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2ª SÉRIE E. M. – TEXTO COMPLEMENTAR – LIVRO 4 – ORIENTE MÉDIO/TENSÕES – Prof.

ª Marcia Batista Lanes

PARTE I - Islamismo
O Islamismo é uma religião monoteísta, revelada pelo último profeta - Maomé (Muhammad)-, nascido em Meca,
cidade da Arábia Saudita, em 570 d.C. A expressão ‘islã’ representa ‘submissão’ e traduz a obediência às regras e aos
desejos de Alá. Os que seguem esta doutrina são conhecidos como muçulmanos – os que se submetem a Deus. De
acordo com os ritos islâmicos, Maomé obteve das mãos do próprio anjo Gabriel, enviado divino, os preceitos básicos
que constituem o Islã – orientações de ordem religiosa, dogmática e moral, organizadas em um livro considerado
sagrado pelos muçulmanos, o Corão, que também retrata várias passagens do Antigo Testamento.
Segundo as narrativas islâmicas, há um único Deus, Alá, e Maomé foi seu último profeta, enviado para disseminar
entre os homens os ensinamentos sagrados, quando este tinha quarenta anos. Com o auxílio da fortuna de sua esposa,
Khadija, ele realizou seu apostolado, não sem enfrentar uma forte adversidade. Foi perseguido em sua cidade natal e
obrigado a se exilar em Medina, em 20 de junho de 622, episódio que historicamente ficou conhecido como Hégira –
emigração, ponto zero do calendário muçulmano até nossos dias.
O Islamismo condensa influências de várias religiões, além do princípio essencial da revelação divina,
congregando elementos legados pelo Judaísmo, como a circuncisão, e possivelmente também o seu teor monoteísta;
pela doutrina judaico-cristã, a idéia do Juízo Final; os djinn, gênios do bem ou do mal, herdados de crenças ancestrais.
Os preceitos ditados pelo Alcorão são considerados como verdades absolutas, incapazes de conter qualquer falha.
Este livro é organizado em 114 suras ou capítulos, dispostos por tamanho, o maior contendo 286 versos. Há uma outra
fonte de orientação para os muçulmanos, princípios que partem dos ditos e feitos do Profeta, ou seja, dos ahadith,
contidos na Suna.
O Islã, significativo em seu teor religioso, é também uma doutrina moral e política. Como algumas religiões
cristãs, ele também prega a crença no Juízo Final, com sua divisão entre os justos, que irão para o Paraíso, por toda
a eternidade, e os maus, que arderão no fogo do inferno para sempre. Mas, ao mesmo tempo, o homem parece não
ter escolha entre o bem e o mau, pois as pessoas parecem ter seu destino já traçado por Alá – uma de suas máximas
afirma ‘estava escrito’.
Entre as obrigações dos fiéis do Islamismo estão as orações obrigatórias, cinco vezes ao dia, voltado para
Meca; não exercer o culto de imagens, o que para eles representa um ato de idolatria, e visitar Meca pelo menos uma
vez na vida. Aliás, esta é uma das cidades sagradas para os muçulmanos, que assim consideram também Medina,
onde o Profeta edificou sua primeira mesquita, e Jerusalém, que os islamitas acreditam ser o local de onde Maomé
ascendeu aos céus, na direção do Paraíso, para lá permanecer junto a Jesus e a Moisés.
Não há um clero islâmico, com uma hierarquia fixa e estabelecida. Quem coordena as orações em público é o
imã, enquanto os teólogos cultos são conhecidos como Ulemás. Os muçulmanos realizam suas cerimônias religiosas
dentro de templos chamados de mesquitas. Há algumas nações islâmicas em que o Governo permite a poligamia,
prescrita pelo Corão, e nestes lugares o marido pode se unir a quatro esposas. Os muçulmanos formam basicamente
dois blocos maiores – Sunitas e Xiitas. Os primeiros subdividem-se em Hanafitas, Malequitas, Chafeitas e Hambanitas.
Eles são herdeiros da tradição de Maomé, que teve continuidade nas mãos de seu tio All-Abbas. Já os Xiitas são
discípulos de Ali, marido de Fátima, filha do Profeta; consideram-se os sucessores espirituais de Maomé.
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"Democracia não, nós queremos apenas o Islã". Muçulmanos que exigem a aplicação da Sharia no Reino Unido.

