os prazos de finan- tratamento paisagístico, assim como também atrai os
ciamento, na escala necessária, para que não se aumen- investidores em serviços privados.
tassem significativamente as prestações mensais. Acredita- Tais constatações em nada reduzem as qualidades
se que isso, ou outra solução qualquer que viabilize um essenciais dessa tipologia do VG.22.A, que facilmente
equacionamento financeiro realista e que permita uma maior absorveria todas as sugestões das intervenções
satisfação do usuário, seja desejável, urgente e factível. apresentadas.
Deve-se ampliar o critério de “custos do empreen- O que se constata final e fundamentalmente é que
dimento”, que normalmente aborda as questões econô- há reais e positivas condições para os projetos da CDHU
micas, predominantemente os investimentos na construção implementarem definitivamente um desenho mais

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adequado à habitação popular brasileira. Espera-se que a
habitação popular tenha a dignidade de um espaço
econômico na produção, no uso e na manutenção, e que
abrigue a espacialidade do universo popular, que não
permite mais ser visto como algo demasiadamente pobre,
compacto e estático. Aqui qualquer pequeno investimento
a mais, se bem dirigido, resulta em benefícios
proporcionalmente maiores. Essa é, sem dúvida, uma das
características mais importantes do atual contexto da
habitação popular na Região Metropolitana de São Paulo,
onde a CDHU-SP se encontra de forma privilegiada.

215

APO econômica
VII.
27 Considerações gerais

28 O estudo de caso

29 Procedimentos metodológicos

30 Avaliação técnico-construtiva

31 Avaliação funcional

32 Avaliação de conforto ambiental


216
33 Recomendações

34 Conclusões

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VII.
APO - Equipamento comunitário - Escola

27 Considerações gerais

E
ste capítulo tem como objetivo apresentar o resultado da Avaliação Pós-Ocupação (APO)

realizada no Equipamento Comunitário – Escola de Primeiro Grau EMPG Professora Anna

Silveira Pedreira, localizada no Conjunto Habitacional Jardim São Luís.

Essa fase da pesquisa pretendeu complementar a avaliação do conjunto habitacional em questão, 217

acrescentando dados provenientes da verificação da satisfação e desempenho do equipamento urbano –

escola –, visando não só ao desenvolvimento de diagnósticos para este estudo de caso, mas também à

aplicação e à experimentação de métodos e técnicas diversificados de APO para o caso de equipamento

dessa natureza.

Todos os levantamentos acima mencionados foram realizados em 1998. Também as informações

relativas aos usos e aos funcionários foram obtidas nesse mesmo ano.

APO - Equipamento comunitário - Escola


Foram predefinidos como aspectos principais a nalmente construída para esse fim, que se encontra em
serem estudados: péssimas condições, totalmente depredada. A existência
- APO - aspectos técnico-construtivos; de casa de caseiro ou zeladoria é uma característica de proje-
- APO - aspectos funcionais; e tos contratados pela Fundação para o Desenvolvimento
- APO - conforto ambiental. da Educação (FDE), órgão estadual responsável pelo
gerenciamento de projetos e construções de escolas no
Foram adotados, basicamente, os seguintes Estado de São Paulo. Ocorre que a Prefeitura do Município
procedimentos: entrevistas com a diretora e vice-diretora;
de São Paulo (PMSP) não prevê nos programas das escolas
aplicação de questionários aos professores, funcionários
administrativos e de serviços gerais; grupos focais e visitas
guiadas com as crianças; vistorias técnicas para aferição
dos aspectos construtivos e medições in loco de aspectos
referentes ao conforto ambiental.

28 O estudo de caso

28.1 Considerações preliminares


A escola estudada está localizada na parte externa
do Conjunto Habitacional Jardim São Luís. Trata-se de uma
escola de Primeiro Grau construída pelo Governo do Foto 13 – Vista Geral – Vandalismo/Pichações
Estado de São Paulo e doada para a Prefeitura Municipal
de São Paulo. O projeto original, sob a coordenação da
Companhia de Construções Escolares do Estado de São
218 Paulo (Conesp), é de meados da década de 80. A área
construída total é de 1.334,27 m2.
Quanto ao seu funcionamento, possui dois
pavimentos e oito salas de aula, com 40 crianças por sala
(ou cerca de oito turmas por turno), trabalhando em quatro
turnos, com 320 alunos em média por turno, ou seja, 1.280
alunos/dia. São 40 professores aproximadamente e 18
funcionários, seis dos quais fazem serviços gerais e o
restante trabalha na área administrativo-pedagógica.
Foto 14 – Zeladoria
Não há caseiro residente, porém existe a casa origi-

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a presença do zelador, motivo pelo qual, nos casos de edificações incorporadas, as residências de zeladores ficam sem uso.
Vê-se na Foto 14 a zeladoria em condições atuais.
A alimentação (merenda) é oferecida pelo poder público e preparada por uma das funcionárias de serviço geral. O
cardápio semanal é publicado no diário oficial. As vagas por série são abertas de acordo com a demanda, portanto são
números que podem variar.
Abaixo está relacionado, esquematicamente, o quadro funcional da escola à época dos levantamentos: turnos, séries
e número de salas para cada uma.

Quadro 5 – Quadro funcional da escola

219

28.2 O projeto de arquitetura - Administrativo


Trata-se de um projeto racionalizado em função do - Direção
programa de necessidades e das diretrizes de projeto - Pedagógico
determinados pela Conesp (LAMAITA; LOPES; - Vivência
TEIXEIRA, 1997), onde os espaços previstos foram - Serviços Gerais
organizados obedecendo a uma trama modular de 0,90 Os setores administrativo, de vivência e de serviço
cm, em planta. Do ponto de vista de seu funcionamento, foram dispostos no térreo, e toda a parte pedagógica foi
está organizado de acordo com a seguinte divisão setorial: localizada no pavimento superior.

APO - Equipamento comunitário - Escola


220

Figura 56 - Desenho esquemático


Planta baixa – Térreo, proposta original

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221

Figura 57 - Desenho esquemático


Planta baixa - Pavimento superior, projeto original

APO - Equipamento comunitário - Escola


29 Procedimentos metodológicos encarregadas de comunicar aos professores e funcionários
os objetivos da pesquisa (e do questionário), bem como de
Do ponto de vista conceitual, a APO levada a cabo
organizar sua dinâmica dentro da rotina da escola.
na Escola pode ser classificada como uma APO realizada
em médio prazo, de nível 2 ou investigativa (ORNSTEIN; A avaliação técnica foi baseada em vistorias, dentro
ROMÉRO, 1992; PREISER; RABINOWITZ; WHITE, da lógica dos walkthroughs, com observação direta e registros
1988). Esse tipo de APO propõe, por princípio, apresentar fotográficos sobre aspectos relativos à funcionalidade e ao
dados em períodos relativamente curtos, baseando-se em sistema construtivo. Também foram feitas medições in loco
entrevistas com pessoas-chave e walkthroughs (visitas de aspectos referentes ao conforto ambiental.
técnicas) para as avaliações de desempenho. Essas visitas Quanto aos estudantes, foram adotados os seguintes
técnicas estão baseadas principalmente na observação direta procedimentos metodológicos para obtenção de infor-
do edifício em uso, da leitura de projetos (arquitetônicos, mações em relação aos aspectos priorizados pela pesquisa:
estruturais, etc.) e das especificações técnicas. A observação
grupos focais, registros fotográficos e vistorias técnicas
do comporta-mento dos usuários, nesse caso, está baseada
guiadas.
principalmente em workshops e em sessões de discussão.
No geral, a APO da escola EMPG Professora Anna
A pesquisa em questão segue procedimentos
Silveira Pedreira obedeceu às seguintes etapas de trabalho:
metodológicos particulares, principalmente no que tange
à obtenção de informações dos estudantes. Para tanto, - levantamento da memória do projeto e das possíveis
foram adotadas técnicas especiais mais adequadas ao tempo modificações efetuadas pelos usuários;
disponível, à pesquisa e à faixa etária. Além disso, houve a - levantamento do estado de conservação e manutenção
necessidade de adaptação à situação específica, podendo- do edifício;
se dizer que houve um aprofundamento na avaliação da - entrevistas abertas com a assistente da diretora e com
satisfação dos usuários, não dispensando as entrevistas e a a diretora;
222 aplicação de questionários. - obtenção de dados de funcionamento da escola e das
Foram efetuadas entrevistas com a diretora e com a características do seus estudantes;
assistente de direção para se obterem dados de funcio- - levantamento fotográfico;
namento da escola, do perfil dos estudantes e também do - desenvolvimento dos instrumentos para coleta de
histórico de ocupação e manutenção do edifício. dados (questionários e roteiro para grupos focais);
Quanto aos questionários, estes foram aplicados a - pré-teste dos instrumentos de coleta de dados;
distância aos professores, funcionários administrativos e - vistorias técnicas, incluindo layout de todos os setores
de serviços gerais, ou seja, não foram aplicados diretamente da escola com o levantamento de mobiliário e equipa-
pelos pesquisadores. As pessoas os responderam de forma mentos (organização, ocupação e dimensionamento dos
espontânea. Nesse caso, a diretora e sua assistente ficaram espaços);

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- entrega dos questionários para resposta a distância; quantidade de mobiliário, funcionalidade e conforto
- devolução dos questionários; ambiental (inverno e verão), seguida também a escala
- aplicações de grupos focais; valorativa de quatro pontos (ótimo = 4, bom = 3, ruim =
2 e péssimo = 1).
- verificação dos níveis de satisfação dos moradores
(OF e IR) do conjunto no que respeita a esse Para o grupo 2, o questionário apresentou as
equipamento, quando da aplicação de questionários em seguintes características: 21 questões, das quais três são
82 apartamentos; questões diretas de “identificação” e das restantes somente
- tabulação e análise dos dados; quatro não são valorativas. Estas quatro são perguntas
diretas de sim ou não, com respostas abertas comple-
- diagnóstico final (satisfação dos usuários versus
mentares, justificativas ou explicativas. Utilizou-se a mesma
avaliação técnica); e
escala de valores já citada.
- recomendações e diretrizes para projetos futuros.
A intenção era que todos os 18 funcionários
(administrativos e gerais) e os 40 professores respondessem
29.1 Considerações sobre os questionários
ao questionário. Como já foi comentado, as aplicações não
O desenvolvimento deste instrumento de coleta de foram diretas, e os usuários deveriam receber os questio-
dados seguiu os mesmos princípios que guiaram a pesquisa, nários e orientação da diretora ou da assistente e devolvê-
porém foi diferenciado segundo o grupo-alvo. Assim, los respondidos. Desse total retornaram respondidos 23
funcionários administrativos e professores (grupo 1) e questionários, o que corresponde a 39,6% dos usuários
funcionários de serviços gerais (grupo 2) tiveram adultos da escola.
questionamento de acordo com as especificidades da sua
área de atuação (ORNSTEIN, 1997). Sistematização e tratamento dos dados
As informações foram reunidas em planilhas
Do ponto de vista de sua estrutura, o questionário 223
eletrônicas para computador (Excel for Windows), de modo
dirigido ao grupo 1 contém 19 questões, das quais 12 são
que cada aspecto estudado pudesse ser tabulado,
valorativas (com escala de valores de quatro pontos: ótimo
distintamente, em uma planilha acompanhada do gráfico
= 4, bom = 3, ruim = 2 e péssimo = 1) uma aberta, três
mais representativo dos resultados encontrados. As
com respostas abertas complementares e três questões
planilhas foram totalmente automatizadas, ou seja, com a
diretas de “identificação”.
introdução das informações dos questionários em fórmulas,
Além dessas perguntas, os espaços da escola (sala de modo a se obterem automaticamente subtotais de cada
de aula, administração, cozinha, pátio, sala de computa- aspecto analisado, por número e percentuais no gráfico,
dores, sala de leitura, banheiros e área externa) foram além dos valores como moda, média e desvio padrão, em
avaliados segundo seu tamanho, facilidade de limpeza, questões relativas ao nível de satisfação dos usuários.

APO - Equipamento comunitário - Escola


Os gráficos aqui mencionados são base para as O roteiro deve ser previamente estabelecido e
análises que se seguem no que diz respeito aos aspectos montado mais com perguntas abertas do que fechadas. Em
comportamentais e à satisfação das categorias de usuários. geral, as discussões duram de uma a duas horas.

29.2 Considerações sobre os grupos focais


Esse tipo de procedimento de aproximação e de
obtenção de informações de usuários é geralmente usado
pela indústria privada e oferece dados qualitativos de
profundidade para complementar resultados de avaliações
quantitativas.
Os grupos focais consistem, basicamente, de
discussões informais, porém estruturadas sobre temas
específicos de investigação. Seu caráter informal e
introspectivo torna possível a obtenção de informações
que entrevistas individuais e diretas não possibilitam. Nesse Foto 15 – Grupo focal realizado com os alunos
caso, seu objetivo é melhorar a compreensão dos fatores
psicológicos e socioeconômicos subjacentes ao
comportamento do consumidor, fornecendo, dessa forma,
subsídios para a identificação de métodos para influenciar
tal comportamento (SANOFF, 1994).

224 No entanto, as informações obtidas a partir de


grupos focais não devem ser generalizadas ou empregadas
para provar hipóteses, mas podem oferecer pistas sobre
opiniões, as quais posteriormente podem ser comprovadas
em outras pesquisas.

Estrutura do grupo focal


Deve apresentar um caráter de conversa interna ao
grupo e não uma discussão destinada a apresentar uma
visão ao exterior. Os participantes falam mais entre eles
Foto 16 – Grupo focal realizado com os alunos
mesmos do que com o moderador.

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Todos os gestos e expressões são importantes e expressões faciais e gestos dos participantes. Não deve
devem ser registrados. Os participantes devem ser interferir e, se possível, deve ficar de fora do círculo de
informados das gravações e de que poderão ter acesso aos discussão;
resultados deste levantamento. Observador: no caso desta pesquisa, houve mais
Recomendações para os grupos focais um membro classificado como observador, que tinha como
Quanto à equipe e suas atribuições: função apoiar o assistente no registro dos dados e também
Moderador: deve conduzir e apresentar os objetivos no registro de imagens. Deve verificar a condição climática
do encontro, mas não interfere nas respostas, não corrige do dia, a localização e as característica do local do encontro;
os participantes. Deve garantir que todos os temas-guias anotar quem foi a equipe e qual foi o papel de cada um,
sejam discutidos e que todos os participantes emitam suas quais as técnicas de registro adotadas e fazer as devidas
opiniões; identificações nos instrumentos de coleta de dados. Deve,
Assistente: deve cuidar do registro dos dados obti- ainda, certificar-se quanto à adoção dos procedimentos
dos, através de apontamentos, gravação e observação de principais para todos os grupos de uma mesma pesquisa.

