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DISCIPLINA: PORTUGUÊS INSTRUMENTAL
I – Considere os textos A, B e C
TEXTO A
Quando a violência vira rotina, tendemos a ignorá-la
José Eduardo Agualusa 08/03/2019 - 13:04
Os americanos habituaram-se aos disparates de seu presidente, tolerando nele o que não tolerariam
em outros (...). Terminarmos aceitando o inaceitável
Sábado passado acordei em Nantes, na França, para participar de um festival literário. Passei a manhã
fechado no meu quarto, no hotel, a trabalhar num novo romance. Saí por volta do meio-dia, para
almoçar com uma das voluntárias da organização, Cristiane, uma simpática catarinense radicada em
França. Após o almoço, já no regresso ao hotel, fomos surpreendidos por policiais, todos vestidos de
negro, com escudos e bastões, que corriam na nossa direção. “Não se preocupe”, disse Cristiane,
enquanto me arrastava ao longo de ruelas cada vez mais estreitas: “Todo o sábado tem manifestações
dos coletes amarelos. Esta é a 16ª”.
Acabamos emergindo numa avenida larga, exatamente diante dos manifestantes e dos policiais.
Escutei explosões e vi, a poucos metros, erguerem-se as nuvens de gás lacrimogêneo. Cristiane não
prestou a menor atenção. À nossa volta havia casais se beijando e doces velhinhas passeando os
cachorros. Nenhum deles se voltou para observar os confrontos. Nessa tarde participei de uma sessão
de autógrafos. Ao regressar ao hotel, sozinho, voltei a deparar-me com os manifestantes, os policiais,
as explosões e o gás lacrimogêneo. Entrei numa boulangerie, comprei um croissant recém-saído do
forno, e voltei a sair, esquivando-me dos policiais e dos manifestantes, com a mesma distraída
elegância dos franceses legítimos.
As primeiras manifestações dos coletes amarelos na França agitaram a sociedade e mereceram
cobertura internacional. Agora já só inquietam os turistas desavisados.
Habituamo-nos a tudo. Quando a violência se transforma numa rotina, tendemos a ignorá-la. Se
acordar a meio da noite, em Luanda ou no Rio de Janeiro, com o pipocar de uma arma automática,
viro na cama e volto a dormir. Se isso acontecer em Lisboa, contudo, já não durmo mais. Telefono
aos amigos. Ligo a televisão para saber se está em curso um golpe de Estado.
É porque nos habituamos à violência — em todas as suas múltiplas formas, da pobreza à destruição
do patrimônio natural, passando pelo machismo, o racismo, a estupidez de alguns políticos ou a
deselegância arquitetônica — que esta se torna tão difícil de vencer.
Pensemos em Donald Trump, por exemplo. Os americanos habituaram-se aos disparates do seu
presidente, tolerando nele afirmações e comportamentos que teriam ferido de morte política, e atirado
para o mais remoto dos degredos, qualquer um dos seus antecessores. Conseguem imaginar George
H. W. Bush ou Barack Obama a proferir uma daquelas frases inacreditáveis sobre a relação entre
homens e mulheres com as quais Trump se imortalizou? Pois é, eu também não consigo.
E é este o perigo: terminarmos aceitando o inaceitável, pela força do hábito. Porque a princípio
Donald Trump até era engraçado. Porque um palhaço é inofensivo. E depois, porque é o estilo dele,
um tanto rude, mas direto; porque fala a linguagem do povo; porque uma vez no poder irá moderar a
linguagem e rodear-se de conselheiros sábios etc.
Só há uma alternativa: a revolta. Isso, contudo, implica repensar utopias, criar redes de pensamento
e de debate, ocupar as ruas. Bem sei, defender a democracia dá uma trabalheira danada. Mas, se não
for agora, amanhã pode ser demasiado tarde.
(Disponível em https://oglobo.globo.com/cultura/quando-violencia-vira-rotina-tendemos-ignora-la-
23507969)
TEXTO B
1) Assinale a opção que NÃO corresponde à justificativa para a fala de Cristiane, no texto A, a
saber: “Não se preocupe”, no texto A:
“Só há uma alternativa: a revolta. Isso, contudo, implica repensar utopias, criar redes de
pensamento e de debate, ocupar as ruas.”
(a) perigo
(b) Donald Trump
(c) palhaço
(d) estilo
(e) revolta
3) Marque a opção que corresponde à relação de sentido estabelecida por, “mas” em, “Mas, se
não for agora, amanhã pode ser demasiado tarde”, no texto A.
4) “Se acordar no meio da noite, em Luanda ou no Rio de Janeiro, com o pipocar de uma arma
automática, viro na cama e volto a dormir.”
No período acima, o conectivo sublinhado “Se”, do texto A, estabelece uma relação de:
(a) condição.
(b) concessão.
(c) finalidade.
(d) causa.
(e) tempo.
5) “Se isso acontecer em Lisboa, contudo, já não durmo mais. Telefono aos amigos. Ligo a
televisão para saber se está em curso um golpe de Estado.”
6) Considere a leitura dos textos A e B e selecione a resposta que corresponde ao tema dos
textos em questão:
I – A rotina de violência.
II – Os costumes locais.
III – Os bons hábitos.
“E porque nos habituamos à violência — em todas as suas múltiplas formas, da pobreza à destruição
do patrimônio natural, passando pelo machismo, o racismo, a estupidez de alguns políticos ou a
deselegância arquitetônica — que esta se torna tão difícil de vencer”.
(a) pobreza.
(b) estupidez.
(c) deselegância.
(d) formas.
(e) violência.
8) “A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para
evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito.”
Nas quatro ocorrências destacadas acima, o conectivo “para” estabelece uma relação de:
(a) condição.
(b) concessão.
(c) finalidade.
(d) causa.
(e) tempo.
9) “A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto
acostumar, se perde de si mesma.”
Nas duas ocorrências sublinhadas acima, o pronome relativo “que” substitui o substantivo:
(a) gente
(b) vida.
(c) baioneta.
(d) peito.
(e) faca.
“É bom ver que você se preocupa com uma coisa tão importante, Papai, todo mundo devia
ser como você.”