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1 - Lindaura Vieira é Psicóloga Pós-graduação em Psicologia Organizacional Pós-Graduando em Neuropsicologia. Psicóloga Clínica e
Organizacional Consultora, especialista em Treinamentos, Palestras e Workshop. Em Avaliação Neuropsicológica e Psicodiagnóstico,
Wellness Coaching, Depressão, Fobias, Stress, Ansiedade, Sexualidade, Dificuldade de Aprendizagem. E-mail: lindapsicologa@hotmail.com
2 - Fernando José Lopes é mestre em Cognição e Semiótica PUC-SP, pós-graduado em Gestão de Pessoas na Universidade
Paulista, graduado em Administração e Professor das Faculdades Integradas Campos Salles – FICS nas áreas de Gestão e Graduação em
Administração e Ciências Contábeis. Professor convidado dos cursos de pós-graduação em Psicologia Organizacional e Departamento
Pessoal na Universidade Paulista - UNIP. E-mail: lopesfj2008@gmail.com
3 - Monica Maria Martins de Souza é Jornalista, psicóloga Clínica Educacional, Organizacional, Drª em comunicação e semiótica, Psicóloga
Mestre em Administração, Especialista em Tecnologia da educação, em Recursos Humanos e em Educação com ênfase em EAD/SP.
Editora de Revistas Acadêmicas, Prof e Pesquisadora de Pós-graduação Mackenzie, UNIP, ENIAC – Guarulhos SP e Faculdades Campos
Salles. E-mail prmonica@gmail.com
Resumo
O presente artigo visa propor uma reflexão sobre os recursos que o indivíduo utiliza para proteger sua
identidade no contexto organizacional. A metodologia foi o recorte e análise de artigos científicos. A
pesquisa aqui apresentada tem caráter bibliográfico. A proposta foi uma pesquisa qualitativa, dentro de
uma abordagem psicossocial, ou seja, que busca compreender o ser humano dentro do seu contexto sócio
histórico. Este estudo identificou, analisou e comentou como o indivíduo nas organizações interage com
o outro para atingir seus objetivos fazendo uso de máscaras sociais. A transição de como esse trabalho
ocorre e o benefício por ele produzido ajudou o indivíduo a formar sua identidade. Assim, a partir da
abordagem da identidade dos indivíduos na cultura organizacional e o uso de máscaras sociais, foram
extraídas reflexões, que ampliaram as discussões acerca dos recursos que o indivíduo utilizou para ser
inserido nos grupos sociais.
The objetive of this research was to investigate social Masks: A reflection on the possible resources that the individual uses
to protect its identity in the organizational context. The methodology was the separation and analysis of scientific articles.
The research presented here is bibliographical. The proposal was a qualitative research, within a psychosocial approach, ie,
that seeks to understand the human being within its socio-historical context. This study identified, analyzed and commented
on how the individual interacts with other organizations to achieve their goals makes use of social masks. The transition
occurs and how this work he produced helped benefit the individual to shape his identity. Thus, from the approach of the
identity of individuals in organizational culture and the use of social masks, reflections were extracted, which broadened the
discussions about the resources that the person used to be inserted in social groups.
284 VIEIRA, L.; LOPES, F.J.; SOUZA, M.M.M.: Máscaras Sociais: Uma Reflexão Sobre Os Recursos Que O
Indivíduo Utiliza Para Proteger Sua Identidade No Contexto Organizacional.
mente do funcionário um modelo também são muito importantes nas
comportamental adequado a sua cultura investigações científicas.
organizacional que, por meio de estímulos e Além disso, Lakatos e Marconi (2010)
reforço positivo, possibilita aos dois atingir os também afirmam que a forma de coleta e a
seus objetivos. análise de dados também diferem. “No método
Pensando nesta afirmação de Souza quantitativo, os pesquisadores valem-se de
(2015) se definiu o referencial teórico. Eibesfeldt amostras amplas e de informações numéricas,
(1973) tece considerações sobre os recursos que enquanto que no qualitativo as amostras são
o indivíduo utiliza para proteger a identidade no reduzidas, os dados são analisados em seu
contexto organizacional, é complexo e subjetivo psicossocial e os instrumentos de coleta não são
visto por Bystrina (1995). Dejours (1992) tece a estruturados” (LAKATOS; MARCONI, 2010,
possibilidade do ser se auto compreender. As p. 269). A organização é um espaço de conflito
estratégias deste recurso, de acordo com Caillois, em permanente busca da solução (SILVA;
(1967:60) carrega opiniões por vezes MENEZES, 2001, p.20).
