CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO REVISIONAL DE REAJUSTE. PLANO COLETIVO DE SAÚDE. VIOLAÇÃO DO ART. 1.022 DO NCPC. NÃO OCORRÊNCIA. REAJUSTE POR SINISTRALIDADE. NÃO COMPROVAÇÃO DO INCREMENTO DOS CUSTOS. REFORMA DO JULGADO. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS E REEXAME DE PROVAS. DESCABIMENTO. INCIDÊNCIA DAS SÚMULAS NºS 5 E 7, AMBAS DO STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Aplica-se o NCPC a este julgamento ante os termos do Enunciado Administrativo nº 3, aprovado pelo Plenário do STJ na sessão de 9/3/2016: Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo CPC. 2. Não há falar em omissão, falta de fundamentação ou negativa de prestação jurisdicional, na medida em que o Tribunal estadual dirimiu, fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas, apreciando a controvérsia posta nos autos. 3. No caso, qualquer outra apreciação acerca da ilegalidade do aumento da mensalidade do plano de saúde por sinistralidade, da forma como trazida no recurso especial, implicaria o necessário revolvimento do arcabouço fático- probatório, procedimento sabidamente aqui inviável diante do óbice das Súmulas nºs 5 e 7 do STJ. 4. Agravo interno não provido. (STJ - AgInt no AREsp: 2011731 SP 2021/0342747-1, Data de Julgamento: 15/08/2022, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 17/08/2022) AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 2204462 - RJ (2022/0281892-1) EMENTA AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE. ABUSIVIDADE CONSTATADA. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. REEXAME DE FATOS E PROVAS, BEM COMO INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. SÚMULAS 5 E 7/STJ. AGRAVO CONHECIDO PARA NÃO CONHECER DO RECURSO ESPECIAL. DECISÃO Trata-se de agravo contra decisão que não admitiu recurso especial interposto por UNIMED TERESÓPOLIS COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO, c om base no art. 105, III, a, da Constituição Federal, desafiando acórdão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro assim ementado (e-STJ, fl. 705): APELAÇÃO CÍVEL. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. REAJUSTE POR AUMENTO DE SINISTRALIDADE. AUSÊNCIA DE PROVAS DAS DESPESAS QUE ENSEJARAM A SUPOSTA MAJORAÇÃO DA SINISTRALIDADE. ABUSIVIDADE DO PERCENTUAL DE REAJUSTE APURADO UNILATERALMENTE PELA OPERADORA DE SAÚDE. OBSERVÂNCIA DO ÍNDICE DA ANS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. Trata-se ação declaratória de nulidade de cláusula contratual de reajuste por sinistralidade c/c obrigação de fazer e reparação por danos morais ajuizada por associação em face de operadora de saúde, objetivando a manutenção do plano para os seus associados, com reajuste estipulado pela ANS, a declaração de nulidade da cláusula de reajuste por sinistralidade e a condenação da ré ao pagamento de danos morais e materiais. 2. A sentença julgou procedente em parte os pedidos, para, confirmando a tutela antecipada que proibiu o cancelamento do plano e que autorizou o reajuste de 17,96%, declarar nulo o reajuste contratual de 70,05%, mantendo o aumento da mensalidade conforme orientações da ANS. Apelação da ré. 3. Firme a orientação do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que não é abusiva a cláusula que prevê a possibilidade de reajuste no plano de saúde coletivo, seja por variação de custos ou por aumento de sinistralidade, cabendo ao magistrado a análise, no caso concreto, do caráter abusivo do reajuste efetivamente aplicado. 4. À luz do referido entendimento jurisprudencial, a cláusula permitindo a revisão do valor das mensalidades, para fins de equilíbrio financeiro-contratual, somente tem validade caso efetivamente comprovados os fatos geradores de sua ocorrência, não se podendo olvidar que, ainda que se esteja diante de um plano de saúde coletivo, a operadora de saúde não pode se escusar da observância à Lei nº 9.656/98 e ao Código de Defesa do Consumidor. 5. Assim, cabe tão somente à operadora de saúde a prova de que o reajuste das mensalidades não seria abusivo, uma vez que é a única que detém todos os comprovantes de despesas alusivas à variação de custos e de aumento de sinistralidade. 