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O Poder da Gratidão
Palestra proferida em 1996 por Myrtle Smith, de Belfast, Irlanda do Norte e gravada
em fita cassete — Tradução Livre

Estou muito agradecida de poder estar com os Srs. hoje para compartilhar
algumas idéias sobre o poder da gratidão. Quando eu era jovem e lia muito a
Bíblia, pensava que Deus só poderia ser muito vaidoso ou muito temoroso,
porque sempre pedia que nós louvássemos o seu nome, porque várias vezes
pedia que o glorificássemos, o enaltecêssemos, e que lhe rendêssemos graças.
Perguntava-me porque nos pedia que o louvássemos o tempo todo. Será que
sofria de insegurança? Ele tinha necessidade disso? Só quando comecei a
entender o poder da gratidão é que compreendi o que Ele fazia por nós. Pedia a
nós que tivéssemos gratidão, porque quando sentimos gratidão colocamos em
ação um poder em nossa experiência, um poder maravilhoso.

Notarão que durante toda esta palestra repetirei várias vezes "O pássaro canta
antes do amanhecer". Fico encantada ao refletir sobre isso. Tendemos a imaginar
que primeiro amanhece o dia e depois os pássaros cantam, mas é o contrário que
ocorre, primeiro os pássaros cantam e depois o dia amanhece. Os pássaros
começam a cantar a noite, no momento da maior escuridão, e nós podemos tirar
uma lição disso. Quando atravessamos dificuldades, faríamos bem em lembrar
que "O pássaro canta antes do amanhecer". Se começarmos cantar louvores a
Deus, a escuridão desaparecerá. A gratidão ajudou-me diversas vezes em minha
vida e, agora, gostaria de compartilhar algumas dessas experiências com os Srs.

Desde que comecei a estudar a Ciência Cristã, sinto-me muito grata pela
celebração do Dia de Ação de Graças. Esta celebração era particularmente uma
tradição americana, mas graças a Mary Baker Eddy a lição sermão dedicada a
esse dia é lida no mundo todo. Por isso, quando meus filhos ainda eram
pequenos, por mais pobre que fôssemos, nós sempre fazíamos uma ceia especial
no Dia de Ação de Graças para, juntos com todos dos Estados Unidos, darmos
graças.

Em uma ocasião de final de férias escolares, quatro dos meus filhos teriam que
voltar às aulas da Escola de Cientistas Cristãos, que freqüentavam na Inglaterra.
Eu não tinha o dinheiro das passagens de avião para esta volta, não tinha o
dinheiro para comprar-lhes as roupas que necessitavam e nem sequer para pagar
o aluguel de nossa casa. Estava separada de meu marido e ele havia deixado de
trabalhar só para não ter que nos dar qualquer dinheiro. Por isso, o único dinheiro
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com que contávamos era o que eu ganhava como praticista, que na Irlanda do
Norte não era muito. Embora eu sempre orasse por toda esta situação, nesse dia
encontrei-me muito deprimida.

Nessa manhã minha filha trouxe-me o café na cama, junto com uma rosa num
pequeno vaso, e disse-me: "Mamãe, hoje é Dia de Ação de Graças, porque não
nos ocupamos com pensamentos de gratidão?" Respondi que ela tinha razão,
que era aquilo que tínhamos que fazer. Então todos começamos a pensar no que
tínhamos para estar agradecidos. E eu fiquei agradecida porque ainda me
restavam na carteira 5 libras, que equivaliam a 10 dólares. Então anunciei aos
meus filhos que íamos fazer compras. Compraríamos frango e faríamos uma linda
ceia. Tudo sugeria que me apegasse a essas 5 libras, porque precisaria delas.
Mas decidí que por ser Dia de Ação de Graças, nós íamos celebrar com o resto do
mundo. Compramos tudo o que necessitávamos e conversamos muito sobre tudo
que tínhamos para agradecer — pelo lindo dia, pelo canto dos pássaros — para
onde olhávamos, encontrávamos motivos para estarmos agradecidos. Quando
chegamos em casa, minha filha recordou-se da história da Bíblia em que Eliseu
diz à viúva: "Declara-me o que tem em casa" (2 Reis 4:2). Por isso, ela e minhas
outras duas filhas começaram a procurar o que tínhamos em casa. Encontraram
farinha, manteiga e fizeram pão caseiro e biscoitinhos para a sobremesa. Meu
filho foi ao jardim e apanhou as últimas rosas. Minhas filhas foram colocar a mesa,
e enquanto eu as observava me senti muito grata, porque isso era uma das coisas
que haviam aprendido na escola — a maneira correta de colocar uma mesa. Meu
filho colocou as rosas no centro da mesa e, juntos, tivemos uma linda ceia. Foi uma
feliz ceia de Ação de Graças. No dia seguinte recebi dois cheques que não
esperava e pude pagar as suas passagens para voltarem às aulas, pudemos ainda
comprar sapatos e tudo mais de que necessi-tavam para a escola. E isto
demonstrou para mim, uma vez mais, o poder de ação da gratidão.

Quando morava em outra casa, também num Dia de Ação de Graças que estava
extrema-mente frio, com tudo congelado, eu me encontrava sem carvão para a
calefação e com um cano quebrado. Além de alguns sacos gigantescos de cereal,
não havia comida em casa. O leiteiro passava todas as manhãs para entregar o
leite, mesmo sem poder pagá-lo há duas semanas. Por isso, durante mais de duas
semanas, vivi de leite quente e cereal de trigo, esse era o meu desejum, almoço e
ceia. Decidi ficar trabalhando na cama, que tinha um cobertor elétrico e era o
único lugar quente da casa. Ali me sentava e orava para os meus pacientes.

