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ORIENTAÇÕES AO JOVEM PREGADOR

Pr. Elinaldo Renovato de Lima

INTRODUÇÃO

Há alguns anos, o número de rapazes e moças que subiam ao púlpito para pregar era maior que o de
hoje. Na sua simplicidade, falavam do amor de Deus, da Salvação e davam testemunho sob a unção do
Espirito Santo. Hoje, parece que a figura do "preletor oficial" inibiu muitos de falarem com ousadia a
Palavra de Deus. Parece que há um receio de falar diante de um público que, certamente, é mais
intelectualizado que há alguns anos. Jovens pregadores ficam embaraçados e cometem certos deslizes,
que poderiam ser evitados. Neste modesto trabalho, vamos dar apenas algumas sugestões, e não um
estudo sobre a Homilética (Arte de Falar em Publico).

I -O QUE PREGAR?

É a comunicação verbal da Palavra de Deus aos ouvintes. É a transmissão do evangelho de Nosso


Senhor Jesus Cristo às pessoas que precisam ouvi-lo.

II- QUAL A FINALIDADE DA PREGAÇÃO?

É persuadir as pessoas a aceitarem a mensagem da Palavra de Deus para sua salvação (descrentes) ou
para seu crescimento espiritual (crentes). Diante disso, o pregador precisa saber para quem esta
falando: Para crentes ou para descrentes?

III- QUE DEVE CONTER A PREGAÇÃO?

Três coisas são básicas:

1. OBJETIVIDADE.

Refere-se ao alvo a atingir. Se pregamos para descrentes, desejamos que eles entendam que precisam
crer em Jesus para ser salvos. Devemos orar muito, antes de pregar, para que o Espirito Santo
convença as pessoas do seu pecado. Se isso acontecer, a pregação alcança seu alvo. O centro da
pregação deve ser Cristo e não o pregador, como acontece em certas cruzadas ou movimentos
evangelísticos. Há pregadores que se perdem no púlpito. Começam a falar do amor de Deus, e passam
a divagar sobre o Apocalipse, vão até Gênesis, aos profetas e, ao final, não sabem como sair do
emaranhado de palavras. É preciso ter objetividade.

2. TRANSMISSÃO.

O pregador deve procurar transmitir a mensagem de Deus às pessoas. Paulo disse: "Porque eu recebi
do Senhor o que também vos ensinei..." O mensageiro deve receber a mensagem de Deus e transmiti-la
aos homens. Não deve ficar inventando mensagens, terias, filosofias para mostrar conhecimentos.

3. CONVICÇÃO.

O pregador deve transmitir aquilo de que tem convicção, para que a mensagem seja aceita. Tem que
viver aquilo que prega.

IV - A BASE DA PREGAÇÃO (ou do sermão)

1. A PALAVRA DE DEUS
A base da pregação deve ser a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada. Podemos dizer, em outras palavras
que a base da pregação deve ser o TEXTO BÍBLICO . Ilustrações podem ser aproveitadas, desde que
Que se relacionem com o tema da mensagem , mas não podem tomar o lugar da Palavra de Deus.
Ouvimos um pregador que, não tendo êxito em "abalar" os ouvintes, apelou para uma história fantasiosa
e tomou 80% do tempo destinado à mensagem.

2. QUE TEXTO ESCOLHER?

O Pr. Elienai Cabral sugere (em resumo) 8 (oito) características para um bom tema a ser escolhido )p.
50-51).

1) De preferência textos que expressem um pensamento completo;

2) Textos claros. Devem-se evitar textos obscuros como Jd 6; Mt 27.52; 1 Pe 3.19-20 (exigem estudo
mais profundo).

3) Textos objetivos: que atendam às necessidades espirituais das pessoas (Com oração e unção).

4) Textos sobre os quais não haja dificuldade para a interpretação (hermenêutica).

5) Textos dentro dos limites de capacidade do pregador.

6) Textos que expressem o tema da pregação para não fugir ao objetivo.

7) Texto que desperte interesse (Com oração, o Espírito mostra o que deve ser pregado).

8) Textos cuja seqüência seja de fácil acompanhamento pelo pregador e pelo auditório.

