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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT

FACULDADE DE ECONOMIA
PROGRAMA DE POS GRADUAÇÃO
MESTRADO EM ECONOMIA

SMITH E A ECONOMIA COMPORTAMENTAL

ÁLLIRSON OLIVEIRA FORTES PEREIRA

Cuiabá
2017
ÁLLIRSON OLIVEIRA FORTES PEREIRA

SMITH E A ECONOMIA COMPORTAMENTAL:

PROLEGÔMENOS DE UMA TEORIA DA DECISÃO EMOCIONAL

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado
em Economia, ofertado pela Faculdade
de Economia da Universidade Federal de
Mato Grosso como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre.

Orientador: Prof. Dr. Dirceu Grasel


Coorientador: Prof. Dr. Andre Ribeiro Lacerda

Cuiabá
2017
Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

F738s Fortes Pereira, Állirson Oliveira.


Smith e a Economia Comportamental : Prolegômenos de
uma Teoria da Decisão Emocional / Állirson Oliveira Fortes
Pereira. -- 2017
220 f. : il. color. ; 30 cm.

Orientador: Dirceu Graseu.


Co-orientador: André Luis Ribeiro Lacerda.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Mato
Grosso, Faculdade de Economia, Programa de Pós-
Graduação em Agronegócio e Desenvolvimento Regional,
Cuiabá, 2017.
Inclui bibliografia.

1. Adam Smith. 2. Economia Comportamental. 3. Teoria

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pelo(a)


autor(a).

Permitida a reprodução parcial ou total, desde que citada a fonte.


DEDICATÓRIA

À Rosana, Gabriel e Miguel por serem os


motivos de minha existência, pelo incentivo, amor e
dedicação. Esta conquista é nossa!
AGRADECIMENTOS

A Deus, principio de todas as coisas.


Aos professores doutores do mestrado de Economia, pela
dedicação ao ensinar a “ciência sombria” (Thomas Carlyle),
em especial aos professores Alexandro e Fernando Tadeu
pelas conversas sobre economia.
À Rosana, minha esposa. Gabriel e Miguel, meus filhos, pelo
amor que dedicam, dando-me forças para sempre seguir em
frente, sem eles vocês nada faria sentido.
Aos professores doutores Dirceu Grasel, orientador, e André
Ribeiro Lacerda, coorientador, pela dedicação,
conhecimento e capacidade de entender o caminho que
pretendia trilhar e mostrar as formas de percorrê-lo.
Aos meus pais pelo exemplo de amor que se sacrifica pelos
que ama. Minha mãe, Lúcia, pelas exigências reiteradas e
meu pai, Tirson, pelas cobranças silenciosas e no final por
sua intercessão, pois me acompanha do céu. Por toda ajuda
para a realização deste trabalho.
E a Deus, novamente, pois Ele é o fim de tudo.
Magnificat anima mea Dominum,
et exultavit spiritus meus in Deo salvatore meo,
quia respexit humilitatem ancillae suae.
Ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes,
quia fecit mihi magna,
qui potens est,
et sanctum nomen eius,
et misericordia eius in progenies et progenies
timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo,
dispersit superbos mente cordis sui;
deposuit potentes de sede
et exaltavit humiles;
esurientes implevit bonis
et divites dimisit inanes.
Suscepit Israel puerum suum,
recordatus misericordiae suae,
sicut locutus est ad patres nostros,
Abraham et semini eius in saecula
Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto,
Sicut erat in principio, et nunc, et semper,
et in Saecula saeculorum. Amen.
Lc 1, 46-55
RESUMO

PEREIRA, Állirson Oliveira Fortes. Smith e a Economia Comportamental:


prolegêmenos de uma Teoria da Decisão Emocional. 2017. 219f. Dissertação
(Mestrado) – Faculdade de Economia, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, 2017.

Decisões são tomadas a todo instante, fenômeno não ignorado pela Economia.
Nos últimos anos floresce a Economia Comportamental (EC) como uma forma
de incorporar “novos” insights à teoria econômica, em especial, aos postulados
comportamentais de racionalidade. Esta dissertação apresenta uma paralelo
entre Adam Smith, precursor da Economia e as descobertas da EC, de modo a
demonstrar que a Teoria da Decisão de Adam Smith é compatível com
elementos da moderna EC. Para isso se propõe resgatar as influências
aristotélicas e escolásticas de Smith, formatar uma Teoria da Decisão sobre a
Teoria dos Sentimentos Morais e descrever as descobertas da EC acerca dessa
formatação. O principal método utilizado será a revisão bibliográfica aliada à
análise de conteúdo através do software IRaMuTeQ. Tanto a revisão
bibliográfica, quanto a análise de conteúdo, demonstram que tanto a Teoria da
Decisão de Smith quanto a EC compartilham das seguintes características em
comum: sistema dual de decisão, emocional e racional; modelos prévios de
entendimento da realidade (heurísticas), identifica-se com clareza a heurística
do Afeto como similar ao conceito de Simpatia; vários vieses cognitivos, como
aversão à perda, confiança excessiva, desconto hiperbólico, negligência do
custo de oportunidade, efeito da vítima identificável; e alguns conceitos muito
caros à Smith, como o senso natural de Justiça, Reciprocidade, Benevolência e
Ilusão de Felicidade.

Palavras-chave: Adam Smith. Teoria da Decisão. Economia Comportamental.


ABSTRACT

PEREIRA, Állirson Oliveira Fortes. Smith and Behavioral Economics:


Prolegemens of an Emotional Decision Theory. 2017. 219f. Dissertation
(Master degree) - Faculty of Economics, Federal University of Mato Grosso,
Cuiabá, 2017

We make decisions at all times, a phenomenon not ignored by the Economics. In


recent years, Behavioral Economics (BE) has flourished as a way of incorporating
"new" insights into Economic Theory, in particular, to the behavioral postulates of
rationality. This dissertation draws a parallel between Adam Smith, the forerunner
of Economics and the findings of BE, in order to demonstrate that Adam Smith's
Theory of Decision is compatible with elements of modern BE. For this it proposes
to rescue the Aristotelian and Scholastic influences of Smith, to form a theory of
the decision of Theory of Moral Sentiments and to describe the findings of the BE
on the Theory of Decision. The main method used will be the bibliographic
revision allied to the analysis of content through the IRaMuTeQ software. Both
bibliographic review and content analysis demonstrate that both Smith's Decision
Theory and BE's have the following common characteristics: dual decision-
making, emotional and rational; Simplified models of understanding of reality
(heuristics), we clearly identify the heuristic of Affect as similar to the concept of
Sympathy; Various cognitive biases, such as loss aversion, oversonfidence,
hyperbolic discount, negligence of opportunity cost, effect of identifiable victim;
And some very expensive concepts to Smith, such as the natural sense of
Justice, Reciprocity, Benevolence, and Illusion of Happiness.

Key words: Adam Smith. Making decision, Behavioral Economics.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 12

PROBLEMA .................................................................................................. 15

HIPÓTESES ................................................................................................. 15

OBJETIVOS.................................................................................................. 16

1 METODOLOGIA ........................................................................................... 20

1.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO ..................................................................... 21

2 PRÉ SMITH ................................................................................................... 24

2.1 ARISTÓTELES ....................................................................................... 26

2.2 ESCOLÁSTICOS .................................................................................... 32

2.3 PROLEGÔMENOS DE UMA TEORIA DA DECISÃO? ........................... 38

3 ADAM SMITH ............................................................................................... 40

3.1 CONVENCIONALISMO .......................................................................... 40

3.2 TEORIA DOS SENTIMENTOS MORAIS ................................................ 41

3.3 PROLEGÔMENOS DE UMA TEORIA DA DECISÃO ............................. 53

4 COMPORTAMENTAL................................................................................... 57

4.1 INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO .................................................... 57

4.2 COMPLEXIDADE ................................................................................... 59

4.3 RACIONALIDADE LIMITADA ................................................................. 60

4.4 ECONOMIA COMPORTAMENTAL ........................................................ 63

4.4.1 SISTEMA COGNITIVO DUALÓGICO. ............................................. 63

4.4.2 HEURÍSTICAS E VIESES ................................................................ 73

4.4.3 OVERCONFIDENCE ....................................................................... 80

4.4.4 ESCOLHAS ...................................................................................... 85

4.5 NEUROECONOMIA OU TEORIA GERAL DA DECISÃO....................... 94

5 RESULTADOS ............................................................................................ 100


5.1 THEORY OF MORAL SENTIMENTS ................................................... 100

5.2 WEALTH OF NATIONS ........................................................................ 104

5.3 HISTORY OF ASTRONOMY ................................................................ 107

5.4 THINKING FAST AND SLOW .............................................................. 111

5.5 HEURISTIC AND BIASES .................................................................... 115

5.6 NEUROECONOMICS ........................................................................... 119

6 A TEORIA DA DECISÃO EMOCIONAL ..................................................... 124

6.1 ADAM SMITH E A ECONOMIA COMPORTAMENTAL ........................ 124

6.2. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................. 137

REFERÊNCIAS .............................................................................................. 140

Glossário dos vieses cognitivos ..................................................................... 158

Anexo 1 – Alegoria da caverna ..................................................................... 177

Anexo 2 – Quantidade e Morfologia dos corpus textuais ............................... 180

A - Theory of Moral Sentiments .................................................................. 180

B - Wealth of Nations .................................................................................. 182

C - The History of Astronomy...................................................................... 189

D - Thinking fast and slow........................................................................... 191

E - Heuristic and Biases.............................................................................. 195

F - Neuroeconomics ................................................................................... 202


Lista de Figuras
Figura 1 - Os Universais: .................................................................................. 34
Figura 2 - Alma aristotélica ............................................................................... 38
Figura 3 - Homem Smithiano............................................................................ 54
Figura 4 - Interação social ................................................................................ 55
Figura 5 - Caixa da honestidade ...................................................................... 68
Figura 6 - Avaliação ......................................................................................... 79
Figura 7 - Teoria do prospecto ......................................................................... 87
Figura 8 - Curva de Indiferença ........................................................................ 88
Figura 9 - Arvore de decisão ............................................................................ 95
Figura 10 - Sistema dual de tomada de decisão .............................................. 98
Figura 11 - Conforto cognitivo .......................................................................... 99
Figura 12 - Log de frequência lexical - TMS ................................................... 100
Figura 13 - Classificação Hierárquica Descendente - TMS ............................ 101
Figura 14 - Análise Fatorial - TMS.................................................................. 102
Figura 15 - Nuvem de palavras - TMS ........................................................... 103
Figura 16 - Log de frequência lexical - WN .................................................... 104
Figura 17 - Classificação Hierárquica Descendente - WN ............................. 105
Figura 18 - Análise fatorial - WN .................................................................... 106
Figura 19 - Nuvem de palavras - WN ............................................................. 107
Figura 20 - Log de frequência lexical - HoA ................................................... 108
Figura 21 - Classificação Hierárquica Descendente - HoA ............................ 109
Figura 22 - Análise fatorial - HoA .................................................................. 110
Figura 23 - Nuvem de palavras - HoA ............................................................ 111
Figura 24 - Log de frequência lexical - Tfs ..................................................... 112
Figura 25 - Classificação Hierárquica Descendente - TFS ............................. 113
Figura 26 - Análise fatorial - TFS.................................................................... 114
Figura 27 - Nuvem de palavras - TFS ............................................................ 115
Figura 28 - Log de frequência lexical - HaB ................................................... 116
Figura 29 - Classificação Hierárquica Descendente - HaB ............................ 117
Figura 30 - Análise Fatorial - HaB .................................................................. 118
Figura 31 - Nuvem de palavras - HaB ............................................................ 119
Figura 32 - Log de Frequência lexical - Neuroeconomics .............................. 120
Figura 33 - Classificação Hierárquica Descendente - Neuroeconomics ......... 121
Figura 34 - Análise fatorial - Neuroeconomics................................................ 122
Figura 35 - Nuvem de palavras - Neuroeconomics ........................................ 123
Figura 36 - Humans........................................................................................ 133
Figura 37 - interações entre Humans ............................................................. 134
Figura 38 - Tomador de decisão .................................................................... 135
Lista de tabelas

Tabela 1 - Teoria do intelecto de Averróis ........................................................ 35


Tabela 2 - Sistemas 1 e 2 ................................................................................ 64
Tabela 3 - Exemplos de perguntas heurísticas. ............................................... 72
Tabela 4 - Erro de Bernouilli ............................................................................. 86
Tabela 5 - Padrão Quadruplo ........................................................................... 91
Tabela 6 - Revisão de literatura acerca do dual process ............................... 125
Tabela 7 - Comparação entre Smith e a Economia Comportamental ............ 136
Tabela 8 - Quantidade e morfologia dos Léxicos ativos - TMS ...................... 180
Tabela 9 - Quantidade e Morfologia dos Léxicos ativos - WN........................ 183
Tabela 10 - Quantidade e morfologia dos léxicos ativos - HoA ...................... 189
Tabela 11 - Quantidade e morfologia dos léxicos ativos - Tfs ........................ 191
Tabela 12 - Quantidade e morfologia dos léxicos ativos - HaB ...................... 195
Tabela 13 - Quantidade e morfologia dos léxicos ativos - Neuroeconomics .. 202
12

INTRODUÇÃO

Revisitar as diversas teorias e/ou modelos de tomada de decisão é


imprescindível a qualquer análise econômica que pretenda ser cientifiíca. Como o
indivíduo toma sua decisão (Decision-making, modernamente, de Simon em diante),
age (Mises/Hayek), simpatiza (Smith). Políticas públicas que ignorem o indivíduo são
ineficientes pois “políticas públicas são em última instância sobre pessoas”
(KAHNEMAN, 2012, p. 180). Um modelo de desenvolvimento que desconsidere como
o indivíduo toma sua decisão é um modelo ineficiente por uma série de fatores, como
os vieses cognitivos relacionados à pobreza (AVILA, 2015, p. 158). Um modelo de
investimento direto ou no mercado de capitais que ignore os agentes que tomam suas
decisões baseados em informação assimétrica e com limitada capacidade de
processamento destas informações é um modelo que torna-se apenas uma
curiosidade, um modo elegante e pedante de chute.(ARMSTRONG, 2012; DAWES,
1979; DANA, 2004).

Como em quase qualquer campo do conhecimento, esta pesquisa inicia nos


clássicos gregos, em especial com Aristóteles pois, como citado acima, é uma fonte
de inspiração à Adam Smith e seguindo Schumpeter, em sua História da Análise
Econômica (SCHUMPETER, 1964). Platão e Aristóteles são pontífices de uma disputa
epistemológica que perpassa milênios, de um lado o filósofo ateniense defende que o
conhecimento, a verdade vem do mundo das ideias, já para Aristóteles surge da
observação da realidade sensível. Tomás de Aquino resgata a obra Aristotélica na
Idade Média, cristianizando os conceitos, fazendo aquilo que Agostinho fizera a Platão
no século IV. O Iluminismo surgiu em contraponto ao teocentrismo medieval,
colocando o homem como objeto supremo de interesse. Neste contexto o Iluminismo
escocês interessa-se amiúde pelos estudos sobre Ética e Conhecimento.

Adam Smith, em sua Teoria dos Sentimentos Morais, deve muito aos clássicos,
em especial à Aristóteles e sua Ética a Nicômaco e Cicero, além, é claro, do efusivo
caldeirão cultural que foi a filosofia escocesa no século XVIII, em especial ao seu
mestre Hutcheson (SMITH, 2012, p. 336-428).

Em 1759 Smith lança a Teoria dos Sentimentos Morais, atualizando a ética a


Nicômaco, de Aristóteles, com um estoicismo romano, algumas contribuições
13

escolásticas e o efervescente cenário intelectual do iluminismo inglês/escocês do


século XVIII. Nesta obra ele contesta a visão de um homem mal, por natureza,
contrapondo-se a Hobbes e seu Leviatã (SMITH, 2012, p. 336-428), Smith coloca seu
nome no panteão dos grandes filósofos morais de seu tempo. Não satisfeito, amplia
sua análise, em 1776 na extensa obra “Uma Investigação acerca da natureza e das
causas da Riqueza das Nações”, considerada o marco fundante da Economia como
ciência, após uma providencial viagem à França onde conheceu os fisiocratas. Em
que Smith compreende ser a ordem social devida a interação inter-indivíduos, através
do sentimento de aprovação. Deste modo, Smith parte do indivíduo até as grandes
decisões do reino, passando pelo sistema de preços até o crescimento econômico.
Nele, a interação é dada pelo sopesamento entre variáveis que são estranhas ao
moderno economista: simpatia, amor próprio, expectador imparcial e sentimento de
aprovação. O homem abordado na obra smithiana é um ser moral e sentimental.

Smith nasce em meio a discussão sobre a natureza do homem e o surgimento


da ordem social. Logo toma partido, influenciado por Hutcheson seu professor de
Filosofia Moral, e considera a Virtude como motor da ordem social, e esta como
produto da benevolência, para tanto cunhando o conceito de senso moral inato, em
contraponto a Mandeville e Hobbes (SMITH, 2012, p. 336-428). Para Smith o homem
é egoísta ( ele usa o termo self love, amor próprio, porém os economistas traduziram
como egoísmo, empobrecendo o termo) mas este egoísmo é contraposto à simpatia
e ao expectador imparcial (razão), pois o agente tinha o desejo do sentimento de
aprovação. Smith auferia suas conclusões acerca da natureza humana pela
observação e introspecção, o cientista não seria diferente, desejava ser aprovado,
assim sua ciência, apesar das influências newtonianas, é baseada no sentimento
(convencionalismo)2.

Kant revoluciona ao retirar a metafísica do conhecimento científico, assim a


moral deixa de ser objeto de análise, que será afetada posteriormente, pois o homem
analisado não poderá ser moral e nem ter sentimentos. Bernoulli inaugura uma
corrente matematicista da racionalidade. Ricardo, economista londrino, e o reverendo
Malthus partem de premissas já abstraídas da realidade, invertendo a lógica da
análise smithiana, se para este o conhecimento era uma construção individual

2 Discussão tratada no Capítulo 3.


14

compartilhada, para o economista londrino e o reverendo era uma construção abstrata


que invariavelmente simplificava a realidade observada, assim as premissas de
racionalidade começam a ser geridas até se tornarem hegemônicas com Stuart Mill,
que ao cunhar o termo Homem Econômico retira, oficialmente, os sentimentos morais
da análise econômica.

Weber lança as bases do Individualismo Metodológico, o indivíduo é quem age


em sociedade, a sociedade é, então, um fruto da interação dos indivíduos. Tradição
que continua nas obras de Menger e sua teoria do valor utilidade, Mises e a
praxeologia neokantiana apriorística, em que toda ação humana é racional e motivada
e em Hayek e o neo aristotelismo cujos axiomas da teoria econômica devem ser
observados da realidade cognoscível.

Marshall inaugura a fase de ouro do homem econômico racional. Seus insights,


gráficos, derivadas e formalização criam a profissão de economista. O homem real de
Smith passa a ser egoísta e maximizador (racional).

Veblen traz para análise um fator biológico ao adaptar os conceitos da Teoria


da seleção das espécies darwiniana para a investigação do indivíduo, sendo um ponto
fora da curva racionalista que impera nas teorias desde Smith, o homem tem claros
traços irracionais (como no caso dos bens de Veblen, que desmentem a lei da oferta
e demanda marshalliana). Atualmente a psicologia evolucionista desenvolveu ainda
mais a questão biológica-evolutiva no processo de decisão.

Hebert Simon contribui com o conceito de racionalidade limitada, afirma que o


postulado de racionalidade é irreal, pois o homem não tem capacidade informacional
e computacional necessárias para tomar decisões de modo racional, por isso utiliza-
se de heurísticas e vieses em seu processo decisório.

Gary Becker passa a analisar os incentivos que fazem os agentes tomarem


decisões sobre os mais diversos aspectos de sua vida, e não somente as
mercadológicas. São famosas suas contribuições para a educação, segurança pública
e saúde.

Amartya Sen não aborda a tomada de decisão diretamente em sua obra, mas
o problema da liberdade do indivíduo como balizador do desenvolvimento não deixa
15

de ser uma abordagem sutil à tomada de decisão. Ele retoma Aristóteles e Smith em
suas análises do homem real, contrapondo ao homem econômico racional.

Finalmente Kahneman e Tversky desenvolvem a abordagem de heurísticas e


vieses já presente em Simon e começam a abordar diversas facetas deste processo.
O ponto de partida é a constatação do pensamento em duas maneiras: uma
intuitiva/emocional, de rápida resposta, de pouco esforço (que Kahneman chama de
sistema 1) e uma outra de “atividades mentais laboriosas”, “cálculos complexos”,
“escolha e concentração” (Sistema 2) (Kahneman, 2012, p. 29). Assim, desenvolve-
se várias heurísticas (atalhos mentais) e vieses (desvios cognitivos) para evitar
acionar o sistema 2, ancoras, disponibilidade, pequenos números, emoção, risco,
menos é mais, causas superam estatísticas3. Além dos problemas causados por
confiança excessiva, como a ilusão de compreensão, validade, intuição versus
fórmula. A teoria da perspectiva ou dos prospectos, em que a forma de apresentação
da situação, influi em sua decisão.

PROBLEMA

A teoria da decisão comportamental contemporânea é compatível com a


formulação de Smith, em que o processo de decisão é fundamentalmente emocional?

HIPÓTESES

1. Adam Smith possui uma Teoria da Decisão, implícita na sua Teoria dos
Sentimentos Morais;
2. Há uma clara correlação de insights, que apesar da longa distância entre
os autores e visões epistemológicas muitos distintas5 permitindo inferir

3 Veja o Glossário dos vieses cognitivos para uma lista mais robusta.
5 Smith é um convencionalista, capítulo 2, e a ciência moderna é quase que inteiramente popperiana.
16

que há elementos para se afirmar que a Teoria da Decisão de Smith


antecipa em 200 anos a da Economia Comportamental.

OBJETIVOS

O objetivo deste estudo é analisar as convergências entre a “Teoria da Decisão”


de Smith e as descobertas da moderna Economia Comportamental. Especificamente
pretende-se:

1. Demonstrar os principais pontos da “Teoria da Decisão” smithiana,


principalmente a partir da Teoria dos Sentimentos Morais;
2. Apresentar um panorama geral da Economia Comportamental, visto sua
heterogeneidade a partir da obra de Daniel Kahneman.

A delimitação dos autores a serem trabalhados foi realizada visualizando o


problema a ser pesquisado, partindo da obra de Adam Smith, em especial Teoria dos
Sentimentos Morais, de 1759, obra em que Smith aborda o homem; A Riqueza das
Nações, de 1776 em quenão aborda, mas a Nação (não pode-se falar em dois Smith’s,
mas apenas em enfoques diferentes6) e História da Astronomia, de 1795, texto
epistêmico de Smith. A primeira obra tem grande influência dos clássicos greco-
romanos, em especial de Aristóteles e dos estóicos (VIVENZA, 2001), destarte a
importância de abordar, mesmo que em vernáculo, a Ética a Nicômaco.

O período escolástico é citado rapidamente para mostrar que não ouve muitas
inovações neste período, visto o enfoque teológico e o retorno à obra de Aristóteles
perpetrado pelos muçulmanos Avicena e Averróis. Depois de Smith estuda-se o
século XIX em que são abordadas algumas questões epistêmicas que trabalham a

6 Sobre o Das Adam Smith problem ver BARBIERI, 2013, p. 157-166, sobre sua epistemologia; ver
BIANCHI, 1988, p.104-106; BROWN, 1994, o livro todo, mas em especial o capítulo 2; CERQUEIRA,
2003, 2004, 2005ª, 2005b, 2006; COASE, 1976; HETHERINGTON, 1983; O’ROURKE, 2008, p. 38-51;
ROSS, 1999, capítulos 11, 12, 14 e 15; e finalmente o próprio Smith que, na sexta edição da TMS em
1790, poucos meses antes de sua morte em que não muda a estrutura de sua obra, desmentindo que
ele haveria de ter mudado de ideia acerca deste temática. D.D. Raphael, uma das maiores autoridades
sobre a obra de Smith, nada menos que o editor da Glasgow editions, afirma que o Das Adam Smith
problem é um “pseudo problema” na introdução da TMS. Esta dissertação não tem por escopo entrar
na discussão sobre este problema, pois toma-se a posição de que este é um problema já superado,
conforme as obras acima deixam entender.
17

questão do individualismo metodológico, na famosa batalha dos métodos –


methodenstreit – entre Menger e Schmoller (BARBIERI, 2013, p. 196), questão que
não será abordada haja vista estar além do problema desta pesquisa.