Quando despertei nesse Dia de Ação de Graças, sentia comiseração própria, e me


pus a chorar imaginando que as coisas nunca melhorariam para mim. Mas por ser
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Dia de Ação de Graças tinha que encontrar motivos para agradecer. Senti-me
agradecida pelo cereal de trigo; pelo leiteiro continuar deixando leite na porta da
minha casa; pelo cobertor elétrico; pelo telefone que possibilitava às pessoas
falarem comigo; por minha privacidade, pois ninguém conhecia as circunstâncias
que estava atravessando; fiquei profundamente agradecida pela água. E durante
toda minha vida, diariamente, sinto-me grata pela água. Que faríamos sem água?
Nos banhamos em água, bebemos água, cozinhamos nossa comida em água,
lavamos nossa roupa com água, dependemos muitíssimo da água. Agradeci por
todas estas coisas e logo depois, ao meio-dia, minha melhor amiga, que não sabia
nada sobre minha situação, tocou a campainha e trazia na mão um peru e duas
dúzias de ovos. Estava em sua hora do almoço. Disse-me que estava preparando
algumas coisas para a ceia, quando ocorreu-lhe que eu podería querer usar
algumas. Quiz saber porque fazia tanto frio dentro de casa, já que estava mais frio
dentro do que fora. Atribuí o fato ao cano quebrado. Então perguntou se eu tinha
carvão, como não respondi ela foi verificar o lugar onde ele deveria estar,
encontou-o vazio e bem varrido. Então falou que andara se perguntando qual
presente deveria dar-me no Natal e que se dava conta que o melhor presente seria
uma tonelada de carvão, e que estaria chegando em duas horas. Partiu e eu fiquei
muito agradecida por tudo isso.

Logo tocou novamente a campainha. Na porta estava o dono de uma granja, cuja
mãe eu estivera ajudando por meio de oração e que não havia conseguido pagar-
me. Por isso ela mandou que ele me entregasse uma grande bolsa com batatas,
repolhos, cenouras, cebolas e tudo mais o que cultivava na granja. Eu sentia
minha copa transbordando.

O Sr. se foi e uma hora depois tocou novamente a campainha. Era uma mulher,
cuja a filha eu havia ajudado e que tampouco havia podido me pagar. Andara
preparando alguns pratos para a ceia, pastéis, tortas, frios, bacon, salchichas, um
frango, que lotaram o meu congelador. Eu vi o poder da gratidão em ação. "O
pássaro canta antes do amanhecer". E eu cantei a minha canção de gratidão
antes que aparecesse a luz. Tinha uma vizinha de idade avançada que vivia só e
eu sabia que ela sofria com a solidão, por isso convidei-a para cear comigo essa
noite. Acendi o fogo, assei o peru e asseguro-lhes que, depois de passar semanas
sem provar nada além de cereal de trigo com leite, nunca nada foi tão saboroso
quanto essa ceia Tudo. estava realmente excelente. Conto-lhes esta história para
ilustrar o fato de que "O pássaro canta antes do amanhecer".

Em outra ocasião, quando já vivia nessa mesma casa, o gerente do banco


telefonou porque queria ver-me, pois eu estava com um saldo devedor muito
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grande. Fiquei muito assustada e liguei para a minha melhor amiga, que era a
única que sabia do meu problema. Confessei a ela que estava aterrorizada diante
da perspectiva de enfrentar esse homem. Não tinha dinheiro para pagar o alguel,
não tinha dinheiro para trazer meus filhos para casa quando as aulas
terminassem, eu não tinha dinheiro algum. Minha amiga disse que iria orar por
mim. Quando eu já estava de saída, ela me telefonou dizendo que gostaria de ler
para mim o trecho da Lição Sermão daquela semana sobre a mulher virtuosa.
Está em Provérbios 31 e no final diz assim: "Dá-lhe do fruto das suas mãos, e a
louvarão em público por suas obras." Emocionei-me por saber que minha amiga
tinha uma opinião tão boa de mim.

A entrevista com o gerente do banco foi muito difícil. Disse que meus filhos não
deviam freqüentar aquela escola particular na qual estavam, que eu gastava mais
do que a minha receita permitia, que eu não podia arcar com todos os gastos de
viagem da escola para casa, que não tinha dinheiro suficiente para os gastos da
casa, que tinha que dar-me conta de que ganhava muito pouco e que não podia
fazer todas as coisas que fazia. Suas palavras foram tão duras que quando saí,
caí em prantos. Sentia-me humilhada, envergonhada e não conseguia pensar no
que mais poderia fazer, porque já colocava o melhor de mim em tudo o que eu
fazia. Foi então que recordei que "O pássaro canta antes do amanhecer" e por
isso em silêncio agradeci a Deus por ter uma amiga que naquele momento estava
me apoiando, orando por mim. Recordei as palavras que ela tinha citado. "Dá-lhe
do fruto de suas mãos, e a louvarão em público por suas obras".

Então a porta do Banco abriu e saiu o gerente. Segurou-me pelo ombro e fez-me
entrar em sua sala novamente. Disse que não havia dormido na noite anterior por
minha causa. Que admirava-me por estar criando 5 filhos sozinha, sem a ajuda de
meu marido, e que o estava fazendo muito bem. Que estava dando-lhes uma
excelente educação naquela escola da Inglaterra, e que nunca pedia nada para
mim . . . e concluiu dizendo que ia defender-me e ajudar-me, e prometeu que ia
encarregar-se pessoalmente de que eu sempre tivesse dinheiro para pagar o
aluguel da minha casa e para trazer os meus filhos da escola para casa. Quando
saí sentia-me flutuando no ar e pensei na veracidade das palavras da Bíblia que a
minha amiga havia citado. O gerente estava reconhecendo o meu ser à luz da
verdade da Ciência Cristã. Ele sabia que eu orava por cada situação que se
apresentava. Pude pagar em pouco tempo o saldo devedor e as circunstâncias
tornaram-se mais fáceis.
Uma vez li a história de uma mulher que estava num campo de concentração
durante a Segunda Guerra Munidial. Era holandesa. Ela e sua irmã foram para a
prisão levando de contra-bando uma Bíblia. Foram colocadas em uma cela só
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para elas, mas o colchão estava tão cheio de pulgas que não podiam dormir nele.
Um dia quando se puseram a orar, ela sentia-se muito deprimida e sua irmã lhe
propôs darem graças, e começaram a procurar o que tinham para agradecer. Sua
irmã agradeceu a Deus pelas pulgas. Ela disse: "sinto não poder fazer o mesmo, eu
não agradeço a Deus pelas pulgas." A irmã insistiu em que deveriam agradecer a
Deus por tudo, por cada tribulação, então por fim, resignada, agradeceu a Deus
pelas pulgas. Depois colocaram mais duas mulheres na cela junto com elas, e
notaram que as sentinelas não se aproximavam daquela cela porque sabiam que
estava cheia de pulgas. Por isso as quatro puderam compartilhar a Bíblia nessa
pequena cela. Uma vez mais "O pássaro cantou antes do amanhecer". Elas
puderam contar histórias maravilhosas sobre a maneira que Deus as havia
ajudado.

