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Proposta de resolução

GRUPO I
Questão 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 pontos

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Descritores específicos1
• Identificação clara de três dos seguintes fatores que contribuíram para a falência da Primeira República
Portuguesa:
− forma impreparada de como Portugal entrou na guerra;
− não aproveitamento de recursos financeiros internacionalmente disponibilizados para a guerra;
− crise financeira de grandes dimensões OU dependência financeira face ao Reino Unido;
− desorganização económica, sem solução à vista;
− insuficiência de reparações adequadas ao estatuto de nação vencedora, no quadro do pós-guerra;
− desânimo provocado pela guerra;
− apelos à intervenção política para inverter a situação do país;
− críticas de setores militares aos governos da Primeira República.
• Interpretação completa do documento, por referência ao solicitado.
• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.

Comentário
As questões sobre a crise e a falência da Primeira República são também das que mais se vêm repetindo nas
provas de exame. Com esta, é a 4.ª vez que esta matéria é objeto de avaliação e três delas ocorreram numa das
fases de cada uma das últimas três épocas.
Por conseguinte, considerando que os alunos também fazem incidir o seu estudo na resolução das provas
dos anos anteriores, esta questão não pode oferecer qualquer dificuldade. Considere-se também que o docu-
mento constitui uma preciosa ajuda que o aluno deve ter em conta para obter a classificação máxima.

Uma proposta de resolução


Entre os vários fatores que contribuíram para a falência da Primeira República, o general Sinel de Cordes
faz referência à falta de preparação das forças militares portuguesas para participarem no conflito mundial
em que se envolveram. Diz claramente que “a organização militar do tempo era deficiente”, acabando por
dar razão àqueles que se opunham à intervenção de Portugal na guerra e que se serviram deste argumento
para intensificar a sua ação de oposição aos já frágeis governos republicanos.
Refere também o facto de Portugal não reunir condições financeiras para suportar os custos da
manutenção do Corpo Expedicionário Português nos campos de batalha. Denuncia, a propósito, o facto
de os governos republicanos não terem recursos financeiros próprios, pois vivia-se “à custa da circula-
ção fiduciária ou dos créditos da Inglaterra”, que à data das suas palavras tanto custavam a pagar, nem
saberem recorrer aos empréstimos internacionalmente disponibilizados aos países diretamente envol-
vidos no conflito.
Relaciona depois o agravamento da situação financeira, a que ele chama “uma pavorosa crise financeira”, e
o descalabro económico do país com as consequências da presença de Portugal na guerra, mostrando admitir
que o fim daquele modelo republicano era questão de pouco tempo, dada a inoperância dos sucessivos
governos na busca de soluções e a crescente violência da contestação.

1
Apresentamos apenas os descritores específicos propostos pelo GAVE para o nível de desempenho mais elevado, quer no domínio
específico da disciplina, quer no domínio da comunicação escrita em língua portuguesa. .
Para um esclarecimento mais completo, deve consultar http://www.gave.min-edu.pt/np3/290.html (consulta feita em 16/07/2012)
Exame Nacional 2012 – 2.ª Fase

Questão 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 pontos
Descritores específicos
• Explicação clara de três das seguintes ameaças à paz que persistiam após a Primeira Guerra Mundial:
− imposição aos países vencidos de condições duras nos tratados de paz, sentidos como uma forma de
humilhação OU tentativa de reconstrução dos vencedores à custa da asfixia dos derrotados;
− ineficácia e descrédito da Sociedade das Nações (SDN) na resolução pacífica dos diferendos internacio-
nais (doc. 1), sobretudo pela não inclusão de nenhum dos países vencidos nem da Rússia soviética;
− crítica e isolacionismo dos EUA (doc. 1) por não aceitarem a asfixia imposta aos vencidos, não ratifi-
cando o Tratado de Versalhes OU não aderindo à SDN;
− pretensões hegemónicas de países europeus vencedores, membros da SDN, alargando as suas fron-
teiras OU estendendo o seu domínio a territórios retirados aos vencidos (doc. 1);
− dificuldades na regulamentação de fronteiras e na questão das minorias nacionais, decorrentes da
aplicação do princípio das nacionalidades;
− desenvolvimento dos nacionalismos nos países mais afetados pelas consequências da guerra;
− clima de descontentamento até de países vencedores: Portugal, por não ser devidamente contem-
plado pelas reparações de guerra exigidas aos vencidos (doc. 2) OU a Itália, por razões territoriais;
− ruína do continente europeu, devastado pela guerra, acentuada em países com graves crises econó-
mico-financeiras (doc. 2).
• Interpretação completa do documento, por referência ao solicitado.
• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.