Guia de temas seguido

225

Quadro 6 – Temas seguidos nos grupos focais

APO - Equipamento comunitário - Escola


Composição dos grupos de estudantes pilares e vigas de concreto armado e fechamento em alve-
Foram ouvidos 32 estudantes divididos em quatro naria de blocos de concreto, caixilharia de ferro, laje plana
grupos de discussão com oito membros cada. Procurou- de piso, de forro e cobertura em telha de cimento amianto.
se compor esses grupos com estudantes de faixas etárias e Não ocorreram transformações significativas na
nível de escolaridade aproximados, priorizando compo- estrutura física do edifício, porém houve inúmeras
sições homogêneas entre homens e mulheres. Foram orga- adaptações no uso dos espaços e melhorias e consertos
nizados dois grupos no período matutino e dois no vesper- nos detalhes de acabamento e nas instalações hidráulicas e
tino com alunos de quartas, sextas, sétimas e oitavas séries. elétricas. Tais intervenções atendem não somente às
Houve grande preocupação em identificar e localizar necessidades de adequação dos espaços ao uso, mas
a posição da sala de aula dos elementos dos grupos. Esse também reflete a tentativa da comunidade da escola em se
cuidado se justifica pelo interesse de se fazerem análises adaptar à realidade urbana na qual ela está inserida.
comparativas das impressões sobre o desempenho das salas As alterações mais significativas foram a abertura
de aula no que tange aos aspectos de conforto térmico e de um novo portão de acesso para facilitar a entrada e
de iluminação natural. saída das crianças, principalmente nas trocas de período e
a construção de duas coberturas de cimento amianto e
estrutura metálica interligando os dois portões de acesso
30 Avaliação técnico-construtiva
principal aos acessos principais do edifício.
30.1 Considerações preliminares O terreno apresenta uma inclinação acentuada, como
Esta etapa da pesquisa avalia os aspectos técnico- toda a região local, e sem praticamente nenhuma presença
construtivos existentes no estudo de caso em questão, não de vegetação. Todo seu perímetro é murado com alvenaria
somente do ponto de vista da equipe técnica de avaliadores, de bloco de concreto e apresenta sinais de vandalismo,
mas também do ponto de vista dos usuários entrevistados como pichações (ver foto a seguir) e áreas derrubadas para
226
em uma amostra representativa de sua população. Em linhas facilitar o acesso para a área esportiva existente intramuros.
gerais, o edifício encontra-se em boas condições de O acesso dos estudantes, por razões de topografia,
manutenção, inicialmente pelo pouco tempo de uso não apresenta grandes problemas de acessibilidade a
(aproximadamente dois anos) e pela constante intervenção deficientes físicos, porém, alguns detalhes do projeto e da
da administração, que, com verba recebida mensalmente, execução do edifício acabam por dificultar seu uso por
acrescida de pequena contribuição da Associação de Pais pessoas que apresentam alguma limitação de locomoção,
e Mestres (APM), consegue manter a escola e introduzir tais como salas de aulas no segundo pavimento com acesso
melhorias. somente por meio de escadas e a presença de vala para
Trata-se de um edifício de dois pavimentos, cons- captação da água pluvial ao longo de todo o perímetro do
truído segundo o sistema “estrutura independente”, com edifício sem fechamento com grelha. A ausência de

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fechamento nessas valas também causa acúmulo de lixo e da zeladoria, que, na falta de uma família que a ocupasse,
conseqüente entupimento da canalização. Por outro lado, foi totalmente destruída por atos de vandalismo, e no
o acesso para o setor administrativo é feito por meio de momento é um refúgio para drogados. Para acessá-la,
uma extensa escadaria. abriram um buraco no muro lateral. Todos os componentes
possíveis de serem roubados o foram, e a construção é na
verdade um problema a mais a ser considerado pela
diretoria da escola (ver foto a seguir).

Foto 17 – Escadaria de acesso

As áreas livres gramadas apresentam problemas de


drenagem e foram encontrados diversos pontos de acúmulo
de água. Nos períodos de muita chuva, a situação piora,
formando poças de drenagem lenta, segundo a assistente 227
de direção.
Foto 18 - Zeladoria – estado atual
A escola conta ainda com uma quadra poliesportiva,
utilizada nas atividades de educação física. A direção da
escola não faz nenhuma restrição ao uso desse equipamento
30.2 Superestrutura
por parte da população local.
Em termos construtivos, a superestrutura do edifício
Não há estacionamento para professores e fun-
não apresenta problemas de patologias significativas, como
cionários, sendo utilizada para este fim a rua lateral, que,
problemas de deformação no momento da concretagem,
por ser uma rua sem saída, não tem seu fluxo prejudicado.
ou falta de vibrador durante a concretagem e os ninchos
Um aspecto que merece destaque é o estado atual conseqüentes.

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Um caso típico dessa situação é o arremate dos
degraus da escada interna principal. Construtivamente, esse
detalhe foi executado com uma cantoneira metálica
chumbada exatamente na quina do degrau. Ocorre que
esse chumbamento não foi realizado adequadamente e não
houve preocupação maior em garantir que o acabamento
final do piso da escada fosse arrematado perfeitamente
com a cantoneira. O resultado é que a maior parte das
cantoneiras está se soltando, o que pode causar acidentes
com crianças e adultos (ver foto a seguir).
Foto 19 - Pilares e vigas no pátio

A maior deficiência encontrada foi um excesso de


volume de concreto em pilares e vigas em todo o edifício,
considerando o seu porte, sua altura e cargas.
É visível o superdimensionamento da estrutura
traduzido na grande quantidade de pilares-pilotis no pátio
de recreação das crianças, impossibilitando até a realização
de determinadas atividades recreativas. A Foto 19 ilustra
essa condição.

228
30.3 Alvenarias e detalhes técnico-construtivos Foto 20 - Cantoneiras na escada principal

Nota-se que o edifício foi construído sem uma preo-


cupação maior com os detalhes construtivos. Essa caracte-
rística foi encontrada em detalhes de toda ordem, desde o 30.4 Instalações elétricas, hidráulicas, sanitárias
assentamento dos caixilhos até as instalações hidráulicas, e pluviais
elétricas e acabamentos em geral. A falta desses detalhes A avaliação das instalações hidráulicas encontrou
acarretou nos dois únicos anos de uso patologias constru- materiais de péssima qualidade, tais como torneiras, vál-
tivas que, para serem refeitas, gerariam para a escola custos vulas, grelhas e outros. Muitos desses equipamentos foram
adicionais bastante elevados, quando comparados com os arrancados pelos alunos no decorrer do uso e com bastante
custos ocorridos durante a construção. facilidade.

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Um outro aspecto muito importante, que na verdade freqüentes e novamente a presença de buzinotes impro-
é uma deficiência de projeto, é a falta de um ralo para es- visados, para drenar as águas de lavagem dos corredores.
coamento de águas pluviais nos corredores superiores. A
As improvisações em projetos já em si são situações
falta dessa instalação ocasionou uma pequena adaptação
que requerem cuidados na instalação, porém, quando esses
feita pela administração da escola, que improvisou uma
cuidados não são devidamente considerados, a possibi-
instalação aparente externa para possibilitar o escoamento
lidade de ocorrências de patologias futuras é muito grande,
das águas de lavagem (ver foto a seguir). A atual admi-
nistração da escola vem substituindo regularmente diversos como é o caso de uma situação de drenagem de águas de
materiais e equipamentos relativos às instalações hidráulicas lavagem improvisada e sem a devida vedação.
e de esgoto.
30.5 Batentes, portas, guarnições e ferragens
As portas, batentes e guarnições são de baixa quali-
dade e, portanto, mal especificadas para ambientes de uso
intenso, como é o caso das escolas, onde se pode notar
batentes tortos e concebidos com madeiras não totalmente
secas, portas sem o requadramento com madeira maciça
necessária e guarnições mal fixadas. No momento, parte
delas se encontra solta e muitas nem sequer existem.

30.6 Instalações de combate a incêndio


Quanto à proteção contra incêndio, o edifício conta
com hidrantes e extintores situados nas áreas comuns e
229
Foto 21 – Buzinote para escoamento de águas de lavagem dos áreas administrativas, ambos em boas condições de uso.
corredores superiores
· Hidrante – existem três hidrantes distribuídos nos
dois pavimentos da escola.
· Extintores – área administrativa:
Detalhes como a correta vedação de sifões têm acar- Tipo: A
retado problemas de manutenção em banheiros e cozinhas. Carga: 10 litros (OK)
Entre outras deficiências encontradas, existem as Validade: Agosto de 1998
cubas da cozinha, que, por serem de elevadas dimensões, Carga: 4 kg
têm seus componentes soldados, onde ocorrem vazamentos Validade: Agosto de 1998

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30.7 Modificações introduzidas pelos usuários · fechamento da linha de união entre os dois módulos
Considerações preliminares do edifício, por onde escorria água proveniente da
limpeza do segundo pavimento. O mesmo trabalho teve
Não houve transformações significativas na
que ser feito na cobertura;
estrutura física do edifício, porém houve inúmeras
adaptações no uso dos espaços e melhorias nos detalhes · colocação de armários nas bancadas da cozinha;
de acabamento e nas instalações hidráulicas e elétricas. Tais · colocação de cortinas nas janelas das salas de aula
intervenções atendem não somente às necessidades de para diminuir ofuscamento;
adequação dos espaços ao uso, mas também refletem a · colocação de suportes de madeira nas paredes das
tentativa da comunidade da escola em se adaptar à realidade salas de aula para fixação de cartazes, visando à
urbana na qual está inserida. preservação das paredes; e
· troca das fechaduras das portas das salas de aula.
Aspectos construtivos
· Cobertura do acesso (do portão ao edifício), executada Instalações elétricas
em estrutura metálica (pilares e vigas) e telhas de · Troca das fiações;
cimento amianto; · troca das luzes de mercúrio para luzes incandescentes;
· colocação de grades em todas as janelas (térreo e devido ao fácil acesso pelas crianças ao quadro geral
primeiro pavimento). As salas de computadores de energia, houve a necessidade de fechamento com
receberam grades por dentro e por fora; cadeado; e
· colocação de portões de ferro adicionais nos acessos · modificação da instalação elétrica da sala de aula para
do edifício e nos acessos das escadas. O pátio coberto receber os computadores, incluindo o devido ater-
recebeu portão com chapa e grade de aço; ramento das tomadas.
· colocação de corrimão nas escadas;
· colocação de sistema de alarme na sala de compu- 31 Avaliação funcional
230
tadores;
· troca da porta de madeira da sala de computadores O edifício estudado apresenta, do ponto de vista de
por outra de chapa de aço; sua funcionalidade, alguns problemas relacionados à
adequação dos espaços ao uso previsto. Estas dificuldades
· modificação do piso do setor administrativo: de
induziram a direção a promover adaptações para atender a
cimento queimado para piso do tipo vinílico – 180 m2
necessidades específicas.
de piso. Faz parte dos planos da direção a troca de
todos os pisos das salas de aula, pois estes apresentam Já a solução modular do edifício padroniza a
dificuldade na sua conservação (limpeza) e problemas dimensão dos espaços, o que cria dificuldades posteriores
sérios de desgastes e de abertura de sulcos, alguns de de apropriação. Essa apropriação se caracteriza pela
grandes dimensões; improvisação de mobiliário e equipamentos, pela sobre-

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posição de funções em alguns ambientes e pela adaptação ser resumidos em: pouco tempo para seu usufruto, pouco
criativa de espaços para atender a novas funções. espaço, muitos usuários, muitos obstáculos (pilares), poucos
Foi observada a existência de problemas crônicos equipamentos e mobiliários (bancos, cadeiras, mesas) e pou-
ca liberdade (grades e portões).
de subdimensionamento de alguns ambientes difíceis de
ser resolvidos pela rigidez da proposta arquitetônico Já os espaços abertos só são usados no período de
construtiva. A solução para o problema, muitas vezes, leva aula de educação física e são compartilhados com a comu-
à inutilização de outras áreas para atender a uma demanda nidade, que tem autorização de uso em períodos livres.
mais urgente. É o caso da ocupação do vestiário masculino Toda a área livre, excetuando a quadra, não é pavimentada
como área de armazenamento, uma vez que as previstas e apresenta em alguns pontos problemas de acúmulo de
no projeto mostraram-se insuficientes para atender às água. Em todos os grupos focais a questão da área livre
necessidades da escola. mereceu bastante atenção nas discussões dos alunos,
demonstrando haver interesse na ampliação de seu uso.
O espaço destinado à secretaria apresenta-se bem
localizado do ponto de vista de sua relação com o exterior, O edifício não atende aos quesitos de acessibilidade
o que possibilita atendimento mais direto com a da NBR 9050/94 para portadores de deficiência. Por
comunidade, porém também apresenta uma sobreposição exemplo, o acesso ao pavimento superior se dá somente
de funções que lhe é imposta pela necessidade e método por escadas e inexistem sanitários adequados. Também o
usado para o armazenamento de dados, com arquivos que próprio acesso ao edifício da escola, parcial-mente por
congestionam o ambiente. O mobiliário é ergonomicamente escadarias, fica limitado quanto a esse aspecto.
inadequado e as mesas de trabalho são muitas vezes com- Existem irregularidades dimensionais nas escadas
partilhadas. A sala dos professores apresenta-se com os de acesso ao 2o pavimento (alturas dos espelhos e pisos
mesmos problemas de sobreposição, dimensionamento e cimentados), o que é um fator de insegurança contra
adaptação. acidentes (ver foto).
Do ponto de vista da funcionalidade dos equipa- 231
mentos, instalações hidráulicas e elétricas, percebem-se
alguns problemas de qualidade e de localização desses
equipamentos. Por exemplo, a torneira para limpeza do
segundo pavimento está muito exposta e localizada onde
todas as crianças facilmente têm acesso.
Os espaços destinados ao tempo livre dos estudantes
se limitam ao “galpão” e ao refeitório e apresentam-se
também subdimensionados, fator agravado pelo pouco
tempo livre que os quatro turnos deixam para cada período Foto 22 – Escada de acesso ao 2º pavimento
e pela não-ocupação da área livre externa. Assim, podem

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Na parte externa do edifício, as canaletas para · transformação do almoxarifado do pavimento superior
escoamento de águas pluviais não estão fechadas, o que em sala para armazenamento de material pedagógico,
permite o acúmulo de lixo e riscos de acidentes. utilizada também como sala de aula de reforço;
· colocação de um sistema de som com caixas de música
31.1 Relação das modificações no edifício para no pátio;
uso mais adequado
· colocação de grades em todas as janelas (térreo e
· Abertura de um novo portão de acesso para os alunos, primeiro pavimento). As salas que possuem
ao lado do existente, objetivando a agilização do computadores receberam grades por dentro e por fora;
processo de entrada e saída dos alunos. Como a escola
funciona em quatro turnos, o período disponível para · colocação de portões de ferro adicionais nos acessos
a circulação de estudantes nas trocas de turnos é muito do edifício e nos acessos das escadas. O pátio coberto
curto, o que justifica a intervenção; recebeu portão com chapa e grade de aço;

· cobertura do acesso (do portão ao edifício), executada · colocação de corrimão nas escadas (previstas no
em estrutura metálica (pilares e vigas) e telhas de projeto executivo original);
cimento amianto; · modificação do piso do setor administrativo: de
· transformação da sala de aula em sala para compu- cimento queimado para “paviflex” - 180 m2 de piso;
tadores (receberam por doação 17 microcomputadores · fechamento da linha de união entre os dois módulos
Compaq e impressora). Todas as séries terão acesso a do edifício, por onde escorria água proveniente da
essas aulas. Essa atividade foi apontada como limpeza do segundo pavimento. O mesmo trabalho teve
preferencial pelos alunos entrevistados; que ser feito na cobertura;
232 · colocação de sistema de alarme na sala de com- · colocação de armários nas bancadas da cozinha;
putadores;
· colocação de cortinas nas janelas das salas de aula
· troca da porta de madeira da sala de computadores para diminuir o ofuscamento;
por outra de chapa de aço;
· colocação de suportes de madeira nas paredes das
· transformação da sala de aula prática em sala multiuso salas de aula para fixação de cartazes – preservar as
(leitura, projeção, vídeo, TV e sala de reuniões com pais paredes; e
e professores);
· troca das fechaduras das portas das salas de aula.
· transformação da cantina e dependências em copa para
os professores;

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233

Figura 58 – Planta baixa – pavimento térreo – ocupação

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31.2 Indicadores gerais utilizados para avaliação técnico-funcional
Comparando-se alguns indicadores gerais básicos da escola em estudo com aqueles obtidos em APO realizada
entre 1993 e 1995 em 24 escolas públicas de 1° e 2° Graus da Grande São Paulo (ORNSTEIN, 1997), tem-se o que se
segue.