Há alguns anos estive orando por uma mulher que tinha três filhos, dois
adolescentes e um menor com 11 anos. Ela tinha uma enfermidade muscular que
a impedia de andar e utilizar seus braços. Estava doente há 7 anos. Não era
Cientista Cristã, e seu padrinho de casamento, o melhor amigo de seu marido, era
seu médico. Este amigo trouxe vários especialistas de Londres para a ajudarem,
mas a única coisa que conseguiu foi vê-la piorar. Há 18 meses achava-se
prostrada na cama.

O marido desta mulher escreve para o THE CHRISTIAN SCIENCE MONITOR. Ele é
jornalista. Foi indicado por mim para este emprego, na época o presentiei com o
livro texto. Passaram-se 17 anos desde aquela ocasião. Durante esses anos
nunca abriram o livro texto da Ciência Cristã. Um dia telefonei para agradecê-lo
por um artigo que tinha escrito no MONITOR e sua esposa atendeu o telefone.
Falou que seu marido estava no jardim e que ela não podia levantar-se para
chamá-lo, porque estava confinada na cama. Por cortesia perguntei como ela
estava e ela se pôs a chorar. Disse que não podia mover-se da cama e por fim
perguntou se eu acreditava que a Ciência Cristã poderia ajudá-la. Afirmei que
estava segura de que podia, por isso, ela convidou-me a ir visitá-la.

No dia seguinte fui à sua casa e o marido recebeu-me na porta, dizendo: "Myrtle,
por favor, não prometa a ela algo que não possa cumprir. Está cansada de
promessas e em nenhuma delas a cura se realizou, ela não aguenta mais e,
francamente, nem eu. Quando volto diariamente do trabalho para casa, tenho que
lavar roupa, fazer as compras, ocupar-me de nossos filhos. E eu sou um jornalista
ocupado, tenho um trabalho de tempo integral, trabalho com o público e esta
situação é muito, mas muito difícil." Então, levou-me ao quarto de sua esposa. Ela
era uma mulher muito alta, de um metro e oitenta, mas estava tão magra que não
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podia sequer erguer a cabeça. Tive que segurar sua cabeça e virá-la para que ela
pudesse me ver. Começou a falar sobre todas as vezes que havia ido para o
hospital, sobre tudo o que havia ocorrido com ela e, quando finalmente pude
dizer-lhe algo, mencionei algumas das promessas da Bíblia, tais como: "Eu vim
para que tenham vida e a tenham em abundância" (João 10:10). "Restituir-vos-ei
os anos que foram consumidos pelo gafanhoto . . ." (Joel 2:25). Pediu que eu as
escrevesse e colocasse em seu guarda-roupa para que pudesse vê-las e
acrescentou que queria ver-me no dia seguinte. Voltei três dias seguidos, e ela
não conseguia parar de falar de seu sofrimento e de tudo o que havia passado. . .
até que perguntei-lhe o nome de sua enfermidade e disse-me que era algo
muscular que começava com M, a sigla era MIM* e disse-lhe que tinha razão, que
por três dias a única coisa que havia feito era falar de si mesma. Disse que esse
MIM do qual falara, não era sua identidade como Deus a conhecia, e que se
pudesse se manter em silêncio por alguns momentos, eu iria falar sobre essa sua
identidade, desse MIM que Deus conhecia e como Deus a via. Prometeu manter-se
em silêncio. Comecei dizendo: "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito
bom . . ." (Gen. 1:31) e que ela estava incluída ali, que Ele a via em toda a beleza e
perfeição, com as quais a havia criado.

Durante duas semanas fui visitá-la e em pouco tempo começou responder ao


tratamento. Foi então, que seu marido teve que ir à uma reunião em Bruxelas.
Chamou-me para dizer que não sabia o que fazer com Hilary. Ela não queria voltar
ao hospital, e ele não podia deixá-la só. Convidei-a para ficar em minha casa e seu
marido ficou muito agradecido. Preparei um quarto para ela e todos os dias
declarávamos a Verdade, líamos, estudávamos e sua resposta ao tratamento era
muito lenta. Então um dia perguntou-me porque a cura era tão lenta. Disse: "se
Deus vai curar-me, porque não se apressa e não o faz logo? Porque tenho essa
enfermidade há tantos anos? Porque há pessoas, como as do Exército
Revolucionário Irlandês, que caminham sãs pela rua e eu não posso nem sequer
desfrutar da criação de meus filhos, parece muito injusto." Assegurei-lhe que
tínhamos que ser gratas até pelo pequeno progresso que havia obtido, que
tínhamos que expressar gratidão e comecei a lhe contar sobre o poder da
gratidão. Depois a deixei com uma quantidade de publicações antigas e quando
voltei, umas duas horas depois, encontrei-a muito entusiasmada. Contou que
havia encontrado um SENTINEL com um artigo escrito por Peter Henniker-Heaton,
intitulado "GRATIDÃO, NÃO EXISTEM MOTIVOS PARA QUEIXAR-SE ." Esse artigo
mencionava muitas praças, a Praça de Trafalgar, a Praça Times, a Vermelha e
todas as praças das grandes cidades do mundo, e ainda dizia "mas este ano, em
Dallas, Texas, foi inaugurada uma Praça de Ação de Graças, na qual todos podem
orar para o Deus em que crêem e para dar graças." E neste artigo ainda: "a
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gratidão entendida espiritual e cientificamente é tão poderosa que se toda a cidade


possuísse e usasse o potencial de uma Praça de Ação de Graças, de imediato se
resolveriam muitos dos urgentes problemas urbanos de nossa época." Continua
mencionando as várias vezes em que nosso Mestre deu graças e ao final diz: "a
come-moração anual de Ação de Graças, observada em muitos países, lembra-
nos de colocar em ação todos os dias do ano o poder da gratidão, gratidão pelo
bem obtido no passado e pelo bem futuro que nos espera. Tendo ou não uma
Praça de Ação de Graças em nossa cidade, todos nós podemos manter uma
Praça de Ação de Graças em nosso coração." Então propus a Hilary que
inaugurássemos uma Praça de Ação de Graças em nossos corações. Por isso,
decidimos escrever uma lista de agradecimentos e ela escreveu muitas folhas, e
eu observei que seu progresso se acelerou a partir daí. Passados 5 dias, seu
marido voltou e ela desceu as escadas correndo para recebê-lo. Como não se
sentia suficientemente segura para voltar para sua casa, perguntou-me se poderia
continuar na minha por mais uma semana, concordei. Partiu dirigindo seu carro
pela primeira vez em dois anos. Nesta noite o marido levou toda a família a um
grande centro comercial e cada um comprou o que quiz, depois foram a um
restaurante. Pai e filhos deram-se as mãos, antes de comer, para agradecerem a
maravilhosa cura.

