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Poder Judiciário da União

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E DOS


TERRITÓRIOS

Órgão 7ª Turma Cível

Processo N. APELAÇÃO CÍVEL 0700411-09.2019.8.07.0020


APELANTE(S) ADRIANO MONTEIRO DA SILVA
APELADO(S) BANCO BRADESCO SA
Relator Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA

Acórdão Nº 1255221

EMENTA

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. EMPRÉSTIMO


BANCÁRIO. OPERAÇÃO REALIZADA NO TERMINAL DE AUTOATENDIMENTO.
PRELIMINAR DE INÉPCIA DA INICIAL. REJEITADA. PRELIMINAR
INTEMPESTIVIDADE DOCUMENTAL. REJEITADA. CAIXA ELETRÔNICO. EXTRATOS
BANCÁRIOS. MOVIMENTAÇÃO EM CONTA CORRENTE. RECURSO DESPROVIDO.

1.Quanto à preliminar de inépcia da inicial, tendo sido a operação realizada eletronicamente, o que é
cada vez mais comum, não seria possível, de fato, a apresentação de um contrato físico no qual
constasse a assinatura do consumidor, a qual é suprida pela inserção de senha pessoal no sistema
informatizado do banco.

2. Quanto à preliminar de intempestividade documental, no caso, é perfeitamente possível a chamada


“dilação probatória”, não se exigindo prova pré-constituída para o ajuizamento da ação, pois a juntada
extemporânea de documentos trazidos pelo banco não ocasionou nulidade processual, uma vez que foi
exercido o contraditório pela parte adversa e o juízo da causa oportunizou a ambas as partes a juntada
de outros documentos antes de encerrar a instrução processual.

3. Compulsando os autos, constato que a petição inicial foi instruída com os documentos suficientes à
propositura da ação de cobrança, em especial, extrato da conta corrente da parte requerida (id nº
13102204), que traz a notícia de que este se beneficiou da quantia de R$50.000,00 objeto de mútuo
obtido junto ao banco. Os documentos constantes do id nº 131022090 comprovam a existência de
relacionamento anterior mantido entre o apelante junto à instituição financeira autora, trazendo,
inclusive, a comprovação por escrito que o requerido manteve conta corrente no Bradesco.

4. Recurso desprovido. Unânime.


ACÓRDÃO

Acordam os Senhores Desembargadores do(a) 7ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito


Federal e dos Territórios, ROMEU GONZAGA NEIVA - Relator, LEILA ARLANCH - 1º Vogal e
GISLENE PINHEIRO - 2º Vogal, sob a Presidência da Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH,
em proferir a seguinte decisão: CONHECIDO. IMPROVIDO. UNÂNIME., de acordo com a ata do
julgamento e notas taquigráficas.

Brasília (DF), 17 de Junho de 2020

Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA


Relator

RELATÓRIO

Cuida-se de recurso de Apelação Cível interposto contra a r. sentença (ID13102294), na qual o Juízo
monocrático julgou procedente o pedido em ação de cobrança proposta por Banco do Bradesco S.A.
em desfavor de Adriano Monteiro da Silva, nos termos do artigo 487, inciso I, do CPC/2015, para
condenar a parte ré ao pagamento da quantia de R$83.714,74 (oitenta e três mil, setecentos e catorze
reais e setenta e quatro centavos), quantia esta que deverá ser corrigida monetariamente a contar da
data da planilha constante do id nº 27630572 (02/01/2019) e com inclusão de juros moratórios de 1%
ao mês a contar da citação.

Transcrevo, em parte, o relatório da r. sentença, in verbis:

“Trata-se de processo de conhecimento proposto por BANCO BRADESCO S.A. em face de


ADRIANO MONTEIRO DA SILVA, partes qualificadas nos autos.

A parte autora alega, em síntese, que as partes firmaram Cédula de Crédito Bancário –
Empréstimo Pessoal nº 3554663, no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), a ser pago em
parcelas de R$ 3.493,21 (três mil, quatrocentos e noventa e três reais e vinte e um centavo), pelo
período compreendido de 26/09/2017 à 26/09/2019. Afirma que o empréstimo foi liberado na
conta corrente do réu em 26/09/2017. Aduz que o réu não cumpriu com as obrigações pactuadas,
estando inadimplente.

Diante das referidas alegações, a parte autora requereu a condenação do réu ao pagamento da
quantia de R$83.714,74, devidamente atualizada.

Com a inicial, a parte autora juntou documentos. Custas devidamente recolhidas.