Esta religião tem crescido muito nos últimos tempos, é agora a segunda maior do Planeta. Seus seguidores já
ultrapassam a casa dos 1.2 bilhões, com grande parte de seus discípulos localizada nos países árabes do Oriente
Médio e do Norte da África.
Alguns dos preceitos religiosos islâmicos estão traduzidos na Sharia, que guia os muçulmanos mais radicais
no seu dia-a-dia, no comportamento, nas ações e na alimentação. Também impõe penas brutais para desvios ou
atitudes consideradas incorretas perante o Alcorão. Por exemplo, o roubo é punido com o amputamento das mãos;
questionar o Alcorão ou Maomé, ser homossexual ou mudar de religião são crimes punidos com a morte
(apedrejamento, fuzilamento, etc.). A Sharia ainda autoriza o casamento de meninas a partir dos 9 anos de idade,
determina a mutilação do clitóris, proíbe que as mulheres testemunhem contra homens em casos de estupro, incentiva
a Taqiyya (a propagação de mentiras e contrainformação, desde que isso contribua para a causa do Islã) entre muitas
outras ações.

Questão Palestina

A questão palestina envolve uma série de acontecimentos, que vão desde a criação do Estado de Israel até a
luta atual pela implementação do Estado Palestino.

A questão palestina é um termo utilizado em referência à luta dos povos palestinos após a perda de seus
territórios, o que ocorreu em função dos desdobramentos ligados à criação do Estado de Israel em 1948. Atualmente,

os territórios palestinos reduzem-se a restritas áreas na Cisjordânia e também na Faixa de Gaza (ver mapa no final do

texto), onde são comuns conflitos entre judeus e árabes.

Contexto histórico

Os povos palestinos são constituídos por uma etnia do mediterrâneo composta por uma miscigenação entre
filisteus, árabes e cananeus; são maciçamente muçulmanos e utilizam o idioma árabe. Já a Palestina (de Filistina –

“terra dos Filisteus”) é uma região considerada histórica tanto pelos próprios palestinos quanto pelos judeus. Esses

últimos ocuparam essa região há mais de quatro mil anos, que é considerada por eles como uma área sagrada: a Terra

Prometida.
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Os judeus, no entanto, foram expulsos dessa área, primeiramente pela Babilônia e, posteriormente, pelo

Império Romano, o que constituiu um episódio histórico conhecido como a diáspora judaica. Com isso, após vários

outros desdobramentos históricos, os árabes e, mais precisamente, os palestinos mantiveram a ocupação da região

por quase dois mil anos. Apesar disso, o domínio local foi exercido por muito tempo pelo Império Turco-Otomano.
Ao final do século XIX, foi criado pelo escritor austríaco judeu, Theodor Herzl, o movimento sionista, que

representava a busca pela retomada da Terra Prometida, também chamada de “Sião”. Também foi fundada a

Organização Sionista Mundial (OSM), que tinha sede na Suíça. Dessa forma, iniciou-se um gradativo processo

migratório de judeus para a região da Palestina, que foi, ao menos inicialmente, marcado pela ausência de qualquer
conflito.

Após o término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e a recorrente derrota dos turcos, a região ficou sob

a administração da Inglaterra, que cogitou então a criação de um Estado judeu, causando uma série de instabilidades

locais entre as diferentes populações. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o fluxo migratório judeu
intensificou-se e esse povo ganhou uma maior influência diplomática, principalmente pelos episódios protagonizados

pela Alemanha nazista e pelo Holocausto.

Após a realização de acordos entre Estados Unidos, Reino Unido e União Soviética, a Organização das Nações

Unidas (ONU) realizou a partilha da Palestina em 1947. Os judeus ficaram com 57% do território, e os árabes, que
eram maioria na região, com 43%. A capital, Jerusalém (sagrada para as religiões judaica e islâmica), pertenceria a

ambos e ficaria sob a administração da própria ONU. No ano seguinte, foi fundado, então, o Estado de Israel.

Mapa da partilha da Palestina pela ONU em 1947

Essa configuração, no entanto, não agradou os povos árabes do Oriente Médio, que iniciaram uma ofensiva contra o

Estado de Israel no mesmo ano de sua criação. Esse ataque – chamado de Primeira Guerra Árabe-Israelense e
liderado por Egito, Transjordânia (hoje, Jordânia), Líbano e Síria – foi combatido pelos judeus, que tinham nos Estados
Unidos um grande aliado diplomático e militar.
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Após o estabelecimento de um armistício na região, Israel ocupou novas áreas pertencentes aos palestinos, que

ficaram então sem território, pois suas áreas foram novamente divididas. Os judeus ficaram com a Galileia e outras

áreas, ao passo em que a Jordânia incorporou a Cisjordânia e o Egito dominou a Faixa de Gaza. Esses acontecimentos

tornaram mundialmente conhecida a questão palestina: o caso de uma nação que ficou sem o seu território.