* Neste relato, originalmente feito em espanhol, a palavra "MI" é empregada com duplo
sentido: como pronome pessoal e também como a sigla da enfermidade. Nesta
tradução, para mantermos o sentido original do relato, modificamos a sigla da
enfermidade para "MIM".
Compraram um ramalhete de flores para mim, e vieram entregá-lo em minha casa.
O marido deu-me um abraço, um beijo e disse que jamais havia imaginado que
pudesse estar tão agradecido por empurrar o carrinho de compras na loja, e
nesse dia haviam feito isso juntos, o que tinha um enorme significado para toda
família. Eu disse que a partir do momento que Hilary sentiu-se realmente grata, foi
notória a rapidez de sua cura.

E se isso pode ocorrer a uma pessoa, não seria maravilhoso se tivéssemos uma
Praça de Ação de Graças em Belfast? Se a gratidão pode fazer tanto por uma
pessoa, imagina o que pode fazer por uma cidade. As pessoas podem deixar de se
sentir dignas pena, e direcionar seus pensamentos para agradecer tudo o que têm
— pela beleza do país, pela calidez e amabilidade de seu povo. Hilary e seu marido
acharam uma grande idéia. Três semanas depois eu ia para Boston e prometi-lhes
averiguar algo sobre a Praça de Ação de Graças.
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Uma vez em Boston, perguntei à responsável pelo departamento de Filiais e


Praticistas, se sabia algo sobre essa praça. Disse-me que conhecia pormenores
porque havia sido criada em Dallas, e que a pessoa que teve a iniciativa de criar
essa praça, tinha freqüentado a mesma Escola Dominical que ela. Colocou-me em
contato telefônico com esta pessoa, Peter Stwart, que ficou muito contente em
saber que eu era da Irlanda do Norte. Compraram-me uma passagem para eu ir
visitar essa praça. Fiquei encantada por ela estar localizada no coração de Dallas.
Rodeada de enormes edifícios, possue uma linda cascata, e pessoas sentam-se
na praça para almoçar. Tem um edifício em forma de espiral, em cujo topo existe
uma pequena capela onde todos podem entrar para dar graças. Há um grande
aquário, onde as pessoas depositam cartões com os motivos pelos quais estão
agradecidas. Esses cartões podem ser lidos. Li o de uma viúva que expressava
sua gratidão por ter sido casada com seu marido durante 5 anos, já que muitas
mulheres vivem 50 anos casadas com um homem mau. Uma jovem recém casada
agradecia por haver casado naquele dia. . . E havia muitos outros.

Durante 5 anos tentei despertar o interesse das pessoas da Irlanda do Norte para
a construção de uma Praça de Ação de Graças . Enviei carta aos jornais,
convidaram-me para falar duas vezes no rádio local sobre o Dia de Ação de
Graças, mas não obtive muita atenção. Só que sabia que a idéia era correta e que
eu já havia plantado a semente. O interessante é que exatamente antes do "cessar
fogo", veio até mim um grupo de pessoas muito importantes, para dizer que
gostavam da idéia de uma Praça de Ação de Graças, e que acreditavam ter
chegado a hora de termos uma na Irlanda. Outra vez, "O pássaro cantou antes do
amanhecer". Não vou dizer que esse "cessar fogo" foi o resultado dessa breve
reunião em minha casa, na qual fizemos nossos cartões de gratidão, mas sei que
ajudou. Agora já tenho outros interessados, penso que a idéia está se
desenvolvendo e que em breve teremos um lugar para essa Praça, e vamos
começar a arrecadar fundos. Essa praça será muito especial, porque quando uma
pessoa vai a uma igreja na Irlanda do Norte todos sabem a que religião pertence,
ou irá a uma igreja católica ou a uma protestante. Quando existir uma Praça de
Ação de Graças, nada saberão sobre a religião da pessoa que irá dar graças a
Deus. Será um bom lugar para reunir todos e para aprender sobre culturas
distintas, sobre como podem ajudar-se mutuamente . . . poderá ser usada para
vários fins.

Agora quero falar-lhes um pouco sobre Peter Henniker-Heaton, o autor do artigo.


O que aconte-ceu me ensinou que nossa noção de tempo é completamente
equivocada. Eu havia dado ao casal o livro texto da Ciência Cristã, que ficou
guardado na estante por 17 anos antes de o lerem. Eu acreditava que quando
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damos o livro a uma pessoa, se ela não o lê em até 3 meses, então podemos
esquecer o fato, porque não o lerá nunca mais. Essa era minha percepção do
tempo. Esse artigo de Peter Henniker-Heaton foi escrito uns 18 ou 20 anos antes
de minha amiga o ler, mas a verdade que continha continuava a ser uma benção e
continuava fazendo bem.

Peter Heinneker-Heaton conhecia muito bem o poder da gratidão. Sua cura


demorou 10 anos. Durante a guerra teve que deixar a Marinha, porque teve
paralisia nas pernas. Não saía da cama e sua esposa, que era cantora de ópera e
solista, teve que ir trabalhar para pagar o aluguel e para mantê-lo. Ainda quando a
cidade de Londres estava sendo bombardeada, ela tinha que deixá-lo sozinho ou
em outras ocasiões, tinha que carregá-lo nas costas 3 andares pelas escadas,
para chegarem ao refúgio daquela área. Ele teve que superar escaras que se
formavam por estar sempre na cama, e sua condição física piorou tanto que nem
sequer conseguia virar as páginas de CIÊNCIA E SAÚDE. Alguém fabricou um
aparelhinho para ajudá-lo a virar as páginas do livro e então ele decorou o livro
texto.

