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Universidade do Estado de Santa Catarina

Departamento de Engenharia Elétrica

Máquinas Elétricas Rotativas

Tiago Dezuo

18 de novembro de 2020
2
Prefácio

Este documento pretende ser uma apostila para a disciplina de Máquinas


Elétricas Rotativas (MAE0001) do curso de graduação em Engenharia Elé-
trica da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). A ideia básica
da apostila é apresentar o conteúdo da disciplina de maneira simplicada,
propor exercícios e um conjunto de referências bibliográcas que permitam
ao aluno avançar de forma orientada nos temas em questão.
O material aqui apresentado não contém novos resultados cientícos,
tendo apenas caráter didático, e foi criado com base na literatura pré-existente
e notas de aula. Vale ressaltar que o conteúdo deste documento é a primeira
versão de um trabalho e que certamente necessita de melhoramentos. Por
isso, esta apostila está sob constante atualização, sendo a data da versão
mais recente indicada em sua capa.
Gostaria de agradecer ao Lucas M. de Lacerda pela colaboração na edição
deste material e também aos meus alunos Alessandra Schroeder, Jonas O.
Foyth e Alectusa F. Barfknecht por gentilmente cederem suas notas de aula
para auxiliar no preparo de seu conteúdo.

Joinville, 18 de novembro de 2020.

Prof. Tiago J. M. Dezuo

3
4
Lista de Acrônimos

CA Corrente Alternada

CAV Característica a Vazio

CC Corrente Contínua

CCAV Corrente de Campo a Vazio

CCC Característica de Curto-Circuito

CCCC Corrente de Campo de Curto-Circuito

GIF Graphics Interchange Format

IEEE Institute of Electrical and Electronics Engineers

FCEM Força Contra-Eletromotriz

FEM Força Eletromotriz

FMM Força Magnetomotriz

FP Fator de Potência

NEMA National Electric Manufacturers Association

RCC Relação de Curto-Circuito

TDH Taxa de Distorção Harmônica

5
6
Lista de Figuras

1.1 Conversão de energia em máquinas elétricas rotativas. . . . . . 16


1.2 Classicação das máquinas elétricas rotativas. . . . . . . . . . 17

2.1 Nomenclatura base. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19


2.2 Partes fundamentais de uma máquina usual (vista em corte
transversal ao eixo). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 Campo magnético produzido por (a) imãs permanentes e (b)
enrolamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.4 Localização e tipo de cada enrolamento. . . . . . . . . . . . . 22
2.5 Tipos de polos do rotor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.6 Máquina síncrona elementar de polos lisos. As setas repre-
sentam os eixos magnéticos da armadura (em vermelho) e do
campo (em azul). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.7 Máquina síncrona elementar de polos salientes. As setas re-
presentam os eixos magnéticos da armadura (em vermelho) e
do campo (em azul). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.8 Máquina síncrona de quatro polos. . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.9 Instalação do rotor de polos salientes da usina hidrelétrica
Itaipu. Fonte: [3]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.10 Máquina síncrona trifásica. As setas representam os eixos
magnéticos de cada fase da armadura (em vermelho, verde
e amarelo) e do campo (em azul). . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.11 Máquina CC elementar de polos salientes. As setas repre-
sentam os eixos magnéticos da armadura (em vermelho) e do
campo (em azul). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

7
8 LISTA DE FIGURAS

2.12 Tipos de distribuição dos enrolamentos. . . . . . . . . . . . . . 30


2.13 Tipos de camada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.14 Tipos de passo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.15 Corte transversal da máquina para o Exercício 1. . . . . . . . 32

3.1 Analogia entre FMM em um circuito magnético e FEM em


um circuito elétrico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
3.2 Distribuição da FMM em uma máquina elementar. . . . . . . 34
3.3 Distribuição planicada da FMM em uma máquina elementar
(em azul) e sua respectiva harmônica fundamental (em verde
tracejado). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4 Máquina com enrolamento distribuído, camada dupla e passo
pleno para análise da FMM. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
3.5 Distribuição planicada da FMM da máquina da Figura 3.4
(em azul) e sua respectiva harmônica fundamental (em verde
tracejado). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
3.6 Enrolamento distribuído para o Exercício 2. As bobinas em
azul claro têm 6 espiras e as bobinas em azul escuro têm 8
espiras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
3.7 Rotor com enrolamento distribuído. . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.8 Onda girante em máquinas CA trifásicas. A direção de pico
da FMM pulsante de cada fase e a resultante trifásica girante
são mostradas à esquerda e as respectivas correntes aplicadas
à direita. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.1 Máquina elementar para dedução da tensão induzida. . . . . . 45


4.2 Representação de um polo de um rotor elementar (metade do
cilindro no caso de dois polos). . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.3 Representação alternativa simplicada. . . . . . . . . . . . . . 51
4.4 Torque produzido em máquina síncrona trifásica em função do
ângulo de carga δ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

5.1 Fluxo principal φ0 e de dispersão φl (leakage ) em analogia com


transformador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
5.2 Circuito equivalente da máquina síncrona na representação
tipo motor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
5.3 Circuito equivalente da máquina síncrona na representação
tipo gerador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
LISTA DE FIGURAS 9

5.4 Característica a vazio (CAV), linha de entreferro e circuito


equivalente do ensaio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5.5 Característica a vazio (CAV) para o Exemplo 6. . . . . . . . . 68
5.6 Característica de curto-circuito (CCC) e circuito equivalente
do ensaio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.7 Curvas características plotadas em conjunto. . . . . . . . . . . 69
5.8 Curvas características plotadas em conjunto para o Exemplo 7. 71

6.1 Duas fontes de tensão conectadas através de uma impedância. 75


6.2 Diagrama fasorial genérico para o circuito da Figura 6.1. . . . 76
6.3 Fluxo de potência de uma máquina síncrona trifásica em fun-
ção do ângulo de carga δ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
6.4 Circuito equivalente da máquina síncrona na representação
tipo gerador. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
6.5 Circuito de conexão à rede do Exemplo 8. . . . . . . . . . . . 80
6.6 Comportamento de Va sob mudanças em δ para o Exemplo 8. 81
6.7 Curva composta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
6.8 Curva V para diversos níveis de potência expressos em PU
(Por Unidade). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
6.9 Curva V completa (como gerador e motor). . . . . . . . . . . . 84
6.10 Curva de capacidade. O ponto de operação nominal da má-
quina está marcado pelo símbolo ?. . . . . . . . . . . . . . . . 85
6.11 Curva de capacidade completa com todos os limites. A área
de operação segura está destacada em cor cinza. . . . . . . . . 86
6.12 Eixo direto (d) e eixo em quadratura (q ) na máquina síncrona
de polos salientes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
6.13 Reação da armadura para o caso de 90 entre Iˆa e Êaf . . . . .

88

6.14 Reação da armadura para o caso de 0 entre Iˆa e Êaf . . . . . .



89
6.15 Diagrama fasorial com coordenadas dq . . . . . . . . . . . . . . 90
6.16 Semelhança de triângulos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
6.17 Diagrama fasorial com coordenadas dq modicado. . . . . . . 91
6.18 Potência de uma máquina síncrona trifásica de polos salientes
em função do ângulo de carga δ (curva em vermelho). As
curvas em azul e em verde representam, respectivamente, o
primeiro e segundo termos da Equação (6.33). . . . . . . . . . 92

7.1 Evolução do motor trifásico (relação peso/potência). . . . . . . 96


10 LISTA DE FIGURAS

7.2 Curva típica de conjugado versus velocidade (ou escorrega-


mento) de máquinas de indução. . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
7.3 Ponto de operação da máquina de indução com carga. . . . . . 99
7.4 Campo girante aplicado no estator (vermelho) e campo girante
induzido no rotor (azul). O ponto • é xo no rotor para indicar
sua posição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
7.5 Circuito equivalente do primário (estator) da máquina de in-
dução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
7.6 Rotor na frequência de escorregamento. . . . . . . . . . . . . . 103
7.7 Circuito equivalente completo da máquina de indução. . . . . 104
7.8 Circuito equivalente alternativo para análise do uxo de po-
tências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
7.9 Circuito equivalente simplicado (desconsiderando as perdas
no núcleo). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
7.10 Equivalente de Thévenin. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
7.11 Circuito equivalente simplicado (desconsiderando as perdas
no núcleo). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108
7.12 Curva de conjugado para a máquina do Exemplo 11. . . . . . 112
7.13 Corrente no rotor para a máquina do Exemplo 11. . . . . . . . 112
7.14 Interconexão entre máquinas de indução e síncrona para o Pro-
blema (3). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

8.1 Regiões de operação da máquina de indução. . . . . . . . . . . 118


8.2 Efeito da variação de R2 nas curvas (a) de conjugado e (b) de
corrente de carga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
8.3 Gaiola (a) simples e (b) dupla. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
8.4 Torque produzido por cada gaiola e o total da máquina de
gaiola dupla. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
8.5 Formas de conjugado produzido por cada classe de máquina. . 128

9.1 Vista axial de uma máquina CC. . . . . . . . . . . . . . . . . 134


Sumário

1 Introdução 15
2 Conceitos Elementares - Parte I 19
2.1 Estrutura Básica das Máquinas . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.2 Máquinas Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.1 Máquinas CA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.2.2 Máquina CC . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.3 Outras características construtivas . . . . . . . . . . . 30

3 Conceitos Elementares - Parte II 33


3.1 FMM de Enrolamentos Concentrados e Distribuídos . . . . . . 33
3.1.1 FMM do enrolamento do rotor . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2 Ondas Girantes em Máquinas CA . . . . . . . . . . . . . . . . 40
3.2.1 Caso monofásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
3.2.2 Caso trifásico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

4 Conceitos Elementares - Parte III 45


4.1 Tensão Induzida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
4.2 Conjugado Eletromagnético . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.2.1 Conjugado em máquinas trifásicas . . . . . . . . . . . . 53
4.2.2 Perdas de eciência em máquinas . . . . . . . . . . . . 56
Problemas propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

5 Máquinas Síncronas - Parte I 59


5.1 Modelagem e Circuito Equivalente . . . . . . . . . . . . . . . . 60

11
12 SUMÁRIO

5.2 Característica a Vazio e de Curto-Circuito . . . . . . . . . . . 66


5.2.1 Curva de saturação a vazio (CAV) . . . . . . . . . . . . 66
5.2.2 Separação das perdas rotacionais . . . . . . . . . . . . 68
5.2.3 Característica de curto-circuito (CCC) . . . . . . . . . 68
Problemas propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

6 Máquinas Síncronas - Parte II 75


6.1 Característica de Ângulo de Carga em Regime . . . . . . . . . 75
6.2 Características de Operação em Regime . . . . . . . . . . . . . 81
6.3 Efeito dos Polos Salientes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
6.3.1 Característica de ângulo de carga . . . . . . . . . . . . 91
Problemas propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92

7 Máquinas de Indução - Parte I 95


7.1 Princípio de Funcionamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
7.1.1 Velocidade síncrona . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
7.1.2 Escorregamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
7.2 Circuito Equivalente do Motor de Indução . . . . . . . . . . . 101
7.2.1 Estator . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101
7.2.2 Rotor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102
7.3 Análise do Circuito Equivalente . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
7.4 Conjugado e Potência pelo Teorema de Thévenin . . . . . . . 107
Problemas propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113

8 Máquinas de Indução - Parte II 117


8.1 Regiões de operação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
8.2 Ensaios a Vazio e Rotor Bloqueado . . . . . . . . . . . . . . . 118
8.3 Efeitos da Resistência do Rotor . . . . . . . . . . . . . . . . . 125
8.3.1 Maneiras de evitar o compromisso . . . . . . . . . . . . 125
8.3.2 Classes de máquinas de indução . . . . . . . . . . . . . 127
Problemas propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

9 Máquinas de Corrente Contínua 133


9.1 Modelo Matemático Dinâmico . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
9.2 Equações da Máquina CC em Regime Permanente . . . . . . . 136
Problemas propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

Referências Bibliográcas 141


SUMÁRIO 13

Solução dos problemas propostos 143


14 SUMÁRIO
Capı́tulo 1
Introdução

Máquinas podem ser denidas como dispositivos que realizam trabalho


ou, em outras palavras, que convertem energia de uma forma para outra.
Diversos são os tipos de máquinas, dependendo do tipo de energia envolvida
na conversão. No caso das máquinas elétricas, estas ainda podem se dividir
em estacionárias (e.g. transformadores), lineares (e.g. trilhos) e rotativas
(e.g. motores e geradores).


térmicas



mecânicas



.

.


.
Máquinas 



 estacionárias

elétricas lineares




rotativas
 

Neste curso serão estudadas as máquinas elétricas rotativas, que realizam


a conversão entre energia elétrica e mecânica girante. Mais especicamente
será adotada a seguinte nomenclatura:

ˆ Motores: convertem energia elétrica em mecânica;

ˆ Geradores: convertem energia mecânica em elétrica.

Neste tipo de máquina, a conversão entre energia elétrica e mecânica


ocorre através de um campo magnético, vide Figura 1.1, através do qual a

15
16 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO

motor

sistema campo sistema


elétrico magnético mecânico

I, V T, ω
gerador

Figura 1.1: Conversão de energia em máquinas elétricas rotativas.

energia ora presente em forma de correntes e tensões elétricas (I , V) é con-


vertida em energia mecânica sob a forma de torque e velocidade (T , ω) e
vice-versa. Por isso, durante este curso estaremos interessados em estabe-
lecer relações matemáticas para tais variáveis de modo a poder analisar a
performance da máquina como um todo.
A classe de máquinas elétricas rotativas é ainda subdividida em uma
grande variedade de tipos de máquinas, como pode ser visto na Figura 1.2.
Cada tipo de máquina possui alguma característica única que a diferencia das
demais, geralmente com relação aos seus aspectos construtivos ou princípio
de operação. Neste curso serão abordadas com detalhes as máquinas de
maior utilização atualmente: as máquinas síncronas, de indução (também
conhecidas como máquinas assíncronas ) e máquinas de corrente contínua
(CC).
O curso é dividido em quatro partes:

1) Conceitos elementares de máquinas: apresenta uma visão geral sobre as


características construtivas de cada máquina abordada e características
de funcionamento comuns a todas;

2) Máquinas síncronas: trata das características de funcionamento e mo-


delagem especícas das máquinas síncronas;

3) Máquinas de indução: contém as características de funcionamento e


modelagem especícas das máquinas de indução;

4) Máquinas de corrente contínua: trata da modelagem e identicação


17

paramétrica especícas das máquinas CC.

split-phase
capac. de partida
gaiola de capac. perman.
esquilo
polos sombreados
indução capac. 2 valores
rotor bobinado repulsão
monofásica rotor maciço histerese
relutância
síncrona
imãs permanentes
indução
CA linear imãs permanentes
de gaiola
indução rotor bobinado

polifásica
imãs permanentes
Universal relutância
síncrona polos lisos
polos salientes
excit. série
excit. paralela
CC excit. mista
excit. independ.
imãs permanentes

Figura 1.2: Classicação das máquinas elétricas rotativas.


18 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
Capı́tulo 2
Conceitos Elementares - Parte I

Máquinas a serem estudadas:

ˆ Máquina síncrona (CA);

ˆ Máquina assíncrona ou de indução (CA);

ˆ Máquina de corrente contínua (CC).

A notação base adotada neste documento pode ser vista na Figura 2.1:
a palavra condutor refere-se a um material condutor qualquer não necessa-
riamente disposto em um formato especíco; espira refere-se a um condutor
enrolado com apenas uma volta; bobina refere-se a um grupo de espiras;
enrolamento refere-se a um grupo de bobinas; e fases refere-se a diferentes
enrolamentos não conectados entre si.

condutor espira bobina enrolamento

Figura 2.1: Nomenclatura base.

19
20 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

2.1 Estrutura Básica das Máquinas

Toda máquina rotativa possui duas partes principais, como pode ser visto
na Figura 2.2:

1) Estator: é a parte estacionária e geralmente ca na parte mais externa;

2) Rotor: é a parte móvel, geralmente acoplada ao eixo da máquina.

Estator
Eixo

Entreferro
Rotor

Figura 2.2: Partes fundamentais de uma máquina usual (vista em corte trans-
versal ao eixo).

Tanto no estator quanto no rotor deve haver uma maneira de se produ-


zir e/ou induzir campo magnético. São utilizadas duas formas principais,
dependendo do tipo de máquina:

1) Imãs permanentes: apenas produzem um campo magnético constante,


como na Figura 2.3(a);

2) Enrolamentos: condutores que produzem campo magnético proporci-


onal à corrente que ui por estes, como na Figura 2.3(b), ou onde é
induzida corrente quando submetido a um campo variante.

Os enrolamentos, por sua vez, são divididos em duas classes principais:


2.1. ESTRUTURA BÁSICA DAS MÁQUINAS 21

N N

φ φ(i)
S S
(a) (b)

Figura 2.3: Campo magnético produzido por (a) imãs permanentes e (b)
enrolamento.

1) Enrolamento de armadura: grupo de bobinas que conduz corrente al-


ternada (CA). É por onde ui maior potência elétrica e portanto tem
os condutores maior dimensionados (não contém imãs).

a) Nas máquinas síncronas a armadura ca no estator;

b) Nas máquinas de corrente contínua a armadura ca no rotor (pro-


blema 1 da máquina CC).

2) Enrolamento de campo: grupo de bobinas que conduz corrente contí-


nua (CC) para produzir um uxo constante. Pode ser menor dimen-
sionado em geral. Este é o enrolamento que pode ser substituído por
imãs permanentes.

a) Nas máquinas síncronas o campo ca no rotor;

b) Nas máquinas de corrente contínua o campo ca no estator.

E quanto às máquinas de indução?


Devido à operação diferenciada da máquina de indução, onde um enro-
lamento produz uxo e causa o surgimento de corrente no outro (induzindo
também o surgimento de uxo produzido por este secundário), não se usa
a terminologia de armadura/campo, mas sim de enrolamento primário (no
22 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

estator) e secundário (no rotor). De certo modo, a máquina de indução pode


ser vista como um transformador cujo secundário gira.
A Figura 2.4 resume a localização dos tipos de enrolamentos para cada
1
máquina e também o tipo de corrente que esta conduz.

Conduz CC
campo armadura secundário Conduz CA

armadura campo primário


(a) síncrona (b) CC (c) de indução

Figura 2.4: Localização e tipo de cada enrolamento.

(a) polos salientes (b) polos lisos

Figura 2.5: Tipos de polos do rotor.

Quanto aos tipos de rotor temos os dois principais tipos de construção,


apresentados na Figura 2.5:

1 Lembre-se
que corrente contínua (CC) não é o mesmo que corrente constante. Uma
corrente variável, mas que não muda de direção (sinal) é CC.
2.2. MÁQUINAS ELEMENTARES 23

1) Polos salientes: máquinas com polos salientes são usadas para baixas
velocidades e máquinas de grande diâmetro (e.g. hidrelétricas), por
dois motivos principais:

a) O formato irregular causa maior atrito com o ar, aumentando as


perdas de energia e o ruído sonoro;

b) É mais difícil contruí-las de modo a suportar o stress de altas


velocidades;

c) Pode gerar uma potência um pouco maior.

2) Polos lisos: usados em velocidades mais altas e eixo de menor diâmetro


(e.g. turbinas a gás).

a) Robustez mecânica e pouco ruído;

b) Distribuição do uxo mais próxima de senoidal;

c) Porém, mais difícil de realizar bobinagem em máquinas muito


grandes.

2.2 Máquinas Elementares

Máquina elementar é o nome dado à conguração mais simples possível


de uma máquina elétrica. Muitas vezes podemos desenvolver equações que
representam o comportamento de uma máquina elementar e adaptá-las facil-
mente para máquinas mais complexas. Em geral, máquinas elementares não
são encontradas na prática.

2.2.1 Máquinas CA
Nas guras a seguir são apresentadas uma máquina síncrona elementar de
polos lisos (Figura 2.6) e também máquinas com complexidade aumentada
em alguma de suas características (Figuras 2.7-2.10). Junto de cada máquina
apresenta-se a distribuição aproximada de uxo (B ) no entreferro ao redor do
eixo, devido à alimentação do enrolamento de campo com corrente contínua,
e a respectiva tensão induzida nos terminais do enrolamento de armadura
(ea ).
24 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

θa

• Polos lisos

• Dois polos

• Monofásica

B [T] ea [V]

0 π 2π 0 60/n
θa [rad] 60 t [s]
2n

Figura 2.6: Máquina síncrona elementar de polos lisos. As setas representam


os eixos magnéticos da armadura (em vermelho) e do campo (em azul).