6. No caso dos autos, analisando-se o conjunto fático-probatório contido nos autos, é de se concluir pela abusividade do índice de reajuste de 70.05% aplicado no contrato em análise, haja vista que a recorrente não se desincumbiu do ônus de comprovar, efetivamente, o alegado aumento exacerbado da sinistralidade que, supostamente, teria comprometido o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. 6. Conquanto se admita a possibilidade de majoração das mensalidades do plano de saúde em virtude da sinistralidade, a partir de estudos técnico-atuarias, devem ser fornecidos elementos concretos que evidenciem de forma cabal a variação dos custos e do aumento da sinistralidade. 7. In casu, a perícia produzida nos autos apurou a existência de sinistralidade com base nos relatórios e pareceres atuariais elaborados de forma unilateral pela recorrente, os quais, supostamente, teriam demonstrado a desproporcionalidade entre a receita e as despesas assistenciais. 8. Perito que não analisou o objeto que compõe as mencionadas despesas que, supostamente, justificariam o aumento da sinistralidade, quais sejam, honorários médicos, diária e taxas hospitalares, materiais medicamentos, custos decorrentes de cobrança, a título de ressarcimento do SUS, conforme disposto na cláusula 23.4.2 do contrato entabulado entre as partes, haja vista que tais documentos não foram carreados aos autos pela apelante. 9. Apelante que deixou de demonstrar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito autoral, em inobservância ao disposto no artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, sendo certo que poderia ter apresentado nos autos os demonstrativos do efetivo aumento da sinistralidade para serem analisados pelo Perito, com vistas a demonstrar a suposta legalidade do aumento pretendido, o que, contudo, não ocorreu. 10. Nessa toada, a majoração das mensalidades, com base no índice de reajuste de 75,05%, é desarrazoada e abusiva, posto que não se encontra embasada em nenhuma prova documental concreta, limitando-se a relatórios e pareceres emitidos somente pela própria recorrente. 11. À míngua da possibilidade de se apurar um índice de reajuste que, de fato, reflita de forma segura e transparente a sinistralidade do contrato hábil a ensejar o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, de rigor à observância do índice previsto pela ANS para os planos individuais nos períodos questionados pela parte autora. Precedentes. 12. Manutenção da sentença. 13. Desprovimento do recurso. Os embargos de declaração foram rejeitados, conforme se verifica da seguinte ementa (e-STJ, fl. 757): EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM APELAÇÃO CÍVEL. AUSÊNCIA DAS HIPÓTESES PREVISTAS NO ARTIGO 1.022 DO CPC/2015. 1. Os embargos declaratórios destinam-se a sanar obscuridade, contradição, omissão e erro material no decisum, estando seu cabimento adstrito às hipóteses legais previstas no art. 1.022 do Novo Código de Processo Civil. PRETENSÃO DE REDISCUSSÃO DA MATÉRIA E ATRIBUIÇÃO DE EFEITOS INFRINGENTES AO RECURSO. 2. O efeito infringente, que pode ser excepcionalmente concedido aos embargos declaratórios, decorre não da mera modificação do julgado, mas sim, da análise de possível omissão, contradição, obscuridade e erro material, que leve a este resultado. 3. O acórdão recorrido examinou de forma apropriada e devidamente motivada a matéria posta nos autos, tendo firmado entendimento no sentido de que, à vista do conjunto fático-probatório contido nos autos, concluiu-se pela abusividade do índice de reajuste de 70.05% aplicado no contrato em análise, haja vista que a recorrente não se desincumbiu do ônus de comprovar, efetivamente, o aumento exacerbado da sinistralidade que, supostamente, teria comprometido o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, hábil a justificar um tão elevado reajuste, razão pela qual correta a sentença ao determinar a aplicação dos reajustes anuais da ANS. 4. Ponderou-se que conquanto se admita a possibilidade de majoração das mensalidades do plano de saúde em virtude da sinistralidade, a partir de estudos técnico-atuarias, devem ser fornecidos elementos concretos que evidenciem de forma cabal a variação dos custos e do aumento da sinistralidade. 