Assim como comparar as diferentes teorias e textos, em língua vernácula,


sempre que possível e em inglês, especialmente a literatura acerca da Economia
Comportamental que não possui muita bibliografia em português. Os textos foram
escolhidos por pertinência ao problema de modo a dar um encadeamento lógico à
construção deste texto. Como representante maior da Economia Comportamental e
em torno do qual está toda a discussão do Capítulo 3, será Daniel Kahneman o
ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2002, , pois entende-se que o
reconhecimento da comunidade científica a respeito de sua contribuição é
incontestável.

Amartya Sen escreveu muito sobre Adam Smith, essencialmente sobre sua
filosofia moral e abordando a questão ética, que será citado de forma rápida, assim
como diversos outros prêmios Nobeis como Simon, Markowitz, Becker, Allais, de
modo a dar mais respaldo ao texto, porém sabendo que alguns autores serão
negligenciados, em função da delimitação do problema, como todos os autores que
tratam da Teoria dos Jogos e das mais diversas tradições e teorias filosóficas,
sociológicas, filológicas etc, todas fogem ao tema da Teoria da Decisão de Adam
Smith e sua relação com a Teoria da Decisão da Economia Comportamental.

A história ensina que o homem moral de Smith é reduzido a um homem egoísta


e racional, devido a uma leitura parcial da obra do filósofo de Kirkcaldy. A análise
econômica das decisões humanas é cada vez mais restrita até o homem econômico
racional dos postulados da escola neoclássica, “mais é preferível a menos”7.

Enquanto que o século XX viu este modelo levado às últimas consequências


(com modelos cardinais de utilidade), viu-se, igualmente, o florescer de novos
modelos que tentam reaproximar do homem real, objeto de análise do autor de A
riqueza das nações. Como Herbert Simon e sua racionalidade limitada, ainda no final
da década de 40 (1946). Quase trinta anos depois Kahneman revoluciona as

7 Aforismo comum dos livros de microeconomia, um aforismo que denota certa presunção e ignorância
epistêmica. Fato que a moderna economia não aborda, a racionalidade do agente como dogma, mas
sim da análise da ação do mesmo.
18

pesquisas de tomada de decisão por parte do agente econômico com seu artigo
seminal Judgement under uncertainty: heuristics and biases que causou um
terremoto, dando origem a todo um novo campo dentro da Economia: a economia
comportamental.

Será uma longa e instigante viagem pelo universo das ideias, muitos autores
serão revisitados que, à primeira vista e ao olhar desatento, pouco tem a ver com a
Economia. O método de abordagem será o método hipotético-dedutivo (de certa
forma, dialético, mas não materialista marxiano, como uma síntese aristotélica).
Segundo Popper, existem quatro caminhos que se pode percorrer para se “submeter
a prova uma teoria”, a saber: comparar as conclusões das mesmas entre si; a
verificação se a teoria é científica ou tautológica; se representa um avanço para a
ciência; e, por último a verificação da empírica da mesma (POPPER, 1972, p. 33).

Um leitor mais desavisado poderia indagar: Qual a utilidade e o motivo desta


tão longa e exaustiva viagem no tempo-espaço ontognoseológico econômico? Sim,
pois time is Money e ninguém gosta de perder um ou outro. A grande importância é
da própria Economia enquanto ciência. Etimologicamente ela é em última análise um
regramento da casa, assim era nos gregos até alguns escolásticos, cuja concepção
muda com os fisiocratas, em que a questão da riqueza começa a surgir. A economia
é a ciência lúgubre de Carlyle8, a ciência que lembra dos recursos escassos, que o
estado natural é a pobreza e que a riqueza é construída. Assim, o ser humano não é
uma máquina racional maximizadora de utilidade numa versão atualizada do
hedonismo utilitarista benthamiano. Mas um homem complexo e real.

Outro ponto que merece destaque é que, neste período, há o ressurgimento do


utilitarismo, inicialmente com o neo-hedonismo legalista benthamiano e depois com
Stuart Mill, ponto que será abordado apenas lateralmente, visto que foge ao escopo
deste trabalho, já bastante extenso. O utilitarismo não é uma escola de pensamento
que encontre fontes em Aristóteles e Smith, mas sim em Epicuro9, ao qual Smith trata
como um sistema “inconsistente” em sua Teoria dos Sentimentos Morais (SMITH,
2002, p. 370). Smith não só analisa o que se tornaria utilitarismo ou o hedonismo
racionalista epicurista, como rechaça-o. Smith, ao contrário do que uma leitura

8 Escritor, historiador, ensaísta e professor escocês durante a era vitoriana. Ele chamou a economia de
"ciência sombria".
9 Filósofo grego do período helenístico.
19

apressada o faria notar, não compartilha da noção de Hutcheson, de que a aprovação


vem de um senso moral inato, mas sim da simpatia, grande inovação deste ao debate.

Não há literatura acerca de uma Teoria da Decisão de Adam Smith, por motivos
até evidentes. Em primeiro lugar Smith não deixa uma teoria da decisão de modo
sistematizado, esta dissertação é a primeira tentativa de sistematizar uma teoria da
decisão de Smith. Em segundo lugar não era interesse de Smith aprofundar tal
questão, pois seus grandes interesses na Teoria dos Sentimentos Morais e na
Riqueza das Nações são a grandeza do homem e da nação, respectivamente.

Não há literatura relacionando a Teoria da Decisão de Smith com as


descobertas da Economia comportamental. Por motivos mais evidentes ainda, se não
houve tentativa de sistematizar uma Teoria da decisão de Adam Smith, não há como
relacionar esta com a Economia Comportamental. Trabalho seminal ligando Smith à
Comportamental foi empreendido por Ashraf e outros, 2005, em um artigo intitulado
Adam Smith, economista comportamental.
20

1 METODOLOGIA

A teoria deve responder a uma questão, claramente delimitada de modo a evitar


“monotonia” e “omissões imperdoáveis” (ECO, 2007, p. 35), esta deve possuir uma
resposta para ser testada (a hipótese). O conhecimento como resposta ao terror que
o desconhecido provoca na alma humana (SMITH, 1982c). Conhecer para ser feliz,
pois a potência mais elevada é a razão e somente a convertendo em ato será feliz
(Aristóteles, 2012).

Popper, em sua A lógica da Pesquisa Científica, coloca como a dedução o


caminho para a cientificidade do conhecimento, uma hipótese seria testada, não para
comprová-la, mas para corroborá-la, ou seja, tentar falseá-la (POPPER, 1972), deste
modo, será usado o método de abordagem como o hipotético-dedutivo.

Como métodos de procedimento, serão utilizados (LAKATOS, 2001, p. 106;


GIL, 2008, p. 9-23):

• Histórico;
• Comparativo;
• Monográfico;
• Análise de conteúdo (FREITAS, 2000, p. 22-63; RICHARDSON, 1999, p. 220-
244).

Por estes motivos, a pesquisa será focada na análise de conteúdo de apenas


6 obras:

1. Theory of Moral Sentiments (TMS) – Principal obra de Adam


Smith, a qual devotou seus últimos esforços (STEWART, 2002,
p. LXXVII) e de onde se extrai elementos de uma Teoria da
Decisão;
2. Wealth of Nations (WN), livro mais conhecido de Smith, volumes
1 e 2 – Apesar de claramente não enfocar o homem, mas sim a
Nação, é importante analisar de modo a demonstrar que não
existe dualidade na concepção de homem de Smith;
21

3. History of Astronomy (HoA) – Livro onde Smith explicita seu


entendimento de ciência e do porquê o cientista busca o
conhecimento de modo emocional;
4. Thinking fast and slow (TFS) – de Daniel Kahneman, obra
fundamental do único Nobel da Economia Comportamental, pois
faz um voo panorâmico sobre toda a sua obra e as descobertas
do campo;
5. Heuristic and Biases (HaB), organizado por Thomas Giloviche,
Dale Griffin e Daniel Kahneman, coletânea dos principais autores
e pesquisadores da Economia Comportamental;
6. Neuroeconomics, organizado por Paul Glimcher, Colin Camerer,
Ernst Fehr e Russell Poldrack, outra coletânea onde os capítulos
foram escritos pelos maiores pesquisadores da Neuroeconomia,
que propõe ser a parte da Economia Comportamental que trata
da Teoria da Decisão.

1.1 ANÁLISE DE CONTEÚDO

Análise de Conteúdo é interpretação de texto utilizando técnicas modernas.


Harold Laswell fez um estudo sobre a propaganda na Primeira Guerra Mundial,
durante as décadas seguintes técnicas estísticas simples como as “frequências
absolutas e relativas”, aliando, à interpretação qualitativa do texto à quantitativa. A
técnica de pesquisa deve possuir três características: objetividade, sistematização e
inferência (RICHARDSON, 1999, p. 220-227). Neste trabalho, a análise de conteúdo
visa embasar quantitativa e qualitativamente as conclusões desta dissertação.

O programa utilizado é o IRaMuTeQ, versão 0.7 alpha 2, do laboratório Lerass.


Que possibilita as seguintes “análises sobre corpus textuais”:

1. Estatísticas textuais clássicas.


2. Pesquisa de especificidades a partir de segmentação definida do
texto (análise de contraste de modalidades de variáveis).
3. Classificação Hierárquica Descendente (CHD) conforme o método
descrito por Reinert (1987 e 1990).
4. Análise de similitude de palavras presentes no texto.
5. Nuvem de palavras (CAMARGO, 2013).
22

Para tanto foram adotados os seguintes procedimentos:

I. Escolha dos textos: foram escolhidos seis corpus textuais para a análise,
os três primeiros são obras do próprio Smith, o quarto é a obra mais
famosa de Kahneman, que faz uma revisão de toda a comportamental,
e os outros dois, coletâneas de artigos dos autores mais importantes da
Economia Comportamental. São eles:
1. Theory of Moral Sentiments (TMS);
2. Wealth of Nations (WN), volumes 1 e 2 e;
3. History of Astronomy (HoA), todos de Adam Smith,
pertencentes à Glasgow Edition, de 1982;
4. Thinking fast and slow (TFS), de Daniel Kahneman;
5. Heuristic and Biases (HaB), organizado por Thomas
Giloviche;
6. Neuroeconomics, organizado por Paul Glimcher.
II. Conversão dos textos de .pdf para .txt;
III. Retirar todos os caracteres especiais como $, %, *, ‘, ” etc;
IV. Retirar os parágrafos, itálicos, negritos e algarismos;
V. Salvar em codificação UTF-8;
VI. Importar os corpus textuais para o programa;
VII. Rodar estatísticas do texto;
VIII. Rodar especificidades e AFC;
IX. Rodar Classificação Hierárquica Descendente (CHD);
X. Rodar Análise de Similitude;
XI. Rodar Nuvem de Palavras;
XII. Exportar e analisar.

O programa realiza análise de corpus textuais que são construídos pelo


pesquisador, com base no problema abordado, por isso são analisados os seis livros
descritos no item I, anteriormente. A obra onde Smith aborda os julgamentos morais
e possui insights que podem ser considerados uma proto teoria da decisão estão no
Theory of Moral Sentiments, Wealth of Nations será analisado por ser a obra mais
conhecida de Smith, mas com enfoque distinto do TMS, e a History of Astronomy onde
está condensada a epistemologia smithiana. Kahneman é o prêmio Nobel de 2002,
único membro da Economia Comportamental a ser agraciado, qualquer análise da EC
23

que não o incorpore será incompleta, foram escolhidos manuais com grande aceitação
nos cursos de pós- graduação, por serem coletâneas de artigos e pesquisas dos
maiores nomes da Economia Comportamental e da Neuroeconomia. Estes seis
corpus serão mono textuais, pois cada um será composto de apenas um texto: o
próprio livro. Estes, por sua vez serão divididos em segmentos de textos, que variam
em função da análise.

O programa calcula estatísticas do texto como a quantidade de palavras, a


frequência média, reduz as palavras em função de suas raízes semânticas, e identifica
as formas ativas e suplementares (CAMARGO, 2013).

Sobre a Classificação Hierarquica Descendente, CAMARGO explica:

Os segmentos de texto são classificados em função dos seus respectivos


vocabulários, e o conjunto deles é repartido em função da frequência das
formas reduzidas. A partir de matrizes cruzando segmentos de textos e
palavras (em repetidos testes do tipo X2), aplica-se o método de CHD e
obtém-se uma classificação estável e definitiva (Reinert,1990). Esta análise
visa obter classes de segmentos de texto que, ao mesmo tempo, apresentam
vocabulário semelhante entre si, e vocabulário diferente dos segmentos de
texto das outras classes (Camargo, 2005). A partir dessas análises em
matrizes o software organiza a análise dos dados em um dendograma da
CHD, que ilustra as relações entre as classes. O programa executa cálculos
e fornece resultados que nos permite a descrição de cada uma das classes,
principalmente, pelo seu vocabulário característico (léxico) e pelas suas
palavras com asterisco (variáveis). Além disto, o programa fornece uma outra
forma de apresentação dos resultados, através de uma análise fatorial de
correspondência feita a partir da CHD. Com base nas classes escolhidas, o
programa calcula e fornece-nos os segmentos de texto mais característicos
de cada classe (corpus em cor) permitindo a contextualização do vocabulário
típico de cada classe. O que são estas classes de palavras e de segmentos
de texto? Em nível do programa informático, cada classe é composta de
vários segmentos de texto em função de uma classificação segundo a
distribuição do vocabulário (formas) destes segmentos de texto. Em nível
interpretativo Reinert (1990), ao estudar a literatura, utilizou a noção de
"mundo", enquanto um quadro perceptivo-cognitivo com certa estabilidade
temporal associado a um ambiente complexo. Em pesquisas no campo da
linguística e comunicação estas classes são interpretadas como campos
lexicais (Cros, 1993) ou contextos semânticos. Em pesquisas sobre
representações sociais, tendo em vista o estatuto que elas conferem às
manifestações linguísticas, estas classes podem indicar teorias ou
conhecimentos do senso comum ou campos de imagens sobre um dado
objeto, ou ainda apenas aspectos de uma mesma representação (Veloz,
Nascimento-Schulze e Camargo, 1999). (CAMARGO, 2013).
Deste modo, a análise de conteúdo visa corroborar aquela efetuada pela
revisão bibliográfica. Dando-lhe mais respaldo quantitativo.
24

2 PRÉ SMITH

O universo sempre exerceu fascínio sobre os seres humanos. A infinitude


sempre causou desconforto e desespero pela finitude de sua existência. A senciência
desta realidade impulsiona voos de altura inimagináveis, pois faz com que busque-se
um sentido para a vida. Nos primórdios, a verdade estaria no próprio mistério da
existência, assim o homem primevo busca sentido nas árvores mais frondosas da
floresta, no rio mais impressionante, no animal mortal, invencível. Surge o mito, para
explicar o que somos, quem somos e para onde vamos após a traumática experiência
da finitude da vida, a morte.

Os gregos inovam ao questionar os mitos, refinando, antropomorfizando-os,


transubstanciando a realidade inimaginável para uma realidade cognoscível. O que
leva Ferry (2012) a questionar “o que havia antes e em outro lugar — antes do século
VI e em outras civilizações- além da civilização grega?” (FERRY, 2012). E responde
que deve-se ao refinamento dos mitos e religiões gregas e ao hábito ancestral de
discussão em grupo. Os gregos desenvolveram um complexo sistema de ideias, que
apesar da multiplicidade de autores/pensadores/filósofos podem “emprestar” três
conceitos estóicos, fundamentais para compreender o mundo (cosmos):

i. Theoria: etimologicamente, eu vejo as coisas divinas (ta theia orao), Em


outras palavras, a tarefa primeira da filosofia é ver o essencial do mundo, o
que nele é mais real, mais importante, mais significativo. Ora, pela tradição
que culmina no estoicismo, a essência mais íntima do mundo é a harmonia,
a ordem, simultaneamente justa e bela, que os gregos designam pelo nome
de cosmos. Que, nada mais seria todo o universo organizado e animado,
como Comte, milênios mais tarde, “criaria” o positivismo... Observe que este
divino não tem nada a ver com deuses, mas com a racionalidade, pois é
ligada com a ideia de logos, ordenado, cognoscível, animado. Que se
repete, nos planos “moral, jurídico e político”, por isso, esta ordem é “justa
e boa”, que seria imanente ao cosmos e transcendente ao homem (FERRY,
2012, p. 19-23);
ii. Ética: como não poderia deixar de ser, a ética é parte do cosmos, a justiça
assim é juntar-se a ordem cósmica que a theoria demonstra. Todo
conhecimento leva a uma ética, a um ajustamento.
25

iii. “Do amor à sabedoria à pratica da sabedoria” (FERRY, 2012, p. 27): Ferry,
continua sua exposição com uma pergunta intrigante, “ por que a Theoria,
por que mesmo a moral? ” Para ele, a questão gira em torno da salvação,
de nossos “medos e inquietações”, mas não por Deus, mas pela razão.
Assim, o sábio, ao morrer, irá apenas sofrer uma “passagem” entre estágios
cósmicos.

Neste ponto da história humana do conhecer e do saber destaca-se Sócrates


e sua dúvida metódica. Seu aforismo “só sei que nada sei” presente em sua Apologia,
escrita por Platão é emblemática. O homem só alcançara o conhecimento da Verdade
se como primeiro passo souber que não a conhece. Só aquele que busca encontra,
assim com a ajuda da maiêutica10 o homem busca conhecer e só o fara através do
uso da razão.

Infelizmente não foi possível acessar mais o pensamento socrático, pois tudo
o que há sobre ele deve-se a Platão, ambos (Platão e Sócrates) travavam uma
ferrenha luta contra os sofistas, pois para eles a busca pela Verdade era a função do
ser humano no Cosmo. Para eles, o conhecimento verdadeiro é devido apenas e tão
somente pela razão, pelo pensar. A alegoria da caverna platônica é um resumo de
como ele entende o processo de conhecimento verdadeiro, tudo neste mundo sensível
11. Esta pressupõe que os sentidos humanos são fonte de um conhecimento precário
e ilusório, meras sombras de um conhecimento mais puro e iluminado. Para Platão
somente através da razão é possível efetivamente conhecer, livres das amarras dos
sentidos, da observação das sombras deste mundo. Sob os ombros de Sócrates,
Platão pretende alcançar a Verdade fundamental.

Este mundo sensível, é apenas uma cópia imperfeita do que há nas mentes,
assim, nada que exista fora da razão existe realmente. Assim, observar este mundo
seria um absurdo, pois o verdadeiro conhecimento está dentro de nós mesmos.
Compreendendo as ideias consegue-se a chave para compreender o cosmos. Pois,
ao nascer, nosso indivíduo esquece do mundo das ideias e fica mergulhado neste
mundo de sombras.

10 Método que busca levar o interlocutor a chegar um conceito através de perguntas que o direcionem
e lapidem o senso comum até restar apenas o essencial, o verdadeiro.
11 Ver íntegra no ANEXO.
26

2.1 ARISTÓTELES

Nascido em Estagira, litoral noroeste da Calcídia, norte de Atenas entre 385 e


384 A.C. Aristóteles era filho de Nicômaco e Féstias. Seu pai era médico de Amintas
II (avô de Alexandre Magno). Aos dezessete ou dezoito vai para Atenas e frequenta a
Academia de Platão, onde se destaca como um de seus discípulos favoritos. Mas foi
aos poucos se afastando de seus colegas, em especial pelas inclinações pitagóricas
de Espeusipo (ARISTÓTELES, p. 14, 2014).

Para Aristóteles, o caminho do conhecimento era o contrário daquilo que seu


mestre Platão havia lhe ensinado: o mundo sensível não só é cognoscível, como
também fonte do conhecimento verdadeiro. Observe que, assim o cosmo deve ser
conhecido, um conhecimento de observação/contemplação da natureza, que retrata
o cosmo. Cada coisa tinha seu lugar exato, harmônico. O ser possui a Potência de
Ser, mas só o era em Ato. Assim era o homem que possuía a potência de ser homem
só se realizava no ato de pensar, de ser racional.

Em Aristóteles identifica-se 4 discursos: o poético, o retórico, o dialético e o


analítico, estes discursos são a forma de apreensão da realidade, passando do
possível (poética) para o verossímil (retórica) ao confronto destas verossimilhanças
(dialética) até a racionalização deste conhecimento e a confecção de conceitos
(analítica) (CARVALHO, 1996). O grande problema por ele deixado era a questão da
existência e da individualidade entre forma e matéria, que pode ser assim resumido:
tudo o que existe, existe como substância, ou seja, aquilo que não é parte de outro e
nem predicado de outro, mas em si e por si mesmo, que seja singular, individual mas
nossa capacidade de percepção da realidade é à partir do genérico para o especifico,
conforme os quatro discursos, sendo a diferença especifica entre os entres seria não
em relação à forma, que é como um corpo é combinado (modernamente, com relação
à seus átomos e partículas, visto que a composição dos entes estão entre os
elementos da tabela periódica) (CARVALHO, 2002a).

O homem nasce com a função de agir: “toda ação e projeto previamente


deliberado parecem objetivar algum bem” (ARISTÓTELES, 2014, p.45). Os homens
27

“mais vulgares” confundem “bem e felicidade” com prazer e uma “vida de gozo”, já
“pessoas refinadas pensam que o bem é a honra” deste modo, o homem deve dedicar-
se a razão. Para Aristóteles, alguns homens são melhores que outros (maior
potencial), pois alguns pensam melhores que outros, e estes devem ser privilegiados
em detrimento dos outros, para que esta potência se converta em ato. Pois o homem
tem de aprender a viver.

A alma, em Aristóteles possui três partes/potências principais, a saber: a


vegetativa/nutritiva/apetitiva, (que realiza as atividades fisiológicas do homem), a
desiderativa/emotiva (que diz respeito aos apetites, paixões e desejos) e a
razão/calculativa (que abriga o princípio racional) (ARISTÓTELES, 2006, p.122). A
primeira é a alma irracional e as duas restantes são racionais, porém somente na
última se encontra a potência do homem, pois “a função do ser humano é o exercício
das faculdades da alma em conformidade com a razão ou não dissociativamente da
razão” (ARISTÓTELES, 2014, p. 59).