Para exemplicar o funcionamento da máquina, assuma que está sendo


operada como gerador, ou seja, uma força externa é aplicada ao eixo. Supo-
nha também que esta força externa mantém o eixo girando com uma veloci-
dade constante (n, em rpm).

Embora a densidade de uxo apresentada na Figura 2.6 está com sua


distribuição como uma onda quadrada com relação a θa , o uxo concatenado
pela fase do estator (λ) varia cossenoidalmente com relação ao tempo t a
medida que o eixo gira. Assim pela lei de Faraday, temos ea = dλ/dt senoidal.

A Figura 2.7 apresenta a máquina síncrona elementar com o rotor subs-


tituído por um de polos salientes. Note que se as faces dos polos não cobrem
totalmente o rotor, a densidade de uxo B que corta as espiras do enrola-
mento de armadura apresenta partes constantes, o que leva a uma deformação
na tensão induzida ea .
2.2. MÁQUINAS ELEMENTARES 25

θa

• Polos salientes
• Dois polos

• Monofásica

B [T] ea [V]

0 π 2π 0 60/n
θa [rad] 60 t [s]
2n

Figura 2.7: Máquina síncrona elementar de polos salientes. As setas repre-


sentam os eixos magnéticos da armadura (em vermelho) e do campo (em
azul).

A extensão para uma máquina de quatro polos é mostrada na Figura 2.8.


Perceba que a cada meia volta do rotor, a máquina volta a estar idêntica à
sua conguração inicial. Em outras palavras, com meia volta mecânica tem-
se uma volta elétrica completa. De maneira mais genérica, considerando um
número qualquer de polos temos a relação entre o ângulo elétrico (θe [rad]) e
o ângulo mecânico (θa [rad]) dada por
 
polos
θe = θa (2.1)
2
e de maneira similar, temos a relação entre velocidade (frequência) angular
elétrica (ωe [rad/s]) e a velocidade angular mecânica (ωm [rad/s]) dada por
 
polos
ωe = ωm . (2.2)
2
26 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

θa

• Polos lisos

• Quatro polos
• Monofásica

B [T] ciclo elétrico ea [V]

0 π 2π 0 60/n
θa [rad] 60 t [s]
2n

ciclo mecânico

Figura 2.8: Máquina síncrona de quatro polos.

Como usualmente expressamos as frequências elétricas (f ) em Hz e as


velocidades mecânicas (n) em rpm, podemos incluir a conversão de unidades
na relação (2.2), obtendo
 
120
n= f. (2.3)
polos

A Equação (2.3) implica que se a máquina tem mais polos, ela pode girar
mais devagar para produzir uma mesma frequência elétrica.

Exemplo 1 Na usina hidrelétrica de Itaipu, tem-se 20 máquinas síncronas


ao todo (cujo rotor está exemplicado na Figura 2.9). Entretanto, as 10
máquinas do lado paraguaio geram tensão em 50Hz e tem 66 polos, enquanto
as do lado brasileiro geram 60Hz com 78 polos. Com que velocidade (em
rpm) giram as máquinas de cada país?
2.2. MÁQUINAS ELEMENTARES 27

Figura 2.9: Instalação do rotor de polos salientes da usina hidrelétrica Itaipu.


Fonte: [3].

Solução: Basta utilizar a fórmula da Equação (2.3), resultando em

 
120
nP Y = 50 = 90, 9 rpm, (2.4)
66
 
120
nBR = 60 = 92, 3 rpm. (2.5)
78


Finalmente temos o caso da máquina síncrona trifásica, apresentado na


Figura 2.10. Note que a diferença principal com o caso elementar é a presença

de enrolamentos independentes defasados espacialmente de 120 elétricos en-
tre si. De maneira genérica para uma máquina polifásica qualquer com um
28 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

número de fases igual a nf ases , tem-se uma defasagem elétrica de 360◦ /nf ases
entre fases adjacentes.
Observe também na Figura 2.10 que as tensões geradas em cada fase

estão defasadas temporalmente de 120 elétricos entre si. Como será visto
mais adiante, esta característica de defasagem tanto espacial quanto temporal
simultaneamente é fundamental para o funcionamento da máquina polifásica
como motor.

θa

• Polos lisos

• Dois polos

• Trifásica

B [T] [V]

0 π 2π 0 60/n
θa [rad] t [s]

ea eb ec

Figura 2.10: Máquina síncrona trifásica. As setas representam os eixos mag-


néticos de cada fase da armadura (em vermelho, verde e amarelo) e do campo
(em azul).
2.2. MÁQUINAS ELEMENTARES 29

2.2.2 Máquina CC
Ao contrário da máquina síncrona, a geração do campo é xada na car-
caça (estator). Para que a máquina gire sem parar (como motor) usando
corrente contínua é necessário o uso de um comutador. O comutador é ape-
nas uma estratégia de conexão entre o enrolamento do rotor e sua fonte
de alimentação de modo a inverter o sentido da corrente no rotor automa-
ticamente durante a rotação. Além disso, quando a máquina opera como
gerador, a tensão induzida internamente na armadura (rotor) é alternada,
mas o mesmo comutador faz com que a polaridade disponível externamente
seja contínua (funciona como um reticador).

θa
• Polos salientes

• Dois polos

• Monofásica ( CC)

B [T] ea [V] (interna)

0 π 2π 0 60/n
θa [rad] 60 t [s]
2n

Figura 2.11: Máquina CC elementar de polos salientes. As setas representam


os eixos magnéticos da armadura (em vermelho) e do campo (em azul).

Note na Figura 2.11 que a tensão induzida (internamente) na armadura


da máquina CC elementar é a mesma induzida na armadura da máquina
síncrona elementar, pois ambas têm o mesmo movimento relativo entre ar-
30 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

madura e campo e portanto concatenam o mesmo uxo. Mais detalhes sobre


a máquina CC são apresentados no Capítulo 9.

2.2.3 Outras características construtivas


A seguir algumas características que também aumentam o grau de com-
plexidade de uma máquina real com relação à máquina elementar.

1) Distribuição do enrolamento: o enrolamento pode ser concentrado ou


distribuído, como na Figura 2.12. Com o enrolamento distribuído
obtém-se uma distribuição mais senoidal da densidade de uxo ao longo
do entreferro. Também com este intuito, a distribuição pode ser feita
com um número diferente de bobinas em cada ranhura (mais bobinas
no centro da fase geram uma distribuição mais senoidal da densidade
de uxo).

(a) concentrado (b) distribuído

Figura 2.12: Tipos de distribuição dos enrolamentos.

2) Nível de camada: pode ser camada simples ou dupla, de acordo com


a quantidade de diferentes bobinas alocadas na mesma ranhura. Com
a camada dupla, mostrada na Figura 2.13, tem-se exibilidade para
montagem e possibilidade de fazer passo encurtado (vide próximo item).

3) Tamanho de passo: o passo pode ser pleno, quando as bobinas têm seus

lados colocados em ranhuras dispostas a 180 elétricos uma da outra,
2.2. MÁQUINAS ELEMENTARES 31

(a) simples (b) dupla

Figura 2.13: Tipos de camada.

ou encurtado, quando os lados das bobinas estão em ranhuras mais pró-


ximas entre si, como ilustrado na Figura 2.14. Com o encurtamento do
passo, também pode-se obter uma distribuição mais senoidal da densi-
dade de uxo. No caso de máquinas polifásicas, é possível realizar passo
encurtado sobrepondo diferentes fases utilizando-se camada dupla. A
camada dupla também é necessária para manter simetria espacial do
enrolamento. O tamanho do encurtamento do passo pode ser referido
como sendo de x graus ou de n ranhuras, com x ou n substituído por
seu valor correspondente.

Exercício 1 Preencha as características pedidas da máquina na Figura 2.15.



32 CAPÍTULO 2. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE I

(a) pleno (b) encurtado

Figura 2.14: Tipos de passo.

• Tipo:


• N de ranhuras:


• N de polos:

• Tipo de polos:

• Distribuição:

• Camada:

• Passo:


• N de fases:

Figura 2.15: Corte transversal da máquina para o Exercício 1.


Capı́tulo 3
Conceitos Elementares - Parte II

3.1 FMM de Enrolamentos Concentrados e Dis-


tribuídos

Visando obter mais adiante uma equação para a tensão induzida em um


gerador ou para o torque eletromagnético produzido por um motor, um dos
caminhos é conhecer a Força MagnetoMotriz (FMM) presente no entreferro
da máquina. Lembrando que a FMM em um circuito magnético é análoga
à Força EletroMotriz (FEM) em um circuito elétrico, como mostrado na
Figura 3.1.

+
φ +
i
FMM R FEM R
- -

Figura 3.1: Analogia entre FMM em um circuito magnético e FEM em um


circuito elétrico.

Primeiramente, analisaremos o caso da máquina elementar (enrolamento


concentrado, dois polos, passo pleno, monofásica) da Figura 3.2. Sabe-se
que a FMM (F ) produzida por uma bobina de N espiras conduzindo uma

33
34 CAPÍTULO 3. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE II

eixo magnético
da fase a

θa

Figura 3.2: Distribuição da FMM em uma máquina elementar.

corrente i tem amplitude dada por

F = N · i. (3.1)

Portanto, observando um caminho de uxo da Figura 3.2 podemos ver que


a FMM (3.1) se divide entre os dois trechos em que a linha de uxo corta
o entreferro. Note que este enrolamento pode ser apresentado de maneira
planicada como na Figura 3.3, onde também é mostrada a distribuição da
FMM ao longo do entreferro.
Decompondo a onda quadrada em série, temos

F = F1 + F3 + F5 + F7 + · · · (harmônicas ímpares) (3.2)

onde apenas as harmônicas de ordem ímpar compõem a FMM pois as de


ordem par se cancelam em ondas alternadas simétricas. Lembrando que
cada harmônica possui uma amplitude e frequência diferente das demais, a
FMM decomposta apresenta elevado grau de complexidade para tratamento
matemático.
Como já mencionado anteriormente, uma máquina com maior grau de
complexidade em seus aspectos construtivos implica em uma distribuição
mais próxima de senoidal da densidade de uxo e, consequentemente, da
FMM. Além de uma distribuição mais senoidal da FMM resultar em uma
máquina que opere mais suavemente e gere tensões menos ruidosas, isso
a
torna possível assumir que a FMM pode ser aproximada pela 1 harmônica
(fundamental), isto é,

4 Ni
F ≈ F1 = cos (θa ). (3.3)
π 2
3.1. FMM DE ENROLAMENTOS CONCENTRADOS E DISTRIBUÍDOS35

F
4 N ·i
π 2
N ·i
2

−π 0 π 2π
θa [rad]

− N2·i

Figura 3.3: Distribuição planicada da FMM em uma máquina elementar


(em azul) e sua respectiva harmônica fundamental (em verde tracejado).
36 CAPÍTULO 3. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE II

+a

eixo magnético
da fase a

θa

−a

Figura 3.4: Máquina com enrolamento distribuído, camada dupla e passo


pleno para análise da FMM.

A harmônica fundamental para o caso da máquina elementar também é mos-


trada na Figura 3.3. Note que para a máquina elementar, a harmônica fun-
1
damental não é uma boa aproximação da FMM real (quadrada).
Considere agora o caso de uma máquina mais complexa, como a ilustrada
na Figura 3.4. Assuma que todas as 8 bobinas da máquina da Figura 3.4
tenham N espiras.
Na Figura 3.3 pode ser vista a distribuição planicada do enrolamento e
a sua respectiva FMM total. Note que a FMM total é simplesmente a soma
das FMMs de cada bobina.
Além disso, é possível vericar que apenas distribuindo melhor o enrola-
mento, já obtém-se uma FMM mais próxima da senoidal. Perceba que há
uma longa parte plana próxima aos picos na FMM real devido ao grande es-
paço entre os lados positivo e negativo das bobinas da fase. Esse efeito pode
ser mitigado com o encurtamento de passo. Finalmente, com um número
maior de espiras nas bobinas que cam mais no centro da distribuição, do
que o número de espiras nas bobinas mais externas, também obtém-se uma
FMM mais senoidal.
De maneira genérica, para a fase a de uma máquina polifásica, de múlti-

1Oquão próximo um sinal está de sua componente fundamental pode ser mensurado
calculando-se sua Taxa de Distorção Harmônica (TDH). Quanto menor a TDH, melhor.
Para o caso de uma onda quadrada, tem-se uma TDH de 48.4%.
3.1. FMM DE ENROLAMENTOS CONCENTRADOS E DISTRIBUÍDOS37

4N i
2N i
−π 0 π
θa [rad]
−2N i
−4N i

Figura 3.5: Distribuição planicada da FMM da máquina da Figura 3.4 (em


azul) e sua respectiva harmônica fundamental (em verde tracejado).

plos polos, com Nf ase espiras ao todo na fase, percorrida por uma corrente
ia , tem-se    
4 ka Nf ase polos
F ≈ F1 = · ia · cos · θa , (3.4)
π polos 2
onde

ˆ ka é o fator de enrolamento do estator da máquina;

ˆ Nf ase é o número total de espiras da fase.

O fator de enrolamento nada mais é do que uma constante de propor-


cionalidade que depende da conguração de construção da máquina (distri-
buição dos enrolamentos e encurtamento do passo). Quanto maior for este
fator, maior a contribuição da harmônica fundamental, com relação às demais
harmônicas (portanto, melhor). Seu valor máximo é 1.
Graças ao fator de enrolamento, podemos simplicar a análise de enrola-
mentos distribuídos e/ou encurtados, como se fosse um enrolamento concen-
trado de passo pleno de ka Nf ase espiras.

Exemplo 2 ([1, p.190]) O enrolamento da fase a da armadura de dois po-


los da Figura 3.4 consiste em 8 bobinas, de passo pleno e N espiras ligadas em
série com cada ranhura contendo duas bobinas. Há um total de 24 ranhuras e
38 CAPÍTULO 3. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE II

assim cada ranhura está separada por 360◦ /24 = 15◦ . Supondo que o ângulo
θa seja medido a partir do eixo magnético da fase a de modo que as quatro ra-
◦ ◦ ◦ ◦
nhuras do lado  +a estejam em θa = 67, 5 ; 82, 5 ; 97, 5 ; 112, 5 . Os lados
◦ ◦ ◦ ◦
opostos (−a) estão em −112, 5 ; −97, 5 ; −82, 5 ; −67, 5 , respectivamente.
Assuma que este enrolamento está conduzindo uma corrente ia .

a) Escreva uma expressão para a FMM espacial fundamental produzida


◦ ◦
pelas duas bobinas cujos lados estão em θa = 112, 5 e −67, 5 .

b) Repita o item anterior para as que estão em 67, 5◦ e −112, 5◦ .

c) Escreva uma expressão para a FMM fundamental da fase completa.

d) Determine o fator de enrolamento ka para este enrolamento distribuído.

Solução:

a) Primeiramente, o eixo magnético da bobina está em

112, 5◦ − 67, 5◦
= 22, 5◦ (3.5)
2
Portanto, por comparação com a Equação (3.3), notando que o valor

de pico da FMM desta bobina ocorre em 22, 5 e que a ranhura contém
2N espiras, temos
 
4 2N
F22,5◦ = ia cos (θa − 22, 5◦ ). (3.6)
π 2

b) Neste caso, apenas a localização do eixo magnético da bobina é alterada,


então temos
 
4 2N
F−22,5◦ = ia cos (θa + 22, 5◦ ). (3.7)
π 2

c) A FMM fundamental da fase completa (Fa ) é a soma das FMMs indi-


viduais de todas as bobinas, ou seja,

Fa = F22,5◦ + F7,5◦ + F−7,5◦ + F−22,5◦ (3.8)


3.1. FMM DE ENROLAMENTOS CONCENTRADOS E DISTRIBUÍDOS39

 
4 2N
Fa = ia [cos (θa − 22, 5◦ ) + cos (θa − 7, 5◦ )
π 2
+ cos (θa + 7, 5◦ ) + cos (θa + 22, 5◦ )] . (3.9)

Sabendo que

cos (a ± b) = cos (a) cos (b) ∓ sen(a) sen(b), (3.10)

podemos reescrever (3.9) como


 
4 2N
Fa = ia [2 cos (22, 5◦ ) + 2 cos (7, 5◦ )] cos (θa ) (3.11)
π 2
e nalmente  
4 7, 66N
Fa = ia cos (θa ). (3.12)
π 2
d) Por comparação entre (3.12) e a fórmula genérica da Equação (3.4),
temos
ka Nf ase = 7, 66N (3.13)

e lembrando que para esta máquina Nf ase = 8N ,


7, 66N
ka = = 0.958 (3.14)
8N

+a

eixo magnético
da fase a

θa

−a

Figura 3.6: Enrolamento distribuído para o Exercício 2. As bobinas em azul


claro têm 6 espiras e as bobinas em azul escuro têm 8 espiras.
40 CAPÍTULO 3. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE II

Exercício 2 (Adaptado de [1, p.191]) Calcule o fator de enrolamento


para a mesma conguração do Exemplo 2 se o número de espiras nas quatro
bobinas dos dois pares mais externos de ranhuras for igual a 6 e dos dois
pares mais internos for 8, como mostrado na Figura 3.6. 

3.1.1 FMM do enrolamento do rotor

eixo magnético
do rotor

θr

Figura 3.7: Rotor com enrolamento distribuído.

De maneira análoga ao caso anterior, para o enrolamento do rotor apre-


sentado na Figura 3.7 temos sua FMM (Fr ) dada por

   
4 kr Nr polos
Fr ≈ · Ir · cos · θr , (3.15)
π polos 2
onde

ˆ kr é o fator de enrolamento do rotor;

ˆ Nr é o número total de espiras do rotor;

ˆ Ir é a corrente no rotor.

3.2 Ondas Girantes em Máquinas CA

Sabendo que o motor elétrico tem seu princípio de funcionamento base-


ado na atração entre dois campos magnéticos, esta seção tem como objetivo
3.2. ONDAS GIRANTES EM MÁQUINAS CA 41

mostrar como é feita a criação de um campo magnético girante e de ampli-


tude constante. O campo girante tem como objetivo o movimento contínuo
do rotor e a amplitude constante garante um giro suave sem oscilações na
aceleração angular. A análise a seguir é realizada através do equacionamento
da FMM resultante na máquina e será suposto a partir deste ponto que a
FMM é gerada por enrolamentos bem distribuídos, podendo ser aproximada
pela componente fundamental (distribuição senoidal da FMM ao longo do
entreferro).

3.2.1 Caso monofásico


Como visto anteriormente, para o caso monofásico temos a FMM pro-
duzida pela fase (armadura) dada pela Equação (3.4). Considere agora as
situações a seguir.

ˆ Se ia = Im (constante), então a FMM é imóvel ;

ˆ Se ia = Im cos (ωe t), então a FMM se torna pulsante.

   
4 ka Nf ase polos
Fa = Im · cos (ωe t) · cos θa . (3.16)
π polos | {z } 2
varia com
| {z } | {z }
Fpico varia com a
o instante
posição espacial
temporal
do eixo mag.

Note que na primeira situação, se há um campo xo produzido no enro-


lamento de campo, o rotor se alinha com o campo da armadura e a máquina
para.
Na segunda situação, a FMM é pulsante mas ainda não girante, ou seja,
a FMM muda de sentido, mas apenas em uma única direção (o pico da FMM
ocorre sempre no mesmo valor de θa ). Caso os campos estejam inicialmente
alinhados, o rotor pode não girar (especialmente pela presença de atrito).
Caso o rotor não esteja alinhado, pode girar (e continuar o giro por inércia)
desde que o sentido seja invertido antes do próximo alinhamento. Entretanto,
o rotor estará sujeito à forças não constantes, oscilação de aceleração e de
velocidade de rotação e a direção da rotação é determinada pela condição
inicial.
42 CAPÍTULO 3. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE II

Todas as características anteriores são os principais problemas das má-


quinas monofásicas. Por isso, normalmente estas máquinas necessitam de
alguma forma auxiliar de partida e de criação de um campo girante.

3.2.2 Caso trifásico


Para o caso de um enrolamento trifásico, considere as situações a seguir.

ˆ Se θa = θb = θc (não há defasagem espacial entre as fases) e/ou ia =


ib = ic (não há defasagem temporal entre as correntes), então a FMM
resultante é nula ;

ˆ Se as defasagens espacial e temporal são distribuídas simetricamente,


ou seja
ia = Im cos (ωe t)
θb = θa − 120◦
, ib = Im cos (ωe t − 120◦ ) (3.17)
θc = θa + 120◦
ic = Im cos (ωe t + 120◦ )
então
 
polos
Fa = Fpico cos (ωe t) cos θa , (3.18)
2
 
◦ polos ◦
Fb = Fpico cos (ωe t − 120 ) cos θa − 120 , (3.19)
2
 
◦ polos ◦
Fc = Fpico cos (ωe t + 120 ) cos θa + 120 . (3.20)
2

Lembrando da relação (3.10), a FMM resultante pode ser reescrita


como
 
3 polos
Fresultante = Fa + Fb + Fc = Fpico cos θa − ωe t . (3.21)
2 2

O campo girante gerado por uma máquina trifásica alimentada com cor-
2
rentes trifásicas pode ser visto na Figura 3.8.