O primeiro dia que pode sair à rua, depois de 10 anos, saiu de muletas e estava
tão entusias-mado por poder sair que decidiu tomar um ônibus. Um senhor de
semblante franzido e mal-humorado, sentou-se ao seu lado e começou a queixar-
se de que não gostava do chofer, do preço da passagem, do tempo etc. Peter
perguntou se ele não se sentia agradecido pelo lindo dia, por ter dinheiro para
pagar a passagem. O homem respondeu que não se sentia agradecido por isso e
ainda disse a Peter: "suponho que o Senhor tem uma vida fácil, que tem tudo e,
por isso, pode estar agradecido." Peter disse que tinha muitíssimo para ser
agradecido, e disse que aquelas muletas próximas de ambos eram dele, e que era
o primeiro dia que saía para passear em 10 anos. E acrescentou que se estava ali
é porque inicialmente tinha sido grato. Ele conhecia o imenso poder da gratidão.
"O pássaro cantou antes do amanhecer". Houve dias que parecia que Peter
estava morrendo, mas até nestes momentos ele nunca abandonou a esperança.
Ele mesmo foi um pássaro que cantou antes do amanhecer. Escreveu um poema
intitulado "Jubileu". A última estrofe diz:
"Minhas colheitas, os gafanhotos comeram,
meus alegres brotos verdes, jamais floresceram
por tormentas repentinas e fortes chuvas açoitados,
pela geada e vorazes insetos devorados,
estas colheitas de minha semeadura invernal,
fartam os carros em minhas portas no presente,
sobejante e com abundância transbordante,
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até o último grão, restaurado, saciado."

Escreveu isto muito antes de obter sua cura. "O pássaro cantou antes do
amanhecer".

Agora vou compartilhar o testemunho dado por uma senhora na igreja. Relatou
que seu marido havia adoecido gravemente. Sua irmã morava com eles e as duas
cuidavam dele. Precisaram passá-lo para uma cama no andar térreo e ficaram
orando por ele, mas ele foi piorando. Numa noite parecia que ele ia morrer, as
duas estavam próximas ao seu leito e sua irmã chorava e se perguntava porque
suas orações não haviam sido respondidas. Ficaram orando com o hino da Sra.
Eddy "Apascenta minhas ovelhas". Então puseram-se a analisá-lo. Há um trecho
que diz: "Tua voz escutarei para não errar" e elas honestamente podiam afirmar
que estavam escutando, que estavam "seguindo" atentamente. E aí se deram
conta de que o hino também dizia: "Pela senda rude irei. SEMPRE A CANTAR".
Constataram que não estiveram expressando alegria. Seguiram para o aposento
ao lado e se puseram a cantar e a tocar hinos no piano. Cantaram a noite inteira.
Foram para a cama às 5 da madrugada e na manhã seguinte, o homem subiu as
escadas para dizer-lhes que estava curado. "O pássaro cantou antes do
amanhecer" nessa ocasião também. Gosto muito dessa experiência.

Um praticista relatou-me outro caso. Uma mulher reclamava que não podia
caminhar e estava se desanimando muito porque não sentia melhora em seu
estado físico. No dia em que a praticista foi visitá-la, pediu que ela começasse a
louvar a Deus e a dar graças. A mulher caiu no choro e disse que isso era algo
que não conseguia fazer, porque estava muito sofrida, e que seu marido havia
perdido o emprego, e achavam-se muito endividados e, por isso, não tinha
motivos para estar grata. A praticista então perguntou se ela poderia sentir-se
grata por sua enfermidade não ser real, porque por mais que parecesse real, não
era real para Deus. E indagou: "pode estar agradecida por isso?" A mulher
respondeu que sim. A praticista continuou: "pode estar agradecida porque todas
as coisas são possíveis para Deus?" A mulher respondeu que podia estar
agradecida por isso. E ainda: "pode estar agradecida por ter sido criada à imagem
e semelhança de Deus? Por ser perfeita, bela, feliz, saudável, livre e ativa?" A
mulher admitiu que poderia estar agradecida por isso também. Então a praticista
pediu que ela escrevesse todos os dias uma lista de motivos pelos quais podia
estar grata e que lhe enviasse pelo correio. No outro dia a praticista recebeu uma
carta de 16 páginas e, o melhor de tudo, é que a mulher foi entregar pessoalmente e
completamente curada. Vêem? A gratidão foi manifestada primeiro. E nós ainda
cremos que não devemos estar agradecidos até vermos uma mudança, até nos
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sentirmos melhores, etc, mas isso não é o correto. "O pássaro canta antes do
amanhecer".

Sabiam que todo problema no mundo é uma crença de carência? O mundo está
memerizado com a crença de que algo está faltando. As pessoas se limitam,
crêem que dispõem de uma quantidade limitada de dinheiro, que os empregos
são limitados. Se uma mulher deseja casar-se, pode pensar que há poucos
homens. . . Tudo é limitação e falta de entendimento, mas temos que compreender
que a lei de Deus é "infinidade, liberdade, harmonia e felicidade sem limites" (C&S
481). Ele não conhece a carência, nem a limitação. Às vezes, quando enfrentamos
um problema que não cede, temos que nos empenhar em vencer a crença na
limitação. Pessoas de muito dinheiro podem sentir-se limitadas em outros
aspectos. Talvez não consigam as pessoas corretas para empregarem, ou não
aparecem as oportunidades, ou falta-lhes gerenciamento, seja o que for, tudo
resume-se numa crença de carência. E quando passam-se os anos, a crença das
pessoas é de que falta-lhes algo no corpo. A mente mortal está sempre nos
dizendo que algo nos falta, ou que precisa ser acrescentado a nós, para que nos
transformemos no "filho perfeito de Deus". A Bíblia nos diz: "Tudo quanto Deus
faz durará eternamente, nada se lhe pode acrescentar e nada lhe tirar . . ." (Ec.
3:14). Não é necessário que nada se acrescente ou se retire do filho de Deus para
torná-lo o filho perfeito de Deus.

No último ano como conferencista, caí em minha casa e quebrei um osso do pé.
Isso aconteceu numa noite muito úmida, quando saí para colocar as garrafas para
o leiteiro. O piso de ladrilhos estava molhado e eu escorreguei, as duas garrafas
se quebraram e uma caiu no peito do meu pé, cortou uma veia e saiu muitíssimo
sangue. Nesse momento não percebi que havia fraturado o pé também. Dois dias
depois, teria que iniciar uma excursão. Iria para a Escócia realizar a 1 a de uma
série de conferências. A viagem duraria 7 meses. Não havia ninguém em casa
comigo, então entrei engatinhando. Fui até telefone fixado na parede, e não pude
alcançá-lo. Então arrastei-me até meu quarto, no andar de cima, pensando que
alcançaria o telefone que ficava na mesinha da luz. Mas não consegui, desmaiei.
Quando voltei a mim, envolvi meu pé num lençol, tirei os vidros e tive que ficar ali
onde estava até o dia seguinte, quando uns amigos me encontraram. Minhas
filhas ficaram muito alarmadas e quiseram me levar para o hospital. Eu me
recusei, porque não queria dar as minhas conferências engessada.