Comentário
Dizíamos acima que os alunos devem trabalhar as provas de exame dos anos anteriores. Insistimos agora
que devem também resolver todos os exercícios que, por qualquer via, lhes sejam propostos. A propósito desta
questão, sugerimos a resolução daqueles que propomos nesta publicação pois nunca se sabe quando um
documento por nós usado pode aparecer em exame. É o que acontece com o documento 1 que, antes de a
prova ser publicada, já tinha sido por nós selecionado para fundamentar uma questão que propomos no
exercício 7_01.
A propósito desta questão, se inferir do documento 2 ameaças à paz no pós-Primeira Guerra já oferece
alguma dificuldade, inferir essas ameaças do documento 1 pode oferecer dificuldade maior. É certo que há
indicações no documento a partir das quais se deve perceber que se trata de uma denúncia do fracasso da
Sociedade das Nações. Mas não é fácil identificar a referência aos hemisférios, nem quem é que, no hemisfério
ocidental, se mostra apreensivo sobre a sementeira de futuras guerras no hemisfério oriental. Também não é
fácil identificar os semeadores das guerras, apesar da indicação de que se se trata de dirigentes da SDN e das
referências geográficas das terras onde as sementes de guerra são lançadas. Finalmente, acresce que, apesar
de o fracasso da SDN integrar um conteúdo de aprofundamento, trata-se de matérias trabalhadas logo nas
primeiras aulas, num tempo em que o ano letivo ainda está em fase de arranque, e que mais facilmente são
secundarizadas e caem no esquecimento.
Por conseguinte, fica confirmado que pelo menos todos os conteúdos de aprofundamento, desde a primeira
página à última, devem ser considerados no mesmo nível de importância e têm de ficar bem sabidos para se
obter o desejado sucesso na prova de exame. Assim, tendo bom conhecimento das razões do fracasso da SDN, já
se tornaria menos difícil interpretar o conteúdo da gravura.
Notar também que se trata de uma questão de 30 pontos, por conseguinte, a resposta terá de conter a
explicação dos aspetos referidos, conforme requer o enunciado, e não se limitar ao seu simples enunciado.

Uma proposta de resolução


No documento 2, é referida a desastrosa situação económico-financeira em que ficou Portugal, apesar
de ter enfileirado ao lado dos vencedores. Considera o autor que ficámos “em piores condições económicas
e financeiras do que os vencidos”, pondo em evidência um claro fator de descontentamento e de novas
tensões nacionalistas que emergiram entre as forças vencedoras, nada favoráveis ao pretendido ambiente
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de paz e de concórdia entre as nações.


Mas os mais fortes sinais de ameaças à paz estão presentes no documento 1, ao denunciar de forma
caricaturada as tradicionais rivalidades e ambições hegemónicas que ressurgiram entre as grandes
potências europeias, interrompidas durante o conflito em que se envolveram contra os impérios centrais.
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Assim, vemos os semeadores russo, italiano, inglês e francês a semearem a guerra em territórios, muitos

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deles de países vencidos, onde tinham interesses geostratégicos não satisfeitos na Conferência de Paz.
É esta ameaça à paz que deixa o americano do lado de lá da cancela muito apreensivo com o que se
passa do lado de cá. Trata-se da caricatura do isolacionismo americano face à evolução da paz na Europa.
Com efeito, do lado de lá do Atlântico, os EUA não viam com bons olhos a forma como a paz estava a ser
tratada, no hemisfério oriental, pelas potências vencedoras. Não aceitavam, no caso concreto, que a paz
fosse construída sobre os escombros dos vencidos. Por isso, não ratificaram o Tratado de Versalhes e acaba-
ram por nunca integrar a Sociedade das Nações, apesar de terem sido os seus inspiradores, contribuindo
para o descrédito de uma instituição cada vez menos eficaz na promoção da paz no mundo.

GRUPO II
Questão 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 pontos
Descritores específicos
• Referência clara de três dos seguintes objetivos que estiveram na base da aplicação do Plano Marshall à
Europa:
− auxílio à reconstrução da Europa, devastada pela Segunda Guerra Mundial, por parte dos EUA OU
contributo dos EUA para o «bem-estar» económico de uma Europa destruída (doc. 1);
− reforço da «paz» recentemente alcançada na Europa (doc. 1);
− resposta de emergência aos efeitos do inverno rigoroso de 1946-47 na Europa;
− resposta à contestação social e política verificada nos países da Europa Ocidental;
− contenção do comunismo na Europa Ocidental (doc. 1) OU aplicação à Europa Ocidental da doutrina
Truman;
− afirmação da liderança dos EUA na defesa do «mundo livre» (doc. 1) OU reforço dos laços económicos
e políticos entre os EUA e os países da Europa Ocidental, como a Áustria (doc. 1);
− contributo para o crescimento das exportações dos EUA para a Europa Ocidental OU afirmação do
poder económico dos EUA no mundo capitalista.
• Interpretação completa do documento, por referência ao solicitado.
• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.

Comentário
Temos vindo a considerar que os documentos constituem excelentes motivações para a elaboração das
respostas. Sobre este, podemos dizer mesmo que se trata de uma boa cábula. Efetivamente, os três objetivos
pedidos pela questão estão contidos nas palavras Paz, Liberdade e Bem-estar que definem genericamente o Plano
Marshall aplicado à Áustria, segundo o autor do cartaz. Acresce que certos pormenores gráficos ajudam ainda
mais a esclarecer os objetivos em causa, conforme referiremos na nossa proposta de resposta, até porque, para
obter a cotação máxima, deve fazer uma “interpretação completa do documento, por referência ao solicitado”.