contraditórias em função das regras do jogo da Caillois, (1967:60). Aponta que do ponto
representação. Na organização o homem se de vista cientifico o indivíduo usa máscaras no
compreende e se percebe como indivíduo e contexto organizacional para ampliar as
como grupo e se relaciona com a sua imagem – discussões. O uso simbólico de máscara permite
persona. As representações impostas pelas identificar que toda atividade social é a
máscaras carregam os seus valores socialmente representação de papéis nos quais as pessoas se
estabelecidos e por meio do cargo, se impor conhecem e se reconhecem uns aos outros. A
e/ou se proteger. Neste espaço, supõe-se aceito máscara passa a ser a própria identidade, ou seja,
temporariamente de um ponto de vista fictício, a percepção que se tem de si mesmo. O
uma ilusão permitida. Ali o homem vive um indivíduo constrói sua própria mascara e a torna
personagem e se conduz como tal personagem. verdadeira personagem que o identifica e que se
[...] Ele é um simulacro, pois, se encontra diante traduz na construção de um estilo, a máscara que
de situações nas quais se faz acreditar e faz esconde a identidade e deixa mostrar aquilo que
outros acreditarem que ele é outro que não ele se pretende ser. A compreensão sobre o próprio
mesmo – chefe, colega, responsável, importante. ser é um fator importantíssimo para a tomada de
[...] Ele foge da realidade para um outro mundo decisões e em que momento deve-se tirar as
e se faz passar por outro (CAILLOIS, 1967:60). máscaras.
Segundo Lakatos e Marconi (2010), além O indivíduo no processo de interação
dos métodos específicos das Ciências Sociais, com o outro na empresa, encena determinados
como o de Abordagem e o de Procedimento, o papéis, no decorrer da interação social, os
método Qualitativo e o método Quantitativo significados vão sendo modificados e integrados,
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Indivíduo Utiliza Para Proteger Sua Identidade No Contexto Organizacional.
chama atenção para os processos de aprendizagem As articulações do sistema simbólico e
organizacional que nada mais são que jogos de repetições
do real na relação dos homens com a empresa”
– o que se traduz no processo de treinamento. A
definem o comportamento desejado.
empresa utiliza sons e imagens quando estabelecem
metas a serem atingidas pelos funcionários. Para vencer Compreende-se que toda pessoa tem
essas metas, o funcionário adota a identidade necessidades que variam de pessoa para pessoa,
corporativa porque ela é imperativa para quem quer influenciando em diferentes padrões de
permanecer empregado. Tal procedimento exige esforço,
comportamento. A satisfação das suas
pois os nômades precisam ficar surdos e insensíveis ao
necessidades são os motivos do seu
chamado de sua natureza andarilha, Flusser (1979)
para se sedarem e representar. Eles re-significam os comportamento e reside no próprio indivíduo.
signos corporativos e os in/corporam para compor os Cada indivíduo tem seu tempo e sua forma de se
papéis designados pela empresa e representá-los. Esse saciar enquanto indivíduo, portanto a motivação
arranjo é possível porque a representação de papéis foi
de cada um é individual e carregada de
apreendida e utilizada para se comunicarem quando da
características únicas fazendo com que este
formação dos primeiros vínculos familiares conforme
Harlow (1970). A comunicação organizacional - as indivíduo tenha sua própria vontade e desejo
normas - utiliza os processos comunicacionais a partir levando a ter determinado comportamento em
do núcleo familiar, que segundo Eibesfeldt (1973:179), alguma situação pela qual estiver passando.
representam o primeiro espaço em que se criam vínculos
O trabalho pode ser uma fonte de prazer
e se contribui para mantê-los. Estabelecem os primeiros
ou não, pode estar associado ou não a trocas
elementos de limites sociais, demarcam espaços para as
primeiras formas de sociabilidade, agregam, reúnem,
visando o financeiro, seria uma atividade útil,
cuidam da união das pessoas e inter-relacionamento. com objetivo que vai além de ser agradável ou
Pross (1980:37) lembra que a simbolização é uma desagradável. Quanto ao emprego Morim (2001)
necessidade do homem, já que “vive representando signos
explica que é a ocupação de um indivíduo dentro
e existe através deles”. Essa representação é aprendida
da organização, que corresponde a um conjunto
na comunicação familiar, primeiro núcleo onde é
experimentado este ato complexo de aprendizagem que de atividades remuneradas, implica quase sempre
socializa e adapta, para repetir posteriormente nos na noção de salário e no consentimento de
demais espaços existenciais – isso constitui a realizar atividades ditadas por outra pessoa.