Tabela 63 - Indicadores gerais básicos

Verifica-se, pelo quadro acima, que a escola objeto usuários em função de suas necessidades.
de estudo é um pouco menor em número de alunos e de Entende-se que a escola, à época do levantamento,
234 professores do que a média das 24 escolas objeto de APO atendia da 1a à 8a séries do 1° Grau, ou tal como é classi-
anterior. Também, comparativamente, verifica-se que nessa ficada na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, da classe
escola cada professor deve atender a um grupo maior de de alfabetização (CA) à 4 a série, dos 6 aos 11 anos de idade,
alunos do que nas outras 24, mas, do ponto de vista do e da 5 a à 8 a série, dos 11 aos 15 anos de idade (PCRJ/SMP;
atendimento administrativo e dos serviços gerais, na escola CPU, 1996).
em estudo cada funcionário atende a um número menor
Fica definido, para efeito de comparação com alguns
do que nas outras 24 escolas.
indicadores municipais (Cidade do Rio de Janeiro) e estadu-
Análise dimensional dos ambientes da escola ais (Estado de São Paulo), como análise dimensional dos
Para efeito de análise dimensional, foram conside- principais ambientes componentes da escola, que em cada
rados os usos atuais por ambiente determinados pelos turno existem cerca de oito turmas (uma por sala de aula).

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235

Tabela 64 (Continua)

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236

Tabela 64 - Análise dimensional comparativa entre os ambientes da escola estudo de caso e as referências da CONESP/FDE e da PCRJ/IBAM

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Resultados da análise dimensional critérios da FDE/CONESP, mas muito aquém das
Da análise dimensional comparativa entre os dimensões propostas pela PCRJ/IBAM. Na vistoria
ambientes da escola em estudo com as diretrizes referenciais técnica efetuada, observou-se que o espaço disponível
utilizadas, pode-se concluir os pontos a seguir. é muito limitado em períodos de trabalhos em equipe
Administração/Direção e/ou atividades simultâneas;
No caso do conjunto administração/direção: · a coordenação do ciclo básico tem ambiente com
· a secretaria está superdimensionada em relação aos dimensões superiores àquelas previstas pela CONESP/
critérios da CONESP/FDE e da PCRJ/IBAM; FDE e pela PCRJ/IBAM; e
· a diretoria está aquém dos critérios da CONESP/ · os sanitários administrativos têm dimensões com-
FDE e da PCRJ/IBAM; patíveis com os critérios da CONESP/FDE e da PCRJ/
· o almoxarifado está aquém dos critérios determinados IBAM.
pela CONESP/FDE, mas é muito superior ao proposto Ambientes críticos
pela PCRJ/IBAM. Verifica-se dificuldade com relação Nesta avaliação, observou-se que o almoxarifado e
a esse ambiente, haja vista a adaptação do vestiário de a sala de professores são espaços que apresentam os maio-
funcionários para essa finalidade; res problemas em relação à sua funcionalidade, princi-
· a sala de professores está em concordância com os palmente no que diz respeito aos seus dimensionamentos.

237

Foto 23 – Sala adaptada para funcionar como CPD (o projeto


original previa seu uso como sala da direção) Foto 24 – Sala de professores

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Vivência - a cantina e a sua despensa, considerando ser destinada
No que respeita ao conjunto vivência, verifica-se que: somente a docentes, têm áreas além daquelas
- galpão/recreio coberto tem dimensões muito aquém determinadas pela CONESP/FDE e pela PCRJ/IBAM;
dos critérios determinados pela CONESP/FDE e pela - centro cívico/grêmio tem área compatível com os
PCRJ/IBAM; critérios da CONESP/FDE e um pouco aquém daquela
- refeitório tem dimensões compatíveis com os critérios proposta pela PCRJ/IBAM;
da CONESP/FDE, mas está aquém do proposto pela - os sanitários para alunos estão aquém das áreas
PCRJ/IBAM; propostas pela CONESP/FDE, destacando-se a
inexistência de sanitário/boxes adaptados a portadores
de deficiência;
- depósito de material de educação física tem área aquém
daquela prevista pela CONESP/FDE e pela PCRJ/
IBAM; e
- os vestiários para alunos têm dimensões compatíveis
com os critérios determinados pela CONESP/FDE.
Ambientes críticos
No setor de vivência os ambientes que apresentaram
situações mais críticas foram o recreio coberto, sanitários
para alunos e depósito para material de educação física.
Serviços Gerais
No que diz respeito ao conjunto de serviços gerais,
238 verifica-se que:
- a cozinha tem área compatível com os critérios da
CONESP/FDE e está um pouco aquém daqueles
determinados pela PCRJ/IBAM;
- a despensa da cozinha tem área compatível com as
propostas da CONESP/FDE e da PCRJ/IBAM;
- o sanitário/vestiário de funcionários tem área
compatível com os critérios da FDE/CONESP, mas
Fotos 25 e 26 – Recreio coberto e refeitório em uso durante está muito aquém da proposta pela PCRJ/IBAM,
intervalo de recreio
destacando-se que foi transformado em depósito;

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Foto 27 - Vista interna da cozinha. Toda merenda é preparada Foto 28 – Sala para biblioteca, leitura, TV e vídeo, espaço
neste ambiente projetado para laboratório (aula prática)

- o depósito de material de limpeza tem área muito - a sala de informática tem área muito aquém dos crité-
além daquela prevista pela CONESP/FDE e pela rios estipulados pela PCRJ/IBAM;
PCRJ/IBAM. - a sala multiuso (educação artística) tem área aquém
Ambientes críticos daquela prevista pela CONESP/FDE, e é um pouco
superior em relação aos critérios da PCRJ/IBAM, po-
Os ambientes que apresentam os maiores problemas
rém foi transformada em sala de aula comum;
de dimensionamento neste setor são os sanitários/vestiário
- a sala para atendimento especial (SAE) tem área muito
de funcionários.
aquém daquela estipulada pela PCRJ/IBAM;
Setor Pedagógico 239
- a sala para biblioteca, leitura, TV e vídeo tem área
No que diz respeito ao conjunto pedagógico, muito aquém da estipulada pela CONESP/FDE e pela
verifica-se que: PCRJ/IBAM, denotando forte sobreposição de
- a sala de aula comum tem área compatível com aquela atividades; e
prevista pela CONESP/FDE, mas está um pouco - o almoxarifado para material pedagógico tem área
aquém daquela estipulada pela PCRJ/IBAM; muito aquém daquela estipulada pela PCRJ/IBAM,
além de existir no local sobreposição de tarefas.
- a sala de aula prática tem área compatível com os
critérios da CONESP/FDE e PCRJ/IBAM, porém foi Ambientes críticos
transformada em sala multiuso (para leitura, vídeo, A sala de aula prática (laboratório), sala multiuso
reuniões); para educação artística, sala para atendimento a portadores

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de deficiência e sala para informática apresentam problemas Direção;
com sobreposição de funções. · a mudança de uso da sala de aulas práticas (contem-
plando, inclusive, instalações para o ensino em labo-
31.3 Conclusões da avaliação técnico-funcional ratório de ciências) para uma de multiuso, com a incom-
patibilidade entre arquivo/acervo de biblioteca, local
· Constata-se que, em termos dimensionais, o edifício
para leitura exibição de vídeos e reuniões, bem como a
que abriga a EMPG Professora Anna Silveira Pedreira
não atende ao programa arquitetônico básico para sua transformação da sala para atividades artísticas em sala
finalidade, com ênfase no caso do conjunto “fim” de aula comum, denota possível (1) superocupação da
pedagógico; escola e (2) a não-implantação plena do programa
arquitetônico adequado a tal finalidade;
· as vistorias técnicas realizadas e os registros foto-
· os depósitos e almoxarifados, via de regra, estão sub-
gráficos indicam densidade de ocupação elevada em
dimensionados e mal localizados no edifício; no caso
alguns dos turnos, sobretudo no que diz respeito à
utilização do recreio coberto e do refeitório; dos diversos tipos de salas de aula, os almoxarifados de
materiais pedagógicos pertinentes deveriam estar anexos
· existe depredação e vandalismo nos muros externos,
a elas;
fachadas e equipamentos internos do edifício e seu
· todos os sanitários estão localizados no 1° pavimento
entorno;
e, portanto, não atendem adequadamente ao conjunto
· a acessibilidade a portadores de deficiência é pra-
pedagógico, que se situa inteiramente no 2° pavimento;
ticamente inexistente, pois os acessos principais são em
· são inexistentes estacionamentos para professores e
desnível. São no 2° pavimento com acesso exclusivo
visitantes e o tratamento paisagístico.
por escadas e, além deste, a SAE existente situa-se no
1° pavimento, junto à Administração, implicando
possível segregação no que diz respeito ao convívio 31.4 Aferição da satisfação dos usuários do
240 Conjunto Habitacional Jardim São Luís quanto
com os demais alunos; não existem sanitários especiais.
ao equipamento escolar
Em suma, não há o atendimento à NBR 9050/94;
· a casa do zelador está desativada, bastante vandalizada As considerações aqui colocadas estão baseadas na
e está situada em local distante do acesso/portaria para análise dos resultados dos questionários aplicados em
entrada de alunos, reduzindo em muito, caso a figura amostra representativa de moradores dos apartamentos do
do zelador existisse, a possibilidade efetiva de vigilância; Conjunto Habitacional Jardim São Luís quanto ao
equipamento escolar e outros itens relacionados.
· no 1° pavimento, as áreas destinadas ao “galpão” (re-
creio) coberto e ao refeitório se confundem e interferem No caso de moradores IR, foi atribuída a média
na circulação (limitada por uma série de pilares) entre 2,49 para a satisfação dos moradores respondentes quanto
os conjuntos Serviços Gerais e a Administração/ ao equipamento escolar, ou seja, ligeiramente inferior ao

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mínimo aceitável (2,50). Porém, constata-se, em relação à Em síntese, constata-se que os respondentes IR
média mencionada, certa dispersão dos resultados (desvio foram ligeiramente mais críticos no que diz respeito ao
padrão (DP) igual a 0,79, e moda com tendência positiva, equipamento escolar e a aspectos a ele relacionados, como
igual a 3). Já no caso dos moradores OF, média (3,15) e convivência social em faixas etárias específicas ou no caso
moda (3) se equivalem, com um DP menor (0,69), o que de usuários especiais, portadores de deficiência. De fato, a
denota satisfação muito maior destes respondentes análise técnico-funcional anterior demonstra que a rigidez
comparativamente aos IR, possivelmente devido à do programa funcional da escola contribuiu para o
submoradia anterior, bem como sua vizinhança e desequilíbrio das relações “ambiente construído versus
equipamentos não apresentarem, comparativamente, comportamento humano”.
condições mínimas de habitabilidade. Também se verifica que tanto os respondentes IR
No que diz respeito à convivência social no con- como os OF (média igual a 2,31 e moda igual a 3, ou seja,
junto habitacional, para portadores de deficiências, jovens com dispersão de resultados) apresentam certos níveis de
e crianças, verifica-se grande insatisfação, tanto no caso insatisfação quanto ao item “segurança no conjunto”.
dos respondentes IR (médias entre 1,13 e 1,24, portanto Tal situação é reforçada com as respostas ao bloco
tendendo ao “péssimo”), como no caso dos OF (médias 10 do questionário, no qual tanto para os respondentes IR
entre 1,20 e 1,96), embora exista dispersão dos resultados como para aqueles OF o aspecto “segurança contra assaltos
(DP) ligeiramente superior entre os respondentes OF. e roubos” mereceu a 1a posição em ordem de importância
As questões relativas à segurança no conjunto para a qualidade de vida no conjunto.
obtiveram, no caso dos respondentes IR, respostas de O equipamento escolar, via de regra, deveria se
tendência bastante negativa (média 1,88 e moda 2) e, no configurar em um equipamento de coesão comunitária,
caso dos respondentes OF, a média apresentou indicadores em que convivência e segurança caminhassem juntas. Esse
de insatisfação (2,31), mas a moda igual a 3 sugere certa quadro não se configura no geral, portanto cabe à direção 241
dispersão das respostas (ou seja, não ocorreu consenso). da escola, aos pais, aos professores e aos moradores do
Nota-se, ainda, que no caso do bloco 10 do ques- conjunto em geral a incumbência de sistematicamente
tionário, em que se solicitou ao respondente a hierar- concientizar os alunos.
quização por ordem de importância de dez aspectos vin- Verificou-se que o equipamento escolar objeto da
culados à qualidade de vida no conjunto, tanto no caso APO está bastante vandalizado (pichações, depredações,
dos respondentes OF quanto no caso daqueles IR, atribuiu- etc.), apesar de sua ocupação ser relativamente recente.
se grande importância ao tópico “facilidade de acesso ao Observou-se também que foram colocadas grades em todos
comércio escolas e posto de saúde” (respectivamente 2a e os caixilhos, o que sugere grande insegurança, talvez
3a posições). refletindo os elevados índices de criminalidade no bairro.

