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ANDRESSA SÖRENSEN
ANDRESSA SÖRENSEN
BANCA EXAMINADORA
Este momento significa a realização de um sonho. Não foi fácil, mas hoje me
sinto orgulhosa de ter conseguido ser psicóloga, profissão que escolhi seguir, honrar
e, sem dúvida, servir.
Agradeço ao meu companheiro de vida, Vagner, por ter sonhado junto comigo
e não ter medido esforços para que esse sonho hoje se tornasse realidade; por ter
respeitado os meus momentos de ausência e por ter me encorajado em momentos
de dificuldades.
Aos meus pais e meus irmãos, que acreditaram comigo que esse sonho seria
possível; que confiaram e me deram todo o apoio necessário para que eu pudesse
chegar até aqui. Hoje esta conquista é nossa.
Aos meus sobrinhos que são a luz da minha vida.
À minha avó Áurea que, em todo este percurso, sempre me apoiou, torceu e
orou muito para que eu realizasse este sonho.
A vocês o meu profundo agradecimento – minha família, minha base.
À minha orientadora, Angela Drügg, pelo caminho percorrido em conjunto,
pelo conhecimento compartilhado, pela paciência e por me ajudar a evoluir tanto
profissional quanto pessoalmente.
Às colegas e amigas Aline A. Lindner, Marisa Scherer, Dalva A. Victor e
Karine T. Schneider, pelo tempo que passamos juntas, dividindo nossas
experiências.
Aos amigos, familiares e colegas, por se permitirem ouvir e compreender
minhas angústias durante as experiências dos estágios de ênfase e também no
decurso da elaboração deste trabalho, além de entenderem a minha ausência em
alguns momentos.
Agradeço a Deus por ter me permitido chegar até aqui e por ter me protegido
durante esta caminhada.
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RESUMO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................7
REFERÊNCIAS.........................................................................................................32
7
INTRODUÇÃO
desejo alcançado, e é essa abertura que marcará o sujeito em sua eterna busca
pelo objeto que supostamente o fará alcançar a satisfação.
Muitas questões surgem a partir do estudo de vários teóricos sobre a
psicanálise com crianças: Quem é essa criança da psicanálise? Como se constitui?
É possível uma psicanálise com crianças?
Durante muitos anos estas perguntas foram alvo de teóricos que tentavam de
toda maneira respondê-las, cada um com sua linha de pensamento.
Pode-se considerar que a psicanálise com crianças teve seu marco inicial
com o caso do pequeno Hans, publicado por Freud em 1909. Este caso teve uma
peculiaridade: o tratamento foi realizado pelo pai do menino, Max Graf, sob
supervisão de Freud, que se encontrou com o menino apenas uma vez.
Segundo Marra (2005, p. 26),
até então tudo que se sabia sobre o mundo interno infantil era baseado em
observações e escuta de adultos através da análise de pacientes do próprio
Freud. O trabalho obteve êxito com o desaparecimento dos sintomas
fóbicos de Hans, entretanto, nenhuma sistematização técnica foi elaborada,
visto que, tratou-se na época de uma urgência a ser trabalhada para alívio
dos sintomas de Hans e não a busca por uma forma de atendimento de
crianças, na realidade de uma improvisação que em certa medida deu certo.
[...] o próprio tratamento foi efetuado pelo pai da criança, sendo a ele que
devo meus agradecimentos mais sinceros por permitir publicar suas
observações acerca do caso [...]. Ninguém mais poderia, em minha opinião,
ter persuadido a criança a fazer quaisquer declarações como as dela; o
conhecimento especial pelo qual ele foi capaz de interpretar as observações
feitas por seu filho de cinco anos era indispensável; sem ele as dificuldades
técnicas no caminho da aplicação da Psicanálise numa criança tão jovem
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Foi a partir do caso Hans que Freud estabeleceu os pontos essenciais para
que uma análise com crianças fosse possível, ou seja, a demanda, a transferência e
a interpretação.
A demanda normalmente vem expressa pelos pais ou pelos adultos
responsáveis pela criança. A transferência, segundo Freud (1912), no caso da
análise de crianças, precisa da junção da “autoridade paterna com a autoridade
médica”.
