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A CARTOMANTE

Personagens

Rita: Aos trinta anos, é descrita como uma dama formosa, tonta, graciosa, viva nos
gestos e com olhos cálidos. Rita é casada com Vilela e amante de Camilo, amigo de
infância do marido. Trata-se de uma típica mulher da sociedade burguesa, que mantém
um casamento de aparências e cumpre o seu papel social de esposa apesar de estar em
um casamento que não a faz feliz.

Vilela: Tem vinte e nove anos e vive em uma casa em Botafogo, tendo também um
escritório de advocacia. É casado com Rita e é a típica figura do homem burguês
provedor, que tem uma boa quantia de dinheiro e uma mulher bonita como esposa.

Camilo: Funcionário público de vinte e seis anos. Tem como amigo de infância o


advogado Vilela e acaba se apaixonando por Rita, a mulher do melhor amigo, com
quem começa um caso amoroso.

A cartomante: Uma mulher com cerca de quarenta anos, italiana, morena e magra e com
grandes olhos. A cartomante era tida por Rita e Camilo como um oráculo capaz de
adivinhar o futuro, mas na prática, ela não conseguiu prever os acontecimentos trágicos
que aconteceriam por conta do caso extraconjugal.

Análise da temática

Este conto traz a temática da paixão proibida e do triângulo amoroso, com personagens


complexos (apesar da história ser curta) que denunciam a hipocrisia da
sociedade burguesa da época. Além disso, em “A cartomante”, podemos ver muitas
referências ao cenário urbano, como em muitos outros contos e livros de Machado, em
que temos descrições de ruas e de caminhos pelos quais os personagens passavam na
cidade.

Resumo da história
“A cartomante” é narrado em terceira pessoa, com a história se passando em 1869,
no Rio de Janeiro. O escritor ainda cita locais como a Rua da Guarda Velha e a Rua dos
Barbonos, com um cenário urbano muito rico.

O conto começa apresentando o casal Rita e Vilela. Este último é um advogado, e em


um belo dia, acaba por reencontrar Camilo, um de seus amigos de infância, que contrata
seus serviços para tratar dos processos judiciais que envolvem a morte de sua mãe.
Porém, Rita se apaixona por Camilo e é criado um triângulo amoroso na história,
pois os dois se tornam amantes.

De repente, alguém começa a enviar cartas anônimas para Camilo, chamando-o de


adúltero, o que faz com que o homem comece a ficar mais cauteloso em relação à Rita,
pois isso demonstra que alguém sabe do caso amoroso dos dois. Enquanto isso, Rita
começa a duvidar do amor de Camilo por ela, e, em meio a sua insegurança, começa a
visitar uma cartomante, ou seja, uma moça que vê a sorte e o destino por meio de cartas.

Após algum tempo, Vilela envia uma carta para Camilo, em que chama o amigo para ir
com urgência até a sua casa, não explicando o motivo do convite e nem da urgência do
assunto. Preocupado, Camilo encontra a cartomante e pergunta sobre seu destino.
Depois de sair mais calmo do local em que a cartomante atendia, ele vai até a casa de
Vilela tranquilamente, pois acredita que o marido não desconfia de nada e que não sabe
sobre a traição.

Porém, o final de “A cartomante” é muito pessimista, pois quando Camilo chega na casa
de seu amigo, encontra Rita assassinada e Vilela atira em seu peito, matando-o também.

Aqui, é importante notarmos que há um final muito aberto, pois não conseguimos saber
como Vilela descobriu o caso dos amantes e não sabemos quem mandou as cartas
anônimas para Camilo. Assim, não sabemos se a própria cartomante contou o adultério
para Vilela, ou se ele viu, ou se uma outra pessoa contou para ele.

Estrutura da Narração

“Ä Cartomante” é um conto narrado na terceira pessoa em que o narrador é onisciente,


pois tudo sabe (conhece) sobre suas personagens, relatando suas emoções, pensamentos,
sentimentos, dúvidas, expectativas, etc.
Verifiquemos a onisciência do narrador em algumas passagens do conto:- “A agitação
dele era grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns
fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas”. Ou, no trecho a
seguir, a presença das aflições e conjecturas de Camilo:- “Imaginariamente, viu a ponta
da orelha de um drama, Rita subjugada e lacrimosa, Vilela indignado, pegado da pena e
escrevendo o bilhete, certo de que acudiria e esperando-o para matá-lo. (...)”

Considerações finais

É relevante apontar que os mistérios presentes no conto A Cartomante de Machado de


Assis permanecem no encerramento da leitura. O medo e a inquietação não são
completamente quebrados mesmo que levemos em conta os possíveis erros de previsão,
sendo que nossas dúvidas são de certo modo potencializadas. Apesar da racionalização
final que nos conduz a acreditar que a cartomante mostrava uma falsa habilidade,
surgem ainda outras questões que se mostram sem respostas:

Quem afinal enviava as cartas e sabia dos encontros secretos entre Rita e Camilo? Seria
Vilela, a cartomante ou outro personagem secundário? Alguém teria contado para Vilela
sobre o adultério? O “encontro” que a cartomante leu para o futuro de Camilo e Rita
poderia ocorrer em outro plano? Qual o efeito destes mistérios no leitor?

Através de diferentes abordagens teóricas foi possível enfatizar a partir de quais modos
a necessidade do cotidiano prosaico e posteriormente a quebra deste mesmo pelo
impacto do elemento sobrenatural tende a provocar o efeito fantástico: Vemos assim
que conduzir uma abordagem dos diferentes caminhos que o universo fantástico adquire
em um conto de Machado de Assis pode ser também um útil instrumento para ampliar o
horizonte de nossas análises teóricas. Este fato torna-se ainda mais relevante quando
pensamos na multiplicidade deste autor, pois em sua obra de uma maneira geral é
imprescindível valorizar constantemente as dúvidas, a obliquidade, as brechas, as
indagações e os meandros de um texto não raramente dotado de infinitas interpretações.

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