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31.5 Análise dos resultados da verificação da adequação de mais de uma quadra esportiva e de um
satisfação dos estudantes quanto aos aspectos playground;
funcionais obtidos através dos grupos focais
· necessidade de novo layout do refeitório, incluindo
Considerando-se os comentários dos alunos e a
mobilitário, separado da circulação central do 1°
avaliação do assistente, podem-se depreender dos resultados
pavimento e do recreio coberto;
dos quatro grupos focais aplicados (ver anexo a este
· necessidade de novo layout para o recreio coberto com
relatório) os seguintes resultados/diagnósticos de tendência
ampliação deste visando atender adequadamente à
negativa mais relacionados ao ambiente/equipamento
intensa demanda;
escolar:
· necessidade de inclusão de biblioteca com acervo e
· ausência de manutenção periódica, atrelada à elevada sala para leitura, separados da sala para TV e vídeo;
vandalização;
· necessidade de ampliação da sala de informática e da
· necessidade de revisão de aspectos de segurança contra
quantidade de microcomputadores;
crimes, como altura de muros externos, eliminação de
· necessidade de compatibilização funcional com as
casa de zelador e substituição por guarita próxima a
condições de conforto ambiental, sobretudo no caso
acesso;
do refeitório, recreios cobertos e descobertos quanto
· dificuldades de acesso à escola, devido a escadarias;
às condições térmicas e acústicas.
canaletas coletoras de águas pluviais sem proteção
superior, implicando insegurança contra acidentes;
· necessidade de novo layout de área externa visando à 31.6 Aferição da satisfação dos funcionários e
professores quanto aos aspectos funcionais com
base na aplicação dos questionários
Foram aplicados questionários aos funcionários e
242 aos professores. Os questionários não foram aplicados
diretamente pelos pesquisadores, mas sim foi solicitado à
Direção que os encaminhasse aos usuários. Ocorreu uma
devolução de aproximadamente 40% dos formulários
enviados, sendo 18 provenientes dos funcionários
administrativos e professores e apenas cinco do modelo
encaminhado aos funcionários de serviços gerais. Devido
ao número limitado de devoluções, não atingindo a amostra
mínima desejável de 30, foi feita uma breve análise de
Foto 29 – Atual recreio descoberto com uma única quadra alguns aspectos do questionário, proveniente do retorno
esportiva
dos 18 respondentes, a saber:

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(a) a grande maioria das respostas tem tendência po- subáreas do conforto ambiental podem ser aparentemente
sitiva, ou satisfatória, apesar da avaliação técnica, das conflitantes quando se faz uma análise superficial do pro-
entrevistas e dos grupos focais apontarem sérias blema.
deficiências funcionais. Por exemplo, chama a atenção
Do ponto de vista térmico, o critério fundamental
que 78% desses respondentes indicam a segurança
para a insolação/orientação dos edifícios escolares é exata-
contra roubos como de desempenho satisfatório,
mente evitar ao máximo a radiação solar (W/m2*h) nas
quando se constata uma grande quantidade de grades
aberturas nos períodos mais quentes do ano (para São Paulo,
em caixilhos;
entre meados de outubro e de abril) e propiciar essa inso-
(b) alguns poucos aspectos apresentam tendências
lação nos períodos mais frios (para São Paulo, na outra
negativas ou desempenhos insatisfatórios do ponto de
metade do ano). Porém, mesmo para essa época mais fria
vista dos respondentes. Como exemplo, cita-se o caso
do ano recomenda-se evitar a insolação entre 11h e 14h.
da acessibilidade aos deficientes, em que 55% dos
respondentes indicaram o valor “bom”, e 39%, “pés- O critério fundamental para a insolação/orientação
simo ou ruim”; dos edifícios escolares, considerando-se o aspecto lumínico,
(c) as respostas pouco conclusivas não reduziram a é exatamente evitar a todo custo a incidência de radiação
confiabilidade dos resultados, devido à utilização de solar direta no plano de trabalho, independentemente da
multimétodos e técnicas de avaliação; e época do ano em questão.
(d) conclui-se ainda que em ambientes com multiplos Essa contradição – o conforto térmico necessitando
usuários, inclusive em termos de faixa etária, os grupos de insolação direta em parte do ano e a iluminação natural
focais podem ser uma boa alternativa e possibilitar prescindindo dela durante todo o ano – é aparente, pois,
resultados ágeis e qualitativos. do ponto de vista do projeto, pode-se facilmente satisfazer
ambos os critérios sem grandes problemas.
No tocante à ventilação natural, o princípio de 243
32 Avaliação do conforto ambiental
implantação da escola é simples: captar em seus ambientes
32.1 Determinação dos critérios de desempenho principais os ventos predominantes para o período mais
– insolação/orientação quente do ano (no caso de São Paulo, sudeste) e evitar os
ventos predominantes para o período frio (para São Paulo,
A determinação dos critérios de desempenho
também sudeste). Isso já leva a uma característica fun-
relativos à insolação e à orientação, no caso específico de
damental das aberturas, que é a de serem reguláveis pelo
escolas, tem de ser feita com base em todas as variáveis do
usuário e de terem boa estanquidade.
conforto ambiental – o conforto térmico, a iluminação
natural, a acústica e a ventilação natural. Como se verá Do ponto de vista acústico, o princípio de implanta-
mais adiante, os critérios fixados por cada uma dessas ção da escola seria o de evitar os ruídos predominantes

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das vias de tráfego urbano para acessá-la. Como se verá para as orientações 96º e 276º. Daí já se infere a primeira
mais adiante, esse não é um problema para a escola EMPG conclusão: a escola foi implantada no terreno com uma
Professora Anna Silveira Pedreira, pois as vias de circulação orientação não muito favorável, pois a fachada oeste, tendo
próximas a ela têm um fluxo de tráfego reduzido, sem obrigatoriamente aberturas, acarreta desconforto térmico
produzir grandes solicitações acústicas. no período mais crítico do ano, que é exatamente a época
mais quente. A fachada leste tem insolação bastante favo-
32.2 Avaliação técnica - insolação rável devido ao sombreamento proporcionado pelo beiral
A escola em estudo apresenta a mesma implantação de 0,90 m para coleta de águas. Seu efeito de mascaramento
que os blocos de apartamentos do Conjunto Habitacional é exatamente o necessário para tirar o excesso de sol entre
Jardim São Luís, ou seja, as duas fachadas maiores voltadas 9h30 e 12h, no período mais quente do ano.

Foto 30 – Fachada 276º

244

Foto 31 – Janela sala de aula com beiral

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Para a fachada oeste, o beiral, que possui as mesmas térmicos de excesso de calor, mas somente os lumí-
dimensões da fachada leste, tem uma eficiência ainda nicos de incidência de sol direto no plano de trabalho.
menor, pois para aquela fachada seu desenho deveria ser
vertical e nunca horizontal. 32.3 Determinação dos critérios de desempenho
A não-resolução mais adequada dos problemas de - iluminação natural
insolação advindos da orientação escolhida para a escola Os critérios para avaliação luminotécnica, tanto do
resulta na adoção, por parte do usuário, de vários elementos ponto de vista da iluminação natural como da artificial,
de controle. são vários e interdependentes. Primeiramente, precisa-se
Todos os ambientes da escola apresentam elementos estabelecer uma classificação das tarefas visuais realizadas
de controle da radiação solar direta nas janelas (cortinas, nos diversos espaços da escola. A norma brasileira NBR
persianas) colocados pelos usuários. No caso da sala de 5413 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
computadores dos alunos, a cortina escolhida foi mais (ABNT), que recomenda os níveis mínimos de iluminâncias
escura ainda. O motivo é óbvio: nesse local, a possibilidade (lux), parte inicialmente de uma classificação geral das
de ofuscamento nas telas dos computadores é muito maior; tarefas visuais.
além disso, trata-se de um tipo de ofuscamento bastante A norma diz que os valores apresentados são para
incômodo para o usuário. classes de tarefas visuais e que para a determinação dos
valores de iluminâncias específicas é necessário considerar
quatro fatores: (1) o tempo de realização, (2) a precisão da
tarefa, (3) a idade de quem a realiza e (4) a refletância do
fundo da tarefa, ou seja, uma relação de contrastes.
A partir daí, a norma especifica os valores como
mínimos para diferentes atividades, como, por exemplo,
245
300 lux para a iluminação geral em escolas. Porém, esse
valor somente é válido para condições ótimas em todos os
sentidos, o que significa que 300 lux somente é aplicado
em escolas para crianças e adolescentes. Existe um grande
Figuras 59 e 60 – Carta solar para as fachadas 276º e 96º,
respectivamente
número de escolas para outras finalidades (por ex.: escolas
profissionais, cuja iluminância mínima pode ser
substancialmente superior).
As figuras anteriores apresentam as cartas solares
para a fachada leste (96º) e para a oeste (276º), com os Os valores que a NBR 5413 especifica, no caso de
períodos de insolação correspondentes. A adoção dos escolas, para cada um de seus diferentes espaços são os
elementos de controle internos não resolve os problemas seguintes:

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- salas de aula ___________________________ 300 atividades de classe A de tarefa visual. Dessa forma, pode-
- quadros-negros _________________________ 500 se definir os valores mínimos dos Coeficientes de Luz
- salas de trabalhos manuais ________________ 300 Diurna (CLD) que seriam necessários para cumprir os
- laboratórios valores acima determinados.
geral _______________________________ 200 Como a própria norma deixa claro, os níveis de ilu-
local ________________________________ 500 minâncias (lux) não seriam o único critério de desempenho.
- anfiteatros e auditórios Ter-se-ia ainda mais dois requisitos importantes para as
platéia ______________________________ 220 atividades da escola:
tribuna ______________________________ 500 - a distribuição dos níveis de iluminância pelos planos
- sala de desenho_________________________ 500 de trabalho, ou seja, a uniformidade; e
- salão de reuniões _______________________ 200 - a não-ocorrência de ofuscamento no plano de trabalho.
- sala de educação física ___________________ 150 A uniformidade poderia ser definida como a relação
- costuras e atividades semelhantes ___________ 500 entre iluminância mínima por iluminância média. Esta
- artes culinárias _________________________ 200 deveria ser de, no mínimo, 0,5.
O que se pode perceber por meio desses dados é No caso específico do ofuscamento, sua principal
que a totalidade das tarefas executadas na escola enquadra- causa em ambientes de trabalho é a incidência de sol direto
se nas classes de tarefas visuais, definidas como A e B, ou no plano de trabalho. Portanto, para as atividades de apoio
seja, tarefas mais grosseiras do ponto de vista da acuidade (administrativas e pedagógicas) e para as de ensino (salas
visual37, tais como circulação, depósitos, despensa, sanitá- de aula, laboratórios, salas de informática, biblioteca), a
rios, etc. Entre essas tarefas, há aquelas que podem ser não-incidência de sol direto é requisito absolutamente
definidos como atividades-fim – as atividades pedagógicas fundamental.
246 (laboratórios, biblioteca, salas de aula, de informática, de Cabe lembrar que o requisito ofuscamento pode ser
leitura, etc.) – e há as consideradas atividades-meio – admi- causado também pela visão das fontes de iluminação
nistração, salas dos professores, salas de reunião. artificial dentro do campo de visão e também por reflexões
Toma-se como critério de desempenho lumi- indesejáveis – principalmente na lousa, em mesas e carteiras
notécnico os valores de 300 lux como mínimo e 500 lux e em telas de computadores. Nesse caso, o tratamento direto
como ideal para todas as atividades de trabalho (de ensino, do controle do ofuscamento deverá se dar nas luminárias
pedagógicas e administrativas), e 150 para as demais (tipologia, quantidade e posição) e na escolha de materiais

36
Definida como a capacidade do olho humano de fixar com precisão e nitidez os objetos. Trata-se da habilidade de ver detalhes.

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de acabamento (foscos e não reflexivos). elementos de proteção da radiação solar já mencionados.
Além disso, há uma perda de luz pelas grades de segurança
Avaliação técnica – Iluminação natural
colocadas em todas as janelas.
Para o referido estudo de caso, analisam-se
individualmente os três critérios luminotécnicos
estabelecidos previamente, a saber:
- os níveis mínimos de iluminância no plano de trabalho;
- a uniformidade; e
- a não-ocorrência de ofuscamento.
Níveis mínimos de iluminância e uniformidade
Foi feita a verificação desses níveis para os ambien-
tes padrão de sala de aula do projeto em questão. O método
de avaliação adotado foi o software de simulação Daylight.
Para essa simulação foram adotadas as seguintes
condições: ambiente sem obstrução externa, a não ser a
Foto 32 – Iluminação sala de aula
projeção do beiral, cores – teto claro, paredes médias, piso
escuro –, perdas de 20% por manutenção, altura do plano
de trabalho igual a 75 cm e vidro transparente.
Foram feitas medições de iluminação natural a título
comparativo. Infelizmente, os dados foram perdidos.
Como se pode observar nos resultados acima, os
níveis de iluminância só são adequados até uma distância
247
de aproximadamente 3 m da janela. E isso era esperado,
uma vez que uma das principais características da
iluminação natural unilateral é exatamente a diminuição
muito rápida da eficiência luminosa com a distância da
janela. A uniformidade também não é satisfatória, visto
que, obviamente, ela depende dos valores anteriores.
Apresenta um valor de referência de 0,38, insuficiente para
a atividade em questão.
Foto 33 – Iluminação e ventilação da sala de aula minimizadas
A iluminação natural fica ainda mais prejudicada pelo efeito de cortinas e persianas
do que os resultados demonstram, devido ao uso dos

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Ofuscamento Para avaliação e recomendações do presente tra-
Esse fator é avaliado pela metodologia da carta solar. balho, são considerados esses parâmetros.
Tanto para as salas de aula quanto para os demais ambientes Caracterização das fontes externas e internas de ruído
de trabalho voltados para as orientações 96º e 276 º existe
O objetivo desta análise é determinar o nível de ruído
entrada de sol direta no plano de trabalho.
do entorno imediato à escola, a partir das fontes mais
significativas de ruído: as vias de tráfego que contornam o
32.4 Determinação dos critérios de desempenho terreno e as fontes ruidosas (às vezes não tão próximas),
– acústica tais como as vias de tráfego pesado, as vias férreas e os ae-
O objetivo da acústica arquitetônica é proporcionar roportos. O conceito dado à análise do entorno vai depen-
o melhor desempenho de qualquer tarefa, eliminando der do nível de ruído externo à edificação em estudo.
eventuais incômodos causados pelo som. Portanto, o grau Teoricamente, as vias de tráfego podem ser clas-
de conforto acústico está ligado ao nível de ruído interno, sificadas como se segue.
que varia à medida que o nível de exigência da atividade
exercida também varia.
A norma brasileira NBR 10152, da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), estabelece níveis
de ruído interno máximo aceitável, que são tomados como
requisito básico para o desempenho acústico da escola
EMPG Professora Anna Silveira Pedreira e para as
recomendações para as escolas em geral.
Tabela 65 - Níveis sonoros para tráfego urbano
O nível de ruído interno a um local é composto em
parte do ruído externo que é transmitido pela envolvente
248 Salienta-se que a inclinação da via de tráfego
(paredes e coberturas) e também pelo ruído que é produzido
internamente ao edifício. Portanto, a obtenção do nível de aumenta os níveis sonoros em aproximadamente 3 dB(A),
ruído interno máximo depende dos seguintes fatores: assim como as condições ruins de pavimentação das vias e
também a presença de obstáculos para controle de
1. caracterização das fontes externas e internas de ruído;
velocidade (tartarugas e lombadas).
2. posicionamento do edifício (e dos ambientes) em
relação às fontes internas e externas de ruído; Avaliação técnica – acústica
3. redução do nível de ruído externo através do poder No que se refere à implantação do edifício no seu
de isolamento da envolvente; aspecto acústico, a avaliação da escola EMPG Professora
4. redução do nível de ruído através do poder de Anna Silveira Pedreira é satisfatória, pois o entorno a ela é
absorção dos materiais de acabamento. relativamente tranqüilo. Um dos aspectos negativos é o de

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que a escola não possui estacionamento próprio, obrigando Esse aspecto, em princípio considerado negativo do
professores e funcionários a deixarem seus veículos no ponto de vista da acústica, é amenizado devido ao fato de
entorno imediato ao terreno (Foto 34). a escola estar localizada em um nível mais baixo (Foto 35)
que o da rua. Dessa maneira, os ruídos passam por cima
do edifício sem causar grandes desconfortos a seus usuários.
Para avaliação desse aspecto, quando foi analisado
o Conjunto Habitacional Jardim São Luís, realizou-se
levantamento dos níveis de ruído em 14 dos seus pontos.
O ponto 8 relevado está próximo ao acesso principal da
escola e apresenta os seguintes resultados, conforme tabela
abaixo.