5. Impossibilidade de rediscussão da matéria já analisada. Ausência de caráter integrativo do recurso. PREQUESTIONAMENTO. 6. Ainda que manejados com o intuito de prequestionamento, hipótese agora positivada no Novo Código de Processo Civil (art. 1.025), os embargos declaratórios devem cogitar de alguma hipótese de omissão, contradição, obscuridade ou erro material, sob pena de rejeição. 7. Embargos de declaração desprovidos. Em suas razões de recurso especial (e-STJ, fls. 774-789), a agravante alegou violação dos arts. 51, inciso IV e § 1º, I, II e III, do CDC; 373, I, do CPC/2015; 113 e 422, ambos do CC/2002; 13, parágrafo único, II, da Lei n. 9.656/1998. Sustentou, em síntese, ausência de nulidade da cláusula contratual que prevê a possibilidade de reajuste por sinistralidade. Ainda nesse contexto, defendeu a observância da boa-fé contratual, de forma que, tendo havido a contratação de livre e espontânea vontade, deveria ser mantido o pacto realizado entre as partes, sendo legal a previsão do reajuste, nos moldes da legislação em vigor. Não foram apresentadas contrarrazões (e-STJ, fl. 798). O processamento do apelo especial não foi admitido pela Corte local, levando a insurgente a interpor o presente agravo. Nas razões do agravo, a parte agravante impugna os fundamentos da decisão denegatória do recurso, reiterando, no mais, as razões do mérito recursal. Contraminuta não apresentada (e-STJ, fl. 849). Brevemente relatado, decido. O Tribunal de origem, ao dirimir a controvérsia, assim fundamentou (e-STJ, fls. 704- 716 - sem grifo no original): Cinge-se o inconformismo manejado pelo plano de saúde, a se apurar a validade do reajuste da mensalidade de 70.05%. Para tanto, sustenta a recorrente que restou comprovado nos autos, através da prova pericial produzida, a legalidade e a necessidade de aplicação do reajuste contratual, justificado em parecer atuarial, sob pena de enorme desequilíbrio econômico- financeiro da apólice coletiva. Assevera que a prova pericial produzida pela apelante, que sequer foi impugnada pela apelada, corroborou o parecer atuarial quanto ao prejuízo sofrido no período informado na exordial, de outubro/2009 a setembro/2010, onde foi constatado pelo Perito uma sinistralidade de 132,01%, ou seja, neste período, a Unimed Teresópolis teve uma receita de R$ 231.001,53 e uma despesa de R$ 304.944,30. Malgrado a irresignação, a sentença não comporta reforma. De início, cumpre destacar que não se desconhece o entendimento da Corte Superior de que, no plano coletivo, o reajuste anual é apenas acompanhado pela ANS, para fins de monitoramento da evolução dos preços e de prevenção de abusos, não havendo que se falar, portanto, em aplicação dos índices previstos aos planos individuais. ( AgInt nos EDcl no AREsp 1.628.431/SP, Relatora: Ministra Maria Isabel Gallotti, Quarta Turma, julgamento: 16/11/2020, publicação: DJe 20/11/2020). Ademais, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça possui firme orientação no sentido de que não é abusiva a cláusula que prevê a possibilidade de reajuste no plano de saúde coletivo, seja por variação de custos ou por aumento de sinistralidade, cabendo ao magistrado a análise, no caso concreto, do caráter abusivo do reajuste efetivamente aplicado, confira- se a seguir: [...] Nesse contexto, a cláusula permitindo a revisão do valor das mensalidades para fins de equilíbrio financeiro-contratual somente tem validade caso efetivamente comprovados os fatos geradores de sua ocorrência. Ademais, ainda que se esteja diante de um plano de saúde coletivo, a operadora de saúde não pode se escusar da observância à Lei nº 9.656/98 e ao Código de Defesa do Consumidor, de modo que se afigura imprescindível a demonstração acerca da necessidade de reequilíbrio do ajuste no percentual proposto. Note-se, portanto, que cabe tão somente à apelante a prova de que o reajuste das mensalidades não seria abusivo, uma vez que detém todos os comprovantes de despesas alusivas à variação de custos e de aumento de sinistralidade. No caso dos autos, analisando-se o conjunto fático-probatório contido nos autos, é de se concluir pela abusividade do índice de reajuste de 