2A
Figura 3.8 é uma animação do tipo GIF. Pode requerer visualização com o software
Adobe Acrobat atualizado.
3.2. ONDAS GIRANTES EM MÁQUINAS CA 43

Figura 3.8: Onda girante em máquinas CA trifásicas. A direção de pico da


FMM pulsante de cada fase e a resultante trifásica girante são mostradas à
esquerda e as respectivas correntes aplicadas à direita.
44 CAPÍTULO 3. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE II

3

Note que o valor de pico resultante F
2 pico
aparece nos valores de θa tais
polos

que cos
2
θa − ωe t é unitário, ou seja
 
2
θa = ωe t. (3.22)
polos

Isso implica que a direção do pico da FMM resultante varia com o tempo (é
girante) e tem velocidade angular dada por

 
2
ωs = ωe . (3.23)
polos

onde

ˆ ωe é a frequência angular elétrica aplicada;

ˆ ωs é a velocidade angular espacial do pico da FMM resultante ao longo


do entreferro.

Como ωs está sincronizada com ωe através da Equação (3.23), esta é conhe-


cida como velocidade angular síncrona (por isso o subíndice s).
Finalmente, a Equação (3.23) pode ser reescrita como

 
120
ns = fe (3.24)
polos

onde ns é a velocidade síncrona (em rpm) e fe é a frequência elétrica aplicada


(em Hz).
Capı́tulo 4
Conceitos Elementares - Parte III

4.1 Tensão Induzida

Nesta seção estamos interessados em deduzir uma equação para a tensão


induzida no enrolamento de uma fase da armadura devido ao movimento de
um campo magnético no enrolamento de campo, vide Figura 4.1.

eixo magnético
do enr. de campo

θr = ωm t

eixo magnético
da fase a

Figura 4.1: Máquina elementar para dedução da tensão induzida.

De acordo com a Equação (3.15), o valor de pico da FMM produzida no

45
46 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

enrolamento de campo é dado por

 
4 kf Nf
Ff(pico) = If (4.1)
π polos

onde

ˆ kf é o fator de enrolamento do campo da máquina;

ˆ Nf é o número total de espiras do enrolamento de campo;

ˆ If é a corrente de campo (CC).

A densidade de uxo (B) em uma máquina de múltiplos polos e entreferro


pequeno e uniforme é dada por

µ0
B= · Ff (4.2)
g

então
 
4 µ0 kf Nf
Bpico = · · If (4.3)
π g polos
onde

ˆ µ0 é a permeabilidade magnética do ar (4π × 10−7 H/m);

ˆ g é o comprimento do entreferro.

Assumindo uma distribuição da densidade de uxo senoidal ao longo do


entreferro:
 
polos
B = Bpico · cos θr . (4.4)
2
Sabendo que a integral da densidade de uxo ao longo da área do polo é
o próprio uxo por polo (Φp ) [W b]

Z
Φp = B · dA (4.5)
polo
4.1. TENSÃO INDUZIDA 47

l dC
π
polos
dA
r

−π
polos
Figura 4.2: Representação de um polo de um rotor elementar (metade do
cilindro no caso de dois polos).

Analisando o formato do rotor na Figura 4.2, onde está sendo assumido


θr = 0 no centro do polo, temos:

dA = l · dC = l · r · dθr (4.6)

Z π
polos
Φp = B · r · l · dθr (4.7)
−π
polos

Z π  
polos polos
Φp = Bpico · r · l cos θr dθr (4.8)
−π
polos
2
    π
 polos
2 polos
Φp = Bpico · r · l · · sen · θr (4.9)
polos 2 −π
polos
 
2
Φp = · 2 · Bpico · r · l (4.10)
polos
onde Φp é o uxo produzido por polo no enrolamento de campo. Mas para
a obtenção da expressão da tensão induzida em uma fase do enrolamento
de armadura é necessário conhecer o uxo concatenado pela fase (λa uxo
concatenado pela fase a, por exemplo).
A medida que o rotor gira (devido a uma força externa aplicada) com uma
velocidade angular mecânica ω, o uxo concatenado do rotor pelo estator
varia senoidalmente.
48 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

λpico
a = ka · Na · Φp (4.11)

 
polos
λa = ka · Na · Φp · cos ωm t (4.12)
2
O produto ka · Na , onde Na é o número total de espiras da fase a, reduz a
análise de um enrolamento distribuído para a de um enrolamento concentrado
de passo pleno. Pela lei de Faraday, a tensão induzida na fase a devido ao
campo f é:

  
dλa d polos
eaf = = ka · Na · Φp · cos ωm t (4.13)
dt dt 2
| {z }
ωe

eaf = −ωe · ka · Na · Φp · sen(ωe t) (4.14)

A tensão induzida, apresentada na Equação (4.14), também é conhecida


como Força Contra-Eletromotriz (FCEM).

Exemplo 3 ([1, p.209]) Um gerador de 60 Hz síncrono trifásico de dois


polos ligados em Y e rotor cilíndrico tem um enrolamento de campo com
Nf espiras distribuídas e um fator de enrolamento kf . O enrolamento de
armadura tem Na espiras por fase e fator de enrolamento ka . O comprimento
do entreferro é g, e o raio médio do entreferro é r. O comprimento ativo do
enrolamento de armadura é l. As dimensões e os dados do enrolamento são:

Nf = 68 espiras em série kf = 0, 945


Na = 18 espiras em série/fase ka = 0, 933
r = 0, 53 m g = 4, 5 cm

l = 3, 8 m

O rotor é acionado por uma turbina a vapor a uma velocidade de 3600 rpm.
Para uma corrente contínua de campo de If = 720A, calcule:

a) A FMM fundamental de pico Ff(pico) produzida pelo enrolamento de


campo;

b) A densidade de uxo fundamental de pico Bpico no entreferro;


4.1. TENSÃO INDUZIDA 49

c) O uxo fundamental por polo Φp ;

d) O valor ecaz da tensão gerada em circuito aberto na armadura.

Solução:

a)
 
4 kf · Nf
Ff(pico) = · · If (4.15)
π polos

 
4 0, 945 · 68
Ff(pico) = · · 720 (4.16)
π 2

Ff(pico) = 2, 94 × 104 A · espiras/polos (4.17)

b)
 
µ0 Ff(pico) 4π · 10−7 · 2, 94 · 104
Bpico = = = 0, 821T (4.18)
g 4, 5 · 10−2

Devido ao efeito das ranhuras que contêm o enrolamento de armadura,


a maioria do uxo de entreferro está connada aos dentes do estator. A
densidade de uxo dos dentes no centro de um polo é mais elevada que
o valor calculado na parte b, provavelmente cerca de duas vezes mais.
Em um projeto detalhado, essa densidade de uxo deve ser calculada
para se determinar se os dentes estão excessivamente saturados.

c)
Φp = 2 · Bpico · l · r (4.19)

Φp = 2 · 0, 821 · 3, 8 · 0, 53 (4.20)

Φp = 3, 31 W b (4.21)
50 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

d) A partir da Equação (4.14) temos que o valor de pico de eaf é dado


por ωe · ka · Na · Φp . Como é um sinal senoidal, seu valor ecaz é então

dado pelo valor máximo dividido por 2, ou seja:

1
Eaf(f ase) = √ (2πf ) · ka · Na · Φp (4.22)
2

1
Eaf(f ase) = √ 2π · 60 · 0, 933 · 18 · 3, 31 (4.23)
2

Eaf(f ase) = 14, 8 kV (valor ecaz) (4.24)

A tensão de linha é, portanto:


Eaf(linha) = 3 · 14, 8 kV (4.25)

Eaf(linha) = 25, 7 kV (valor ecaz) (4.26)

4.2 Conjugado Eletromagnético

Conjugado (torque) eletromagnético é a força angular que busca fazer dois


campos magnéticos se alinharem. Pode ser obtido através de duas análises:

ˆ do ponto de vista do circuito acoplado;

ˆ do ponto de vista do campo magnético.

Considerando apenas a primeira e supondo que os enrolamentos sejam


substituídos por indutores. O uxo concatenado por cada indutor depende
de sua indutância própria e da mútua (gerada pelo outro indutor).
4.2. CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO 51

Vf
Rf ia
+

Lf if La Ra

Va

-
Figura 4.3: Representação alternativa simplicada.

A indutância mútua tem seu máximo quando os indutores estão alinhados


π
(θe = 0 ou θe = 2π ), é zero quando θe = ± e está com máximo negativo
2
quando θe = ±π , ou seja:

Ler (θe ) = Ler · cos(θe ) (4.27)

Onde Ler é o valor de pico (constante) da indutância mútua Ler (θe ) e esta
depende de θe pois a cada ciclo elétrico o circuito volta a se repetir. Além
disso,

Ler (θe ) = Lre (θe ) (4.28)

É suposto que tem-se:

ˆ Ondas senoidais da FMM;

ˆ Entreferro pequeno e uniforme (polos lisos com enrolamento bem dis-


tribuído e efeito de espraiamento desprezível).

Lembrando que
 
polos
θe = θm ,
2
o uxo concatenado λ e a corrente i que percorre uma bobina (indutor) são
relacionados pelo valor da indutância, segundo

λ = L(θ) · i (4.29)
52 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

Tal relação é válida se as suposições anteriores são satisfeitas. Para a


máquina elementar, os uxos concatenados no estator e no rotor são:

λe = Lee · ie + Ler (θe ) · ir (4.30)

λr = Lrr · ir + Lre (θe ) · ie (4.31)

Reescrevendo:

λe = Lee · ie + Ler · ir · cos(θe ) (4.32)

λr = Lrr · ir + Ler · ie · cos(θe ) (4.33)

Pela Lei de Faraday, tem-se:

dλe
ve = Re · ie + (4.34)
dt

dλr
vr = Rr · ir + (4.35)
dt
Observa-se que quando o rotor está girando, θe varia no tempo com velo-
cidade we = dθe/dt, então:

die dir dθe


ve = Re · ie + Lee · + Ler · cos(θe ) · − Ler · ir · sen(θe ) · (4.36)
dt dt dt

dir die dθe


vr = Rr · ir + Lrr · + Ler · cos(θe ) · − Ler · ie · sen(θe ) · (4.37)
dt dt dt

dθe polos
= we = wm (4.38)
dt 2
O conjugado pode ser obtido derivando-se a energia (ou a co-energia)
armazenada no campo magnético com relação ao ângulo mecânico wm . Lem-
brando que em um sistema magnético linear, a energia e a co-energia são
numericamente iguais.
4.2. CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO 53

1 λ2 1
· = · Li2 (4.39)
|2 {zL} 2
| {z }
0
Wcampo Wcampo
(energia) (co-energia)

De maneira genérica, para um sistema com dois enrolamentos, ou seja,


uma máquina monofásica (um enrolamento no estator e um no rotor), a
co-energia é:

0 1 1
Wcampo = · L11 (θ) · i21 + · L22 (θ) · i22 + L12 (θ) · i2 · i1 (4.40)
2 2
Por analogia, tem-se para a máquina monofásica:

0 1 1
Wcampo = · Lee · i2e + · Lrr · i2r + Ler · ie · ir · cos(θe ) (4.41)
2 2
Então, o conjugado pode ser escrito como:

d 0
T1φ = Wcampo (4.42)
dθm
   
polos polos
T1φ =− · Ler · ie · ir · sen · θm (4.43)
2 2
 
polos
T1φ = − · Ler · ie · ir · sen(θe ) (4.44)
2
Note na Equação (4.44) que o conjugado em uma máquina monofásica varia
senoidalmente com a posição do rotor. Em outras palavras, não é produzido
conjugado útil que acelere a máquina sempre no mesmo sentido.

4.2.1 Conjugado em máquinas trifásicas


Considerando agora uma máquina com múltiplos enrolamentos no estator
(múltiplas fases). Cada fase tem sua indutância própria, uma indução mútua
entre a fase (estator) e o enrolamento de campo (rotor) e ainda uma mútua
com cada uma das outras fases.
As únicas indutâncias que não variam em função do ângulo são as indu-
tâncias próprias, de todos os enrolamentos, assim como as mútuas fase-fase
(que estão xas no espaço uma em relação à outra) são constantes.
54 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

Para a obtenção do conjugado basta usar a co-energia de todos os campos


magnéticos somados.

Exemplo 4 ([1, p.216]) Considere uma máquina síncrona trifásica com


um entreferro uniforme. Suponha que as indutâncias próprias e mútuas do
enrolamento de armadura sejam constantes:

Laa = Lbb = Lcc , Lab = Lbc = Lca . (4.45)

Do mesmo modo, suponha que a indutância própria Lf f do enrolamento


de campo seja constante. Já as indutâncias mútuas entre o campo e a arma-
dura variam com o ângulo entre os eixos magnéticos campo-fase.

 
polos
Laf (θm ) = Lef · cos · θm (4.46)
2
 
polos
Lbf (θm ) = Lef · cos · θm − 120◦ (4.47)
2
 
polos
Lcf (θm ) = Lef · cos · θm + 120◦ (4.48)
2
Mostre que quando o campo é excitado com a corrente constante If e a
armadura é excitada com correntes trifásicas equilibradas da forma:

ia = Im · cos(we t + δ) (4.49)

ib = Im · cos(we t − 120◦ + δ) (4.50)

ic = Im · cos(we t + 120◦ + δ) (4.51)

Então o conjugado será constante se o rotor girar com velocidade síncrona.

Solução: Calculando a co-energia:

0
Wcte
z }| {
0 1 2 1 2 1 2 1 2
Wcampo = 2 Lf f if + 2 Laa ia + 2 Lbb ib + 2 Lcc ic + Lab ia ib + Lbc ib ic + Lca ic ia
+ Laf (θm ) · ia if + Lbf (θm ) · ib if + Lcf (θm ) · ic if (4.52)
4.2. CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO 55

  
0 0 polos
Wcampo = Wcte+ Lef If Im cos θm cos(we t + δ)
2
 
polos
+ cos ◦
θm − 120 cos(we t − 120◦ + δ)
2
  
polos ◦ ◦
+ cos θm + 120 cos(we t + 120 − δ) (4.53)
2

Usando a simplicação (3.10), tem-se:

 
0 0 3 polos
Wcampo = Wcte + Lef Im If cos θm − we t − δ (4.54)
2 2

Calculando o conjugado:

d 0
T3φ = · Wcampo (4.55)
dθm
   
3 polos polos
T3φ =− · · Lef Im If sen θm − we t − δ (4.56)
2 2 2
Se o rotor girar na velocidade síncrona (velocidade mecânica respectiva à
velocidade elétrica a aplicada pelas correntes), então

 
2
ws = we . (4.57)
polos

Para wm = ws , tem-se:

 
2
θm = ws t = we t (4.58)
polos

Portanto,
 
3 polos
T3φ = · · Lef Im If sen(δ) (4.59)
2 2
onde nota-se que T3φ é constante se δ é constante. A curva de T3φ versus δ
é apresentada na Figura 4.4. 
56 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

T
Tmax

Gerador

−90◦ 90◦ δ

Motor

−Tmax

Figura 4.4: Torque produzido em máquina síncrona trifásica em função do


ângulo de carga δ.

4.2.2 Perdas de eciência em máquinas


Em máquinas elétricas temos perdas elétricas, mecânicas e magnéticas
normalmente divididas nas seguintes categorias:

1) Perdas elétricas (ou no cobre):

ˆ perdas no enrolamento de armadura: Ra i2a ;


ˆ perdas no enrolamento de campo (se houver): Rf i2f .

2) Perdas rotacionais:

(a) Perdas mecânicas (atrito):

ˆ atrito nos mancais;

ˆ atrito nas escovas;

ˆ atrito com o ar.

(b) Perdas no núcleo (laminado como em transformadores):

ˆ perdas por histerese (aumenta com f );


ˆ correntes parasitas.
4.2. CONJUGADO ELETROMAGNÉTICO 57

Em máquinas CA, onde a corrente é senoidal, as perdas são dadas por


Ra i2arms . Se a máquina é trifásica balanceada (Ra = Rb = Rc e ia = ib = ic )
2
então basta somar as perdas nas fases, ou seja, 3Ra ia .
rms

X
perdas = Pcu + Pmec + Pnucleo (4.60)

A eciência é dada por:

Psaida Psaida
η= = P (4.61)
Pentrada Psaida + perdas
Em um motor tem-se:

Psaida = Peixo = T · wm (4.62)

Em um gerador tem-se:

Pentrada = Peixo = T · wm (4.63)

Problemas propostos

Os problemas propostos a seguir foram extraídos/adaptados dos proble-


mas do Capítulo 4 do livro [1].

(1) Uma máquina síncrona de 6 polos e 60 Hz tem um enrolamento de rotor


com um total de 138 espiras em série e um fator de enrolamento kr =
0, 935. O comprimento do rotor é 1,97 m, o raio do rotor é 58 cm e o
comprimento do entreferro é igual a 3,15 cm.

a) Qual é a velocidade nominal de operação em rpm?

b) Calcule a corrente no enrolamento do rotor que é necessária para


se obter uma componente fundamental de pico de 1,23 T de den-
sidade de uxo no entreferro?

c) Calcule o uxo correspondente por polo.

(2) A máquina do Problema (1) tem um enrolamento trifásico com 45 es-


piras em série por fase e um fator de enrolamento de kenr = 0, 928
(armadura). Para as condições de uxo e velocidade nominal do Pro-
blema (1), calcule a tensão ecaz gerada por fase.
58 CAPÍTULO 4. CONCEITOS ELEMENTARES - PARTE III

(3) A máquina síncrona trifásica do Problema (1) deve ser transferida para
uma aplicação onde é necessário que a frequência de operação seja
reduzida de 60 para 50 Hz. Essa aplicação requer que, para as condições
de operação consideradas no Problema (1), a tensão ecaz de linha
gerada seja de 13,0 kV. Como resultado, os enrolamentos da armadura
da máquina devem ser refeitos com um número diferente de espiras.
Supondo um fator de enrolamento de kenr = 0, 928, calcule o número
necessário de espiras em série por fase.

(4) Um gerador síncrono trifásico de dois polos e 60 Hz, tem um raio de


rotor de 5,71 cm, um comprimento de rotor de 18,0 cm e um compri-
mento de entreferro de 0,25 mm. O enrolamento de campo do rotor
consiste em 264 espiras com um fator de enrolamento de kr = 0, 95.
O enrolamento de armadura, ligado em Y, consiste em 45 espiras por
fase, com um fator de enrolamento de kenr = 0, 93.

a) Calcule o uxo por polo e a componente fundamental da densidade


de uxo de pico no entreferro do qual resultará uma tensão de
armadura, em circuito aberto, de 60 Hz e uma tensão ecaz de
fase de 120 V por fase.

b) Calcule a corrente CC de campo necessária para se obter as con-


dições de operação da parte (a).
c) Calcule o valor de pico da indutância mútua entre o enrolamento
de campo e o enrolamento de fase da armadura.

(5) Um gerador síncrono de 4 polos e 60 Hz tem um comprimento de rotor


de 5,2 m, um diâmetro de 1,24 m e um comprimento de entreferro de
5,9 cm. O enrolamento do rotor consiste em uma conexão em série de
63 espiras por polo com um fator de enrolamento de kr = 0, 91. O
valor de pico da fundamental da densidade de uxo no entreferro está
limitada a 1,1 T e a corrente de enrolamento do rotor, a 2700 A. Calcule
os valores máximos do conjugado (N.m) e da saída de potência (MW)
que podem ser fornecidos por essa máquina.
Capı́tulo 5
Máquinas Síncronas - Parte I

Como visto anteriormente, as seguintes equações são válidas para a má-


quina síncrona:

eaf = −we · ka · Na · Φp · sen(we t) (5.1)

 
polos n
fe = (5.2)
2 60
 
3 polos
T3φ = · · Laf · Im · If · sen(δ) (5.3)
2 2
cuja curva de conjugado versus ângulo de carga é apresentada na Figura 4.4.
Note na Equação (5.1) que a frequência da tensão gerada pode ser controlada
alterando-se a velocidade de rotação e a amplitude pode ser ajustada através
de If , que afeta o uxo por polo Φp . Além disso, na Equação (5.3) o torque
máximo pode ser aumentado aumentando-se Im (amplitude das correntes
trifásicas) e If até os limites de aquecimento da máquina.
Geradores síncronos podem ser conectados em paralelo. Em um sistema
com muitos geradores síncronos, um único gerador não consegue fazer alte-
rações signicativas na tensão e na frequência. Esse barramento com tensão
e frequência constantes é conhecido como barramento innito.
No caso do gerador, se o torque no eixo aumentar, é necessário aumentar
o ângulo δ entre os eixos magnéticos do estator (girante) e do rotor (que
gira com o movimento do rotor), mas o rotor continua a girar na velocidade

síncrona. Se chegar a 90 , qualquer conjugado extra aplicado é maior que o

59
60 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

conjugado máximo que pode ser gerado para uma dada corrente de campo
If , então a máquina acelera indenidamente (perde o sincronismo). Para
evitar danos, o gerador deve ser rapidamente desconectado do sistema elétrico
pela operação automática de disjuntores, além disso, a força motriz deve ser
rapidamente desativada para evitar velocidades perigosamente elevadas.