Devidamente citado, o réu contestou o pedido (id nº 41105980). Em preliminar, afirmou que a
petição inicial é inepta, pois não traz documento essencial à propositura da ação, qual seja, o
contrato assinado pelo réu. No mérito, alegou que não assinou qualquer documento. Requereu a
improcedência da ação.

A parte autora se manifestou em réplica.


Decisão interlocutória (id nº 44008542) rejeitando a preliminar, saneando o feito, e determinando
ao autor a apresentação de documento subscrito pelo réu.

A parte requerida se manifestou nos autos (id nº 44497804) requerendo a reconsideração da


decisão interlocutória saneadora.

A parte autora compareceu nos autos (id nº 46514975) trazendo documentos subscritos pelo réu.

O réu se manifestou, conforme id nº 46615658.

Os autos vieram conclusos para sentença.

É o relatório do necessário.

Decido.”

Adriano Monteiro da Silva Pereira interpôs recurso de apelação(ID13102296). Aduz,


preliminarmente, a inépcia da petição inicial eis que o direito alegado pelo requerente se funda na
existência de um título de crédito, a saber, uma cédula de crédito bancário e, pelo princípio da
cartularidade, tal direito se prova pela apresentação do título, portanto, documento essencial à
propositura da ação, o qual ausente dará ensejo à extinção do processo, sem julgamento do mérito, uma
vez que se deve considerar inepta a petição inicial.

Assevera a intempestividade da prova documental eis que a sentença atacada fundamentou-se em


documentos carreados juntamente com a Petição ID 46514881, protocolada em 07/10/2019, ou seja,
quase 9 (nove) meses após a distribuição do processo, e superada já a fase de saneamento e conforme
dispõe o art. 434 do CPC, “Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a provar suas alegações.” Tal regra somente é excepcionada no art. 535, em
relação aos “documentos formados após a petição inicial ou a contestação”, bem como os “destinados a
fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos
nos autos.”

Quanto ao mérito, relata que não assinou cédula de crédito bancário na condição de emitente em face
do Apelado. Desse modo, inexiste a pretendida relação creditícia.

Requer se determine que a parte Apelada se abstenha de inscrever o pretendido débito no cadastro de
inadimplentes, procedendo à imediata retirada da inscrição existente, sob pena de multa diária, sem
prejuízo de eventual condenação por danos morais, tendo em vista o efeito suspensivo da Apelação,
bem como a presença dos requisitos da concessão da tutela antecipada recursal.

Contrarrazões de Banco Bradesco S.A., ID13102305.

É o relatório.

VOTOS

O Senhor Desembargador ROMEU GONZAGA NEIVA - Relator


Presentes os pressupostos processuais de admissibilidade, conheço dos recursos.

Como abordado no relatório, cuida-se de apelação aviada em face da sentença que, resolvendo a ação
ordinária de cobrança ajuizada por Banco Bradesco S.A. em desfavor de Adriano Monteiro da Silva o
d. juízo de primeiro grau julgou parcialmente procedentes os pedidos nos seguintes termos:

“Em face de todo o exposto, julgo PROCEDENTE o pedido inicial, nos termos do artigo 487,
inciso I, do CPC/2015, para condenar a parte ré ao pagamento da quantia de R$83.714,74
(oitenta e três mil, setecentos e catorze reais e setenta e quatro centavos), quantia esta que
deverá ser corrigida monetariamente a contar da data da planilha constante do id nº 27630572
(02/01/2019) e com inclusão de juros moratórios de 1% ao mês a contar da citação.

Condeno, ainda, a parte ré ao pagamento das custas e honorários advocatícios, fixando-os em


10% (dez por cento) sobre o valor da causa, na forma do art. 85, §2º do CPC.”

Irresignada, a parte ré interpôs recurso de Apelação.

Aduz, preliminarmente, a inépcia da petição inicial eis que o direito alegado pelo requerente se funda
na existência de um título de crédito, a saber, uma cédula de crédito bancário e pelo princípio da
cartularidade, tal direito se prova pela apresentação do título, portanto, documento essencial à
propositura da ação, o qual ausente dará ensejo à extinção do processo, sem julgamento do mérito,
uma vez que se deve considerar inepta a petição inicial.

Assevera a intempestividade da prova documental eis que a sentença atacada fundamentou-se em


documentos carreados juntamente com a Petição ID 46514881, protocolada em 07/10/2019, ou seja,
quase 9 (nove) meses após a distribuição do processo, e superada já a fase de saneamento e conforme
dispõe o art. 434 do CPC, “Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a provar suas alegações.” Tal regra somente é excepcionada, no art. 535, em
relação aos “documentos formados após a petição inicial ou a contestação”, bem como os “destinados
a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos
nos autos.”