Como citado acima, o homem age buscando o bem, mas o que seria tal bem e
por que ele o buscaria? Para Aristóteles, é fato que a “maioria esmagadora” identifica
“viver bem ou dar-se bem com o ser feliz” (ARISTÓTELES, 2014, p. 49). Os homens
simples (que não possuem as virtudes intelectuais da ciência, da razão intuitiva e da
filosofia) confundem felicidade com prazer, riqueza ou honra. Assim, de acordo com
os atos das pessoas Aristóteles afirma existirem “três tipos de vida”: “vida de gozo”, a
política e a da “especulação”. “O grosso da espécie humana se revela como sendo
inteiramente vil; sua preferência é por uma vida própria de gado” (ARISTÓTELES,
2014, p. 51) é a definição daqueles que devotam sua vida às paixões e vícios. Aqueles
que vivem para a política têm o bem como a honra, assim “o bem deva ser algo próprio
ao seu possuidor e difícil de ser dele suprimido” (ARISTÓTELES, 2014, p. 51). Ao
filósofo, cumpre a missão de encontrar a felicidade, pois,

A honra, o prazer, a inteligência e todas as virtudes, embora as escolhamos


por elas mesmas (visto que deveríamos estar contentes por possuirmos cada
uma delas, ainda que nada delas decorresse), também as escolhemos em
vista da felicidade na crença de que de que contribuirão para sermos felizes.
Mas ninguém opta pela felicidade em função daquelas coisas, nem tampouco
como algo que contribua para a aquisição de qualquer outra coisa que seja
salvo, ela mesma. (ARISTÓTELES, 2014, p. 57)
O homem bom seria o homem feliz, e este seria aquele que desenvolve suas
potências. Um bom flautista é aquele que exerce em ato sua potência, do mesmo
modo o homem, bom homem é o que converte em ato sua potência racional, suas
28

virtudes: “o bem humano é a atividade das faculdades da alma em conformidade com


a virtude, ou se houver mais de uma, em conformidade com a melhor e mais completa
delas” (ARISTÓTELES, 2014, p. 60). Como exemplo, Aristóteles dá a diferença entre
o carpinteiro e o geômetra, ambos buscam um ângulo reto, mas o primeiro contenta-
se com uma mesa aprumada, enquanto o segundo “é contemplador da verdade,
procura sua essência ou qualidade”. (ARISTÓTELES, 2014, p. 60)12.

“Como a felicidade é uma atividade da alma que se ajusta a virtude perfeita, é


necessário examinar o que é virtude” (ARISTÓTELES, 2014, p. 73). Assim Aristóteles,
distingue dois tipos de virtudes, de acordo com a potência anímica analisada:

Uma parte detendo a razão soberana e em si mesma, e a outra parte apenas


obediente a ela como se é em relação ao pai. A virtude também é diferenciada
em consonância com esta mesma divisão. Algumas formas são chamadas
de intelectuais e outras de morais. A sabedoria, o entendimento e a prudência
são virtudes intelectuais; generosidade e moderação são morais.
(ARISTÓTELES, 2014, p. 76-77).
A virtude moral, lida com o dia-a-dia, com as paixões e desejos humanos. É
fruto do hábito (ethos), pois “as coisas que nos são transmitidas pela natureza temo-
las primeiramente como potência, e nós exibimos sua atividade posteriormente”
(ARISTÓTELES, 2014, p. 81). Realizando atos justos nos tornam justos, praticando
moderação, moderados. Observe que, mais uma vez, Aristóteles inverte a ideia
platônica de que exista um ideal de justiça o qual espera-se alcançar, ou seja, que a
virtude seja algo transcendente a natureza humana, para Aristóteles é imanente. A
virtude é a moderação, “deficiência ou excesso as destrói” (ARISTÓTELES, 2014, p.
84). A coragem é a mediana entre a temeridade e a covardia, do mesmo modo as
outras virtudes são uma mediana entre dois vícios (ARISTÓTELES, 2014, p. 93). O
hábito virtuoso retroalimenta o ciclo, aumentando as virtudes no indivíduo, “a virtude
moral diz respeito a prazeres e dores” (ARISTÓTELES, 2014, p. 85) o indivíduo
virtuoso sente prazer em agir virtuosamente. Com relação à escolha entre virtude e
vício:

Há três coisas que nos impelem a escolha, e três que nos impelem ao evitar,
a saber, o nobre, o útil, o prazeroso e seus opostos: o vil, o nocivo e o
doloroso, sendo que, com respeito a todos eles, seja provável que o indivíduo
bom se conduza corretamente, e o indivíduo mau, incorretamente; isto vale
especialmente para o prazer, pois deste compartilham o ser humano e os
animais inferiores, além de acompanhar todos os objetos de escolha, visto
que tanto o nobre quanto o útil nos parecem prazerosos (ARISTÓTELES,
2014, p. 87).

12 Amartya Sen abordará esta temática em seu A desigualdade Reexaminada (SEN, 2001).
29

Aristóteles segue distinguindo as ações voluntárias e involuntárias, que ele


remete ao momento de ação e a ignorância do agente, pois, “as paixões irracionais
são tão humanas quanto a razão” (ARISTÓTELES, 2014, p. 112), assim o ato
voluntário é aquele em que o agente conhece de sua ação e o involuntário aquele que
desconhece. Uma vez conhecendo, o agente escolhe previamente a ação pretendida,
sendo assim, ação voluntaria, gênero e prévia escolha, espécie, subconjunto daquela,
portanto. Esta, “não prescinde da razão e de certo processo mental (...) indicativo de
alguma coisa escolhida antes de outras” (ARISTÓTELES, 2014, p. 114). A este
processo de escolha, Aristóteles chama deliberação, mas em sentido estrito delibera-
se “sobre aquilo que está sob nosso controle e que está na esfera de nossa ação”,
não é possível decidir ou escolher sobre o impossível ou sobre assuntos que
“possuem exatidão e plena formulação” (ARISTÓTELES, 2014, p. 115).
Modernamente chamada de deliberação de tomada de decisão sob risco:

A deliberação envolve aquilo que via de regra acontece de uma determinada


maneira, mas em que certa incerteza está presente. Tem a ver também com
coisas que acontecem de maneira indeterminada; vale observar que quando
se trata de matérias importantes, recorremos ao auxílio de outrem, pondo em
suspeita nossa própria capacidade de deliberar. (ARISTÓTELES, 2014, p.
116)
Esta concorre sempre aos meios, não ao fim.

Já a vontade, “tem a ver com fins” (ARISTÓTELES, 2014, p. 118), e este é o


bem ou o mal, sendo um erro afirmar que “ninguém é voluntariamente mau, como não
é involuntariamente bem-aventurado” (ARISTÓTELES, 2014, p. 120), assim o atesta
as próprias leis que punem quem pratica um ato valorado como mau, isentando de
culpa quem ignora a natureza maléfica de seu ato, assim como punem a negligência.
Ser justo ou injusto depende da vontade do agente, não sendo, sob nenhum aspecto
involuntárias, suas ações, de outro modo não é possível recuperar, o enfermo, sua
saúde, por sua simples vontade. “A meta da virtude” é a razão (ARISTÓTELES, 2014,
p. 126).

Aristóteles não vê com bons olhos o hedonismo, para ele a busca pelo prazer e a
fuga da dor não é virtuosa e, portanto, irracional (Sobre irracionalidade, ver ARIELY,
2008 e 2010). Ao abordar a virtude da coragem ele afirma que “a coragem é
conhecimento” (ARISTÓTELES, 2014, p. 130) que quando o homem luta por paixão
“o motivo de sua ação não é nobre, nem orientada pela razão, vindo sim, do
sentimento”. Fica patente que:
30

A coragem tem a ver com autoconfiança e o medo, mas não igualmente. Diz
respeito mais particularmente aos objetos do medo. Com efeito, alguém que
se mantém imperturbável diante de terrores e se comporta como deve em
relação a eles é corajoso num sentido mais positivo do que alguém que o faz
em situações que inspiram confiança. É, portanto, o fato de suportar o
doloroso, como foi dito, que determina a qualificação de corajosos dos
indivíduos. Daí a própria coragem envolver dor e ser justamente objeto de
louvor porque é mais árduo suportar dor do que se abster do prazer.
“Entretanto, pareceria que o fim que a coragem visa é realmente prazeroso”
(ARISTÓTELES, 2014, p.133).
Assim a “morte ou os ferimentos” são suportados pela virtude da coragem, e
quanto mais próximo de seu fim for atingido, mais feliz será o agente. Ele continua
sobre a virtude da moderação que esta diz respeito aos “prazeres que o ser humano
compartilha com os outros animais e que consequentemente se afiguram vis e
animalescos” (ARISTÓTELES, 2014, p. 136), denunciando a posição do estagirita
acerca da busca do prazer. Entre o desregramento e a covardia, esta é preferível a
aquela, visto o maior voluntarismo desta, a chave de entendimento é a razão.

Aristóteles classifica a justiça como “virtude perfeita”, “toda a virtude somada”


(ARISTÓTELES, 2014, p.182), pois enquanto a virtude é um controle racional de suas
paixões, uma mediatriz entre extremos, a justiça se refere a dois ou mais indivíduos.
Esta pode ser equitativa/distributiva, que “envolve dois indivíduos para os quais existe
justiça e dias coisas que são justas” (ARISTÓTELES, 2014, p. 187). A segunda é a
corretiva, que trata de o “juiz se empenha em torna-lo igual”, “distribuição do sofrer e
do fazer desigual” “mediante a punição” “retirando o ganho” (ARISTÓTELES, 2014, p.
190). Para ele a noção de justiça está na chave da ordem social, e o ponto fulcral de
sua Ética:

De fato, não são dois médicos que se associam para uma permuta, mas
médico e agricultor e geralmente pessoas que são diferentes e possivelmente
desiguais; ora, neste caso têm que ser tornadas iguais. A consequência é
todas as coisas permutadas necessitarem ser, de alguma forma,
comensuráveis. A introdução do dinheiro ocorreu com o objetivo de atender
essa exigência; sendo uma medida o excesso e da deficiência das coisas, o
que vale dizer quantos calçados são iguais a uma casa ou a uma determinada
quantidade de alimento.
É forçoso, portanto, que todos os produtos comerciais possuam um padrão
de medida, como foi dito anteriormente. E esse padrão é, na realidade, a
necessidade, aquilo que mantém a coesão de tudo; de fato, se as pessoas
deixassem completamente de ter necessidades, ou se não as
experimentassem entre si em pé de igualdade, o intercâmbio não perduraria
ou não seria o mesmo que é. Mas segundo uma convenção, a necessidade
passou a ser representada pelo dinheiro, daí o nome nomisma para o
dinheiro, porque não existe por natureza, porém por convenção (grifo nosso)
(ARISTÓTELES, 2014, p. 194-195).
Assim a necessidade humana mantém a coesão social, algo bastante presente
na moderna teoria econômica e as necessidades ilimitadas.
31

Como as “virtudes da alma” são classificadas em “virtudes do caráter e virtudes


do intelecto” – virtudes morais e intelectuais (ARISTÓTELES, 2014, p. 220). Sendo as
primeiras “um estado que diz respeito a prévia escolha, e esta é desejo deliberado”
(ARISTÓTELES, 2014, p. 221). Assim “o princípio da ação (ou seja, o seu movimento
e não o seu fim) é a prévia escolha e o princípio desta é o desejo e a razão visando
certo fim” (ARISTÓTELES, 2014, p.221), ou seja, o “princípio produtivo” é o “intelecto
que visa a um fim e vinculado a ação” (ARISTÓTELES, 2014, p. 222) A virtude
intelectual é a boa disposição de buscar a verdade, é pura, pois está ligada a
realização plena da potência racional em ato. Ela consiste na contemplação do cosmo.

A virtude intelectual é produzida e ampliada pela experiência e tempo, como o


estudo e contemplação do universo. “Os meios através dos quais a alma alcança a
verdade por afirmação ou negação sejam cinco: arte, conhecimento, prudência
(sabedoria prática), sabedoria, entendimento” (ARISTÓTELES, 2014, p. 223), assim:

1. Arte, conhecimento técnico, arte para os gregos, v.g., é “medicina, construção


de navios”, etc. (ARISTÓTELES, 2014, p. 45). “O que pode ser diferentemente
(mutável) (ARISTÓTELES, 2014, p. 224), “toda arte é do vir do ser”
(ARISTÓTELES, 2014, p. 225);
2. Prudência, conhecimento prático, adquirido pela experiência de vida.
Capacidade de “deliberar bem sobre o que é bom e proveitoso para si mesmo,
não num aspecto parcial e particular” (ARISTÓTELES, 2014, p. 225), “uma
capacidade racional genuína que diz respeito à ação relativamente aos bens
humanos” (ARISTÓTELES, 2014, p. 227) “só pode surgir a partir da
experiência” (ARISTÓTELES, 2014, p. 233);
3. Ciência/conhecimento, conhecimento adquirido pela observação metódica da
realidade sensível, algo que “existe necessariamente” que “não pode ser
diferentemente”, “que existe com base na necessidade pura e simples é eterno”
(ARISTÓTELES, 2014, p. 223);
4. Entendimento, razão intuitiva, conhecimento dos princípios primeiros (o caráter
convencional) do conhecimento, respaldando cognoscibilidade da realidade
(conforme ARISTÓTELES, 2014, p. 228);
5. Sabedoria/Filosofia, conhecimento que abarca todos os anteriores, “a
sabedoria é tanto conhecimento quanto entendimento no tocante as coisas da
mais excelsa natureza” (ARISTÓTELES, 2014, p. 230);
32

Assim, a virtude moral é ligada ao agir do homem, suas paixões e sentimentos,


enquanto a intelectual as suas potências, sua essência racional. “Ela (a sabedoria) é
uma parte da virtude como um todo e, portanto, mediante sua posse e se convertendo
em ato, torna (o ser humano) feliz” (ARISTÓTELES, 2014, p. 241).

2.2 ESCOLÁSTICOS

Depois da queda do Império Romano, a Europa ocidental se fragmentou em


uma miríade de senhores e seus feudos. Ao que a historiografia costuma alcunhar de
Idade das Trevas. Os séculos VI e VII foram, inequivocamente, de declínio, graças as
invasões bárbaras, (WOODS, 2008, p. 12). A partir do século IX Woods diz que a
Igreja Católica é uma “luz nas trevas”, sendo que a maior contribuição intelectual da
mesma são os escolásticos, que tratam de incluir nas discussões greco-romanas a
questão de Deus. Eles cristianizam os autores clássicos, em especial, Platão e
Aristóteles, em especial na questão da filosofia do conhecimento13.

IORIO (2015, p. 43) divide os escolásticos em três períodos distintos:


“escolástica primitiva (séculos IX ao XII); escolástica média (séculos XII e XIII) e
escolástica tardia (séculos XIV a XVI)”, curiosamente, mesma classificação adotada
por SCHUMPETER em seu História da Análise econômica, volume 1 (1964, p. 115).
Para Schumpeter, “excluídas as questões puramente teológicas, eram principalmente
problemas de teoria ou filosofia do conhecimento que atraíam a atenção dos
pensadores da época” (SCHUMPETER, 1964, p. 115).

Anísio Mânlio Severino Boécio (480-524), segundo Reale, é o “último dos


romanos e o primeiro dos escolásticos” (REALE, 2003, p. 129). Para ele, segundo

13 A discussão, entre muitos aspectos girava em torno dos universais. Cabe uma diferenciação entre
os conceitos aristotélicos e platônicos. “O termo ‘universal’ deriva da expressão unum in diversis:
indica, portanto, aquilo que unifica uma diversidade, ou seja, as propriedades comuns de uma
multiplicidade de indivíduos.
Na tradição platônica os universais são as Ideias, o ser no mais alto grau, isto, as essências
transcendentes das quais participam as realidades concretas. Na tradição aristotélica, o universal é, ao
contrário, o conceito, que se obtém da mente por abstração.
O problema medieval consiste em estabelecer qual seja o estatuto ontológico dos universais: se as
Ideias transcendentes, pensamentos de Deus etc., ou se são apenas conceitos mentais, ou até mesmo
apenas palavras insignificantes, ou se existe uma solução que medeia as várias posições” (REALE, p.
154)
33

Reale, “o Uno, o Bem e Deus são a mesma coisa” (REALE, 2003, p. 132) de fortes
raízes neoplatônicas. Para ele “o universal, enquanto tal nasce por abstração do
conhecimento dos indivíduos” (REALE, 2003, 129). Já João Escoto Eriúgena (810-?)
considerou “a dialética não somente como regra do pensamento, mas como própria
estrutura da realidade” (qualquer semelhança com o materialismo dialético marxiano
não é mera coincidência) (REALE, 2003, p. 135).

Anselmo de Aosta (1033-1109) afirma que a verdade de um conceito “conforme


sua maior ou menor adequação em relação as coisas” (REALE, 2003, p. 147), portanto
uma novidade aristotélica, pois aparece aqui a realidade sensível como fonte de
conhecimento. Para ele, “o pensamento reto é aquele que exprime a realidade”, do
mesmo modo existe uma “retidão da vontade e da liberdade” (REALE, 2003, p. 147).

Com Pedro Abelardo (1079-1142) a dúvida possui “função positiva” que


necessita de um regramento “como a análise linguístico-terminológica do texto, a
verificação de sua autenticidade, suas relações com o contexto, a pesquisa da maior
objetividade possível na exegese” (REALE, 2003, p. 161), assim ele distingue o
intelligere, frutos da ratio e da fides e o comprehendere divino. Para Abelardo, a
consciência:

É fonte da intentio ou consensus animi. A alma humana seria teatro de


impulsos que são involuntários e instintivos e, portanto, pré-morais; a
moralidade surge no momento em que a consciência dá seu consenso
(REALE, 2003, p. 161).
A ratio é composta pela lógica e pela dialética e possui “autonomia e regras
próprias”. Ele pretende cultivar a “razão dialética” que “é razão crítica, razão que se
interroga e continuamente ou razão como pesquisa”, assim a busca pela verdade se
reduz a busca pela verossimilhança, posto esta é divina, deste modo, inexaurível. A
sua moral é tripartite: “reside na alma”, o corpo não é intrinsicamente mal e só compete
a Deus julgar verdadeiramente as razões da ação humana (REALE, 2003, p. 161-
164).

Porém é na questão dos universais que Abelardo destaca-se. Ele se contrapõe


ao realismo extremo de Escoto e Anselmo, em que “os universais existem entre si,
como Ideias platônicas” (REALE, 2003, p. 166) e o nominalismo, onde “o universal
seria puro nome que designa uma multiplicidade de indivíduos” (REALE, 2003, p.
166). A estes, Abelardo junto uma reelaboração da posição aristotélica em que “o
34

universal, embora não sendo um arquétipo ideal, é um conceito significativo obtido por
abstração” (REALE, 2003, p.169).

Figura 1 - Os Universais:

Conceitualismo,
(Abelardo):
post rem, na mente
como conceito
abstrato
Realismo exagerado, Nominalismo
(Anselmo): (Guilherme de
Ante rem, platonismo Ockham):
exagerado, existem puros nomes , sem
em si e por si relação com as coisas

Realismo moderado
(Tomás de Aquino):
Ante rem, na mente
de Deus, in re, como
forma das coisas e
post rem, como
conceito mental;

Fonte: o autor, 2016 (conteúdo de REALE, 2003, p. 171).

Assim o século XII vê surgir um resgate cada vez maior das obras aristotélicas,
em especial físicas e metafísicas, pois a lógica sempre encontrou resguardo entre os
escolásticos. (Conforme REALE, 2003, p. 190). Os artífices do resgate aristotélico no
ocidente foram dois árabes: Avicena (980-1037), médico e filósofo persa, este
distingue ente e essência como concretudes e abstrações, v.g., “homens, constituem
o ente, ao passo que humanidade constitui a essência” 14 (REALE, 2003, p. 192). O
ente real, por sua vez, pode ser possível ou necessário, assim:

O que existe de fato, mas que, em si mesmo, poderia também não existir é
chamado por Avicena ente possível: trata-se do ser que não tem si mesmo a
razão de sua própria existência, encontrando-a em uma causa que o fez ser.
Diferente do ser possível é o ser que existe de fato e de direito ou ser
necessário, isto é, o ser que não pode deixar de ser, porque possui em si
mesmo a razão do seu existir. “Esta distinção é fundamental, porque separa
o mundo de Deus: um é apenas possível, pois sua existência atual é
contingente, não postulado por sua essência, ao passo que o outro é

14Neste ponto, cumpre lembrar que esta dicotomia já existia desde a “disputa” pré-socrática entre
Parmênides e Heráclito, parcialmente resolvida por Aristóteles, ponto do qual, parte Avicena.
35

necessário; o primeiro é dependente, o segundo é independente” (REALE,


2003, p. 193).
Ele influenciou os escolásticos em muitos aspectos, Reale destaca:

Tomas de Aquino (a distinção real entre essência e existência), ou melhor,


entre essência e ser, sobre Boaventura (a pluralidade de formas no indivíduo:
forma espiritual e formas sensitivas e vegetativas), sobre Duns Escoto (a
doutrina das essências) e sobre todos, a distinção entre esfera celeste e
esfera terrestre “(REALE, 2003)
Averróis (1126- 1198), jurista, médico e filósofo espanhol foi um comentador
mais atrevido de Aristóteles, v.g. sua posição que a filosofia aristotélica é superior a
teologia, pois “a revelação produz símbolos imperfeitos que cabe a razão decifrar”
(REALE, 2003, p. 194), assim ele, ao contrário de Avicena, que harmoniza a fé
islâmica e a filosofia aristotélica, ele subordina a fé à razão. Sua segunda tese é o da
eternidade do mundo cognoscível, que junto com a tese de que o homem não possui
senão uma potência de inteligência, posto que somente Deus a possui em ato (gênese
das filosofias coletivistas modernas). O indivíduo nada é além de uma fantasia
imaginária (Conforme REALE, 2003, p. 196). Coube a Averróis a culpa pela dura
condenação eclesiástica a Aristóteles e sua filosofia natural e metafísica, retratada até
no cinema e na literatura de ficção por Umberto Eco em O nome da Rosa, conforme
ECO, 2010.

Tabela 1 - Teoria do intelecto de Averróis

INTELECTO

Intelecto possível: Intelecto agente:

• É único, separado, supra individual; • Intelecto divino;


• Recebe na fantasia os conceitos • Põe em ato os conceitos inteligíveis
inteligíveis atualizados pelo intelecto em potência.
agente;
• É o saber coletivo da humanidade
que se incrementa com a evolução da
consciência;
• Quando todo o intelecto possível for
atualizado, ele se identificará (unio
mística) com o intelecto divino em
ato.

Fantasia:

• É individual e sensível;
36

• Acolhe os universais em potência,


apenas enquanto continente e, sendo
sensível, não está em grau de
compreendê-los;
• Dá a impressão de que o
conhecimento seja individual.

Homem:

• Está unido por meio da fantasia com


o intelecto possível;
• O ato do entender é tanto do homem
singular (enquanto ligado à fantasia
sensível individual), como supra
individual (o saber transcende o
sapiente singular e tem caráter
cumulativo para toda humanidade)
enquanto o universal em ato não
pode ser captado pelo indivíduo;
Fonte: REALE, p. 199 (adaptado pelo autor).

Filho de Landolfo, conde de Aquino e Teodora, nasce em 1221 o maior gênio


da escolástica e “um dos maiores pensadores de todos os tempos” (REALE, 2003, p.
211), Tomás de Aquino. Nele, há “uma razão e uma filosofia como preambula fidei”
(REALE, 2003, p. 213), pois “é necessário recorrer a razão, à qual todos devem
assentir” (Tomas de Aquino, apud REALE, 2003, p. 213).

Assim, Tomás conceitua ente como “tudo aquilo que é possível formar uma
proposição afirmativa” (AQUINO, 2001, p. 5) e pode-se classificá-los em:

1. Lógicos: que “se expressa pelo verbo de ligação ser”, v.g., “quando dizemos
que a afirmação é contrária a negação”, o universal é pautado pela realidade,
mas não é a realidade, apenas abstrai da mesma (REALE, 2003, p. 216);
2. Real: Tudo o que existe é ente, mas só Deus é ato puro e subsistente, ou seja,
ente e essência se identificam. O ente real é, portanto, uma essência que o
defina e o diferencie de outras, v.g. os homens, as plantas, Deus, onde, a
exceção de Deus, todos possuem apenas potência de ser, e não ser em ato,
posto que possam existir e não existir podem existir e deixar de existir.