No dia de minha partida nem sequer pude calçar o sapato. Estava enfaixada. Tive
que ser levada ao aeroporto em cadeiras de rodas. Quando cheguei ao meu
destino estavam me esperando com outra cadeira de rodas. Tive grandes
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dificuldades para desembarcar e as pessoas que foram recepcionar-me,


perguntaram se eu acreditava que, realmente, deveria fazer a conferência. Disse
que sim, porque o que acontecia era que o erro estava tentando impedir a
realização das conferências e que ele utilizaria qualquer disfarce para impedi-las.
Faria minhas conferências sentada e com as pernas ocultas. Utilizaria também
uma bengala.

Uma amiga que me encontrou naquele estado, se pôs a chorar e não queria que
eu conti-nuasse daquele jeito. Eu insisti em seguir adiante, então ela resolveu que
iria me levar de carro às conferências. Ela nunca havia dirigido na Inglaterra e foi
muito gentil de sua parte oferecer-se. Ajudou-me muitíssimo, enfaixava-me o pé e
ajudava eu a me vestir. Um dia dirigiu desde o Sul da Inglaterra até o Norte, onde
dei uma palestra. E tínhamos que sair no dia seguinte às 5 h da manhã para
retornar ao Sul da Inglaterra. E eu já não conseguia dormir há umas duas ou três
noites. Estava hospedada na casa de uma praticista, que chamou uma enfermeira
da Ciência Cristã para limpar o meu pé e o enfaixar. Quando viu meu pé a
enfermeira disse: "Sra. Smith terá que ficar num Hospital da Ciência Cristã. Não
está em condições de fazer o que está fazendo". Chamou a praticista e pediu que
ela me convencesse de fazer o que sugeria. A praticista pediu para eu cancelar
minhas conferências. Então eu disse que se agisse desse modo, o erro teria
triunfado e ficaria muito satisfeito ao interar-se do cancelamento de todas minhas
palestras e de que eu estava num hospital. Afirmei que não lhe daria este prazer e
que faria todas as conferências. E li o seguinte versículo na Bíblia: ". . . Em nada
cosidero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete minha carreira
com gozo" (Atos 20:24). Assim, não só soube que completaria a minha viagem,
mas que o faria com gozo. Então as duas deixaram-me só. Meu pé doía muito e
comecei a chorar. Às 3 h da madrugada perguntei a Deus se o que estava fazendo
era produto da minha vontade pessoal, porque se eu estava sendo cabeça dura, eu
não iria ajudar nem fazer nenhum bem à causa da Ciência Cristã. Roguei a Deus
por uma resposta.

Neste momento tive o seguinte pensamento: "Tens esquecido de ser grata?"


Imediatamente me senti agradecida por todos os amigos que encontrei ao longo
da viagem, pela enfermeira, pela pratricista, pela amiga que dirigia para mim,
então perguntei-me se eu era grata por meu pé. Comecei a pensar em meu pé e
senti-me muito grata por ele. E dei-me conta de tudo o que eu havia realizado
graças ao meu pé. Comecei a cariciar o pé e a dizer-lhe que realmente era grata
por ele. Ele havia me ajudado a dar meus primeiros passos quando eu era bebê,
havia me ajudado a caminhar. "Quando era menina ajudaste-me a brincar, a ir à
escola. Quando jovem, me levaste a bailes e nos divertimos muito. Te recordas
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destes bons tempos? Um dia me levaste ao altar (e eu não sei se foi um bom dia
ou um mau dia)". Disse que realmente estava grata a ele. Ele havia me ajudado a
empurrar o carrinho de 5 bebês. Havíamos realizado grandes caminhadas com
todos meus filhos. Concluí que amava esse pé, e lhe disse: "escuta-me pé, que
farias sem mim? Se alguém disser que tenho que te cortar, o que serias? Um pé
morto? Queres ser um pé morto? Então porque eu e você não nos pomos de
acordo e glorificamos a Deus juntos? O que te parece pé? 1 Bem, pela 1a vez em
muito tempo, consegui dormir. Dormi apenas duas horas, porque às 5 h tinha que
partir. Mas despertei muito reconfortada e descansada. A dor cessou, mas ainda
estava muito, mas muito inchado.

Uma das coisas que tive que superar foi o fato de sentir-me envergonhada, me
preocupava com o que as pessoas estavam pensando de mim. Acreditava que me
criticavam porque eu era conferencista e praticista e tinha que depender de uma
bengala. Um dia me perguntei: "realmente importa a você o que dizem? Você não
sabe que está tratando disso com Deus? Importa se levar 10 anos?" Concluí que
como estava resolvendo o problema com Deus, não devería preocupar-me com o
que pensavam os demais. Eu não estava fazendo o mínimo, mas o máximo que eu
podia fazer. Sobrepor-me ao que "poderiam dizer" foi uma boa lição para mim.
Depois disso, pela 1a vez, consegui apoiar um pouco o meu pé. Nesse dia o sol
brilhava através das árvores e eu me senti muito grata.

Terminei minha viagem e voltei para casa. Ia viver na Inglaterra por um ano e
minha filha, que morava lá, voltou comigo para ajudar a empacotar a mudança. O
senhor que cuidou de meu jardim durante minha ausência, veio esperar-nos no
aeroporto. Não me via há 7 meses e o primeiro comentário foi: "está precisando
usar bengala e ainda não fez nada sobre esse pé?" Afirmei que estava tudo sob
controle. Quando chegamos em casa, a faxineira quando me viu também me
censurou por eu não ter procurado ajuda médica.

Uma hora depois, veio me visitar meu único irmão, que não estudava Ciência
Cristã. Disse que buscaria um médico. Minha filha irritou-se muito com ele, e
pediu para ele me deixar resolver o problema à minha maneira. Então meu irmão
disse que eu era a única pessoa da família que lhe restava, que só queria o meu
bem, e que por isso, ia fazer o que era melhor para mim. Pedi à minha filha que o
deixasse tentar. Passou dois dias tentando conseguir um médico, voltou
contando que não havia nenhum que quizesse atender-me, porque eu não estava
cadastrada 2. Achei aquilo muito bom. No outro dia retornou dizendo que iria
conseguir uma consulta com um médico particular. Mas só haveria horário
disponível para outubro ou novembro, e eu partiria em dois dias. Na noite anterior
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à nossa partida, enquanto arrumávamos as malas, minha filha esperava que o seu
tio Gordon não aparecesse. Tranquilizei-a, porque meu irmão era fanático por
futebol e nessa noite passaria pela TV a final da Copa Mundial.