No caso do motor, a perda de sincronismo ocorre em −90 e acarreta na
desaceleração da máquina, levando-a a parar.

5.1 Modelagem e Circuito Equivalente

Primeiramente, determina-se as indutâncias presentes na máquina. Lem-


brando que os uxos concatenados nas fases (sub-índices a, b, c) e no enrola-
mento de campo (sub-índice f) podem ser expressos como:

λa = Laa · ia + Lab · ib + Lac · ic + Laf · if (5.4)

λb = Lba · ia + Lbb · ib + Lbc · ic + Lbf · if (5.5)

λc = Lca · ia + Lcb · ib + Lcc · ic + Lcf · if (5.6)

λf = Lf a · ia + Lf b · ib + Lf c · ic + Lf f · if (5.7)

onde:

ˆ Laa (sub-índices iguais) representam indutâncias próprias;

ˆ Lab (sub-índices diferentes) representam indutâncias mútuas;

ˆ O caractere L (caligráco) indica que as indutâncias podem variar com


o ângulo do rotor (θm ).

A partir deste ponto, a análise é simplicada assumindo a máquina com


rotor cilíndrico (polos lisos).

1) Indutância própria do rotor

Lf f = Lf f = Lf f 0 + Lf l (5.8)

onde
5.1. MODELAGEM E CIRCUITO EQUIVALENTE 61

ˆ Lf f 0 - indutância responsável pela componente harmônica funda-


mental do uxo que atravessa o entreferro;

ˆ Lf l - responsável pelo uxo de dispersão (leakage ) do enrolamento


de campo.

As interpretações do uxo principal e do uxo de dispersão podem ser


obtidas da analogia com o transformador, como na Figura 5.1.

φ0
ia

φl

uxo de dispersão

Figura 5.1: Fluxo principal φ0 e de dispersão φl (leakage ) em analogia com


transformador.

2) Indutâncias mútuas entre estator (armadura) e rotor (campo)

Laf = Lf a = Laf · cos(θm ) (5.9)

Considere o rotor girando na velocidade síncrona wm = ws . O ângulo


mecânico (espacial) do rotor varia segundo:

θm = ws t + δ0 (5.10)

Como  
polos
θe = θm (5.11)
2
 
polos
we = wm (5.12)
2
62 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

tem-se que:

θe = we t + δe0 . (5.13)

Então, pode-se reescrever a indutância mútua como:

Laf = Lf a = Laf · cos(we t + δe0 ) (5.14)

3) Indutâncias próprias das fases do estator

Laa = Lbb = Lcc = Laa = Laa0 + Lal (5.15)

4) Indutâncias mútuas entre fases do estator


1
Lab = Lba = Lac = Lbc = − · Laa0 (5.16)
2
Substituindo (5.8), (5.15) e (5.16) na equação de λa , tem-se:

1
λa = (Laa0 + Lal ) · ia − Laa0 · (ib + ic ) + Laf · if (5.17)
2
Em um sistema trifásico balanceado, tem-se:

ia + ib + ic = 0 (5.18)

ib + ic = −ia (5.19)

Então:

 
3
λa = Laa0 + Lal ia + Laf · if (5.20)
2
| {z }
Ls

Ou seja, λa = Ls ia + Laf · if onde Ls é chamada de indutância síncrona


e é a indutância efetiva vista nos terminais de uma fase com a máquina em
regime permanente trifásica equilibrada.
Para a determinação do circuito equivalente, a tensão induzida na fase
 a pelo campo f , em circuito aberto, é:
5.1. MODELAGEM E CIRCUITO EQUIVALENTE 63

dλa d
eaf = = (Laf · if ) (5.21)
dt dt

eaf = −we · Laf · if · sen(we t + δeo ) (5.22)

Supondo nula a corrente na armadura (circuito aberto):

we · Laf · if
Eaf = √ (5.23)
2
Mas com a corrente ia , a tensão nos terminais da máquina pode ser ex-
pressa como:

dλa
va = Ra · ia + (5.24)
dt
dia
va = Ra · ia + Ls · + eaf (5.25)
dt
Essa equação pode ser representada em variáveis complexas (módulo e
ângulo) como
V̂a = Ra · Iˆa + jXs · Iˆa + Êaf (5.26)

onde:

ˆ X s = we Ls é a reatância síncrona;

ˆ Êaf = Eaf δe0 .

Iˆa

Ra jXs +
+
Êaf V̂a
-
-

Figura 5.2: Circuito equivalente da máquina síncrona na representação tipo


motor.
64 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

A Equação (5.26) e a gura anterior apresentam o modelo da máquina no


referencial do tipo motor, onde correntes Ia positivas entram na máquina,
como na Figura 5.2.
No referencial do tipo gerador que será adotado a partir de agora, por
ser geralmente mais utilizado, tem-se as correntes Ia positivas saindo da
máquina, como na Figura 5.3. Ou seja:

V̂a = −Ra · Iˆa − jXs · Iˆa + Êaf (5.27)

Iˆa

Ra jXs +
+
Êaf V̂a
-
-

Figura 5.3: Circuito equivalente da máquina síncrona na representação tipo


gerador.

Como o modelo é por fase, as tensões são de fase e a potência é 1/3 da


potência total da máquina.

Exemplo 5 ([1, p.247]) Observa-se que um motor síncrono trifásico de 60


Hz conectado em Y tem uma tensão de linha de 460 V nos terminais e
uma corrente de terminal de 120 A com um fator de potência (FP) de 0,95
indutivo. Nessas condições de operação a corrente de campo é de 47 A. A
reatância síncrona da máquina é igual a 1,68 Ω. Suponha que a resistência
de armadura seja desprezível.
Calcule:

a) A tensão gerada Eaf em volts;

b) O valor da indutância mútua Laf entre o campo e a armadura;


5.1. MODELAGEM E CIRCUITO EQUIVALENTE 65

c) A potência elétrica do motor em kW.

Solução:

a)
460
V̂a = √ 0◦ (referência adotada) (5.28)
3

cos(φ) = F P (5.29)

φ = cos−1 (F P ) = cos−1 (0, 95) = −18, 2◦ (indutivo) (5.30)

Iˆa = 120 −18, 2◦ A (5.31)

Por m, a tensão gerada Êaf é:

460
Êaf = V̂a − jXs · Iˆa = √ − j1, 68 · 120 −18, 2◦ (5.32)
3

Êaf = 278, 8 −43, 4◦ V (5.33)

b) Como Êaf = Eaf δ , temos Eaf = 278, 8. Sabendo que

we · Laf · if
Eaf = √ (5.34)
2
então o valor da indutância mútua Laf entre o campo e a armadura é
dado por:

√ √
2 · Eaf 2 · 278, 8
Laf = = = 22, 3mH (5.35)
we · if 2π · 60 · 47

c)
460
P3φ = 3 · Va · Ia · cos φ = 3 · √ · 120 · 0, 95 = 90, 8kW (5.36)
3

66 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

5.2 Característica a Vazio e de Curto-Circuito

As características fundamentais de uma máquina síncrona podem ser de-


terminadas por dois ensaios:

ˆ terminais de armadura a vazio (circuito aberto);

ˆ terminais de armadura em curto-circuito.

O que será discutido sobre estes ensaios se aplica tanto para máquinas de
polos lisos quanto de polos salientes.

5.2.1 Curva de saturação a vazio (CAV)


1) Aciona-se a máquina até a velocidade síncrona mecanicamente com
uma força externa;

2) Mede-se Va para diferentes valores de If .

Relembre-se de que Φp ∝
∼ If e

eaf = −we · ka · nf ases · Φp · sen(we t) (5.37)

linha de
Va
entreferro
Iˆa = 0
CAV
Ra jXs +
+
Êaf - V̂a
-

If

Figura 5.4: Característica a vazio (CAV), linha de entreferro e circuito equi-


valente do ensaio.

Notando que V̂a = Êaf com a máquina em circuito aberto, a curva pode
ser vista como uma relação entre Eaf e If e portanto, pode ser usada para
5.2. CARACTERÍSTICA A VAZIO E DE CURTO-CIRCUITO 67

formar uma medida direta da indutância mútua entre armadura e campo


(Laf ).


2 · Eaf
Laf = (5.38)
we · If

Exemplo 6 ([1, p.250]) Um ensaio a vazio em um gerador síncrono trifá-


sico de 60 Hz conectado em Y mostra uma tensão nominal a vazio de 13,8
kV é produzida por uma corrente de campo de 318 A. Extrapolando a linha
de entreferro a partir de um conjunto de medidas feitas na máquina, pode-se
mostrar que a corrente de campo correspondente de 13,8 kV sobre a linha de
entreferro é 263 A.

Calcule os valores saturado e não saturado de Laf .

Solução:
Para o cálculo da saturada, realiza-se o seguinte cálculo:

√ 13, 8 × 103
 
2 √
3
Laf = = 94mH (5.39)
(2π · 60) · 318

E para determinação do valor não saturado, faz-se:

√ 13, 8 × 103
 
2 √
3
Laf = = 114mH (5.40)
(2π · 60) · 263
68 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

Va [kV]
linha de
entreferro

CAV
13, 8

3

263
318
If [A]

Figura 5.5: Característica a vazio (CAV) para o Exemplo 6.

5.2.2 Separação das perdas rotacionais


Com a máquina síncrona sem excitação (If = 0) não há perdas no núcleo,
portanto, mudando-se a potência aplicada externamente ao eixo para mantê-
la girando na velocidade síncrona, tem-se:

Patrito = Peixo (5.41)

Então, as perdas no núcleo podem ser determinadas quando If 6= 0 sub-


traindo as perdas por atrito (agora conhecidas) da potência aplicada ao eixo,
que será maior quanto maior for If .

Pnucleo = Peixo − Patrito (5.42)

5.2.3 Característica de curto-circuito (CCC)


Realiza-se um curto-circuito trifásico (conectando-se os terminais das três
fases em um mesmo ponto). Em seguida, varia-se If e mede-se Ia .
5.2. CARACTERÍSTICA A VAZIO E DE CURTO-CIRCUITO 69

ia
Iˆa
CCC
Ra jXs

V̂a = 0
+
Êaf -

If

Figura 5.6: Característica de curto-circuito (CCC) e circuito equivalente do


ensaio.

Plotando-se a CAV e a CCC em um mesmo gráco, tomando o cuidado


de analisar cada curva em sua respectiva coordenada de grandeza, tem-se a
Figura 5.7.

Va [V] Ia [A]
linha de
entreferro

Vanom CAV

Va0 CCC

Ia0
Ianom
CCCC
CCAV

If [A]

Figura 5.7: Curvas características plotadas em conjunto.

Na Figura 5.7, a Corrente de Campo a Vazio (CCAV) e a Corrente de


Campo de Curto-Circuito (CCCC) denotam os valores de If que resultam,
respectivamente, em Vanom no ensaio a vazio e em Ianom no ensaio de curto-
circuito.
70 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

Lembrando que V̂a = 0 no ensaio de curto-circuito, tem-se:

Êaf = Ia (Ra + jXs ) (5.43)

e como tipicamente Xs  Ra , então Ra ≈ 0 e

Va0
Xs = . (5.44)
(não saturada) Ianom
Mas como usualmente a máquina opera na região saturada (onde ca
Vanom ), assume-se que a máquina seja equivalente neste ponto a uma máquina
não saturada com a linha de entreferro passando pelo Vanom da CAV. Então,
para a saturada tem-se:

Vanom
Xs = (5.45)
(saturada) Ia0
Este método de considerar um único valor da reatância síncrona na re-
gião saturada dá resultados sucientemente satisfatórios desde que não seja
necessária grande precisão.

Exemplo 7 ([1, p.255]) Os seguintes dados foram tomados das caracterís-


ticas a vazio e de curto-circuito de uma máquina síncrona trifásica de 45
kVA, 220 V, 6 polos e 60 Hz conectada em Y.
Da característica a vazio, tem-se:

tensão de linha 220 V


corrente de campo 2, 84 A

Da característica de curto-circuito, tem-se dois pontos:

corrente de armadura 118 A 152 A


corrente de campo 2, 20 A 2, 84 A

Da linha de entreferro, tem-se:

tensão de linha 202 V


corrente de campo 2, 20 A

Calcule o valor não saturado da reatância síncrona e seu valor saturado


na tensão nominal.
5.2. CARACTERÍSTICA A VAZIO E DE CURTO-CIRCUITO 71

Solução:

S1φ 45×103/3
Ianom = = 220/√3
= 118A (5.46)
Vanom

Va [V] Ia [A]
linha de
entreferro
220
(Vanom ) √ CAV
3
202
(Va0 ) √ CCC
3
152 (Ia0 )
118 (Ianom )
2, 20
2, 84

If [A]

Figura 5.8: Curvas características plotadas em conjunto para o Exemplo 7.

Reatância síncrona não saturada:

Va0 202/√3
Xs = = = 0, 987 Ω/f ase (5.47)
(não saturada) Ianom 118
Reatância síncrona saturada:


Vanom 220/ 3
Xs = = = 0, 836 Ω/f ase (5.48)
(saturada) Ia0 152


Problemas propostos

Os problemas propostos a seguir foram extraídos/adaptados dos proble-


mas do Capítulo 5 do livro [1].
72 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

(1) Uma máquina síncrona trifásica de dois polos, 50 Hz, 750 kVA e 2300 V
tem uma reatância síncrona de 7,75 Ω e atinge a tensão nominal de
terminal a vazio com uma corrente de campo de 120 A.

a) Calcule a indutância mútua entre a armadura e o campo;

b) A máquina deve operar como um motor que alimenta uma carga


de 600 kW na sua tensão nominal de terminal. Calcule a tensão
interna Eaf e a corrente de campo correspondente se o motor
estiver operando com um fator de potência unitário;

c) Para uma potência de carga constante, escreva um script de Ma-


tlab (ou use outro software de sua preferência) que plote a corrente
de terminal em função da corrente de campo. Na sua plotagem,
faça com que a corrente de campo varie entre um valor mínimo,
correspondente a uma carga de máquina de 750 kVA, com um fa-
tor de potência capacitivo, e um valor máximo, correspondente
a uma carga de máquina de 750 kVA, com um fator de potência
indutivo. Que valor de corrente de campo produz a corrente de
terminal mínima? Por que?

(2) As seguintes leituras foram obtidas dos resultados de ensaios a vazio e


em curto-circuito realizados em um motor síncrono trifásico de quatro
polos, 5000 kW, 4160 V e 1800 rpm, operando na velocidade nominal:

Tabela 5.1: Resultados de ensaios a vazio e em curto circuito da máquina


para o Problema (2).
Corrente de campo [A] 169 192
Corrente de armadura do ensaio de curto-circuito [A] 694 790
Tensão de linha da característica a vazio [V] 3920 4160
Tensão de linha da linha de entreferro [V] 4640 5270

A resistência de armadura é 11 mΩ/fase. A reatância de dispersão da


armadura foi estimada em 0,4152 Ω, tendo como base as especicações
nominais do motor. Encontre:
5.2. CARACTERÍSTICA A VAZIO E DE CURTO-CIRCUITO 73

a) a relação de curto-circuito ;
1

b) o valor não saturado da reatância síncrona em ohms por fase;

c) a reatância síncrona saturada em ohms por fase.

(3) Os dados seguintes referem-se às perdas do mesmo motor do Problema


(2):

Tabela 5.2: Perdas da máquina para o Problema (3).


Perdas a vazio no núcleo e 4160 V = 37 kW
Perdas por atrito e ventilação = 46 kW

Resistência do enrolamento de campo a 75 C = 0,279 Ω

Calcule a potência de saída e o rendimento quando o motor está fun-


cionando na potência de entrada nominal, fator de potência unitário e
tensão nominal. Assuma que o enrolamento de campo esteja operando
2 ◦
a uma temperatura de 125 C.

(4) Os seguintes dados foram obtidos de ensaios realizados em um gerador


hidrelétrico trifásico de 72 polos, 145 MVA, 13,8 kV e 60 Hz.

Característica a vazio:

Característica de curto-circuito:

If = 710 A, Ia = 6070 A
1 A relação de curto-circuito
(RCC) é denida como sendo a razão entre a corrente de
campo necessária para se gerar a tensão nominal a vazio (CCAV - Corrente de Campo A
Vazio) e a corrente de campo necessária para se gerar a corrente de armadura nominal em
curto-circuito (CCCC - Corrente de Campo em Curto-Circuito). Isso é,
CCAV
RCC = .
CCCC

2 Para condutores de cobre,


RT 234, 5 + T
=
Rt 234, 5 + t
onde RT e Rt são as resistências nas temperaturas T e t, respectivamente, em graus
Celsius.
74 CAPÍTULO 5. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE I

Tabela 5.3: Característica a vazio da máquina para o Problema (4).


If [A] 100 200 300 400 500 600 700 775 800
Va [kV] 2,27 4,44 6,68 8,67 10,4 11,9 13,4 14,3 14,5

a) Desenhe (ou plote com Matlab ou outro software) a curva de sa-


turação a vazio, a linha de entreferro e a característica de curto-
circuito.

b) Encontre CCAV e CCCC. (Observe que se você utilizar o Matlab


na parte (a), você poderá utilizar a função polyfit do Matlab
para ajustar um polinômio de segundo grau à curva de saturação à
vazio. Então, você poderá usar esse polinômio para obter CCAV.)

c) Encontre:

i) a relação de curto-circuito;

ii) o valor não saturado da reatância síncrona em ohms por fase;

iii) a reatância síncrona saturada em ohms por fase.


Capı́tulo 6
Máquinas Síncronas - Parte II

6.1 Característica de Ângulo de Carga em Re-


gime

Considere o circuito da Figura 6.1, cujo diagrama fasorial é apresentado


na Figura 6.2.


P1 P2

+ R jX +

Ê1 Ê2

- -

Figura 6.1: Duas fontes de tensão conectadas através de uma impedância.

75
76 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

Ê1

jX Iˆ
δ Ê2
φ
RIˆ

Figura 6.2: Diagrama fasorial genérico para o circuito da Figura 6.1.

A potência ativa P2 entregue a fonte Ê2 do lado da carga é:

P2 = E2 · I · cos(φ) (6.1)

A corrente fasorial é:

Ê1 − Ê2
Iˆ = (6.2)
Z
onde Z = R + jX . Representando as variáveis na forma polar

Ê1 = E1 ejδ (6.3)

Ê2 = E2 (6.4)

Z = R + jX = |Z|ejφz (6.5)
 
−1 X
φz = tg (6.6)
R
e substituindo na Equação (6.1), tem-se:

E1 ejδ − E2
Iˆ = Iejφ = (6.7)
|Z|ejφz

E1 j(δ−φz ) E2 j(−φz )
Iejφ = ·e − ·e (6.8)
|Z| |Z|
6.1. CARACTERÍSTICA DE ÂNGULO DE CARGA EM REGIME 77

Sabendo que ejφ = cos φ + j senφ, podemos reescrever (6.8) como

E1
I · (cos(φ) + j sen(φ)) = · (cos(δ − φz ) + j sen(δ − φz ))
|Z|
E2
− · (cos(−φz ) + j sen(−φz )) (6.9)
|Z|

de onde, tomando apenas a parte real, tem-se:

E1 E2
I · cos φ = · cos(δ − φz ) − · cos(−φz ) (6.10)
|Z| |Z|

R
Observe que cos(−φz ) = cos(φz ) = . Com isso, substituindo a Equa-
|Z|
ção (6.10) em (6.1) tem-se:

E1 · E2 E2 · R
P2 = cos(δ − φz ) − 2 2 (6.11)
|Z| |Z|
Considere a variável auxiliar

αz = 90◦ − φz . (6.12)

Então, pode-se substituir

cos(δ − φz ) = cos(δ + αz − 90◦ ) = sen(δ + αz ) (6.13)

em (6.11). Assim,

E1 · E2 E2 · R
P2 = sen(δ + αz ) − 2 2 . (6.14)
|Z| |Z|

De maneira similar, a potência ativa saindo de Ê2 é dada por

E1 · E2 E2 · R
P1 = sen(δ − αz ) + 1 2 . (6.15)
|Z| |Z|
Como frequentemente é o caso em máquinas síncronas, R é desprezível,
então R ≈ 0, |Z| ≈ X , αz ≈ 0, o que resulta em:

E1 E2
P1 = P2 = sen(δ) (6.16)
X
78 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

A equação anterior é chamada de característica do ângulo de potência (δ )


e sua curva é apresentada na Figura 6.3. Note que esta curva é semelhante
à de conjugado da Figura 4.4, pois P = ωs T com a máquina girando na
velocidade síncrona.
Além disso, note na Equação (6.16) que a potência

máxima ocorre quando δ = 90 , ou seja:

E1 E2
Pmax = (6.17)
X

P
Pmax

Gerador

−90◦ 90◦ δ

Motor

−Pmax

Figura 6.3: Fluxo de potência de uma máquina síncrona trifásica em função


do ângulo de carga δ.