Importante para este estudo é a concepção de Tomás de filosofia do ser, do


indivíduo15, pois para ele:

15 Conceito essencial para a moral cristã, vide a obra fundamental O livre arbítrio de Agostinho de
Hipona, cuja abordagem excede o escopo deste estudo. Em O ente e a essência, Tomas faz 17 citações
em 48 páginas, bem mais que as 87 citações em mais de 4500 páginas de sua Suma.
37

Entretanto não se pode dizer que a noção de universal convenha à natureza


assim entendida, uma vez que da noção de universal faz parte a unidade e a
comunidade. Ora à natureza humana, segundo a sua consideração absoluta,
não convém nem uma nem outra. De facto, se a comunidade fizesse parte do
conceito de Homem então encontrar-se-ia a comunidade em todo aquele em
que se encontrasse a humanidade. Mas isto é falso, pois em Sócrates não se
encontra nenhuma comunidade, mas tudo o que nele existe é individual
(AQUINO, 2008, p. 23).
Percebe-se que o hilemorfismo16 aristotélico é mantido em Tomás, ao que ele
acrescenta seus transcendentais: uno, verdadeiro e bom (que vão influenciar a forma
que Adam Smith enxergará a natureza/essência humana cerca de 500 anos depois,
em especial com sua disputa com Mandeville e Hobbes)17.

Ele retoma o problema Aristotélico e afirma que a individualização dentro da


mesma espécie, para ele a forma é especifica para cada espécie, logo a
individualização é à partir da matéria, deste modo entre seres de mesma espécie
seriam materiais e não formais, onde a matéria já assinalada18 seria “recortada” em
partes diferentes entre si, daí o indivíduo distinto de outro ente (CARVALHO, 2002b).

João Duns Scot, OFM19 escocês, nascido em 1266, rebate Santo Tomás
lembrando que a Revelação afirma que a alma individual é imortal, não podendo,
portanto, ser ligada à forma e matéria, posto que isto, tudo o que existe, existe em
uma individualidade que possui forma e matéria, forma que, conforme o doutor
angelical, é a chave da individualização do ente, desaparecendo a matéria, deixaria
de existir o ente, ou seja, também sua alma. Portanto, a diferença entre indivíduos
deve ser formal e não material, deve fazer parte da própria essência do ser, este
principio individuationis está presente já na essência de cada espécie de ser, pois não
pode existir espécie sem que haja ser. Mas esta individualização possui graus
diferentes em diferentes espécies, verbia gratia o ser humano, onde até a
transcendência é individual (se o ente irá para o céu ou não, mais formal) e uma pedra,
que partida ao meio serão duas pedras (mais material) (CARVALHO, 2002b).

16 Todos os seres são compostos de matéria e forma.


17 “o uno indica a simplicidade e a não contraditoriedade do ente; o verdadeiro indica a cognoscibilidade
e a racionalidade do ente; o bom indica a amabilidade e o grau de imperfeição do ser” (REALE, p. 219)
18 Materia quantitate signata, não a matéria geral, mas a já especificada para aquela espécie, v.g. a
matéria vegetal, que conteria todos os elementos vegetais existentes nos indivíduos desta espécie.
19 Ordo Fratum Minorum, Ordem dos Frades Menores, ordem fundada por São Francisco de Assis em
1209, em Assis na Itália.
38

2.3 PROLEGÔMENOS DE UMA TEORIA DA DECISÃO?

Aristóteles não nos deixou uma Teoria da Decisão, ao menos de forma


explicita, e aprofundar na obra aristotélica no original grego é uma missão posterior
que escapa ao escopo desta dissertação, que pretende, ao apresentar este capítulo
apenas esboçar as influências aristotélicas na obra de Adam Smith. Daí a interrogação
desta seção.

A epistemologia aristotélica de quatro discursos influenciou toda o ocidente


(CARVALHO, 1996), não somente Smith, em especial a atitude do homem
maravilhado perante a realidade cognoscível, que voltará a ser abordado no próximo
capítulo.

Estudou-se o modelo aristotélico, baseado em uma alma tripartite, com três


potências:

Figura 2 - Alma aristotélica

Potência
Racional

Potência
sensitiva

Potência
vegetativa

Fonte: o autor, 2016.

O modelo aristotélico é descritivo, mas tem uma pretensão claramente


normativa, pois para ele a Virtude é o grande objetivo a ser perseguido pelo homem,
pois a grande potência deste é a racionalidade, assim as paixões (da alma sensitiva)
devem ser subjugadas pela razão. A diferença entre virtude e justiça é, para
Aristóteles, que a primeira diz respeito ao indivíduo em si, a segunda é quando há
39

mais de um indivíduo envolvido. Logo a justiça, é o controle de suas paixões nas


relações sociais. A tomada de decisão em Aristóteles é racional, mas de modo
normativo, pois há decisões impulsionadas pelas paixões, ele não aprofunda mais na
investigação sobre o processo decisório.

A grande inovação escolástica ao modelo aristotélico é dado por Tomás de


Aquino que descreve uma potência espiritual à alma humana, está sobrenatural,
sendo que as outra três são naturais. Deste modo, não há grandes diferenças no
processo de decisão até o Iluminismo, exceto pela motivação transcendental à alma
humana: a salvação, novamente um modelo decisório mais normativo que descritivo.

Smith, também é bastante influenciado pelos escolásticos, ele usa o léxico God
77 vezes, 8 vezes Author of Nature no Theory of Moral Sentiments, além de usar
paráfrases bíblicas no seu texto.

Smith, como não poderia deixar de ser, parte de Ética à Nicômaco para compor
sua Teoria dos Sentimentos Morais, utilizando muitos conceitos aristotélicos,
modificando outros, chega a citar 40 vezes o nome de Aristóteles, 448 vezes o léxico
virtude, termo chave para o esquema aristotélico.
40

3 ADAM SMITH

3.1 CONVENCIONALISMO

A Idade Média e sua escolástica deram lugar ao Iluminismo, que tem como
maior característica a busca por uma ontologia imanente em contraposição a
transcendente daquela. O retorno a Aristóteles e a Platão reacende a busca pela
Verdade não teológica, reacendendo as discussões morais mundanas.

Neste ponto o Iluminismo escocês tem destaque pela qualidade dos autores
que despontam no debate20. O Iluminismo escocês, diferencia-se do Iluminismo
continental por focar em temas morais e sociais (CERQUEIRA, 2005b).

Adam Smith, “talvez o maior (economista) que já houve” (COASE, 1976), “pai
da economia” (CERQUEIRA, 2004) inicia sua História da Astronomia explanando que
a intenção do seu ensaio é “considerar particularmente a natureza e as causas de
cada um desses sentimentos”21 (SMITH, 1982a, p. 34) para ele o conhecimento é
oriundo da realidade sensível, nos moldes aristotélicos, porém, neste ponto Smith
deve mais à Isaac Newton que a Aristóteles (HETHERINGTON, 1983), tanto para as
ciência quanto para a Moral (CERQUEIRA, 2005a), deste modo Smith se caracteriza
mais como um conventualista que um empirista (BARBIERI, 2013, p .157).

O convencionalismo se caracteriza pela visão que a ciência é movida pela


convenção entre os cientistas, de modo a “tranquilizar a imaginação”22 (BARBIERI,
2013, p. 158), a epistemologia smithiana é portanto bem dependente do “homem
dentro do peito” (BROWN, 1994, p. 41).

A teoria da ciência de Smith possui aspectos bem distintos, um deles é o termo


maravilha23, que é o impulsiona o homem a explicar o que o observa24, utilizando, para

20 Smith adentra em um debate já iniciado entre as visões de homem, uma resposta a Hobbes e
Mandeville (CERQUEIRA, 2006).
21 A saber, Maravilha, Surpresa e Admiração (SMITH, 1982a, p. 33).
22 Mais à frente veremos a figura do conforto cognitivo.
23 Assim como Aristóteles. Porém para este sentimento causa a busca pelo conhecimento por
desconforto com à ignorância, em Smith este gera um terror pelo desconhecido, uma motivação mais
sensitiva que racional, nos moldes aristotélicos (VIVENZA, 2001, p. 18)
24 Vemos aqui o viés psicológico de Smith, fundamental para o entendimento de sua obra.
41

isso a imaginação, que ao montar explicações para a realidade cognoscível, dá ao


sujeito duas satisfações: “apazigua o sentimento de admiração e de contemplar o
belo”. Este maravilhamento se deve à admiração perante a “magnificência ou
grandeza” da realidade observada (VIVENZA, 2001, p. 14).

Se para Aristóteles, a busca pelo conhecimento é a busca pela verdade


observável, para Smith o homem busca apenas explicar aquilo que foge de sua
normalidade25, por “puro amor” ao conhecimento, como Aristóteles, pela “beleza” dos
sistemas de conhecimento (VIVENZA, 2001, p. 37)

A aparente contradição entre as visões de homem entre a Teoria dos


Sentimentos Morais e a Riqueza das Nações foi tratado como “Das Adam Smith
problem” (BROWN, 1994, p. 19), que deve ser entendido como uma
complementariedade das obras (CERQUEIRA, 2003) e como deixa patente esta fala
dos editores da obra de Smith:

O chamado" problema de Adam Smith "era um pseudoproblema, com base


em ignorância e mal-entendidos. Qualquer um que leia a Teoria dos
Sentimentos Morais, primeiro em uma das edições anteriores e depois na
sexta edição, não terá a menor inclinação para ficar confuso que o mesmo
homem escreveu este livro e A Riqueza das Nações, nem supor que ele
sofreu qualquer mudança radical de visão sobre a conduta humana
(RAPHAEL in SMITH, 1982a)

3.2 TEORIA DOS SENTIMENTOS MORAIS

Apesar de Uma investigação acerca da Natureza e Causas da Riqueza das


Nações ser a obra mais famosa de Smith, foi a Teoria dos Sentimentos Morais que
ele devotou seus últimos esforços (STEWART, 2002, p. LXXVII) “que sempre
considerou o (TSM) como uma obra superior ao (WN)” (Romilly, 1840, I, p. 403, apud
ROSS, 1999, p. 257). Obra profundamente negligenciada pelos economistas
modernos, a Teoria dos Sentimentos Morais é a chave para a compreensão de A
Riqueza das Nações (O’ROURKE, 2008, p. 38).

25 Veremos que este é justamente a forma de apreensão da realidade, pois o sistema 1 (que iremos
ver com maior profundidade no próximo capítulo) faz justamente isso: cria uma narrativa para tornar a
realidade mais confortável, sendo que o sistema 2 é ativado apenas quando esta narrativa se mostra
insuficiente, causando um desconforto cognitivo.
42

Smith inicia sua Teoria dos Sentimentos Morais com um parágrafo que pode
parecer estranho a economistas mais desatentos (na verdade, há economista que ou
não o leram ou leram apenas a Riqueza das Nações, in verbis:

Por mais egoísta que se suponha o homem, evidentemente há alguns


princípios em sua natureza que o fazem interessar-se pela sorte de outros, e
considerar a felicidade deles necessária para si mesmo, embora nada extraia
disso senão o prazer de assistir a ela. (SMITH, 2002, p. 5).
O princípio inicial por ele abordado é o da simpatia, que é a capacidade de
imaginar-se (imagination é usado 43 vezes no texto) no lugar do outro. Assim, pela
imaginação, “encolhemos e retiramos nossa própria perna ou braço” (SMITH, 2002,
p. 6) ao visualizarmos um “golpe a ser desferido” no braço ou perna de outrem.

Assim, infere-se que a simpatia é um evento eminentemente social, pois há


necessariamente um agente e um espectador. Não somente a dor dá azo a
solidariedade, mas “seja qual for a paixão que proceda” (SMITH, 2002, p. 7) 26 pois
“as emoções do espectador sempre correspondem àquilo que, atribuindo-se o caso,
imagina seriam os sentimentos do sofredor” (SMITH, 2002, p. 7).

O conceito de simpatia usado por Smith é bastante amplo como “solidariedade


com qualquer paixão” (SMITH, 2002, p. 8). SILVA (2013, p. 16) destaca uma tradição
britânica sentimentalista que tem que a moral é fruto dos sentimentos. Assim dos
quatro principais autores (Adam Smith, David Hume, Hutcheson e Shaftesbury),
Hutcheson e Shaftesbury tinham que o senso moral é inato, para Smith e Hume, este
senso moral estará profundamente ligado ao conceito de simpatia. A diferença entre
estes é, segundo (DUARTE, 2008, p. 83) é que para Hume o “sentimento simpático”
é expressão do sentimento original, para Smith este se dá pela imaginação. Que
compele o expectador a se compadecer dos sentimentos observados, porém, um
trecho é revelador acerca da “irracionalidade” do julgamento:

A compaixão do expectador tem de surgir da consideração do que ele próprio


se sentiria fosse reduzido à mesma infeliz situação, e, o que talvez seja
impossível, se pudesse, ao mesmo tempo, analisa-la com sua razão e
julgamento (Smith, 2002, p. 10).

26Aqui já podemos ver que Smith repete a alma Aristotélica, pois as paixões brotam da potência
sensitiva da mesma.
43

A hierarquia das potências é mais sutil em Smith que em Aristóteles, neste a


alma tripartite deve se subordinar a razão, em Smith a razão apenas refreia as
paixões.

A Smith não escapa que a aprovação/conveniência pode não ser imparcial, o


que modernamente, Herbert Simon chamaria de viés27:

Toda faculdade de um homem é medida pela qual ele julga a mesma


faculdade em outro. Julgo sua visão por minha visão, seu ouvido por meu
ouvido, sua razão por minha razão, seu ressentimento por meu
ressentimento, seu amor por meu amor. Não posso nem posso possuir
nenhum outro modo de julga-las (SMITH, 2002, p. 18).
Assim como, logo após, Smith alerta que a conveniência ou não das ações
humanas se devem a “atenção” dada aos objetos ou sentimentos julgados, mesmo
“sem nenhuma relação” (SMITH, 2002, p. 19) com o agente, entrementes verifica-se
que o termo atenção também denota certo viés cognitivo a decisão tomada. Viés este,
mais manifesto, com os objetos e sentimento “que afetem diretamente” (SMITH, 2002,
p. 21) ao agente, o julgamento terá um viés favorável aos sentimentos e objetos de
acordo com a proximidade destes para com os nossos próprios, pois o trabalho da
imaginação facilitado.

Estes vieses são conhecidos do agente, tanto que este tenta “abrandar a
intensidade” (SMITH, 2002, p. 22) do seu sentimento, de modo a influenciar a simpatia
do expectador. Mas como o agente toma ciência deste sentimento de aprovação ou
desaprovação/conveniência ou inconveniência? Justamente pela figura do
expectador, onde o agente imagina como seria julgada suas ações por um expectador
imparcial (SMITH, 2002, p. 25-26), o que refreia o amor de si e leva a “harmonia de
sentimentos e paixões” (SMITH, 2002, p.26).

Smith finaliza a Seção I, da primeira parte de sua Teoria, dando contornos


claramente relativistas a aprovação:

Quando um crítico examina a obra de qualquer dos grandes mestres da


poesia ou pintura, por vezes pode examina-la segundo uma ideia de perfeição
que formou em seu próprio espirito, à qual nem essa nem qualquer outra obra
humana jamais poderá alcançar; e enquanto a comparar com esse padrão,
nada poderá ver senão imperfeições e falhas. Mas se passar a considerar a
posição que a obra deveria ter entre outras da mesma espécie,
necessariamente a comparará com u padrão muito diferente, cujo grau de
excelência é comumente alcançado nesta arte especifica, e se a julgar
segundo essa nova medida, poderá parecer merecedora do maior aplauso,

27 Guarde este termo...


44

na medida em que se aproxima muito mais da perfeição do que a maioria das


obras com as quais pode competir (SMITH, 2002, p. 28).
Assim a conveniência, para Smith, aproxima-se mais da virtude Aristotélica do
que o termo virtude utilizado por ele em sua Teoria.28

Entre os vários tipos de paixões, aquelas originárias do corpo são as que menos
despertam simpatia em outrem, as paixões “imaginativas”29 também não gozam de
grande simpatia, como a paixão erótica, porém a esta existe certa predisposição a
tornar- se simpático30.

Outro exemplo de “heurística” analisado por Smith são as “paixões insociáveis”


como “a amabilidade do caráter exaspera o sentido de atrocidade da ofensa” (SMITH,
2002, p. 39), onde assim quanto mais simpatizar pela dor do ofendido, mais
repugnante nos parece a ação do ofensor. Aqui Smith insere a variável tempo na
decisão. Pois algumas paixões e ou objetos podem ser desaprovados no curto prazo
e aprovados no médio e longo prazo, dando vários exemplos: como os instrumentos
cirúrgicos que causam aflição no curto prazo, pois estão associados imediatamente a
dor, ao contrário dos instrumentos agrícolas que causam certa simpatia, no curto
prazo31. Mas a longo prazo, os instrumentos cirúrgicos são importantes para a saúde
e têm uma construção mais refinada que os agrícolas. A estas, somente se dispõe a
simpatizar após ser convencido, a ira é um exemplo de sentimento que necessita de
explicação para a simpatia de outrem, predispostos a não simpatizar com a mesma.
In verbis:

Alegria, dor, amor, admiração, devoção, são todas paixões naturalmente


melodiosas. (...) ao contrário, a voz da ira e a de todas as paixões da mesma
família são as peras e dissonantes (SMITH, 2002, p. 42).
Já perante as paixões sociáveis somos totalmente simpáticos aqueles que as
sentem e aqueles que são sujeitos a este sentimento. São estes o amor, a paz, a

28 “a virtude é excelência, algo excepcionalmente grande e belo, que se eleva muito acima do que é
vulgar e ordinário" (SMITH, 2002, p. 26) e “A conveniência de toda paixão (...) deve residir,
evidentemente, numa certa mediania” (SMITH, 2002, p. 30).
29 “derivadas da imaginação” (SMITH, 2002, p. 34).
30 Em termos modernos, resguardando o perigo do anacronismo, pode-se visualizar uma pré-
heurística, pois esta predisposição se faz porque há uma situação modelo em que encaixa-se nas
paixões alheias. Smith usa exemplos de tragédias gregas, para o leitor moderno o exemplo de Romeu
e Julieta é mais contundente. Deste modo, para fins didáticos, considera-se todo modelo mental na
Teoria como uma heurística.
31 Novamente um esboço de heurística.
45

alegria, harmonia, contentamento e outras, pois mesmo que percebidas como


exageradas não causam aversão32

Como mediana entre as paixões insociáveis (onde somos predispostos a não


simpatizar) e as sociáveis (onde somos predispostos a simpatizar) Smith apresenta
as egoístas, sendo a dor e a alegria, pois “estamos mais predispostos a simpatizar
com pequenas alegrias e grandes sofrimentos” (SMITH, 2002, p. 47).

O expectador imparcial33 acaba sendo uma fonte de modelos de ação para o


indivíduo, pois se há maissimpatia com a dor alheia, faz-se para sentir solidariedade
quando estiver sofrendo, em situação semelhante. A chave é a imaginação simpática,
que sempre nos dá uma fórmula de ação sem que precisemos conhecer todas as
variáveis e explicações da ação alheia34. É o que torna capaz sentir mais vergonha
chorar do que rir em público (SMITH, 2002, p. 55), pois sabemos que somos mais
predispostos a simpatizar com o riso que com o choro35, assim, muito mais do que
aprovar e julgar conveniente o sentimento alheio, chega-se a admirar a
magnanimidade com que alguns enfrentam a dor e o sofrimento (SMITH, 2002, p. 57)
e despreza-se quem “mergulha em sofrimento e depressão por qualquer calamidade
pessoal” (SMITH, 2002, p.58).

A busca pelo sentimento de aprovação que motiva a busca por riqueza e poder.
Numa passagem que poderia muito bem ser aplicada as modernas redes sociais,
Smith afirma:

É porque os homens estão dispostos a simpatizar mais completamente com


nossa alegria do que com nossa dor, que exibimos nossa riqueza e
escondemos nossa pobreza. (SMITH, 2002, p. 59)
Este sentimento de aprovação é o que mantém a ordem social (conforme
SMITH, 2002, p. 62). Pois dizer:

Que os reis são servos do povo, a quem se deve obedecer, resistir, depor ou
punir conforme exija o bem-estar público, é doutrina da razão e da filosofia,
mas não da natureza (SMITH, 2002, p. 63).

32 Outra heurística.
33 “The impartialspectator metaphor provides a view of conscience as soliloquy” (BROWN, 1994, p. 48)
34 O que vem a ser o conceito de heurística.
35 Depreender pela alma tripartite aristotélica, onde a razão é distinta das paixões, que este processo
não é racional em sentido estrito ou instrumental. Seria uma irracionalidade? Assim é possível incluir
aqui o conceito de racionalidade encontrado em VON MISES, 2010, p.35, onde toda ação humana é
motivada e racional.
46

Ao mesmo tempo que é o cerne da ordem social, este desejo/necessidade de


aprovação e de quase veneração aos “grandes” também é fonte de certa desídia
moral, pois

A sabedoria e a virtude não são de modo algum os únicos objetos de respeito;


nem o vício e a insensatez são únicos objetos de desprezo. Frequentemente
vemos as atenções respeitosas do mundo dirigirem-se mais fortemente para
os ricos e grandes do que para os sábios e virtuosos (SMITH, 2002, p. 72).
Smith considera textualmente “dois modelos”36 ou “retratos” onde “podemos
desenhar nosso próprio caráter e comportamento” (SMITH, 2002, p. 73)37, sendo que
o primeiro é ser rico e ter a atenção e a simpatia fácil de seus pares, outro é ser sábio
e ter a “atenção de quase ninguém” (SMITH, 2002, p. 73).

O fato de nascer pobre torna o indivíduo particularmente sensível as regras


morais e a justiça, pois este, nunca estará acima da lei como é para os grandes e ricos
(por mais que Smith tenha escrito isso no século XVIII, nada mais atual que poderosos
considerarem se acima da lei), pois a aprovação destes “depende do favor e da boa
opinião de seus vizinhos e iguais” (SMITH, 2002, p. 74), assim, como são a maioria,
esta maioria tende a ter um “considerável grau de virtude” (SMITH, 2002, p. 74).

Os ricos são, contrario sensu, naturalmente notados e possuem a atenção e


distinção social sem esforço algum, pelo contrário:

As graças exteriores, as realizações frívolas dessa coisa impertinente e tola


chamada homem da moda, são comumente mais admiradas do que as
virtudes sólidas e viris de um guerreiro, um estadista, um filósofo ou um
legislador (SMITH, 2002, p. 75)
Assim,

Os candidatos à fortuna abandonam com excessiva frequência as trilhas da


virtude; pois infelizmente a estrada que leva a uma e a outra se estendem, às
vezes, por direções bem opostas (SMITH, 2002, p. 76).
Além dos modelos de conveniência/inconveniência, que Smith trata quase que
à exaustão na primeira parte da Teoria dos Sentimentos Morais, na segunda parte ele
começa a tratar sobre o mérito ou demérito, “o bom ou mau merecimento da ação”
(SMITH, 2002, p. 81).

Os sentimentos que merecem recompensa e castigo, são a gratidão e o


ressentimento. Assim,

36 “Two different models, two different pictures”, todas as citações em inglês serão da Glasgow Edition,
disponibilizado online por breve período pelo Liberty Fund, Inc. Ver SMITH, 1982, p.107.
37 Mais uma heurística.
47

Simpatizamos com a alegria de nossos companheiros quando prosperam,


também nos reunimos a eles na complacência e satisfação com que,
naturalmente, julgam o que é a causa de sua boa sorte.
Do mesmo modo, assim como simpatizamos com a dor de nosso próximo
sempre que presenciamos sua aflição, também partilhamos de seu horror e
aversão por tudo o que a motivar (SMITH, 2002, p. 85).
Esta simpatia, porém, não é inteiramente imediata e incondicional, pois deve
alcançar os motivos da ação e ou sentimento sob julgamento. Nosso senso de
aprovação é decorrente de um “sentimento complexo” (SMITH, 2002, p. 90) pois tem
nexo com nossa “simpatia direta” com “os afetos e motivos” do agente e com uma
“simpatia indireta” com a gratidão ou ressentimento daquele sobre a pessoa ou objeto
recebedor do sentimento. Assim “nosso coração deve adotar os princípios do agente,
e concordar com todos os afetos que influenciaram sua conduta” (SMITH, 2002, p. 89)
ou “renúncia” (SMITH, 2002, p. 90) aos mesmos. Smith reafirma que estes modelos
não são normativos, “de direito”, mas “de fato” (SMITH, 2002, p. 94), assim não são
modelos ideais de conduta, mas como modelos simplificados da realidade
cognoscível, nos moldes aristotélicos.