1
Durante o relato de todo esse tratamento, Myrtle fez seus ouvintes rirem muito.
2
A medicina está socializada na Irlanda.
Sua esposa me confessou que tinha até que desligar o telefone nos dias de jogo,
e caso chegasse alguma visita, não podia sequer abrir a porta. Jantavam uma
hora antes do jogo. Ele levava suas batatas chips e tudo o que ia precisar para
perto da TV e na hora do jogo não deixava que nada o atrapalhasse. Por tudo
isso, assegurei a minha filha que não havia nenhuma chance dele aparecer nesta
noite. Mas tocou a campainha e era meu irmão! Perguntei o que ele estava
fazendo ali numa noite de final da Copa? Respondeu que havia encontrado a
solução ideal. Iria levar-me para a emergência do hospital, porque queria chegar
ao fundo do problema. A essa altura minha filha começou a chorar, então lhe
disse: "Linda, não chores. Eu estive fazendo meu trabalho. Tenho certeza de que
meu trabalho está realizado. Estive trabalhando durante todos estes meses e
outras pessoas estiveram orando por mim, e por mais que façam repetidos raios
X durante anos, não irão me encontrar ali porque não vivo na matéria, vivo no
Espírito. Se isso o faz feliz, então que me leve ao hospital.

Quando a doutora viu meu pé, não podia acreditar no seu estado Queria saber
quanto tempo ele estava naquelas condições e respondi que estava assim há 7
meses. Quis saber ainda, porque não havia procurado ajuda médica antes.
Contei-lhe que era estudante de Ciência Cristã e que resolvia tudo a partir dela, e
que estava ali só para confortar o meu irmão. O conceito que a médica tinha
sobre a Ciência Cristã era desfavorável e afirmou que as condições em que o pé
estava eram tão ruins, que não acreditava que pudessem curá-lo. Mandou-me de
cadeiras de rodas à sala de raios X, com instruções de baterem chapas de todos
os ângulos possíveis. Assim o fizeram e mandaram-me de volta com o resultado.
Quando a médica as examinou, afirmou que havia um equívoco e que aquelas
chapas eram de outro pé, porque este se encontrava em perfeitas condições.
Assegurei a ela que aquele era meu pé. Ligou para a sala de raios X para
comunicar que aquelas chapas enviadas eram de outra pessoa. Mas afirmaram
que, há pelo menos três meses, ninguém tirava chapas de um pé. Aquelas eram
as únicas que existiam.

A doutora decidiu chamar outro médico. Pediu que examinasse o meu pé e as


chapas. Imediatamente o médico disse que aquelas chapas enviadas não eram as
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corretas. Ela confirmou que eram. Resolveram sair para fazer uma reunião entre
eles, ao retornarem examinaram meu coração, apesar de eu não saber o que meu
coração tem haver com meu pé. Ocorreram-lhes todo o tipo de idéias até que, por
fim, a médica afirmou saber o que acontecia. Disse: "a Sra. andou viajando por 7
meses, usando bengala para não colocar peso nesse pé e por isso concentraram-
se líquidos nele. Apóie-o, caminhe normalmente." Quando saímos, meu irmão que
esperava lá fora, veio muito assustado perguntar qual era o dignóstico para a
doutoura. A médica disse que eu tinha um pé perfeito, e que só a tinha feito
perder tempo. E meu irmão disse: "E eu que perdi o jogo?!" 3 Apoiei o pé e
caminhei normalmente. Um dia e meio depois havia desaparecido todo o inchaço.
Vêem? "O pássaro cantou antes do amanhecer". Tive que sentir-me muito
agradecida por este pé. E todos devemos estar agradecidos por nossos pés e
mãos, porque necessitamos deste corpo e é o único que temos agora. Nos
ocupamos de nossos móveis, nossos carros, nossos eletrodomésticos e temos
que amar nosso corpo pelo que ele representa. Eu sei que Deus me vê
espiritualmente e que a idéia espiritual que respalda o pé, é o pé real.

3
Nesta narração Myrtle também foi muito cômica e fez com que todos rissem muito.
Mas nessa experiência eu estive agradecida até por este pé humano, porque
nosso Pai diz: "como no céu, assim também na terra — Deus é onipotente,
supremo" (C&S pág.17). Assim senti-me grata ainda que por este corpo humano.
Essa cura foi muito importante para mim. Quando no ano seguinte voltei a fazer
palestras em muitas das mesmas igrejas, pude dizer honestamente que a Ciência
Cristã cura, que realmente cura, mas o pássaro tem que cantar antes do
amanhecer. 4

"O pássaro canta antes do amanhecer". Convido todos para que se decidam a
deixar que o pássaro cante antes do amanhecer na Causa da Ciência Cristã.
Temos que compreender que é Deus quem se ocupa de nossas ações, que não
estão nas mãos de pessoas ou indivíduos, e sim nas mãos de Deus Todo
poderoso. Me encanta o que diz Mary Baker Eddy, sobre gratidão, no livro texto
da Ciência Cristã: "somos realmente agradecidos pelo bem já recebido? Então
nos aproveitaremos das bençãos que temos e assim estaremos aptos a receber
mais. A gratidão é muito mais do que uma expressão verbal de agradecimento. Os
atos exprimem mais gratidão do que as palavras" (C&S pág.3).

Somos realmente agradecidos pelo bem já recebido? Estamos realmente


agradecidos por cada membro filiado? Inclusive em nossa igreja filial? Somos
agradecidos pelos membros que nunca trabalham pela igreja? Porque eles estão
aumentando a congregação e apoiando financeiramente a igreja durante a coleta
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dos domingos. Somos agradecidos a todos ou estamos resmungando por causa


de alguém que não faz alguma coisa bem ou que não faz nada? Somos
agradecidos a todos os trabalhadores de Boston? Esse é um lugar em que eu não
gostaria de trabalhar, não é fácil trabalhar ali. Temos que ser muito gradecidos por
tudo e assim começará a amanhecer para nós.