Foto 34 – Estacionamento na rua de acesso à escola

249

Foto 35 – Implantação da escola em cota mais baixa que a rua


Tabela 66 - Medição de ruído externo

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Como se pode notar pelos resultados apresentados, solução é muito boa, do ponto de vista acústico traz enorme
os níveis de ruídos externos relevados são bastante baixos. fragilidade em termos de isolamento entre as salas e o cor-
redor, e também entre salas paralelas. Outras observações
Do ponto de vista do desempenho acústico no
constam no item de ventilação.
interior da escola, o primeiro aspecto negativo apontado é
a posição relativa da quadra de esportes em comparação Foi feita uma medição exatamente para essa
às salas de aula, diretoria e secretarias. A quadra de esportes condição mais crítica, porém infelizmente os dados foram
está na direção predominante dos ventos, o que agrava o perdidos. O que se pode relatar pela sensação do profis-
desconforto acústico dos locais de trabalho e aumenta a sional responsável pela medição é exatamente a perfeita
distração das pessoas. audição dos ruídos entre as salas.
No que se refere ao aspecto construtivo, a solução Outro aspecto importante do projeto no que se refere
acústica é adequada, pois a alvenaria de bloco de concreto à acústica é o partido arquitetônico de se colocar o pátio
nos fornece valores de isolamento acústico na ordem de de recreio internamente ao edifício. Ele obviamente se torna
30 dB(A), os quais são bastante razoáveis. O critério de grande fonte de ruído quando as crianças estão sem aula.
desempenho referencial para esta análise é, obviamente, Os ambientes mais afetados são os do andar térreo, o que
considerar os níveis de ruído máximo aceitáveis para os se pode comprovar pela enorme reverberação causada por
ambientes. Na escola, os parâmetros são dados pelas salas superfícies totalmente refletoras (piso, paredes e teto). Os
de aula – 42 db(A) – e pelos locais administrativos – 55 ambientes superiores também são afetados, porém em
dB(A), valores constantes da norma brasileira NBR 10152 menor escala.
da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Pelos dados apresentados para a escola EMPG
A relação entre os níveis externos e internos Professora Anna Silveira Pedreira, poder-se-ia ter cumprido
máximos aceitáveis é o que dá o critério de desempenho ambos os requisitos – acústica e ventilação – caso alguns
da envoltória do edifício. No que concerne à parte opaca, pequenos cuidados tivessem sido tomados, tais como uma
250 outra posição para a quadra de esportes e a ventilação
ve-se que os ruídos externos são relativamente baixos. O
problema maior fica por conta da quadra de esportes, onde cruzada das salas de aula para o exterior.
esses níveis podem facilmente alcançar 85 dB(A). No tipo
de clima local, existe a constante contraposição entre 32.5 Determinação dos critérios de desempenho
acústica e ventilação natural, a primeira pedindo para fechar – ventilação
as aberturas, a segunda exigindo o oposto. A avaliação da ventilação natural tem de ser feita
Outro aspecto bastante negativo no tocante ao fator com base em três aspectos distintos:
acústica é a ventilação cruzada nas salas de aula, que ocorre 1º a tipologia volumétrica/arquitetônica dos edifícios;
por meio de elementos vazados (na realidade, blocos 2º a implantação urbana; e
cerâmicos furados). Se do ponto de vista da ventilação essa 3º as dimensões, posições e tipologia das aberturas.

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Segue-se a avaliação básica desses tópicos.
1º A tipologia volumétrica/arquitetônica do edifício
O maior problema relacionado à ventilação natural
do edifício da escola EMPG Professora Anna Silveira
Pedreira diz respeito exatamente à tipologia arquitetônica
adotada. Essa tipologia, em um único edifício com
ambientes voltados para as fachadas principais e com um
corredor central de distribuição, faz que os ambientes
voltados para o azimute 96º recebam os ventos
predominantes que têm direção sudeste tanto no verão
quanto no inverno (para São Paulo). Por conseqüência, os
ambientes opostos, voltados para o azimute 276º ficam
em zona de sucção ou de baixa pressão causada pela lâmina
da fachada 96º e têm sua ventilação natural comprometida.
2º A implantação urbana
Toda implantação urbana, analisada em confor-
midade com a ventilação natural, tem de ser equacionada
através de duas variáveis básicas de projeto:
a) localização das fachadas que contêm as aberturas
em relação à direção predominante do vento; e
b) distanciamento dos edifícios entre si.
Do ponto de vista da primeira variável, o projeto da
escola em questão é bom, pois o eixo longitudinal dos 251
edifícios está praticamente perpendicular à direção dos
ventos.
Já no tocante à segunda variável, a implantação da
escola não apresenta nenhum problema, pois se encontra
em terreno bastante amplo e sem obstruções aos ventos
predominantes.
3º Dimensão e Tipologia das Aberturas
Fotos 36 e 37 – Ventilação e iluminação do corredor central
As tipologias das aberturas são ilustradas nas fotos andar superior (esq.) e do depósito ao lado da diretoria
a seguir.

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252

Fotos 38 e 39 – Ventilação e iluminação da sala do Fotos 40 e 41 – Ventilação e iluminação da secretaria e da


coordenador – ciclo básico (andar inferior) diretoria (esq.) e sanitários masculinos (dir.)

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total falta de isolamento acústico entre todos os ambientes.
Esse problema poderia ter sido facilmente corrigido
caso se rebaixasse um pouco o corredor e se abrissem as
ventilações cruzadas das salas para o lado externo.

32.6 Determinação dos critérios de desempenho


– conforto térmico
Avaliação térmica global - um recorte metodológico
A avaliação térmica global de um edifício dá-se por
meio da determinação de ganhos e perdas térmicos, de
Foto 42- Iluminação e ventilação da sala de aula
acordo com um princípio denominado “balanço térmico”.
Ganhos térmicos
O primeiro passo para a análise do desempenho
térmico global de um edifício é o levantamento da quan-
As aberturas para todos os ambientes da escola são
tidade de radiação recebida pela sua envolvente, em watt/
do tipo basculante, com três fileiras móveis para cada uma
m2*h. Essa análise está, portanto, diretamente ligada à
fixa. As áreas de aberturas (de vão) são generosas, porém
orientação, para cada uma das fachadas e cobertura.
as áreas efetivas de ventilação ficam prejudicadas pela
tipologia das janelas (somente em torno de 20%). A O segundo passo para a análise térmica é o levan-
ventilação natural fica ainda mais prejudicada pelos tamento das áreas, volumes, ocupantes, carga térmica
elementos de segurança (grades) colocados em todas as formada pela iluminação artificial e outras fontes de calor
253
janelas e também pelos elementos de controle da radiação internas e, principalmente, das características térmicas das
solar e iluminação (cortinas e persianas). diferentes soluções construtivas do edifício em questão,
para as diferentes fachadas e cobertura.
Tanto as salas de aula quanto outros ambientes têm
ventilação cruzada – aspecto extremamente positivo, O terceiro passo é o cálculo das cargas térmicas
levando-se em consideração o conforto ambiental. O transmitidas para o interior do edifício, também pelas
problema maior nesse caso foi que não se pensou tal diferentes fachadas e cobertura, considerando-se aqui a
ventilação associada à questão acústica. Isso fica mais diversidade das soluções construtivas e a diferenciação entre
evidente e crítico nas salas de aula onde a ventilação as partes opacas e transparentes.
superior abre para o corredor. Isso, obviamente, causa uma Em termos gerais, pode-se dividir os ganhos

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térmicos em: Fachadas opacas
- insolação: fachadas e coberturas; Em geral, para as edificações escolares, as paredes
opacas, no caso específico analisado – alvenaria em bloco
- ocupação;
de concreto com espessura externa total de 15 cm –, contri-
- equipamentos; buem pouco para o ganho térmico total dos ambientes,
- iluminação artificial. visto que os pontos frágeis, no que diz respeito à térmica,
são as áreas transparentes e a cobertura.
No caso da escola em questão, a principal variável
em termos de ganhos térmicos é a primeira, ou seja, a Foram estimados valores médios para R e K de 0,34
insolação, já avaliada neste trabalho. Em segundo lugar m2ºC/W e 2,9 W/m2ºC, respectivamente, para as paredes
externas. Esses valores são aceitáveis devido à espessura
vem a ocupação.
do bloco e das câmaras de ar.
Perdas térmicas
Avaliação térmica para coberturas
As perdas térmicas são duas: (1) pela envolvente da
A importância da solução dada à cobertura é funda-
edificação, por meio de partes opacas e transparentes e, mental para edifícios, principalmente em climas tropicais
principalmente, (2) através da ventilação natural, que é como o brasileiro, em que a quantidade de calor recebida é
abordada separadamente neste trabalho. excessivamente grande, sendo normalmente responsável
Perdas e ganhos térmicos se contrabalançam, for- pela maior carga térmica que penetra nos recintos.
necendo as condições de conforto ou desconforto, depen- Para os ambientes do segundo andar da escola, a
dendo de cada caso e de qual das duas parcelas for maior. solução da cobertura vai ser a definidora entre um bom ou
mau desempenho térmico, ou seja, entre desconforto e
Avaliação térmica pelas fachadas
conforto ambiental.
254 Esta avaliação foi dividida em duas situações: (1)
A Figura 61 apresenta as características térmicas da
fachadas transparentes e (2) fachadas opacas.
solução construtiva da cobertura e também a qualificação
Fachadas transparentes de seu desempenho.
Em termos gerais, do ponto de vista do conforto O critério de desempenho térmico adotado para a
térmico, todos os ambientes com orientação 276º vão avaliação das coberturas é :
apresentar um aquecimento indesejado na época mais crítica Timax - ti < 6 ºC,
(verão), a menos que apresentem elementos de controle da onde T imax = temperatura interna máxima da
radiação solar que possibilitem a ventilação natural. Os superfície da cobertura,
ambientes da fachada 96º denotam situação favorável. ti = temperatura interna do ar.

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255

Figura 61 – Características e desempenho da cobertura

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33 Recomendações embutido (aletas) para os ambientes onde houver
computador;
33.1 Insolação
3. uniformidade na distribuição dos níveis de
Recomenda-se a adoção de elementos de controle iluminância; Umínima = 0,5.
para 276º, os quais teriam como objetivo maior controlar
Para a escola, esses critérios valem para todos os
a carga térmica incidente nos períodos mais quentes do
ambientes de ensino e apoio pedagógico e também para os
ano. Isso seria possível com a adoção de elementos
administrativos, nos quais as atividades de “leitura” e
acoplados à platibanda ou à própria fachada do edifício,
“escrita” são características fundamentais. Para os demais
ou, então, com vegetação cuidadosamente escolhida para
locais, só vale o primeiro dos critérios elencados com um
tal fim.
nível de iluminância no ponto mais desfavorável de 150
lux.
33.2 Iluminação natural
As recomendações relativas à iluminação natural
A iluminação natural adotou três critérios de
para os diversos espaços da escola são apresentadas na
desempenho:
tabela a seguir e referem-se aos valores mínimos e ideais
1. níveis mínimos de iluminância para cada atividade
dos Coeficientes de Luz Diurna (CLD) para os pontos
(estabelecidos pela NB 5413 da ABNT) – mínimos 300
mais desfavoráveis do local.
lux, ideal 500 lux durante 70% do tempo para todos os
períodos do ano, minimizando o uso da iluminação O Coeficiente de Luz Diurna (CLD) é definido
artificial e, portanto, contribuindo para a diminuição como a proporção de luz natural que chega a um
do consumo de energia elétrica; determinado ponto do ambiente em relação ao total de luz
natural disponível no exterior do edifício.
· adoção de sistema de iluminação específico para
256
quadro-negro (lousas) com nível de iluminância no Deve-se levar em consideração os valores
plano vertical de, no mínimo, 300 lux; apresentados por Scarazzato (1995) referentes às 26 capitais
2. não-ofuscamento nos planos de trabalho: do país e ao Distrito Federal. Aqui são também incluídos
· não-incidência de sol direto para as atividades visuais o Dia Típico de Projeto e as condições de céu.
de acuidade média (leitura, escrita, etc.); Procedimento
· não-adoção de materiais de acabamento polidos e Adotar:
reflexivos para paredes e móveis, principalmente as · para ambientes de apoio (sanitários, depósitos e
carteiras dos alunos e as mesas de trabalho; almoxarifados, circulação, pátios de recreação);
· adoção de luminárias com controle de ofuscamento · para ambientes de ensino, apoio pedagógico e

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administrativo (salas de aula, sala dos professores, Quanto ao questionário dos funcionários de serviços
biblioteca, sala de leitura, sala de computadores, diretoria gerais, as perguntas foram em número de cinco: (1) o que
e secretaria). você acha da temperatura da cozinha no verão?; (2) o que
você acha da temperatura da cozinha no inverno?; (3) o
Considerações sobre os resultados da avaliação da
que você acha da ventilação da cozinha no verão?; (4) o
satisfação dos usuários
que você acha da ventilação da cozinha no inverno?; (5) o
No questionário aplicado à diretoria e aos que você acha da iluminação natural da cozinha? Para
funcionários administrativos e professores, perguntava-se nenhuma das questões houve resposta negativa. No caso
na questão 15 como é o barulho no local principal de da cozinha – face oeste – há os problemas de insolação já
trabalho deles. Dos respondentes, apontados. Tanto isso é verdade que foi colocada uma
- 13,3% consideraram o barulho ruim ou péssimo; cortina no local. Nesse aspecto, a avaliação técnica não
referenda os resultados dos usuários (em número muito
- 86,7% consideraram-no bom ou ótimo.
reduzido).
Essa tendência de resultado positivo denota o
constatado na análise técnica – a acústica da escola não é
34 Conclusões
crítica, tendo um entorno tranqüilo e sem grandes
problemas internos. Ao serem observardos os prédios públicos escolares,
uma das primeiras questões que vêm à mente é: por que
Na 16ª pergunta, avaliou-se de onde vem o barulho
esses prédios sofrem tanta adaptação e depredação por
que perturba esses profissionais. Os resultados apre-
parte de seus usuários?
sentados foram os seguintes:
É muito difícil responder a essa questão sem antes
- 20% dos respondentes disseram que o barulho vem
proceder a uma análise desses prédios dentro do contexto 257
dos corredores; histórico em que foram concebidos.
- 33,3%, do pátio interno;
Se se considerarem os aspectos construtivos e de
- 26,7%, da quadra; e
conforto ambiental para os prédios escolares originalmente
- 0,07%, do trânsito
projetados para essa função, pode-se verificar que as
Os resultados demonstram também o apontado na premissas básicas de conforto ambiental e obra, entendidas
análise técnica – a possibilidade de corredores (que na como necessárias à época de sua concepção e construção,
realidade é barulho inter–salas de aula), do pátio interno e geralmente são respeitadas. Esse fato se deve à concepção
da quadra se tornarem fontes perturbadoras do ponto de desses prédios por engenheiros e arquitetos, os quais, para
vista acústico. a elaboração do projeto arquitetônico, partem das premissas

