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Questão 1:

Na peça Frei Luís de Sousa, a família, unida por laços de sangue e por uma enorme
afetividade, é o grande protagonista do drama. Cada uma delas traz à peça características
bem vincadas que servem propósitos distintos.
No caso de Maria, é apresentada desde o início como uma criança doente, mas precoce,
dotada de uma inteligência invulgar e de uma sensibilidade especial que a leva a interessar-se
por temas que não seriam da sua idade. É por isso que esta criança se afasta daquilo que a
família esperava dela.
Maria revela uma intuição apurada e os seus silêncios provam que pressente mais do que diz.
Ela tem plena consciência da situação política do país e é por isso que sente orgulho pela
ação do pai contra o domínio castelhano, por exemplo, no momento em que aquele
incendeia o seu próprio palácio.
Maria revela-se também patriótica e sebastianista, como se depreende do apego aos símbolos
nacionais ou da crença no regresso de D. Sebastião.
Estas intuições ou crenças não seriam de esperar desta criança. Afinal, a primeira vítima
destas crenças seria a própria Maria!
Questão 2:

5. À semelhança dos peixes, também os homens se deixam enganar e são criticados por
se deixarem seduzir pela vaidade que os vai levar à morte. O mesmo vício está
presente em alguns membros de certas ordens religiosas, cujas escolhas dependeram
dos trajes que podiam ostentar, evidenciando que aquilo que os move não é a religião,
mas a vaidade dos trajes, em particular daqueles que pertencem a ordens religiosas e
militares.
Questão 3:

As anáforas presentes no poema “Bem sei” (vv. 1, 5 e 9) e “Sei” (vv. 13, 17 e 19)
apresentam a
afirmação da consciência de que o espaço descrito, as “ilhas lá ao sul” existem no sonho e
que é um espaço de felicidade. Porém, a anáfora dos últimos versos evidencia de forma firme
que esse é um espaço inacessível.
Questão 4:

A reflexão do narrador, presente no último parágrafo do texto, relaciona-se com a metáfora


“teia tecida pela aranha infernal da rotina” uma vez que, tal como o pai, se sente prisioneiro
de uma rotina que invade o seu espaço e que não lhe permite o isolamento. De facto, a
metáfora da teia intensifica o sentimento de aprisionamento, pois as tarefas rotineiras e
diárias, tal como os fios de uma teia, enredam-nos (ao narrador e ao pai) de forma
insuportável, não lhes permitindo qualquer fuga, mesmo que para o seu mundo interior.
Questão 5:

7. Cesário Verde viveu e conheceu a cidade de Lisboa como poucos, e retrata-a, em muitos
dos seus poemas, tão minuciosamente que faz com que o leitor a conheça quer na sua
dimensão física quer na sua vertente humana.
Efetivamente, Cesário percorria as ruas da cidade lisbonense numa atitude deambulatória e
de observação atenta, retratando-a como um local claustrofóbico, com prédios sepulcrais,
subidas íngremes e becos onde o peixe podre gerava focos de infeção, onde grassavam
epidemias e onde as desigualdades sociais se faziam notar até pelos casebres que
contrastavam com os bairros luxuosos e modernos, tal como se vê em “Num bairro
moderno” ou em “O sentimento dum ocidental”.
Enquanto espaço humano, a cidade é um local de contrastes sociais, palco de desigualdades,
onde, por lado, labutavam os calceteiros e, por outro, se passeava a atrizita que fugia, com os
seus pezinhos de cabra, dos esgares desses trabalhadores (“Cristalizações”). Esse contraste é
ainda denunciado na descrição que faz da pobre hortaliceira, vítima do desdém do criado que
representa a classe burguesa que serve (“Num bairro moderno”).
Em suma, a cidade é representada como um espaço de decadência moral e social, que, para
além de estar empestada, poluída e desordenada, impele muitos a refugiar-se no campo ou a
sentir um forte desejo de evasão.
Questão 6:

3. O profeta é aquele que prediz o futuro e espalha a boa nova, que acredita, e, neste
caso, o sujeito poético autodenomina-se de “sopro incerto”, sopro este que adivinha e
anuncia a vinda do “Encoberto” para a construção do Quinto Império. Não só prediz
como deseja que tal ação se concretize. Sendo assim, o “eu” é uma espécie de
porta-voz do sonho coletivo e espera cumprir o “grande anseio que Deus fez” (v. 16),
demonstrando a sua crença e convicção no regresso de D. Sebastião.
Questão 7:

2. Se nas intervenções anteriores de Matilde testemunhamos uma agudeza de raciocínio


sobre
a ilogicidade do binómio educação/sociedade, entre as linhas 23 e 51 o estado de espírito
da personagem altera-se, tornando-se movido pelos sentimentos de ternura e carinho
associados
a uma nostalgia evidente dos momentos da vida amorosa feliz e prometedora que viveu no
passado
com Gomes Freire. Ora, o uniforme do seu amado presentifica-o, trazendo-o quase
fisicamente
ao espaço onde Matilde se encontra. Dessa presentificação resultam detalhadas memórias de
um
passado romântico e de comunhão (a permanência em casa – «aquecíamo-nos os dois»,
«ficávamos,
para aqui, a conversar», «o nosso hotel em Paris»), bem como de um futuro sonhado e
almejado
(«Podíamos viver aqui esquecidos dessa gente que o odeia.»). Toda esta conceptualização de
felicidade a dois só seria possível se Gomes Freire se tivesse alheado da situação corrupta do
seu país.
Questão 8:

a) 3; b) 2.
Questão 9:

1. De acordo com o conteúdo dos seis primeiros versos, o sujeito poético encontra-se
abatido, triste, evidenciando até uma enorme frustração face à pátria do presente.
Porém, nos versos 5 e 6 manifesta já alguma esperança ao reconhecer que a vinda do
“Senhor” poderá preencher os seus “dias vácuos”.
Assim, se num primeiro momento se destaca um tom nostálgico e de dor, nos dois
últimos versos do conjunto em análise sobressaem os aspetos positivos decorrentes da
esperança que o “eu” deposita no regresso do Rei.
Questão 10:

A mitificação do herói está evidenciada na estância 29 dado apresentar características dos


portugueses que os elevam a uma condição de superioridade face à condição humana e face
aos próprios deuses.
Com efeito, é valorizada a coragem e o atrevimento dos portugueses quando desafiam os
próprios deuses, como se evidencia em “Vistes que, com grandíssima ousadia, / Foram já
cometer o Céu supremo” (vv. 25-26). Os próprios deuses, ao reconhecerem essa afronta,
admitem um caráter de exceção, logo, de heroicidade deste povo em particular.
A mitificação do herói é ainda evidente no reconhecimento da capacidade de superação da
condição humana dado o atrevimento dos portugueses ao se aventurarem pelo mar
desconhecido em barcos tão frágeis, como nunca nenhum outro humano o fizera: “Vistes
aquela insana fantasia / De tentarem o mar com vela e remo” (vv. 27-28).
Questão 11:

9. «Quem for senhor de Malaca tem a mão na garganta de Veneza» - Oração subordinada
substantiva
relativa, cujas pistas sintáticas são a possibilidade de substituir toda a oração por um
substantivo/nome
(p.e., «O senhor de Malaca tem a mão na garganta de Veneza») ou um pronome (p.e., «Ele
tem a mão
na garganta de Veneza»), a presença de um pronome relativo («Quem») e ainda a
inexistência de um
antecedente com o qual o pronome relativo concorde.
Questão 12:

Ao longo do texto, são evidentes os contrastes entre o mundo das mulheres e o mundo dos
homens no que respeita à vida doméstica.
Assim, por um lado, a mulher (concretamente a figura da mãe) ocupa o comando das
“operações” e as suas atividades são caracterizadas pelas rotinas das várias lides domésticas,
onde cada mulher se empenha fisicamente (e afincadamente); contrariamente, o homem
ocupa um lugar marginal, refugiando-se na introspeção e na reflexão.
Por outro lado, a atividade feminina caracteriza-se pelo ruído e pela confusão (mesmo que
temporária, fruto das arrumações), ao passo que a atividade masculina se pauta pelo silêncio
(necessário à introspeção e à reflexão).
Questão 13:

5. A afirmação de D. Madalena é reveladora, por um lado, da sua preocupação


relativamente à mudança climatérica que pode ocorrer e, assim, dificultar o regresso
da família; por outro lado, sugere o medo das alterações que podem afetar a sua vida
pessoal e familiar. Efetivamente, se a serenidade daquele dia se alterar, pode sugerir
que a sua vida, até então feliz, mudará. Assim, esta frase indicia o pressentimento de
uma desgraça, o que se irá confirmar no desenrolar da ação.
Questão 14:

Na literatura, observa-se, frequentemente, a um diálogo com o passado aproveitando a