Mapa da região da Palestina após a Primeira Guerra Árabe-israelense e Mapa dos territórios palestinos na

atualidade, com a Faixa de Gaza e a Cisjordânia *


PARTE II - Questão Palestina

Enquanto os palestinos foram enfraquecendo-se e, consequentemente, dispersando parte de sua população

para outros territórios (como o Líbano, a Síria e o Egito), Israel intensificou a sua força e tornou-se militar e politicamente

preponderante na região do Oriente Médio, principalmente após as vitórias nas guerras do Suez (1956), dos Seis Dias

(1967) e do Yom Kippur (1973). Essa configuração favoreceu a criação, por parte dos palestinos, de vários grupos

extremistas que passaram a lutar não só pela criação de um Estado Palestino, mas também pela total destruição de
Israel e expulsão dos judeus da região.

Nesse intuito, foi fundada a Organização para a Libertação Palestina (OLP) em 1964, liderada pelo grupo Al

Fatah, que realizava atos extremistas desde 1959 e era comandado por Yasser Arafat. Mais tarde, em 1987, foi fundado
outro grupo extremista, o Hamas, que hoje é formado por três frentes: um partido político, um braço armado e uma

organização filantrópica pró-palestina. Esse grupo é considerado por muitos países como uma organização terrorista

(incluindo Israel e EUA), mas para outros países ele não é visto como tal (incluindo Turquia e até o Brasil).

Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;)Também no ano de 1987, a OLP, sob liderança do Fatah

de Yasser Arafat, passou a não mais utilizar métodos de violência para alcançar seus objetivos e também atuou no
sentido de reconhecer a existência do Estado de Israel, reivindicando, no entanto, a criação do Estado da Palestina e

uma convivência harmônica entre os dois povos, diferentemente do Hamas, que não aceita a existência dos

israelenses. Por causa dessa configuração, a OLP passou a ser reconhecida pelo Ocidente e pela ONU como a única
representante da frente árabe na Palestina.

Em 1993, os Estados Unidos fizeram a intermediação diplomática entre Arafat e o então primeiro-ministro de

Israel, Yitzhak Rabin, nos chamados Acordos de Oslo, na Noruega, local onde as negociações ocorreram. A assinatura
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oficial dos termos foi realizada em Washington, capital dos EUA (foto abaixo). Esses acordos fizeram com que os

palestinos tivessem posse novamente de um território – mesmo que sem um Estado constituído –, ao mesmo tempo

em que a OLP foi reconfigurada pela criação da Autoridade Palestina (AP). Essa instituição ficou sob o comando de

Arafat e ergueu a sua sede na Cisjordânia, que foi devolvida pelos israelenses juntamente à Faixa de Gaza.
No entanto, as relações de paz estiveram longe de se estabelecerem, de modo que as tensões aumentavam

sempre que um primeiro-ministro do Partido Likud vencia as eleições em Israel, pois esse grupo é inimigo ferrenho dos

palestinos, enquanto o Partido Trabalhista costuma fazer mais concessões. Em 2000, com a chegada de Ariel Sharon,

do Likud, ao poder em Israel, as relações estremeceram-se completamente, pois Sharon sempre foi um grande opositor
a qualquer acordo com os árabes. Por essa razão, os atentados terroristas intensificaram-se na região. Em 2004,

morreu Yasser Arafat.

Em 2002, iniciaram-se as construções do Muro de Israel ou Muro da Cisjordânia para a separação dos
territórios controlados pelos palestinos do restante do território de Israel. No entanto, essa construção vem sendo

bastante criticada, em razão das acusações de que Israel estaria ocupando, durante o erguimento da muralha, áreas
que deveriam ser de controle palestino. Em 2006, para tornar o cenário ainda mais tenso politicamente, o Hamas

venceu as eleições no território palestino, derrotando pela primeira vez o Fatah, o que gerou uma recusa por parte de

Israel e das potências internacionais de reconhecerem a Palestina, isolando a Autoridade Palestina politicamente.

Além disso, o governo de Israel – atualmente na figura do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu – vem

incentivando a instalação de colônias de judeus em áreas sob a posse de palestinos, incluindo a Faixa de Gaza, uma

das áreas em que há mais atentados terroristas e conflitos armados no mundo. Em 2012, após uma série de debates
e resoluções no contexto da ONU, o Estado Palestino passou a ser reconhecido como um membro observador das

Nações Unidas, o que representa um reconhecimento implícito por parte da comunidade internacional da existência da

Palestina sob comando árabe. Os EUA e Israel agiram como ferrenhos opositores à proposta, porém foram derrotados

pela Assembleia Geral da entidade.

Extraído parcialmente de http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20180301125215.pdf

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