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RELAÇÃO INDIVÍDUO-

ORGANIZAÇÃO: POSSIBILIDADES
DE (RE)CONSTRUÇÃO DE
IDENTIDADES
PROFESSOR: RAMON DE SÁ FERNANDES
PSICÓLOGO - CRP 04/56893
QUEM É ESSE
INDIVÍDUO?
QUEM É A
ORGANIZAÇÃO?
Diante da complexidade do ambiente organizacional torna-se cada vez
mais importante compreender como as relações organizacionais se
constroem, bem como os vínculos estabelecidos entre indivíduo
organização, pois se acredita que dela seja a gênese das possibilidades
de reconstrução identitária.
As pesquisas sobre identidade se inserem dentre
umas das temáticas mais contemporâneas nos
estudos organizacionais, pois, para se
compreender tais relações, é necessário entender
de que forma os indivíduos se comprometem ou
não com a organização a partir dos processos de
identificação.
De fato, o mundo do trabalho tem influenciado significativamente a vida
das pessoas. O trabalho tem se tornado fonte de referência para o
indivíduo, além de representar um meio de suprimento econômico e
material, “confere também uma satisfação ao ideal de ego e preenche a
necessidade de fazer algo bem feito, de deixar sua marca, de registrar sua
importância no mundo”
No contexto pós-moderno, o indivíduo parece ter perdido os referenciais
com os quais se identificava anteriormente, como, por exemplo, a família e
os grupos sociais a que pertencem ligados à idade, à etnia, ao gênero e à
sexualidade.
Por isso, “quando queremos conhecer a identidade de alguém e pedimos
que a pessoa se identifique, é muito comum ouvirmos como resposta o
nome da pessoa e a empresa na qual trabalha”.
Entretanto, não se pode pensar apenas em
como as organizações participam da
construção identitária do indivíduo.

Torna-se necessário compreender também


como os indivíduos tornam-se sujeitos de
suas relações, pois, por mais que a
organização exerça influência sobre eles, de
alguma forma, estes sujeitos também
exercem influência sobre a organização.
Sendo assim, estes indivíduos agem, constroem e reconstroem novos
sentidos para as organizações, orientando suas identidades.
Quando o indivíduo torna-se sujeito e encontra espaço nas organizações
para questionamento e discussões, nota-se um incentivo para
manifestação do seu campo criativo, podendo trazer benefícios para o
mesmo e para a organização da qual faz parte.
Aliado a isso, estão as possibilidades de mudança que os indivíduos
podem criar, configurando-se, também, como espaços para a
(re)construção de identidades nas organizações.
IDENTIDADE,
SOCIALIZAÇÃO E
CONSTRUÇÃO
IDENTITÁRIA
Os estudos sobre a temática da identidade, geralmente provêm de
campos de estudo como psicologia social, sociologia e antropologia. Os
níveis de análise abordam desde a dimensão individual à coletiva.
Considerando essa interdisciplinaridade e multidimensionalidade, pode-
se dizer que estudar a identidade é uma tarefa bem complexa, pois as
dimensões de análise em alguns momentos se entrecruzam.
Dubar (2005) comenta que para se apresentar uma definição de
identidade é necessário considerar a noção de dualidade, ou seja, a
“identidade para si” e a “identidade para o outro”

A identidade é um processo de construção que depende do nosso


próprio julgamento a respeito de “quem” e daquilo que eu acho que os
“outros” pensam de “mim”.
Dubar (2005) explica que nossa
identidade é formada pela interação
entre a minha identidade para mim,
que seria aquilo que eu penso (a minha
autoimagem) e a minha identidade
para o outro (aquilo que eu acho que os
outros pensam que sou ou o
julgamento que penso fazerem de
mim).
Interessante destacar, todavia, que aquilo que eu acho que os “outros” pensam ao meu
respeito, pode não representar realmente um julgamento correto.
A socialização se torna um processo de

CONSTRUÇÃO, DESCONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO

de identidades ligadas às diversas esferas de atividade (principalmente


profissional) que cada um encontra durante sua vida e das quais deve
aprender a tornar-se ator”.

A partir dessa afirmação, pode-se concluir que é por meio dos processos de
socialialiação que as identidades são (re)construídas.
A construção da identidade do sujeito ocorre de forma permanente e
contínua através das diversas interações entre fatores:

BIOLÓGICOS PSICOLÓGICOS SOCIAIS


Devido às constantes mudanças no âmbito social, onde o indivíduo
interage em suas relações, identifica-se também uma necessidade
constante de adaptação na construção da identidade do indivíduo,
surgindo novas identidades baseadas em diferentes saberes que
reelaboram e constroem diversas significações da pessoa, tornando-a um
indivíduo multifacetado, integrado e flexível.
Segundo Machado (2003), o
indivíduo, na ânsia de pertencer e
se envolver a um grupo, renuncia
em vários momentos de sua vida a
fatores pessoais, sujeitando sua
liberdade e seus recursos pessoais
em função de ser aceito e
pertencer ao mesmo.
O PAPEL DA
ORGANIZAÇÃO NA
CONSTRUÇÃO DAS
IDENTIDADES DOS
INDIVÍDUOS
De acordo com Silva e Vergara (2002), na sociedade moderna, as
organizações configuram-se, talvez, como espaço mais significativo
para a constituição das identidades dos indivíduos.
As organizações possuem um importante papel na conformação de
identidades pessoais, já que os indivíduos constroem uma
representação simbólica de sua identidade pessoal em suas vidas.