As equações anteriores são válidas para quaisquer fontes de tensão se-


paradas por uma impedância indutiva. Por exemplo, na conexão com um
sistema externo (e.g barramento innito), tem-se o circuito da Figura 6.4.
6.1. CARACTERÍSTICA DE ÂNGULO DE CARGA EM REGIME 79

Iˆa P

jXs jXeq
+
+ +
Êaf V̂a V̂eq
- -
-

Figura 6.4: Circuito equivalente da máquina síncrona na representação tipo


gerador.

Portanto, a máxima potência que pode ser enviada à rede por fase é

Eaf · Veq
Pmax = (6.18)
Xs + Xeq

e a máxima potência total trifásica é 3Pmax .


Observação:

ˆ é perigoso se aproximar de δ = 90◦ ;

ˆ δ é alterado variando-se o torque externo aplicado;

ˆ Eaf ∝ If , portanto aumentando If pode-se aumentar a potência até os


limites de refrigeração da máquina.

Exemplo 8 (adaptado de [1, p.261]) Um gerador síncrono trifásico de


75 MVA e 13,8 kV conectado em Y, com uma reatância saturada de Xs =
3, 428 Ω e uma não saturada de Xs = 3, 961 Ω é ligado à um sistema externo
cuja reatância equivalente é Xeq = 0, 584 Ω e cuja tensão é Veq = 13, 8 kV .
O gerador atinge a tensão nominal de circuito aberto com uma corrente de
campo de 297 A.

a) Encontre a potência máxima (em MW) que pode ser fornecida ao sis-
tema externo se a tensão interna do gerador for mantida igual à 13, 8 kV .
80 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

b) Determine uma equação para V̂a em função do ângulo de carga δ. Em


seguida plote a tensão do terminal do gerador quando a potência de
saída do gerador é variada desde 0 até Pmax .

Solução:

a)
3Eaf · Veq
Pmax3φ = (6.19)
Xs + Xeq

A máquina opera na região de tensão nominal, com isso, utiliza-se Xs


saturada no cálculo da potência máxima.

√ √
3(13,8k/ 3) · (13,8k/ 3)
Pmax3φ = = 47, 5M W (6.20)
3, 428 + 0, 584

b)
Êaf − V̂eq Veq δ − Veq
Iˆa = = (6.21)
j(Xs + Xeq ) j(Xs + Xeq )

Iˆa

jXeq
+
+
V̂a V̂eq
-
-

Figura 6.5: Circuito de conexão à rede do Exemplo 8.

V̂a = Veq + jXeq · Iˆa (6.22)


6.2. CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO EM REGIME 81

 
Veq δ − Veq
V̂a = Veq + jXeq (6.23)
j(Xs + Xeq )
 
1 δ−1
V̂a = Veq + Xeq Veq (6.24)
Xs + Xeq
 
Xeq (1 δ − 1)
V̂a = Veq · 1 + (6.25)
Xs + Xeq

Va [kV]

13,8/√3

11,8/√3


δ [ ]
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

(P = 0) (P = Pmax )
Figura 6.6: Comportamento de Va sob mudanças em δ para o Exemplo 8.

6.2 Características de Operação em Regime

As principais características de funcionamento de uma máquina síncrona


em regime permanente são descritas pelas relações entre:

ˆ tensão de terminal (Va );


82 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

ˆ corrente de campo (If );

ˆ fator de potência (cos φ);

ˆ potências ativa (P ) e reativa (Q).

1) Curva composta
Considere:

ˆ geração síncrona fornecendo potência a frequência constante e ten-


são de terminal nominal;

ˆ carga com fator de potência constante.


Vanom

Carga
nominal
F P = 0, 8
necessária para manter

(indutivo)

F P = 1, 0
F P = 0, 8
(capacitivo)
If

Carga [kVA] ou corrente de armadura [A]

Figura 6.7: Curva composta.

Aplicação em sistemas de regulação de tensão: baseado na curva com-


posta, controla-se a corrente de campo em função na tensão medida
nos terminais.

2) Curva V
Curva que mostra a relação entre a corrente de armadura e a corrente
de campo para tensão de terminal e potência ativa constante.
6.2. CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO EM REGIME 83

i vo
cit rio o
Potência de saída pa tá tiv
ca un
i u
(em PU) FP i nd
Ia [A] FP FP
0.

0.
0.
25

75
5
0

If [A]

Figura 6.8: Curva V para diversos níveis de potência expressos em PU (Por


Unidade).

ˆ A corrente de armadura é mínima para potência de saída com FP


unitário (pois não está fornecendo/absorvendo reativos);

ˆ Controlando a corrente de campo pode-se passar a funcionar como


compensador de reativo (alterando-se o FP);

ˆ Note que uma máquina usada como compensador também pode


ser usada para fornecer potência ativa (simultaneamente).

O caso mais completo da máquina operando como motor também pode


ser visto na Figura 6.9. Nesta gura é adotado o sentido gerador (cor-
rentes ou potências positivas quando saem da máquina).

3) Curvas de capacidade
Mostram o máximo de carregamento reativo correspondente a carre-
gamentos ativos (ou vice-versa) para operação com tensão de terminal
84 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

Ia [A] FP unitário

P >0
If [A]

P <0

Q<0 Q>0

Figura 6.9: Curva V completa (como gerador e motor).

constante. Ou seja, tem-se a região P e Q onde a máquina pode operar


dentro de seus limites máximos. Considerando-se os limites de aqueci-
mento da armadura e do campo apenas, de um gerador, tem-se como
exemplo a Figura 6.10.

Obtenção das curvas de capacidade

a) Para o limite de aquecimento do enrolamento de armadura tem-se


a equação a seguir, que é a equação de um circuito de raio Va Ia
centrado na origem dos eixos P e Q.

p
S= P 2 + Q2 = Va · Ia (6.26)

b) Para o limite de aquecimento do enrolamento de campo, tem-se:


6.2. CARACTERÍSTICAS DE OPERAÇÃO EM REGIME 85

P − jQ = V̂a · Iˆa

(6.27)
Êaf = V̂a + jXs · Iˆa
Esse conjunto de equações representam os fasores de triângulo de
potência e o circuito equivalente da máquina (assumindo Ra ≈
0), respectivamente. Pode-se resolver as equações e expressar em
módulo pela equação a seguir, no qual é um círculo de raio Va ·Eaf/Xs
centrado em Q = −Va2/Xs .

Q [VAr]
Limite de
aquecimento 75
0.
do campo 80
0.
FP
5
0.8

0
0.9
?
0.95

Limite de
aquecimento
da armadura

P [W]

Figura 6.10: Curva de capacidade. O ponto de operação nominal da máquina


está marcado pelo símbolo ?.

2 2
V2
 
Va · Eaf
P + Q+ a
2
= (6.28)
Xs Xs
c) Para a curva de capacidade completa, deve-se considerar todos os
limites de operação da máquina, sendo:

(i) limite de aquecimento da armadura;

(ii) limite de aquecimento do campo;


86 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

(iii) limite de potência mecânica recebida;

(iv) limite de potência mecânica aplicada (carga);

(v) limite de estabilidade δ < 90◦ (com margem de segurança).

A curva de capacidade completa pode ser vista na Figura 6.11.

(i)

0 P

(v)
Va
Ia

Va2

Xs

(ii)
V aE
Xs
af

(iv) (iii)

Figura 6.11: Curva de capacidade completa com todos os limites. A área de


operação segura está destacada em cor cinza.
6.3. EFEITO DOS POLOS SALIENTES 87

6.3 Efeito dos Polos Salientes

Nesta seção é abordado de maneira sucinta o efeito dos polos salientes


(entreferro não-uniforme). Note que a direção da magnetização predominante
é determinada pelas saliências dos polos do campo.

q d

Êaf
90◦
elétricos!

Figura 6.12: Eixo direto (d) e eixo em quadratura (q ) na máquina síncrona


de polos salientes.

A relutância ao longo do eixo direto é menor se comparada à relutância


do eixo em quadratura (ver tamanho do entreferro em cada). O enrolamento
de campo produz um uxo que está orientado segundo o eixo direto do rotor,
assim como a FMM produzida por este enrolamento.
Como a tensão induzida é proporcional à derivada do uxo, o fasor de

tensão induzida está 90 (elétricos) adiantado. Logo, o fasor Êaf está ao
longo do eixo em quadratura.
Portanto, a base de análise é decompor as tensões e correntes em suas
componentes de eixo direto e de eixo em quadratura. Além disso, cada eixo
terá sua própria reatância: Xd no eixo direto e Xq no eixo em quadratura.
A inuência dos polos salientes na FMM gerada se dá em função do ângulo
entre a corrente de armadura Iˆa e a tensão induzida Êaf .
Se Iˆa tem um ângulo de 90◦ com relação à Êaf , ou seja, Iˆa está sobre o
eixo direto, então o uxo de reação da armadura tem um formato bastante
88 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

próximo da senoide fundamental, como pode ser visto na Figura 6.13.

q d
1a harmônica

distribuição real de Φp
armadura

Φp

campo

reação da armadura
(formato de eaf )

Figura 6.13: Reação da armadura para o caso de 90◦ entre Iˆa e Êaf .

Mas a medida que o vetor Iˆa se aproxima do eixo em quadratura, as


diferenças entre as indutâncias dos eixos (Xd > Xq ) causa o surgimento
evidente da inuência da terceira harmônica no uxo de reação da armadura
e consequentemente na forma da tensão induzida, como pode ser visto na
Figura 6.14 para o caso extremo de 0 entre Iˆa e Êaf .

Na análise do circuito em coordenadas de eixo direto e de quadratura,


considera-se que para cada uma das componentes da corrente Iˆa há uma
queda de tensão nas reatâncias síncronas de cada eixo: jXd Iˆd e jXq Iˆq , res-
pectivamente.
As reatâncias Xd e Xq são chamadas de reatâncias síncronas de eixo direto
e de quadratura, respectivamente, e tipicamente:

0, 6Xd < Xq < 0, 7Xd (6.29)

No diagrama fasorial do gerador, mostrado na Figura 6.15, a tensão ge-


rada Êaf é igual a soma da tensão terminal V̂a com a queda Ra Iˆa na resistên-
cia de armadura, e as quedas jXd Iˆd + jXq Iˆq nas componentes da reatância
síncrona.
6.3. EFEITO DOS POLOS SALIENTES 89

q d
1a harmônica

distribuição real de Φp
armadura

Φp

campo 3a

1a
reação da armadura
(formato de eaf )

Figura 6.14: Reação da armadura para o caso de 0◦ entre Iˆa e Êaf .

Êaf = V̂a + Ra Iˆa + jXd Iˆd + jXq Iˆq (6.30)

No diagrama anterior, a constante imaginária  j  adianta o produto em


90◦ e Ra continua tipicamente desprezível. Normalmente se conhece explici-
tamente o ângulo φ do fator de potência nos terminais da máquina (medindo
V̂a e Iˆa ). Entretanto, não se conhece o ângulo de carga δ e consequentemente
não se sabe as posições dos eixos direto e em quadratura. Isso é necessário
para se calcular as amplitudes Id e Iq , pois são dadas por:

Id = Ia · sen(φ + δ) (6.31)

Iq = Ia · cos(φ + δ) (6.32)

Procedimento para determinação da direção de Êaf (localização do eixo


q ou δ ):

1) Observa-se que jXd Iˆd não inuencia o ângulo de Êaf , apenas sua am-
plitude, portanto, ignora-se este termo por hora;

2) Considere a semelhança triangular:


90 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

q
Êaf

jXq Iˆq

jXd Iˆd

Iˆq δ
V̂a
φ
Iˆa Ra Iˆa
Iˆd

Figura 6.15: Diagrama fasorial com coordenadas dq .

jXq Iˆa jXq Iˆq


Iˆa ·Xq Xq Iˆa ·j
===⇒ ==⇒
Iˆd
Iˆq Xq Iˆd
Xq Iˆq jXq Iˆd
a

Figura 6.16: Semelhança de triângulos.

3) Observa-se no diagrama fasorial da Figura 6.15 que jXq Iˆq é perpendi-

cular a Êaf , então encaixa-se o triângulo (3) com o ponto a no término
de Ra Ia , resultando no diagrama da Figura 6.17;
6.3. EFEITO DOS POLOS SALIENTES 91

q
Êaf
b

jXq Iˆq

jXq Iˆa jXd Iˆd

δ jXq Iˆd
V̂a
φ
Iˆa Ra Iˆa
Iˆd
Iˆq

Figura 6.17: Diagrama fasorial com coordenadas dq modicado.

4) Observa-se que o ponto  b  coincide com a direção por onde Êaf passa.

Portanto, a soma fasorial V̂a + Ra Iˆa + jXq Iˆa fornece a posição angular

de Êaf .

5) Conhecidos δ e as posições dos eixos d e q, pode-se calcular Êaf através

da Equação (6.30), pois agora Iˆd e Iˆq são conhecidas.

6.3.1 Característica de ângulo de carga


Desenvolvendo-se de maneira semelhante à Seção 6.1, tem-se:

Eaf · Veq Veq2 · (Xd − Xq )


P = · sen(δ) + · sen(2δ) (6.33)
Xd + Xeq 2(Xd + Xeq )(Xq + Xeq )
92 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

P
Pmax

90◦ δ

−90

−Pmax

Figura 6.18: Potência de uma máquina síncrona trifásica de polos salientes


em função do ângulo de carga δ (curva em vermelho). As curvas em azul
e em verde representam, respectivamente, o primeiro e segundo termos da
Equação (6.33).

Note na Figura 6.18 que Pmax é maior do que no caso da máquina de


polos lisos (representada pela curva em cor azul), o que a torna mais atraente
para unidades geradoras. Entretanto, note também que o valor do máximo,
e consequentemente o ponto de perda de sincronismo, ocorre para valores
menores de δ. Portanto, uma maior margem de segurança deve ser imposta.

Problemas propostos

Os problemas propostos a seguir foram extraídos/adaptados dos proble-


mas do Capítulo 5 do livro [1].

(1) Uma máquina síncrona de 25 MVA e 11,5 kV está operando como


um compensador síncrono, como está discutido no Apêndice D (Seção
D.4.1) do livro [1]. A relação de curto-circuito do gerador é 1,68 e a
corrente de campo na tensão nominal a vazio é 420 A. Assuma que o
gerador esteja ligado diretamente a uma fonte de 11,5 kV.
6.3. EFEITO DOS POLOS SALIENTES 93

a) Qual é, em ohms por fase, a reatância síncrona saturada do gera-


dor?

Considere agora que a corrente de campo do gerador é ajustada


para 150 A.

b) Desenhe um diagrama fasorial, indicando a tensão de terminal, a


tensão interna e a corrente de armadura.

c) Calcule o módulo da corrente de armadura (em ampères) e o seu


ângulo de fase relativo à tensão de terminal.

d) Sob essas condições, o compensador síncrono parece indutivo ou


capacitivo para o sistema de 11,5 kV?

e) Repita as partes (b) até (d) para uma corrente de campo de 700 A.

(2) Uma máquina síncrona com reatância síncrona de 1,28 Ω/fase está
operando como um gerador cuja potência ativa de carga é de 0,6 MW e
que foi ligado a um sistema por uma reatância em série de 0,07 Ω/fase.
Observa-se que um aumento em sua corrente de campo causa uma
diminuição na corrente de armadura.

a) Antes do aumento, o gerador estava fornecendo ou absorvendo


potência reativa do sistema de potência? Justique.

b) Como resultado desse aumento de excitação, a tensão de terminal


do gerador aumentou ou diminuiu? Justique.

(3) O gerador hidrelétrico de 145 MW do Problema (4) está operando em


um sistema de potência de 13,8 kV. Em condições normais de operação,
o gerador funciona submetido a uma regulação automática de tensão
para manter constante sua tensão de terminal em 13,8 kV. Neste pro-
blema, você irá investigar quais seriam as possíveis consequências caso
o operador esquecesse de passar para o modo de regulação automática
de tensão e, ao invés disso, deixasse constante a excitação de campo
1
no valor de CCAV , o valor correspondente à tensão nominal a vazio.
Para os propósitos deste problema, despreze os efeitos das saliências e
assuma que o gerador possa ser representado pela reatância síncrona
saturada encontrada no Problema (4).
1 Corrente de Campo A Vazio.
94 CAPÍTULO 6. MÁQUINAS SÍNCRONAS - PARTE II

a) Se o sistema de potência for representado simplesmente por um


barramento innito de 13,8 kV (ignorando os efeitos de qualquer
impedância equivalente), a carga do gerador pode ser aumentada
até atingir a carga total? Se sim, qual é o ângulo de potência δ
correspondente à carga total? Se não, qual é a carga máxima que
pode ser conseguida?

b) Repita a parte (a) com o sistema de potência representado agora


por um barramento innito de 13,8 kV em série com uma impe-
dância reativa de j0, 14 Ω.

(4) Repita o Problema (3) assumindo que a indutância síncrona saturada,


de eixo direto Xd seja igual à encontrada no Problema (4) e que a
reatância síncrona saturada, de eixo em quadratura Xq seja igual a 75
por cento desse valor.

(5) Um gerador síncrono trifásico de imã permanente e 5 kW produz uma


tensão de linha a vazio de 208 V e 60 Hz, quando está sendo acionado
a uma velocidade de 1800 rpm. Quando está operando na velocidade
nominal e alimentando uma carga resistiva, observa-se que a sua tensão
de linha de terminal é 192 V, para uma potência de saída de 4,5 kW.

a) Calcule a corrente por fase do gerador sob essas condições de fun-


cionamento.

b) Supondo que a resistência de armadura do gerador seja desprezí-


vel, calcule a reatância síncrona do gerador a 60 Hz.

c) Calcule a tensão de terminal do gerador que é obtida se a carga


do gerador for aumentada para 5 kW (ainda puramente resistiva)
enquanto a velocidade é mantida a 1800 rpm.
Capı́tulo 7
Máquinas de Indução - Parte I

O motor de indução existe desde 1885, quando foi inventado quase si-
multaneamente por Galileu Ferraris e Nikola Tesla. Atualmente o motor
de indução ou motor assíncrono trifásico tem um campo de aplicação quase
ilimitado e é o mais utilizado na indústria desde frações de cv (cavalo de po-
tência) até milhares de cv. Estima-se que 90% dos motores fabricados sejam
de indução.
Um dos motivos foi a evolução da característica peso/potência ao longo
do tempo, apresentada na Figura 7.1. Isso foi possível graças ao desenvolvi-
mento dos componentes isolantes e demais materiais. Outro motivo para o
crescimento no uso de máquinas de indução foi o desenvolvimento dos dis-
positivos de eletrônica de potência, que permitiram o controle efetivo dessas
máquinas.

7.1 Princípio de Funcionamento

Quando um enrolamento trifásico é alimentado por correntes trifásicas


cria-se um campo girante como se houvesse um único par de polos mag-
néticos girantes de intensidade constante. Este campo girante, criado pelo
enrolamento do estator, induz tensões nas barras do rotor (linhas de uxo
cortam as espiras formadas por barras opostas) as quais geram correntes
e, consequentemente, um campo magnético no rotor de sentido oposto ao
estator.
Como campos opostos se atraem e o campo do estator é girante, o rotor

95
96 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

kW
/
g
k
8
8

kW
/
g
k
7
6

kW
/
g

kW
k
2

kW
/
4

g
k

kW
/
9

kW
g

kW
2

kW
g

kW

kW
1

/
k

/
2

/
g
k
9

/
g
k
1

g
3

g
k

k
2
1

k
1
1

,5

,8
1

6
1
6

1 9
1

1 6
0

4
9
9

9
0

2
2
3

8
8
8

8
9

9
9
9

9
1
1

1
1

1
Figura 7.1: Evolução do motor trifásico (relação peso/potência).

tende a acompanhar a rotação deste campo, ou seja, surge um conjugado que


acelera o rotor.