O terceiro ponto essencial para que uma análise seja possível é a
interpretação. Freud demonstrou a importância da interpretação ao entender a fobia
do pequeno Hans por cavalos como sendo um medo da retaliação paterna pelos
desejos eróticos pela mãe. Essa interpretação, segundo ele possibilitou a cura da
neurose.
Freud (1909), com esses pontos e a partir do caso do pequeno Hans, lançou
as bases teóricas para análise de crianças, mas ainda levaria muito tempo para que
ela se desenvolvesse. Faltava um elemento fundamental para a clínica com
crianças: a descoberta do brincar como um recurso que o terapeuta utiliza para ter
acesso ao inconsciente infantil.
A psicanálise tem como objeto o sujeito, seja ele uma criança ou um adulto,
no entanto não podemos esquecer que a psicanálise com crianças tem uma
especificidade em relação à clínica de adultos, uma vez que a criança, por
características comportamentais que lhe são próprias, não pode cumprir com a regra
fundamental da análise, ou seja, a associação livre. Por isso foi fundamental a
descoberta do brincar como um equivalente da associação livre, pois, por meio dele,
a criança sente-se livre; ela brinca com o que encontrar em sua frente, sendo esse
um modo natural de ela se expressar.
Na História da psicanálise foi, inicialmente, às mulheres que coube o papel de
analisar crianças. Isso foi decorrente de uma época em que não era bem-visto que
as mulheres ingressassem nas universidades e com isso pudessem seguir uma
carreira profissional. Era possível, no entanto, que ingressassem nas escolas,
atuando como professoras. Algumas, a partir daí, passavam a praticar a psicanálise,
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Foi no campo da psicanálise com crianças que Anna Freud foi reconhecida
por seus trabalhos. Anna recebeu influências de Hermine Von Hug-Hellmuth e, tal
como ela, recomendava ao analista de criança desempenhar um papel ativamente
pedagógico.
A discussão entre Melanie Klein e Anna Freud girava em torno da
analisabilidade da criança. Estudavam se seria possível organizar uma análise com
ela tal qual o adulto estabelece, e, ainda, se haveria capacidade de associar
livremente, internalizar conflitos psíquicos, haver estabelecimento de uma neurose
infantil e possibilidade de instituir uma neurose transferencial.
Durante suas pesquisas, Anna Freud estudou o comportamento das crianças
em seu ambiente escolar e observou que tipos de brinquedos eram mais utilizados
em cada etapa do desenvolvimento infantil e, aplicando conceitos psicanalíticos a
essas observações, forneceu uma orientação prática para as professoras.
Anna Freud valorizava o aspecto pedagógico na atuação psicanalítica.
Também valorizava em sua atuação a utilização dos sonhos, das fantasias diurnas e
dos desenhos, e limitava o uso do jogo, não permitindo que aspectos agressivos
pudessem emergir, considerando que tais impulsos agressivos deveriam ser
corrigidos para melhor desenvolvimento da criança. Seria necessária uma ação
pedagógica constante do analista, por ter a criança um superego imaturo.
Segundo Costa (2010), Anna Freud levantou algumas questões, fazendo
então uma diferenciação entre a análise de crianças e a análise de adultos. Para ela,
é praticamente impossível estabelecer uma relação analítica com uma criança em
virtude da sua imaturidade e dependência do meio ambiente. Conforme Anna Freud,
a criança não possui consciência da sua “doença”; não acredita estar doente. Isto
aparece por intermédio dos pais, que estão angustiados e preocupados diante de
suas dificuldades. Nesse sentido, para ela, falta algo essencial para a entrada em
análise, que seria o mal-estar em relação a seu sintoma e a necessidade de
tratamento.
Pensando nisso, nessa falta de demanda Anna Freud propõe um período
de preparação, ou seja, entrevistas preliminares que servirão para produzir na
criança uma demanda artificial, conscientizá-la de que necessita de tratamento e
que isso a ajudará a se livrar do sintoma.