Conhecem a história de Jesus, quando alimentou uma multidão? Jesus agradecia


por tudo e agradeceu antes de alimentar a multidão (João 6:1-12):
"Depois destas coisas, atravessou Jesus o mar da Galiléia, que é o Tiberíades.
Seguia-o numerosa multidão, porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura
dos enfermos. Então, subiu Jesus ao monte e assentou-se ali com os seus
discípulos. Ora, a Páscoa, festa dos judeus, estava próxima. Então, Jesus,
erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com ele, disse a Felipe:
Onde compraremos pães para lhes dar de comer? Mas dizia isto para o
experimentar; porque ele bem sabia o que estava para fazer. Respondeu-lhe
Felipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu
pedaço. Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou
a Jesus: Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos, mas
isto o que é para tanta gente? Disse Jesus: Fazei o povo assentar-se; pois havia
naquele lugar muita relva. Assentaram-se, pois, os homens em número de quase
cinco mil. Então, Jesus tomou os pães e, tendo dado graças, destribuiu-os entre
eles, e também igualmente os peixes, quantos queriam. E, quando já estavam
fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para
que nada se perca".

4
Myrtle foi conferencista de LIM por 4 anos, depois começou a fazer palestras a convite das
igrejas.
Há dois anos, li esta passagem na Lição Sermão. Jesus estava ali sentado com os
seus discípulos e viu que tinha vindo a ele uma enorme multidão. Ele viu uma
multidão de necessidades que tinham que ser satisfeitas. E creio que ele
perguntou a si mesmo, "Somos suficientes? São 12 discípulos suficientes para
alimentar uma multidão como esta?" Então viu que sim. Como símbolo, os
alimentou. E havia uma lei nisto, havia uma pessoa disposta a compartilhar seus
5 pães e 2 peixes e Jesus disse que isso bastava. Ele magnificou o bem que já
estava ali e partiu o pão, os deu aos discípulos e eles às pessoas. Conosco
acontece o mesmo. Às vezes nos perguntamos se somos suficientes em nossas
igrejas filiais, e temos que saber que somos. Damos graças primeiro, sabendo
17

que somos alimentados pelo Cristo, por nosso Pastor, a Lição Sermão, e que isso
é suficiente para alimentar multidões.

Uma vez dei uma conferência em uma Sociedade pequena, no Sul da Inglaterra. E
quando fui ao serviço dominical observei muita atividade, as pessoas atuavam
animadamente. Fiquei muito grata e impressionada e comuniquei isso aos
membros com os quais almoçei depois do serviço. Eles contaram que nem
sempre havia sido assim. Dois anos antes estiveram a ponto de fechar suas
portas, porque não tinham fundos, a calefação estava quebrada, necessitavam de
um teto novo, não haviam crianças na escola Dominical e encontravam-se quase
sem membros.

Por tais motivos convocaram uma reunião e a maioria estava de acordo com o
encerramento. Então uma pessoa tomou a palavra e disse que enquanto os
demais falavam, se pôs a pensar que se tivesse vindo do Norte da Inglaterra para
esse pequeno povoado, se perguntaria se haveria nele algum Cientista Cristão.
Logo colocaria um aviso numa loja e receberia uma, duas e até sete respostas, e
todas de famílias. Alegrar-se-ia muito e pensaria que tinha um número suficiente
de pessoas para formarem uma igreja, "mas neste momento, estamos aqui
dizendo que sete não são suficiente. Tudo depende do ponto-de-vista."
Mencionou um artigo que viu alguns anos antes no SENTINEL, no qual a autora
conta que corria para alcançar um trem em Londres. Carregando duas maletas
pesadas tinha que subir uma escadaria, cruzar a plataforma e novamente descer a
outro andar. E pensou que não conseguiria chegar a tempo. Restava apenas um
minuto, mas passou por um lugar onde havia um relógio enorme e um minuto
nele pareceu-lhe muito tempo. Pensou: "Tenho um minuto, contudo, um minuto
enorme". Aproveitou seu minuto, deixou de correr e chegou a tempo de tomar seu
trem. Depois este membro começou a considerar sua igreja desta outra
perspectiva e passou a dar graças pelas bençãos que recebiam e esta igreja está
prosperando agora. Vêem? "O pássaro cantou antes do amanhecer" neste caso
também.

Ontem li algo em MISCELÁNEA que achei muito interessante. Está na carta que a
Sra. Eddy escreveu para a PRIMEIRA IGREJA DE CRISTO, CIENTISTA, EM ATLANTA,
GEORGIA. Gostaria de ler para vocês uma parte dela: "Esta casa tem sido
santificada por Sua promessa: «santifiquei a casa que edificaste, a fim de pôr ali
o meu nome para sempre; os meus olhos e o meu coração estarão ali todos os
dias» (1 Reis 9:3). «Estarão abertos os meus olhos e atentos os meus ouvidos à
oração que se fizer neste lugar» (2 Crônicas 7:15). "Teus dias de festa não estão
nas comemorações, mas sim no reconhecimento de Sua presença" (pág.188).
18

Adiante segue assim: "Tenha paciência diante da perseguição. A injustiça não


tem um décimo do poder da justiça. Vossos inimigos farão a divulgação por
vocês. A Ciência Cristã está se difundindo, com passos seguros, pelo mundo
inteiro. A perseguição é a fraqueza dos tiranos produzida pelo temor, e o amor a
expulsará. Permaneça, com firmeza, no amor e nas boas obras. Filhos da luz, não
sois filhos das trevas. Deixe que vossa luz resplandeça. Sempre mantenha o
pensamento nas bases da Ciência Cristã — um Deus e um Cristo. Perca de vista o
individualismo, e as bem-aventuranças do Cristo selarão vosso apostulado"
(pág.191). Isto é tão verdadeiro hoje em dia, como o era na época em que a Sra.
Eddy escreveu esta carta. A benção do Cristo tem sido conferida a nossa igreja e
ao movimento da Ciência Cristã e não podemos resistir a esse fato.

Ela menciona o dízimo. Muitas igrejas dão o dízimo. A Sra. Eddy nos dá a
definição de dízimo: "Contribuição, décima parte; homenagem; gratidão" (C&S
pág.595). Por isso, cada vez que expressamos gratidão estamos dando o dízimo.
Pensou alguma vez em doar parte de seu tempo, diariamente, para trabalhar para
Deus? Creiam-me que suas vidas não voltarão a serem as mesmas se o fizerem.
Quem sabe podem doar parte de um horário. Enquanto saem às compras, bem
podem decidir-se a dar graças a Deus e buscar motivos para serem agradecidos.

Eu estou muito agradecida de poder ter compartilhado estas idéias com vocês.

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