70.05% aplicado no contrato em análise, haja vista que a recorrente não se desincumbiu do ônus de comprovar, efetivamente, o aumento exacerbado da sinistralidade que, supostamente, teria comprometido o equilíbrio econômico-financeiro do contrato, hábil a justificar um tão elevado reajuste, razão pela qual correta a sentença ao determinar a aplicação dos reajustes anuais da ANS. Conquanto se admita a possibilidade de majoração das mensalidades do plano de saúde em virtude da sinistralidade, a partir de estudos técnico-atuarias, devem ser fornecidos elementos concretos que evidenciem de forma cabal a variação dos custos e do aumento da sinistralidade. Na espécie, a perícia produzida nos autos (fls. 561/569, p. 577) apurou a existência de sinistralidade com base nos relatórios e pareceres atuariais elaborados de forma unilateral pela recorrente (fls. 313/331 e 488/522), os quais, supostamente, teriam demonstrado a desproporcionalidade entre a receita e as despesas assistenciais. Contudo, observa-se que não foi periciado o objeto que compõe as mencionadas despesas que justificariam o aumento da sinistralidade, quais sejam, honorários médicos, diária e taxas hospitalares, materiais medicamentos, custos decorrentes de cobrança, a título de ressarcimento do SUS, conforme expressamente mencionado na cláusula 23.4.2 do contrato entabulado entre as partes (fl.68, p.39), senão vejamos: [...] Portanto, ainda que o expert tenha consignado que "Os cálculos atuariais aplicados pela parte ré estão em conformidade com o estabelecido na cláusula 23.3.1., que consiste basicamente em: sinistro apurado / Arrecadação = Resultado x 100 = Sinistralidade", observa-se que não foram fornecidos documentos alusivas à origem dos valores constantes nos relatórios e pareceres apresentados pela apelante. Dessa forma, constata-se que a apelante deixou de demonstrar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito autoral, em inobservância ao disposto no artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, não olvidando que a apelante poderia ter apresentado nos autos os demonstrativos do efetivo aumento da sinistralidade para serem analisados pelo Perito, com vistas a demonstrar a legalidade do aumento pretendido, o que, contudo, não ocorreu. Nessa toada, há que se prestigiar o entendimento firmado na sentença, no sentido de que a majoração das mensalidades, com base no índice de reajuste de 75,05%, é desarrazoada e abusiva, posto que não se encontra embasada em nenhuma prova documental concreta, limitando-se a relatórios e pareceres emitidos pela própria recorrente. Em corolário, à míngua da possibilidade de se apurar um índice de reajuste que, de fato, reflita de forma segura e transparente a sinistralidade do contrato, de rigor à observância do índice previsto pela ANS para os planos individuais nos períodos questionados pela apelada. [...] Nesse diapasão, conquanto o reajuste dos planos de saúde coletivos não esteja atrelado aos índices da ANS, verificou-se, in casu, a abusividade do reajuste que a apelante pretendia praticar, à míngua da necessária comprovação nos autos acerca da variação de custos ou do aumento de sinistralidade, ônus que incumbia à recorrente, razão pela qual há que se observar o índice da ANS. Da leitura do acórdão recorrido, verifica-se que a conclusão adotada pela Corte local - no sentido de reconhecer a abusividade do reajuste dO plano de saúde, sobretudo ante a ausência de provas que justificassem o índice aplicado pela operadora - derivou de ampla cognição sobre premissas fáticas e probatórias, assim como da interpretação de cláusulas contratuais. Infirmar o entendimento do Tribunal estadual demandaria revolvimento de fatos e provas, bem como análise de cláusulas contratuais, o que é inviável nessa seara ante o óbice das Súmulas 5 e 7/STJ. Ante o exposto, conheço do agravo para não conhecer do recurso especial. Nos termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, majoro os honorários em favor do advogado da parte agravada em 2% sobre o valor atualizado da causa. Fiquem as partes cientificadas de que a insistência injustificada no prosseguimento do feito, caracterizada pela apresentação de recursos manifestamente inadmissíveis ou protelatórios a esta decisão, ensejará a imposição, conforme o caso, das multas previstas nos arts. 1.021, § 4º, e 1.026, § 2º, do CPC/2015. Publique-se. Brasília, 02 de dezembro de 2022. MINISTRO MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Relator (STJ - AREsp: 2204462 RJ 2022/0281892-1, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, Data de Publicação: DJ 06/12/2022)