recriação de determinada época para uma crítica a nível social, político, moral e cultural. José
Saramago foi exímio na recriação de tempos históricos (seja do século XVII com o
Memorial do Convento seja da década de 1930 de O ano da morte de Ricardo Reis) e na
capacidade de apresentar uma visão crítica sobre esse mesmo tempo retratado.
Centrando a ação do romance O ano da morte de Ricardo Reis entre 1935-36, o narrador
procede a um regresso ao passado histórico mesclado com acontecimentos ficcionais,
enfatizando a voz dos excluídos, dos silenciados pela ação repressiva do Estado. Essa
repressão foi denunciada em diversas dimensões que emanam de uma vigilância estrita por
parte dos agentes do Estado e levada a cabo por meio da manipulação da imprensa (que
surge como um veículo fundamental de divulgação do sistema de valores do poder
instituído), da ação da censura, do controlo da Polícia de Vigilância e Defesa do Estado
(PVDE), do aniquilamento de qualquer voz ou ação contrária ao poder (como aconteceu,
por exemplo, com a forma como o Estado lidou com a revolta dos marinheiros no Tejo).
De facto, este olhar de Saramago sobre um momento tão conturbado a nível nacional e
internacional (o denominado ano do ovo da serpente) constitui uma estratégia que permite
repensar criticamente a visão oficial da História do início do século XX e que tão grandes
marcas deixou nas gerações vindouras.
Questão 15:

Padre António Viera apresenta um elogio ao comportamento dos peixes, que se mantêm
afastados do homem. O orador considera que essa atitude dos peixes é reveladora de
prudência e mesmo de alguma sabedoria. Por oposição ao comportamento dos animais da
terra e do ar, a atitude de isolamento dos peixes garante-lhes independência e autenticidade.
Os outros animais, querendo conviver com os homens, tornam-se domesticados e, assim,
subjugados às vontades humanas.
Questão 16:

5. A afirmação «Mas toda essa infância me parece atravessar apenas um longo inverno» é a
assunção, de
forma metafórica, de como sente ter sido todo o tempo da sua infância, que ficou reduzida a
um «longo
inverno», soturno, sombrio, frio, assombrado, tempestuoso, negro… Foi assim que
psicologicamente
vivenciou toda a sua infância, tempo penoso, difícil, agreste, de perda, de dor, de abandono,
de
solidão…, sentimentos cronologicamente prolongados.
Questão 17:

Baco, tomando a palavra no consílio dos deuses marinhos, procura convencer Neptuno,
Oceano e os restantes deuses marinhos a serem seus aliados contra os portugueses. Para tal,
nas estâncias 27 e 28, usa estratégias argumentativas ardilosas.
Numa primeira fase, começa Baco por enaltecer e adular os deuses, de forma hiperbólica,
pela vastidão dos seus domínios e pela forma como exercem aí o seu poder: Neptuno e
Oceano dominam vastos mares e impedem que os humanos ultrapassem os limites por eles
impostos; os outros deuses marinhos vingam-se dos humanos quando ousam ultrapassar os
limites que lhes estão vedados.
Depois deste elogio, Baco confronta os deuses, através de interrogações retóricas, com o
facto de esses mesmos deuses estarem a ser descuidados e brandos com os portugueses que,
de forma ousada, ultrapassam os limites impostos pelos próprios deuses.
Desta forma, Baco pretende que os deuses se enfureçam contra os portugueses (tal como têm
feito com os humanos em geral), lançando sobre os nautas portugueses terríveis tempestades,
impedindo que cheguem à Índia.
Questão 18:

Nas três primeiras estrofes, o sujeito poético descreve um lugar idealizado. Esse, de acordo
com o que imagina, é um espaço de sonho, de imaginação, fora do mundo da realidade, tal
como comprovam os versos 2 (“Onde há paisagens que não pode haver”) e 13 (“Sei, sim, é
belo, é longe, é impossível”). É também um espaço que propicia a ilusão do amor como
atestam os versos 11 e 12 (“Passa de leve por meu pensamento / o pensamento julga que é
amor”).
Questão 19:

Padre António Viera apresenta um conjunto de exemplos do conhecimento generalizado que


fundamentam o seu ponto de vista: quanto mais longe dos homens, melhor, tal como fazem
os peixes. De facto, vários são os exemplos de animais (tanto do ar como da terra) que,
aparentemente, vivem bem com os homens. Porém, essa convivência com os humanos
implica uma contrariedade, tal como marca a conjunção adversativa “mas” nestas
exemplificações: são privados da sua liberdade (e assim explorados pelo homem), seja pelas
gaiolas ou prisões onde habitam seja pela trela, esporas ou arado que condicionam a sua
vontade própria.
Questão 20:

Face à “ordem de batalha de cada dia” que as tarefas domésticas e rotineiras impunham, o
pai
costumava reagir de duas formas distintas.
Primeiramente, procurava o refúgio no seu silêncio, no seu mundo interior, como tentativa de
se proteger dos rituais “demoníacos” que aquelas tarefas representavam para si.
Porém, dada a incapacidade de fugir à azáfama, que as criadas ainda aumentavam, o pai
assumia, num segundo plano, uma atitude ora de resignação ora de revolta. Normalmente,
esta segunda postura resultava numa evasão para o mundo exterior à casa, que se podia
estender por vários dias. Desta forma, o pai demonstrava, com a sua ausência física, que
aqueles constrangimentos domésticos eram insuportáveis.

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