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CIÊNCIAS JURÍDICAS
Maputo
2018
Edy Patrício Pires
Maputo
2018
DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Edy Patrício Pires, declaro que este trabalho de fim de curso foi exclusivamente
realizado por mim, e o mesmo é submetido de acordo com os requisitos e exigências para a
obtenção do grau de Licenciatura na Universidade PolitécnicaApolitécnica em Maputo.
Assinatura
_______________________________________
Data
30 de Janeiro de 2018
I
Trabalho de Fim do Curso
PARECER DO SUPERVISOR
Assim, consideramos que o trabalho reúne qualidades científicas essenciais para ser
submetido à defesa pública, como requisito para obtenção do grau de licenciatura.
É o nosso parecer
Eduardo Matusse
II
AGRADECIMENTOS
Primordialmente, agradecer a Deus por ter me dado vida, saúde, e muita força para chegar
onde cheguei. Quero agradecer aos meus pais porque sem eles não estaria onde estou.
Quero também agradecer ao Dr. Eduardo Matusse que foi meu docente de Direito do
Trabalho no 3º ano, e agora tutor, pelos seus ensinamentos úteis que me permitiram fazer
este trabalho de final do curso, pela sua disponibilidade, ajuda, conselhos, e pelo tampo que
teve de ler e corrigido presente trabalho. Ao Dr. Anselmo Bila que foi meu supervisor de
estágio, que me recebeu bem na sua empresa e que me ajudou na aplicação do direito na
vida prática.
Agradeço a todos aqueles que de forma directa ou indirecta ajudaram-me a chegar onde
estou hoje. Aos meus colegas da Universidade Politécnica Apolitécnica, aos meus amigos
que deram-me muita força para continuar os meus estudos, e por fima todos os docentes
que tanto se esforçaram para me transmitir os seus conhecimentos durante esses todos anos
de frequência na Universidade.
Edy Pires
III
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho em especial ao meu filho Ethan Pires, a Irina Timana, aos meus pais
Patrício Pires e Rosa Maria, e a todos que me ajudaram em todos os aspectos da vida.
IV
LISTA DE ABREVIATURAS
Aln/s- Alínea/s
Art. -Artigo
Cfr. - Conferir
E.g. - Exemplo
SS- Seguintes
V
LISTA DE TABELA
VI
APROVAÇÃO DO JÚRI
___________________________
(Presidente do Júri)
___________________________
(Arguente)
___________________________
(Supervisor)
VII
SUMÁRIO
Declaração de honra……………………………………………………………………….I
Parecer do supervisor……………………………………………………………………..II
Agradecimentos…………………………………………………………………………...III
Dedicatoria………………………………………………………………………………...IV
Lista de abreviaturas……………………………………………………………………...V
Lista de tabelas……………………………………………………………………………VI
Aprovação do júri.............................................................................................................VII
Sumário ............................................................................................................................ VIII
Resumo ................................................................................................................................IX
Abstract…………………………………………………………………………………….X
CAPÍTULO I ........................................................................................................................ 1
Introdução............................................................................................................................... 1
Objectivo geral ....................................................................................................................... 2
Objectivos específicos ............................................................................................................ 2
Problematização...................................................................................................................... 2
Hipóteses ................................................................................................................................ 3
Justificativa............................................................................................................................. 3
Delimitação do tema............................................................................................................... 4
Metodologia de investigação .................................................................................................. 5
Instrumentos de pesquisa........................................................................................................ 5
Pesquisa bibliográfica............................................................................................................. 5
Pesquisa documental .............................................................................................................. 5
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................ 6
REVISÃO DA BIBLIOGRAFIA........................................................................................... 6
Conceitos de Direito ............................................................................................................... 6
Conceitos de Direito do Trabalho........................................................................................... 6
Noção de Empregador e Trabalhador..................................................................................... 8
Deveres da Entidade empregadora e do Trabalhador........................................................... 10
Contextualização .................................................................................................................. 12
Conceptualização.................................................................................................................. 13
Processo Disciplinar ............................................................................................................. 13
Poderes da Entidade Empregadora ....................................................................................... 14
Poder Regulamentar ............................................................................................................. 16
Poder disciplinar ................................................................................................................... 17
Titularidade de exercício do poder disciplinar ..................................................................... 18
Prazos para o exercicio do poder disciplinar ........................................................................ 19
Infracção disciplinar ............................................................................................................. 19
Sanções disciplinares............................................................................................................ 20
Princípios gerais de aplicação das sanções disciplinares...................................................... 22
CAPÍTULO 3 ...................................................................................................................... 23
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ..................................................... 23
Princípios gerais do processo disciplinar.............................................................................. 23
Princípio da obrigatoriedade do processo............................................................................. 23
Princípio da iniciativa do empregador.................................................................................. 23
Princípio da oportunidade..................................................................................................... 24
Princípio do acusatório ......................................................................................................... 24
Princípio do contraditório..................................................................................................... 25
Princípio da suficiência ........................................................................................................ 25
Princípio da economia processual ........................................................................................ 25
Princípio in dubio pro réu..................................................................................................... 26
Princípio da audiência prévia ............................................................................................... 26
Prazos para instauração do processo disciplinar e seus efeitos ............................................ 26
Causas de obrigatoriedade da forma escrita do processo disciplinar ................................... 27
Fases do processo disciplinar ............................................................................................... 28
Da fase de inquérito.............................................................................................................. 29
Da fase de acusação.............................................................................................................. 31
Formas de notificação da Nota de culpa............................................................................... 37
Notificação pessoal............................................................................................................... 37
Notificação Edital ................................................................................................................. 37
Efeitos da notificação da nota de culpa via postal, jornal e por correio electrónico. ........... 38
Importância da Nota de culpa............................................................................................... 38
Novos factos imputados ao trabalhador na pendência do procedimento disciplinar............ 39
Da fase de defesa .................................................................................................................. 43
Consequências da não apresentação da resposta a nota de culpa pelo trabalhador .............. 45
Da fase de decisão ................................................................................................................ 46
Aplicação de duas ou mais sanções disciplinares pela mesma infracção, como decisão do
procedimento disciplinar. ..................................................................................................... 47
Aplicabilidade da Convolação no processo disciplinar........................................................ 48
Da fase da execução da sanção............................................................................................. 50
Causas de invalidade da nota de culpa e do processo disciplinar......................................... 51
Esquema do procedimento Disciplinar………………………………………….................55
CAPÍTULO 4 ...................................................................................................................... 56
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ............................................................................ 56
Conclusões............................................................................................................................ 56
Recomendações .................................................................................................................... 59
Bibliografia…………………………………………………………………………..........60
VIII
RESUMO
IX
ABSTRACT
Determined to continue with the objectives outlined, we structured our work into four
chapters which are indicated below:
The first chapter deals with the introduction of research work, that is, it indicates the
general objective of the research, the specific objectives, the research problem, the possible
hypotheses, the research justification, the delimitation of the subject of research work, and
by the end of the methodology used, for the accomplishment of the present work of
investigation, for that was used the positivist or quantitative paradigm, with the aim of
affirming or confirming existing theories. For the accomplishment of this research work,
different research instruments were used namely: bibliographical research, and
documentary.
The second chapter presents the Literature Review or Bibliography, detailed and
appropriate to the context of the research topic. The aim of this chapter was to demonstrate
how, in similar cases, other authors were able to solve similar problems. This time,
concepts related to the topic of research was presented, as well as the contextualization of
the same in the temporal and spatial scope.
The third chapter presents the development of work, that is, the body of work, which is
composed of chapters and titles. In these, the relevant subjects of the research work were
discussed, in order to identify ways of solving the problem investigated.
The fourth and last chapter of this paper considered the conclusions and recommendations
of the research paper. The main objective of this research was to demonstrate how the
employer should proceed if new facts are imputed to the worker in the course of the
disciplinary proceedings.
X
1. INTRODUÇÃO
A realidade não nos passa ao lado, é com preocupação que temos vindo a observar o
aumento de número de processos disciplinares instaurados aos trabalhadores. Neste
contexto, muitos trabalhadores são prejudicados por má instauração dos processos
disciplinares.
Por outro lado são os empregadores que desconhecem o procedimento e várias vezes tais
processos tem culminado com vícios ou irregularidades, uma vez que sendo o poder
disciplinar exercido pela entidade patronal, este processo é instruído e decidido por este.
Para tal é de máxima importância conhecer o procedimento certo para evitar que se violem
os direitos dos trabalhadores, bem como as irregularidades, e para que estes, não deixem
que os seus direitos sejam passados por cima.
Este processo comporta suas principais fases, e uma delas é a fase de acusação, esta
acusação está contida em um documento que é chamado nota de culpa, é esta nota de culpa
que merece principal atenção para o presente trabalho, porque levanta várias questões em
torno de todo o processo disciplinar. Esta nota, tem também certos requisitos que tem de se
ter atenção, caso não sejam seguidos estes requisitos, a nota de culpa torna-se inválida.
Contudo, o presente trabalho teve como objectivo demonstrar o que pode o empregador
fazer na pendência do procedimento disciplinar, se tomar conhecimento de novos factos
imputados ao trabalhador, que não estão contidos ou inseridos na nota de culpa. Embora, a
lei não prevendo esta situação o presente trabalho, ajuda a encontrar soluções, para a
resolução deste problema, que constitui objectivo principal do presente trabalho de
pesquisa.
1
2. Objectivo geral
3. Objectivos específicos
4. Problematização
Acontece porém, que a entidade empregadora remete ao trabalhador uma nota de culpa ao
trabalhador arguido, onde estarão descritos todos os factos que são imputados ao
trabalhador e posteriormente outros procedimentos. A pergunta que se coloca,
nestapesquisa é a seguinte:
2
5. Hipóteses
6. Justificativa
3
Além do mais, é comum que um processo disciplinar mal instruído seja um passo para
perder a acção de impugnação de despedimento, por esta razão parte dos despedimentos
decorrentes nas empresas são declarados ilícitos pelos Tribunais, razão pela qual há
necessidade de se demonstrar o correcto procedimento para a aplicação das sanções
disciplinares que a lei prevê. Estes problemas constituem parte de outras questões que serão
abordadas no presente trabalho de investigação.
7. Delimitação do tema
Segundo o artigo 2º nº2 LT, «a Lei do Trabalho é aplicável igualmente, entre pessoas
colectivas de direito público e seus trabalhadores, desde que estes não sejam funcionários
do Estado». A lei do trabalho não é aplicável aos funcionários e agentes do Estado
(Administração Central do Estado), e aos trabalhadores das autarquias locais
(Administração Autárquica) cujas relações de emprego público são objecto de lei especial,
para o efeito o EGFAE, nos termos do artigo 251º nº 2 CRM.
O presente trabalho, Processo Disciplinar e Nota de culpa baseia-se nas relações de trabalho
entre entidades empregadoras e trabalhadores fora do domínio público, o que significa
exclusão das relações de trabalho no âmbito do EGFAE.
4
8. Metodologia de investigação
Foi também usada a lógica dedutiva para a realização do presente trabalho de investigação.
Para RUAS 2017:96 ‛ A lógica de análise é dedutiva, pois parte do geral para o particular.’
A pesquisa documental também foi uma das técnicas de recolha de dados para a realização
do presente trabalho, que consiste em realizar uma investigação, pormeio de documentos,
com o objectivo de descrever e comparar os costumes, comportamentos, diferenças e outras
características, tanto da realidade presente, como do passado.
5
CAPÍTULO 2
Segundo ALFREDO (2014:39) ‘Numa primeira aproximação, pode definir-se Direito como
um sistema de regras para resolução dos conflitos entre os homens em sociedade.’
Segundo XAVIER (2004:21) O Direito do Trabalho (muitas vezes o referimos também por
«Direito Laboral») pode ser definido como parte do ordenamento constituída pelas normas
e princípios jurídicos que disciplinam as relações de trabalho.
6
Para VEIGA (1995:43) Assim, definiremos Direito do Trabalho como o sistema de normas
jurídicas reguladoras das relações individuais e colectivas de trabalho, cujo objecto é o
trabalho subordinado por conta de outrem.
É no Direito do Trabalho que estudamos o tema processo disciplinar, sem prejuízo dos
outros ramos de Direito que estudam também o processo disciplinar, por exemplo o Direito
Administrativo, assim quando «O funcionário ou Agente do Estado não cumpre ou falte
aos seus deveres, abuse das suas funções ou de qualquer forma prejudique a
Administração Pública está sujeito a procedimento disciplinar ou á aplicação de sanções
disciplinares, sem prejuízo de procedimento criminal ou cível.»1
O processo disciplinar como tal, tem como objecto verificar o comportamento culposo do
trabalhador que viola os seus deveres laborais, e tem como finalidade a aplicação de sanção
disciplinar de forma a atingir a justiça disciplinar dentro da empresa.
1
Cfr. Art 78º n°1 EGFAE
7
2.1.3. Noção de empregador e trabalhador
Podemos ainda definir trabalhador como toda pessoa singular, nacional ou estrangeira
residente, que voluntariamente se obriga a colocar a sua actividade profissional, mediante
remuneração, ao serviço de um empregador (físico ou jurídico), no âmbito da organização e
sob a autoridade e direcção deste.Vide art.15 nº5 do (Regulamento do HIV/SIDA,
EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL)
Alguns autores trazem uma definição de trabalhador, assim para VEIGA (1995:365) O
trabalhador é uma pessoa singular que se obriga contratualmente a trabalhar por conta e sob
dependência de outra pessoa (singular ou colectiva), mediante retribuição.
Para definirmos entidade empregadora, temos que procurar definir os conceitos de empresa,
empresário, e entidade patronal. Este último segundo VEIGA (1995:376) Que corresponde
propriamente, no D.T, a posição jurídica de sujeito ou parte do contrato de trabalho, como
credora da prestação laboral e devedora da contraprestação retributiva.
8
Do ponto de vista VEIGA (1995:376-377):
«Para efeitos da presente lei, entende-se por trabalhador, todo aquele que se obrigue a
realizar um trabalho para uma entidade empregadora estatal, cooperativa, mista, privada
ou pessoa singular em troca de um salário que constitui parte do rendimento nacional
destinado pelo Estado para tal fim.
9
prevenção, protecção e tratamento da mesma).Trabalhador são todas as pessoas que
trabalham ou empregadas recebendo vencimentos ou outro tipo de remuneração em
compesação do trabalho. E empregador indivíduos, parceiros, ou órgãos legais que
tenham suas próprias empresas. São representados nas organizações pelos gestores.
Por força da lei, o trabalhador e o empregador tem o dever de mútua colaboração, nos
termos do artigo 57º LT o empregador e o trabalhador devem respeitar e fazer respeitar as
disposições da lei, dos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho e dos códigos
de boa conduta, e colaborar para obtenção de elevados níveis de produtividade na
empresa, bem como para a promoção humana, profissional e social do trabalho.Os
deveres do trabalhador e do empregador estão previstos no artigo 58º e 59º da LT
No âmbito dos deveres do trabalhador para com a entidade patronal, o trabalhador tem o
dever de:
Obediência. Art.58º) LT
Diligência e zelo. Art. 58º b) LT
Assiduidade e pontualidade. Art.58º a) LT
Lealdade. Art.58º c) LT
Sigilo profissional. Art.58º f) LT
Urbanidade. Art. 58º c) LT
Custódia. Art. 58º e) LT
Não concorrência. Art. 58º h) LT
Todos estes deveres estão previstos no artigo 58.º da LT. Todavia a doutrina afirma que
esses deveres são meramente exemplificativos e não taxativos, uma vez que podem existir
outros deveres conexos.
10
Segundo EGÍDIO (2011:25), ‘Há portanto deveres que não constam na lei do trabalho, mas
que incubem ao trabalhador. Ex. Dever de respeitar a vida, a honra e a dignidade dos
colegas, etc.’
O empregador possui os deveres previstos no artigo 59º LT, que de forma resumida, são os
seguintes:
A violação destes deveres constitui justa causa de rescisão do contrato de trabalho pelo
trabalhador. Vide art. 127º n°5 LT
Assim, se o trabalhador violar alguns dos seus deveres, constitui justa causa para rescisão
do contrato de trabalho por parte do empregador. Por isso o empregador pode aplicar
sanções disciplinares ao trabalhador, instaurando ou não procedimento disciplinar.
11
2.2. CONTEXTUALIZAÇÃO
Os requisitos da nota de culpa e do processo disciplinar, são muitas das vezes ignorados
pelos empregadores assim como para os trabalhadores, pelo que é necessário que as partes
tenham muita atenção no que concerne a esta matéria.
12
2.3. CONCEPTUALIZAÇÃO
A palavra processo é um termo que pode ter vários sentidos, pode-se referir a processo um
conjunto de actos, como também de um litígio pendente em um tribunal (tenho um
processo pendente em um tribunal), onde a palavra processo é usada como sinônimo de
causa ou demanda. Mas também pode se falar de processo de fabricação de qualquer
produto, etc. Podemos enfim, falar em processo como um conjunto dos actos a praticar em
juizo na propositura e desenvolvimento das acções, considerando que tal actividade devem
ser observadas determinadas regras. TIMBANE, (2010:63).
Enfim, o termo processo pode ser usado na lei, na doutrina, na jurisprudência, bem como na
linguagem corrente, tendo em qualquer dos casos, um determinado sentido. Pode-se falar
de processo civil, processo penal, processo laboral, processo disciplinar, etc.
13
Contudo, encontrado o conceito de processo, podemos desde já definir o processo
disciplinar que é o objecto principal da pesquisa. O processo disciplinar surge no âmbito do
Direito Laboral, outrossim, o processo disciplinar é o conjunto de procedimentos tomados
pela entidade empregadora com vista a sancionar o trabalhador em caso de incumprimento
dos seus deveres laborais.
O poder regulamentar;
Poder disciplinar.
14
Segundo FERNANDES(2009:267-268):
15
2.3.3. Poder regulamentar
O poder regulamentar, encontra-se regulado no Capítulo III, Secção VII, Subsecção III no
artigo 60º da Lei n°23/2007 de 1 de Agosto Lei do trabalho “ Dentro dos limites
decorrentes do contrato e as normas que o regem, compete ao empregador ou á pessoa por
ele designada, fixar, dirigir, regulamentar e disciplinar os termos e as condições em que a
actividade deve ser prestada.”2 Este poder, de forma resumida é o poder que estabelece
normas sobre a prestação de serviço ou trabalho, como por exemplo os regulamentos
internos das Universidades, Empresas, as circulares, etc.Que têm por finalidade estruturar,
organizar as actividades desenvolvidas.
Segundo MARTINEZ (2008:631) ‘Ao regulamento interno de empresa, deve ser dada
publicidade no interior da empresa, de modo a possibilitar o seu conhecimento por parte
dos vários trabalhadores.’
2
Cfr.art. 60° Lei do trabalho
3
Cfr. Art. 18° Lei do trabalho
16
2.3.4. Poder disciplinar
Poder disciplinar é a faculdade que o empregador tem de aplicar sanções aos trabalhadores
que violam os seus deveres laborais na relação jurídico-laboral. O poder disciplinar
consubstancia-se na possibilidade que assiste ao empregador de aplicar sanções
disciplinares ao trabalhador em caso de incumprimento do seu dever principal ou dos seus
deveres acessórios legais ou convencionais.
17
Segundo GOMES (2007:889), O poder disciplinar é concebido como um direito subjectivo
do empregador, que serve estritamente os interesses deste e que ele pode decidir exercer, ou
não exercer, consoante as suas conveniências e o seu juízo sobre o que é mais oportuno.
Contudo,dos poderes que o empregador tem, adoptamos a divisão que o nosso ordenamento
jurídico prevê, na lei do trabalho nos artigos 61º e 62º. O empregador tem o poder de
regulamentar ou fazer regulamentos internos na empresa para manter a ordem, e o poder
disciplinar para tomar medidas ou para sancionar trabalhadores que não cumprem com seus
deveres.
Não obstante o titular do poder disciplinar ser do empregador,“o empregador tem o poder
disciplinar sobre o trabalhador que se encontra ao seu serviço, […].”4Não é ele o único
sujeito que o pode exerce-lo. Nos termos do artigo 62º n°2 LT5, aquele exercício pode
caber directamente ao empregador ou ser por este delegado num superior hierárquico do
trabalhador.
O poder disciplinar sobre o trabalhador tanto pode ser exercido directamente pela entidade
empregadora como pelo superior hierárquico, enquanto vigorar o contrato de trabalho, e
sempre dentro dos limites impostos pela lei, dado que a sanção disciplinar deve atender aos
graus de culpabilidade e gravidade da infracção praticada pelo trabalhador.
Segundo MARTINEZ (2008:635) A acção disciplinar pode ser exercida contra qualquer
trabalhador, independentemente da posição hierárquica que ocupa na empresa, na
pendência do contrato de trabalho, ainda que suspenso.
Ainda sobre o mesmo assunto MARTINEZ (2008:637) defende que, O poder disciplinar
para ser exercido, pressupõe um determinado procedimento, conduzido directamente pelo
empregador ou pelos superiores hierárquicos do trabalhador. Nada impede inclusive que o
procedimento seja conduzido por pessoa estranha a empresa, instrutor nomeado, por
4
Cfr. Art. 62° N°1 Lei do trabalho
5
“ 2- O poder disciplinar pode ser exercido directamente pelo empregador ou pelo superior hierárquico do
trabalhador, nos termos por aquele estabelecido.”
18
exemplo, um advogado mandatado pela empresa, desde que as decisões máxime a sanção
disciplinar, sejam tomadas pelo empregador ou por superior hierárquico do trabalhador.
Nos termos do artigo 65º n°2LT, a infracção disciplinar prescreve no prazo de seis meses, a
contar da data da ocorrência da mesma, excepto se os factos constituírem igualmente crime,
caso em que são aplicáveis os prazos prescricionais da lei penal, quer isto dizer que o
empregador já não pode aplicar qualquer sanção disciplinar ou punir o trabalhador
decorridos seis meses, ou seja o direito de exercer o poder disciplinar prescreve seis meses
após a data da prática da infracção, ou no prazo de prescrição da lei penal se o facto
constituir igualmente crime.
Alguns autores fazem ainda referência a possibilidade dainfracção ser contínua, e pergunta-
se, se a mesma for contínua em que prazo pode-se exercer a acção disciplinar? E para esta
pergunta (LAMBELHO e GONÇALVES 2012:19) defendem que, No caso de infracções
continuadas, é jurisprudência pacífica que o prazo de prescrição só começa a contar-se na
data em que tiver sido praticado o último facto gerador da infracção.
Infracção disciplinar, é o facto ainda que meramente culposo, praticado pelo trabalhador
que viole algum ou alguns dos seus deveres gerais ou especiais, decorrentes da função que
exerce. Atento ao disposto no n°1 do artigo 66º da lei do trabalho “ considera-se infracção
19
disciplinar todo o comportamento culposo do trabalhador que viole os seus deveres
profissionais.” E as infracções disciplinares de acordo com o nosso legislador, podemos
encontrar de carácter meramente exemplificativo, nas alíneas a)-n) do mesmo dispositivo
legal acima mencionado.
20
trabalho, e desdeque não prejudiquem os direitos e garantias do trabalhador e respeitem os
limites previstos no artigo 63º n°1 da lei do trabalho.
Admoestação verbal;
Repreensão registada;
Suspensão do trabalho com perda de remuneração, até ao limite de dez dias por
cada infracção e de trinta dias em cada ano civil;
Multa até vinte dias de salário;
Despromoção para a categoria profissional imediatamente inferior, por um período
não superior a um ano;
Despedimento.”6
6
Cfr. Art. 63° Lei do trabalho
21
2.3.9. Princípios gerais de aplicação das sanções disciplinares
Vamos analisar os três primeiros princípios, deixando o último para uma análise posterior.
22
CAPÍTULO 3
Assim como o processo civil, processo penal etc., o processo disciplinar tem também os
seus princípios, não se pode aplicar um processo disciplinar sem ter em conta os seus
princípios. De notar que, os princípios do processo disciplinar têm uma adequação aos
princípios gerais do processo penal. Deste modo é importante reter que antes de instaurar
um processo disciplinar ao trabalhador, os princípios gerais do processo disciplinar tem
grande relevância razão pela qual far-se-á uma abordagem dos mesmos.
Este princípio resulta da própria lei, no sentido de que não se pode aplicar nenhuma sanção
disciplinar com excepção das alíneas, a) e b) do art.63ºn°1LT sem que se tenha seguido os
requisitos do art.67ºn°2 LT. Entretanto para que se aplique uma sanção de despedimento ou
qualquer outra, a lei prevê certos procedimentos a se seguir obrigatoriamente.
23
3.1.3. Princípio da oportunidade
Este é um princípio muito questionado, pois traduz-se na ideia de que quem investiga, no
processo disciplinar é o mesmo que vai acusar e decidir.Ora, nos casos em que se não
conhece a infracção e os seus agentes, é imprescindível a instauração do inquérito prévio,
para averiguação dos verdadeiros factos, por sinal quem investiga é o empregador e o
superior hierárquico do trabalhador, e que também são os mesmos que acusam e que
decidem no final do processo. EGÍDIO (2011:43) considera que:
Como é no processo penal, o MP°é que investiga e acusa, e quem toma a decisão é o
Tribunal, oque não acontece no processo disciplinar, sendo assim é de se concordar com o
autor porque torna-se difícil a existência de aplicação de uma sanção disciplinar imparcial,
objectiva e independente.
24
3.1.5. Princípio do contraditório
Com este princípio o empregador não deve pensar que deve deixar de seguir todas as
formalidades que regem o processo disciplinar, mas sim cumprir com as mesmas obtendo
maior resultado em um pequeno espaço de tempo.
25
3.1.8. Princípio in dubio pro réu
Resumidamente, este princípio aplica-se nos casos em que se tenham dúvidas sobre o
infractor se realmente o trabalhador x, cometeu mesmo a infracção y, na fase da
investigação. Este é um princípio importado do processo penal que quer dizer quando se
tem dúvidas decide-se a favor do réu, neste caso na dúvida decide-se a favor do trabalhador
arguido.
Nos termos do art.65ºn°3 LT «A sanção disciplinar não pode ser aplicada sem a audição
prévia do trabalhador.»
Este princípio não significa que o infractor tenha de ser ouvido verbalmente,
mas sim que tem de lhe ser dada a faculdade de ser ouvido, audição que se
aconselha que seja dirigida por escrito e que no procedimento disciplinar
para despedimento se designa resposta á nota de culpa.
A lei não admite, ao empregador, bem como ao superior hierárquico do trabalhador, a quem
o empregador tenha delegado tal competência (instauração do processo disciplinar), que se
inicie a instauração do procedimento disciplinar a qualquer momento, contudo a lei
estabelece um prazo para que o empregador instaure o procedimento disciplinar.
Sendo assim, resulta do art.67ºn°2 alínea. a) LT que, o empregador logo depois de ter
tomado conhecimento da infracção disciplinar cometida pelo trabalhador, deve instaurar o
processo disciplinar dentro de 30 dias, ou seja ele tem trinta dias para instaurar o processo
disciplinar.
26
Assim, não pode ser objecto de processo disciplinar a infracção cometida pelo trabalhador,
em que o empregador teve conhecimento do mesmo e instaurar o processo disciplinar
passados trinta dias. Entretanto existem situações em que o empregador não tem
conhecimento da infracção disciplinar, nestes casos pode o empregador instaurar o processo
disciplinar dentro de seis meses, pois se passar, a infracção disciplinar prescreve8
Quanto aos seus efeitos, se o empregador instaurar o processo disciplinar passados trintas
dias, o trabalhador na sua defesa pode se defender por excepção de caducidade ou seja, o
prazo para instauração do processo disciplinar caduca, e já não se pode instaurar qualquer
processo disciplinar.
O processo disciplinar deve ser reduzido a escrito, tal obrigação resulta da própria lei,
facilmente podemos retirar da leitura do art.67ºn°2aln.a), b), c) ambas da LT. Isto é, a nota
de culpa instaurada ao trabalhador deve observar a forma escrita, assim como a resposta da
nota de culpa e a decisão do empregador devem observar a forma escrita.
Contudo, nos perguntamos o que o legislador queria salvaguardar, ou quais as causas para
tal obrigatoriedade? Daí que podemos encontrar três causas nomeadamente:
Impossibilidade de acusação oral; (a lei não admite uma outra forma acusação, que
não seja escrita);
Impossibilidade de resposta a nota de culpa ou defesa oral;
Impossibilidade de decisão oral.
8
Cfr art.65n°2 LT
27
não seja escrita, ademais a forma escrita pode ser uma garantia para o empregador, uma vez
que ele pode provar que remeteu a nota de culpa ao trabalhador.
No que toca a resposta a nota de culpa, a não observância da forma escrita pode levantar
várias questões uma delas é, se o empregador vier a alegar que o trabalhador não respondeu
a nota de culpa, como o trabalhador pode provar que respondeu? Daí que é obrigatório que
a resposta a nota de culpa deve ser por escrito, para evitar tais situações, logo o trabalhador
já pode provar facilmente que respondeu a nota, se entregar ao empregador com o aviso de
recepção.
No que diz respeito a decisão, a lei vem dizer claramente que a decisão deve ser
fundamentada por escrito, e entregue ao trabalhador. A questão que se levanta quando a não
observância da forma escrita, e se o trabalhador alegar que não recebeu a decisão proferida
pelo empregador? Daí que mais uma vez a forma escrita aparece para sanar esta questão,
ademais a entrega da decisão ao trabalhador por forma escrita constitui também uma
garantia ao próprio empregador.
A nossa LT no seu artigo 67ºn˚2, faz-nos referência á três fases primordiais (acusação,
defesa e decisão), entretanto há quem considera que o processo disciplinar comporta 5
fases. EGÍDIO (2011:112) considera que o processo disciplinar pode compreender cinco
fases nomeadamente:
Fase de inquérito;
Fase de acusação;
Fase de defesa;
Fase de decisão;
Fase de execução da sanção disciplinar.
28
Segundo XAVIER (2005:435):
Entende-se tradicionalmente que um processo deste tipo embora não sujeito
a regras rígidas, tem três fases:
1. Instrução inicial e acusação, destinada a reunirem os elementos de prova
da existência do facto punível e identificação do responsável, que culmina
na nota de culpa;
2. Defesa e instrução complementar, na qual o arguido responde a nota de
culpa, podendo examinar o processo, juntar documentos, promover a
inquirição de testemunhas e requerer diligências;
3. Apreciação e decisão do caso.
Da leitura deste art. facilmente podemos retirar que o empregador pode recorrer a esta fase
quando não se conhece o autor, ou a infracção cometida. Daí que esta fase é muito
importante, pois quando se desconhece o autor, e ou a infracção cometida, o empregador
pode lançar a mão para esta fase, que em termos obrigatórios não pode exceder noventa
dias ou 3 meses.
29
LAMBELHO E GONÇALVES (2012:63) ‘Consideram que este procedimento é
meramente eventual. Serve apenas para os casos em que é necessário confirmar aquilo que
são meras suspeitas e ou precisar a factualidade passada.’
Não existe dispositivo relativo ao seu início, podendo se entender que possa iniciar
mediante uma determinação do titular do poder disciplinar para se proceder a investigação
ou nomeando o instrutor para a inquirição e averiguação dos factos. Também a lei não
exige que seja dado conhecimento ao trabalhador de que foi instaurado um procedimento
prévio de inquérito.
30
Na primeira hipótese, o empregador procede ao arquivamento, uma vez que não foram
encontrados nenhuns elementos.
Na segunda hipótese, o empregador tem elementos bastantes para querendo elaborar a nota
de culpa.
Na terceira hipótese, não sabendo nem suspeitando quem terá sido o infractor, não pode o
empregador elaborar a nota de culpa, visto que esta terá sempre de ser dirigida a um ou
mais sujeitos concretos, porém, se do inquérito resultarem fortes suspeitas de que a
infracção tenha sido cometida por um ou mais infractores determinados, o empregador
poderá elaborar a nota de culpa.
Não é qualquer pessoa que elabora a nota de culpa, do art.67ºn°2. Alínea. a) LT, facilmente
sabemos que é o empregador que elabora a nota de culpa ou que tem competências para tal,
porém, o empregador pode delegar competências para o superior hierárquico do trabalhador
e outra pessoa indicada pelo empregador, como por exemplo um advogado.
É nesta fase que findo o processo de inquérito, para se conhecer o autor e ou a infracção por
ele cometido (trabalhador), e estando reunidos todos elementos que provam a existência de
uma infracção, que o empregador pode querendo elaborar uma nota de culpa, contendo
31
todos os requisitos constantes do art. acima referenciado. Quais são estes requisitos?
Passamos a analisar de seguida.
É de se concordar com o autor acima referenciado quando diz que a nota de culpa é um
documento de carácter acusatório, pois é neste documento onde o empregador acusa o
trabalhador de ter praticado determinada infracção disciplinar, se quisermos estabelecer um
paralelismo com o processo penal, diremos então que o mesmo equivale á acusação.
Alguns autores têm ainda falado de mais um requisito que deve constar da nota de culpa
nomeadamente a comunicação de intenção de despedimento. Com a nota de culpa tem de
ser enviado ao trabalhador a comunicação da intenção de proceder ao despedimento se for o
caso disso. Da leitura do art.67ºn°2 LT o legislador não faz menção á obrigatoriedade de se
proceder a comunicação de intenção despedimento no nosso ordenamento jurídico, daí
32
afirmar que ao instrutor do processo disciplinar nada lhe impõe que insira na nota de culpa
um comunicado que faça menção da intenção de despedir o trabalhador.
33
Em alguns casos, o empregador pode suspender o trabalhador, nos termos do art. 67ºn°5 LT
«Com a notificação do trabalhador, da nota de culpa, o empregador pode suspender
previamente o trabalhador sem perda de remuneração, sempre que a sua presença na
empresa possa prejudicar o decurso normal do processo disciplinar.»
34
O empregador poderá antecipar a suspensão
preventiva do trabalhador para momento anterior á
notificação da nota de culpa desde que:
Note-se que nesta fase o empregador na nota de culpa pode informar ao trabalhador que
querendo, pode consultar o processo. A lei do trabalho não diz nada sobre a consulta do
processo, porém nos outros ordenamentos o trabalhador tem 10 dias para consultar o
processo9
9
Cfr. Art 355°n°1 CT
35
Ademais, sobre esta matéria diz o AC. STJ de 24.01.2007 (processo n°06S3854) o
seguinte:
De facto, a nossa lei, não impõe nenhuma obrigação, a verdade é que o fornecimento desses
dados com a notificação da nota de culpa faz parte da prática normal e, é ainda
recomendável na medida em que evita que se levantem futuras questões em torno dela.
36
3.6.1. Formas de notificação da Nota de culpa
Existem duas maneiras de notificação da nota de culpa, ou seja a lei do trabalho prevê duas
formas específicas de notificação ao trabalhador, desde que seja de forma escrita, podendo
ainda ser enviada ao trabalhador de maneira idónea ou por qualquer meio aceitável.
A notificação pessoal é aquela que é feita na pessoa do trabalhador ou seja é aquela em que
o empregador chama ao trabalhador arguido para receber a nota de culpa. Nos termos do
art.67ºn°2.aln.a) LT o empregador tem trinta dias para remeter ao trabalhador a nota de
culpa, o empregador entrega pessoalmente ao trabalhador a nota de culpa.
A notificação edital é aquela que é feita, por via de um edital nos casos em que o
trabalhador arguido esteja em parte incerta e se desconhece o seu paradeiro ou até quando
ele se recuse a receber a nota de culpa, nestes casos a empresa cola um edital durante 15
dias, para o trabalhador responder o processo disciplinar.10
Alguns autores têm discutido a notificação da nota de culpa ao trabalhador por outras vias
tais como: via postal, via jornal, por correio electrónico.
ALFREDO (2002:95) defende que:
O trabalhador (arguido) pode ser notificado via postal.
Conhecendo-se a sua residência e o endereço exacto envia-se
a nota de culpa por via postal, carta com aviso de recepção,
depois o processo prossegue os seus termos até final.
Ora vejamos a notificação via postal, por força da própria lei ela é inaceitável, uma vez que
o legislador apenas prevê a entrega da nota de culpa no local do trabalho, e através de um
edital fixado na empresa para o conhecimento do trabalhador.
10
Cfr art.67°n°7 LT
37
A notificação via jornal também não é aceite conforme a redacção do art.67ºn°8 da LT.
Quanto a notificação por correio electrónico, esta também não pode ser aceite pois podem-
se colocar problemas de provas quanto a autenticidade do emissor, á integridade do
documento, ou se o correio electrónico não for enviado através dos meios informáticos
usados.
3.6.4. Efeitos da notificação da nota de culpa via postal, jornal e por correio
electrónico.
Existem duas vias de notificação da nota de culpa ao trabalhador que o empregador pode
fazer uso. Entretanto, o legislador no n°8 do art. 67º LT vem proibir ao empregador que,
notifique os seus trabalhadores para responder a nota de culpa, com o uso de vias, tais como
o jornal, etc. Ora, se existem duas vias aceitáveis, então a lei afasta a possibilidade de
notificar o trabalhador via postal e por correio electrónico. Se o empregador usar essas vias
não aceitáveis quid júris? A resposta para esta questão e respondida pela própria lei no seu
art. 68ºn°4 cujo a redacção é a seguinte: «Constitui nulidade insuprível, em processo
disciplinar, a impossibilidade de defesa do trabalhador arguido, por não lhe ter sido dado
conhecimento da nota de culpa, por via de notificação pessoal ou edital, sempre que for o
caso disso.» Se o empregador notificar o trabalhador da nota de culpa via jornal, correio
electrónico e via postal, o processo disciplinar é todo nulo, e não há possibilidade de ser
sanada, o processo disciplinar é irreparável.
38
A nota de culpa é importante na medida em que também limita a acção do empregador em
todo o processo. Isto é, na decisão final não podem ser ponderados factos que não constem
da nota de culpa. Sem a nota de culpa o empregador não pode sancionar o trabalhador pelas
infracções por ele cometidas.
Após a entrega da nota de culpa ao trabalhador, o empregador pode descobrir novos factos
imputáveis ao trabalhador, na pendência do procedimento disciplinar. Coloca-se aqui a
questão de saber que caminhos o empregador pode seguir para sanar este problema.A lei
não prevê alguma solução para este problema, entretanto é um problema que pode gerar
problemas, e o empregador perante esta situação pode não saber de que meios ele pode se
socorrer para resolver este problema, uma vez que não existe nenhum dispositivo legal que
acautela, estabelecendo regras, caso tal facto aconteça.
A doutrina tem também previsto a mesma situação, e a maior parte dos autores são
unânimes para a resolução deste problema. Passamos a citar alguns autores que tem
previsto a mesma situação e as respectivas soluções.
Nas palavras de LAMBELHO e GOLÇALVES (2012:76) firmam que:
39
factos, nada parece impedir que a segunda nota de
culpa seja introduzida no âmbito do procedimento
disciplinar precedente, que prosseguirá com a
instrução relativa á totalidade das matérias em causa e
terminará com uma única decisão.
Para XAVIER (2005:438), ‘Haveria então que fazer um aditamento á nota de culpa, nos
mesmo termos que esta, e dando possibilidade ao trabalhador de se defender dos novos
factos que lhe são imputados.’
40
No entendimento de RAMALHO (2012:835):
Contudo, somos da opinião de que, o empregador pode fazer uma adenda ou complemento
á nota de culpa ou mesmo, instaurar ou elaborar novo processo disciplinar onde constam os
novos factos apurados imputados ao trabalhador, porém para que se concretize, o
empregador deve conceder ao trabalhador um novo prazo para responder, ademais, deve
haver a existência de um processo disciplinar em curso, isto é, o processo disciplinar não
estiver findo, desde que não se tenha sido proferido e comunicado a respectiva decisão.
Uma vez que a lei do trabalho em vigor em Moçambique não prevê tal solução, nem outra
legislação laboral, em vigor no país, somos da mesma opinião, de que é aceitável ou
razoável aderir as mesmas soluções acima referenciadas.
11
Neste sentido ver o AC. STJ de 05/27/2010 PC n°467/06 e Ac.RP de 11 de Novembro de2013 processo
nº884/12.0TTPNF-A.P1 disponível em https//www.dgsi.pt.
41
Ainda sobre o mesmo, no entendimento de EGÍDIO (2011:82) defende que:
42
3.7.Da fase de defesa
Nos termos do art. 67ºn°2 aln.b) LT«Após a recepção da nota de culpa o trabalhador pode
responder, por escrito, querendo, juntar documentos ou requerer a sua audição ou
diligências de prova, no prazo de 15 dias, findo o qual o processo é remetido ao órgão
sindical para emitir parecer, no prazo de cinco dias.»
Nesta fase da sua defesa o trabalhador tem também de cumprir certos requisitos, querendo
ou não responder a nota de culpa, nomeadamente:
1. Prazo:O trabalhador tem 15 dias a contar da data da recepção da nota de culpa para
responder. Ao órgão sindical o prazo para emitir o seu parecer é de 5 dias após a
recepção da resposta da nota culpa;
2. Forma:A resposta da nota de culpa feita pelo trabalhador, tem de observar a forma
escrita;
3. Conteúdo: Na resposta a Nota de culpa deve constar elementos que o trabalhador
considerar relevantes para esclarecer os factos de que lhe são imputados e a sua
participação nos mesmos. O trabalhador pode juntar, documentos, ou requerer a sua
audição ou diligências de prova.
12
Cfr. Art. 65º n°1 C.R.M
13
Cfr. art. 489º n°1 CPC
43
LAMBELHO e GOLÇALVES (2012:93-94), afirmam que:
Para SOUSA (2014:49), ‘A defesa vai consistir numa contestação escrita dos factos
descritos na nota de culpa, conjugada com a junção de todos os elementos de prova
requeridos pelo empregador.’
Nesta fase vigora o princípio do contraditório, onde o trabalhador pode contradizer todos os
factos que lhe são imputados. O trabalhador pode alegar factos não mencionados na nota de
culpa ou limitar-se a desconstruir a acusação elaborada pelo empregador. Os factos
constantes da resposta a nota de culpa podem, juntamente com os descritos na nota de
culpa, serem invocados pelo empregador para fundamentar a decisão final do processo
disciplinar.
Assim, quando o empregador quiser despedir o trabalhador, não pode o empregador negar o
direito de defesa do trabalhador, segundo a (Convenção sobre despedimento, 1982) 14 no seu
art.7º «Um trabalhador não deverá ser despedido por motivos ligados ao seu
comportamento ou ao seu trabalho antes de lhe terem facultado a possibilidade de se
defender contra as alegações formuladas, salvo se não poder razoavelmente esperar que o
empregador lhe faculte esta oportunidade.»
Quanto a entrega da resposta a nota de culpa, a lei não determina uma forma específica,
pela qual tal resposta possa chegar nas mãos do empregador. Sendo assim somos da opinião
de que dão-se aqui por reproduzidas as considerações atrás tecidas sobre a forma de envio
da nota de culpa, que encontram nesta sede igual validade.
14
Convenção n°158 aprovada para ratificação pela resolução da AR n°55/94, de 14/4/94, pub no DR, I série
A de 27/8/94
44
3.7.1. Consequências da não apresentação da resposta a nota de culpa pelo
trabalhador
A experiência tem mostrado que, se o trabalhador não responder a nota de culpa, os factos
que estão articulados na nota de culpa consideram-se confessados. Entretanto a LT não
prevê esta consequência.
Desta maneira somos da opinião de que se o trabalhador não responder a nota de culpa, não
estará a confessar os factos que lhe são imputados.E.g. Nos casos em que o trabalhador
quer responder mas ao mesmo tempo está impossibilitado de responder por qualquer causa.
Assim, estará ele a confessar os factos que lhe são imputados? Mas também o processo não
45
poderá parar porque o trabalhador não respondeu a nota de culpa, o processo deverá seguir
os passos ulteriores até o fim. Contudo somos parte da opinião dos dois autores acima
citados. O empregador também não é obrigado a parar o processo disciplinar porque o
trabalhador não respondeu a nota de culpa. Por outro lado, será que sempre que o
trabalhador não responder a nota de culpa serão considerados como reconhecimento dos
factos alegados?
Esta fase serve para acrescentar mais elementos que ajudem ao esclarecimento da verdade
através de outros meios de prova, uma perícia por exemplo. Outros autores ainda chamam
de instrução complementar.
Nos termos do art. 67ºn°2aln.c) LT «No prazo de trinta dias, a contar da dada limite para
a apresentação do parecer do órgão sindical, o empregador deve comunicar, por escrito,
ao trabalhador e ao órgão sindical, a decisão proferida, relatando as diligências de prova
produzida e indicando fundadamente os factos contidos na nota de culpa que foram dados
como provados.»
46
Nesta fase o empregador tem o dever de cumprir requisitos que podemos retirar do
dispositivo legal acima referenciado, nomeadamente:
É nesta fase em que vigora o princípio da proporcionalidade, que obriga a que a sanção
disciplinar aplicada seja proporcional á gravidade da infracção e á culpabilidade do
infractor. Assim na sanção de despedimento é essencial atestar a gravidade e culpabilidade.
A decisão pode ser proferida somente pelo empregador ou pelo superior hierárquico do
trabalhador, assim não pode ser o advogado a proferir a decisão. Estas duas partes não
podem aplicar sanções que extravasam os limites impostos por lei.
Nos casos em que o empregador aplica duas ou mais medidas disciplinares pela mesma
infracção, é uma das questões que nos vem a colação. Entretanto, esta questão nos é
respondida pela própria lei, no seu art.64ºn°3 LT «Pela mesma infracção disciplinar não
pode ser aplicada mais do que uma sanção disciplinar.»
15
ALFREDO, Benjamim, O Regime Jurídico do processo disciplinar e do Despedimento
47
Aqui, está consagrado o princípio nen bis in idemSOUSA (2012:79) afirma que: ‘isto
significa que a lei penal não poderá ser aplicada mais de uma vez aos mesmos indivíduos
pela prática dos mesmo factos.’
O mesmo acontece com o Direito do Trabalho, o empregador não pode aplicar duas ou
mais sanções pela mesma infracção disciplinar cometida pelo trabalhador. NoEGFAE
também acontece o mesmo, no seu art.98ºn°1 «A nenhum arguido é aplicada mais de uma
sanção pela mesma infracção disciplinar.»
48
outras palavras, pode o empregador sancionar o trabalhador por infracção diversa da que foi
objecto de acusação?
A, trabalhador, faltou duas vezes ao serviço. B, empregador, elaborou uma nota de culpa á
A, trabalhador, acusando-lhe de abandono do lugar infracção disciplinar prevista no art.
66ºn°1 alínea. o) LT.
Ora vejamos, a falta injustificada constitui infracção disciplinar, porém, B pode convolar,
ou seja pode sancionar o trabalhador por duas faltas injustificadas, ao invés de sancionar
por abandono de lugar que foi objecto da acusação.
EGÍDIO (2011:109) afirma que: ‘Já não se pode fazer o mesmo em relação a embriaguez,
uma vez que esta não constitui qualquer ingestão do álcool, e o legislador considera
infracção disciplinar, se a ingestão de álcool, se chegar aos níveis de embriaguez.’
O autor nesses casos considera que já não se pode fazer a convolação, pois a ingestão do
álcool não constitui infracção disciplinar, neste caso o empregador só pode sancionar o
trabalhador pelo que é acusado, se o trabalhador é acusado de embriaguez deve ser
sancionado de tal infracção, cabendo ao trabalhador na sua defesa provar que não estava em
estado de embriaguez na resposta á acusação.
Podemos concluir então que a convolação pode ser feita em alguns casos, se por exemplo
na primeira nota de culpa o empregador acusar o trabalhador de certa infracção e vier a
descobrir que a infracção configura outro tipo de infracção diversa da primeira.
E já não se pode fazer o mesmo no caso de embriaguez em que o empregador descobre que
não foi embriaguez mais sim simplesmente a ingestão do álcool que não chegou a
embriaguez. Ficando a seguinte questão: Que infracção disciplinar diversa seria o
trabalhador sancionado?
49
Sendo assim somos da mesma opinião do autor acima referenciado, pelas mesmas
observações por si feitas. Vemos também que não faria sentido convolar nos casos em que
não exista uma outra sanção disciplinar a aplicar, de notar que a convolação é mudar de
uma situação jurídica para outra.
Após a decisão proferida pelo empregador, a mesma deve ser executada dentro de um prazo
legal, de noventa dias subsequentes á tomada da decisão.16
No primeiro caso o trabalhador aceita a decisão e segue a sua vida, não reagindo a qualquer
sanção. Na segunda hipótese, segundo EGÍDIO (2011:110),
16
Art.65°n°5 LT ‘ A execução da sanção disciplinar tem de ter lugar nos noventa dias subsequentes á decisão
proferida no processo disciplinar.’
50
mecanismos extrajudiciais para a resolução do
problema, quais sejam (conciliação, mediação
ou arbitragem), ou mesmo recorrer ao tribunal.
Esta fase pode não existir nos casos em que depois da abertura do processo disciplinar, o
mesmo terminar com absolvição do trabalhador, uma vez que não há nenhuma sanção a
aplicar ao trabalhador. Podemos também afirmar que a fase de inquérito pode não existir
nos casos em que o empregador tenha provas bastantes que houve uma infracção e um
agente, achando-se então desnecessário a abertura do inquérito prévio.
Podemos ainda concluir que as fases de acusação defesa, decisão, e execução da sentença
do processo disciplinar podem não existir, na medida que, aberto o inquérito, não haver
instauração de nenhum processo, efectivamente porque não puderam existir as outras fases
subsequentes.
Em resumo podemos dizer que, para que exista um processo disciplinar eficaz, três fases
são obrigatórias no decurso do processo disciplinar, que são a fase de acusação, defesa, e
decisão, dentre as quais estão previstas no artigo 67ºn°2 LT, porém existem as fases
complementares, tais como a fase do inquérito, intenção de despedimento, consulta do
processo, instrução, e execução da sanção disciplinar.
51
Nos termos do artigo 68ºn°1 aln.a) «O processo disciplinar é inválido sempre que:
Não for observada alguma formalidade legal, nomeadamente a falta dos requisitos da nota
de culpa ou da notificação desta ao trabalhador, a falta de audição deste, caso a tenha
requerido, a não publicação de edital na empresa, sendo caso disso, ou a falta de remessa
dos autos ao órgão sindical, bem como a não fundamentação da decisão final do processo
disciplinar;»
A nota de culpa que não contenha os requisitos previstos no art.67ºn°2 aln.a) LT é inválida
por incompleição, ou seja não se pode considerar válida a nota de culpa que seja remetida
ao trabalhador passados trinta dias após o conhecimento da infracção, a falta de remessa ao
trabalhador bem como ao órgão sindical, que não seja por escrito, e a nota de culpa que não
contenha a descrição detalhada dos factos e circunstâncias de tempo, lugar e modo do
cometimento da infracção imputada ao trabalhador. A falta desses requisitos acarreta
igualmente a invalidade do processo disciplinar.
52
c) Falta de audição do trabalhador que tenha requerido;
Nos termos do art.67ºn°7 LT, prevê que se o trabalhador recusar de receber a nota de culpa
ou estando ele ausente e em lugar desconhecido, o empregador deve no prazo de 15 dias
afixar um edital convocando ao trabalhador para receber a nota de culpa, contudo se o
empregador não o fizer, o processo disciplinar será inválido.
Nos termos do art.67ºn°2 alns.a), b), c) LT o legislador impõe que a nota de culpa, a
resposta a nota de culpa, bem como a decisão final, sejam todas remetidas ao órgão
sindical. Caso a remessa dos autos não forem entregues ao órgão sindical o processo é
inválido.
O processo disciplinar também é inválido, nos casos em que não são verificados a
realização das diligências de provas requeridas pelo trabalhador.
53
Segundo EGÍDIO (2011:118):
Contudo, concorda-se com autor, nos termos do art. 68ºn°1 aln.c) LT «O processo
disciplinar é inválido sempre que: Houver violação dos prazos de prescrição da infracção
disciplinar, da resposta a nota de culpa, ou de tomada de decisão.»
O processo disciplinar depois de instaurado pode infirmar vários vícios, porém a lei do
trabalho abre espaço para que os mesmos vícios sejam limados, ou sanados. Contudo
podemos retirar da lei que, não são todas as causas de invalidade do processo disciplinar
que podem ser sanadas. As que não podem ser sanadas são as seguintes:
Nos restantes casos previstos no art.68º LT podem ser sanados até ao encerramento do
processo disciplinar ou até dez dias após o seu conhecimento.
54
3.9.2. Esquema do procedimento disciplinar
Fases
Acusação Defesa Decisão
Prazo
30 Dias 15/5 Dias 30 Dias
Autor
Empregador Trabalhador Empregador
Forma
Escrita Escrita Escrita
Destinatários
Trabalhador Empregador/OS Trabalhador
Acto
Nota de culpa Res.Nota de culpa Decisão Final
55
CAPÍTULO 4
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
4.1. Conclusões
Para aplicação das sanções disciplinares, previstas na lei do trabalho, excepto admoestação
verbal e repreensão registada, o legislador considera que o procedimento disciplinar é
único, independentemente da sanção que for aplicada ao trabalhador.
Podemos afirmar que o processo disciplinar de forma geral, comporta determinadas fases
impostas por lei nomeadamente: Fase de Acusação, Fase de Defesa, Fase de Decisão, não
obstante a lei do trabalho prever três fases, existem outras fases que sãocomplementares.
Em outros ordenamentos jurídico ainda prevê-se a fase de instrução, da intenção de
despedimento entre outros.
São estas fases que fazem o processo disciplinar como tal, sendo assim não se pode também
só instaurar, um processo disciplinar sem ter em atenção estas fases, porque se assim for
não estaremos perante um processo disciplinar válido, ou regular.
Conclui-se também que na nota de culpa não deve conter imputações meramente abstractas
ou genéricas, porque estas são consideradas irrelevantes, sendo portanto necessário
56
formular uma acusação através de factos precisos e concretos, devendo enunciar-se todas as
circunstâncias conhecidas de modo, tempo e lugar, com referências aos preceitos legais
infringidos e às provas que permitirão alcançar as conclusões. De notar que a nota de culpa
é uma declaração escrita recipienda, a qual se aplica o art. 224º do CC.
Contudo conclui-se que estas fases constituem normas imperativas, a lei exige que para a
instauração de um processo disciplinar, devem ser seguidas fases, ou requisitos para o
sucesso da mesma.
Concluímos também, que para notificar o trabalhador da nota de culpa, a lei exige uma
forma, deve ser uma notificação pessoal, e notificação edital, contudo não é aceite outro
tipo de notificação da nota de culpa ao trabalhador.
Embora a lei não prevê situações de como pode o empregador proceder se na pendência do
procedimento disciplinar forem descobertos novos factos imputados ao trabalhador,
concluímos que, ainda que não haja, há sempre espaço para uma solução, na doutrina bem
como na jurisprudência, abrem espaço para resolução deste problema, o empregador
encontrando-se nesta situação, pode fazer um complemento a nota de culpa, ou ainda
elaborar um novo processo disciplinar.
Mas existem pressupostos para que haja esta solução, primeiro que o empregador conceda
novo prazo para que o trabalhador possa se defender dos novos factos que lhe são
imputados, e que exista um processo disciplinar em curso contra o trabalhador.
Por fim concluímos que, o processo disciplinar tem de ser rigorosamente cumprido sob
pena de irregularidade do mesmo. Desde a data do conhecimento da infracção até a
execução da sanção propriamente dita, as partes devem rigorosamente cumprir com os
prazos previstos na lei, sendo que os prazos no procedimento disciplinar, são de imensa
importância, e na falta de cumprimento dos prazos podem causar problemas no âmbito do
processo disciplinar instaurado.
Quanto aos requisitos da nota de culpa e aos efeitos da sua inobservância, concluímos que
os requisitos na nota de culpa são elementos imprescindíveis e que devem ser rigidamente
seguidas. A nota de culpa deve ser escrita, ou seja é um documento escrito, em que deve
57
obviamente ser identificado o trabalhador e na qual se enunciarão de forma clara os factos
que lhe são imputados, com a sua localização no tempo e no espaço, e modo de como
ocorreram, quando, onde e como tiveram lugar, e também, como parece crucial, as
consequências danosas e ou riscos que o comportamento do trabalhador acarretou para a
empresa.
Caso o trabalhador se recusar de receber a nota de culpa, deve ser confirmado pela
assinatura de dois trabalhadores, dos quais de preferência um seja membro do órgão
sindical existente na empresa. O empregador tem igualmente a faculdade de suspender o
trabalhador, desde que não perca o direito a remuneração.
A cópia da nota de culpa deve ser enviada ao órgão sindical da empresa se existir, na
mesma data em que for remetida ao trabalhador arguido, caso tal órgão não exista, deve a
cópia ser enviada ao órgão sindical imediatamente superior ou a comissão de trabalhadores
eleita em assembleia-geral expressamente convocada para o efeito.
Quanto ao efeito da sua inobservância o processo disciplinar é inválido, ou seja se não for
observada ou ocorrer a falta dos requisitos da nota de culpa, ou a entrega da nota de culpa
ao trabalhador o processo disciplinar é inválido. Vide artigo 68º nº1 a) LT.
58
4.2. Recomendações
Deve ainda o legislador deixar bem claro que para haver tal possibilidade, o
empregador deve conceder novo prazo para o trabalhador se defender dos factos que
lhe são imputados, que deve existir um processo em curso, e que o mesmo não
tenha findado para tal fim;
Quanto a consulta do processo, o legislador deve deixar claro que o trabalhador tem
o direito de consultar o processo. Há casos em que empregadores com a notificação
da nota de culpa, não fazem referência a consultado processo, ou seja, não dão a
entender que o trabalhador pode consultar o processo. Embora seja o trabalhador
que tem de pedir a consulta do processo, nem todos os trabalhadores sabem desse
direito, daí a necessidade do legislador deixar claro tal possibilidade;
Embora haja possibilidade de se fazer convolação, que a nossa lei não prevê, o
legislador devia consagrar uma norma jurídica que prevê a convolação nos casos em
que haja lugar no processo disciplinar.
59
BIBLIOGRAFIA
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DINIZ, Maria Helena, Dicionário Jurídico, 3ã ed., Saraiva, São Paulo, 2007
FERNANDES, António Monteiro, Direito do Trabalho, 14ª ed. Almeida, Coimbra, 2009.
GOMES, Júlio Manuel Vieira, Direito do Trabalho, Relações individuais de Trabalho, Vol.
Coimbra, 2007.
60
LEITÃO, Manuel Teles de Menezes, Direito do Trabalho, 2ª ed. Almeida SA, Coimbra,
2010.
VEIGA, António Jorge da Mota, Lições de Direito do Trabalho 6ª ed. Editores e Livreiros,
LDA. Lisboa. 1995.
61
Legislação Consultada
Convenção sobre despedimento Convenção n°158 aprovada para ratificação pela resolução
da AR n°55/94, de 14/4/94, pub no DR, I série A de 27/8/94
lei n° 12/2009, De 12 de Março lei que (Estabelece os direitos e deveres da pessoa vivendo
com HIV e SIDA e adopta medidas necessárias para a prevenção, protecção e tratamento da
mesma)
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