TJRJ
APELAÇÃO CÍVEL. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. REAJUSTE POR AUMENTO
DE SINISTRALIDADE. AUSÊNCIA DE PROVAS DAS DESPESAS QUE ENSEJARAM A SUPOSTA MAJORAÇÃO DA SINISTRALIDADE. ABUSIVIDADE DO PERCENTUAL DE REAJUSTE APURADO UNILATERALMENTE PELA OPERADORA DE SAÚDE. OBSERVÂNCIA DO ÍNDICE DA ANS. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. Trata-se ação declaratória de nulidade de cláusula contratual de reajuste por sinistralidade c/c obrigação de fazer e reparação por danos morais ajuizada por associação em face de operadora de saúde, objetivando a manutenção do plano para os seus associados, com reajuste estipulado pela ANS, a declaração de nulidade da cláusula de reajuste por sinistralidade e a condenação da ré ao pagamento de danos morais e materiais. 2. A sentença julgou procedente em parte os pedidos, para, confirmando a tutela antecipada que proibiu o cancelamento do plano e que autorizou o reajuste de 17,96%, declarar nulo o reajuste contratual de 70,05%, mantendo o aumento da mensalidade conforme orientações da ANS. Apelação da ré. 3. Firme a orientação do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que não é abusiva a cláusula que prevê a possibilidade de reajuste no plano de saúde coletivo, seja por variação de custos ou por aumento de sinistralidade, cabendo ao magistrado a análise, no caso concreto, do caráter abusivo do reajuste efetivamente aplicado. 4. À luz do referido entendimento jurisprudencial, a cláusula permitindo a revisão do valor das mensalidades, para fins de equilíbrio financeiro- contratual, somente tem validade caso efetivamente comprovados os fatos geradores de sua ocorrência, não se podendo olvidar que, ainda que se esteja diante de um plano de saúde coletivo, a operadora de saúde não pode se escusar da observância à Lei nº 9.656/98 e ao Código de Defesa do Consumidor. 5. Assim, cabe tão somente à operadora de saúde a prova de que o reajuste das mensalidades não seria abusivo, uma vez que é a única que detém todos os comprovantes de despesas alusivas à variação de custos e de aumento de sinistralidade. 6. No caso dos autos, analisando-se o conjunto fático-probatório contido nos autos, é de se concluir pela abusividade do índice de reajuste de 70.05% aplicado no contrato em análise, haja vista que a recorrente não se desincumbiu do ônus de comprovar, efetivamente, o alegado aumento exacerbado da sinistralidade que, supostamente, teria comprometido o equilíbrio econômico-financeiro do contrato. 6. Conquanto se admita a possibilidade de majoração das mensalidades do plano de saúde em virtude da sinistralidade, a partir de estudos técnico-atuarias, devem ser fornecidos elementos concretos que evidenciem de forma cabal a variação dos custos e do aumento da sinistralidade. 7. In casu, a perícia produzida nos autos apurou a existência de sinistralidade com base nos relatórios e pareceres atuariais elaborados de forma unilateral pela recorrente, os quais, supostamente, teriam demonstrado a desproporcionalidade entre a receita e as despesas assistenciais. 8. Perito que não analisou o objeto que compõe as mencionadas despesas que, supostamente, justificariam o aumento da sinistralidade, quais sejam, honorários médicos, diária e taxas hospitalares, materiais medicamentos, custos decorrentes de cobrança, a título de ressarcimento do SUS, conforme disposto na cláusula 23.4.2 do contrato entabulado entre as partes, haja vista que tais documentos não foram carreados aos autos pela apelante. 9. Apelante que deixou de demonstrar fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito autoral, em inobservância ao disposto no artigo 373, inciso II, do Código de Processo Civil, sendo certo que poderia ter apresentado nos autos os demonstrativos do efetivo aumento da sinistralidade para serem analisados pelo Perito, com vistas a demonstrar a suposta legalidade do aumento pretendido, o que, contudo, não ocorreu. 