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ILUSTRÍSSIMO SENHOR DOUTOR DELEGADO DA DELEGACIA DA RECEITA

FEDERAL DO BRASIL DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTARIA EM SÃO PAULO-SP

Processo Administrativo n° 1659

ALEXANDRE, brasileiro, divorciado engenheiro, portador da carteira de identidade


RG nº 63 e inscrito no CPF/MF sob nº 53 residente e domiciliado na Rua, São
Paulo, SP, CEP 03444-000, inconformado com a decisão proferida, da qual foi
devidamente cientificado, vem, respeitosamente, à presença de V. Sa., apresentar a
presente

MANIFESTAÇÃO DE INCONFORMIDADE

em face do indeferimento de seu pleito, pelos fatos e razões a seguir aduzidos:


I. DOS FATOS

O Recorrente é contribuinte que necessita anualmente apresentar sua


declaração de Imposto de Renda Pessoa Física, fazendo jus, no entanto da
possibilidade de deduzir em sua declaração, além de outros, as despesas
decorrentes utilização de serviço médico realizados no ano calendário anterior.

Ao processamento da sua Declaração de Juste Anual do exercício de


2016, ano calendário 2015, a recorrente foi intimado a prestar esclarecimento e
documentos referente a despesas medicas bem como pensão alimentícia declarada
no período.

Atendendo integralmente a intimação, o recorrente comprovou


documentalmente a efetiva contratação de serviços medico bem como o pagamento
da pensão alimentícia paga no ano calendário de 2015.

Contudo, mesmo estando as comprovações das despesas, estritamente


vinculadas aos serviços médicos tomados pela Recorrente bem como a pensão paga
no período, cuja deduções estão legalmente amparadas na legislação corrente, o
Recorrente foi notificado da glosa parcial das despesas medicas bem como do
integral pagamento efetuado a título de pensão alimentícia, que no entendimento da
auditoria responsável, não poderiam ser deduzidos na declaração do Recorrente.

Ocorre que, conforme se observa dos documentos apesentados, não há


elementos suficientes para embasar a negativa a homologação da Declaração de
Juste Anual do exercício de 2016, ano calendário 2015, pois diferentemente da
fundamentação da decisão em apreço, os documentos apresentados comprovam
inequivocadamente o efetivo pagamento efetuado a título de pensão alimentícia bem
como as despesas medicas tomadas no período.

Assim, data vênia, equivocou-se o D. Julgador, pelo que se faz


necessária a modificação da decisão que homologou parcialmente a Declaração de
Juste Anual do exercício de 2016, ano calendário 2015 acima identificado, senão
vejamos:

É o que se demonstrará a seguir:

II - DO DIREITO

II.1 – A ILEGAL GLOSA DAS DESPESAS MEDICAS


Como inicialmente esclarecido a Recorrente é contribuinte que
necessita anualmente apresentar sua declaração de Imposto de Renda Pessoa
Física, fazendo jus, no entanto da possibilidade de deduzir em sua declaração, além
de outro, as despesas decorrentes utilização de serviço médico realizados no ano
calendário anterior.

Isto porque, pela redação da Lei nº 9.250/95, em seu art. 8º, inciso
II, "b", há a possibilidade de dedução das despesas médicas da base de cálculo
do Imposto de Renda, neste sentido:

Art. 8º A base de cálculo do imposto devido no ano-calendário será a


diferença entre as somas: I - de todos os rendimentos percebidos
durante o ano-calendário, exceto os isentos, os não-tributáveis, os
tributáveis exclusivamente na fonte e os sujeitos à tributação definitiva;
II - das deduções relativas: a) aos pagamentos efetuados, no ano-
calendário, a médicos, dentistas, psicólogos, fisioterapeutas,
fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, bem como as
despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos
ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias;

Nesse mesmo sentido é a redação do decreto nº 9.580/2018, qual


regulamenta a tributação, fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto
sobre a Renda:

Das despesas médicas


Art. 73.
Na determinação da base de cálculo do imposto sobre a renda devido
na declaração de ajuste anual, poderão ser deduzidos os pagamentos
efetuados, no ano-calendário, a médicos, dentistas, psicólogos,
fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e hospitais, e
as despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos, aparelhos
ortopédicos e próteses ortopédicas e dentárias (Lei nº 9.250, de 1995,
art. 8º,caput,inciso II, alínea "a").