Em uma passagem Smith deixa claro que visualiza aquilo que Kahneman,
duzentos anos depois chamará de “duas formas de pensar” (KAHNEMAN, 2012, p.
29):

A conservação do indivíduo e a propagação da espécie constituem as


grandes finalidades que a natureza parece se ter proposto para formar todos
os animais. Os homens são dotados de um desejo por tais fins e de uma
aversão pelo contrário; de um amor à vida e de horror à morte; de um desejo
pela continuação e perpetuação da espécie, e de uma aversão pela ideia de
sua completa extinção. Mas embora assim dotados de um forte desejo por
ver realizados esses fins, não foi confiado às lerdas e inseguras
determinações de nossa razão descobrir os meios necessários para tanto.
Para a quase totalidade destes casos, a natureza nos orientou com
instintos primários e imediatos. Fome, sede, a paixão que une os dois
sexos, o amor pelo prazer, o temor à dor, incitam-nos a aplicar esses meios
por si mesmos, independentemente de qualquer consideração sobre sua
tendência àqueles fins benéficos, a qual o grande Diretor da natureza intentou
produzir – grifos próprios (SMITH, 2002, p. 95)38.
As ações benéficas são livres, por definição, e por isso geram o dever da
gratidão, dever este que não é cogente, pois a ausência da gratidão onde se espera
pela mesma, impede qualquer solidariedade e simpatia por este sentimento e
desaprovação pela ação/omissão, que suscita ódio no agente e no expectador
(SMITH, 2002, p. 97). Já a inobservância à virtude da Justiça gera ressentimento, que

38Cumpre ressaltar que Teoria dos Sentimentos Morais foi lançado 100 anos antes de “A origem das
espécies” de Darwin (1859) e quase 150 anos de Thorstein Veblen, que voltaria a temática evolucionista
na ciência econômica. Sobre evolucionismo e tomada de decisão, ver MILLER, 2012.
48

é um sentimento que é causado por um dano real e ao qual a punição é aprovada, e


esta é cogente (SMITH, 2002, p. 99). Mas simplesmente cumprir com o que é justo
não causa nenhum tipo especial de aprovação, mas ao contrário, descumprir, causa
uma grave desaprovação (SMITH, 2002, p. 102). In verbis:

Não pode haver nenhum motivo apropriado para ferir nosso próximo, nenhum
incitamento para fazer o mal a outrem, que conte com a anuência de todos
os homens, exceto a justa indignação pelo mal que outro nos causou.
Preferimos a nós mesmos frente a qualquer outra pessoa, mas segundo Smith,
“ninguém ousa olhar os outros de frente e declarar que age segundo este princípio”
(SMITH, 2002, p. 103), pois evidentemente, não contará com a simpatia dos outros.
Agir deliberadamente de modo a privar o outro de sua vida, liberdade ou propriedade
geram um forte ressentimento pela simpatia indireta com os sentimentos do sofredor
e antipatia direta pela ação do agente. O que leva ao remorso, que é:

vergonha pelo senso de inconveniência da minha conduta passada; da dor,


pelos efeitos dessa ação; de piedade, pelos que por causa dela sofrem; e de
pavor, terror da punição, pela consciência do justo ressentimento de todas as
criaturas racionais39 (SMITH, 2002, p. 105-106).
A sociedade “floresce e é feliz” onde reina o “amor, gratidão, amizade e estima”
(SMITH, 2002, p. 106). Porém, na ausência destes sentimentos mútuos, a sociedade
ainda subsiste “por uma troca mercenária de bons serviços, segundo uma valoração
acordada entre eles” (SMITH, 2002, p. 107). Os atos de beneficência são o
“ornamento que embeleza” sendo que a justiça “é o principal pilar que sustenta todo
o edifício”40 (SMITH, 2002, p. 107). Este senso justiça, que é o alicerce da ordem
social, nos moldes aristotélicos, também é o cerne da ideia de “mão invisível”, como
uma concatenação da “sabedoria de Deus” (SMITH, 2002, p. 109), pois o agente
“percebe que seu próprio interesse está associado à prosperidade da sociedade”
(SMITH, 2002, p. 109)41.

Nossa preocupação pela fortuna e felicidade dos indivíduos não surge da


preocupação pela fortuna e felicidade da sociedade. Não nos preocupa mais
a destruição e perda de um só homem – porque é membro ou parte da
sociedade, e porque a destruição da sociedade deve nos preocupar (...)
nosso interesse pela multidão é composto e constituído dos interesses
particulares que sentimos pelos diferentes indivíduos que a compõem
(SMITH, 2002, p 111-112)42.

39 Indubitavelmente o remorso é “o mais terrível de todos os sentimentos que possam introduzir-se no


peito humano” (SMITH, 2002, p. 106).
40 Assim como em Aristóteles, no capítulo anterior.
41 Em mais uma passagem em que demonstra seu newtonianismo, ver CERQUEIRA, .2005a.
42 O individualismo metodológico será abordado com maior atenção no capítulo seguinte.
49

O “louvor ou censura” das práxis condiz:

1. “À intenção ou afeto a qual procede”;


2. “À ação ou movimento externo do corpo, que este afeto provoca”;
3. “Às boas ou más consequências que na verdade e de fato dele
procedem” (SMITH, 2002, p. 115).
Porém somente a intencionalidade pode produzir verdadeiro sentimento de
aprovação ou desaprovação. Somado a isto somete a ação e não a intenção dão azo
a gratidão ou ao ressentimento. A fortuna ameniza ou potencializa os sentimentos de
mérito e demérito (SMITH, 2002, p. 121).

A segunda parte é particularmente religiosa, com várias menções à “Deus”43,


“relojoeiro”, “Autor da natureza”, “juiz dos corações”, que fica mais patente com
algumas passagens que são paráfrases de passagens bíblicas:

A natureza o faz saber que o louvor das boas intenções, sem o mérito dos
bons serviços, será de pouca valia para suscitar ou as mais estrondosas
aclamações do mundo, ou mesmo o maior grau de aplauso de si mesmo
(SMITH, 2002, p. 132)44.
O home causa males que não pretendeu, ou fracassa em produzir o bem que
pretendia (SMITH, 2002, p. 134).45
Até este ponto Smith trata apenas do juízo moral para ações de terceiros, na
terceira parte da Teoria dos Sentimentos Morais é possível perceber como estes
juízos são processados internamente, ou seja, o indivíduo efetuando juízos
axiológicos acerta de suas próprias ações.

Evidentemente, a aprovação/desaprovação das ações/condutas pela simpatia


para com “os sentimentos e motivos” que impulsionam a mesma. Porém aqui, Smith
aprofunda um outro julgador pois,

Jamais podemos inspecionar nossos próprios sentimentos e motivos, jamais


podemos formar juízo algum sobre eles, a não ser abandonando, por assim
dizer, nossa posição natural e procurando vê-los como se estivessem a certa
distância de nós (SMITH, 2002, p.139)
Deste modo, não somente ao imaginar no lugar do agente e/ou objeto/sofredor
da ação pela simpatia, mas também idealizar como as ações seriam vistas por um
expectador imparcial46. Este, é delineado a partir de certos modelos mentais, que
Smith chama de “amor ao louvor” e “ao que é louvável” (SMITH, 2002, p. 143), que é

43 Smith usa a palavra Deus, 43 vezes ao longo de toda sua TSM.


44 Comparar com Tiago 2, 14: “De que aproveitará, irmãos, a alguém dizer que tem fé, se não tiver
obras? ”
45 Comparar com a Carta aos Romanos, 7, 19: “Não faço o bem que quereria, mas o mal que não
quero”.
46 Ressaltando que, para Smith, assim como para Aristóteles o homem é um animal social por
excelência.
50

consequência lógica ao desejo de aprovação. Pois há uma predisposição para


“sermos tão amáveis e admiráveis quanto aqueles que amamos e admiramos”
(SMITH, 2002, p. 143).

Não escapa, a este modelo, uma certa assimetria de informações, pois o louvor
indevido não traz plena aprovação do expectador imparcial, gerando verdadeiro
incomodo ao agente, pois:

Quando criou o homem para a sociedade, a natureza o dotou de um desejo


original de agradar, e de uma aversão primária a ofender seus irmãos.
Ensinou-o a sentir prazer com a opinião favorável destes, e a sofrer com sua
opinião desfavorável. Tornou a aprovação dos semelhantes em si mesma
muito lisonjeira e agradável a ele, e sua desaprovação muito mortificante e
ofensiva. (SMITH, 2002, p. 146)
Porém, somente este desejo não basta para a vida em sociedade, assim,

A natureza o dotou, pois, não apenas de um desejo de ser aprovado, mas de


se tornar objeto de aprovação necessária, ou de ser aproado pelo que ele
mesmo aprova em outros homens (SMITH, 2002, p. 146).
A diferença entre o amor ao louvor e ao que é louvável e a vaidade, entre a
virtude e o vício, portanto seria o julgamento moral acerca do merecimento ou não
deste louvor47. O senso de aprovação neste caso, portanto está vinculado a virtude
do sentimento sub judice, pois o próprio aceitar louvor imerecido já é causa de
desaprovação por parte do expectador imparcial.

O sentimento contrário ao amor pelo louvor e ser louvável é o horror por ser
odiado e ao odiável48. Assim, não há maior tortura aos sentimentos que o
ressentimento não saciado (SMITH, 2002, p. 150). Mas este sentimento é
marginalmente decrescente, conforme neste exemplo:

Uma mulher galante ri até das insinuações bem fundadas que circulam
quanto a sua conduta. A mais infundada insinuação dessa espécie é uma
punhalada mortal numa virgem inocente. Creio que podemos estabelecer
como regra geral que a pessoa deliberadamente culpada de um ato
desgraçado não tem muito senso de desgraça, e a pessoa habitualmente
culpada de tal ato dificilmente terá qualquer senso (SMITH, 2002, p. 151).
A dor é mais pungente que o prazer correspondente, para além disso, não há
proporcionalidade razoável entre este freio ao vício:

47 Esta é uma diferença crucial entre Smith e Hobbes, que Smith aprofunda na parte VII da TSM.
48 Não escapa a Smith, o fenômeno que posteriormente a medicina descreverá como psicopatia, que
segundo ele seria “a mais vil e abjeta das condições, isto é, a completa indiferença quanto a honra e
infâmia, vício e virtude (SMITH, 2002,\ p. 148).
51

Uma negação imediatamente livra o homem do prazer tolo e ridículo, mas


nem sempre o livrará da dor. Quando recusa o mérito que lhe atribuem,
ninguém duvida de sua veracidade. Pode-se duvidar quando nega o crime de
que o acusam (SMITH, 2002, p. 153).
Outras variáveis irão influenciar este julgamento. Como a segurança; quanto
mais seguro de suas próprias ações e sentimentos, menos peso terá a opinião alheia.
E o tipo de ação; um poeta será mais afetado pelo julgamento alheio que um
matemático.

Smith chama o juiz interior de consciência, e este é o expectador imparcial, que

É a razão, o princípio, a consciência, o habitante do peito, o homem interior,


o grande juiz e arbitro de nossa conduta. É ele que, sempre que estamos a
agir, de modo a afetar a felicidade alheia, grita para nós, com uma voz capaz
de deixar estupefata as nossas mais presunçosas paixões, que somos
apenas um na multidão, em nada melhores do que qualquer outro indivíduo;
que, ao nos preferirmos aos outros tão vergonhosa e cegamente, nos
tornamos objetos apropriados de ressentimento, horror e execração. É
apenas com ele que aprendemos nossa verdadeira pequenez, a de tudo o
que nos diz respeito, pois unicamente o olho desse expectador imparcial pode
corrigir as falsas representações do amor de si (SMITH, 2002, p. 166).
Logo o amor de si é refreado pelo expectador imparcial, todas as vezes que a
felicidade alheia é variável de nossa conduta, de modo a não nos tornar objeto de
desaprovação por parte de nossos pares (SMITH, 2002, p. 167).

Não há, entretanto, uma natural tendência a este freio. Este é aprendido e
treinado, como toda virtude, nos moldes aristotélicos de virtude como práxis e não
ideal. Este senso de aprovação também é condicionado ao grau de autocontrole
praticado pelo indivíduo, pois quanto mais autocontrolado, mais alto será o patamar
para este senso (SMITH, 2002, p.177).

A distância do expectador também influencia no julgamento. Smith define dois


tipos de expectadores: o parcial e tolerante e o imparcial e intolerante. O exemplo
dado por ele é bem didático: em uma guerra, há pouca simpatia com as dores e mortes
dos soldados inimigos, ao contrário, é desejável que elas ocorram, pois, somente ao
exterminr os soldados inimigos é possível vencer a guerra.

Além da distância, o tempo também influencia, pois ao agir, na maioria das


vezes, sem a “lucidez de uma pessoa indiferente” (SMITH, 2002, p. 189), porém tão
“arrefecem as paixões” há um controle maior da racionalidade.49

49 Aqui, percebe-se uma certa semelhança, com as duas formas de pensar, que será abordado no
próximo capítulo.
52

Este senso de dever, que são as regras de conduta, não são exclusivamente
de cunho teológico, podendo ser também pela própria “amabilidade ou deformidade”
(SMITH, 2002, p. 208) do sentimento ou ação ou da “precisão ou imprecisão” (SMITH,
2002, p. 211) destes.

Smith toma o conceito de utilidade de Hume e conclui que a simpatia é direta


com os sentimentos do dono e julga agradável o mesmo (SMITH, 2002, p. 220). Entre
os bens considerados úteis estão os relacionados à riqueza, que não deixaria de ser
par um filósofo moral não são um fim em si, mas um meio. Mas a expensa desta visão
filosófica, a imaginação ilude, tornando “os prazeres da riqueza e das honras” como
“algo grandioso, belo e nobre” (SMITH, 2002, p. 225). Mas, esta ilusão é benéfica à
economia, pois:

É bom que a natureza se imponha a nos dessa maneira. É a ilusão que dá


origem e mantém em contínuo movimento a destreza dos homens. É o que
primeiro os incitou a cultivar o solo, a construir casas, a fundar cidades e
estados e a inventar e a aperfeiçoar todas as ciências e artes, que enobrecem
e embelezam a vida humana; que mudaram toda face do globo,
transformando as rudes florestas naturais em planícies agradáveis e férteis,
o insondável e estéril oceano em nova fonte de subsistência, e na grande via
de comunicação entre as diferentes nações da terra (SMITH, 2002, p. 225).50
É neste contexto que Smith insere seu conceito mais famoso, a mão invisível51.
Que conduz os interesses a um equilíbrio dinâmico, onde os agentes interagem
buscando satisfazer seu amor de si, porém refreados pela imaginação moral e pelo
expectador imparcial buscando a aprovação. Mas se “o sentimento de aprovação se
deve à percepção da beleza da utilidade, não tem relação alguma com os sentimentos
alheios” (SMITH, 2002, p. 235).

Smith ainda avança sobre o papel dos usos e costumes acerca do julgamento
moral. Ele conceitua costume como um hábito imaginário onde dois objetos são vistos
juntos assim se cria o modelo de esperar por outro ao visualizar o um. Assim o
costume potencializa o senso de conveniência ou inconveniência. Já o uso seria “uma

50 Aqui, segundo os editores Raphael e Macfie, Smith contesta e refuta a tese rousseauniana de que a
propriedade privada dá origem a desigualdade. Para Smith, a mão invisível refreia a desigualdade. Pois
os frutos da terra são distribuídos entre os habitantes (SMITH, 2002, p. 225-226). Convém lembrar que
esta temática será desenvolvida de modo mais completo entre os austríacos, em especial VON MISES
(2010), em seu Ação Humana, ver capítulos 8 e 15, tomando-se o cuidado que, em Mises, a ação é
movida por axiomas apriorísticos, assim, epistemologicamente, Hayek é mais próximo de Smith que
Mises, posto que para este os axiomas devem ser observáveis. Novamente, para aprofundar esta
discussão ver FEIJÓ (2000), capítulos 3 e 4.
51 Termo este que aparece só três vezes em toda obra do autor, na Teoria dos Sentimentos Morais, na
Riqueza das Nações e na História da Astronomia, conforme SANTOS, 2007.
53

espécie particular de costume” (SMITH, 2002, p. 240), que está ligado as camadas
sociais mais favorecidas. A influência destes é mais premente no campo da estética
do que da moral, o que não impede, contudo de que ocorra (SMITH, 2002, p. 247),
que “aumentam a delicadeza de nossos sentimentos, e intensificam nosso horror a
tudo que se aproxime do mal” (SMITH, 2002, p. 147). Os usos e costumes embotam
nosso senso de conveniência ou o tornam mais sensível.

3.3 PROLEGÔMENOS DE UMA TEORIA DA DECISÃO

Não foi possível localizar literatura sobre uma Teoria da Decisão de Adam
Smith, o que é de certa forma natural, pois o interesse em uma Teoria da Decisão é
recente na Economia, salvo engano, o artigo mais antigo e importante que aborda o
tema é o Theories of Decision-Making in Economics and Behavioral Science, de 1959,
de autoria de Herbert Simon. Hoje é um importante campo de pesquisa da Economia
Comportamental, tema do próximo capítulo.

Smith não nega a racionalidade humana, assim como Aristóteles, mas dá maior
peso aos sentimentos à tomada de decisão, usa o léxico Reason nada menos que
196 vezes ao longo do corpus textual, Judgement dezessete vezes e 26 vezes
Decision ao longo da Teoria dos Sentimentos Morais. O numero de vezes que um
léxico é utilizado demonstra que este conceito/ideia é forte e muito presente no
texto/autor. Já os léxicos que se referem às emoções estão em muito maior número52:

• Emotion é usado 87 vezes;


• Pain, 147 vezes;
• Love, 221 vezes;
• Passion, 358 vezes;
• Compassion, 41 vezes;
• Selfish, 52 vezes;
• Self-love53, 27 vezes;
• Happiness, 192 vezes

52 Ver Anexo 2, para uma lista mais completa.


53 Em A Riqueza das Nações apenas as 2 vezes do famoso parágrafo do açougueiro.
54

• Approbation, 193 vezes e;


• Disapprobation, 45 vezes.

O que corrobora a leitura feita neste capítulo que o agente smithiano toma
decisões através de um duplo modo de percepção da realidade. O agir pelo incomodo
que a situação causa aos sentimentos (vide nota 19).

A emoção primordial é o amor próprio ou amor de si, que, não é o egoísmo.


Smith ataca duramente os “sistemas que deduzem do amor de si o princípio da
aprovação”, como confusos e imprecisos54 (SMITH, 2012, p. 392).

Estas emoções e ou ações são julgadas à partir da simpatia que estas inspiram
no julgador, tanto o agente quanto o julgador são mutualmente influenciáveis e esta
simpatia é passível de mudança.

Porém, o próprio Smith alerta para a imprecisão da simpatia como um balizador


do sentimento de aprovação, chave para o entendimento da virtude (léxico utilizado
448 vezes no corpus). Para complementar a imaginação simpática, Smith intui um
expectador imparcial, a figura da razão no modelo smithiano de tomada de decisão.

Adam Smith é influenciado pelo modelo aristotélico, mas dá maior ênfase à


alma sensitiva, pois visualizava que o homem nem sempre tomava decisões racionais.
Para Smith as decisões eram sempre morais, de fundo imagético. Para ele, assim
como Aristóteles a moralidade é eminentemente social:

Figura 3 - Homem Smithiano

Sentimento
Simpatia e de
Amor-de-si Aprovação

Expectador
imparcial

Fonte: o autor, 2016.

54 Smith coloca Hobbes entre eles.


55

O amor-de-si é algo partilhado com os animais irracionais, algo tão profundo


que brota da potência vegetativa, do instinto de autopreservação. O termo foi
empobrecido para egoísmo55, mas diferentemente do que uma leitura apressada de
A Riqueza das Nações faria supor56 (SMITH, 1993a, p. 95). O homem é capaz de se
imaginar no lugar do outro, ao que ele chamou de simpatia, o expectador imparcial é
a capacidade imagética de se ver sobre o olhar de outro expectador, imparcial pois
pretensamente racional. Estas interagem de modo a perseguir um equilíbrio dinâmico
bastante complexo que emerge a decisão humana, (pois ainda não há ceteris
paribus...) daí a simplificação perseguida pelos economistas posteriores, desde
Ricardo até Stuart Mill (FONSECA, 2003, em especial o capítulo 3).

Percebe-se que as decisões têm um inegável caráter moral, estudos mostram


que o senso moral tem importante papel no processo decisório, pois necessita-se ver
como pessoas boas e morais, e sobre esta operaríamos com uma margem de
manobra moral (ARIELY, 2012). Para Adam Smith, o julgamento moral é essencial
para a manutenção da ordem social, assim:

Figura 4 - Interação social

Indivíduo A Indivíduo B

Sentimento Sentimento
Simpatia e de Simpatia e
de
Amor-de-si Aprovação Amor-de-si
Aprovação

Expectador Expectador
imparcial imparcial

Fonte: o autor, 2017

Julgaríamos nossas próprias decisões de acordo com o que imaginamos que


outros a julgariam se pudessem ver nossas motivações, assim ao agir sob um espelho

55 Este empobrecimento merece um estudo posterior para uma análise mais apurada, mas
aparentemente é devida à Samuelson.
56 Pois o termo utilizado em A Riqueza das Nações foi self-love utilizado apenas 2 vezes, enquanto
que na Teoria dos Sentimentos Morais foi utilizada 27 vezes, em um contexto bem mais estóico que o
termo selfish poderia traduzir, mesmo porque selfish aparece apenas 3 vezes nos dois volumes de
Riqueza e 52 vezes na Teoria.
56

imagético refreia o amor próprio, o egoísmo. Tudo isto depreende do pensamento de


Smith.

Estas variáveis interagem dinamicamente de modo a alcançar o sentimento de


aprovação, sentimento este que move o ser humano, pois este deseja ser aprovado
por seus pares e por si mesmo.

Este modelo fica esquecido, pois a obra de Smith, durante quase duzentos
anos se resumiu a Riqueza das Nações, as obras completas de Smith foram editadas
somente em 1982.

Concomitante ao despertar de interesse no pensamento de Smith, no


bicentenário da Riqueza das Nações, em 1976, começam a surgir estudos
interdisciplinares entre a Economia e a Psicologia, impulsionados pelos estudos de
um outsider da Teoria Economica, Herbert Simon. Assim, paralelamente a este
renascer, em 1974, na Science sai o artigo Julgamento sob incerteza: heurísticas e
vieses, cujas consequências revolucionarias serão abordadas a seguir.
57

4 COMPORTAMENTAL

4.1 INDIVIDUALISMO METODOLÓGICO

Barbieri destaca que conceito primordial da sociologia de Max Weber é o de


“comportamento significativo”, que é o comportamento humano que é passível de
interpretação pelos que com o indivíduo interagem. Este comportamento é motivado
pela razão que, mesmo que implícitas, pressupõe um conhecimento dos fundamentos
de sua ação, o sentido do agir. Deste modo, toda ação pressupõe uma regra,
desrespeitá-la impõe ao agente sanções sociais (BARBIERI, 2013, p. 199-201).