V - A ESTRUTURA DA PREGAÇÃO ( Do sermão)

Toda pregação com esboço ou não, deve ser dividida, basicamente, em duas partes:

1. INTRODUÇÃO.

É a parte inicial da mensagem, pela qual o pregador entra em contato com o auditório. Visa despertar o
interesse pela pregação; "prepara a mente dos ouvintes , para que possam compreender o assunto do
sermão e as idéias a serem desenvolvidas..." (Key, p. 31). Uma boa introdução deve ser BREVE,
SIMPLES, INTERESSANTE E APROPRIADA. (Cabral, p. 66) Conhecemos um grande pregador que
gasta 30 ou 40 minutos na introdução. Isso cansa, principalmente os descrentes. A introdução não deve
ir além de 10 ou 15% do tempo da mensagem. (Normalmente, o pregador sabe de quanto tempo dispõe,
exceto em casos especiais).

2. CORPO (ou desenvolvimento) DA MENSAGEM (Do sermão).

É a parte mais importante da mensagem. Ela deve conter a seqüência das idéias a serem apresentadas.
No corpo do sermão ou da mensagem , podemos ter:

1) Ordem ou divisões (1º , 2º, 3º , etc.);

2) Transição de um pensamento para outro. As divisões devem ser de acordo com os objetivos
mensagem; devem-se evitar " excesso de floreios", "rodeios", ou "conversa fiada". O povo percebe.

3.CONCLUSÃO. É o auge da pregação. O seu clímax. Nela, o pregador faz a aplicação do que pregou
no corpo do sermão. Nesse momento, o pregador e o auditório, pelo poder do Espirito Santo, devem
chegar à conclusão de que a mensagem atingiu seu objetivo. Sem uma boa conclusão, o que foi dito
pode perder o brilho. Uma conclusão pode ser feita através de:

1) RecapituIação. O pregador deve rever o que pregou, em resumo ou tópicos, evidenciando


pensamentos-chave , pontos fortes da mensagem (Cabral, p. 70).

2) Narração. O pregador pode valer-se de um fato, uma rápida ilustração para comover o auditório,
levando o descrente a uma decisão, na unção do Espírito Santo.

3) Persuasão . É a parte mais difícil da conclusão. Depende muito mais do Espírito Santo do que do
pregador. Por isso, toda mensagem deve ter a unção do Espírito Santo. Para tanto, o pregador precisa
orar muito, e até jejuar, diante de Deus, para que a mensagem atinja seu alvo.

4) Convite. Toda pregação deve terminar com um convite ou apelo, seja para pecadores, seja para a
igreja. Um convite na unção do Espírito tem maravilhoso efeito no coração das pessoas. De acordo com
Braga (p. 211-212), a conclusão deve ser breve e simples, e com palavras adequadas. Um certo jovem
pregou numa igreja. Ao fazer o apelo, não vendo ninguém atender, passou a contar que alguém ganhou
um grande prêmio porque deu uma grande oferta para a Obra. Desviou totalmente o alvo da mensagem.

VI - TIPOS DE SERMÕES

1. SERMÃO TEMÁTICO (Ou Tópico).

É aquele "cujas divisões principais derivam do tema, independentemente do (Braga, p.17).

Exemplo: Tema: "Causas para a Oração não Respondida":

1) Pedir mal. (Tg 4.3);


2) Pecado não confessado (S1 66.18);
3) Duvidar da palavra de Deus (Tg 1.6-7);
4) Vãs repetições (Mt 6.7);
5) Desobediência à Palavra (Pv 18.9);
6)Mal relacionamento conjugal (1 Pe 3.7);

2. SERMÃO TEXTUAL

É aquele em que as divisões principais do derivadas de um TEXTO constituído de UMA BREVE


PORÇÃO DA BÍBLIA ( Braga, p. 30).

Exemplo: Titulo: "O Único Caminho Para Deus" (Jo 14.6).

1) Através de Jesus, o único caminho.


2) Através de Jesus, a verdade.
3)Através de Jesus, a vida.

3. SERMÃO EXPOSITIVO

É aquele em que as divisões baseiam-se numa porção mais extensa (texto) da Bíblia, não abrangendo
"um só versículo, mas uma passagem, um capítulo, vários capítulos, ou mesmo um livro inteiro" (Cabral,
p. 78). Nele , é mostrada (exposta) uma verdade contida num texto bíblico. Exige tempo, estudo e
conhecimento bíblico.