Quanto ao mérito, relata que não assinou cédula de crédito bancário na condição de emitente em face
do Apelado. Desse modo, inexiste a pretendida relação creditícia.

Requer se determine que a parte Apelada se abstenha de inscrever o pretendido débito no cadastro de
inadimplentes, procedendo à imediata retirada da inscrição existente, sob pena de multa diária, sem
prejuízo de eventual condenação por danos morais, tendo em vista o efeito suspensivo da Apelação,
bem como a presença dos requisitos da concessão da tutela antecipada recursal.

Quanto ao pedido de concessão de efeito suspensivo consta na previsão do art. 1012, §§ 3º e 4º do


CPC, verbis:

“§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser formulado


por requerimento dirigido ao:

I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição,


ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;

II - relator, se já distribuída a apelação.

§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante
demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação,
houver risco de dano grave ou de difícil reparação.”
Assim, em razão de haver determinação de que o pleito seja formulado em requerimento próprio,
conforme previsto na norma, impede o pedido de efeito suspensivo ser conhecido, vez que inadequada
a via eleita.

Neste mesmo sentido, o entendimento jurisprudencial desta eg. Corte, confira-se:

“Não se conhece de pedido de efeito suspensivo do recurso formulado em razões de apelação, em


face da inadequação da via eleita, haja vista que deve este ser deduzido em peça apartada.”
(Acórdão n.1079244, 20140111049054APC, Relator: JOSAPHA FRANCISCO DOS SANTOS 5ª
TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 21/02/2018, Publicado no DJE: 08/03/2018. Pág.: 286/290

“1. Não se conhece de pedido de atribuição de efeito suspensivo formulado em razões de


apelação em face da inadequação da via eleita, haja vista que deve este ser deduzido em peça
apartada (art. 1.012,

§ 3º, CPC e art. 87, II, RITJDFT), bem como se ao recurso já é atribuído o referido efeito ‘ope
legis’.” (Acórdão n.1046346, 20160510097806APC, Relator: SANDRA REVES 2ª TURMA
CÍVEL, Data de Julgamento: 13/09/2017, Publicado no DJE: 18/09/2017. Pág.: 171/185)

“2. Segundo a nova fórmula procedimental, o pedido de agregação de efeito suspensivo à


apelação desguarnecida ordinariamente desse atributo, a par da presença dos pressupostos
exigíveis, deve ser formulado via de petição autônoma endereçada ao relator, se já distribuído o
recurso, ou ao tribunal, se ainda em aparelhamento o apelo, e não em sede de preliminar,
notadamente porque o almejado é obstar a execução do julgado enquanto o recurso é
processado e resolvido (CPC, art. 1.012, §§ 3º e 4º), derivando dessa sistemática que, ignorada a
sistemática procedimental, o pedido formulado sob a forma de preliminar no recurso não
merece sequer ser conhecido.” (Acórdão n.1032687, 20150710183534APC, Relator: TEÓFILO
CAETANO 1ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 19/07/2017, Publicado no DJE:
28/07/2017. Pág.: 221-240)

Ante esses argumentos, não conheço do pedido de efeito suspensivo, haja vista a inadequação da via
eleita.

1) Preliminar Inépcia da Petição Inicial e intempestividade documental.

Aduz o apelante que o direito alegado pelo requerente se funda na existência de um título de crédito, a
saber, uma cédula de crédito bancário e, pelo princípio da cartularidade, tal direito se prova pela
apresentação do título, portanto, documento essencial à propositura da ação, o qual ausente dará
ensejo à extinção do processo, sem julgamento do mérito, uma vez que se deve considerar inepta a
petição inicial.

Assevera a intempestividade da prova documental eis que a sentença atacada fundamentou-se em


documentos carreados juntamente com a Petição ID 46514881, protocolada em 07/10/2019, ou seja,
quase 9 (nove) meses após a distribuição do processo, e superada já a fase de saneamento e conforme
dispõe o art. 434 do CPC, “Incumbe à parte instruir a petição inicial ou a contestação com os
documentos destinados a provar suas alegações.” Tal regra somente é excepcionada no art. 535, em
relação aos “documentos formados após a petição inicial ou a contestação”, bem como os “destinados
a fazer prova de fatos ocorridos depois dos articulados ou para contrapô-los aos que foram produzidos
nos autos.”
Os documentos constantes nos autos são suficientes para comprovar o fato constitutivo do direito do
autor/apelante, tendo sido observado, assim, o comando do art. 373, inciso I, do CPC: “O ônus da
prova incumbe: I – ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;”.