Uma proposta de resolução


Um dos objetivos que estiveram na base da aplicação do Plano Marshall à Europa foi a promoção do
“Bem-estar” entre as populações europeias, mediante o apoio à reconstrução de um continente devastado
pela guerra. Visava, concretamente, o Governo americano evitar que se repetissem as condições económi-
cas e financeiras que, no pós-Primeira Guerra, abriram as portas ao sucesso da contestação revolucionária
de inspiração socialista e à resposta dos setores conservadores no apoio a políticas totalitárias. Bem preten-
diam também os americanos estender os efeitos do seu plano de ajuda económica ao Leste da Europa,
mas, aí, considera o cartaz, as nuvens negras do totalitarismo estalinista pairavam no céu impedindo que a
prosperidade que soprava do Ocidente beneficiasse também os Estados sob influência soviética.
Assim, é também a “Liberdade” que está em causa nestas preocupações do Governo americano, pois,
conforme o cartaz também documenta, o “mundo livre” de que os Estados Unidos se afirmavam bastião
evolui de oeste para leste, ao encontro do expansionismo soviético que, na propaganda do Ocidente
demoliberal, ameaçava a liberdade dos povos. Com efeito, a mesma nuvem que impedia a evolução da
prosperidade económica impedia também que a luz da liberdade proveniente do Ocidente raiasse nos
territórios de Leste, fazendo com que permanecessem na escuridão.
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Por fim, é a “Paz” que se pretende promover com a aplicação do Plano Marshall à Europa. Sabemos quão
precária foi a paz decorrente dos acordos do pós-Primeira Guerra, conforme a informação que prestámos
nas respostas às questões do grupo I. Ora, com o fim da Segunda Guerra, os Estados Unidos abandonam a
sua política isolacionista e empenham-se na efetiva defesa da paz, promovendo, com o Plano Marshall, a
cooperação entre os países beneficiários na resolução das suas dificuldades económicas e financeiras, evi-
tando que se envolvessem em novas tensões nacionalistas e que caíssem no bloco que, conforme a sua
propaganda, ameaçava também a paz.

Questão 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 pontos
Descritores específicos
• Comparação clara das duas perspetivas acerca do papel do Estado nas sociedades capitalistas, referindo
três dos seguintes aspetos em que se opõem:
− enquanto o documento 3 – perspetiva da Declaração do Congresso da Internacional Socialista – repre-
senta a visão do modelo do Estado-Providência, o documento 4 – perspetiva do Manifesto do
Congresso da Internacional Liberal – representa a visão do modelo do Estado mínimo;
− enquanto no documento 3 se defende que o Estado deve combater os efeitos da desregulação dos
mercados na distribuição injusta dos rendimentos, no desemprego, na maior pobreza e na concentra-
ção de capital, no documento 4 defende-se que o Estado valorize a existência de mercados globais
abertos, que promovem a prosperidade e constituem a melhor forma de ultrapassar a pobreza no
mundo;
− enquanto no documento 3 se afirma que o Estado deve promover uma política social que assegure a
igualdade de oportunidades e a justiça social, apoiando trabalhadores, desempregados, doentes e
idosos, no documento 4 afirma-se que cada indivíduo deve ser responsabilizado pelo combate à sua
própria pobreza, negando-se que seja função do Estado ajudar os cidadãos a serem «felizes»;
− enquanto no documento 3 se enuncia que o Estado deve promover a existência de uma rede de segu-
rança social com o apoio do Governo para construir uma «sociedade equilibrada», no documento 4
enuncia-se que o Estado deve possuir sistemas de promoção do bem-estar, mas flexíveis e administra-
dos a nível local;
− enquanto no documento 3 se defende que o Estado deve promover o investimento em recursos
humanos através de programas para a saúde, serviços sociais e salários justos, mais produtivos do que
as políticas monetaristas, no documento 4 defende-se que o Estado deve abdicar de políticas sociais
que sobrecarregam os orçamentos e acumulam dívidas para as gerações futuras;
− enquanto no documento 3 se afirma que o Estado deve promover o investimento público para criação
de empregos, no documento 4 afirma-se que o Estado deve evitar substituir-se à iniciativa privada na
promoção do desenvolvimento;
− enquanto no documento 3 se considera que o Estado deve contribuir para a qualidade e a sustentabi-
lidade do crescimento e para a distribuição dos benefícios próprios de uma «sociedade moderna», no
documento 4 considera-se que o Estado deve ter um âmbito de ação limitado em benefício do
controlo das despesas, vistas como ameaça a uma «sociedade livre».
• Interpretação completa dos documentos, por referência ao solicitado.
• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.