7.1.1 Velocidade síncrona


A velocidade síncrona do motor é denida pela velocidade de rotação do
campo girante. O campo percorre um par de polos a cada ciclo elétrico.
Assim, a velocidade síncrona é dada pela Equação (7.1).

 
120
ns = · fe (7.1)
polos

7.1.2 Escorregamento
Se o rotor gira a uma velocidade diferente da velocidade de campo girante,
o enrolamento de rotor corta as linhas de uxo do campo girante, e então,
circularão correntes induzidas no rotor. Considere a curva de conjugado por
velocidade do rotor a seguir.
7.1. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 97

T [N.m]
Tmax

Tpartida

n [rpm]
0 ns
s
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

Figura 7.2: Curva típica de conjugado versus velocidade (ou escorregamento)


de máquinas de indução.

Quanto maior for o torque da carga, maior terá que ser o conjugado
produzido necessário para acioná-la. Para produzir um valor maior de conju-
gado, maior terá que ser a diferença entre a velocidade do rotor e a velocidade
síncrona para que as correntes induzidas sejam maiores. Portanto, à medida
que a carga aumenta a rotação diminui.
Quando a carga é zero (motor a vazio) o motor girará praticamente com
rotação síncrona. A diferença entre a velocidade do motor (n) e a velocidade
síncrona (ns ) chama-se escorregamento (s), que pode ser expresso em rpm
ou como uma fração da velocidade síncrona ou como porcentagem desta. As
fórmulas neste documento utilizam o s fracionário dado por:

(
ns − n n = ns −→ s = 0
s= (7.2)
ns n = 0 −→ s = 1

Exemplo 9 Determine o escorregamento de um motor de indução de 6 po-


98 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

los, frequência de 60 Hz no estator, sabendo que a rotação de seu eixo é


1170 rpm.

Solução:
 
120
ns = 60 = 1200 rpm (7.3)
6
1200 − 1170
s= = 0, 025 −→ 2, 5% (7.4)
1200


A velocidade do rotor pode ser expressa em termos do escorregamento e


da velocidade síncrona
n = (1 − s)ns . (7.5)

O movimento relativo entre o uxo do estator e os condutores do rotor


induz tensões de frequência fr , sendo chamada como frequência de escorre-
gamento do rotor dada por
fr = s · fe . (7.6)

Assim, o comportamento elétrico de uma máquina de indução é similar ao de


um transformador, mas apresentando a característica adicional da transfor-
mação de frequência produzida pelo movimento relativo. Uma máquina de
indução de rotor bobinado pode ser usada como um conversor de frequência.
A máquina síncrona só produz torque útil (não oscilatório) quando gira
na velocidade síncrona, como visto anteriormente, pois só assim o uxo ge-
rado pelo enrolamento de campo poderia ter a mesma velocidade do campo
produzido pela armadura para acompanhá-lo. Essa é a característica fun-
damental para o surgimento do conjugado em máquinas.
Considerando agora o motor de indução. Na partida, n = 0 portanto
s = 1 e fr = fe , ou seja, o campo do rotor estará girando com a mesma
velocidade do campo do estator. Então poderá haver conjugado e a máquina
vai acelerar caso este conjugado (conjugado de partida) seja maior que o
conjugado de carga no eixo.
Com o rotor girando no mesmo sentido do campo do estator, a frequência
das correntes do rotor será fr = s · fe , produzindo uma onda de uxo no
rotor que irá girar com velocidade s · ns em relação ao rotor. Entretanto
superposta a essa velocidade, está a velocidade de rotação (n). Assim em
relação ao estator a velocidade do uxo do rotor é:
7.1. PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO 99

T [N.m]

Tpartida
ponto de
Tcarga operação

n [rpm]
0 ns
s
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

Figura 7.3: Ponto de operação da máquina de indução com carga.

s · ns + n = s · ns + (1 − s) · ns = ns (7.7)

1
Os uxos giram juntos, como pode ser visto na Figura 7.4, produzindo
conjugado útil para qualquer velocidade diferente da velocidade síncrona.
Por isso a máquina de indução também é conhecida como máquina as-
síncrona. Sob condições normais de operação o escorregamento é pequeno
(n é próximo de ns ) de ordem de 2% a 10% à plena carga na maioria dos
motores gaiola de esquilo. Por isso, a frequência elétrica no rotor é muito
pequena (1 a 6 Hz) em motores de 60 Hz. Neste intervalo a impedância é
portanto na grande maioria resistiva no motor, sendo pouco inuenciada pelo
escorregamento (que afeta a frequência e portanto a reatância do rotor).
Por outro lado, a tensão induzida no rotor é proporcional à velocidade
relativa do uxo do estator que corta as barras do rotor (portanto proporci-
onal ao escorregamento). Se a impedância é praticamente resistiva, então as
correntes no rotor também são proporcionais ao escorregamento. Como re-

1A Figura 7.4 é uma animação do tipo GIF. Pode requerer visualização com o software
Adobe Acrobat atualizado.
100 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

Figura 7.4: Campo girante aplicado no estator (vermelho) e campo girante


induzido no rotor (azul). O ponto • é xo no rotor para indicar sua posição.

sultado o conjugado é proporcional às correntes no rotor, será proporcional ao


escorregamento para valores pequenos deste. À medida que o escorregamento
aumenta, a impedância do rotor cresce devido ao aumento da reatância do
rotor. Isso faz com que a corrente seja menos do que proporcional ao escor-
regamento. O resultado é que o conjugado aumenta com o escorregamento
até um máximo e depois volta a decrescer. Observa-se então que o escorre-
gamento para o qual ocorre Tmax é proporcional à resistência do rotor. Em
motores gaiola de esquilo, o escorregamento de Tmax é relativamente pequeno,
como na gura anterior. Por isso, esse motor é utilizado em aplicações com
pouca variação de velocidade.
No caso do rotor bobinado, a resistência do rotor pode ser aumentada
externamente, controlando o escorregamento em que ocorre Tmax .

ˆ Máquinas com rotor bobinado são maiores, mais caras e tem manuten-
ção signicativamente mais dispendiosa;

ˆ Máquinas de rotor gaiola de esquilo acionadas com fontes de frequência


constantes são limitadas à aplicações de velocidade constante e sem
mudança de carga.

Por estes motivos, com o acionamento realizado com tensões e frequên-


cia variáveis (inversor) é possível controlar facilmente e automaticamente a
velocidade da máquina.
7.2. CIRCUITO EQUIVALENTE DO MOTOR DE INDUÇÃO 101

7.2 Circuito Equivalente do Motor de Indução

Para o desenvolvimento de um circuito equivalente são feitas as seguintes


considerações:

ˆ enrolamentos polifásicos simétricos;

ˆ enrolamentos excitados por tensões polifásicas equilibradas.

Assim, pode-se deduzir o circuito de uma fase apenas, cando subenten-



dido que as tensões e correntes nas demais fases estão defasadas em 360 /nf ases .
Tendo em mente a similaridade da máquina de indução a um transformador,
onde tem-se o estator (primário) e o rotor (secundário), será construído um
circuito equivalente todo referenciado ao estator. Como diferença do caso do
transformador, tem-se que levar em consideração o fato do rotor girar com
um determinado escorregamento.

7.2.1 Estator
De modo similar à máquina síncrona, o circuito do estator pode ser des-
crito como:

V̂1 = Ê2 + Iˆ1 · (R1 + jX1 ) (7.8)

onde

ˆ V̂1 - tensão de fase de terminal do estator;

ˆ Ê2 - FCEM (de fase) gerada pelo uxo de entreferro resultante;

ˆ Iˆ1 - corrente do estator;

ˆ R1 - resistência do estator;

ˆ X1 - reatância do estator.

O uxo de entreferro resultante é criado pelas FMMs do estator e do rotor


combinadas. Como em um transformador, a corrente do estator (Iˆ1 ) pode
ser decomposta em duas: a componente de carga e a de magnetização.

ˆ A componente de carga (Iˆ2 ) produz uma FMM que corresponde à FMM


de corrente do rotor;
102 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

ˆ A componente de magnetização é a corrente adicional necessária para


criar o uxo de entreferro e é uma função da FCEM (Ê2 ). Esta com-
ponente é ainda dividida em:

* Iˆc - gera perdas no núcleo (na resistência Rc );


* Iˆm - componente efetiva de magnetização (na reatância de mag-
netização Xm ).

Com isso, tem-se para o estator o circuito equivalente da Figura 7.5.

Iˆ1 R1 jX1 Iˆ2

+ Iˆc Iˆm +

V̂1 Ê2
Rc jXm

- -

Figura 7.5: Circuito equivalente do primário (estator) da máquina de indu-


ção.

7.2.2 Rotor
Para completar o circuito equivalente, os efeitos do rotor devem ser con-
siderados. Do ponto de vista do estator (gura anterior) o rotor pode ser
representado por uma impedância equivalente Z2 onde:

Ê2
Z2 = (7.9)
Iˆ2
Deve-se determinar o valor de Z2 que represente as grandezas do rotor
referidas ao estator. Sabendo-se que há uma impedância real Zrotor no enro-
lamento do rotor, esta impedância referida ao estator pode ser escrita pela
Equação (7.10) onde o subscrito  2s refere-se às grandezas do rotor referidas
ao estator (sem levar em conta o giro do rotor) e Nef é a relação de espiras
efetivas entre os enrolamentos do estator e do rotor.
7.2. CIRCUITO EQUIVALENTE DO MOTOR DE INDUÇÃO 103

!
Ê2s 2 Êrotor 2
Z2s = = Nef · = Nef · Zrotor (7.10)
Iˆ2s Iˆrotor
Se o interesse fosse conhecer as tensões e correntes reais do rotor (Êrotor e
Iˆrotor ), seria necessário conhecer Nef . Entretanto para o propósito de estudo
do motor de indução, visto dos terminais do estator, esta conversão não é
necessária. Isso é especialmente útil no modelo de rotores gaiola, onde a iden-
ticação de enrolamentos de fase não é trivial. Levando em consideração
os efeitos do movimento relativo entre o estator e o rotor, tem-se que a im-
pedância do rotor referida ao estator pode ser reescrita pela Equação (7.11).

Ê2s
Z2s = = R2 + jsX2 (7.11)
Iˆ2s
onde

ˆ R2 - resistência do rotor referido ao estator;

ˆ sX2 - reatância do rotor referido na frequência de escorregamento (fr =


s · fe ).

Iˆ2s

+ jsX2

Ê2s R2

Figura 7.6: Rotor na frequência de escorregamento.

Além disso, tem-se que Iˆ2s = Iˆ2 pois as correntes do rotor e do estator
oscilam em fase nas suas respectivas frequências de modo a gerar FMM's
girando juntas. Ou seja, do ponto de vista do estator, as correntes induzidas
no rotor têm a mesma frequência do estator. E Ê2s = sÊ2 pois a tensão no
104 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

rotor varia com a velocidade que as espiras cortam o uxo, que é a velocidade
relativa (escorregamento). Então:

Ê2s sÊ2
Z2s = = = R2 + jsX2 (7.12)
Iˆ2s Iˆ2

Ê2 Z2s R2
Z2 = = = + jX2 (7.13)
Iˆ2 s s
Portanto o circuito equivalente completo do motor de indução é dado na
gura a seguir.

Iˆ1 R1 jX1 Iˆ2

+ Iˆc Iˆm jX2

R2
V̂1 Rc jXm s
-

Figura 7.7: Circuito equivalente completo da máquina de indução.

7.3 Análise do Circuito Equivalente

A partir do circuito equivalente obtido anteriormente, é possível determi-


nar diversas características de operação da máquina de indução em regime
permanente. Primeiramente, a potência transferida através do entreferro (do
estator para o rotor) é dada pela Equação (7.14) mas dessa potência uma
parte é dissipada no enrolamento do rotor em R2 , dada pela Equação (7.15).
 
2 R2
Pg = nf ases · I2 · (7.14)
s

Protor = nf ases · I22 · R2 (7.15)


7.3. ANÁLISE DO CIRCUITO EQUIVALENTE 105

O restante é a potência eletromagnética convertida em movimento mecâ-


nico, que pode ser determinada subtraindo-se as perdas da potência entregue
ao rotor, dada pelas Equações (7.16) e (7.17).

Pmec = Pg − Protor (7.16)

 
1−s
Pmec = nf ases · I22 · R2 · (7.17)
s
Portanto,

Pmec = (1 − s) · Pg (7.18)

Protor = s · Pg (7.19)

Note que as perdas no rotor são proporcionais ao escorregamento, ou seja,


um alto escorregamento torna a máquina menos eciente. Quando deseja-
se destacar as potências, pode-se redesenhar o circuito equivalente em uma
forma alternativa, como na Figura 7.8.

Pin Pestator Pg Protor

+ R1 jX1 jX2 R2
 
Rc jXm 1−s
V̂1 R2
s
- Pnucleo
Pmec

Figura 7.8: Circuito equivalente alternativo para análise do uxo de potên-


cias.

Exemplo 10 Observa-se que um motor de indução trifásico de dois polos e


60 Hz está operando com uma velocidade de 3502 rpm, com uma potência
de entrada de 15,7 kW e corrente de terminal de 22,6 A. A resistência do
2
enrolamento do estator é 0, 2 Ω/f ase. Calcule a potência I R dissipada no
rotor. Assuma que as perdas por magnetização são desprezíveis.
106 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

Solução:

nf ases = 3 n = 3502 rpm R1 = 0, 2 Ω/f ase


polos = 2 Pin = 15, 7kW Rc = ∞ (circ. aberto)

f = 60Hz I1 = 22, 6A

   
120 120
ns = f= 60 = 3600 rpm (7.20)
polos 2
O escorregamento é calculado pela Equação (7.21).

ns − n 3600 − 3502
s= = = 0, 0272 (7.21)
ns 3600

0
Pg = Pin − Pestator − 
Pnucleo
 :
(7.22)

Pg = Pin − nf ases · R1 · I12 = 15, 7k − 3 · 0, 2 · (22, 6)2 (7.23)

Pg = 15, 4kW (7.24)

Sendo assim, a potência no rotor solicitada no exemplo é calculada pela


Equação (7.15).

Protor = s · Pg = 0, 0272 · 15, 4 × 103 = 418, 7W (7.25)

O conjugado eletromecânico Tmec pode ser obtido a partir das equações


a seguir.

Pmec = ωm · Tmec (7.26)

Como:
ωs − ωm
s= (7.27)
ωs
ωm = (1 − s) · ωs (7.28)
7.4. CONJUGADO E POTÊNCIA PELO TEOREMA DE THÉVENIN107

Tem-se:
Pmec X (1X−Xs)X · Pg Pg
Tmec = = XX = (7.29)
ωm (1 −Xs)X · ωs ωs
 
R2
nf ases · I22 ·
s
Tmec = (7.30)
ωs
Na realidade os valores de Pmec e Tmec das Equações (7.26) e (7.30),
respectivamente, não são os de saída disponíveis no eixo, pois não levou-se
em conta as perdas rotacionais (atrito e núcleo). Então:

Peixo = Pmec − Prot (7.31)

Teixo = Tmec − Trot (7.32)

Em geral, as perdas em Rc são muito pequenas e são desprezadas (ou


assume-se que façam parte das perdas do rotor). Portanto, a partir de agora,
o circuito equivalente pode ser simplicado para o da representação a seguir.

Iˆ1 Iˆ2

R1 jX1 a jX2
+

jXm R2
V̂1
s
- b

Figura 7.9: Circuito equivalente simplicado (desconsiderando as perdas no


núcleo).

7.4 Conjugado e Potência pelo Teorema de Thé-


venin

A análise do conjugado e potência pode ser simplicada aplicando-se o


teorema de Thévenin do circuito equivalente do motor de indução.
108 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

a a
Rede elétrica com ele-
Zeq
mentos de circuitos
lineares e fontes de +
V̂eq
tensão complexas (fa- -
soriais)
b b

Figura 7.10: Equivalente de Thévenin.

Na Figura 7.10 tem-se:

ˆ V̂eq tensão nos terminais a e b com circuito aberto;

ˆ Zeq impedância da rede com as fontes de tensão internas zeradas.

Na análise do motor de indução, os pontos a e b são tomados imedia-


tamente à direita de jXm (observar o circuito da Figura 7.9), então o cir-
cuito equivalente simplicado pelo teorema de Thévenin é apresentado na
Figura 7.11.

Iˆ2

R1eq jX1eq a jX2


+
| {z }
Z1eq R2
V̂1eq
s
- b

Figura 7.11: Circuito equivalente simplicado (desconsiderando as perdas no


núcleo).

A tensão V̂1eq é a tensão que aparece nos terminais a e b (sobre jXm )


7.4. CONJUGADO E POTÊNCIA PELO TEOREMA DE THÉVENIN109

portanto basta realizar a divisão da tensão V̂1 entre Z1 = R1 + jX1 e jXm ,


o que resulta na equação a seguir.

 
jXm
V̂1eq = V̂1 · (7.33)
R1 + j(X1 + Xm )
A impedância Z1eq é a impedância vista dos terminais a, b com a tensão

V̂1 zerada (substituída por um curto-circuito). Portanto tem-se R1 + jX1 em


paralelo com jXm , ou seja:

jXm · (R1 + jX1 )


Z1eq = = R1eq + jX1eq . (7.34)
R1 + j(X1 + Xm )
Observe que se Rc não for desprezado, basta substituir jXm por (jXm k
Rc ) nas equações anteriores. Do circuito equivalente tem-se

V̂1eq
Iˆ2 = . (7.35)
R2
Z1eq + jX2 +
s
O conjugado é determinado por

 
R2
nf ases · I22 ·
s
Tmec = , (7.36)
ωs
 
R2
 
2
n f ases · · V1eq
1   s
Tmec = · 2
. (7.37)
ωs  R1eq + R2 + (X1eq + X2 )2 

s

R2
O conjugado máximo Tmax
ocorre quando a potência entregue a
s
é
R2
máxima. Pode-se demonstrar que isso ocorre quando a impedância for
s
igual o módulo da impedância R1eq + j(X1eq + X2 ) que está entre esta e V̂1eq .
Ou seja, Tmax ocorre para o escorregamento sTmax para o qual

R2 q
2
= R1eq + (X1eq + X2 )2 (7.38)
sTmax
R2
sTmax = q (7.39)
2
R1eq + (X1eq + X2 )2
110 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

o que resulta em

 
2
1  0, 5 · n f ases · V 1eq
Tmax = · q  (7.40)
ωs 2
R1eq + R1eq + (X1eq + X2 ) 2

Tmax não muda com R2 ,


Por isso, mas sTmax sim. Além disso, na partida
(n = 0) tem-se s = 1 e portanto:

2
nf ases · V1eq · R2
 
1
Tpartida = · (7.41)
ωs (R1eq + R2 )2 + (X1eq + X2 )2

Exemplo 11 Considere um motor de indução trifásico ligado em Y, de 6


polos, 220 V, 7,5 kW e que tem os seguintes parâmetros em Ω/f ase referidos
ao estator, considere 60 Hz.

R1 = 0, 294 X1 = 0, 503 Xm = 13, 25


R2 = 0, 144 X2 = 0, 209

Supondo condições nominais, determine:

a) A componente de carga I2 da corrente, o conjugado mecânico Tmec e a


potência Pmec para um escorregamento de 3%;

b) O conjugado máximo e a velocidade correspondente;

c) O conjugado de partida e a correspondente de carga I2partida .