idiossincrasia – forma de ver pensar e sentir o mundo,
Entende-se que na realização de uma atividade,
a partir das experiências vividas. Para atingir os seus
de um trabalho o indivíduo possa produzir algo
objetivos, as instituições assumem a tarefa de treinar,
desenvolver, medir a aprendizagem, controlar e corrigir, útil, buscando por uma satisfação pessoal, o
o corpo funcional através de dispositivos disciplinares – emprego nos parece ser algo imposto,
“premiação e punição” (Foucault, 2002:165) pelo condicionando sua realização com o pagamento
papel que representa no cargo.
pelo mesmo.
O modo como os indivíduos trabalham
e o que eles produzem, causa impacto sobre o
que pensam e como percebem sua liberdade e
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Indivíduo Utiliza Para Proteger Sua Identidade No Contexto Organizacional.
Enquanto o funcionário acreditar que a flexibilidade e agilidade, criatividade e
empresa possibilitará a sua realização como competência, trabalho em grupo e alto grau de
pessoa e profissional ele se dedicará e levará a compromisso. As mudanças têm ocorrido de
empresa a realizar os objetivos dela. forma rápida e cabe aos profissionais das
Compreende-se que nesse contexto social a empresas acompanharem essas alterações
competição provocada pela evolução conforme Dutra (1996) e
tecnológica nos últimos anos e o cenário global Segundo Boog (1999), a competência é
de constantes mudanças provocou amola que move a empresa, o dinheiro é o
transformações nos modelos organizacionais, motivador das pessoas onde prevalece primeiro
mas o comprometimento mantém a recurso da o eu, depois o grupo, e um bom gerente deve ser,
máscara. Todas essas mudanças são antes de tudo, um bom técnico, muito eficiente,
fundamentais e acontecem tanto no ambiente com estilo centralizado, diretivo e que não delega
externo como no contexto interno das poder.
organizações. Com o desenvolvimento global a A aprendizagem é caracterizada por
necessidade de se travestir aumentou porque o assimilação do conteúdo, que nada mais é que
funcionário passou a ser muito mais exigido. uma internalização transformada em
A globalização fez com que as pessoas se conhecimento. Esse conhecimento será aplicado
preparassem mais para serem mais competitivos ou praticado pelo indivíduo e agregará nova
no mercado de trabalho. Esse processo informação àquela que já foi aprendida e será
contemporâneo força as pessoas estudarem acomodada, dando origem a um novo processo.
mais, se aperfeiçoarem por meio de cursos Dessa maneira, a aprendizagem pode ser
atualizadores onde buscam mais informações contínua, desde que haja interesse por parte do
para transformá-las em diferencial competitivo. indivíduo e que essas novas informações façam
Angariam conhecimento, e aperfeiçoam a arte de significado com o que ele já aprendeu, é um
substituir várias máscaras. Um permanente ator processo constante.
em cena trocando de máscaras e personagens
Conforme Dilworth (apud
3. A Competividade Nas MARQUARDT, 2005, p.118), o aprendizado
Organizações decorrente de um programa de aprendizagem
pela ação tem maior valor estratégico para a
Além da exigência de maior escolaridade
organização do que a vantagem tática imediata
e da necessidade de multifuncionalidade, os
de resolver um problema.
trabalhadores passaram a sentir a necessidade
A aprendizagem em uma equipe
cada vez maior de se prepararem para o mundo
depende muito das relações existentes entre os
onde as palavras que se destacam são:
indivíduos, depende da confiança que um tem
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Indivíduo Utiliza Para Proteger Sua Identidade No Contexto Organizacional.