Comentário
Já alertámos para a importância da leitura atenta dos títulos dos documentos. Mais sugestivos uns do que
outros, é certo, mas todos eles fornecem importante informação sobre o conteúdo referenciado.
No caso desta questão, os títulos dos documentos, praticamente, são meia resposta. Com efeito, ao perceber
que um documento tem a ver com as conclusões de um congresso da Internacional Socialista e outro com as
conclusões de um congresso da Internacional Liberal, sobre o papel do Estado nas sociedades capitalistas, o
aluno tem muito da resposta conseguida se levar para a prova informações sólidas sobre as propostas políticas
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subjacentes a cada uma das ideologias. A isso é obrigado, se pretender obter sucesso, e para isso realizou um
trabalho de estudo sério acompanhado pelo seu professor. Assim, basta identificar nos textos três dos aspetos
em que as posições políticas se opõem e apresentá-los com rigor e objetividade e fundamentados na “interpreta-
ção completa do documento, por referência ao solicitado”.
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Constatámos que nas duas provas deste ano, à semelhança do que ocorreu no ano passado, os autores optaram

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por propor dois textos para trabalho. Ainda bem, pois a confrontação do conteúdo de outro tipo de documentos
parece-nos de maior complexidade para os alunos. Notámos também que, este ano, se optou por textos relativamente
longos. Tanto melhor, pois mais vasta é a informação em confronto e, logo, mais fácil de encontrar. Acresce que os
descritores de correção propõem tantas alternativas de resposta que os 30 pontos ficam perfeitamente ao alcance dos
alunos, de forma ainda mais fácil daqueles que, ao longo do ano, tiveram o cuidado de treinar este tipo de exercício.

Uma proposta de resolução


Expressando um documento as propostas da Internacional Socialista sobre o papel do Estado nas
sociedades capitalistas e expressando outro as propostas da Internacional Liberal, terão de ser absoluta-
mente antagónicas as suas posições.
Assim, enquanto a Internacional Socialista, na linha da social-democracia e da democracia cristã
triunfantes no pós-Segunda Guerra Mundial, se afirma defensora dos mecanismos de proteção social no
quadro do Estado-Providência, considerados uma “conquista histórica do movimento laboral”, a Interna-
cional Liberal repudia o que considera ser uma excessiva presença do Estado na proteção social e propõe
um modelo em que o Estado se limite a fornecer às pessoas “meios para que elas próprias combatam a
pobreza” e se sintam responsáveis pela resolução das suas próprias dificuldades.
Considerando a Internacional Socialista que as políticas neoliberais estão na origem da “desregulação
dos mercados” e que, em consequência, provocam uma distribuição cada vez “mais injusta”, “dos rendi-
mentos e das oportunidades de emprego, assim como uma maior concentração do capital”, só tem de
advogar (e advoga) uma forte intervenção do Estado na regulação da economia e na promoção do
equilíbrio social pelo combate aos problemas sociais decorrentes desta problemática. Já a Internacional
Liberal considera que o Estado social “está a entrar em crise, senão mesmo a colapsar” e que, por isso, não
terá meios orçamentais para “organizar as coisas para que as pessoas sejam felizes”. Por isso, defende que
o problema da pobreza no mundo só pode ser solucionado pela iniciativa privada, num mercado global,
aberto à livre circulação de pessoas de mercadorias e de capitais.
A Internacional Socialista também não nega que os indivíduos devem esforçar-se “para se adaptarem
aos mercados laborais”, todavia, defende que o Estado deve promover “um esforço de investimento
público para criar novos empregos”, ou seja, destinar importantes parcelas do seu orçamento à criação
de postos de trabalho, seja diretamente nos serviços públicos, seja indiretamente num forte setor empre-
sarial do Estado. A este propósito, a Internacional Liberal defende que o empenhamento do Governo na
promoção da felicidade dos cidadãos está a colapsar em todo o mundo, porquanto os excessivos gastos
públicos na intervenção do Estado na economia “constituem em si mesmos sérias ameaças a uma socie-
dade livre” e mais defendem que é dever do Estado “reduzir as despesas públicas” pela promoção da
iniciativa privada, “a única que pode gerar um desenvolvimento sustentável”.