Inspirado pelo neokantiano Wilhelm Windelband, Weber classificava as


ciências em nomoéticas (naturais) e ideográficas (sociais), portanto a análise do
fenômeno social não é determinista, mas deve se pautar pelos fenômenos individuais.
Porém ele segue, também, Heinrich Rickert que estabelece que a realidade não
possui uma ontologia independente da gnoseologia, o que não dá uma distinção
metodológica às ciências sociais, mas estas têm um tipo ideal que seria a forma do
cientista exercer a sua compreensão do fato social (BARBIERI, 2013, p. 204).

Assim, Weber propõe três etapas de sua análise hermenêutica que podem ser
assim expostas:

1. Verstehen, compreensão dos tipos ideais;


2. Verificar se a interpretação é estatisticamente adequada;
3. Valida-se ou não a teoria (WEBER, 2002, p. 11-36)

Portanto, a “ciência social deve partir do estudo da ação humana” (FEIJO,


2000, p. 22).

Em 1908, Schumpeter lança, aos 25 anos seu Essense and chief contents
economic theory em que cunha o termo individualismo metodológico, que ele entende
ser o individualismo científico distinto do individualismo político, não podendo ser
acusado de atomismo (SCHUMPETER, 1980), Menger usou o termo “método
analítico-compositivo” (FEIJO, 2000, p. 22), onde o indivíduo é o ponto de partida de
toda análise social, através do Verstehen.
58

A Escola austríaca é a que mais abertamente utiliza o individualismo


metodológico. Mises, em Ação Humana, afirma ser a Economia como parte de uma
Teoria Geral da Ação Humana, a praxeologia (MISES, 2010, p. 22) esta, por sua vez,
lida com as “ações individuais dos homens”, ele responde as críticas de nominalismo57
argumentando que os conceitos de homem e sociedade são correlacionados e
“desvinculados do tempo”, pois a Verstehen é um método de análise social, assim o
individualismo metodológico não procura negar a coletividade enquanto ente, mas que
o entendimento das instituições se dão à partir do indivíduo, pois o “coletivo social não
tem existência e realidade fora das ações de seus membros individuais”, ele toma o
cuidado de não afirmar que o indivíduo anteceda ao coletivo social, apenas e tão
somente que o coletivo é constituído por indivíduos e que estes coletivos não são
passiveis de percepção, pois são ações de indivíduos (MISES, 2010, p.69-71).

Hayek, em The conter-revolution of Science, reafirma o erro em pensar as


ciências sociais como um ente coletivo, in verbis:

O "objetivismo" da abordagem cientificista é seu coletivismo metodológico,


sua tendência a tratar "todos" como "sociedade" ou "economia", "capitalismo"
(como uma "fase" histórica dada) ou uma "indústria" particular ou “classe” ou
“país” como objetos definitivamente dados sobre os quais podemos descobrir
leis observando seu comportamento como um todo. Enquanto o enfoque
subjetivista específico das ciências sociais começa, como vimos, a partir do
nosso conhecimento do interior desses complexos sociais, do conhecimento
das atitudes individuais que constituem os elementos de sua estrutura, o
objetivismo das ciências naturais procura ver os de fora; Ele trata os
fenômenos sociais não como algo de que a mente humana é uma parte e os
princípios de cuja organização podemos reconstruir a partir de partes
familiares, mas como se fossem objetos percebidos diretamente por nós
como todos. (HAYEK, 1952, p. 52).
Nota-se o cuidado de Hayek ao demonstrar que não só o individualismo
metodológico é preferível, como também o coletivismo é um erro.

57 “Nada fora da alma, nem por si nem por algo de real ou de racional que lhe seja acrescentado, de
qualquer modo que seja considerado e entendido, é universal, pois é tão impossível que algo fora da
alma seja de qualquer modo universal (a menos que isso se dê por convenção, como quando se
considera universal a palavra 'homem', que é particular), quanto é impossível que o homem, segundo
qualquer consideração ou qualquer ser, seja o asno” Guilherme de Ockham, apud ABBAGNANO, 1998,
p. 729.
59

4.2 COMPLEXIDADE

Se é possível destacar uma palavra imprescindível à obra de Friedrich August von


Hayek o termo é complexidade58. Ele dedica o capítulo 2 de Studies In Philosophy,
Politics and Economics, a The Theory of Complex Phenomena, onde critica com
veemência o cientificismo que acomete as ciências sociais, pois os sentidos induzem
ao erro:

É provavelmente a capacidade de nossos sentidos espontaneamente


reconhecerem certos tipos de padrões que levaram à crença errônea de que,
se olharmos apenas o suficiente, ou em número suficiente de instâncias de
eventos naturais, um padrão sempre se revelará. Que isso muitas vezes é
tão significa apenas que nesses casos a teorização já foi feita pelos nossos
sentidos59. Quando, no entanto, tivermos que lidar com padrões para o
desenvolvimento de que não houve razão biológica, teremos primeiro que
inventar o padrão antes de podermos descobrir sua presença nos fenômenos
ou antes de podermos testar sua aplicabilidade ao que observamos. Uma
teoria sempre definirá apenas um tipo (ou classe) de padrões, e a
manifestação particular do padrão a ser esperado dependerá das
circunstâncias particulares (as "condições iniciais e marginais" às quais, para
os propósitos deste artigo, designar-se-ão “dados”). Quanto de fato nós
poderemos predizer dependerá de quantos daqueles dados nós podemos
verificar (HAYEK, 1967, p. 24).
Existe uma distinção entre os objetos das ciências naturais e as sociais, para
as ciências “físicas” os fenômenos são simples, para as sociais são complexos, sendo
um “critério inequívoco” seria o número de variáveis necessárias para que o fenômeno
possa ser conhecido (HAYEK, 1967, p. 25). O que prejudica, e muito a capacidade
preditiva das ciências complexas, pois a análise sempre será parcial, uma dificuldade
que por vezes será absoluta (HAYEK, 1967, p. 27). E esta pretensão de conhecer
(HAYEK, 2011) explica a reticência com o individualismo metodológico, pois é
impossível verificar as ações humanas de todos os indivíduos da sociedade de modo
a ter dados para poder fazer qualquer predição estatística, sendo que a ignorância
não seria um mal em si (HAYEK, 1967, p. 37-39).

Esta dissertação compartilha do ceticismo hayekiano acerca de predições


matemáticas do comportamento humano, ao menos com as regressões com dados
muito trabalhados e “torturados” que fogem da realidade, mesmo porque, eles devem

58 Seu discurso de recebimento do Nobel, em 11 de dezembro de 1974, cita nove vezes o termo
complexidade (HAYEK, 2011), em The conter-revolution of Science (HAYEK, 1952), 44 vezes e em
Studies In Philosophy, Politics and Economics (HAYEK, 1967), 158 vezes...
59 Um conceito de heurística?
60

explicar a realidade, não eles mesmos (ARMSTRONG, 2012, DAWES, 1979 e DANA,
2004).

4.3 RACIONALIDADE LIMITADA

Até aqui nota-se que a característica fundamental do homem é a sua


racionalidade, que diz respeito à razão. Cumpre conceituar razão para prosseguir.
ABBAGNANO afirma que é um

Referencial de orientação do homem em todos os campos em que seja


possível a indagação ou a investigação. Nesse sentido, dizemos que a R. é
uma "faculdade" própria do homem, que o distingue dos animais.
(ABBAGNANO, 1998, p.824)
E que desde Aristóteles possui valor epistemicamente inconteste na busca pela
Verdade e pelo conhecimento, valor este que Kant ataca em suas Críticas,
distinguindo a Razão do Intelecto, sendo a Razão o lócus epistêmico onde nascem os
princípios, é a faculdade dos princípios, sendo que ele distingue a realidade
incognoscível do fenômeno apreendido pela estrutura cognitiva humana
(CARVALHO, 2002c). A Razão já não pode ser uma técnica discursiva de busca pela
Verdade. Já Schelling destaca o papel da Razão, como participe da própria ontologia
humana:

A natureza alcança seu fim mais elevado, que é tornar-se inteiramente objeto
de si mesma, com a última e mais elevada reflexão, que nada mais é que o
homem ou, de modo mais geral, aquilo que chamamos de razão. Temos
assim, pela primeira vez, o retorno completo da natureza a si mesma, estando
evidente que a natureza é originariamente idêntica àquilo que em nós se
revela como princípio inteligente e consciente (SCHELLING apud
ABBAGNANO, 1998, p. 843)60
Stuart Mill, em seu Essays on Some Unsettled Questions of Political Economy,
compara a Economia política à Geometria (MILL, 2000, p. 102), condição esta
amenizada na maturidade (FONSECA, 2003, p. 56), sendo ele um profeta do homem
econômico, uma visão irrealista do ser humano (DALRYMPLE, 2015, p. 43). Assim o
conceito de racional começa a ganhar um contorno de instrumentalidade, ou seja, a
capacidade de adequar os meios aos resultados pretendidos (CARVALHO, 2013, p.
55).

60 Notar a similitude deste conceito com o aristotélico.


61

A necessidade de formalização matemática do século XIX, chamada por Hayek


de cientificismo no tópico anterior encontra em Jevons, Walras, Edgeworth, Fisher,
Pareto e Marshall time para levar a racionalidade instrumental e as preferências
reveladas ao centro da teoria neoclássica econômica. Assim o homem econômico
racional avança em cima de três pilares:

1. Uma nova ênfase, na análise econômica, sobre a teoria do consumo


e o valor de uso ou utilidade dos bens – distanciando-se radicalmente
da preocupação clássica com a teoria da produção, acumulação e
desenvolvimento econômico;
2. O redescobrimento – tendo como pioneiros A. Cournot, H. H. Gossen
e J. H. von Thunen – de que os processos econômicos se prestavam
ao emprego de técnicas de análise marginais, ou seja, o método para
a determinação de posições ótimas por variações infinitesimais, na
margem, de variáveis especificas;
3. A formulação matemática do conceito de equilíbrio geral –
essencialmente uma visão da interdependência dos fenômenos
econômicos e das propriedades de feedback do mecanismo de preço
em economias de mercado puras, visão essa que deriva dos dois
primeiros livros de A Riqueza das Nações, mas que fora, de certo
modo, em grande medida deixada de lado pelas duas gerações de
economistas clássicos depois de Adam Smith (FONSECA, 2003, p.
68-69).
Amartya Sen, inicia seu Rational Fools: A Critique of the Behavioral
Foundations of Economic Theory, com uma crítica direta a Edgeworth, acerca do que
este entende por primeiro princípio da economia, que o homem age por seu próprio
interesse e que este princípio não é real, pois o homem não é movido unicamente pelo
egoísmo61 (SEN, 1977). O próprio Marshall tinha sérias reservas à uma abordagem
matematecista da economia:

Um bom teorema matemático relativo a hipóteses econômicas era altamente


improvável de ser boa Economia; e eu prossegui, cada vez mais, segundo as
regras: 1) Use Matemática como uma linguagem estenográfica, antes do que
como um instrumento de investigação; 2) empregue-a até que se obtenham
resultados; 3) traduza para o inglês; 4) então ilustre com exemplos que
tenham importância na vida real; 5) queime a Matemática; 6) se não teve êxito
em 4, queime 3. Isso tenho feito com frequência (MARSHALL, 1906).
Em 1946, um jovem de 30 anos escreve um artigo com críticas à forma como
a tomada de decisão é pesquisada, com o axioma da racionalidade, em que utilidades
e lucro são maximizados, teoria esta que é devedora do institucionalismo de John
Commons, e seu insight sobre a transação como comportamento (SIMON, 1979). O
jovem chama-se Herbert Simon e o artigo teve um nome despretensioso de The

61 Esta dissertação foi planejada de modo que o próprio leitor perceba o qual esta afirmação não
encontra respaldo na obra de Smith, sendo uma invenção da virada do século XIX para o XX, sem
deixar de ter ferrenhos críticos.
62

proverbs of administration (SIMON, 1946). Em 1955, ele escreve outro artigo para
“construir definições de escolha racional” (SIMON, 1955) com aplicações para a
computação, mas com pretensões de auxiliar a teoria econômica, onde existe um
paradoxo entre o homem econômico que age “intencionalmente” racional e um
homem real que possui “conhecimento limitado e habilidade humana” (SIMON, 1955).

A função utilidade possui alguns problemas de difícil solução: os estudos


empíricos, pois as variáveis são de difícil observação e as aplicações normativas, pois
os modelos se restringem à tomada de decisão sob certeza, entre opções fixas e
conhecidas, o que não é adequado, visto que as alternativas nem sempre são dadas
e a percepção do agente é apenas aproximada da realidade (SIMON, 1959).

Simon responde as críticas acerca da utilidade dos insights comportamentais


para a teoria econômica e em especial a Teoria da Decisão são infundadas, pois esta
é a característica da ciência (SIMON, 1979) apesar de “a teoria clássica da
racionalidade onisciente ser surpreendentemente simples e bela” (SIMON, 1979) mas
ela descreve que os agentes “irão equiparar os custos e os retornos à margem”
(SIMON, 1979). O fato da curva de demanda ter inclinação negativa é mais
correlacionado a “mudanças de oportunidade” que à Teoria da Decisão do agente (um
insuspeito analista, Gary Becker):

Não só a maximização da utilidade, mas também muitas outras regras de


decisão, incorporando uma ampla variedade de comportamento irracional,
levam a curvas de demanda negativamente inclinadas por causa do efeito de
uma mudança nos preços em oportunidades (BECKER, 1962).
Simon critica a ausência de comprovação empírica das funções Cobb-Douglas
e de produção SMAC, a função logarítmica que prediz os salários médios dos
executivos. A teoria da racionalidade limitada tem, portanto, a vantagem de “fornecer
descrições satisfatórias do comportamento humano real” (SIMON, 1979).

Assim, a racionalidade instrumental não descreve a realidade, nem ao menos


se aproxima da mesma “nem sequer descrevem remotamente os processos que os
seres humanos usam para tomar decisões em situações complexas” (SIMON, 1979),
assim Simon também se entrega perante a complexidade da realidade.

Os trabalhos de Simon, a exemplo de Smith, não foram muito revisitados até a


revolução que o trabalho de Kahneman e Tversky impulsionasse a uma releitura da
obra deste, seu Nobel foi também na mesma época, 1978. A seguir as principais
contribuições da Economia Comportamental para o entendimento da ação humana.
63

4.4 ECONOMIA COMPORTAMENTAL

Alain Samson define Economia Comportamental como “o estudo das


influências cognitivas, sociais e emocionais observadas sobre o comportamento
econômico das pessoas” (SAMSON, in ÀVILA, 2015, p. 26). É um campo em que os
insights das ciências comportamentais são utilizados para conferir maior cientificidade
à economia62.

A Economia Comportamental é metodologicamente ampla, aceitando qualquer


método cientificamente válido, sejam eles: experimento laboratorial, de campo,
natural, estruturas comportamentais, modelos integrativos, arquitetura de escolha,
etc. Sendo, portanto, um campo interdisciplinar muito vasto e complexo onde não é
possível uma teoria unificada de economia comportamental, mas diversas teorias que
interagem formando um corpo teorético de difícil apreensão, por isso este trabalho irá
abordar, neste sobrevoo, a obra Rápido e Devagar, de Daniel Kahneman, como norte
desta seção.

4.4.1 SISTEMA COGNITIVO DUALÓGICO.

STANOVICH (2000, p. 658) e EVANS (2008) conceituam dois sistemas de


cognição (que chamam de dual-process theories of reasoning): o sistema 1, intuitivo,
“opera automática e rapidamente, como pouco ou nenhum esforço e nenhuma
percepção de controle voluntário” (KAHNEMAN, 2012, p. 29) e; o sistema 2 que

Aloca atenção às atividades mentais laboriosas que o requisitam, incluindo


cálculos complexos. As operações do Sistema 2 são muitas vezes
associadas com a experiência subjetiva de atividade, escolha e concentração
(KAHNEMAN, 2012, p. 29)
Pode-se intuir dos conceitos acima que, os sistemas 1 e 2, são indissociáveis
à existência humana. Apesar de distintos, eles sempre estão presentes nos processos
decisórios. Porém exercem função e tem pesos distintos para as mais diversas ações

62Afirmação polêmica que deve ser entendida à partir do conceito popperiano de ciência como conjunto
de teorias que são passiveis de corroboração pelo método hipotético dedutivo (POPPER, 1972, p. 33)
64

e decisões tomadas ao longo do dia. KAHNEMAN (2012, p. 30 e 31) elenca algumas


atividades típicas do sistema 1:

Tabela 2 - Sistemas 1 e 2

Sistema 1 Sistema 2
• Detectar que um objeto está mais • Manter-se no lugar para o tiro de largada numa
distante que outro. corrida.
• Orientar em relação à fonte de um • Concentrar a atenção nos palhaços do circo.
som repentino.
• Completar a expressão “pão com…” • Concentrar-se na voz de determinada pessoa em
uma sala cheia e barulhenta.
• Fazer “cara de aversão” ao ver uma • Procurar uma mulher de cabelos brancos.
foto horrível.
• Detectar hostilidade em uma voz. • Sondar a memória para identificar um som
surpreendente.
• Responder 2 + 2 = ? • Manter uma velocidade de caminhada mais rápida
do que o natural para você.
• Ler palavras em grandes cartazes. • Monitorar a conveniência de seu comportamento
numa situação social.
• Dirigir um carro por uma rua vazia. • Contar as ocorrências da letra a numa página de
texto.
• Encontrar um movimento decisivo no • Dizer a alguém seu número de telefone.
xadrez (se você for um mestre
enxadrista).
• Compreender sentenças simples. • Estacionar numa vaga apertada (para a maioria
das pessoas, exceto manobristas de garagem).
• Reconhecer que uma “índole dócil e • Comparar duas máquinas de lavar roupa em
organizada com paixão pelo detalhe” relação ao valor global.
se assemelha a um estereótipo
ocupacional.
Preencher um formulário de imposto.
• Verificar a validade de um argumento lógico
complexo.
Fonte: KAHNEMAN, 2012, p. 30 e 31, formatado pelo autor.

O sistema 1 é fruto da nossa capacidade evolutiva (KAHNEMAN, 2012, p. 47)


de economizar recursos energéticos. Pois o sistema 2, demanda muita atenção e
esforço (KAHNEMAN, 1973), Eckhard Hess, em artigo de 1965 classifica os olhos
como “janelas da alma” (HESS, 1965). Um dos achados de Hess, segundo Kahneman
seria que as pupilas seriam “indicadores sensíveis do esforço mental” (HESS, 1965),
quanto mais complexa da tarefa realizada, maior seria a dilatação da mesma
(KAHNEMAN ET ALL, 1969). Esta demanda energética diminui com a especialização
e o talento (KAHNEMAN, 2012, p.48), sendo que existe uma “lei do menor esforço”
65

(KAHNEMAN, 2012, p.48) que norteia as decisões e as ações, “a preguiça é algo


profundamente arraigado em nossa natureza” (KAHNEMAN, 2012, p.48).

KAHNEMAN (2012, p. 53) dá um exemplo bem intuitivo sobre o esforço mental


do sistema 2:

Normalmente é fácil e de fato bastante agradável andar e pensar ao mesmo


tempo, mas em casos extremos essas atividades parecem competir pelos
recursos limitados do Sistema 2. Você pode confirmar essa afirmação com
um experimento simples. Caminhando confortavelmente com um amigo,
peça-lhe para calcular 23 x 78 de cabeça, e que o faça imediatamente. Ele
quase com certeza vai parar de andar.
Existe, porém, um “fluxo” (CSIKSZENTMIHALYI, 1990), cujo conceito, é “um
estado de concentração sem esforço tão profundo que elas perdem a noção do tempo,
de si mesmas, de seus problemas” (KAHNEMAN, 2012, p. 54), como pintar, tocar um
instrumento musical, andar de moto. O sistema 2 mantém nosso autocontrole, esforço
mental faz cair este autocontrole, “pessoas que estão cognitivamente ocupadas
também têm maior probabilidade de fazer escolhas egoístas, usar linguajar sexista e
fazer julgamentos superficiais em situações sociais” (KAHNEMAN, 2012, p. 55), este
esforço decai com o tempo, o que ficou conhecido por esgotamento do ego (ego
depletion, HAGGER, 2010).

O sistema nervoso consome mais glicose do que outras partes do corpo, e a


atividade mental trabalhosa parece ser particularmente dispendiosa na
moeda da glicose (KAHNEMAN, 2012, p. 57).63
Este esgotamento é minorado com a ingestão de glicose. Um experimento
famoso foi conduzido por Shai Danziger e Liora Avnaim-Pesso, da Ben Gurion
University of the Negev e Jonathan Levav, da Columbia University, New York, em que
8 juízes de condicional israelenses decidem pela liberação ou não dos presos de
acordo com o horário mais próximo da última refeição. A média de 65% de liberações
após as refeições e cai a quase zero antes das mesmas (DANZINGER, 2011).

Uma das tarefas do Sistema 2 é “monitorar e controlar” (KAHNEMAN, 2012, p.


58) o sistema 1. Mas como é dispendioso em termos de energia, este (o sistema 2)
evita fazê-lo. Toma-se dois exemplos usados por KAHNEMAN (2012, p.59 e 60):

Um bastão e uma bola custam 1,10 dólar.


O bastão custa um dólar a mais que a bola.
Quanto custa a bola?

63 Ver também GAILLIOT, 2007a e 2007b.


66

Intuitiva e erradamente chegamos à resposta de US$ 1,00 o bastão e US$ 0,10


a bola, porém a diferença não dá US$ 1,00, mas sim US$ 0,90. Curiosamente este
erro foi cometido por 50% dos alunos de Harvard, MIT e Princeton e chegou a 80%
em universidades menos badaladas (FREDERICK, 2005)

Outro erro da intuição do Sistema 1, pode ser visto neste outro silogismo:

Todas as rosas são flores.


Algumas flores murcham rápido.
Logo, algumas rosas murcham rápido (KAHNEMAN, 2012, p. 60).
Aqui há um erro lógico, pois rosas podem não pertencer ao conjunto de flores
que murcham rápido. Esta interação entre os sistemas 1 e 2 que denotam o grau de
inteligência do indivíduo. Dado o conceito de inteligência: "não é apenas a capacidade
de raciocinar; é também a capacidade de encontrar material relevante na memória e
mobilizar a atenção quando necessária" (KAHNEMAN, 2012, p. 61). A inteligência é
ainda associada à capacidade de autocontrole (FREDERICK, 2005). Segundo
Kahneman, este estudo permite inferir que "O Sistema 1 é impulsivo e intuitivo; o
Sistema 2 é capaz de raciocínio e é cauteloso, mas ao menos para algumas pessoas
ele também é preguiçoso" (KAHNEMAN, 2012, p; 64).

Assim o sistema 1 independe de vontade ou de atenção consciente. Isto se


deve a ativação associativa (KAHNEMAN, 2012, p. 67). David Hume, filósofo escocês,
à exemplo de Smith, cita no Ensaio sobre o entendimento humano que são três
princípios da associação de ideias: “semelhança, de contiguidade — no tempo e no
espaço — e de causa ou efeito” (HUME, 2016, p. 14). Kahneman (2012) destaca que
a psicologia trabalha com um conceito mais amplo de associação, assim a ideia:

Pode ser concreta ou abstrata, e pode ser expressa de muitas formas:


enquanto verbo, enquanto substantivo, enquanto adjetivo ou como um punho
fechado. Os psicólogos pensam nas ideias como nódulos numa vasta rede,
chamada memória associativa, em que cada ideia está ligada a muitas outras.
Há diferentes tipos de ligações: causas estão ligadas a seus efeitos (vírus –
> resfriado); coisas com suas propriedades (limão –> verde); coisas com as
categorias às quais pertencem (banana –> fruta). Um modo pelo qual
avançamos além de Hume é que não mais pensamos na mente como
passando por uma sequência de ideias conscientes, uma de cada vez. Na
atual visão de como funciona a memória associativa, um bocado de coisas
acontece ao mesmo tempo. Uma ideia que foi ativada não evoca meramente
uma outra ideia. Ela ativa muitas ideias, que por sua vez ativam outras. Além
do mais, apenas algumas das ideias ativadas vão aparecer registradas na
consciência; a maior parte do trabalho do pensamento associativo é
silencioso, oculta-se de nossos eus conscientes (KAHNEMAN, 2012, p. 68).
67

Deste modo, compreende-se o que seria o efeito de priming (priming effect),


como a memória associativa ligando, inconscientemente ou não, ideias, sensações,
emoções etc. entre si (KAHNEMAN, 2010, BARGH, 1996; MUSSWEILER, 2006).

