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RESUMO
Este artigo pretende analisar uma das repercussões da alteração do regime do recurso de
agravo pela Lei Federal n.º 11.187/2005: o efeito suspensivo na modalidade instrumental.
Trata-se de modesto estudo, sob uma ótica sistemática, a respeito de uma das nuances da nova
disciplina do agravo no processo civil brasileiro. Sendo tema relevante, vez que o agravo é um
dos recursos mais utilizados atualmente, almeja-se avaliar as novas regras recursais tendo
como enfoque a relação entre a admissibilidade do agravo por instrumento e o efeito
suspensivo a ser imprimido ao mesmo.
1. CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
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No rol dos recursos existentes no processo civil brasileiro está o de agravo, que
é aquele destinado à impugnação de decisão interlocutória, considerada - em breve conceito -
como a que não põe fim ao processo.
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Assim como a ação, que deve possuir determinadas condições para ser
validamente constituída, o recurso deve apresentar requisitos de admissibilidade, sem os quais
o mérito do inconformismo não poderá ser apreciado. A verificação destes requisitos é o juízo
de admissibilidade, que na explicação de Wambier (1999, p. 644) é a constatação da presença
dos pressupostos cuja ausência desautoriza o conhecimento do recurso, determinando,
consequentemente, em razão de seu não-conhecimento (juízo de admissibilidade negativo),
que o tribunal nem mesmo chegue a analisar o mérito desse recurso.
Este posicionamento é acompanhado por Carvalho (2006, p. 971) que diz que a
conversão do regime deixou de ser providência facultativa do relator (“poderá”). De agora em
diante é dever (“converterá”) do relator transmudar o agravo de instrumento em agravo retido,
independentemente de pedido do agravado. Na mesma trilha encontram-se as idéias de
Machado (2006, p. 887), para quem tal regra é fortalecedora da nova disciplina do agravo.
Infere-se, desta sorte, que a mens legis é priorizar o agravo retido, como forma
de prevenir o excesso de agravos nos tribunais, tornando mais célere a prestação jurisdicional
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de segundo e terceiro graus. Todavia, este intuito parece não ter sido compreendido em toda
sua extensão, ao menos em parte e por enquanto, conforme se verá a seguir.
É cediço – e isto não foi alterado pela Lei 11.187/05 – que o recurso de agravo,
via de regra, não possui efeito suspensivo. Ocorre que por meio da reforma processual de
1995 (Lei 9.139/95) o art. 558 do CPC foi alterado, possibilitando ao relator atribuir ao
agravo aquele efeito. Para isto é necessário requerimento do agravante, relevância da
fundamentação e possibilidade de lesão grave e de difícil reparação.
Muito embora haja referência no art. 588 ao verbo “poderá”, não há faculdade
do relator na atribuição de efeito suspensivo ao recurso caso presentes os pressupostos legais.
Esta também é a opinião de Humberto Theodoro Júnior:
Sempre, pois, que o relator se deparar com demonstrado risco de dano grave e
de difícil reparação e com recurso dotado de relevante fundamentação, terá o dever e não a
faculdade de suspender os efeitos da decisão recorrida, se a parte requerer a medida
autorizada pelo art. 558 do CPC. (apud WAMBIER, 2000, p. 243/244)
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debatida – tem-se na lesão grave e de difícil reparação o mais importante requisito para a
concessão do efeito suspensivo.
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Não verifico risco de grave lesão, de difícil reparação, à agravante, nem
pertinência para discussão das matérias suscitadas nas razões recursais, na fase em que se
encontra o processo de desapropriação. (...) Os outros fundamentos apresentados e a eventual
irregularidade que se possa reconhecer no ato de declaração de utilidade pública dos imóveis
não são suficientes para autorizar a atribuição de efeito suspensivo ao recurso. (...) Indefiro o
pedido de suspensão da decisão agravada. Intime-se o agravado para apresentar resposta no
prazo legal, facultando-se-lhe juntar cópias das peças que entender convenientes. (D.J.
26.04.06)
O recurso é tempestivo e atende aos pressupostos dos arts. 524 e 525 do CPC,
não cabendo na espécie a conversão em retido (art. 527, inc. II, do CPC, com a redação dada
pela Lei n.º 11.187/05), por ter sido tirado de decisão proferida em sede de execução fiscal.
Em conseqüência, defiro o processamento do recurso na modalidade de instrumento. (...)
Quanto ao periculum in mora, tampouco se mostra presente, porquanto não restou
evidenciada a iminência de lesão grave e de difícil reparação à agravante na falta de
concessão da ordem requestada. (D.J. 21.05.06)
Por isto se disse, anteriormente, que a mens legis poderia não estar sendo
observada. Já que esta é direcionada à minimização de processos a serem julgados pelos
tribunais, não enxerga-se justificativa para que o agravo de instrumento seja admitido quando
o relator, expressamente, menciona em suas razões de indeferimento do efeito suspensivo a
inexistência de perigo de lesão grave ou de difícil reparação. Deveria cumprir o comando do
art. 527, inc. II do CPC, não mandar intimar o agravado, dando seguimento ao recurso.
4. CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS
Deve aquela análise, ainda, ser sistêmica, de maneira a evitar que a inércia na
aplicação das regras dos arts. 522, 527, inc. II e 558 do Código de Processo Civil traga mais
malefícios do que benefícios aos jurisdicionados.
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Destarte, havendo a regular e cuidadosa aplicação das novas normas, os
objetivos do legislador poderão ser alcançados, sem prejuízo da proteção de interesses e
direitos legítimos que estão a sofrer ameaça de lesão.
5. REFERÊNCIAS
ALVIM, José Eduardo Carreira. Novo Agravo. 3 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey,
1999. 164 p.
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Comentários ao Código de Processo Civil. 8 ed. Rio de Janeiro:
Forense, 1999.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 10 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris,
2005. 508 p. v. II.
MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de Processo Civil Interpretado: artigo por artigo,
parágrafo por parágrafo. 5 ed. Barueri, SP: Manole, 2006. 2208 p.
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MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de instrumento n.º 1.0024.03.040123-
6/001. Relator: Des. Edgard Penna Amorim. Belo Horizonte, 16 de março de 2006. D.J. 21.05.2006.
MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça de Minas Gerais. Agravo de instrumento n.º 1.0080.06.003139-
2/001. Relator: Des. Almeida Melo. Belo Horizonte, 19 de abril de 2006. D.J. 26.04.2006.
NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios Fundamentais – Teoria Geral dos Recursos. 5 ed. rev. e ampl.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 568 p.
WAMBIER, Luiz Rodrigues (Coord.). Curso Avançado de Processo Civil: Teoria Geral do Processo e
Processo de Conhecimento. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999. 770 p., v. 1.
WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Os Agravos no CPC Brasileiro. 3 ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. 565 p.
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