Questão 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 pontos
Descritores específicos
• Desenvolvimento claro e organizado do tema «Desenvolvimento económico e progresso social no
mundo ocidental do segundo pós-guerra aos anos 90 do século XX», abordando três dos aspetos a
seguir referidos para cada um dos três tópicos de orientação da resposta:
Prosperidade económica a partir do final da Segunda Guerra Mundial
− aproveitamento dos recursos disponibilizados pelo Plano Marshall (doc. 1);
− adoção de planos de desenvolvimento com intervenção estatal (doc. 3);
− desenvolvimento das relações económicas, com a criação de organismos internacionais promotores
da cooperação: GATT OU BIRD OU FMI;
– recurso ao petróleo barato como fonte energética;
− aumento da concentração industrial e das multinacionais;
− grande investimento na educação, na investigação científica e no desenvolvimento tecnológico;
− forte crescimento do PIB das economias ocidentais (doc. 2) OU rápido desenvolvimento dos setores
primário, secundário e terciário;
− obtenção de lucros elevados devido aos baixos custos de produção;
− aumento da função redistributiva dos Estados, que fomentam o consumo interno (doc. 3);
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− aproveitamento de uma mão de obra cada vez mais numerosa e mais qualificada;
− liberalização do comércio internacional e aumento do volume do comércio mundial (doc. 2);
− desenvolvimento da produção em massa e da sociedade de consumo, num contexto de forte
crescimento demográfico;
− incremento das trocas internacionais com países exportadores de matérias-primas baratas, com
reflexos no reforço da dicotomia Norte-Sul.
Construção do Estado-Providência no segundo pós-guerra
− defesa de políticas de intervenção do Estado na economia e no equilíbrio social OU afirmação do papel
do Estado regulador e promotor do bem-estar e da justiça social (doc. 3);
− contributo da social-democracia, combinando a economia de mercado com o alargamento das
funções sociais do Estado (doc. 3);
− contributo da democracia-cristã baseada na doutrina social da Igreja, com vista à justiça e à solida-
riedade;
− desenvolvimento e consolidação do Estado-Providência no Reino Unido – criação do Serviço Nacional
de Saúde gratuito;
− generalização dos sistemas públicos de educação, de segurança social e de saúde;
− contributo da repartição mais equitativa da riqueza, promovida pelo Estado-Providência, para a
prosperidade económica (doc. 3);
− crescimento das estruturas governamentais, do funcionalismo público e das despesas dos Estados
(doc. 4).
Afirmação do neoliberalismo a partir da década de 80
− abrandamento do crescimento económico do mundo capitalista após a crise económica dos anos 70
(doc. 2);
− emergência do neoliberalismo como reação ao keynesianismo OU surgimento de doutrinas defenso-
ras da redução do papel do Estado na economia (doc. 4);
− aplicação do modelo neoliberal no Reino Unido, durante os governos de Margaret Thatcher, e nos EUA,
durante as presidências de Ronald Reagan;
− ênfase dada à redução das despesas do Estado no setor da proteção social e no funcionalismo público
(doc. 4) OU forte preocupação com a redução dos défices públicos através da redução das despesas do
Estado (doc. 4);
− adoção de programas de privatização de empresas estatais e redução do investimento público, como
formas de garantir um desenvolvimento sustentado (doc. 4);
− adoção de políticas de redução da fiscalidade e de combate à inflação;
− desregulação do mercado laboral OU facilitação da mobilidade da mão de obra;
− quebra da influência social e política dos sindicatos;
− liberalização dos capitais e domínio das grandes empresas multinacionais OU transnacionais;
− defesa do papel dos mercados globais abertos na promoção do desenvolvimento (doc. 4) OU promo-
ção da globalização das trocas em todos os polos económicos mundiais;
− crença no efeito «mão invisível» dos mercados na redistribuição do rendimento e no combate à
pobreza (docs. 3 e 4);
− forte investimento nos setores da investigação científica e das tecnologias de comunicação;
− críticas ao neoliberalismo pelos efeitos causados no aumento das desigualdades sociais, no cresci-
mento do desemprego e da pobreza (doc. 3) OU denúncia da ameaça de destruição do Estado social
construído após a Segunda Guerra Mundial (doc. 3).
• Integração, de forma oportuna e sistemática, dos quatro documentos.
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• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.

Comentário
Já pouco há a comentar sobre este tipo de questão. A agora proposta insere-se na linha das questões
propostas nas últimas provas.
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Repetimo-nos, portanto, se dissermos que a resposta de desenvolvimento perdeu muito do carácter de

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grande composição de outros tempos e que, para uma mais fácil resolução, pode ser entendida como um
conjunto de três questões para cuja resposta o aluno deve abordar três aspetos. Claro que o aluno jamais deve
deixar linhas entre cada uma das partes relativas a cada um dos tópicos; antes pelo contrário, deve encadear os
assuntos de forma lógica para que, no final, resulte apenas um corpo de resposta. Com efeito, o aluno tem de ter
em conta que, antes dos tópicos, prevalece um tema ao qual deve dar desenvolvimento. É ao professor classifica-
dor que compete descortinar os conteúdos e a respetiva fundamentação nos documentos, para atribuir a classi-
ficação prevista para cada caso. Por isso, recomendamos que recorra ao uso de parágrafos para que a resposta
resulte clara e mais fácil de classificar. Nove parágrafos é o mínimo que sugerimos para este tipo de resposta.
Também nos repetimos se dissermos que os bons conhecimentos adquiridos sobre as matérias propostas
para trabalho são muitíssimo importantes, mas a sua mais perfeita e completa referência não implica a
atribuição da cotação máxima. Deve notar que existe uma indicação nos critérios específicos de classificação
que impõe como condição para o enquadramento da resposta no nível máximo a “integração, de forma
oportuna e sistemática, dos quatro documentos”. Na prática, significa que o aluno deve condicionar os muitos
conhecimentos adquiridos às informações prestadas pelos quatro documentos, ou seja, primeiro, o conteúdo
dos documentos, depois, os conhecimentos que eles motivam, para desenvolver o tema proposto no enun-
ciado da questão.