Exemplo: Titulo: "O Cordeiro de Deus" (Ex 12. 1-13)

1)Foi um cordeiro divinamente determinado (vv. 12.1-3)


2) Foi um cordeiro perfeito (12.5);
3) Foi um cordeiro morto (12.6);
4) Foi um cordeiro redentor (12.7; 12-13);
5) Foi um cordeiro sustentador (12.8-11).

VII- QUALIDADES DO BOM PREGADOR

1. Personalidade

É o que caracteriza uma pessoa e a torna diferente de outra. "É tudo quanto o indivíduo é". Na pregação,
o pregador demonstra que tem personalidade, quando se expressa, falando ou gesticulando, de acordo
com aquilo que ele é e não imitando outras pessoas. De vez em quando, percebe-se pregadores ,
imitando evangelistas famosos, dando gritos, pulando e correndo no púlpito, torcendo o pescoço,
ajeitando a gravata, falando rouco ou estridente. Isso é falta de personalidade. É querer ser ator, imitador
e não um instrumento nas mãos do Espírito Santo.

2. Espiritualidade. Nessa característica, podemos observar os seguintes aspectos:

1) Piedade.

É o sentimento de devoção e amor pelos outros e pelas coisas de Deus. O pregador deve sentir pelo
Espírito as necessidades do auditório, principalmente dos pecadores. (1 Tm 4.8; Hb 12.28).

2) Devoção

É o sentimento religioso, de dedicação às práticas ensinadas na Palavra de Deus. Na devoção, o


pregador busca inspirar-se na ORAÇÃO, na LEITURA DA BÍBLIA, e no LOUVAR A DEUS. Temos visto
verdadeiros profissionais da pregação, técnicos, que sabem pregar, mas não sabem orar; sabem gritar,
mas não sabem amar as almas. Pregam por interesse, por torpe ganância. Que os jovens pregadores (e
os antigos) não entrem por esse caminho. Conta-se que Moody, o grande evangelista, orava uma hora
para pregar cinco minutos. Enquanto isso, temos pregadores que oram cinco minutos para pregarem
uma hora!

3) Sinceridade

Reflete a verdade contida na própria alma. O pregador deve pregar aquilo que vive e viver aquilo que
prega (Tg 2.12). Um jovem, dirigente de Mocidade, pregava bem. O povo se alegrava. Mas, um dia, uma
jovem descrente procurou a direção da igreja para dizer que estava gravida dele e, o pior, o jovem não
assumiu a paternidade. Por fim, confessou o pecado, foi excluído, e contribuiu para uma alma descrer do
evangelho.

4) Humildade

"Nenhum pregador pode subir ao púlpito sem antes ter descido, pela oração, os degraus da humildade.
Na oração, o egoísmo se quebranta. O medo se desfaz, e a certeza da vitória aparece clara como a luz
do sol ao meio-dia" (Cabral, p. 43). (Ler Pv 15.33). Um jovem vivia criticando quem ia pregar, dizendo
que, se fosse ele, pregaria muito melhor. Um dia, o pastor deu oportunidade ao moço para pregar. Ele
subiu ao púlpito, orgulhoso, sorridente. Tentou achar um texto na Bíblia, de um lado para outro, e nada.
Suou, pediu desculpa, e desceu cabisbaixo. Sentou noutro lugar, junto a um irmão experiente, que,
percebendo sua tristeza, disse: "Moço, se você tivesse subido como desceu (humilde), teria descido
como subiu (alegre)". E uma grande lição para todo pregador.

5) Poder

O pregador (jovem ou não) precisa do Poder de Deus. S. Paulo disse que não pregava sabedoria
humana, mas com poder (1 Co 1.4-5). É preciso ter unção e graça para pregar. Do contrário, ocupa-se o
púlpito e o tempo para dizer coisas inoportunas. E melhor um sermão fora da Homilética, mas na unção
de Deus, do que dentro da técnica, e sem poder. Isso só se consegue com oração, jejum, leitura bíblica,
e vida consagrada. Não se obtém num curso de Homilética.

BIBLIOGRAFIA

BRAGA, James. como preparar mensagens bíblicas. S. Paulo, Ed Vida, 1993.


CABRAL, Elienai. O pregador eficaz. Rio, CPAD, 1983.
KEY, Jerry Stanley. José da SiIva, um pregador leigo. Rio, JUERP, 1978. (Natal, 7 de abril de 1995)

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