Solução:

nf ases = 3 polos = 6

V1 = 220/ 3 = 127 V f = 60 Hz

a)  
jX m
V1eq = V̂1 · = 122, 3 V (7.42)
R1 + j(X1 + Xm )
7.4. CONJUGADO E POTÊNCIA PELO TEOREMA DE THÉVENIN111

jXm · (R1 + jX1 )


Z1eq = = 0, 273 +j 0, 495 (7.43)
R1 + j(X1 + Xm ) | {z } | {z }
R1eq X1eq

V1eq
I2 = p = 23, 9 A (7.44)
(R1eq + R2/s)2 + (X1eq + X2 )2

nf ases · I22 · (R2/s)


Tmec = = 65, 4 N.m (7.45)
ωs
onde  
2
ωs = · ωe = 125, 7 rad/s (7.46)
polos
 
2 R2
Pmec = nf ases · I2 · · (1 − s) = 7980 W (7.47)
s
b)
R2
sTmax = q = 0, 192 (7.48)
2
R1eq + (X1eq + X2 )2

n = (1 − s)ns = (1 − 0, 192) · 1200 = 970 rpm (7.49)

onde  
120
ns = f = 1200 rpm (7.50)
polos

 
2
1  0, 5 · n f ases · V1eq
Tmax = · q  = 175 N.m (7.51)
ωs 2
R1eq + R1eq + (X1eq + X2 ) 2

c)
V1eq
I2partida = p = 150A (7.52)
(R1eq + R2 )2 + (X1eq + X2 )2
2
nf ases · I2partida · R2
Tpartida T
= mec

= = 77 N.m (7.53)
s=1 ωs


112 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

T [N.m]

175

77 ponto de
65,4
operação

n [rpm]
0 970 1200
s
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

Figura 7.12: Curva de conjugado para a máquina do Exemplo 11.

I2 [A]

150

ponto de
operação
23,9

0 1200 n [rpm]
s
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

Figura 7.13: Corrente no rotor para a máquina do Exemplo 11.


7.4. CONJUGADO E POTÊNCIA PELO TEOREMA DE THÉVENIN113

Problemas propostos

Os problemas propostos a seguir foram extraídos/adaptados dos proble-


mas do Capítulo 6 do livro [1].

(1) A placa de um motor de indução de quatro polos, 460 V, 50 HP e 60 Hz


indica que sua velocidade com carga nominal é 1755 rpm. Suponha que
o motor esteja operando com a carga nominal.

a) Qual é o escorregamento do motor?

b) Qual é a frequência das correntes do rotor?

c) Qual é a velocidade angular da onda de uxo produzida pelo es-


tator no entreferro em relação ao estator? E em relação ao rotor?

d) Qual é a velocidade angular da onda de uxo produzida pelo rotor


no entreferro em relação ao estator? E em relação ao rotor?

(2) Um motor de indução trifásico funciona na velocidade de aproximada-


mente 1198 rpm a vazio e 1112 rpm a plena carga, quando alimentado
por uma fonte trifásica de 60 Hz.

a) Quantos polos este motor deve ter?

b) Qual é o escorregamento em porcentagem a plena carga?

c) Qual é a correspondente frequência das correntes do rotor?

d) Qual é a correspondente velocidade do campo do rotor em relação


ao rotor? E em relação ao estator?

(3) Um sistema como o mostrado na Figura 7.14 é usado para converter


tensões equilibradas de 50 Hz em outras frequências. O motor síncrono
tem quatro polos e aciona o eixo de acoplamento no sentido horário.
A máquina de indução tem seis polos e seus enrolamentos de estator
são conectados à fonte de modo a produzir um campo que gira em
sentido anti-horário (no sentido oposto à rotação do motor síncrono).
A máquina tem um rotor bobinado cujos terminais são levados para
fora por anéis deslizantes.

a) Com que velocidade o eixo gira?


114 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I

Fonte
trifásica

Aneis
deslizantes
Máquina Máquina
de indução síncrona
eixo

Terminais
do rotor

Figura 7.14: Interconexão entre máquinas de indução e síncrona para o Pro-


blema (3).

b) Qual é a frequência das tensões produzidas nos anéis deslizantes


do motor de indução?

c) Qual será a frequência das tensões produzidas nos anéis deslizantes


do motor de indução se dois terminais do estator do motor de
indução forem trocados entre si, invertendo o sentido de rotação
do campo girante resultante?

(4) Um motor de indução trifásico, ligado em Y, quatro polos, 460 V (ten-


são de linha), 25 kW e 60 Hz tem os seguintes parâmetros de circuito
equivalente em ohms por fase, referidos ao estator:

R1 = 0, 103 R2 = 0, 225 X1 = 1, 10 X2 = 1, 13 Xm = 59, 4

As perdas totais por atrito e ventilação podem ser consideradas cons-


tantes sendo de 265 W, e as perdas no núcleo podem ser consideradas
iguais a 220 W à vazio. Com o motor ligado diretamente a uma fonte
de 460 V, calcule a velocidade, o conjugado e a potência de saída no
7.4. CONJUGADO E POTÊNCIA PELO TEOREMA DE THÉVENIN115

eixo, a potência de entrada, o fator de potência e o rendimento para


escorregamentos de 1, 2 e 3 por cento. Você pode escolher entre repre-
sentar as perdas no núcleo por uma resistência ligada diretamente aos
terminais do motor, ou pela resistência Rc ligada em paralelo com a
reatância de magnetização Xm . Por m, crie uma tabela com os valores
pedidos para cada valor de escorregamento.

(5) Um motor de indução de gaiola de esquilo, trifásico, quatro polos,


15 kW, 230 V, 60 Hz e ligado em Y desenvolve, a plena carga, um
conjugado interno com escorregamento de 3,5 por cento, quando está
funcionando em tensão e frequência nominais. Para os propósitos deste
problema, as perdas no núcleo e as rotacionais podem ser desprezadas.
Os seguintes parâmetros do motor, em ohms por fase, foram obtidos:

R1 = 0, 21 X1 = X2 = 0, 26 Xm = 10, 1

Determine o conjugado interno máximo na tensão e frequência nomi-


nais, o escorregamento para o conjugado máximo, e o conjugado interno
de partida com tensão e frequência nominais.

(6) O motor de indução do Problema (5) é energizado a partir de uma fonte


de 230 V, por meio de um alimentador de impedância Zf = 0, 05+j0, 14
ohms. Encontre o escorregamento do motor e a tensão de terminal,
quando ele está fornecendo a carga nominal.

(7) Um motor de indução trifásico, operando com tensão e frequência no-


minais, tem um conjugado de partida de 135 por cento e um conjugado
máximo de 220 por cento, ambos relativos a seu conjugado de carga
nominal. Desprezando os efeitos da resistência de estator e das perdas
rotacionais, e assumindo uma resistência de rotor constante, determine:

a) O escorregamento para o conjugado máximo;

b) O escorregamento para a carga nominal;

c) A corrente do rotor na partida (como porcentagem da corrente de


rotor para carga nominal).
116 CAPÍTULO 7. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE I
Capı́tulo 8
Máquinas de Indução - Parte II

8.1 Regiões de operação

Considerando uma máquina de indução alimentada por uma fonte de


tensão e frequência constantes, a Equação (7.37) resulta em geral na forma
completa apresentada na Figura 8.1.

Região como motor: Durante o funcionamento normal do motor, o ro-


tor gira no sentido de rotação do campo magnético produzido pelas correntes
do estator, com velocidade entre 0 e ns (ou escorregamento entre 1 e 0).
Região de frenagem: O motor é acionado em sentido contrário ao do
campo magnético. A principal utilização é parar o motor por uma técnica
chamada frenagem por inversão de fases, onde um escorregamento próximo
de 0 passa a ser instantaneamente próximo de 2.
Região como gerador: O estator é alimentado por uma fonte de ten-
são trifásica normalmente, mas o rotor é acionado por uma força mecânica
externa acima da velocidade síncrona (escorregamento negativo).

Note na Figura 8.1 que nos quadrantes II e IV, o produto entre Tmec e
n é negativo, o que implica no uxo de potência entrando na máquina (do
lado mecânico para o elétrico). Por isso, costuma-se chamar a frenagem de
regenerativa.

117
118 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II

Tmec [N.m]

região como
motor
região de
frenagem

II I
0
III IV

região como
gerador

n [em % de ns ]
-100 0 100 200 300
s
2 1 0 -1 -2

Figura 8.1: Regiões de operação da máquina de indução.

8.2 Ensaios a Vazio e Rotor Bloqueado

Os parâmetros do motor de indução podem ser determinados a partir dos


resultados dos seguintes ensaios:

ˆ medida da resistência CC;

ˆ ensaio a vazio (sem carga);

ˆ ensaio de rotor bloqueado.

A seguir são apresentados os procedimentos para cada um dos ensaios.

1) Medida da resistência CC

Mede-se R1 diretamente. Como nos demais ensaios R1 é utilizado nos


cálculos das demais grandezas, sua medida deve ser realizada nas tem-
peraturas dos ensaios ou R1 deve ter seu valor corrigido.
8.2. ENSAIOS A VAZIO E ROTOR BLOQUEADO 119

2) Ensaio a vazio

Aplica-se tensões polifásicas equilibradas de frequência nominal nos


terminais do estator. Mede-se:

ˆ V1vz - tensão de fase [V];

ˆ I1vz - corrente de armadura [A];

ˆ Pvz - potência elétrica total de entrada [W].

Com a máquina a vazio, a corrente é a mínima necessária para produzir


conjugado suciente para superar as perdas associadas à rotação (atrito
2
e ventilação). Desprezando-se as perdas I · R do rotor, as perdas
rotacionais são:
2
Prot = Pvz − nf ases · Ivz · R1 (8.1)

Como o escorregamento a vazio svz é muito pequeno, a resistência do


rotor reetida ao primário (R2/svz ) é muito elevada. Como jXm está
em paralelo com (R2/svz + jX2 ), que é uma impedância muito elevada,
a reatância aparente vista nos terminais do estator a vazio é aproxima-
damente:
Xvz ≈ X1 + Xm (8.2)

Além disso, a potência reativa a vazio nos terminais do estator pode


ser determinada da Equação (8.3).

p q
Qvz = Svz − Pvz = (nf ases · V1vz · I1vz )2 − Pvz
2 2 2 (8.3)

Com isso a reatância a vazio pode ser calculada pela Equação (8.4).

Qvz
Xvz = 2
(8.4)
nf ases · I1vz
V1vz
Usualmente, a vazio Qvz  Pvz , o que torna Xvz ≈ I1vz
, ou seja, a
reatância é praticamente toda a impedância.

3) Ensaio do rotor bloqueado

Mede-se:

ˆ V1bl - tensão de fase [V];


120 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II

ˆ I1bl - corrente de armadura [A];

ˆ Pbl - potência elétrica polifásica total de entrada [W];

ˆ fbl - frequência utilizada no ensaio [Hz].

Realiza-se o ensaio de rotor bloqueado sob condições em que a corrente


e a frequência no rotor são aproximadamente as mesmas da máquina
operando nas condições de interesse de desempenho. Por exemplo:

ˆ Se o interesse é para escorregamentos próximos da unidade, utiliza-


se tensão e frequência nominais para obter correntes de rotor com
amplitude e frequência próximas as de partida;

ˆ Se o interesse é na operação normal (na região próxima às de


condições normais), reduz-se a tensão para resultar em aproxi-
madamente a corrente nominal. A frequência aplicada também
deve ser reduzida para resultar em frequências no rotor próximas
às que surgem em operação nominal, uma vez que a impedância
efetiva do rotor pode diferir consideravelmente de seus valores em
frequência nominal. A norma IEEE 112 [2] sugere uma frequência
de ensaio de 25% da frequência nominal.

Calcula-se a potência reativa de rotor bloqueado utilizando a Equa-


ção (8.5).

q q
Qbl = Sbl2 − Pbl2 = (nf ases · V1bl · I1bl )2 − Pbl2 (8.5)

Sendo assim, a reatância do rotor bloqueado corrigida para a frequência


nominal é determinada pela Equação (8.6).

fnom Qbl
Xbl = · 2
(8.6)
fbl nf ases · I1bl

A resistência de rotor bloqueado é determinada pela Equação (8.7) onde


Zbl = Rbl + jXbl é a impedância vista nos terminais durante o ensaio.

Pbl
Rbl = 2
(8.7)
nf ases · I1bl
8.2. ENSAIOS A VAZIO E ROTOR BLOQUEADO 121

Analisando-se o circuito equivalente do motor com rotor bloqueado


(s = 1), tem-se:

Zbl = R1 + jX1 + [ jXm k (R2 + jX2 )] (8.8)

2 Xm (R22 + X2 (Xm + X2 ))
   
Xm
Zbl = R1 + R2 +j X1 +
R22 + (Xm + X2 )2 R22 + (Xm + X2 )2
| {z } | {z }
Rbl Xbl
(8.9)

Para simplicar pode-se supor a aproximação a seguir, sabendo que


R 2  Xm .  2
Xm
Rbl = R1 + R2 (8.10)
X2 + X m
 
Xm
Xbl = X1 + X2 (8.11)
X2 + Xm
Isolando R2 e X2 :
 2
X2 + Xm
R2 = (Rbl − R1 ) (8.12)
Xm
 
Xm
X2 = (Xbl − X1 ) (8.13)
Xm + X1 − Xbl

Substituindo Xm = Xvz − X1 na equação anterior, obtém-se:

 
Xvz − X1
X2 = (Xbl − X1 ) (8.14)
Xvz − Xbl

Problema: Não é possível realizar uma medida adicional que desacople


X1 e X2 para determiná-los de maneira única e independente. Felizmente,
o desempenho do motor é pouco afetado pelo modo que as reatâncias são
distribuídas entre X1 e X2 . A norma IEEE 112 recomenda a distribuição
empírica apresentada na Tabela 8.1.
122 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II

Tabela 8.1: Razão entre X1 e X2 para as classes do motor de indução

Classe do Motor Descrição X1/X2

Conjugado de partida normal,


A corrente de partida normal
1
Conjugado de partida normal,
B corrente de partida baixa
4/6

Conjugado de partida elevado,


C corrente de partida baixa
3/7

Conjugado de partida elevado,


D escorregamento elevado
1
O desempenho varia segundo
Rotor bobinado a resistência externa
1

Sendo assim, é possível encontrar X2 com a Equação (8.15), X1 utilizando


a Tabela 8.1, Xm com a Equação (8.2) e por m R2 .
 
Xvz − X1
X2 = (Xbl − X1 ) (8.15)
Xvz − Xbl

 2
X2 + Xm
R2 = (Rbl − R1 ) (8.16)
Xm

Exemplo 12 Os seguintes dados referem-se a um motor de indução trifá-


sico de 4 polos conectado em Y, 7, 5 HP, 220V , 19A e 60Hz com um rotor
de dupla gaiola da classe C de projeto.

Ensaio 1: a vazio em 60Hz

tensão de linha aplicada: 219V


corrente de fase: I1vz = 5, 7A
potência: Pvz = 380W

Ensaio 2: rotor bloqueado em 15Hz


8.2. ENSAIOS A VAZIO E ROTOR BLOQUEADO 123

tensão de linha aplicada: 26, 5V


corrente de fase: I1bl = 18, 57A
potência: Pbl = 675W

Ensaio 3: resistência CC do estator por fase (medida logo após o Ensaio 2)

resistência: R1 = 0, 262 Ω

Calcule:

a) as perdas rotacionais a vazio;

b) os parâmetros do circuito equivalente que se aplicam às condições no-


minais de operação. Suponha que a temperatura seja a do ensaio 3.

Solução:

a) Para o cálculo das perdas rotacionais a vazio utiliza-se a Equação (8.1).

2
Prot = Pvz − nf ases · I1vz · R1 (8.17)

Prot = 380 − 3 · 5, 72 · 0, 262 (8.18)

Prot = 354W (8.19)

b) Para o cálculo dos parâmetros do circuito equivalente utiliza-se as equa-


ções a seguir.
219
V1vz = √ = 126, 4V (8.20)
3
q
Qvz = (nf ases · V1vz · I1vz )2 − Pvz
2 = 2128 V Ar (8.21)

Qvz
Xvz = 2
= 21, 8 Ω (8.22)
nf ases · Ivz
124 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II

26, 5
V1bl = √ = 15, 3V (8.23)
3
q
Qbl = (nf ases · V1bl · I1bl )2 − Pbl2 = 520 V Ar (8.24)

fnom Qb1
Xbl = · 2
= 2, 01 Ω (8.25)
fbl nf ases · I1bl
Para motor de classe C, segundo a Tabela 8.1, X1 corresponde a apro-
ximadamente 30% da soma X1 + X2 , ou seja:

X1 3
= (8.26)
X2 7

Usando a Equação (8.15):

0, 184 · X22 − 30, 29 · X2 + 44, 22 = 0 (8.27)

que tem duas soluções, mas apenas uma leva a um signicado físico
correto de todos os parâmetros:
(
1, 48 Ω
X2 = X X  pois X2 < Xvz
163,
 X1XΩ

X

Sendo assim
3
X1 = · 1, 48 = 0, 633 Ω (8.28)
7

Xm = Xvz − X1 = 21, 17 Ω (8.29)

Para determinar R2
Pbl
Rbl = 2
= 0, 652 Ω (8.30)
nf ases · I1bl
 2
X2 + X m
R2 = (Rbl − R1 ) · = 0, 447 Ω (8.31)
Xm

8.3. EFEITOS DA RESISTÊNCIA DO ROTOR 125

8.3 Efeitos da Resistência do Rotor

O efeito de diferentes resistências de rotor nas curvas de conjugado e


corrente pode ser visto na Figura 8.2. Note que o valor de Tmax não muda,
apenas o seu respectivo valor de escorregamento sTmax .

T I2
Tmax I20 partida R200 > R20
00
Tpartida
I200partida

Tcarga
0 I2carga
Tpartida
n n
s
0
s00Tmax s0Tmax ns s
0
ns
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

(a) (b)

Figura 8.2: Efeito da variação de R2 nas curvas (a) de conjugado e (b) de


corrente de carga.

i) R2 elevado: proporciona boas condições de partida (conjugado ele-


vado e corrente baixa), mas pobre desempenho à plena carga (alto
escorregamento).

ii) R2 baixo: correntes de partida mais severas, mas um bom rendimento


à plena carga.

O projeto de uma máquina de indução deve ter um compromisso entre


essas características.

8.3.1 Maneiras de evitar o compromisso


ˆ uso de sistema de acionamento (inversor) para controlar a amplitude e
frequência da tensão aplicada;

ˆ rotor bobinado com resistências aumentadas externamente durante a


partida;
126 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II

ˆ auto-transformadores de partida;

ˆ partida estrela-triângulo.

Além dessas formas, é possível construir um motor de rotor gaiola cuja


resistência do rotor varie com o escorregamento, ou seja, com a velocidade.
Este é o motor de indução de dupla gaiola.

Motor de indução de gaiola dupla


No tipo gaiola dupla, tem-se dois tipos de barras (em paralelo):

ˆ Externas: construídas com área de seção menor e material mais resis-


tivo (geralmente bronze);

ˆ Internas: seção maior e material menos resistivo (cobre).

(a) (b)

Figura 8.3: Gaiola (a) simples e (b) dupla.

Por causa da maneira como as linhas de uxo cortam as barras, tem-se


que as mais internas têm uma maior indutância de dispersão. Para n=0
(s = 1), onde fr = fe , as correntes induzidas nas mais internas são pequenas
devido à alta reatância. A resistência efetiva do rotor é praticamente igual a
resistência das mais externas (alta). Para velocidades maiores, a frequência
do rotor diminui até se aproximar de zero (na velocidade síncrona) então
a reatância interna se torna desprezível e, consequentemente, a resistência
efetiva se aproxima à das duas barras em paralelo (baixa).
8.3. EFEITOS DA RESISTÊNCIA DO ROTOR 127

T gaiola
dupla

ext
ern
a

a
ern
int

n
0 ns
s
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

Figura 8.4: Torque produzido por cada gaiola e o total da máquina de gaiola
dupla.

8.3.2 Classes de máquinas de indução


De acordo com suas características construtivas, as máquinas de indução
1
se dividem em quatro classes :


• baixo torque de partida

A • gaiola única

• uso geral



 • baixo torque de partida

• menores correntes do que a classe A (≈75%)
B


 • gaiola dupla
• uso geral

1 De acordo com a National Electric Manufacturers Association (NEMA).


128 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II



 • alto torque e baixa corrente

 • gaiola dupla com resistência maior
C


 • aplicações principais: compressores, transportadoras industriais

(esteiras e outras que exigem partida forte)


 • alto torque com máximo escorregamento elevado

• baixa eciência à altas velocidades





• elevada resistência
D


 • aplicações em cargas que necessitam partida forte

e muitas vezes consecutivas: prensas, perfuradoras e máquinas de





corte de chapas metálicas

A forma típica do conjugado produzido por cada uma das classes é apre-
sentada na Figura 8.5.

T [em % de Tnom ]

300
D A

250
C

200

150 B

100

50

n
0 ns
s
1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0

Figura 8.5: Formas de conjugado produzido por cada classe de máquina.


8.3. EFEITOS DA RESISTÊNCIA DO ROTOR 129

Problemas propostos

Os problemas propostos a seguir foram extraídos/adaptados dos proble-


mas do Capítulo 6 do livro [1].