Apesar de não ter sido apresentado contrato assinado pelas partes, foi juntado Comprovante de
Empréstimo Pessoal (ID 13102207), no qual constam os dados do réu/apelante e as informações
relativas à operação, como a taxa de juros aplicada e a quantidade de prestações, dentre outras. Tendo
sido a operação realizada eletronicamente, o que é cada vez mais comum, não seria possível, de fato, a
apresentação de um contrato físico no qual constasse a assinatura do consumidor, a qual é suprida pela
inserção de senha pessoal no sistema informatizado do banco.

Confira-se o entendimento desta Corte acerca do tema:

CIVIL. PROCESSO CIVIL. CONSUMIDOR. APELAÇÃO. AÇÃO DE COBRANÇA.


CONTRATO DE MÚTUO ELETRÔNICO. RENEGOCIAÇÃO. FALTA DE INSURGÊNCIA
DA CONTRATANTE. PRESCINDIBILIDADE DE ASSINATURA. CONCORÂNCIA
TÁCITA. CONFIRMAÇÃO POR MEIO DA INSERÇÃO DE SENHA DE USO PESSOAL,
EXCLUSIVO E INTRANSFERÍVEL. VALORES À DISPOSIÇÃO DA CONTRATANTE.
ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE ANUÊNCIA. NÃO COMPROVAÇÃO. ÔNUS
PROBATÓRIO DA RÉ. REGRA DO ART. 333, INCISO II, DO CPC. RECURSO
CONHECIDO E IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.

1 - Em que pese a aplicação do Código de Defesa do Consumidor ao presente caso, considerando


a não aplicação do art. 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor (inversão do ônus da
prova), o ônus de comprovar o fato constitutivo do direito recai sobre o autor, consoante regra
estabelecida no art. 333, inciso I, do Código de Processo Civil, bem como sobre o réu, quanto à
existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor (inciso II do mesmo
dispositivo legal).

2 - In casu, aduziu a apelante/ré que, apesar de ter realizado contrato de mútuo junto ao
apelado/autor, não anuiu em relação à operação de renegociação de dívida consubstanciada no
SOB MEDIDA COMP ATRASO LONGO.

2.1 - Dos documentos acostados aos autos, constata-se que houve contratação da renegociação
retromencionada, no dia 30/05/2014, cujo pagamento seria realizado através de débito em conta
corrente e em 48 (quarenta e oito) parcelas no valor de R$ 1.721,00 (mil setecentos e vinte e um
reais), cada, sendo que a primeira teria vencimento em 04/06/2014, e que, em 12/05/2015, a
apelante/ré contava com 12 parcelas em atraso.

2.2 - Embora alegada a falta de anuência para a realização da renegociação, consoante palavras
da própria apelante/ré, esta tomou ciência da operação em questão no dia seguinte à sua
efetivação.

Dessa forma, não é crível que, tendo o apelado/autor realizado a operação, supostamente de
forma deliberada e sem a anuência da apelante/ré, tenha ela, apesar de não concordar com a
renegociação, mantido-se inerte por mais de um ano sem qualquer manifestação de indignação
endereçada ao banco ou adoção de medida para fins de retorno ao status quo ante, notadamente
quando se leva em consideração a forma de pagamento (débito em conta) e o valor vultoso da
parcela (R$ 1.721,00), evidenciando sua anuência, mesmo que de maneira tácita.

3 - Ademais, consoante informação trazida pelas partes e observados os documentos juntados, a


renegociação foi efetivada por meio de contrato eletrônico, não sendo necessária a assinatura
física do contratante. Não obstante, para que o negócio jurídico seja realizado, é imprescindível
que a anuência do contratante ocorra de outra maneira, assinatura digital ou inserção de senha
de acesso (de uso pessoal, exclusivo e intransferível), que foi o que aconteceu no caso em tela.
4 - Recurso conhecido e improvido. Sentença mantida. (Acórdão n.944871,
20150710140684APC, Relator: ALFEU MACHADO 1ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento:
01/06/2016, Publicado no DJE: 09/06/2016. Pág.: 236-251)

PROCESSO CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. COBRANÇA. EMPRÉSTIMO. CAIXA


ELETRÔNICO. EXTRATOS BANCÁRIOS. MOVIMENTAÇÃO EM CONTA CORRENTE.
REVELIA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE.