Uma proposta de resolução


A prosperidade económica verificada a partir do final da Segunda Guerra Mundial, em particular a
prosperidade da Europa Ocidental, entre 1951 e 1973, está bem evidenciada nos indicadores apresenta-
dos no documento 2. Com efeito, verificamos que, enquanto o Produto Interno Bruto dos EUA cresceu
0,8%, relativamente ao período anterior, o PIB de França quase quadruplicou e o do Reino Unido mais
que triplicou. Já na Alemanha, o crescimento deste referencial multiplicou-se por um extraordinário valor
próximo de 17.
Claro que os indicadores do crescimento do volume das exportações acompanham os valores do cres-
cimento do PIB, nos países citados, merecendo agora também referência a quase triplicação do volume das
exportações americanas, contando para esse crescimento, com toda a certeza, a resolução das dificuldades
económico-financeiras da Europa graças às ajudas concedidas no âmbito do Plano Marshall a que o cartaz
do documento 1 faz alusão, considerando-o como um plano que trazia “Paz, Liberdade, Bem-estar”.
É também no âmbito do plano de ajuda americana que os países beneficiários são convidados a
criarem, em abril de 1948, a OECE como organismo de coordenação da ajuda financeira prestada e das
relações económicas entre si estabelecidas. O GATT, como acordo celebrado em 1947, tendo em vista
harmonizar as políticas aduaneiras dos Estados signatários no sentido de viabilizar de forma mais eficaz
as políticas de recuperação económica acordadas em Bretton-Woods, encontrava na OECE um meca-
nismo de cooperação europeia no combate a manifestações nacionalistas que tão más consequências
tinham provocado no primeiro pós-guerra.
Mas esta ajuda americana, ao promover a recuperação económica e o “Bem-estar” dos países europeus
que dela beneficiaram, contribuiu também para a consolidação do modelo de Estado então preconizado
pelas doutrinas sociais-democratas e democratas-cristãs cujos partidários foram ganhando eleições e
ascendendo ao poder em vários países capitalistas e demoliberais da Europa ocidental, no período que se
seguiu ao triunfo sobre o nazi-fascismo – o Estado-Providência.
Os partidos sociais-democratas propunham a conciliação dos princípios da livre concorrência, defendi-
dos pelos partidos liberais, com a intervenção do Estado na regulamentação das atividades económicas e
na promoção do bem-estar dos cidadãos, preconizada pelos partidos socialistas. No mesmo sentido se
manifestaram os partidos da democracia-cristã, inspirados na doutrina social da Igreja, ao defenderem que
o exercício do poder democrático, mais do que simples resultado de um processo de escolha dos gover-
nantes em liberdade, devia passar pelo dever de os governantes eleitos assumirem um papel mais inter-
ventivo de forma a promover e assegurar o bem-estar dos cidadãos e uma maior justiça social.
É este modelo de Estado que a Internacional Socialista continua a defender em 1992, segundo as
conclusões do seu XIX Congresso a que o documento 3 faz referência. Com efeito, os partidos integran-
tes desta organização continuam a afirmar que “os mercados são indispensáveis como fontes eficazes de
recursos económicos”, mas mediante “uma regulação para que a concorrência seja justa”. E mais conside-
ram que, na sua ação de correção das injustiças e de construção de uma sociedade equilibrada, é dever
dos governos destinarem importantes parcelas do orçamento nacional para a promoção da saúde, edu-
cação, segurança social e mesmo para a criação de postos de trabalho, seja diretamente nos serviços
Exame Nacional 2012 – 2.ª Fase

públicos, seja indiretamente num forte setor empresarial do Estado, como forma de combater o desem-
prego e promover o consumo, conforme preconizara Keynes nas suas propostas de resolução dos efeitos
da crise de 1929.
Mas, se o Estado-Providência reúne as imprescindíveis condições financeiras para a implementação
de uma tão abrangente política social muito graças às ajudas americanas, é também este modelo de
Estado que acabará por desempenhar um importante papel no fomento do crescimento económico a
que o documento 2 faz referência, reforçando os seus recursos financeiros num círculo vicioso de prospe-
ridade que alimentará as suas capacidades de intervenção quase sem contestação até finais dos anos 70.
É que, entre 1974 e 1992, conforme o documento 2 também evidencia, dá-se uma clara inflexão no
forte crescimento económico verificado nas duas décadas anteriores. Nos EUA, o PIB regressa mesmo a
valores inferiores aos que tinham sido atingidos antes da guerra e, nos países europeus considerados, os
valores perderam aproximadamente 50%. E se os valores das exportações americanas não caíram tão
fortemente ou se se mantiveram inalterados no Reino Unido, já as perdas verificadas na Alemanha e na
França foram consideráveis. Viviam-se as consequências dos choques petrolíferos e, sobretudo, da desre-
gulação do sistema financeiro internacional provocada pelo fim do sistema monetário instituído em
Bretton-Woods. Era o fim dos “Trinta Gloriosos”.
Nesta conjuntura económica e financeira, ainda nos anos 80, os governos conservadores de países
capitalistas ocidentais, como o de Margaret Thatcher, no Reino Unido, e o de Ronald Reagan, nos Estados
Unidos, repensam as teses keynesianas e empreendem uma atuação que consideram mais pragmática e
que passa, conforme é afirmado no Manifesto do 48.º Congresso da Internacional Liberal, por uma
crescente redução da intervenção do Estado na economia e na resolução dos problemas sociais, nomea-
damente, por exemplo, no alívio das dificuldades das famílias que deve ser da responsabilidade de cada
um, cabendo ao Estado apenas o dever de “fornecer às pessoas meios para elas próprias combaterem a
pobreza”. Fundamentam as suas posições nas crescentes dificuldades financeiras dos Estados em supor-
tar as enormes despesas com a função social do Estado e com a intervenção pública na regulação e no
equilíbrio económico. A este propósito, afirmam mesmo que o crescimento das despesas do Estado
constitui uma séria ameaça à construção de uma sociedade livre e que, portanto, “deve ser prioritário
limitar o âmbito do Governo e reduzir as despesas do Estado” para que as gerações futuras não tenham
de se confrontar com “pesadas dívidas”.
A Internacional Liberal valoriza, por conseguinte, a livre iniciativa e a livre concorrência e preconiza
uma política de privatização dos serviços públicos, bem como a livre circulação de pessoas, de mercado-
rias e de capitais, em “mercados globais abertos”, como política de promoção mais eficaz da prosperi-
dade, porquanto consideram que o “comércio livre, ao dar as melhores oportunidades aos economica-
mente mais fracos, constitui a melhor forma de ultrapassar a pobreza no mundo”.
É o Estado-Providência defendido pela Internacional Socialista como conquista histórica do movi-
mento laboral que entra em declínio e falência, claramente notada nos tempos que vivemos.