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de atendimento ao programa arquitetônico e da formulação laboratórios, biblioteca e anfiteatro.
do espaço construído através da utilização de conceitos de A Lei Federal 5.692/71 transformou a rede existente
conforto ambiental e definição de sistema construtivo. Vale de escolas públicas em “escolas de primeiro grau” (EEPG)
a pena ressaltar que os prédios escolares, no início da e “escolas de primeiro e segundo grau” (EEPSG, também
construção escolar brasileira, representavam o ideário conhecida como colegial), promovendo a necessidade de
republicano de combate ao analfabetismo e eram utilizados
sua reestruturação física. Para tanto, alguns prédios foram
como marcos de uma nova era. Para projetá-los, arquitetos
fechados, e outros foram ampliados e/ou adequados para
de renome eram contratados pelos órgãos executores.
o recebimento da “escola única”. A partir dessa data, os
Anteriormente à era republicana, os prédios novos prédios escolares, dependendo da capacidade de salas
escolares geralmente funcionavam em casas adaptadas para de aula, passaram a ser construídos com todos os ambientes
escolas. considerados indispensáveis ao aprendizado dos alunos:
sala de aula, biblioteca e sala para aula prática (que substituía
No que se refere aos ambientes escolares, no caso
os laboratórios). Os anfiteatros deixaram de ser construídos,
do Estado de São Paulo, é possível verificar que a partir da
e um novo ambiente foi incorporado ao programa
década de 60, havia correlação com as diretrizes
arquitetônico – o grêmio escolar.
pedagógicas de vanguarda, as necessidades econômicas do
momento e o exigido pelo código de edificações, em Vinte e três anos depois, em 1995, no Estado de
especial o código sanitário. São Paulo, a implantação da Lei Estadual 40.473/95
transformou novamente a rede pública de ensino.
O prédio escolar, no entanto, durante sua trajetória
de evolução, sofreu uma particularidade que merece ser Iniciou-se, então, a reorganização da rede escolar,
destacada. com a finalidade de converter, gradativamente, os prédios
258 escolares em escolas específicas de 1ª a 4ª série, de 5ª a 8 ª
Até 1970, a rede de escolas públicas funcionava em
série e ensino médio.
três prédios distintos: (1) o grupo escolar, que atendia da
1ª à 4ª série do ensino primário; (2) o ginásio, que atendia É possível imaginar o impacto causado por essas
da 1ª à 4ª série do ginasial; e (3) o ensino secundário, que duas ações na rede física de escolas, uma vez que cada
se subdividia em normal e científico. nível de ensino, em princípio, possui necessidades espaciais
diferentes.
O prédio que abrigava o ensino primário era
composto basicamente por salas de aula e por uma reduzida A implantação da Lei Federal de 1971 implicou a
administração. Já os prédios que abrigavam o ensino ginasial necessidade de adequação dos edifícios da rede escolar do
e o secundário dispunham de ambientes especiais, tais como Estado de São Paulo às demandas de flexibilidade espacial

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exigidas pelas correntes pedagógicas existentes. Um dos pressupostos educacionais parte do
princípio de que uma parcela do conhecimento se deve ao
Nesse sentido, várias experiências foram realizadas
acesso à informação. Como hoje esse acesso é possível a
com a finalidade de encontrar um sistema construtivo
um número muito maior de pessoas, devido à sua
adequado à expansão e adequação da rede física escolar
disponibilização pelos veículos de comunicação, é possível
quando fosse necessário. Nessa ocasião, também foi dada
pressupor que o conhecimento se processa da mesma forma
ênfase à especificação de ambientes e materiais visando ao
que a informação, ou seja, sem censura, simultâneo,
oferecimento de suporte adequado ao desenvolvimento da
instantâneo, não seqüencial e não lógico.
atividade pedagógica.
Como a informação fornecida pelos veículos de
No Estado de São Paulo, essas experiências foram
comunicação também é muito mais atraente para a criança
realizadas a partir da criação de órgãos específicos para
e para o adulto, devido aos seus apelos sonoros e visuais,
construção escolar: Fundo Estadual de Construções
as pessoas freqüentemente preferem ver TV ou conectar-
Escolares37 (FECE) (1960), Companhia de Construção
se à Internet em vez de ir para uma escola onde o professor
Escolar do Estado de São Paulo (CONESP) (1976) e
fala uma porção de coisas abstratas, e, quando julga
Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE)
necessário dar exemplos ou explicações para um
(1987).
determinado assunto, este se utiliza de giz e quadro-negro
A “flexibilidade” do prédio e dos ambientes de (que hoje é verde).
alguns prédios projetados por esses órgãos ajudou muito
Há que se destacar que essas duas atividades (ver
na adequação da rede física escolar, em 1995. Porém,
TV e conectar-se à Internet) são essencialmente individuais,
atualmente, além da necessidade de adequação dos prédios
provocando o isolamento das pessoas.
públicos escolares à distribuição da demanda de estudantes
259
em três tipos de prédios e da constatação da desaceleração Assim, com a finalidade de orientar a criança e o
da expansão urbana, um novo paradigma educacional causa adulto dentro dessa nova realidade, algumas correntes
impacto na construção e adequação dos prédios escolares. pedagógicas evidenciam dois pontos básicos a serem

37
A partir de 1966, esse órgão começou a realizar construções escolares. Inicialmente, cuidava apenas das verbas para as construções escolares e de sua
viabilização técnica (planejamento e projeto do edifício). A construção efetiva dos prédios era realizada pelo Departamento de Obras Públicas (DOP) e pelo
Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (IPESP).

APO - Equipamento comunitário - Escola


trabalhados pela escola: Dessa forma, há uma necessidade premente de
revisão das especificações dos ambientes e materiais
· adequação de seus métodos à mesma linguagem
escolares para suprir essa necessidade educacional. Essa
fornecida pelos meios de comunicação, ou seja, utilizar
revisão também deverá levar em conta que os espaços
na educação equipamentos eletrônicos, tais como
escolares necessitam receber o ensino presencial e a
computadores, vídeos, capacetes de realidade virtual,
distância e, quando possível, ser acessível à comunidade
etc.; e
do bairro em que se localiza devido à também premente
· procurar incentivar a participação comunitária e as
necessidade da sociedade moderna de suprir-se de uma
relações sociais dos indivíduos através de atividades
educação permanente e de socialização.
que exijam a socialização, como, por exemplo, o
incentivo aos esportes de grupo. Diante disso, questiona-se: quais são as reais
necessidades físicas da nova proposta pedagógica? Em que
Essas correntes defendem ainda que, na nova escola,
medida ela altera a lógica do principal ambiente do prédio
a finalidade básica do professor é a de agir como mobili-
escolar, hoje entendido como a sala de aula? Se é constatada
zador da dinâmica do conhecimento vivido e formal e de
a necessidade de mudança física dessa lógica, quando ela
transmitir ao aluno autonomia, cidadania e ética. Dessa
deverá ocorrer?
forma, cabe ao professor agir como orientador e não como
meramente transmissor de conhecimento. Para tanto, cria- Ao se considerar a experiência das escolas públicas
se a necessidade de um professor pesquisador, sem paulistas, é possível acreditar que a mudança física do prédio
conhecimento específico, sendo sua função localizar a escolar deva acompanhar a mudança da escola, entendida
dúvida do aluno e orientá-lo na maneira de encontrar a como prática de ensino.
solução para essa dúvida. Ao se analisarem os prédios escolares desenvolvidos
260
A tendência da nova escola é não priorizar tanto a pelo FECE, CONESP e FDE, é possível verificar sua
apropriação dos conteúdos, mas evidenciar o processo de coerência com o preconizado pelo movimento da escola
aquisição do conhecimento e suas finalidades. nova, que já concebia o ensino como busca de
conhecimento. Nesses prédios, pode-se constatar a
Assim, o prédio escolar e seus equipamentos
disponibilidade de áreas livres para a formação de jardins
deveriam ser ricos em informação e fornecer suporte
e áreas de recreio, bem como ambientes para aulas práticas
adequado a professores e alunos, às possibilidades de
e associações de alunos.
conhecimento do que o homem já produziu e do que poderá
produzir a fim de propiciar a transformação do conhecido Ao se analisar a ocupação desses mesmos prédios,
em um novo conhecimento. é possível verificar as “adaptações” realizadas pelos

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professores que os utilizam, como o fechamento das áreas
livres e a não-utilização dos ambientes de aula prática e a
associação de alunos, entre outros.

Conclui-se que os professores que fornecem as


diretrizes de ocupação do prédio trabalhavam e por vezes
ainda trabalham sob a ótica do método tradicional de ensino,
que é pautada na transmissão do conhecimento fornecido
por aulas expositivas e na disciplina do aluno (este deve
permanecer quase imóvel para haver controle).

Nesse contexto, levanta-se a seguinte questão:


· não seria a metodologia de ensino uma das
responsáveis pela depredação de prédios escolares?

261

APO - Equipamento comunitário - Escola


VIII.
35 Sobre a pesquisa

36 Sobre a experiência interdisciplinar

37 Dos métodos e técnicas utilizados

38 Sobre os resultados e suas formas de apresentação

262

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


VIII.
Considerações sobre os
procedimentos metodológicos adotados

35 Sobre a pesquisa

E
sta foi a mais longa e completa pesquisa na área de Avaliação Pós-Ocupação (APO) já realizada

pelo Grupo de APO do NUTAU nos seus 19 anos de vivência no assunto na Universidade de

São Paulo. Nesse aspecto, o auxílio da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), por meio 263

de recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), foi de fundamental importância para o

avanço das pesquisas nessa área tão importante e envolvente, e que já se encontra consolidada no Brasil. A

pesquisa abriu uma série de novas possibilidades, entre as quais se destacam as de novas parcerias com

agentes da administração pública e a continuação de formação de um banco de dados interativo sobre o

assunto, já iniciado no CD – Jardim São Luís.

Considerações sobre os procedimentos metodológicos adotados


36 Sobre a experiência interdisciplinar de baixa renda, avaliação essa realizada com profundidade
pela primeira vez nesta pesquisa.
Da mesma forma que esta pesquisa teve um caráter
inovador em termos de dimensão e, conseqüentemente,
da diversidade de especificidades envolvidas, reforçou 37. Dos métodos e técnicas utilizados
também a importância da interdisciplinaridade temática e
do envolvimento de docentes das mais variadas áreas que A APO é um conjunto de métodos e técnicas que
compõem o arcabouço metodológico da Avaliação Pós- são utilizados e combinados de acordo com os objetivos
Ocupação (APO). Cada um dos aspectos e temas abordados de cada pesquisa e também dos recursos humanos e
contou com a participação de um pesquisador sênior financeiros envolvidos. Esse conjunto de abordagens é
responsável e com sua equipe técnica, que por sua vez definido, via de regra, na etapa de programação do trabalho,
produziu relatórios específicos e pontuais. embora em alguns casos determinadas inserções
metodológicas possam ser feitas durante a etapa de
A interdisciplinaridade também se fez presente na
desenvolvimento. Na presente pesquisa, apenas uma
troca de informações entre os diversos especialistas durante
inserção metodológica foi feita e refere-se à introdução da
os seus processos de avaliação. Nesse aspecto ressalta-se a técnica conhecida como “GRUPO FOCAL” como um dos
integração ocorrida entre a avaliação técnico-econômica e instrumentos utilizados na avaliação da satisfação dos
as demais áreas (construtiva, funcional, de conforto usuários da escola.
ambiental e de instalações de combate a incêndio), uma
vez que todas as intervenções propostas foram avaliadas e A seguir, encontra-se relacionado um elenco dos
balizadas em parâmetros econômicos. Essa relação métodos e técnicas utilizados na pesquisa, com suas
biunívoca mostrou-se eficaz e será adotada doravante como respectivas descrições, vantagens, desvantagens e os
um pressuposto metodológico importante em futuras resultados de sua aplicação.
pesquisas na área de APO.
264 37.1 Medidas para a aferição do desempenho
Também ocorreu troca de informações entre essa
físico
equipe técnica e a do CDHU, promotora do
empreendimento/estudo de caso. Tal troca gerou a Trata-se de um conjunto de medidas realizadas
realização de seminário ocorrido na sede da CDHU, na interna e externamente ao estudo de caso, dependendo dos
cidade de São Paulo, onde os coordenadores de cada uma objetivos da pesquisa. Por meio dessas medidas são
das áreas da pesquisa puderam apresentar as suas verificados os parâmetros a seguir.
conclusões sobre a pesquisa até aquele momento. Já como Níveis de iluminâncias externas, iluminâncias
um dos produtos desta profícua parceria, destaca-se o internas, Coeficiente de Luz Diurna (CLD) – Essas medidas
interesse do CDHU nas análises e conclusões da avaliação são realizadas com luxímetros digitais ou analógicos,
econômica em conjuntos habitacionais para populações devidamente aferidos com aparelhos padrão.