Portanto, sem qualquer fundamento a negativa de dedução pelos


documentos apresentado.

Isto porque ao decidir pela improcedência da contestação, a Turma


Julgadora, sem se atentar ao conjunto probatório anexado ao procedimento
administrativo, acolheu tão somente parte das despesas medicas devidamente
comprovadas.

Não obstante, todos os documentos apresentados na contestação,


comprovam que, em que pese tenha o Recorrente plano de saúde, cujo comprovante
de despesas foram acolhidas, de fato houve a contratação e o pagamento particular
de serviços médicos prestados pelo Drs. Bonati (049.) e Fabricio (267.).

Como se observa, referidas despesas foram perfeitamente


comprovadas por meio dos documentos apresentados.

Assim sendo, a decisão que acolheu parcialmente despesas medicas


deduzidas deve ser imediatamente modificada, para o fim de homologar
integralmente referidas despesas medicas.

II.2 - DA CORRETA DEDUÇÃO DA PENSÃO ALIMENTÍCIA DA DECLARAÇÃO


DE JUSTE ANUAL DO EXERCÍCIO DE 2016, ANO CALENDÁRIO 2015

Como cediço, as alterações e ampliações introduzidas pela Lei nº.


9.250/95 possibilitaram a dedução da base de cálculo do imposto de renda dos
valores pagos a título de pensão, nos seguintes termos:

Art. 4º. Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal


do imposto de renda poderão ser deduzidas:
I - a soma dos valores referidos no art. 6º da Lei nº 8.134, de 27 de
dezembro de 1990;
II - as importâncias pagas a título de pensão alimentícia em face das
normas do Direito de Família, quando em cumprimento de decisão
judicial, inclusive a prestação de alimentos provisionais, de acordo
homologado judicialmente, ou de escritura pública a que se refere o art.
1.124-A da Lei nº5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil;

Nesse mesmo sentido é a redação do decreto nº 9.580/2018, qual


regulamenta a tributação, fiscalização, a arrecadação e a administração do Imposto
sobre a Renda:

Da pensão alimentícia
Art. 72. Na determinação da base de cálculo sujeita à incidência mensal
do imposto sobre a renda, poderá ser deduzida a importância paga a
título de pensão alimentícia observadas as normas do Direito de
Família, quando em cumprimento de decisão judicial, inclusive a
prestação de alimentos provisionais, de acordo homologado
judicialmente, ou de escritura pública a que se refere oart. 733 da Lei nº
13.105, de 16 de março de 2015 - Código de Processo Civil (Lei nº
9.250, de 1995, art. 4º, caput, inciso II).

Pois bem, o Recorrente apresentou documento hábil, devidamente


registrado e escriturado em cartório comprovante o efetivo pagamento de proventos
a título de pensão alimentícia.

Logo, a decisão recorrida há de ser imediatamente reformada.

II.3 – DA VIOLAÇÃO AO PRINCIPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL

A Constituição Federal Brasileira de 1988 visando a garantir os


direitos fundamentais estabeleceu princípios básicos que devem ser respeitados
sem qualquer restrição.

Dentre os direitos fundamentais encontra-se insculpido no artigo 5º


da CF/88 o direito ao devido processo legal.

Para melhor entendimento do princípio ora estudado cumpre


transcrever o dispositivo descrito na CF/88 que trata da matéria:

Art. 5º.
LV – Aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. (grifos nossos)

Este princípio veio assegurar às partes a garantia do direito de


ação, a igualdade na defesa dos interesses das partes, bem como o respeito ao
direito de defesa e do contraditório.

Importante se faz invocar os conhecimentos do Eminente


Constitucionalista José Afonso da Silva acerca do direito de ação e de defesa:
(...) Garante-se a plenitude da defesa agora mais incisivamente
assegurada no inc. LV do mesmo artigo: aos litigantes, em processo
judicial e administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes. (g.n.) (Curso de Direito Constitucional
Positivo, 10ª Edição, Malheiros Editores, pág. 411)

Assim, na esfera administrativa, para que seja imputado débito


tributário ao contribuinte é necessário que seja concedido o direito à defesa e ao
contraditório da forma mais ampla possível, analisando-se assim todos os
argumentos e recursos alegados pelo administrado, sob pena de o ato
administrativo ser considerado ilegal.

E no caso dos autos, a auditora que fez a analise primaria, deixou


de apreciar os documentos comprobatórios a presentados pelo recorrente, quais
comprovam que, de fato, houve a contratação e pagamento das despesas medicas
bem como da pensão alimentícia devidamente firmada pela contraente dos
recursos.