No que diz respeito às organizações, diz conjunto de traços, de imagens, de sentimentos
Robbins (2002), as incertezas do mundo que o indivíduo reconhece como fazendo parte
moderno limitam sua capacidade de prever dele próprio. A identidade pode ser representada
necessidades, diminuindo sua responsabilidade pelo nome e ou por outras denominações como
pelo desenvolvimento profissional de seus as referentes ao papel social. Na representação
colaboradores. Entretanto as organizações de si através da qual é possível apreender a
podem e devem orientá-los e estimulá-los a identidade é sempre a representação de um
desenvolver sua própria identidade e objeto ausente (o si mesmo). Desta forma, a
competência, lidando com o diferente e o novo. identidade se refere a um conjunto de
As emoções são parte de nossas vidas e as representações que respondem a pergunta quem
pessoas carregam um componente emocional és. O vocábulo de identidade se define tanto
com elas para o trabalho todos os dias. As como qualidade do que é idêntico, igual, como a
emoções são essenciais para construir uma ponte noção de um conjunto de caracteres que fazem
vigorosa entre o indivíduo e o trabalho. Sem reconhecer um indivíduo como diferente dos
emoção, não há envolvimento nem energia para demais diz Jacques (1999, p. 164).
a ação (ROBBINS, 2002). Compreendemos que mesmo isolado o
O trabalho é uma atividade que coloca as indivíduo se constitui através do outro, como
pessoas em contato umas com as outras, exemplo, modelo ou concorrente. Silva e
contribuindo para o crescimento da identidade Nogueira (2001) apud Erikson a identidade é
delas, um trabalho que tem sentido permite vista como pessoal e cultural, somente dentro de
colaborar com os outros, ajudarem a resolver um grupo o indivíduo pode se tornar um ser
seus problemas, ser reconhecido por suas verdadeiro e autêntico. O indivíduo mesmo
habilidades. Compreendemos que esse contato isolado precisa fazer parte de um grupo para
age como um estimulante para si mesmo, para o satisfazer seus desejos e objetivos. A realidade do
desenvolvimento de sua identidade pessoal e indivíduo é construída através da sua percepção
social e para o desenvolvimento de relações do mundo, como crenças, valores, entre outros.
duráveis, contribuindo para a sua relação no Esta construção permite que o indivíduo na
contexto social para Morim (2001). organização compartilhe com outros integrantes
normas e valores que são tidas como certas no
4. A Identidade Dos Indivíduos Na contexto organizacional.
Cultura Organizacional Ao ser contratado para exercer
determinado cargo na empresa, o indivíduo se
O conceito de identidade para Jacques
une com outros indivíduos para atuarem dentro
(1999, p. 161) diz respeito à imagem,
de um mesmo sistema sociocultural. Essa união
representação e conceito de si; referem-se a um
provoca a troca de crenças, valores, hábitos,
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Indivíduo Utiliza Para Proteger Sua Identidade No Contexto Organizacional.
novas descobertas e formas de realizar atividades dos sujeitos. No carnaval, no teatro e nas danças,
no contexto organizacional. Entende-se que o as máscaras determinam o caráter dos seus
trabalho e a organização passam a ser as bases personagens. Para Gama (2005), o indivíduo na
centrais de representação do eu para o indivíduo, sua interação com o outro desenvolve mais do
ou seja, quanto maior o reconhecimento do que um personagem, podendo o indivíduo
indivíduo no trabalho ou no grupo, maior é à encenar um papel conforme se apresente num
força desses elementos na construção de si. contexto social. Ele tem vários personagens, não
Para construir uma identidade, o dispensando nenhum deles. Nesta situação o eu
indivíduo precisa formular um significado do é estritamente social. É diante do outro, a partir
mundo, para finalmente se ver como alguém e das respostas do outro em relação a si mesmo,
ocupar um lugar nele. Para interagir com esse que o indivíduo se constitui. Na relação social
ambiente diversificado, múltiplo e instável, o com o outro, o indivíduo possui um conjunto de
novo indivíduo social precisa desenvolver máscaras que utiliza conforme o tipo de público
modos de inserção nesse espaço, seja expondo- que se apresente em determinado momento.
se ou por meio de máscaras. Vejamos mais a esse A interação social surge na relação de
respeito no próximo item. expectativas entre aquilo que o indivíduo pensa
ser, aquilo que os outros esperam dele e aquilo
5. Máscaras Sociais E Identidade que os outros pensam dele. A partir do momento
que o indivíduo assume a imagem de si mesmo,
Quando falamos em máscaras, que consegue mostrar a própria face, ele inicia
pensamos em um objeto artístico colocado no um processo de aceitar-se como é. Na empresa
rosto para esconder a identidade de uma pessoa. um indivíduo primeiro protege a própria
Segundo Canevacci (1990) vários são os imagem, depois protege a imagem do outro.