Para realizar seu trabalho analítico com crianças, Anna Freud associava
medidas pedagógicas aos meios analíticos numa tentativa de conquistar sua
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crianças as colocações que Lacan fazia em seu retorno a Freud, e que, mais tarde,
foi continuado por Maud Mannoni.
Segundo Volnovich (1947, p. 24), Françoise Dolto propõe, em seu trabalho,
inserir a criança na estrutura desejante da família como efeito dessa estrutura. Ou
seja, a criança não seria como a criança apresentada anteriormente pela teoria de
Anna Freud, aquela que escolhe ou não se tratar, produto das vicissitudes de seu
Ego1 e de seu desenvolvimento libidinal.
Também não seria a criança apresentada por Melanie Klein, determinada pela
quantidade de instinto de morte que se faz presente nos ciúmes e na inveja. A
criança da teoria lacaniana, que Françoise Dolto apresentava, estava
essencialmente inserida na estrutura da família, efeito desta do “desejo do Outro”.2
Quando Lacan propõe na releitura de Freud sua fórmula “o desejo inconsciente é o
desejo do Outro”, estabelece que não existe nenhuma possibilidade de que alguém
possa ser gerado a partir de si mesmo, mas, pelo contrário, na medida em que o
sujeito é efeito do desejo do Outro e retoma a determinação histórica e social do
sujeito, reconhece que o inconsciente é uma experiência transindividual, social.
É a partir desta posição teórica que Françoise Dolto redefine o sintoma da
criança como sendo também sintoma da estrutura familiar na qual ela está inserida.
Esta teoria gerou certa reviravolta entre os analistas de crianças da época, pois, de
um momento para o outro, parecia ter terminado as análises de crianças, ficando
unicamente a análise da estrutura desejante na família.
Françoise Dolto tinha uma técnica de trabalho muito particular: fazia a
primeira entrevista, tentando detectar na estrutura da família qual era a situação
problemática, ou, no dizer dela, aquela que seria pervertedora ou denegatória da
humanização da criança, fazendo sua intervenção em razão desta situação. Ela não
tratava a criança senão por uma estratégia. Se a criança não podia falar de alguma
coisa, incluída no sintoma, era porque não havia sido suficientemente “falada” pelo
Outro, ou seja, pelos representantes familiares da cultura.
Assim, a escuta e a palavra do analista podiam ser introduzidas na criança ou
nos pais desta. Ela deixava entrar na sessão qualquer um que tivesse alguma coisa
a dizer sobre a questão sintomática e sobre a criança, assim como não poupava
1
Ego – em psicanálise o termo utilizado significa EU.
2
Em Psicanálise, emprega-se o termo Outro (com letra inicial maiúscula) para referir-se ao grande
Outro materno – função materna.
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3
Em psicanálise o termo demanda expressa: “Forma comum de expressão de um desejo, quando se
quer obter alguma coisa de alguém, a partir da qual o desejo se distingue da necessidade”.
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Antes de existir em si, por si e para si, a criança existe para e por outrem: já
é um polo de expectativas, projetos e atributos [...] Um polo de atributos, eis
o que é o sujeito antes de seu nascimento [...] de atributos, isto é, de
significantes mais ou menos ligados num discurso.
O que vem a ser essa influência analítica? Freud (1933) não deixa claro o que
seria para ele o influxo analítico, mas esclarece que há um nexo estrutural entre as
resistências da criança em análise e as resistências dos pais. A experiência de
Freud, já em 1909 com o caso Hans, nos fornece o exemplo da influência que os
pais têm sobre o funcionamento da análise de um filho.
Na concepção de Marra (2005, p. 48),
[...] podemos entender esta ‘dose de influência analítica sobre os pais’ como a
possibilidade que tem o analista de incluir dentro de sua leitura do campo
analítico (de acordo com o conceito de Baranguer) os nexos existentes e em
dupla direção, entre a conflitiva intrasubjetiva do paciente e a relação
intersubjetiva parental.
4
Recalque – termo empregado em psicanálise para designar o conjunto das reações de um
analisando cujas manifestações, no contexto do tratamento, criam obstáculos ao desenrolar da
análise.