10. Nessa toada, a majoração das mensalidades, com base no índice de reajuste de 75,05%, é desarrazoada e abusiva, posto que não se encontra embasada em nenhuma prova documental concreta, limitando-se a relatórios e pareceres emitidos somente pela própria recorrente. 11. À míngua da possibilidade de se apurar um índice de reajuste que, de fato, reflita de forma segura e transparente a sinistralidade do contrato hábil a ensejar o desequilíbrio econômico-financeiro do contrato, de rigor à observância do índice previsto pela ANS para os planos individuais nos períodos questionados pela parte autora. Precedentes. 12. Manutenção da sentença. 13. Desprovimento do recurso. (TJ-RJ - APL: 00165624720108190061, Relator: Des(a). MÔNICA MARIA COSTA DI PIERO, Data de Julgamento: 23/11/2021, OITAVA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 26/11/2021)
TJDFT
APELAÇÃO. AÇÃO COMINATÓRIA E INDENIZATÓRIA. REVISIONAL DE CLÁUSULA. PLANO DE
SAÚDE COLETIVO. REAJUSTE ANUAL POR SINISTRALIDADE. ABUSIVIDADE. RESSARCIMENTO. I - Há solidariedade entre a Administradora e a Operadora do plano de saúde, pois ambas participam da cadeia econômica da prestação de serviços. Arts. 7º, parágrafo único, e 34, ambos do CDC. II - O reajuste anual por sinistralidade foi abusivo, pois a ré não se desincumbiu do ônus probatório quanto à demonstração da elevação dos custos do contrato. III - Cabível a devolução dos valores pagos a maior pelo beneficiário do plano de saúde, em razão da revisão de cláusula contratual, sob pena de enriquecimento sem causa. IV - Apelação desprovida. (TJ-DF 07160212720178070007 DF 0716021-27.2017.8.07.0007, Relator: VERA ANDRIGHI, Data de Julgamento: 14/07/2021, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 30/07/2021 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)
TJPE
PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÕES CÍVEIS. PLANO DE SAÚDE. REAJUSTE EM DECORRÊNCIA DE
MUDANÇA DE FAIXA ETÁRIA (AUMENTO SEM PREVISÃO CONTRATUAL). PLANO COLETIVO. ABUSIVIDADE. ARTIGOS 6° E 14 DA LEI N° 8.078/1990 (DIREITO À INFORMAÇÃO ADEQUADA E CLARA AO CONSUMIDOR). REAJUSTE ANUAL. POSSIBILIDADE DE AUMENTO POR SINISTRALIDADE. FÓRMULA DO REAJUSTE QUE DEVE ESTAR NO CONTRATO DE MANEIRA CLARA. ÔNUS DA OPERADORA DE DEMONSTRAR O ACERTO DOS AUMENTOS. ART. 9º, DA RESOLUÇÃO NORMATIVA Nº 309/2012 DA ANS, E DO ART. 6°, INC. VIII, DO CDC. INEXISTÊNCIA DE INFORMAÇÃO CLARA NOS AUTOS. CONDENAÇÃO EM ATO ATENTATÓRIO A JUSTIÇA E EM LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ AFASTADA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME. 1. Legitimidade ativa da parte e passiva do plano de saúde. Usuário de plano de saúde coletivo que tem legitimidade para ajuizar individualmente ação contra a operadora para questionar a viabilidade de manutenção do contrato, ainda que a contratação tenha sido intermediada pela pessoa a qual está vinculado. Precedente do STJ. 2. Tese do recurso repetitivo sobre faixa etária (REsp 1568244/RJ, tema n° 952, e Tema 1.016): "O reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou familiar fundado na mudança de faixa etária do beneficiário é válido desde que (i) haja previsão contratual, (ii) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso". 3. Contrato sem a previsão das idades e dos respectivos percentuais de aumento. Reajuste aos 59 anos em desacordo com o repetitivo, ferindo as normas regulamentares e os artigos 6° e 14 da Lei n° 8.078/1990 (direito à informação adequada e clara ao consumidor). Invalidez da cláusula. 4. Perícia atuarial cabível apenas quando prevista a faixa etária com os respectivos percentuais no pacto e há a necessidade de substituir um percentual abusivo por um adequado e razoável. Caso dos autos em que o contrato firmado não traz cláusula prevendo as faixas etárias com os respectivos percentuais de aumento - uma das premissas do repetitivo (previsão contratual). Ausência de previsão contratual. Incabível a perícia. Reajuste que deve ser afastado, sem a aplicação de nenhum outro índice por idade. Precedentes. 