GRUPO III
Questão 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 pontos
Descritores específicos
• Referência clara de três dos seguintes aspetos que, segundo o autor, evidenciam o «inegável sucesso» da
Revolução do 25 de Abril:
− carácter pacífico e não violento da revolução OU associação entre a «Revolução dos Cravos» e o não
derramamento de sangue;
− mudança de regime político com o derrube da ditadura do Estado Novo OU instituição de um regime
democrático e pluralista («democratizar»);
− reconhecimento do direito à autodeterminação dos povos das colónias («descolonizar»);
− contributo para o progresso económico e social do país («desenvolver»);
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− influência na transição democrática espanhola;


− aproximação entre os Estados e os povos ibéricos.
• Interpretação completa do documento, por referência ao solicitado.
• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.
Exame Nacional 2012 – 2.ª Fase

Comentário
Uma das dificuldades com que os alunos se confrontam nos exames é saber o que é que os descritores de

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classificação consideram como tópico suficiente para responder cabalmente às questões, concretamente,
saber quando é que o tópico tem muitas alternativas de resposta (muitos “OU”) ou quando as alternativas se
desdobram em novos tópicos.
Temos nesta questão uma manifestação dessa dificuldade. A concretização dos três D parece ser, para
Mário Soares, um único aspeto do “inegável sucesso” da revolução. Todavia, os descritores consideram a
concretização de cada objetivo um aspeto individualmente.
Na dúvida, antes mais do que menos. Nós também entendemos os três D como um único aspeto e, assim
sendo, só temos de acrescentar outros dois. Até porque nem é nada difícil descortiná-los no conteúdo do
documento.
Mas os critérios específicos de classificação levantam aqui outro problema. É que o autor faz referência clara
à entrada de Portugal (e de Espanha) na CEE “como membros de pleno direito”. Refere-o, é certo, como outro
meio de favorecer as relações entre a “Europa e a Ibero-América”. Mas todos sabemos que os obstáculos à plena
integração europeia resultantes do isolamento do regime eram um dos motivos de contestação da ditadura e
que, por conseguinte, o arranque irreversível do processo de integração de Portugal na CEE decorreu do “inegá-
vel sucesso” da Revolução do 25 de Abril, confirmado com a promulgação da Constituição em 1976.
Ora, acontece que os descritores não consideram a referência ao processo de integração na CEE, desenca-
deado logo em 1976, como evidência do sucesso da revolução. Mas, se algum aluno a tiver em conta na sua
resposta, ela tem de ser aceite porquanto “as formulações apresentadas nos critérios específicos de classifica-
ção e relativas aos conteúdos não devem ser entendidas de forma rígida, mas como indicadoras da linha
interpretativa considerada correta, ressalvando-se sempre uma visão holística da resposta do examinando,
relativamente ao que é solicitado no item”. Assim sendo, nós só não fazemos referência a este aspeto na nossa
resposta porque encontrámos antes outros dos três pedidos no enunciado da questão.

Uma proposta de resolução


Entre os vários aspetos que evidenciam o “inegável sucesso” da Revolução do 25 de Abril de 1974, o
autor faz referência ao seu carácter pacífico quando afirma que “foi uma revolução sem efusão de sangue”.
Com efeito, constituiu imagem da revolução portuguesa a substituição das balas por cravos vermelhos nos
canos das espingardas dos militares envolvidos.
Mário Soares congratula-se depois com o pleno sucesso na implementação do programa que norteou
o movimento revolucionário sintetizado nos três D: “descolonizar, democratizar e desenvolver”. “Descoloni-
zar”, pelo imediato reconhecimento do direito das colónias à reivindicada autodeterminação e indepen-
dência; “democratizar”, pelo derrube da ditadura e implantação de um modelo democrático pluralista;
“desenvolver”, pelo progresso económico e social que se verificou nos tempos que se seguiram, muito
também devido ao arranque do processo de integração na CEE.
Considera que outra manifestação de sucesso foi ter influenciado a “transição democrática espanhola”,
daí resultando uma fluidez “natural e quase automática” das relações entre os dois “Estados peninsulares e
os diversos povos ibéricos”. Na verdade, foi na revolução portuguesa que, não só a Espanha, mas também a
Grécia, na altura submetidas a regimes ditatoriais, procuraram o exemplo para o desencadear dos seus
processos de democratização.