Um estudo interessante, de VOHS et al (2006), professora do Carlson School


of Management, University of Minnesota sobre o efeito priming que o dinheiro exerce,
em que os participantes eram estimulados a escreverem frases com palavras que
evocassem dinheiro e outras mais neutras. Acerca dos resultados, Kahneman tira as
interessantes conclusões (ver também KAHNEMAN, 1999):

Pessoas estimuladas pela palavra dinheiro tornam-se mais independentes do


que seriam sem o gatilho associativo. Elas perseveraram quase o dobro do
tempo em tentar resolver um problema muito difícil antes de pedir ajuda ao
pesquisador, uma nítida demonstração de autoconfiança aumentada.
Também mais egoístas: elas se mostraram bem menos dispostas a perder
tempo ajudando outro aluno que fingia estar confuso sobre uma tarefa
experimental. Quando um pesquisador desajeitado derrubou um punhado de
lápis no chão, os participantes com dinheiro (inconscientemente) na mente
pegaram menos lápis. Em outro experimento na série, foi explicado aos
participantes que eles deveriam empreender uma breve conversa para
conhecer alguma outra pessoa e pediu-se a eles que pusessem duas
cadeiras frente a frente enquanto o pesquisador saía para buscar a tal
pessoa. Os participantes estimulados pelo dinheiro optaram por ficar bem
mais longe do que os demais não primados (118 contra 80 centímetros).
Universitários estimulados pelo dinheiro também mostraram uma preferência
maior por ficarem sozinhos.
O tema geral desses resultados é que a ideia de dinheiro evoca
individualismo: uma relutância a se envolver com outros, a depender de
outros ou a aceitar pedidos dos outros. A psicóloga que conduziu essa
pesquisa notável, Kathleen Vohs, mostrou-se, de maneira louvável, contida
em discutir as implicações de suas descobertas, deixando a tarefa aos seus
leitores. Seus experimentos são profundos — suas descobertas sugerem que
viver em uma cultura que nos cerca com lembretes de dinheiro pode moldar
nosso comportamento e nossas atitudes de maneiras a respeito das quais
não temos consciência e das quais talvez não nos orgulhemos. Algumas
culturas fornecem lembretes frequentes de respeito, outras, lembram seus
membros frequentemente de Deus, e algumas sociedades estimulam
obediência com imagens gigantes do Querido Líder. Será que pode restar
ainda alguma dúvida de que os ubíquos retratos do líder nacional nas
sociedades ditatoriais não só transmite a sensação de que o “Grande Irmão
está Olhando” como também levam a uma redução efetiva do pensamento
espontâneo e da ação independente? (KAHNEMAN, 2012, p.73).

Outro interessante estudo é o de Bateson, Netle e Roberts BATESON, 2006).


O experimento consiste em observar um grupo de 48 pessoas (25 mulheres e 23
homens), da Divisão de Psicologia da Universidade de Newcastle que tomam chá e
café na cozinha, com “pagamentos” espontâneos em uma caixa da honestidade.
Foram colocados banners de flores e olhos alternadamente e os valores constantes
na caixa da honestidade contabilizados, os resultados podem ser visualizados no
gráfico 1. As contribuições à caixa da honestidade são bem maiores sob a “presença”
68

de olhos observadores acerca da mesma honestidade (o papel atribuído ao


expectador imparcial consta no capítulo anterior), esta associação foi inteiramente
inconsciente, o que denota uma ação do sistema 1.

Figura 5 - Caixa da honestidade

Fonte: BATERSON, 2006.

O sistema 1 determina o nível de tensão ou conforto cognitivo do sistema 2


(ALTER, 2009). Esta busca por conforto prega algumas “peças”, que Kahneman
chamou de ilusões, listando basicamente duas:

1. Ilusão de lembrança (WHITTLESEA, 1990):

Você experimenta maior conforto cognitivo ao perceber uma palavra


que já viu antes, e é essa sensação de conforto que lhe dá a impressão
de familiaridade (KAHNEMAN, 2012, p. 80).
2. Ilusão de veracidade (BEGG, 1985):
Qualquer coisa que torne mais fácil para a máquina associativa
funcionar com suavidade também vai predispor crenças. Um jeito
confiável de fazer as pessoas acreditarem em falsidades é a repetição
frequente, pois a familiaridade não é facilmente distinguível da verdade
(KAHNEMAN, 2012, p. 82).
69

Estas ilusões causam conforto cognitivo, que trazem “boas sensações” (KAHNEMAN,
2012, p. 87). Assim, boas sensações tendem a mitigar o controle do sistema 2 sobre
o 1.

Outra função do sistema 1 é construir um modelo de normalidade da realidade,


este

É construído por associações que ligam ideias de circunstâncias, eventos,


ações e resultados que concorrem com alguma regularidade, seja ao mesmo
tempo, seja dentro de um intervalo relativamente curto. Conforme essas
ligações são formadas e fortalecidas, o padrão de ideias associadas vem
representar a estrutura de eventos em sua vida, e determina tanto sua
interpretação do presente como suas expectativas do futuro (KAHNEMAN,
2012, p. 93).
Assim, a mente cria um mundo de acontecimentos normais e esperados, o que
não impede, decerto, as surpresas. Estas podem ser tanto ativas, quando há a
percepção que algo ocorrerá e se surpreende com o mesmo; ou passivas, quando
“você não espera por eles, mas não fica surpreendido quando acontecem”
(KAHNEMAN, 2012, p. 94).

Kahneman e Miller (1986) cunham uma teoria da norma, cuja normalidade é


um padrão onde os acontecimentos são encaixados automaticamente na memória
associativa pelo sistema 1. Assim, poucas pessoas conseguem visualizar de imediato
o erro da pergunta: “Quantos animais de cada espécie Moisés levou na arca?”
(KAHNEMAN, 2012, p. 96), assim como a mente imediatamente descobre o erro em
“A terra gira em torno do problema todo ano” (KAHNEMAN, 2012, p. 96), ou como
entender “o rato grande escalou a tromba do elefante muito pequeno” (KAHNEMAN,
2012, p. 97).

Certo dia, em dezembro de 2003, quando Saddam Hussein foi capturado, a


Bloomberg News exibiu a seguinte manchete às 13h01: TÍTULOS DO
TESOURO DOS EUA SOBEM; CAPTURA DE HUSSEIN PODE NÃO
CONTER TERRORISMO.
Sempre que ocorre uma movimentação no mercado, a mídia sente-se
obrigada a oferecer uma “razão”. Meia hora depois tiveram que editar outra
manchete. À medida que os valores dos títulos do Tesouro dos Estados
Unidos caíram (eles flutuam o dia todo, portanto não havia nada de especial
nisso), a Bloomberg News tinha uma nova razão para a queda: a captura de
Saddam (o mesmo Saddam). Às 13h31, publicaram o novo boletim: TÍTULOS
DO TESOURO DOS EUA CAEM; CAPTURA DE HUSSEIN AUMENTA A
ATRAÇÃO DE RECURSOS DE RISCO. (TALLEB, 2015, p. 109)
A mente humana sempre prega peças. Há uma predileção por causalidades e
nos recusamos a aceitar a imprevisibilidade na existência. Albert Michotte
(MICHOTTE, 1963) afirma em The Perception of causality que, ao contrário da ideia
70

de associação humeano, onde “inferimos causalidade física de observações repetidas


de correlação de eventos” (KAHNEMAN, 2012, p. 99) para uma causalidade tão direta
quanto uma visualização de cor (KAHNEMAN, 2012, p. 99). Portanto, mais uma
ilusão: a ilusão de causalidade. A causalidade de Michotte era física, Heider e Simel
demonstram a causalidade intencional, através de um pequeno vídeo de pouco mais
de um minuto e meio (HEIDER, 1944)64. Assim, o sistema 1,

Sua mente está pronta e sempre ávida por identificar agentes, atribuir-lhes
traços de personalidade e intenções específicas, e ver suas ações como a
expressão de propensões individuais (KAHNEMAN, 2012, p. 100)

Estas “intuições causais” (KAHNEMAN, 2012, p. 101) fazem com que o


“raciocínio estatístico” seja rejeitado (KAHNEMAN, 2012, p. 101), pois o sistema 1 não
sabe estatística (nem eu...), coisa que só o sistema 2 pode aprender.

Nosso sistema 1 constrói narrativas com as poucas informações disponíveis, o


que pode gerar uma falsa causalidade, indicando que o somos propensos a acreditar
em mensagens vazias. Daniel Gilbert, em dois trabalhos trata desta memória
associativa (GILBERT, 1990 e 1991). O sistema 2, quando ocupado ou cansado,
permite que as pessoas sejam persuadidas a crer em palavras tão non sense como
“twyrin” (GILBERT, 1990, p. 5), estas se devem ao viés de confirmação (confirmation
bias). Segundo Kahneman,

Uma busca deliberada por evidência confirmadora, conhecida como


estratégia de teste de positivo (positive test strategy), é também o modo como
o Sistema 2 testa uma hipótese. Contrariamente às regras dos filósofos da
ciência, que aconselham testar hipóteses tentando refutá-las, as pessoas (e
os cientistas, muitas vezes) buscam dados que tenham maior probabilidade
de se mostrarem compatíveis com as crenças que possuem no momento. O
viés confirmatório do Sistema 1 favorece a aceitação acrítica de sugestões e
o exagero da probabilidade de eventos extremos e improváveis
(KAHNEMAN, 2012, p. 106).
O efeito Halo (NISBETT, 1977a) é, aproximadamente, o que o adágio popular
explicita: a primeira impressão é a que fica. Em um sentido mais técnico, é “um
exemplo de ambiguidade suprimida” (KAHNEMAN, 2012, p. 108) pelo sistema 1, que
dá a interpretação ao fenômeno que dê maior conforto cognitivo ao agente.

Outro viés que deriva deste efeito de confirmação do sistema 1, é aquilo que
Kahneman chama de WYSIATI65, que é o sistema 1 dando uma narrativa à realidade
assimétrica, complexa e caótica. Elemento profundamente importante, pois se o

64 O vídeo está disponível em https://www.youtube.com/watch?v=olOmOYItAbE.


65 “what you see is all there is, ou o que você vê é tudo que há” (KAHNEMAN, 2012, p. 110).
71

indivíduo esperar pela completude e fidedignidade completa das informações


fenomênicas ele provavelmente não chegaria fase adulta e teria se reproduzido, e
seria outra a espécie dominante. Porém é inegável que este viés se correlaciona com
outros três: superconfiança (overconfidence), efeitos de enquadramento (framing
effects) e negligência com a taxa-base (base-rate neglect) (KAHNEMAN, 2012,
p.114).

Outra característica do sistema 1 é sempre analisar o ambiente em que o


indivíduo está, instintivamente, saber se é seguro, se há rotas de fuga, avaliando
basicamente a situação fenomênica. Há uma forte raiz biológica nesta avaliação
(TODOROV, 2008), queixo forte e sorriso são correlacionados à competência e
autoconfiança (KAHNEMAN, 2012, p. 118), o que é um exemplo de heurística de
julgamento.

O Sistema 1 compreende a linguagem, é claro, e a compreensão depende


das avaliações básicas que são rotineiramente realizadas como parte da
percepção dos eventos e da compreensão de mensagens. Essas avaliações
incluem cálculos de similaridade e representatividade, atribuições de
causalidade e estimativas da disponibilidade de associações e paradigmas.
Elas são realizadas até na ausência de um ajuste de tarefa (task set)
específico, embora os resultados sejam usados para atender as demandas
da tarefa à medida que surgem (KAHNEMAN, 2012, p. 119).
Além de avaliar basicamente o ambiente, nosso sistema 1 também é
programado a realizar equiparações (matching) “entre dimensões diversas”
(KAHNEMAN, 2012, p. 122) de intensidade. Estas tarefas do sistema 1, que são,
basicamente, inconscientes, se relacionam com o que Kahneman chama de
bacamarte mental, pois é “difícil para o Sistema 1 não fazer mais do que o Sistema 2
o encarrega de fazer (KAHNEMAN, 2012, p. 124), pois ao iniciar um cálculo diverso
ordenado pelo sistema 2, o sistema 1, por meio de sua memória associativa gera
inúmeros outros resultados além daquele inicialmente necessário.

A mente é programada para sempre ter uma resposta as mais diversas


situações. Para responder a questões complexas, o sistema 1, realiza “um
procedimento simples que ajuda a encontrar respostas adequadas, ainda que
geralmente imperfeitas, para perguntas difíceis” (KAHNEMAN, 2012, p. 127), o que
vem a ser o conceito de heurística (derivada de heureca). Vejamos uns exemplos:
72

Tabela 3 - Exemplos de perguntas heurísticas.

Pergunta-Alvo Pergunta Heurística

Até que ponto você contribuiria para Até que ponto me emociono quando penso
salvar espécies em risco de extinção? em golfinhos morrendo?

O quanto você está feliz com sua vida Qual é meu humor neste exato momento?
atualmente?

Qual será a popularidade do Qual é a popularidade do presidente


presidente daqui a seis meses? neste momento?

Como devem ser punidos consultores Quanta raiva eu sinto quando penso em
financeiros que se aproveitam dos predadores financeiros?
aposentados?

Esta mulher está concorrendo para a Esta mulher parece uma vitoriosa na
primária. Até onde ela chegará na política?
política?

Fonte: KAHNEMAN, 2012, p. 128.

Existem inúmeros tipos de heurísticas, podem ser visuais (heurísticas 3D,


conforme KAHNEMAN, 2012, p. 129-131); de felicidade (substituição por humor); de
afeto... Todos vinculados à ação do sistema 166.

66 “Características do Sistema 1
• gera impressões, sentimentos e inclinações; quando endossados pelo Sistema 2, tornam-se crenças,
atitudes e intenções;
• opera automática e rapidamente, com pouco ou nenhum esforço, e sem nenhum senso de controle
voluntário;
• pode ser programado pelo Sistema 2 para mobilizar a atenção quando um padrão é detectado
(busca);
• executa reações especializadas e gera intuições especializadas, após treinamento adequado;
• cria um padrão coerente de ideias ativadas na memória associativa;
• liga uma sensação de conforto cognitivo com ilusões de veracidade, sentimentos prazerosos e
vigilância reduzida;
• distingue o surpreendente do normal;
• infere e inventa causas e intenções;
• negligencia ambiguidade e suprime dúvida;
• é propenso a acreditar e confirmar;
• exagera consistência emocional (efeito halo);
• foca na evidência existente e ignora a evidência ausente (WYSIATI);
• gera um conjunto limitado de avaliações básicas;
• representa conjuntos por normas e protótipos, não integra;
• equipara intensidades entre escalas (por exemplo, tamanho com altura de som);
• calcula mais do que o pretendido (bacamarte mental);
73

4.4.2 HEURÍSTICAS E VIESES67

Como visto anteriormente, nossa mente tem um funcionamento dialógico em


que o sistema 1 é, basicamente, nossa adaptação à um ambiente nem sempre
amistoso. Apesar de ser uma vantagem na seleção natural (afinal, uma resposta
rápida a uma ameaça ou uma oportunidade dá ao indivíduo a chance de mais um dia
de vida, ao menos nos primórdios da civilização).

Entrementes esta “vantagem”, o sistema 1 possui uma característica,


correlacionada ao WYSIATI (ver nota 51, acima), pois, intuitivamente, construímos
uma narrativa coerente, onde qualquer “ambiguidade e espontaneidade” é aplainada
na estrada da realidade cognoscível. O sistema 2 pode até tentar duvidar da narrativa
do sistema 1, mas a menos que algo extraordinário chame sua atenção, ele tende
mais a endossar estes sentimentos (KAHNEMAN, 2012, p. 134).

Nosso processo cognitivo é sequioso

Por padrões, temos fé em um mundo coerente, em que as regularidades não


aparece por acidente, mas como resultado de uma causalidade mecânica ou
da intenção de alguém (KAHNEMAN, 2012, p. 147).
Assim, o sistema 1, teima em “enxergar” eventos estocásticos como sistêmico
(FELLER, 1957, p. 160-161 TVERSKY, 2012a e GILOVICH, 1985), em razão de erros
de amostragem e de as variáveis não são correlacionadas.

Uma outra heurística abordada por Kahneman e Tvesky é o efeito ancoragem


ou heurística de ajuste:

Em muitas situações as pessoas fazem estimativas começando por um valor


inicial que é ajustado para produzir a resposta final. O valor inicial, ou ponto
de partida, talvez seja sugerido pela formulação do problema, ou talvez seja
o resultado de um cálculo parcial. Tanto num caso como no outro, ajustes são
tipicamente insuficientes. Ou seja, diferentes pontos de partida produzem

• às vezes substitui uma questão difícil por uma mais fácil (heurística);
• é mais sensível a mudanças do que a estados (teoria da perspectiva);
• dá peso excessivo a probabilidades baixas;
• mostra sensibilidade decrescente à quantidade (psicofísica);
• reage mais com mais intensidade a perdas do que a ganhos (aversão à perda);
• contextualiza os problemas de decisão estreitamente, em isolamento uns dos outros” (KAHNEMAN,
2012, p. 136).
67 A lista de vieses não para de subir, para ver uma lista atualizada, ver Glossário dos vieses cognitivos.
74

diferentes estimativas, que são viesadas na direção dos valores iniciais.


Chamamos isso de fenômeno da ancoragem (TVERSKY, 2012a, p. 533).
A ancoragem é um tipo de priming, sugerida e definida pelo WYSIATI, pois
“nossos pensamentos e nosso comportamento são influenciados, muito mais do que
sabemos ou queremos, pelo ambiente do momento” (KAHNEMAN, 2012, p. 163). Este
fenômeno pode causar (TVERSKY, 2012a):

• “Ajuste insuficiente”, onde a decisão é enviesada pela ancora;


• “Vieses na avaliação de eventos conjuntivos e disjuntivos”, onde a
probabilidade do evento simples é insuficiente o que causa uma
superestimação dos eventos conjuntivos e subestimação dos disjuntivos;
• “Ancoragem na avaliação das distribuições de probabilidade subjetiva”,
ancoragem onde um “especialista” é levado a exagerar no intervalo de
confiança de determinada previsão subjetiva.

Pode-se inferir “que nossos pensamentos e nosso comportamento são


influenciados, muito mais do que sabemos ou queremos, pelo ambiente do momento”
(KAHNEMAN, 2012, p. 163).

Uma heurística conduz a vieses. Se você tenta inferir

O tamanho de uma categoria ou a frequência de um evento, mas comunica


uma impressão da facilidade com que as ocorrências vêm à mente
(KAHNEMAN, 2012, p. 166).
Você está realizando uma heurística de disponibilidade (TVERSKY, 1973), que
pode levar aos vieses (TVERSKY, 2012a):

• “Vieses devido à recuperabilidade das ocorrências”, quanto mais recuperável a


memória da ocorrência, maior a probabilidade dela ser julgada maior,
correlaciona-se com a familiaridade e proeminência;
• “Vieses devidos à efetividade de um ajuste de busca”, quanto maior a facilidade
com que consigamos buscar determinada informação, maior a ilusão de que
está é mais numerosa;
• “Vieses de imaginabilidade”, acerca de informações oriundas não da memória,
mas que devem ser produzidas pelo indivíduo, quanto mais fácil a construção
da informação/evento maior a percepção de grandeza deste;
• “Correlação ilusória”, ao inferir que eventos absolutamente aleatórios possuem
correlação.
75

A heurística de disponibilidade é especialmente interessante para a análise


social, pois eventos midiáticos ou que causam memes em redes sociais são mais
facilmente recuperáveis, o que enviesa a importância e relevância social do fato, vide
o caso brasileiro de votarem leis mais draconianas após algum crime que choque a
opinião pública. Um paradoxo aqui merece ser citado, quanto maior a quantidade de
eventos que solicitar para um indivíduo relembrar este julgará que menor será a
frequência deste evento pelo indivíduo, a “heurística da indisponibilidade inexplicada”
(KAHNEMAN, 2012, p. 171). A explicação, na verdade, está na dificuldade de fluência
com que estes eventos são listados. Dessa forma, conclui-se que o sistema 1 ignora
o conteúdo das informações e cria a narrativa de acordo com a disponibilidade das
mesmas, independentemente da qualidade e ou confiabilidade destas, ao que o
sistema 2 tenta freiar, o que demanda esforço e atenção, consumindo energia
escassa. (KAHNEMAN, 2012, p. 173).

A disponibilidade também é muito útil para analisarmos nossas emoções e seu


papel na tomada de decisão. Kahneman cita uma experiência onde os indivíduos são
convidados a estimar probabilidades de causas de morte aos pares, os resultados
foram os seguintes:

• Derrames causam quase o dobro de mortes de todos os acidentes


combinados, mas 80% dos participantes avaliaram a morte acidental
como mais provável.
• Tornados foram vistos como assassinos mais frequentes do que
asma, embora esta última provoque vinte vezes mais mortes.
• Morte por raios foi julgada menos provável do que morte por
botulismo, ainda que seja 52 vezes mais frequente.
• Morte por doença é 18 vezes mais provável que morte acidental, mas
as duas foram julgadas igualmente prováveis.
• Morte por acidentes foi avaliada como mais de trezentas vezes mais
provável do que morte por diabetes, mas a proporção verdadeira é
1:4. (KAHNEMAN, 2012, p. 176).
As impressões são moldadas pela cobertura da impressa, mas estas também
são norteados pela opinião pública. Como em WYSIATI, a realidade enxergada nem
sempre é a realidade, além disto, sofre a distorção das emoções expostas
(KAHNEMAN, 2012, p. 177), a heurística do afeto. O que não é, de fato, ruim, afinal
ausência de emoções é extremamente pernicioso tanto para o indivíduo como para a
sociedade, tanto que psicopatia é uma doença. Apesar das discordâncias médicas
acerca deste ponto (HENRIQUES, 2009).

Jonathan Haidt no interessante artigo denominado “O cão emocional e sua


cauda racional: Uma Abordagem Intuicionista Social ao Julgamento Moral” (The
76

Emotional Dog and Its Rational Tail: A Social Intuitionist Approach to Moral Judgment,
HAIDT, 2001) aborda que os julgamentos morais são norteados pelas emoções que
norteiam a razão na decisão. Kahneman resume afirmando que “A heurística do afeto
simplifica nossas vidas criando um mundo que é muito mais ordenado do que a
realidade” (KAHNEMAN, 2012, p. 178).

Este é o grande dilema do gestor público: ser racional em suas decisões,


ignorando o clamor público quase sempre emocionalmente enviesado, um dos
conceitos de ditadura; ou deixar-se levar pela opinião pública, num populismo
irresponsável? Kahneman indica um caminho:

Políticas públicas são em última instância sobre pessoas, o que elas querem
e o que é melhor para elas. Toda questão envolvendo políticas públicas
implica pressuposições acerca da natureza humana, em particular sobre as
escolhas que as pessoas podem fazer e as consequências de suas escolhas
para si mesmas e para a sociedade (KAHNEMAN, 2012, p. 180).
Cass Sunstein, ex-professor da University of Chicago Law School e atual
professor da Harvard Law School, posiciona-se contrario à Slovic68, a favor dos
especialistas na gestão de risco, para ele o especialista não deve ser rejeitado, corre-
se o risco de cair no populismo (KURAN, 1999, p. 737). Juntamente com Timor Kuran,
eles criam o termo cascata de disponibilidade (availability cascade), um processo
circular cujo “discurso público molda os julgamentos individuais de risco” e estas, por
sua vez reforçam o discurso público (KURAN, 1999, p. 716).