significados que podem ser atribuídos à palavra Diante desta situação o indivíduo desenvolve
máscara, confundindo-se, por vezes, com a práticas defensivas e protetoras, ao proteger a
função a ela atribuída. Como disfarce ou imagem do outro evita perder a sua própria
aparência enganadora; artefato que representa imagem, e ao proteger a sua própria imagem
um rosto ou parte dele; objeto que destina a evita que o outro a perca na opinião de Gama
cobrir o rosto ou disfarçar o rosto de quem o (2005).
utiliza. No contexto organizacional os
No Brasil, a máscara é presença funcionários constituem-se através dos
constante no carnaval, em festas populares e encontros sociais e do controle de cada
folclóricas e algumas culturas indígenas indivíduo sobre a ideia de si e dos outros,
existentes. O folclore utiliza a fantasia e a buscando adaptar sua postura às expectativas
máscara, promovendo a imaginação e os desejos decorrentes dos papéis estabelecidos
294 VIEIRA, L.; LOPES, F.J.; SOUZA, M.M.M.: Máscaras Sociais: Uma Reflexão Sobre Os Recursos Que O
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Neste foi promovida uma reflexão sobre própria imagem diz Ferraz (2007). O uso dessa
a identidade do individuo no contexto máscara muitas vezes impede o verdadeiro
organizacional, e como sua forma de agir e contato com o outro, mas no contexto
interagir delineia sua identidade. Os desafios, as organizacional, onde a disputa pelo poder é
metas e seus objetivos são delineadores no constante pode muitas vezes dar ao indivíduo
processo de realizar e pertencer ao contexto segurança e proteção para se colocar, ser inserido
organizacional, a partir do seu reconhecimento ao grupo. Tentar esconder a sua verdadeira
será despertado estímulos para seu processo de identidade, pode muitas vezes ser insegurança e
aceitação nesse grupo. A não aceitação nesse medo de não agradar ao outro, de decepcioná-lo.
grupo promove muitas vezes a apropriação de Fazer uso dessa máscara é um recurso, é
outra identidade, fazendo uso de máscaras, e por uma forma de mostrar o que outro quer que eu
máscaras entendemos ser um objeto usado para seja, o que o outro quer ver, ou seja, mostrar o
cobrir o rosto e disfarçar a pessoa que o põe. que considero bom e atrativo para o outro. O eu
A identidade é própria da construção do em um contexto social, não deixa de ser uma de
sujeito. Ela traz o desejo de existir e de ser nossas máscaras, muitas vezes necessárias.
reconhecido, e a necessidade de identificação Como se observou, ao longo desse artigo e
com o outro. Identidade é um sentimento que o através de pesquisa bibliográfica na literatura
individuo aprende pelas representações que faz especializada, existe um consenso dos autores no
de si em relação aos outros. Ela nos permite que se refere o uso de máscaras pelo indivíduo
observar que há no individuo um espaço interior dentro do contexto organizacional. O objetivo
e um olhar exterior. A imagem que construímos deste artigo foi o de levar ao leitor uma reflexão
de nós mesmos é baseada naquilo que vemos e sobre o cuidado não apenas na utilização de
apropriamos diante do outro. Através do encaixe máscaras, mas no seu uso constante e frequente,
social o individuo vai modificando seu pois o seu uso é muitas vezes inconsciente e
comportamento e valorizando aspectos da sua pode levá-lo a uma perda da própria identidade,
identidade. A imitação social, a simpatia e como por exemplo, deixar de ser quem é
antipatia são modificações comportamentais realmente.
para adequar-se às exigências sociais. O ideal é o Os personagens adquiridos pelo
aspecto subjetivo, importante em todas as indivíduo não devem se opor ou sublimar o eu
esferas motivacionais e comportamentais real, a verdadeira identidade. Quando a máscara
(FERRAZ APUD PORTINARI, 2000). é mais “real” que o eu, o indivíduo perde sua
Não se enquadrar ao padrão social pré- identidade, se tornando superficialidade de um
estabelecido pode ser motivo de angústia e papel social. A pesquisa em seu percurso te a
tristeza. Desta forma o ideal e o real acabam hipótese confirmada, se o indivíduo faz uso da
sendo distantes, e o individuo se perde na sua máscara para proteger-se e se sentir inserido no
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