Questão 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 pontos
Descritores específicos
• Explicação clara de três das seguintes características da política externa portuguesa após o 25 de Abril
de 1974:
− procura de um clima de aceitação e de reconhecimento internacionais, pondo fim ao isolamento de
Portugal das décadas anteriores;
− reconhecimento da independência das colónias, dando cumprimento a um dos principais objetivos
da Revolução do 25 de Abril (doc.) OU negociação com os movimentos de libertação, considerados os
representantes legítimos dos seus povos;
− denúncia da ocupação de Timor-Leste pela Indonésia e defesa, no contexto internacional, dos interes-
ses dos timorenses;
− início do processo de integração de Portugal na Europa Comunitária, como membro de pleno direito
(doc.), participando ativamente no aprofundamento da integração económica, social e política;
Exame Nacional 2012 – 2.ª Fase

− aprofundamento das relações diplomáticas, políticas e económicas entre Portugal e Espanha, na


sequência da transição para a democracia em ambos os países (doc.);
− estreitamento dos laços entre Portugal e a América Latina, no quadro da Comunidade Ibero-Ameri-
cana, visando desenvolver o intercâmbio em vários domínios e promover o relacionamento com a
União Europeia (doc.);
− estabelecimento de relações diplomáticas e de cooperação entre Portugal e as suas ex-colónias (doc.),
reforçando-se os laços económicos e culturais;
− criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) (doc.), organização que integra os
PALOP, Portugal, Brasil e Timor-Leste e que visa promover a defesa da língua OU a cooperação econó-
mica, política e cultural.
• Interpretação completa dos documentos, por referência ao solicitado.
• Utilização adequada e sistemática da terminologia específica da disciplina.

Comentário
É uma questão algo complicada porque, conforme o título do documento anuncia, o texto aborda apenas a
política externa de Portugal e de Espanha no quadro da Comunidade Ibero-Americana. Por conseguinte, não é
muito variada a informação sobre os aspetos da política externa portuguesa após abril de 1974 que o aluno
deve explicar.
Há, todavia, no enunciado da questão um pormenor muito importante. É que pede-se para o aluno
responder “a partir do documento”. Sendo assim, deve explicar, de forma fundamentada, as características
que considera que o autor do texto faz referência e, a partir delas, inferir outra ou outras que só indiretamente
pode fundamentar no conteúdo do documento.
E não podíamos terminar este nosso trabalho sem voltar a apelar ao reconhecimento da importância do
recurso aos parágrafos para responder às questões com a clareza exigida.

Uma proposta de resolução


Uma das características da política externa portuguesa após o 25 de Abril a que o autor faz referência é
a democratização do relacionamento com Espanha. Considera Mário Soares que, durante muito tempo, as
relações entre os dois países ibéricos existiam apenas a nível dos dirigentes políticos, suportadas numa
aliança ideológica expressa no “célebre Pacto Ibérico”. Acrescenta que se tratava de um pacto de regimes
que não era sentido pelos respetivos povos peninsulares, “que nunca comunicaram entre si”, porquanto
não “estavam sintonizados” com a política dos ditadores. Após a evolução dos dois países para a democra-
cia, as relações bilaterais reforçaram-se a nível político e estreitaram-se a todos os outros níveis, entre os
quais releva o nível económico que faz de Espanha o nosso principal parceiro, tantos e tão importantes são
os interesses recíprocos.
Mário Soares faz também referência ao importante papel assumido por Portugal, a par de Espanha, no
quadro das relações entre a Europa e a Ibero-América, sobretudo após a entrada “como membros de pleno
direito” na CEE. Foi, diga-se, a busca de parceiros privilegiados no relacionamento com regiões outrora
sujeitas a processos colonizadores levados a cabo pelos Estados ibéricos que constituiu um dos importan-
tes fatores de integração europeia destes dois países. Com efeito, diz o autor, “a Ibero-América deixou de
ser, nos últimos anos, o «pátio traseiro» da América do Norte”, porquanto a região tem vindo a passar por
uma importante e surpreendente evolução a nível económico e social a que a União Europeia está atenta
num quadro de relacionamento global. Ora, no caso concreto do relacionamento com o Brasil a que Mário
Soares chama um “país continente”, Portugal aparece como importante parceiro no aprofundamento das
relações bilaterais que a todos os níveis se possam estabelecer com a Europa, dados os três séculos de
história comum que partilharam, de que o legado linguístico constitui importante manifestação.
Das duas características da política externa portuguesas pós-25 de Abril anteriormente referidas,
pode-se concluir outra que é o fim do isolamento político e diplomático que marcou os tempos da dita-
dura. Como vimos, Portugal passou a ser aceite na comunidade internacional, a ombrear com as mais
sólidas e poderosas democracias europeias e mundiais. A diplomacia portuguesa passou a ocupar um
lugar de prestígio na cena política internacional, não só no que concerne ao relacionamento com a
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América Latina e com os países da África lusófona, tornando a língua portuguesa uma das mais faladas
no mundo, mas também no quadro global de interesses geostratégicos económicos, sociais e políticos
da União Europeia, como demonstra a ocupação do importante cargo de Presidente da Comissão
Europeia pelo diplomata português Durão Barroso.

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