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o que faz mal a uma criança não é a situação real que ela vivencia, mas o
que nesta situação não foi verbalizado. É o não dito que introduz o ‘trauma’
na criança, que procura responder ao enigma proposto por meio de suas
produções fantasmáticas.
sentimento, ele não entende o porquê disso. Conquanto a transferência esteja sendo
abordada dentro da clínica psicanalítica, ela pode acontecer também fora dela.
A transferência é sempre uma repetição e continuamente será inadequada.
Podemos citar, então, algumas características da reação transferencial que são: a
intensidade de sentimentos ou ausência total do mesmo, a inconstância e a
tenacidade.
Conforme Cunha e Martins (2012), para que um fenômeno psíquico seja
enquadrado como transferência é necessário que apresente quatro características
básicas: que seja uma variação de relacionamento objetal, que seja sempre uma
repetição de um relacionamento passado com o objeto, que apresente um
deslocamento, posto que esse é o processo fundamental nas relações
transferenciais, e que seja sempre um fenômeno regressivo.
A transferência é um fenômeno imprescindível no processo analítico. Sem a
transferência não há análise. É ela quem indica a direção a ser tomada pelo analista,
uma vez que é por meio dela que os processos inconscientes se atualizam e abrem
as portas para o surgimento do conflito psíquico e sua resolução. A transferência
segue mais ou menos o ritual “recordar, repetir, elaborar”.
A transferência revela a constituição do sujeito, de sua demanda e de seu
desejo. Somente a partir dela é possível que o sujeito descubra a estrutura de seu
desejo. A resistência, tal qual a transferência, são mecanismos de defesa
imprescindíveis para a realização do tratamento psicanalítico. Sem elas não há
psicanálise. Uma aparece na tentativa de encobrir e se defender de lembranças
dolorosas, a outra como a repetição de uma relação objetal passada, e as duas são
fundamentais para a clínica analítica.
Como já mencionado anteriormente, a transferência no trabalho psicológico
com crianças se estabelece de forma múltipla, ou seja, entre o psicólogo e a criança
e também entre o psicólogo e os pais. É apenas desta forma que é possível dar
continuidade no tratamento psicológico e obter resultados.
Quando o laço transferencial entre o psicólogo e os pais não se estabelece
pode ocorrer o abandono do tratamento. Os pais se mostram como portadores de
resistência e, por fim, acabam por interromper o trabalho psicológico sem que ele
tenha realmente chegado ao final.
Como vimos anteriormente, o analisando deposita sobre o analista uma
suposição de saber. No caso do atendimento psicológico de crianças, os pais
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esperam do profissional da psicologia que ele detenha o saber sobre a criança, que
ele saiba como agir para que a criança obtenha o comportamento que os pais
esperam dela.
Outra possível causa de abandono/interrupção no tratamento psicológico de
crianças estaria do lado do psicólogo; o profissional se colocando como fonte de
resistência. Isso não é difícil de acontecer, pois trabalhar com crianças não é fácil e
nem todos estão preparados para esta prática.
O fato de atender crianças, para muitos profissionais da psicologia, já causa
uma certa resistência, pois não são todos que estão preparados para lidar com as
demandas que este trabalho impõe. Para muitos, trabalhar com crianças implica
reviver fatos da sua própria infância.
Enfim, pode-se afirmar que a presença dos pais durante o tratamento
psicológico de crianças é, sem dúvida, muito importante e, em muitos casos, torna-
se até mesmo essencial. No desdobramento desta escrita também podemos
perceber o quão importante é saber lidar com esta presença, pois, sendo ignorada,
ela pode resultar em uma interrupção ou abandono do tratamento sem que ele
realmente tenha chegado ao seu término. Essa brusca interrupção muitas vezes
pode prejudicar a criança que vinha sendo acompanhada pelo profissional da
psicologia, pois o tratamento, quando interrompido em momento importuno, não traz
melhoras ao paciente. Por isso, a importância de refletirmos sobre a real presença
dos pais durante o acompanhamento psicológico das crianças, percebendo a
posição que eles ocupam para o avanço do tratamento, mas também atentando para
o fato de que estes podem se colocar como portadores de resistência e, com isso,
gerar a interrupção do tratamento.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS