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O capitalismo colonial tem de fato grande influência nas formas que a cultura se
molda constantemente, considerando que a cultura brasileira é multicultural, pois é
composta por diferentes comunidades culturais, temos sérios problemas com a aceitação
das culturas subalternizadas, logo das pessoas que estão nesta situação. Contudo
sabendo que não existe culturas puras em países híbridos socialmente, entendemos que
o fator financeiro age de forma cruel para definir o que pode e não pode ser apresentado
como cultura, e quem pode e não pode ser apresentado como brasileiro. Corpos negros,
mulheres cis, mulheres trans, pessoas não binarias são massacradas todos os dias seja
por armas ou seja pela exclusão do capital, pois a cultura dominante se faz do mercado e
a classe dominada é refém desta lógica mercantil, e como já colocado o mercado
delimita barreiras. Infelizmente a ideologia organizacional brasileira é colonial e
capitalista.
Apresento o problema do capital-cultural para contra argumentar a noção de
Araujo à colocação: “não bastará pensar para além da ideia de negro, buscando uma
suposta universalidade que congregre a esse corpo a fuga dos estigmas e marcas nele
postas – ainda que este já esteja emoldurado por subjetividades diversas.” (ARAUJO,
2019, p.1) Me pergunto que subjetividade é esta? Quem emoldurou estas subjetividades
diversas? Se subjetividade diz respeito ao particular de cada pessoa, como pode esta já
estar emoldurada? Acredito sim que buscar a fuga dos estigmas e marcas postas nos
corpos excluídos é o início do caminho para que criemos outros modos de ser e estar no
mundo, pois se até a nossa subjetividade já está escrita, e não é por nós, é sim preciso
balançar está estrutura para podermos SER em todas as áreas da sociedade;
Atentamos para o fato que nosso corpo, enquanto texto, se constrói a
partir do que sabemos sobre ele e também sobre o que é dito sobre ele. A
população negra brasileira tem um texto pré-escrito não muito favorável à
sua ascensão e valorização cultural. A corporeidade negra sofre em ser-no-
mundo. (SILVA J. G., out. 2014, p. 270)
A arte é pioneira em falar do que ninguém mais quer, logo artistas negros estão
falando de si, do seus, dos nossos e abrindo uma rede interminável de ações que nos
colocam como protagonistas de uma história jamais contada. O corpo negro adoecido
propositalmente vem se embebedando de ancestralidade e criando novas fabulações
para o povo preto, a arte afeta diretamente a cultura que em movimento trança de forma
definitiva em sua história o que os artistas negros gritam. A ponto que como fomos
calados, escravizados, objetificados e domesticados hoje não falamos de um jeito dócil e
confortável para quem sentado no seu trono de privilégio nos escuta por querer ou não.
A arte negra nem sempre vai ferir olhares, mas sempre vai fazer verem o que não
gostariam de ver, pois um corpo negro em evidencia para hegemonia branca já causa
incomodo.
No texto, Presenças: A performance negra como corpo político, é apresentado
quatro artistas negros que através da performance fazem dos seus corpos, incômodos
críticos em meio a massa branca “(...) tanto esses artistas quanto o coletivo A presença
Negra permitem refletir a acerca da importância do corpo como forma de estar,
problematizar e usar os espaços tido por culturalmente legítimos” (BISPO, Abril. 2015,
p. 112) Os espaços tão bem demarcados pela branquitude quando percebe a presença
negra, não lavando chão, mas criando consciência crítica, se ofende, pois mesmo
inconsciente entende que aquilo lhe afeta de alguma forma, seus privilégios estão sendo
expostos e criticados por alguém que devia somente limpar a sua sujeira. A performance
negra é dispositivo de múltiplas problematizações, mesmo quando o performer não está
trabalhando pelo viés do racismo, o corpo negro levanta sempre questões, pois é o corpo
que destoa-se em lugares legitimados por pessoas brancas.
O corpo é nossa representação no mundo, e a importância de representação dos
corpos negros vem sendo cada vez mais pautado, para que isto não seja feito por outros
e sim por nós mesmo. A ancestralidade é cumplice desta representação, pois é a partir
dela que entendemos a importância de sermos e entendermos politicamente o corpo que
levamos, o corpo que chega antes de qualquer expressão. O corpo escravizado está até
hoje marcado, então a representatividade buscada pelas gerações atuais reformulam
tudo o que estava “prescrito” sobre a pele negra. Apresento a geração Tombamento no
Brasil, Fashion Rebels na África do Sul, o Afropunk nos EUA como redes e encontros
de perspectivas novas sobre o corpo negro, estes grupo através da estética dos cabelos,
roupas e autoestima afrontam os padrões brancos normativos, e os entendo por rede
porque mesmo não pertencem ao mesmo país, estão conectados por potencializar corpos
negros, que de afetos se afetam e se encontram em espaços que somente os povos
negros em diáspora ou na África podem acessar e sentir
.
Permeada por memórias individuais e coletivas que ressoam ao longo
do tempo em caráter resistente, a performance negra (Cf. Rosa, 2015) é
expressão de negras e negros no mundo assimilando a dimensão simbólica do
corpo naquele tempo e espaço específicos e, por conseguinte, a dimensão
dramatúrgica do corpo. Esse núcleo ancestral torna-se também sentido. A
ancestralidade é potência da dramaturgia do corpo na performance negra.
(SILVA R. d., MAIO/AGO. 2017, p. 255)