Ademais, como é cediço, o processo administrativo sempre busca a


descoberta da verdade material relativa aos fatos tributários, buscando
incessantemente, o convencimento da verdade que, hipoteticamente, esteja mais
aproxima da realidade dos fatos.
,
De acordo com o princípio da verdade material, são considerados
todos os fatos e provas novos e lícitos, ainda que não tragam benefícios ao erário
público ou que não tenham sido declarados.

Neste sentido, deveria a administração promover de oficio as


investigações necessárias à elucidação da verdade material para que a partir
dela, fosse possível prolatar uma decisão justa que não foi observada pelo
digníssimo julgador ao glosar as despesas medicas bem como os pagamentos
efetuados a título de pensão alimentícia pelo Recorrente.

II.4 - O PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO

Desta forma, em decorrência do devido processo legal temos ainda


os princípios da ampla defesa e do contraditório.

Com efeito, o Recorrente ao defender-se administrativamente de


lançamento contra ele lavrado, deverá o contribuinte ter o direito de lançar mão
de todos os meios de defesas a ele disponíveis, não sendo possível a limitação de
sua defesa sob pena de se macular o Princípio da Ampla Defesa.

Desta forma, não pode a administração deixar de apreciar, dentre


outros aspectos, a própria validade de normas.

Neste sentido é o entendimento da doutrinadora Lídia Maria Lopes


Rodrigues Ribas, que leciona:

Quando a Administração tiver de impor uma sanção, fazer um


lançamento tributário ou decidir a respeito de determinado
interesse do particular, deve fazê-lo num processo legal,
regular, em que se proporcione ao contribuinte ou responsável
o direito de defesa.
É essencial à validade da cobrança do crédito tributário a garantia
de defesa. Uma vez que os efeitos jurídicos só vinculam o sujeito
passivo após ter sido o mesmo validamente notificado do lançamento
tributário, não ocorrendo a notificação, resta caracterizado o
cerceamento ao direito de defesa. (g.n)
(Processo Administrativo Tributário, Malheiros Editora, 2000, pág. 35)

Ademais, o princípio do contraditório garante ao contribuinte o


direito de apresentar as provas necessárias a apurar devidamente a realidades
dos fatos atribuídos à sua pessoa.

Neste sentido, novamente socorremos dos ensinamentos da


Doutrinadora Lídia Maria Lopes Rodrigues Ribas que delimitam quais são os
direitos a serem empregados no contraditório, in verbis:

Os litigantes têm no processo direito de deduzir suas


pretensões e defesas e realizar provas para demonstrar a
existência de seu direito, isto é, direito de fazerem conhecer
suas pretensões, de modo paritário no processo, em todos os
seus termos. As versões sobre fatos e teses jurídicas produzidas por
uma das partes devem sujeitar-se à manifestação da outra parte. O
contraditório exige que isso ocorra com rigoroso equilíbrio, opondo-se
eqüitativa e uniformemente as razões de ambas as partes. (g.n.).
(Processo Administrativo Tributário, Malheiros Editora, 2000, pág. 36)

Portanto, como medida de justiça e respeito aos princípios


constitucionais ora descritos, faz-se necessário que a d. autoridade administrativa
admita e analise todos os argumentos e documentos apresentados pelo Recorrente,
sejam estes de fato ou direito, discutidos ou não em ação judicial.

E no caso dos autos, necessário ressaltar que a auditora que fez a


analise primaria, deixou de apreciar os documentos comprobatórios apresentados
pelo Recorrente, quais comprovam de fato, que houve a contratação e pagamento
das despesas medicas bem como da pensão alimentícia devidamente firmada pela
contraente dos recursos, logo legitima é a dedução efetuada pelo Recorrente em sua
Declaração de Ajuste Anual.

III. DO PEDIDO

Diante de todo o exposto, requer-se seja dado provimento a presente


Manifestação de Inconformidade, para que seja RECONHECIDA o direito ao
crédito pleiteado, com o consequente deferimento e homologação integral das
despesas medicas e pensão alimentícia efetivamente pagas e declaradas na
Declaração de Juste Anual do exercício de 2016, ano calendário 2015.

Nestes termos,
Pede deferimento.

São Paulo, 23 de agosto de 2021.

Fábio
OAB/SP

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