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Níveis de pressão sonora externa e interna – Essas fissuras, goteiras, vazamentos, recalques, umidades, bolor
medidas são realizadas com decibelímetros devidamente e patologias existentes em qualquer sistema ou componente
aferidos com aparelhos padrão. de construção. Tais observações, análises e avaliações são
Temperaturas de bulbo seco, bulbo úmido, feitas por especialistas das diversas áreas que compõem a
temperatura radiante, umidade relativa do ar e velocidade construção civil e podem ser realizadas detalhadamente,
do ar – Essas medidas são realizadas com termômetros, incluindo-se também análises de projeto ou de forma
anemômetros ou data-logers eletrônicos. expedita, chamada walkthrough, quando o cronograma para
a execução da pesquisa é curto.
Medições físicas de ambientes com trenas eletrônicas
ou trenas manuais. Vantagens
· Propiciam baixo custo e rapidez para o walkthrough e
Medições de correntes elétricas e tensões – Essas
alta confiabilidade para a avaliação detalhada.
medidas são realizadas com multímetros devidamente
aferidos com aparelhos padrão. Desvantagens
· Não há.
Vantagens
· Confirmam ou não os pontos de vista dos usuários e Utilização na pesquisa
as leituras de projeto. Nesta pesquisa utilizaram-se ambas as técnicas, a
saber: avaliação detalhada do conjunto habitacional, que
Desvantagens
contou com a participação de diversos especialistas e
· Alguns dados são medidos pontualmente e exige-se
avaliação do tipo walkthrough na escola.
atenção na interpretação de seus resultados para
compará-los com dados de projeto e com avaliação dos
usuários. 37.3 Questionários
· Acarretam trabalho na tabulação dos dados e possi- Descrição
265
bilidade de descalibração ou avaria dos equipamentos. É o método mais comumente utilizado para se
Utilização na pesquisa obterem informações sobre comportamentos, atributos e
atitudes de usuários de ambientes construídos.
Nesta pesquisa, utilizaram-se luxímetros, decibe-
límetros, trenas e multímetros analógicos. Vantagens
· Podem ser aplicados pessoalmente, pelo telefone, pelo
37.2 Observações, análises e avaliações do correio ou pela internet.
desempenho físico · Podem ser organizados por categoria de usuário, o
Descrição que facilita a análise dos resultados.
Avaliação a olho nu, para verificação de trincas, · Possibilitam rápida aplicação e tabulação, que devem

Considerações sobre os procedimentos metodológicos adotados


ser feitas em pacotes estatísticos computacionais. manutenção, encarregados, diretores, vice-diretores, entre
· Quando a quantidade de questionários está estatis- outros, além do diretor e do vice-diretor, no caso da escola.
ticamente calculada, os dados resultantes da tabulação Seus resultados são somente qualitativos.
representam a totalidade do universo em questão, sendo,
Vantagens
portanto, um instrumento bastante confiável.
· Auxiliam na elaboração dos questionários e nas análises
Desvantagens dos especialistas, pois corroboram com uma série de
· Exigem conhecimento especializado para a sua informações de domínio dessas pessoas-chave que, via
confecção e aplicação. de regra, não fazem parte dos questionários.
· Não podem ser aplicados a crianças e pessoas muito · Proporcionam rapidez e confiabilidade.
idosas.
Desvantagens
· Não devem ser aplicados a amostras que sejam
inferiores a 30 pessoas. · Não resultam em indicadores quantitativos.
· Demandam um prazo maior de aplicação, devido à
Utilização na pesquisa
dificuldade de se agendarem horários com essas
Nesta pesquisa utilizou-se a técnica de aplicação de pessoas-chave mencionadas e à própria duração das
questionários nos edifícios de apartamentos, na escola e entrevistas.
nos espaços exteriores (três formulários distintos). Nos
edifícios, a sua aplicação cumpriu satisfatoriamente os Utilização na pesquisa
objetivos, com amostras bastante superiores ao número Nesta pesquisa utilizou-se com muito sucesso a
mínimo e com resultados contundentes. Na escola, técnica das entrevistas específicas, tanto nos edifícios
entretanto, a devolução não atingiu o número mínimo de residenciais, com síndicos e líderes comunitários, como na
30 usuários e, dessa forma, os resultados não puderam ser escola, com a diretora e com o assistente de direção. Em
extrapolados com confiabilidade para o universo de todas as oportunidades, as informações obtidas foram
266 usuários. No caso dos espaços exteriores, a utilização de somadas a um cabedal de informações já existentes e que
questionários, associada a outros métodos e técnicas de conjuntamente puderam refletir com confiabilidade as
observação e de coleta de dados, contribuiu bastante para circunstâncias de satisfação, uso e ocupação dos ambientes
uma análise ambiental quantitativa e qualitativa e para a construídos avaliados.
formulação de propostas para melhoria desses espaços.
37.5 Mapas comportamentais
37.4 Entrevistas específicas Descrição
Descrição Identificam atividades e comportamentos padrão
São entrevistas realizadas com pessoas-chave do que se repetem no tempo e no espaço. Podem ser aplicados
local, como líderes comunitários, síndicos, gerentes de em ambientes internos e externos.

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Vantagens · Permitem a criação de um banco de dados, com
· Extremamente úteis para a compreensão das relações registros estáticos sobre diversos aspectos físicos e
entre ambiente e comportamento de áreas livres de comportamentais
conjuntos habitacionais, praças, hall de edifícios, hotéis Desvantagens
e locais com grande concentração de usuários e ativi-
· São estáticos no tempo e documentam apenas um
dades distintas. Os mapas comportamentais fornecem,
registro temporal de cada vez.
portanto, um retrato dos diversos tipos de compor-
tamentos e suas freqüências. Utilização na pesquisa
Nesta pesquisa utilizaram-se registros fotográficos
Desvantagens
nas avaliações físicas dos blocos de apartamentos, na escola-
· Dependendo da profundidade da pesquisa, exigem a
equipamento comunitário e nas cenas comportamentais
permanência prolongada dos avaliadores – dias, sema-
externas, auxiliando na análise e no desenho dos mapas
nas e até meses – no local que está sendo objeto da
comportamentais.
avaliação, pois as verificações são documentadas em
intervalos de tempo regulares.
37.7 Registros em videoteipe
Utilização na pesquisa
Nesta pesquisa, os mapas comportamentais foram Descrição
utilizados nas áreas livres do conjunto e auxiliaram na Os registros em videoteipe são extremamente úteis
compreensão das diversas atividades realizadas por crianças e versáteis, pois permitem a produção de um banco de
e adultos no decorrer do dia, nas ruas, áreas de estaciona- dados de imagens para posterior análise por técnicos e
mento e áreas verdes. especialistas.
Vantagens
37.6 Registros fotográficos · Permitem documentar imagens dinâmicas e 267
Descrição conseqüentes comportamentos com precisão muito
Os registros fotográficos são úteis nas avaliações maior do que a técnica de registro fotográfico, uma vez
de comportamento físico, comportamento dos usuários e que documentam dezenas de seqüências por minuto.
mapas comportamentais, pois permitem posteriores · Podem ser associados a ferramentas computacionais
avaliações depois de o fato ter ocorrido, uma vez que com recursos de multimídia.
“congelam” cenas e acontecimentos. Desvantagens
Vantagens · Apresentam custos mais elevados de equipamentos e
· Propiciam baixo custo, rapidez e confiabilidade no fitas, e exigem técnicos especializados para incorporação
registro. das imagens em ferramentas computacionais.

Considerações sobre os procedimentos metodológicos adotados


Utilização na pesquisa 37.9 Grupos focais
Nesta pesquisa utilizaram-se largamente os recursos Descrição
de registro em videoteipe, não somente na realização do Trata-se de um método de pesquisa e de avaliação
vídeo sobre o estudo de caso em análise, mas também no utilizado para fornecer dados qualitativos e que venham a
banco de dados resultante da pesquisa, que foi parcialmente complementar dados quantitativos obtidos por meio de
transformado em CD e está em condições de ser questionários. Esse método propõe discussões informais
incorporado a outras mídias que venham a ser realizadas porém organizadas sobre um tema específico de integração.
na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Os grupos focais necessitam (1) da figura de um
moderador que formula as questões e conduz a discussão
37.8 Registros em fitas cassete para uma conversa informal e (2) de um assistente para
registrar em gravador as conversas e simultaneamente
Descrição
anotar os resultados. Os grupos focais devem ter entre 6 e
Permitem o registro sonoro de ruídos urbanos e de
12 pessoas como participantes.
ruídos entre unidades habitacionais. Também documentam
outras técnicas de APO, tais como a realização dos grupos Vantagens
focais, as entrevistas específicas e outros métodos e técnicas · Podem oferecer respostas rápidas para perguntas
utilizados na pesquisa. específicas.
· Podem ser utilizados na etapa anterior à realização do
Vantagens
questionário, prestando auxílio como ferramenta de
· Técnica complementar à documentação fotográfica
preparo de uma outra técnica.
que auxilia no registro de conversas longas, tais como
· São ideais para se identificarem formas locais e
as entrevistas específicas qualitativas e/ou os grupos
registros que possibilitem argumentar sobre
focais
268 determinados assuntos.
Desvantagens · Permitem aos participantes que eles demonstrem as
· Exige um tempo maior para transcrever os registros. suas emoções.
· Ajudam a estimular idéias e a descobrir as resistências
Utilização na pesquisa
que podem permanecer escondidas em contatos
Nesta pesquisa foram utilizados os registros em fita
individuais.
cassete nos grupos focais realizados junto aos alunos da
escola. Como técnica de APO, sua aplicação foi muito Desvantagens
importante na análise das diversas conversas e depoimentos · São aplicados a um número restrito de pessoas, no
dos alunos. máximo 12. Para grupos maiores é necessário
estabelecer outros grupos focais.

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· Não fornecem dados quantitativos, somente dados (VHS) com dados sobre o conjunto habitacional, as
qualitativos. etapas metodológicas da pesquisa e os depoimentos de
Aplicação na pesquisa usuários. Esse documentário está à disposição para
consulta na biblioteca da FAUUSP (Cidade Universitá-
Essa técnica aplicada foi utilizada com os estudantes
ria) e à disposição para distribuição na FUPAM.
da escola em análise e em oportunidades distintas, e
demonstrou ser muito interessante na obtenção de (c) CD - O terceiro produto da pesquisa foi a realização
informações verídicas e desprovidas de vieses. Na avaliação de um CD contendo as etapas metodológicas da
da equipe de pesquisa, essa técnica poderia ser aplicada avaliação pós-ocupação e os principais dados levantados
também nos moradores do próprio Conjunto Habitacional, na pesquisa, organizados por área. A realização do CD
respeitando certamente faixas etárias e/ou outras objetivou dois aspectos: (1) documentar os resultados
condicionantes, como, por exemplo, locais de moradia, sexo, da pesquisa; e (2) possibilitar, no futuro, a comparação
etc. Vale ressaltar também que os grupos focais dos resultados desta pesquisa, decorrentes da aplicação
caracterizam técnicas recomendáveis para casos em que as da APO no Conjunto Habitacional Jardim São Luís
amostras representativas são pequenas e quando existe a com resultados de aplicações em outros conjuntos
necessidade de se obterem dados confiáveis em curto prazo. habitacionais. Tal comparação poderia ocorrer a partir
do mesmo procedimento multimídia (fazendo parte do
mesmo banco de dados) e adotando-se também, para
38 Sobre os resultados e suas formas de maior versatilidade, o suporte CD. O CD APO
apresentação Conjunto Habitacional São Luís, contemplando os
procedimentos metodológicos adotados, consta do
No âmbito das formas principais de apresentação e acervo da pesquisa no NUTAU/USP.
de divulgação, a pesquisa desenvolveu produtos
diferenciados e, ao mesmo tempo, complementares entre
si. São eles: 269

(a) relatórios impressos - Os relatórios totalizam sete


volumes. Constam dos acervos FINEP (RJ), CDHU
(SP), e da biblioteca da FAUUSP - Cidade Universitária,
onde estão disponíveis para consulta. Também artigos
completos extraídos desta pesquisa constam de anais
de eventos nas áreas de tecnologia da arquitetura e do
urbanismo e de conforto ambiental promovido
recentemente pelo ANTAC e pelo NUTAU;
(b) vídeo - A pesquisa originou também um vídeo

Considerações sobre os procedimentos metodológicos adotados


270

IX.
Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social
IX.
Bibliografia

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Bibliografia
X.
39 Formulário do questionário definitivo adotado

40 Equipe técnica e áreas de atuação

41 Minicurrículos dos coordenadores/editores

282

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


X.
Anexos

39 Formulário do questionário definitivo adotado

Universidade de São Paulo - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo


Departamento de Tecnologia da Arquitetura - Pós-graduação

Questionário para usuários Ficha nº Data:


Hora - início: Término: 283
Avaliação Pós-Ocupação - Conjuntos Habitacionais Entrevistador:
(Jardim São Luís I) Bloco: Ap.:

Sr (a). Entrevistador(a), antes de iniciar a entrevista, verificar se:


- o usuário não foi entrevistado anteriormente nesta mesma entrevista (inclusive pré-teste);
- é o chefe da família ou representante;
- o usuário reside regularmente no edifício (não temporariamente);
- o usuário mora no apartamento há pelo menos seis meses.

Anexos
Recomendações:
- aplicar o questionário conforme seleção amostral;
- distribuí-lo o mais homogeneamente possível entre homens e mulheres;
- distribuir as entrevistas homogeneamente entre mutirão e empreitada global conforme seleção amostral;
- solicitar ao usuário que responda sempre em relação à situação predominante (ou seja, evitar respostas múltiplas).

Localização do apartamento
Endereço
Croqui
bloco pavimento - localizar o edifício no conjunto
- posição da unidade no pavimento
- orientação
NM
Processo Produtivo: (1) mutirão (2) empreitada global

1. Características do entrevistado
1.1 Sexo:
(1) feminino (2) masculino

1.2 Idade (anos):


(1) até 19 (2) 20-29 (3) 30-39 (4) 40-49 (5) 50-59 (6) 60 ou mais
284
1.3 Escolaridade:
(1) 1º GI (2) 1º GC (3) 2º GI (4) 2º GC (5) 3º GI (6) 3º GC (7) nsa

1.4 Número de ocupantes do apartamento:


(1) 1 (2) 2-3 (3) 4 -5 (4) 6 -7 (5) 8 -9 (6) 10 ou mais

1.5 Composição familiar:


(1) pai/mãe (2) pai/mãe e filhos (3) pai/filhos (4) mãe/filhos (5) família e agregados (6) outros

1.6 Número de pessoas que compõem a família agregada:


(1) 1 (2) 2-3 (3) 4 -5 (4) 6 -7 (5) 8 -9 (6) 10 ou mais

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


1.7 Quantidade de ocupantes por faixa etária:
(1) __ até 6 (2) __ 7 a 13 (3) __ 14 a 21 (4) __ 22 a 45 (5) __ 46 a 65 (6) __ 66 ou mais

1.8 Qual a sua ocupação?_______________________________________________________________

1.9 Renda Familiar (salários mínimos)


(1) até 1 (2) 1-3 (3) 3-5 (4) 5-7 (5) 7-10 (6) mais de 10 (7) outra

1.10 Há quantos meses residem no conjunto?


(1) 6-12 (2) 13-18 (3) 19-24 (4) 25 ou mais

1.11 Local de moradia anterior?


(1) mesma área (2) mesmo bairro (3) outro bairro Qual? __________________

1.12 Qual era o tipo de sua moradia anterior?


(1) favela (2) cortiço (3) casa ou ap. alugado (4) casa própria construída
(5) casa própria convencional (6) outro

1.13 Você considera esta casa em relação a anterior:


(1) pior (2) igual (3) melhor (4) muito melhor (5) por quê?______________________

1.14 Que tipo de transporte você usa para chegar ao trabalho?


(1) ônibus (2) veículo próprio (3) 2 ou + tipos de transporte (4) carona
(5) outro Qual?_________

1.15 Qual a duração média do percurso de sua casa ao trabalho?


(1) até 1/2 h (2) 1/2h a 1h (3) 1h a 1/2h (4) 1/2h a 2h (5) 2 horas ou mais 285

1.16 É mais fácil chegar ao seu local de trabalho hoje ou na situação anterior?
(1) hoje (2) anterior (3) por quê? _____________________ (4) nsa

2. Apartamentos e áreas comuns - adequação ao uso


O que você acha do: ótimo bom ruim péssimo nsa
2.1 tamanho do apartamento? (1) (2) (3) (4) (5)

2.2 tamanho da cozinha? (1) (2) (3) (4) (5)

Anexos
2.3 tamanho do banheiro? (1) (2) (3) (4) (5)

2.4 tamanho da sala? (1) (2) (3) (4) (5)

2.5 tamanho dos dormitórios? (1) (2) (3) (4) (5)