(1) Quando está funcionando em tensão e frequência nominais, um motor


trifásico de indução de gaiola de esquilo (classicado como sendo do
tipo de escorregamento alto) apresenta, a plena carga, um escorrega-
mento de 8,7 por cento, além de desenvolver um conjugado máximo
de 230 por cento da carga plena com um escorregamento de 55 por
cento. Despreze as perdas rotacionais e as de núcleo, assumindo que a
resistência do rotor e a indutância permaneçam constantes, não depen-
dendo do escorregamento. Determine, na tensão e frequência nominais,
a razão entre o conjugado de partida e o seu valor a plena carga.

(2) Uma máquina de indução de quatro polos, 500 kW, 2400 V e 60 Hz


tem os seguintes parâmetros de circuito equivalente, em ohms por fase,
referidos ao estator:

R1 = 0, 122 R2 = 0, 317 X1 = 1, 364 X2 = 1, 32 Xm = 45, 8


Esta máquina atinge a saída nominal no eixo quando o escorregamento
é de 3,35 por cento, com um rendimento de 94,0 por cento. A máquina
deve ser usada como gerador, impulsionado por uma turbina eólica e
será ligada a um sistema de distribuição que pode ser representado por
um barramento innito de 2400 V.

a) A partir dos dados fornecidos, calcule as perdas rotacionais e no


núcleo na situação de carga nominal;

b) Com a turbina eólica girando a máquina de indução com um es-


corregamento de −3.2 por cento, calcule:

i) a potência elétrica de saída em kW;

ii) o rendimento (potência de saída no eixo pela potência de en-


trada);

iii) o fator de potência medido nos terminais da máquina.

c) O sistema real de distribuição ao qual o gerador está conectado


tem uma impedância efetiva de 0, 18 + j0, 41 Ω/fase. Para um es-
corregamento de -3,2 por cento, calcule a potência elétrica medida
nos seguintes pontos:
130 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II

i) No barramento innito;

ii) Nos terminais da máquina.

(3) Para um motor de indução trifásico de gaiola de esquilo de 25 kW,


230 V, 60 Hz, operando com tensão e frequência nominais, as perdas
I 2 R na condição de máximo conjugado são 9,0 vezes a do caso de
conjugado a plena carga, e o escorregamento a plena carga é 0,023. A
resistência do estator e as perdas rotacionais podem ser desprezadas
e assume-se que a resistência e a indutância do rotor são constantes.
Expressando o conjugado como uma razão do conjugado a plena carga,
determine:

a) O escorregamento para o conjugado máximo;

b) A razão entre o conjugado máximo e o de plena carga;

c) A razão entre o conjugado de partida e o de plena carga.

(4) Os dados a seguir se referem a um motor de indução trifásico de gaiola


de esquilo de 125 kW, 2300 V, quatro polos, 60 Hz:

Resistência do estator entre os terminais de uma fase = 2, 23 Ω

Ensaio à vazio com tensão e frequência nominais:

Corrente de linha = 7, 7 A Potência trifásica = 2870 W

Ensaio de rotor bloqueado em 15 Hz:

Tensão de fase = 268 V Corrente de linha = 50, 3 A

Potência trifásica = 18, 2 kW

a) Calcule as perdas rotacionais;

b) Calcule os parâmetros do circuito equivalente em ohms. Assuma


que X1 = X2 ;
c) Calcule a corrente de estator, a potência de entrada com o fa-
tor de potência, a potência de saída e o rendimento, quando esse
motor está operando em tensão e frequência nominais, com um
escorregamento de 2,95 por cento.
8.3. EFEITOS DA RESISTÊNCIA DO ROTOR 131

(5) Um motor de indução de gaiola, trifásico, seis polos, 230 V e 60 Hz


desenvolve um conjugado interno máximo de 288 por cento, com um
escorregamento de 15 por cento, quando está funcionando em tensão
e frequência nominais. Se o efeito da resistência de estator for des-
prezado, determine a razão entre o conjugado interno máximo que esse
motor iria desenvolver se fosse operado a 190 V e 50 Hz e o conjugado a
plena carga. Sob essas condições, em que velocidade seria desenvolvido
o conjugado máximo?

(6) Um motor de indução de rotor bobinado, trifásico, quatro polos, 75 kW,


50 Hz e 460 V desenvolve conjugado de plena carga a 1438 rpm, com o
rotor curto-circuitado. Uma resistência externa não indutiva de 1,1 Ω
é colocada em série com cada fase do rotor. A seguir, observa-se
que o motor desenvolve o seu conjugado nominal para a velocidade
de 1405 rpm. Calcule a resistência do rotor, por fase, deste motor.

(7) Um motor de indução de rotor bobinado, trifásico, seis polos, 100 kW,
60 Hz e 460 V desenvolve a potência de plena carga na velocidade de
1158 rpm, quando está funcionando em tensão e frequência nominais e
com o rotor curto-circuitado diretamente nos seus anéis deslizantes. O
conjugado máximo, que pode ser desenvolvido quando está funcionando
em tensão e frequência nominais, é 310 por cento do conjugado de plena
carga. A resistência do enrolamento do rotor é 0,17 Ω/fase Y. Despreze
quaisquer efeitos de perdas rotacionais e suplementares, e da resistência
do estator.

a) Calcule as perdas I 2R do rotor a plena carga;

b) Calcule a velocidade no conjugado máximo em rpm;

c) Qual valor de resistência deve ser inserido em série com os enro-


lamentos do rotor para produzir o conjugado máximo de partida;

Com os enrolamentos de rotor curto-circuitados, o motor opera


agora a partir de uma fonte de 50 Hz cuja tensão aplicada é ajus-
tada de modo que a onda de uxo no entreferro seja essencialmente
igual à de operação em 60 Hz.

d) Calcule a tensão aplicada de 50 Hz.

e) Calcule a velocidade na qual o motor irá desenvolver um conjugado


igual ao de 60 Hz, com seus anéis deslizantes curto-circuitados.
132 CAPÍTULO 8. MÁQUINAS DE INDUÇÃO - PARTE II
Capı́tulo 9
Máquinas de Corrente Contínua

Em geral, a vantagem mais marcante das máquinas CC, cuja representa-


ção axial e seus principais componentes podem ser vistos na Figura 9.1, é sua
exibilidade e versatilidade. Antes da ampla disponibilidade atual de siste-
mas de acionamento de motores CA, as máquinas CC eram essencialmente a
única escolha disponível para muitas aplicações que necessitavam de um alto
nível de controle. Suas principais desvantagens decorrem da complexidade
associada ao enrolamento de armadura (no rotor) e do sistema comutador/es-
covas. Essa complexidade adicional não apenas eleva os custos como também
a necessidade de manutenção e reduz potencialmente a conabilidade dessas
máquinas. Mesmo assim, as vantagens dos motores CC continuam mantendo
uma forte posição competitiva tanto em grandes aplicações industriais quanto
em uma ampla variedade de pequenas aplicações.

A versatilidade dos motores CC decorre principalmente das diversas for-


mas como seus enrolamentos de campo e de armadura podem ser conectados
entre si e a uma fonte de tensão externa (série, paralelo, excitação indepen-
dente, imãs permanentes, dentre outras). As características dos principais
tipos de conexão são descritas a seguir. O motor série opera com uma notável
queda de velocidade quando cargas são adicionadas, e a velocidade sem carga
costuma ser proibitivamente alta; o conjugado é proporcional à praticamente
o quadrado da corrente de armadura com baixos níveis de uxo e proporcio-
nal à alguma potência entre 1 e 2 a medida que a saturação do uxo aumenta.
O motor paralelo (ou shunt ) para uma corrente de campo constante opera
com uma pequena queda, mas com a velocidade praticamente constante à
medida que cargas são adicionadas, o conjugado é praticamente proporcio-

133
134 CAPÍTULO 9. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA

escovas

interpolo

campo

armadura
comutador

Figura 9.1: Vista axial de uma máquina CC.

nal à corrente de armadura e a velocidade pode ser facilmente controlada


para uma ampla escala de valores. A máquina com excitação independente
permite um maior controle, misturando as características dos tipos anterio-
res ao custo de uma maior complexidade. Em compensação, a máquina CC
com imãs permanentes no estator apresenta maior simplicidade, mas não há
controle do uxo de campo.

Em uma extensa variedade de aplicações de baixa potência, com sistemas


que operam a partir de uma fonte CC (aplicações automotivas, eletrônica por-
tátil, etc.), as máquinas CC são a opção mais efetiva em custo. As máquinas
CC são construídas com uma larga faixa de congurações e muitas delas
baseiam-se na excitação com imã permanente (que é equivalente à conexão
com excitação independente xando-se a tensão aplicada ao enrolamento de
campo). Apesar da ampla variedade de máquinas CC que podem ser encon-
tradas nessas diversas aplicações, os seus desempenhos podem ser facilmente
determinados usando-se modelos matemáticos simples para sua dinâmica no
tempo ou em regime permanente. Para mais informações sobre máquinas
CC sugere-se a Referência [1, Capítulo 7].
9.1. MODELO MATEMÁTICO DINÂMICO 135

9.1 Modelo Matemático Dinâmico

As equações diferenciais apresentadas a seguir são gerais para todos os


tipos de máquinas CC e foram determinadas basicamente através do equa-
cionamento de malhas utilizando as Leis de Kirchho nos circuitos elétricos
e a Lei de Newton do somatório das forças (conjugados, neste caso) no eixo
para o movimento mecânico.

dia (t)
Va (t) = Ra ia (t) + La + Ea (t) (9.1)
dt
dif (t)
Vf (t) = Rf if (t) + Lf (9.2)
dt
dωm (t)
Te (t) = J + Bωm (t) + TL (t) (9.3)
dt
onde

Ea (t) = Laf if (t)ωm (t) (9.4)

Te (t) = Laf if (t)ia (t) (9.5)

ˆ Va - Tensão aplicada nos terminais do enrolamento de armadura [V];

ˆ Vf - Tensão aplicada nos terminais do enrolamento de campo [V];

ˆ Ea - Força contra-eletromotriz induzida [V];

ˆ ia - Corrente no enrolamento de armadura [A];

ˆ if - Corrente no enrolamento de campo [A];

ˆ Ra - Resistência do enrolamento de armadura [Ω];

ˆ Rf - Resistência do enrolamento de campo [Ω];

ˆ La - Indutância própria do enrolamento de armadura [H];

ˆ Lf - Indutância própria do enrolamento de campo [H];


136 CAPÍTULO 9. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA

ˆ Laf - Indutância mútua armadura-campo [H];

ˆ ωm - Velocidade angular mecânica do rotor [rad/s];

ˆ J 2
- Momento de inércia [kg.m ];

ˆ B - Coeciente de atrito [N.m.s/rad];

ˆ Te - Conjugado eletromagnético total produzido pela máquina [N.m];

ˆ TL - Conjugado de carga [N.m];

O comportamento da máquina CC é dependente do tipo de conexão utili-


zado. Para o caso de conexão em paralelo aplica-se a mesma tensão contínua
nos enrolamentos de campo e de armadura (Vf = Va ); para o caso da má-
quina série os enrolamentos são conectados em série (portanto if = ia ); e
para o caso de excitação independente (Vf 6= Va e if 6= ia ) a máquina pode
ser controlada tanto regulando-se Vf quanto Va , mantendo a outra tensão
constante.

9.2 Equações da Máquina CC em Regime Per-


manente

Em regime permanente, o transitório da máquina já cessou e portanto


as derivadas em (9.1)-(9.3) são nulas. Assim obtém-se as equações de re-
gime permanente apresentadas para os três principais tipos de conexão na
Tabela 9.1. Para o caso da máquina de imãs permanentes, as equações são
as mesmas que a do caso de excitação independente, entretanto, não há cor-
rente de campo, por isso, o produto Laf if é substituído por um valor kf
1
denominado constante de uxo .

1 Uma máquina de imãs permanentes é matematicamente idêntica a uma máquina de


excitação independente com uma corrente if que produz o mesmo uxo que os imãs per-
manentes.
9.2. EQUAÇÕES DA MÁQUINA CC EM REGIME PERMANENTE 137

Tabela 9.1: Equações de regime permanente da máquina CC.

Excitação
Conexão série Conexão paralelo
independente

Vf 6= Va Vf = Va Vf 6= Va

if = ia if 6= ia if 6= ia

Va − Ea Va − Ea Va − Ea
ia = ia = ia =
Ra + Rf Ra Ra

Vf Va Vf
− if = = if =
Rf Rf Rf

Ea = Laf if ωm
Ea = Laf if ωm Ea = Laf if ωm
= Laf ia ωm

Te = Laf if ia
Te = Laf if ia Te = Laf if ia
= Laf i2a

Pentrada = Va ia + Vf if
Pentrada = (Va + Vf )ia Pentrada = Va ia + Vf if
= Va (ia + if )

Psaida = ωm Te Psaida = ωm Te Psaida = ωm Te

Te = Bωm + TL Te = Bωm + TL Te = Bωm + TL


138 CAPÍTULO 9. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA

Problemas propostos

(1) Os parâmetros de uma máquina CC em paralelo são: Rf = 240 Ω, Lf =


120 H, Laf = 1, 8 H, Ra = 0, 6 Ω, La = 0. O torque de carga é 5 N.m e
Va = Vf = 240 V. Calcule a velocidade do rotor em regime permanente.
Considere o torque ocasionado por atrito desprezível, comparado ao
torque de carga.

(2) Um motor CC com excitação independente tem os seguintes parâme-


tros:Ra = 8 Ω e Laf = 0, 01 H. A carga no eixo do motor é aproximada
−6
por TL = D.ωm , com D = 5 × 10 N.m.s/rad. A tensão aplicada nos
terminais de armadura é 6 V, a corrente de campo é 1 A e o coeciente
de atrito é nulo. Calcule a velocidade em regime permanente, em rad/s.

(3) Um motor CC em paralelo de 600 rpm, 200 HP (valores nominais) está


operando com potência (mecânica) e velocidade nominais. O torque
ocasionado por atrito pode ser considerado desprezível. Sendo Rf =
12 Ω, Laf = 0, 18 H e Ra = 0, 012 Ω:

a) Sabendo que Pout = TL · ωm e 1 HP equivale a 745, 7 W, calcule


a tensão que deve ser aplicada nos terminais da máquina para
atingir tal condição de carga e velocidade;

b) Calcule as perdas ôhmicas com carga nominal e determine a eci-


ência.

(4) Um motor CC série tem os seguintes parâmetros: TL = 100 N.m,


Laf = 0, 6 H, Ra = 2 Ω, Rf = 3 Ω, B = 0. A tensão aplicada
nos terminais do motor é 200 V (motor de grande porte). Calcule a
velocidade e a corrente (a corrente de armadura é a mesma do campo)
em regime permanente.

(5) Um motor CC série é conectado a uma fonte de 500 V. A potência


de saída do motor (torque de carga vezes velocidade) é de 10 kW a
1200 rpm. A eciência do motor é 92%. Desprezando as perdas por
atrito, determine o torque de carga e a corrente.

(6) Seja um motor CC shunt com os seguintes parâmetros: Rf = 60 Ω,


Laf = 0, 1 Vf = Va = 60 V, tal motor
H. Com tensão de armadura
−3
aciona uma carga que pode ser aproximada por TL = 1 × 10 · ωm , com
9.2. EQUAÇÕES DA MÁQUINA CC EM REGIME PERMANENTE 139

corrente de armadura ia =3 A em regime permanente. O coeciente


−4
de atrito é B = 5 × 10 N.m.s/rad.

a) Calcule a velocidade em rad/s e em rotações/min em regime per-


manente;

b) Calcule a resistência de armadura;

c) Calcule o torque total gerado no eixo do motor em regime perma-


nente;

d) Calcule a velocidade e a corrente de armadura caso a carga seja


substituída por outra com valor constante de 0, 3 N.m e a tensão
de entrada seja também mantida constante em 60 V.

(7) Um motor CC de ímãs permanentes é acionado com tensão de armadura


Va = 20 V. A resistência de armadura é Ra = 1 Ω e a constante de uxo
é kf = 0, 2 V.s/rad. Sabendo que a velocidade ωm é maior que 50 rad/s,
calcule o torque de carga e a velocidade ωm para que a potência de saída
seja igual a 8 W. Despreze o coeciente de atrito.
140 CAPÍTULO 9. MÁQUINAS DE CORRENTE CONTÍNUA
Referências Bibliográcas

[1] A. E. Fitzgerald, C. Kingsley, and S. D. Umans. Máquinas Elétricas.


Bookman, 2006.

[2] IEEE. IEEE standard test procedure for polyphase induction motors and
generators. IEEE Std 112-2017 (Revision of IEEE Std 112-2004), pages
1115, Fevereiro 2018.

[3] Jornal de Itaipu Eletrônico (JIE). Instalação do rotor na casa de máqui-


nas. Disponível em: http://jie.itaipu.gov.br, Outubro 2013.

141
142 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Solução dos Problemas Propostos

A seguir são apresentadas as respostas de alguns dos problemas propostos


ao longo deste material.

Capítulo 4

Problema (1): (a) 1200 rpm; (b) 1126 A; (c) 0,937 Wb.
Problema (2): 10,4 kV.
Problema (3): 39 espiras.
Problema (4): (a) 10,8 mWb; 0,525 T (b) 0,65 A; (c) 0,69 H.
Problema (5): 4, 39 × 10 N.m; 828 MW.
6

Capítulo 5

Problema (1): (a) 49,8 mH; (b) 1, 77 × 103 −41, 3◦ V; 160 A.


Problema (2): (a) 1,14; (b) 3,85 Ω/fase; (c) 3,04 Ω/fase.
Problema (3): 4880 kW; 97,6%.
Problema (4): (b) 733 A; 710 A; (c) i) 1,03; ii) 1,533 Ω/fase; iii) 1,27 Ω/fase.

Capítulo 6

Problema (1): (a) 3,15 Ω/fase; (b) 2,35 90◦ kA; (c) 2,43 −90◦ kA. Falta aqui a resposta do
Problema (2)
Problema (2): (a) - ; (b) - .
Problema (3):

(a) 75,2 ; 150 MW; (b) 135 MW.
Problema (4):

(a) 157 MW; 54,0 ; (b) 140 MW.

143
144 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Problema (5): (a) 13,53 A; (b) 3,4 Ω; (c) 108 V (fase-neutro).

Capítulo 7

Problema (1): (a) 2,5%; (b) 1,5 Hz; (c) 1800 rpm; 45 rpm; (d) 1800 rpm;
45 rpm.
Problema (2): (a) 6 polos; (b) 7,33%; (c) 4,4 Hz; (d) 88 rpm; 1200 rpm.
Problema (3): (a) 1500 rpm; (b) 125 Hz; (c) 25 Hz.
Problema (4):

s [%] 1 2 3
n [rpm] 1782 1764 1746
Teixo [N.m] 44,61 88,40 126,86
Peixo [kW] 8,324 16,329 23,195
Pentrada [kW] 8,948 17,330 24,772
FP 0,90 0,93 0,92
η [%] 93,03 94,23 93,64

Problema (5): 177 N.m; 17,2%; 71,6 N.m.


Problema (6): 3,87%; 221,3 V (tensão de linha).
Problema (7): (a) 34,3%; (b) 8,24%; (c) 405%.

Capítulo 8

Problema (1): (a) 208%.


Problema (2): (a) 3,16 kW; 4,24 kW; (b) i) 516,58kW; ii) 95,13%; iii)
0,89; (c) i) 502,87 kW; ii) 581,53 kW.
Problema (3): (a) 9,48%; (b) 2,18; (c) 0,41.
Problema (4): R1 = 2, 23 Ω; R2 = 0, 19 Ω; X1 = 9, 79 Ω;
(a) 2473 W; (b)
X2 = 9, 79 Ω; Xm = 161, 9 Ω; (c) Pentrada = 96, 67 kW; FP=0,38; Psaida =
67, 37 kW; η = 69, 69%.
Problema (5): 0,983; 820 rpm.
Problema (6): 2,07 Ω.
Problema (7): (a) 3,63 kW; (b) 947 rpm; (c) 0,635 Ω; (d) 383 V (tensão
de linha); (e) 958 rpm.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 145

Capítulo 9

Problema (1): 132,4rad/s.


Problema (2): 428,57rad/s.
Problema (3): (a) 180,99 V; (b) 11,91 kW; 92,6%.
Problema (4): 17,49 rad/s; 12,91 A.
Problema (5): 79,58 N.m; 21,74 A.
Problema (6): (a) 200 rad/s; 1909,86 rpm; (b) 10,33 Ω; (c) 0,3 N.m; (d)
120 rad/s; 3,6 A.
Problema (7): 81,67×10
−3
N.m; 97,96 rad/s.

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