5. Reajustes anuais (por variação de custos e por índice de sinistralidade) que, por si e abstratamente considerados, não são abusivos, pois representam forma de recomposição de eventual desequilíbrio econômico-financeiro do contrato. Precedentes. 6. Fórmula do reajuste anual que deve estar clara no contrato, cabendo a operadora o ônus de demonstrar o acerto dos aumentos aplicados perante os beneficiários (art. 6º, inc. VIII, do CDC e art. 9º, RN nº 309/2012 da ANS). 7. Ausência de documento nos autos que justifique os índices aplicados no plano de saúde coletivo da parte demandante. Beneficiários que têm o direito de questionar os reajustes aplicados anualmente pela operadora, não se mostrando suficiente a mera comunicação formal da operadora. 8. Ressarcir dos valores pagos excessivamente de forma simples, sob pena de enriquecimento sem causa, respeitado o prazo prescricional trienal, conforme repetitivo do STJ (REsp 1360969). 9. Afastada a condenação da seguradora em ato atentatório à dignidade da justiça e em litigância de má-fé, tendo em vista que a suspensão contratual dos autores se deu em razão da rescisão do contrato com a estipulante, tratando-se de fato alheio e posterior à presente demanda, envolvendo o contrato entre as empresas. 10. Recursos da seguradora parcialmente providos. Honorários advocatícios fixados em 20% sobre o valor da condenação em sentença. Decisão Unânime. (Apelação Cível 532393-70066898-56.2014.8.17.0001, Rel. Bartolomeu Bueno, 3ª Câmara Cível, julgado em 30/03/2023, DJe 17/04/2023)
ABUSIVIDADE. CLÁUSULAS CONTRATUAIS DE DIFÍCIL COMPREENSÃO. RISCO DE CANCELAMENTO DO PLANO POR IMPOSSIBILIDADE DE PAGAMENTO. PARIDADE DE VALORES COM OS FUNCIONÁRIOS DA ATIVA. CABIMENTO. TUTELA RECURSAL. REQUISITOS. NÃO CONFIGURAÇÃO. RECURSO DESPROVIDO. 1 – Caberia à recorrente, em virtude da inversão do ônus da prova (CDC, Art. 6º, VIII), comprovar a regularidade dos reajustes questionados, o que, no entanto, não se deduz com a leitura das condições gerais da apólice securitária, tampouco da evolução dos reajustes aplicados no período questionado. 2 - Além de não discriminado nas condições gerais da apólice o valor unitário do prêmio de cada faixa etária que se encontra em documentação apartada (tabela de prêmios), também não são disponibilizadas aos segurados as variáveis que compõem os reajustes financeiro e por sinistralidade, ficando os beneficiários em posição de vulnerabilidade, sujeitos às variações dos preços, sem terem acesso à informação adequada e clara sobre o serviço (CDC, Art. 6º, III). 3- Ainda que a seguradora agravante tente justificar a majoração perpetrada no valor do prêmio do segurado com base nas condições gerais da apólice e em conformidade com a condição particular nº 006, posteriormente alterada pela condição particular nº 024, formalizadas com a estipulante, isso por si só não se mostra suficiente a afastar a perceptividade de excesso nos reajustes praticados, fazendo com que a mensalidade do agravado, em apenas 04 (quatro) meses, passasse a custar mais do que 06 (seis) vezes o valor base. Da mesma forma, não se justifica o argumento de uma suposta paridade de tratamento entre ativos e inativos, apenas porque insertos em um plano empresarial único, com as mesmas coberturas assistenciais e de prestação de serviço, sendo clara a diferenciação da cobrança de valores entre os ativos e inativos, que se percebe pela própria exposição desses valores em reais, disposta na tabela única de prêmios, calculada por faixa etária e padrão de seguro. 4 – A recorrente não trouxe aos autos elementos suficientes à reforma da decisão agravada, mormente quando se percebe a excessividade dos valores praticados, resultando em demasiada oneração ao consumidor em um curto período de tempo, restando configurado, in casu, o perigo de dano inverso, de ficar o segurado idoso, contando atualmente com 80 anos de idade, sem a cobertura contratual, por impossibilidade de pagamento das faturas do seguro, majoradas de forma exponencial como ocorrido no lapso de poucos meses, dificultando ou mesmo inviabilizando a continuidade da avença. (SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº0016425-54.2022.8.17.9000 RELATOR: DES. ALBERTO NOGUEIRA VIRGÍNIO)