2.6 tamanho da área de serviço? (1) (2) (3) (4) (5)

2.7 da disposição dos cômodos de sua casa? (1) (2) (3) (4) (5)

2.8 espaço para distribuição dos móveis


e utensílios domésticos? (1) (2) (3) (4) (5)

2.9 espaço para abrir e fechar de portas e janelas? (1) (2) (3) (4) (5)

Em qual cômodo você desenvolve Como você classifica esta situação?


as seguintes atividades ótimo bom ruim péssimo nsa

2.10 trabalho extra? 2.10.1 (1) (2) (3) (4) (5)

2.11 passar roupa? 2.11.1 (1) (2) (3) (4) (5)

2.12 estudo e leitura? 2.12.1 (1) (2) (3) (4) (5)

2.13 receber amigos? 2.13.1 (1) (2) (3) (4) (5)

2.14. Você sente falta de espaço para desenvolver alguma atividade na sua casa?
(1) sim (2) não (3) qual? ________________________________
286 2.15 Alguém dorme na sala ou na cozinha na sua casa?
(1) sim (2) não

2.15.1 Se sim, onde?


(1) sala (2) cozinha (3) ambos

3. Segurança
Como você classifica seu apartamento em relação a: ótimo bom ruim péssimo nsa

3.1 segurança contra incêndio? (1) (2) (3) (4) (5)

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


3.2 segurança contra assaltos/roubos e invasões? (1) (2) (3) (4) (5)

Como você classifica seu edifício (áreas comuns) em relação a:


3.3 segurança contra incêndio? (1) (2) (3) (4) (5)

3.4 segurança contra vandalismo? (1) (2) (3) (4) (5)

3.5 segurança contra assaltos/roubos e invasões? (1) (2) (3) (4) (5)

3.6 segurança contra acidentes nas escadas? (1) (2) (3) (4) (5)

3.7 Como você classifica este conjunto


em relação à segurança? (1) (2) (3) (4) (5)

3.8 Como você classifica este bairro em relação


à segurança? (1) (2) (3) (4) (5)

4. Conforto

Como você classifica seu apartamento em relação a: ótimo bom ruim péssimo nsa
4.1 iluminação natural? (1) (2) (3) (4) (5)

4.2 iluminação artificial nas áreas comuns do edifício? (1) (2) (3) (4) (5)

4.3 iluminação artificial nas vias públicas do conjunto? (1) (2) (3) (4) (5) 287
4.4 iluminação artificial nas vias públicas do bairro? (1) (2) (3) (4) (5)

4.5 ventilação na cozinha? (1) (2) (3) (4) (5)

4.6 ventilação no banheiro? (1) (2) (3) (4) (5)

4.7 ventilação na área de serviço? (1) (2) (3) (4) (5)

4.8 ventilação no resto do apartamento? (1) (2) (3) (4) (5)

4.9 Como você considera a temperatura de sua


casa no verão? (1) (2) (3) (4) (5)

Anexos
4.10 Como você considera a temperatura de sua
casa no inverno? (1) (2) (3) (4) (5)

4.11 Você já observou a presença de focos de umidade na sua casa?


(1) sim (2) não (3) onde? _____________
4.12 Você já observou a presença de bolor na sua casa?
(1) sim (2) não (3) onde? _____________

5. Privacidade

Como você classifica seu apartamento em relação a: ótimo bom ruim péssimo nsa

5.1 privacidade entre os moradores dentro


do seu apartamento? (1) (2) (3) (4) (5)
5.2 distância das janelas dos apartamentos vizinhos
em relação à sua privacidade? (1) (2) (3) (4) (5)
5.3 barulho vindo de áreas vizinhas ou externas? (1) (2) (3) (4) (5)
5.3.1 De onde vem o barulho que lhe perturba?
(1) parede (2) piso (3) teto (4) janela (5) rua (6) estacionamento (7) circ. int. (8) área externa (9) outra fonte

288
6. Aparência

Como você considera a aparência: ótimo bom ruim péssimo nsa


6.1 do seu apartamento? (1) (2) (3) (4) (5)
6.2 do seu edifício? (1) (2) (3) (4) (5)
6.3 das áreas comuns livres? (1) (2) (3) (4) (5)

6.4 do centro de convivência? (1) (2) (3) (4) (5)


6.5 do conjunto habitacional? (1) (2) (3) (4) (5)

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


7. Convivência social

Como você qualifica as áreas de convivência e


lazer para ótimo bom ruim péssimo nsa
7.1 as crianças? (1) (2) (3) (4) (5)

7.2 os jovens? (1) (2) (3) (4) (5)

7.3 os adultos? (1) (2) (3) (4) (5)

7.4 os idosos? (1) (2) (3) (4) (5)

7.5 os deficientes físicos? (1) (2) (3) (4) (5)

7.6 Como você qualifica as relações de vizinhança


com os outros moradores do edifício? (1) (2) (3) (4) (5)

8. Características das áreas comuns e de vizinhança

Como você qualifica as seguintes áreas comuns? ótimo bom ruim péssimo nsa

8.1 playground (1) (2) (3) (4) (5)

8.2 jardins (1) (2) (3) (4) (5)

8.3 quadra de esportes (1) (2) (3) (4) (5) 289

8.4 centro de convivência (1) (2) (3) (4) (5)

8.5 estacionamento (1) (2) (3) (4) (5)

Como você qualifica os seguintes serviços?

8.6 escola (1) (2) (3) (4) (5)

8.7 postos de saúde (1) (2) (3) (4) (5)

8.8 creche (1) (2) (3) (4) (5)

Anexos
9. Manutenção, conservação e operação do edifício e das áreas comuns

9.1 Você já observou algum problema no seu apartamento (por ex., inst. elétrica, caixilhos; trincas; etc.)
(1) sim (2) não (3) quais? _______________________ (4) onde? ________________________

Como você qualifica a manutenção, conservação


e operação: ótimo bom ruim péssimo nsa

9.2 das fachadas do edifício? (1) (2) (3) (4) (5)

9.3 dos corredores e escadas? (1) (2) (3) (4) (5)

9.4 das áreas externas comuns? (1) (2) (3) (4) (5)

9.5 da cobertura do edifício? (1) (2) (3) (4) (5)

9.6 da instalação (de água) hidráulica? (1) (2) (3) (4) (5)

9.7 da instalação de esgoto? (1) (2) (3) (4) (5)

9.8 da coleta de águas pluviais? (1) (2) (3) (4) (5)

9.9 da coleta de lixo? (1) (2) (3) (4) (5)

9.10 do abastecimento de gás de cozinha? (1) (2) (3) (4) (5)

290 9.11 Como você qualifica a organização dos


moradores para encaminhamento de melhorias? (1) (2) (3) (4) (5)

9.12 Como você considera o gasto com condomínio? (1) (2) (3) (4) (5)

9.13 Como você considera o gasto com energia elétrica? (1) (2) (3) (4) (5)

9.14 Qual o consumo de sua última conta de luz (kWh)?

9.15 Qual a melhoria mais importante que foi feita no apartamento?


(1) alteração e retirada de paredes (2) rev. paredes (3) piso (4) forro (5) inst. hidrául.
(6) inst. elétr. (7) aberturas (8) nsa (9) por quê? ________________________________

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


10. Qualidade de vida

Considerando as condições de moradia no conjunto habitacional, relacione o que é mais importante no seu ponto
de vista. Enumere os itens abaixo de 1 (o mais importante) a 10 (o menos importante). Antes de decidir, leia ou ouça todas
as alternativas com atenção.

Qualidade da construção e suas instalações (água, esgoto, elétrica) ( )


Temperatura, iluminação, ventilação, nível de ruído do apartamento ( )
Aparência do edifício ( )
Segurança contra assaltos e roubos ( )
Segurança contra incêndio ( )
Facilidade de transporte ao trabalho ( )
Facilidade de estacionamento ( )
Facilidade de acesso ao comércio, escolas e serviços de saúde ( )
Tamanho e disposição dos ambientes no apartamento ( )
Qualidade das áreas externas comuns ( )

11. Você é o primeiro morador? (1) sim (2) não


291

12. Comentários adicionais do entrevistado

agradecemos muito a sua valorosa cooperação

13. Duração da aplicação do questionário (em minutos) ________________________________

Anexos
40 Equipe técnica e áreas de atuação Engenheiro Fulvio Vittorino – IPT
Prof. Dr. Ualfrido Del Carlo
Coordenadores do Projeto FINEP
· APO Aspectos funcionais
Marcelo de Andrade Roméro - Coordenador Prof. Dra. Sheila Walbe Ornstein
Sheila Walbe Ornstein - Vice- Coordenadora
· APO das áreas livres
Profa. Dra. Gilda Collet Bruna
Equipe técnica principal - pesquisadores/
consultores · APO Conforto ambiental
Antero de Oliveira Cruz Arq. Nelson Solano Vianna
Gilda Collet Bruna Colaboradores:
João Roberto Leme Simões Arqta. Ana Helena Guglielmetti
Khaled Ghoubar Arqta. Lúcia F. S. Pirró Dilonardo
Lucia Pirró Dilonardo · Avaliação econômica
Nelson Solano Vianna Prof. Dr. Khaled Ghoubar
Rosária Ono · Estatística
Suzana Pasternak Profa. Dra. Suzana Pasternak
Ualfrido Del Carlo
· Tabulação de dados
Varlete Aparecida Benevente
Arqto. Antero de Oliveira Cruz

292 Equipe técnica e área de atuação · Organização dos volumes


Arqta. Varlete Aparecida Benevente
Grupos específicos
Arqto. Nelson Solano Vianna
· APO Aspectos construtivos Arqta. Lucia Pirró Dilonardo
Prof. Dr. Marcelo de Andrade Roméro
· Alunos de pós-graduação
Prof. Dr. João Roberto Leme Simões
Arqta. Anelis Napoleão Campos Tisovec
Prof. Dr. Vanderley M. John Arqto. Claudio Eduardo Saunorins Bueno
· Segurança contra incêndio Arqta. Cleide Torralbo Unello
Arqta. Dra. Rosária Ono – IPT Arqta. Elisete Fátima Gambardella

Coleção Habitare - Avaliação Pós-Ocupação - Métodos e Técnicas Aplicados à Habitação Social


Arqto. Evaldo Nogueira 41 Minicurrículos dos coordenadores/
Arqto. Fábio Mello editores
Arqto. Irving Montanar Franco
Marcelo de Andrade Roméro, arquiteto pela FAU Brás
Arqto. Isao Watanabe Cubas, mestre, doutor, livre-docente e professor titular pela
Arqto. Ivan Francisco T. Esquivel Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade
Arqta. Jane de Souza Silva de São Paulo - FAUUSP. Coordenador do Grupo de
Disciplinas de Construção do Departamento de Tecnologia
Arqta. Maria Francisca da Silva
da Arquitetura da FAUUSP. Vice-Chefe (1999 a 2002) e
Arqta. Marisa Haddad chefe (2002 a 2004) do Departamento de Tecnologia da
Arqta. Mônica Amaral Piedade Arquitetura da FAUUSP. Coordenador da Área de Gestão
Arqta. Nanci Moreira Ambiental NISAM-USP (Núcleo de Informações em Saúde
Arqta. Rosa Maria Locatelli Kalil Ambiental da Universidade de São Paulo). Pesquisador -
bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Arqta. Roselene de Araújo M. F. Nogueira
Científico e Tecnológico - CNPq.
Arqta. Varlete Aparecida Benevente
e-mail: maromero@usp.br
· Estagiários
Antonio Carlos Pompeo de Camargo Neto Sheila Walbe Ornstein, arquiteta, mestre, doutora, livre-
Denise Satiko Ikeda Ivata docente e professor titular pela Faculdade de Arquitetura
e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAUUSP).
Soraya Rodrigues
Coordenadora das Áreas de Ensino e Pesquisa em
· Secretária da pesquisa Avaliação Pós-Ocupação (APO) na FAUUSP e no Núcleo
Maria Cristina Luchesi de Mello de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo
293
da Universidade de São Paulo (NUTAU/USP). Chefe do
· Secretária para organização do livro Departamento de Tecnologia da Arquitetura da FAUUSP
Silvana Matos Marques Takamatsu (1995 a1998). Foi vice-diretora da FAUUSP no período
de dezembro 1998 a dezembro 2002. Pesquisadora -
bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico - CNPq.
e-mail: sheilawo@usp.br

Anexos
Marcelo de Andrade Roméro, arquiteto pela
FAU Brás Cubas, mestre, doutor, livre-docente e
professor titular pela Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade de São Paulo -
FAUUSP. Coordenador do Grupo de Disciplinas
de Construção do Departamento de Tecnologia
da Arquitetura da FAUUSP. Vice-Chefe (1999 a
2002) e chefe (2002 a 2004) do Departamento
de Tecnologia da Arquitetura da FAUUSP.
Coordenador da Área de Gestão Ambiental
NISAM-USP (Núcleo de Informações em Saúde
Ambiental da Universidade de São Paulo).
Pesquisador - bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq.
e-mail: maromero@usp.br

Sheila Walbe Ornstein, arquiteta, mestre,


doutora, livre-docente e professor titular pela
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade de São Paulo (FAUUSP).
Coordenadora das Áreas de Ensino e Pesquisa
em Avaliação Pós-Ocupação (APO) na FAUUSP e
no Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da
Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo (NUTAU/USP). Chefe do Departamento de
Tecnologia da Arquitetura da FAUUSP (1995
a1998). Foi vice-diretora da FAUUSP no período
de dezembro 1998 a dezembro 2002.
Pesquisadora - bolsista do Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico - CNPq.
e-mail: sheilawo@usp.br
A
partir de um estudo de caso - o Conjunto Habitacional Jardim São Luís, localizado na
região sudoeste de São Paulo - os arquitetos Marcelo de Andrade Roméro e Sheila
Walbe Ornstein apresentam nesta obra técnicas e métodos da Avaliação Pós-
Ocupação (APO). Sem minimizar a importância do desempenho físico, essa tecnologia se
distingue das avaliações convencionais, pois considera fundamental o nível de satisfação dos
usuários. Trata-se de uma metodologia com especial importância para a habitação de interesse
social no Brasil, que nas últimas décadas tem adotado soluções urbanísticas, arquitetônicas e
construtivas repetitivas em larga escala.

O livro documenta como a realização de pesquisas tendo como foco o Jardim São Luís
permitiram a aplicação dos conceitos e dos procedimentos metodológicos da APO,
contribuindo para o aperfeiçoamentos de técnicas pouco empregadas. Com isso, apresenta
parte do trabalho do Núcleo de Pesquisa em Tecnologia da Arquitetura e do Urbanismo e da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo - provavelmente a mais
longa e sistemática experiência de estudo nessa área no país. A partir de um conjunto
organizado de informações passíveis de serem adotadas em outras regiões brasileiras, os
autores esperam colaborar com a transferência da tecnologia e com a capacitação de
consultores e pesquisadores. Para isso, mostram como a Avaliação Pós-Ocupação pode ser um
mecanismo realimentador do controle de qualidade do processo de produção e de uso do
ambiente construído.

Programa de Tecnologia de Habitação HABITARE

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