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Aldeia Dos Duendes

"Na encosta escarpada de um dos penhascos da costa ocidental de


Thirlmere, existe uma grande colônia de duendes; vivem logo abaixo
o nível do solo, mas passam o tempo tanto acima como abaixo da
superfície. Avisto um certo número de casinhas minúsculas logo
abaixo da superfície da colina.

O seu formato é absolutamente perfeito e em sua maioria são de


madeira e cobertas com palha, apresentando janelas e portas.
Espalham-se irregularmente pela encosta da colina. Entre elas, em
meio às raízes e rocas que as circundam, pode-se ver inúmeras
figuras de duendes. O que se segue é uma tentativa de descrever um
deles, escolhido ao acaso.

Não ultrapassando mais de treze centímetros de altura, ele parece


um velhinho, levando na cabeça um chapéu marrom talhado como uma
touca de dormir e usando uma vestimenta também marrom, que
consiste de um calção folgado, que os duendes parecem geralmente
adotar, meias e botas. Seu rosto é coberto por uma barba
acinzentada e transmite uma expressão de rusticidade antiga. Não
se pode deixar de observar que eles simulam uma vida doméstica,
muito embora eu não visse nenhuma figura feminina nessa aldeia de
duendes.

Os duendes literalmente fervilham por essa encosta da colina e


diferem muito pouco entre si quanto à aparência ou à inteligência.
Parecem estar apenas "evoluindo" por aqui. Eles se diferenciam de
todos os outros duendes que vi anteriormente pelo fato de não
parecerem trabalhar em sintonia com qualquer processo da Natureza;
embora venerem as árvores, não parecem em absoluto servi-las. Um
deles aproxima-se de mim agora e, guardando uma distância de dois
ou três metros à minha direita, passa a se "exibir", com gestos
extravagantes e humor simplório.

É muito mais magro que os outros duendes que aparentam o aspecto


de velhos, e dele se desprende uma sensação de "cor", um pouco de
vermelho sobre o chapéu (que é cônico, com a ponta pendendo
ligeiramente para atrás) e um pouco de verde em seu costume
marrom. É com dificuldade que posso identificá-lo como um duende,
pois seus pés acabam por se reduzir a um ponto, seus membros
inferiores são mais finos e alongados e suas mãos grandes demais
para o resto do corpo. Apóia a mão esquerda na cintura e com a
direita aponta na direção da floresta, como se orgulhosamente
exibisse as maravilhas do lugar: a esse orgulho acrescenta-se uma
boa dose de presunção e de vaidades infantis. Seu rosto é bem
barbeado e avermelhado, os olhos são pequenos, o nariz e o queixo
pronunciados, a boca, já bastante larga, alarga-se mais para um
arreganho. Seus gestos e a sua postura são surpreendentes, pois é
tamanha a flexibilidade de seu corpo que ele pode dobrar-se e
estirar-se em quase todas as posições.

Não consigo fazer com que ele se aproxime um pouquinho mais, pois
de imediato começa a demonstrar apreensão. Parece inquieto, mas
não, suponho, verdadeiramente atemorizado. A "aura" humana é
dissonante para ele, e ao contato provavelmente perderia o
equilíbrio. Por outro lado, constato como é etérea e frágil sua
constituição, que possui menos consistência do que uma lufada de
ar; não obstante, suas formas são claras e perfeitamente
delineadas e todos os detalhes absolutamente nítidos.

Voltando novamente a minha atenção para a comunidade dos duendes e


esforçando-me para apreender alguns detalhes de sua vida, certas
peculiaridades se destacam. Por exemplo, uma tentativa de observar
o interior de suas moradas revelou, para a minha surpresa, que
elas não possuíam nada dentro, pois quando alguém passava pela
porta, não havia nada lá! A fachada exterior é absolutamente
perfeita e muito pitoresca, mas o interior é mais do que
escuridão. Na verdade, a ilusão de uma casa desaparece
inteiramente quando a consciência dirige a atenção para o seu
interior.

Algumas linhas finas e ondulantes de magnetismo são tudo o que se


pode ver. Os duendes, ao passarem pela porta, abandonam as suas
formas de duendes e mergulham para o fundo da terra num estado
relativamente uniforme. Todos parecem se julgar atarefados,
precipitando-se pelo recinto com ares de seriedade, para mim,
entretanto, tudo não passa de puro faz-de-conta. Parece não haver
muita comunicação entre eles, sendo todos excessivamente auto-
suficientes.

As casas não pertencem a nenhum indivíduo ou grupo, qualquer


membro da colônia pode utilizá-las, limitando-se essa "utilização"
meramente a passar para dentro e para fora através da porta.
Certamente, eles sentem alguma satisfação em contemplar o exterior
dessas casas. Entre os pertences desses duendes, não vejo nenhuma
das ferramentas de trabalho, embornais ou aventais que notei em
outras ocasiões. Parecem ser menos inteligentes e evoluídos, mas
centrados em si mesmos e muito mais desprovidos de finalidade em
sua existência do que quaisquer outros duendes com os quais já me
deparei." O que Geoffrey Hodson descreve é uma descoberta de uma
aldeia de duendes que nunca anteriormente tinha visto. O que posso
acrescentar é que os duendes, assim como as fadas, podem se
apresentar sob diversas formas, pois eles só são visíveis à nível
ETÉREO (um estado mais sutil que o gasoso).

A matéria que os forma é tão sensível e fluídica que pode ser


moldada por coisas tão tênues como o pensamento e o sentimento.
Desse modo, a forma se determina imitando os elementos das plantas
e dos animais, ou utilizando um molde tradicional; ou bem
interceptando as modalidades do subconsciente humano. Assim, a
aparência de todos os seres feéricos refletirá a freqüência de
idéias preconcebidas que deles tenhamos. Portanto, não é anormal
que suas formas sejam numerosas e variadas, porém se baseiam em
uma diminuta figura humana que sempre possuem algum defeito, um
traço ou membro exagerado.

http://www.flogao.com.br/fairylandy/blog/2462944

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