Freitas (2000) amplia o papel da organização na dinâmica identitária,


dizendo que as organizações são ambientes de controle de
identidades.
Ao ingressar em uma organização, indivíduos com características
diversas se unem para atuar dentro de um mesmo sistema em busca
de objetivos previamente estabelecidos. Essa união provoca um
compartilhamento de crenças, valores, hábitos, dentre outros, que irão
orientar suas ações dentro de um contexto pré-existente, definindo
assim as suas identidades (Fernandes e Zanelli, 2006).
Para Enriquez (2006) a crescente importância das empresas na vida
dos indivíduos acaba por torná-la uma espécie de “instituição divina”.
Isso significa pensar que os mesmos não só devem se identificar com
os valores das organizações da qual fazem parte, mas assumí-los como
se fossem seus.
Neste contexto, reconhecer os significados e a própria razão de ser da
empresa, bem como se familiarizar com as percepções e
comportamentos mais aceitos e valorizados na organização, conduz os
funcionários a uma uniformidade de atitudes, o que é positivo no
sentido de possibilitar maior coesão.
No entanto, pode levar a uma perda de identidade, pois o comportamento dos indivíduos passa a ser
uma extensão do grupo, muitas vezes se estendendo para ambientes externos da organização, quando
passam a adotar comportamentos padronizados nas mais diversas situações.
Ao analisar o papel das
organizações na constituição do
indivíduo e de suas identidades,
adentra-se nas experiências
vivenciadas no mundo do trabalho.
Sendo assim, Cavedon, Giordani e
Craide (2005) afirmam que
“trabalhar significa existir e a
identidade do trabalhador será
conferida pela organização a qual
está vinculado”.
Fernandes e Zanelli (2006) refletem sobre como o mundo do trabalho
influencia nos componentes indentitários dos indivíduos. Assim para os
autores, “[...] o trabalho nos modifica, nos torna igual em alguns
aspectos, e nos separa e distingue em outros”.
Por mais que o indivíduo busque nas organizações apenas uma forma
de suprimento econômico e de realização pessoal, por meio da
experiência do trabalho, as empresas querem muito mais dos
indivíduos, estando sempre presentes na vida destes.
Basta refletir, por exemplo, sobre as políticas de gestão de pessoas
aplicadas nas organizações em que são oferecidos os espaços de lazer
para os indivíduos e suas famílias, ou mesmo quando são oferecidos
cursos de capacitação profissional extensivos aos seus familiares, dentre
outros benefícios. Fazendo-se uma análise mais crítica destas práticas,
verifica-se que as empresas querem estar presentes em todo o tempo
na vida do indivíduo, a fim de controlar e conformar suas identidades.
A organização, ao passar por processos de mudança, define novos
valores, crenças, normas e isso, geralmente, incita a reconstrução de
novas identidades (Fernandes e Zanelli, 2006).
As identidades dos indivíduos vão sendo construídas de acordo com o
ambiente em que se inserem envolvendo, dentro outras coisas, as
estruturas sociais, a cultura e o histórico das relações” (FERNANDES e
ZANELLI, 2006).
De outra forma, caso o indivíduo não questione os
padrões impostos pela organização, os mesmos
podem perder sua identidade pessoal podendo
ocorrer uma “despersonalização” (FERNANDES e
ZANELLI, 2006).
No entanto, a partir do momento em que as pessoas internalizam
verdades inquestionáveis, passando a adotar comportamentos
padronizados, colocam-se em posição de passividade, perdendo a
percepção individual da realidade.
Essa falta de questionamentos, vista como positiva no sentido de
promover uma homogeneização de atitudes, pode ser muito negativa
principalmente em ambientes de mudanças constantes, que primam
pela criatividade e inovação (Fernandes e Zanelli, 2006).
A experiência de Toledo e Bulgacov (2004) mostrou que a fonte de
realização e reconhecimento de jovens, que passaram de recém-
formados a executivos de uma multinacional, era oriunda da
organização. Ou seja, estes jovens, ao vivenciarem uma mudança na
representação de seu papel social, acabavam “abrindo mão” de sua
própria história de vida, das relações pessoais com família e amigos,
para atender as exigências do mercado e da organização. Isso causou
um desequilíbrio na vida pessoal em decorrência do alto grau de
comprometimento com a multinacional.
Sainsaulieu e Kirschner (2006) afirmam que várias pesquisas têm
demonstrado que a experiência do trabalho nas organizações
influencia na realização dos indivíduos. Nesse caso, a possível perda do
emprego, para muitos, pode configurar-se como fonte de crises
identitárias. Entretanto compreende-se que isso pode acontecer ou
não, dependendo dos vínculos estabelecidos entre o indivíduo e a
organização e do nível de identificação.

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