1. O empréstimo firmado em caixa eletrônico depende do uso de cartão magnético e da senha


pessoal, o que corresponde à assinatura e aprovação da transação pelo cliente.

2. A movimentação do crédito depositado em conta corrente, conforme demonstrado nos


extratos bancários, constitui prova da relação entre as partes, a qual não foi contestada, nem
impugnada pelo réu, regularmente citado, que atraiu para si os efeitos da revelia (art. 319,
CPC).

3. Recurso provido.

(Acórdão n.826296, 20130710149768APC, Relator: MARIO-ZAM BELMIRO, Revisor: JOÃO


EGMONT, 2ª TURMA CÍVEL, Data de Julgamento: 15/10/2014, Publicado no DJE: 21/10/2014.
Pág.: 70)

Quanto aos documentos carreados juntamente com a Petição ID 46514881, protocolada em


07/10/2019, decisão interlocutória saneadora fixou os pontos controvertidos e, dentre eles, consta:

“Faculto à parte autora o prazo de 15 (quinze) dias para que traga aos autos algum documento
subscrito pelo réu, a fim de demonstrar a existência de relação contratual entre as partes,
vinculando a conta bancária na qual teria sido depositado o valor objeto do mútuo à parte
requerida.

Vindo o(s) documento(s), dê-se vista à parte requerida por igual prazo.

Após, venham os autos conclusos para julgamento, observando-se a ordem cronológica de


conclusão.”

Verifica-se que a apelante foi intimada da decisão interlocutória saneadora, ID 44008542,


disponibilizada no DJe do TJDFT nº 172, de 06/09/2019, considerada a publicação em 09/09/2019, e
sobre a referida juntada, a parte requerida pode exercer o seu contraditório, conforme ID 13102292.

No caso, é perfeitamente possível a chamada “dilação probatória”, não se exigindo prova


pré-constituída para o ajuizamento da ação, pois a juntada extemporânea de documentos trazidos pelo
banco não ocasionou nulidade processual, uma vez que foi exercido o contraditório pela parte adversa
e o juízo da causa oportunizou a ambas as partes a juntada de outros documentos antes de encerrar a
instrução processual.

Nesse sentido, ao final da ação, em se verificando que a parte requerente não comprovara a suposta
existência de relação contratual entre as partes seria o caso de julgamento de improcedência. Portanto,
a ação se processou pelo procedimento comum, garantindo-se à parte apelante o pleno exercício do
contraditório e da ampla defesa.
Assim, no que se refere à alegada inépcia da inicial, tenho que a preliminar deve ser rejeitada, bem
como a referida intempestividade documental.

Não tendo sido suscitadas outras questões preliminares, passo a enfrentar o mérito.

Quanto ao mérito, relata que não assinou cédula de crédito bancário na condição de emitente em face
do Apelado. Desse modo, inexiste a pretendida relação creditícia.

Compulsando os autos, constato que a petição inicial foi instruída com os documentos suficientes à
propositura da ação de cobrança, em especial, extrato da conta corrente da parte requerida (id nº
13102204), que traz a notícia de que este se beneficiou da quantia de R$50.000,00 objeto de mútuo
obtido junto ao banco.

Os documentos constantes do id nº 131022090 comprovam a existência de relacionamento anterior


mantido entre o apelante junto à instituição financeira autora, trazendo, inclusive, a comprovação por
escrito que o requerido manteve conta corrente no Bradesco.

Lado outro, o apelante até poderia aduzir fatos extintivos, modificativos ou impeditivos do direito do
apelante, por meio da apresentação da respectiva contestação, alegando, inclusive a ausência de
disponibilização do crédito. Contudo, a ele incumbia a prova de eventual insubsistência da “causa
debendi”, por força do art. 373, inc. II, do CPC. Se assim não o fez, compete-lhe arcar com o
pagamento da quantia que foi disponibilizada e utilizada na sua própria conta corrente.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao recurso e mantenho a sentença nos termos em que foi
proferida.

Em face do grau recursal, majoro o percentual de cada patrono em 1%, nos termos da dicção
normativa do §11, art. 85 do CPC, levando-se em conta o trabalho adicional realizado pelos patronos,
conforme disposição dos §§2º a 6º do art. 85 do CPC/15.

É como voto.

A Senhora Desembargadora LEILA ARLANCH - 1º Vogal


Com o relator
A Senhora Desembargadora GISLENE PINHEIRO - 2º Vogal
Com o relator

DECISÃO

CONHECIDO. IMPROVIDO. UNÂNIME.

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