Cass Sunstein almeja buscar mecanismos que isolem os tomadores de


decisão das pressões públicas, deixando que a alocação de recursos seja
determinada por especialistas imparciais dotados de uma visão ampla de
todos os riscos e dos recursos disponíveis para reduzi-los. Paul Slovic confia
nos especialistas bem menos e no público um pouco mais do que Sunstein,
e aponta que isolar os especialistas das emoções do público gera políticas
que o público irá rejeitar — uma situação impossível numa democracia. Ambos
são eminentemente sensatos, e concordo com os dois (KAHNEMAN, 2012,
p. 184).
Mais do que isso, Sunstein afirma que as políticas públicas devem ser utilizadas
de modo a dar pequenos cutucões (nudge) nos indivíduos, para que estes cumpram
com o que dispõe a política. Estes, tem a vantagem de manter certa liberdade de
escolha ao agente, pois um nudge não é nem uma imposição legal ou uma proibição.
Ele enumera dez principais tipos de nudges:

68 Slovic sustenta que o risco é subjetivo e que especialistas definirem risco para a sociedade é “um
exercício de poder” (SLOVIC, 1987). Ele sustenta que a cascata de disponibilidade é um enviesamento
intencional do indivíduo por parte de outro.
77

(1) Regras default (p. ex. inscrição automática em programas,


incluindo educação, saúde, poupança);
(2) Simplificação (em parte para promover ajustes em programas
existentes);
(3) Usos de normas sociais (ressaltar o que faz a maioria das
pessoas, p. ex. “a maioria pretende votar” ou “a maioria paga
seus impostos em dia” ou “nove em cada dez hóspedes deste
hotel reutilizam suas toalhas”);
(4) Aumentos da facilidade e conveniência (p. ex. dar visibilidade
às opções de baixo custo ou comidas saudáveis);
(5) Divulgação [disclosure] (p. ex. os custos ambientais
associados ao uso de energia, ou o custo total de certos cartões
de crédito — ou de grandes volumes de dados, como nos casos
do data.gov e Open Government Partnership, ver
opengovernmentpartnership.org);
(6) Alertas, dramáticos ou não (como nas embalagens de cigarro);
(7) Estratégias de compromisso prévio (pelas quais as pessoas
se comprometem com determinada linha de ação);
(8) Lembretes (p. ex., por email ou mensagem de texto para contas
vencidas e compromissos ou obrigações iminentes);
(9) Evocar intenções de implementação (“você pretende votar?”);
(10)Informar as pessoas sobre a natureza e consequências de
suas escolhas passadas (“smart disclosure” nos Estados
Unidos e o “midata project” no Reino Unido) (SUNSTEIN, in
AVILA, 2015, p 112-114, grifo nosso).
O outro viés é o julgamento por representatividade é aquele em que é avocada
a “similaridade da descrição de estereótipos” (KAHNEMAN, 2012, p. 189), onde as
taxas bases e o conhecimento estatístico necessário à tomada de decisão são
ignorados. Este tipo de julgamento ativa o “bacamarte mental, evocando respostas
para perguntas mais fáceis” (KAHNEMAN, 2012. p. 191). Em “O homem que mudou
o jogo”69 há um gerente de time de beisebol que usa a estatística contra a intuição dos
olheiros, montando um time barato e com excelentes resultados.

Abaixo estão alguns dos vieses que decorrem desta heurística (KAHNEMAN,
2012a, p. 525-530):

• “Insensibilidade à probabilidade a priori de resultados”, quando ignoramos a


frequência da taxa base;
• “Insensibilidade a tamanho amostral”, quando atribuímos uma distribuição
normal dos dados, mesmo em amostras muito pequenas, em que há maior
possibilidade de se afastar da média;

69Filme de 2011, com Brad Pitt, baseado no livro de Michel Lewis, autor de The big short (A grande
aposta).
78

• “Concepções errôneas da possibilidade (Misconceptions of chance)”, quando


nossa mente teima em enxergar ordem sistemática em eventos aleatórios ou
achar que eventos independentes tem algum tipo de correlação;
• “Insensibilidade à previsibilidade”, ao prever algum evento sem ter elementos
para tal, apenas por descrições que nada dizem sobre o evento a ser previsto;
• “A ilusão de validade”, ao acredita demais nas próprias previsões, mesmo
sabendo que elas são falíveis;
• “Concepções errôneas de regressão”, ao decidir ignorar a regressão à média,
pois um desempenho espetacular tende a ser menos espetacular na segunda
tentativa, o inverso também é verdadeiro.

Estes vieses decorrem do fato que o sistema 1 ignora as evidências, sendo


levado pelo WYSIATI.

A seguir o problema de Linda, para ler e responder rápido, qual a sua profissão?

Linda tem 31 anos de idade, é solteira, franca e muito inteligente. É formada


em filosofia. Quando era estudante, preocupava-se profundamente com
questões de discriminação e justiça social, e também participava de
manifestações antinucleares.
Linda é professora numa escola primária.
Linda trabalha numa livraria e faz aula de ioga.
Linda é ativa no movimento feminista.
Linda é assistente social de psiquiatria.
Linda é membro da Liga das Mulheres Eleitoras.
Linda é caixa de banco.
Linda é vendedora de seguros.
Linda é caixa de banco e ativa no movimento feminista. (TVERSKY, 1983, p.
297)
Provavelmente a resposta foi a última opção. Porém errada, enganada pela
heurística da representatividade e ignorou a lógica estatística (KAHNEMAN, 2012, p.
200) o que Tversky e Kahneman chamaram de falácia da conjunção (TVERSKY,
1983).

Talvez você tivesse acionado seu sistema 2 caso houvesse perguntado:

Qual alternativa é mais provável?


Linda é uma caixa de banco.
Linda é uma caixa de banco e é ativa no movimento feminista (KAHNEMAN,
2012, p. 201).70

70Outro exercício que demonstra os erros que a representatividade pode causar é o perfil de Tom W:
“O parágrafo a seguir é um perfil de Tom W escrito por um psicólogo durante o último ano de Tom no
ensino médio, com base em testes psicológicos de validade duvidosa:
79

E a representatividade seria mitigada pelo sistema 2 e seus conhecimentos em


estatística e probabilidade.

Christopher Hsee, Professor of Behavioral Science and Marketing, na


University of Chicago Booth School of Business, conduziu um interessante
experimento71, onde colocando dois aparelhos de jantar para serem monetariamente
valorados (ver figura 3).

Ao fazerem a avaliação conjunta, ou seja, os dois jogos de jantar


concomitantemente, verificamos que o aparelho A é mais valioso que i B,
simplesmente porque possui mais peças. Nenhuma surpresa para qualquer estudante
de economia familiarizado com os conceitos de curvas de indiferença e o axioma de
“mais é preferível a menos”, porém quando Hsee pediu que os participantes
avaliassem isoladamente os aparelhos e, surpresa. O aparelho B foi avaliado, em
média por 33 dólares e o A por 23. (Sendo que na avaliação conjunta o A valia 32 e o
B, 30 dólares). Assim ao retirar 16 peças do aparelho A seu valor subia 10 dólares
(HSEE, 1998). Uma demonstração de que “menos é mais”.

Figura 6 - Avaliação

Aparelho A: 40 peças Aparelho B: 24 peças


Pratos de jantar 8, todos em boas condições 8, todos em boas condições
Tigelas de sopa/salada 8, todas em boas condições 8, todas em boas condições
Pratos de sobremesa 8, todos em boas condições 8, todos em boas condições

Tom W é dotado de grande inteligência, embora careça de criatividade genuína. Tem necessidade de
ordem e clareza e de sistemas claros e ordenados em que cada detalhe encontre seu lugar apropriado.
Seu texto está mais para maçante e mecânico, animado ocasionalmente por alguns trocadilhos batidos
e lampejos de imaginação do tipo ficção científica. Exibe forte compulsão por competência. Parece
apresentar pouca compreensão e pouca simpatia pelas outras pessoas, e não aprecia a interação com
os outros. Autocentrado, exibe no entanto um profundo senso moral.
Agora pegue uma folha e classifique as nove áreas de especialização listadas a seguir segundo o grau
de semelhança da descrição de Tom W com o típico aluno de graduação em cada uma das seguintes
áreas. Use 1 para a mais provável e 9 para a menos provável.
1. ciência da computação
2. engenharia
3. administração
4. ciências físicas e biológicas
5. biblioteconomia
6. direito
7. medicina
8. humanidades e educação
9. ciência social e assistência social” (KAHNEMAN, 2012, p; 186 e 188)
71 Este artigo, citado por KAHNEMAN, 2012, p. 203—204, não foi publicado, mas para ver resultados
semelhantes a este exemplo citado, ver HSEE, 1998.
80

Xícaras 8, 2 delas quebradas


Pires 8, 7 deles quebrados
Fonte: (KAHNEMAN, 2012, p. 204)

Outra característica de nosso sistema 1 é que ele ao construir uma narrativa


para a nossa realidade ele, invariavelmente irá se utilizar de estereótipos causais,
encaixando em uma norma ou “paradigma protótipo” (KAHNEMAN, 2012, p. 214),
para tanto ele utiliza-se da taxa-base causal72, induzindo uma falsa impressão da
realidade em função de taxa-base causal (NISBETT, 1975).

Já vimos que a intuição (sistema 1) é um mau conselheiro, pois sempre recorre


a heurísticas que podem levar a vieses desconfortavelmente grandes, inviabilizando
qualquer chance de acerto. Que o sistema 1 é pouco propenso a raciocínio
estatísticos, pois a representatividade e o afeto são explicações e fontes mais fáceis
de entender nosso mundo. Mas, e quando o evento é raro ou extremo? A lógica
bayesiana é ponderar as probabilidades condicionais entre eventos, ela sempre irá
descartar os outliers (FINETTI, 1961), uma clara desvantagem cognitiva, pois um
predador à espreita é um outlier, e ignorá-lo é não ter a chance de reproduzir e passar
seus genes à frente. Do mesmo modo, modernamente, um investidor do mercado
financeiro, ou um “empresário” schumpeteriano, mengeriano ou miseano (são o
mesmo conceito, basicamente) age procurando uma nova forma de organizar os
fatores de produção para estar à frente dos concorrentes e melhor satisfazer o cliente.
Assim, o sistema 1 simplesmente não pode ser condenado.

4.4.3 OVERCONFIDENCE

Durante o outono de 2004, participei de uma conferência sobre estética e


ciência em Roma, talvez a melhor locação possível para tal encontro, já que
a estética permeia tudo lá, até o comportamento pessoal e o tom de voz das
pessoas. Durante o almoço, um professor proeminente de uma universidade
no Sul da Itália cumprimentou-me com extremo entusiasmo. Eu ouvira, mais
cedo, sua apresentação apaixonada; ele era tão carismático, tão seguro e tão
convincente que, apesar de não entender boa parte do que disse, me vi
concordando plenamente com tudo que dizia. Eu conseguia entender apenas
uma frase ou outra, já que meu conhecimento de italiano funcionava melhor

72 “•Taxas-base estatísticas de um modo geral são subestimadas, e às vezes completamente


negligenciadas, quando alguma informação específica sobre o caso em questão está disponível.
• Taxas-base causais são tratadas como informação sobre o caso individual e são facilmente
combinadas com outra informação específica do caso” (KAHNEMAN, 2012, p. 213).
81

em coquetéis do que em ambientes intelectuais e acadêmicos. Em um ponto


durante o discurso, ele ficou vermelho de raiva — convencendo, assim, a mim
(e à plateia) de que estava definitivamente certo.
Ele abordou-me durante o almoço para parabenizar-me por demonstrar os
efeitos das ligações causais que são mais prevalentes na mente humana do
que na realidade. A conversa ficou tão animada que ficamos parados juntos
próximos à mesa do bufê, impedindo que os outros delegados chegassem
perto da comida.
Ele falava um francês carregado (gesticulando) e eu respondia em um italiano
primitivo (gesticulando), e estávamos tão empolgados que os outros
convidados temiam interromper uma conversa tão importante e animada. Ele
identificava-se com meu livro anterior sobre aleatoriedade, uma espécie de
reação de um operador raivoso contra a cegueira à sorte na vida e nos
mercados, que fora publicado na Itália com o título musical Giocati dal Caso.
Tive a sorte de contar com um tradutor que sabia quase mais do que eu sobre
o assunto, e o livro encontrou um pequeno grupo de seguidores entre os
intelectuais italianos. “Sou um grande fã de suas ideias, mas sinto-me
diminuído. Elas também são verdadeiramente minhas, e você escreveu o livro
que eu (quase) planejava escrever”, disse. “Você é um homem de sorte;
apresentou de forma tão completa o efeito do acaso na sociedade e a
superestimação do princípio de causa e efeito. Você mostra o quanto somos
burros de tentar sistematicamente explicar habilidades”,
Ele parou, e então completou, em um tom mais calmo: “Mas, mon cher ami,
deixe-me dizer quelque chose a você [dito muito lentamente, com o polegar
batendo nos dedos médio e indicador]: se você tivesse crescido em uma
sociedade protestante onde é dito que esforços são ligados a recompensas
e onde a responsabilidade individual é enfatizada, nunca teria visto o mundo
de tal maneira. Você foi capaz de ver a sorte e separar causa e efeito por
causa de sua origem mediterrânea oriental ortodoxa”. Ele estava usando o
francês à cause. E foi tão convincente que por um minuto concordei com sua
interpretação (TALLEB, p. 98-99)
Esta história, que consta no capítulo 6 de A Lógica do Cisne Negro, ilustra um
exemplo de falácia narrativa, um modo de extrair sentido de um mundo muitas vezes
sem sentido (de modo linear a fácil ao menos)73. O efeito Halo contribui para a
coerência da história. Do mesmo modo, ao ler a biografia de uma grande figura
histórica, ou mais modernamente, de um grande empreendedor, como Steve Jobs,
Bill Gates, a tendência é construir uma narrativa de invencibilidade, onde até os erros
e fracassos são lições que os levaram ao panteão das divindades de autoajuda.
Ignoramos por completo a inumerável série de acasos e eventos aleatórios que os
levaram até onde chegaram. Ignora-se que milhares de empreendedores tão ou mais
brilhantes ficaram pelo caminho por algum golpe de azar. Pois o sistema 1 não gosta
de estocasticidade, prefere a boa e tranquila falácia narrativa74, uma ilusão de
compreensão:

O cerne da ilusão é que acreditamos compreender o passado, o que implica


que o futuro também deva ser conhecível, mas na verdade compreendemos
o passado menos do que acreditamos compreender. Saber não é a única

73 Talleb alerta para a história, que seu interlocutor na história atribui a ele uma causa, uma razão.
74 Não esquecer de WYSIATI.
82

palavra que fomenta essa ilusão. No uso comum, as palavras intuição e


premonição também estão reservadas para pensamentos passados que se
revelaram ser verdadeiros (KAHNEMAN, 2012, p. 252).
Nossa mente é uma fábrica de sentidos, mas o sistema 1 é incapaz de
reconstruir perfeitamente os estados do passado, nossas memórias sempre serão
enviesadas pelo nosso estágio atual de cognição (NISBETT, 1977b), um exemplo
trivial que todos aqueles que assistem futebol concordam: o viés de resultado, a
percepção tardia, onde um analista critica uma escalação diferente de um time e após
uma estrondosa vitória o mesmo analista elogia a mesma escalação (sempre são os
outros que fazem isso, o ‘nós’ claro nunca erra ou esquece o que falou ontem, antes
do jogo). Adicione a esta ilusão de entender o passado a outra ainda maior: “prever e
controlar o futuro” (KAHNEMAN, 2012, p. 256), assim, um promissor mercado sedento
por livros de autoajuda.

A ilusão de validade é um viés decorrente da heurística da representatividade,


reforçada no sentimento de confiança, graças ao conforto cognitivo da coerência da
narrativa. Ela dá origem a outra ilusão, de habilidade, muito comum no mercado
financeiro. “O principal problema do investidor - e até mesmo seu pior inimigo - é
provável que seja ele mesmo” (BARBER, 2010), como exposto anteriormente, um
desempenho acima da média tende a retornar à média, assim, o day trade75 é perigoso
à riqueza do investidor (BARBER, 2000), pois esta negociação tende a ser benéfica
às instituições financeiras, que cobram, e caro, por uma habilidade que eles não
possuem (BARBER, 2010)76.

A ilusão de habilidade é mais do que uma mera aberração individual; ela está
profundamente arraigada na cultura do mundo financeiro. Fatos que desafiam
tais pressupostos básicos — e desse modo ameaçam o meio de vida e a
autoestima das pessoas — simplesmente não são absorvidos. A mente não
os digere. Isso é particularmente verdadeiro sobre estudos estatísticos de
desempenho, que fornecem informação da taxa-base que as pessoas em
geral ignoram quando vai de encontro a suas impressões pessoais obtidas
com a experiência (KAHNEMAN, 2012, p. 270).
A ilusão que os investidores têm de serem mais habilidosos que os outros
traders decorre do sentimento de confiança dos mesmos em seus julgamentos,
reforçada “por uma poderosa cultura profissional” (KAHNEMAN, 2012, p. 272). O
passado nos encara como a Esfinge encarou Édipo: decifra-me ou devoro-te, porém,

75 Prática de negociar ativos dentro de um mesmo dia ou outro período curto de tempo.
76 Onde destaca que no mercado de ações de Taiwan isso gerou uma perda de 3,8% na carteira de
investimentos do indivíduo, sendo que as perdas são de mais de 2% do PIB daquele país. Aliás o maior
conselho dado por Kahneman no evento realizado pela Empiricus Research, neste ano. O vídeo pode
ser visualizado por este link: https://www.youtube.com/watch?v=rFrZCIP-JjM.
83

compreender o passado é uma ilusão tão grande que só uma superconfiança nas
próprias capacidades poderia nutrir, que é corroborada pelo conhecimento adquirido
pelo especialista. Mas Kahneman ressalta que “os erros de previsão são inevitáveis
porque o mundo é imprevisível” (KAHNEMAN, 2012, p. 275), a curto prazo, esta ilusão
pode ser diluída, o que não se repete nas de longo prazo77.

Os especialistas costumam ser menos eficientes que algoritmos na previsão


dos preços de vinhos (ASHENFELTER, 2008), pois são humanos e como tal estão
sujeitos a vieses cognitivos. Costumam “pensar fora da caixa” (KAHNEMAN, 2012, p.
280) e englobar a complexidade em suas previsões. Somos inconsistentes em nossas
análises (BROWN, 1983), influenciados pelos efeitos de priming do ambiente externo
sempre instáveis. O conselho a que Kahneman chega é que “decisões finais devem
ser deixadas para fórmulas, especialmente em ambientes de baixa validade”
(KAHNEMAN, 2012, p. 281). Porém estas devem ser as mais simples possível, pois
quanto mais complexas as regressões mais se afastam da realidade e menos
confiáveis serão (ARMSTRONG, 2012, DAWES, 1979 e DANA, 2004).

Um mundo governado por algoritmos seria extremamente impopular, pois


sempre terá uma “dimensão moral” (KAHNEMAN, 2012, p. 284), pois sempre
preferimos o natural, o homem contra a máquina, afinal a Skynet78 não é um exemplo
de simpatia. Uma criança morta, por erro de uma máquina, é infinitamente mais
comovente que as muitas que já morreram por erros médicos. Este viés emocional é
também moral.

Uma lição mais geral que aprendi com esse episódio foi de não confiar
simplesmente no julgamento intuitivo (seja o seu, seja o de outros), mas
também de não desprezá-lo (KAHNEMAN, 2012, p. 289).
Simon define intuição como:

A situação forneceu um indício; esse indício deu ao especialista acesso à


informação armazenada em sua memória, e a informação fornece a resposta.
A intuição não é nada mais, nada menos que reconhecimento (SIMON, 2002).
Assim, desconfiar da habilidade dos especialistas (e da própria também), pois
esta depende da intuição, que nada mais é um rememorar alguma informação. E isto,

77 Afinal, “In the long run we are all dead” (KEYNES, 1924, p. 80)
78 Grande vilão da série de filmes do Exterminador do Futuro.
84

é claro, pode ser aprendido, como qualquer emoção, de forma rápida ou mais
demorado, como uma perícia em algo (KAHNEMAN, 2012, p. 296).

Assim como Hayek (HAYEK, 1967, em especial o capítulo 2: The Theory Of


Complex Phenomena ) e Keynes (KEYNES, 1982)79, Kahneman alerta para que
nenhum profissional, especialista em qualquer que seja a área deva se arrogar a
capacidade impossível de prever com precisão em um “mundo imprevisível”
(KAHNEMAN, 2012, p. 300). A intuição é muito dependente do ambiente, portanto
quanto mais estável e repetível for um ambiente melhor será a qualidade da intuição,
junta-se uma mente rápida em distinguir feedbacks haverá uma perícia intuitiva
desenvolvida (KAHNEMAN, 2012, p. 301).

Nossa confiança pode levar a uma “perseverança irracional” (KAHNEMAN,


2012, p. 308), onde os erros permanecem invisíveis a própria pessoa, sendo
necessária uma visão de fora (outside view) que se contraponha à nossa visão de
dentro (inside view), pois os julgamentos não levam em consideração a previsão de
linha de base (baseline prediction), ou seja, não olha-se para a categoria ao qual o
fenômeno pertence (KAHNEMAN, 2012, p. 309). Assim, uma linha de base bem
escolhida dará ao agente uma melhor ancora de onde partir para um prognóstico mais
correto.

Erros de previsão causados pela visão de dentro, são chamados de falácias do


planejamento, conceito interessantíssimo para a administração pública e para a
Economia, pois ele diz respeito a planos e projetos que:

• Estão irrealisticamente próximos de hipóteses superotimistas;


• Podem ser melhorados com uma consulta às estatísticas de casos
semelhantes (KAHNEMAN, 2012, p. 311).
Questiona-se as lembrança das obras da Copa do Mundo de 2014. Tirando a
questão da corrupção, este tipo de superconfiança ocasiona projeções sempre
otimistas (o que nem sempre é ruim). Um modo de atenuar seria ao realizar o
prognóstico, enquadrá-lo em uma classe de referência (VLT’s em regiões de mesmo
IDH, seria um começo...), obter as estatísticas acerca desta classe (preço, prazo...) e
ajustar a previsão (observe, que em casos de obras e compras públicas isto deve ser
feito antes do edital, pois este deve ter estes ajustes ao ser lançado). A tomada de

79Keynes usa o termo incerteza dezesseis vezes em sua Teoria Geral do Emprego, do Juros e da
Moeda, sempre se referindo ao futuro.
85

decisão sob a falácia do planejamento foge ao axioma da racionalidade instrumental


pois o agente não decide com base nas informações conhecidas, mas sim em uma
ilusão causada por um sentimento de superconfiança.

Indivíduos otimistas desempenham um papel desproporcional em moldar


nossas vidas. Suas decisões fazem diferença; eles são os inventores, os
empresários, os líderes políticos e militares — não pessoas medianas.
Chegaram aonde chegaram procurando desafios e assumindo riscos. São
talentosos e tiveram sorte, quase certamente mais sorte do que admitem
(KAHNEMAN, 2012, p. 319).
Empresários são otimistas (BUSENITZ, 1997), autoconfiantes (CASSAR,
2009), influenciam as pessoas (HMIELESKI, 2009) e ignoram o risco de fracassar
(COOPER, 1988), se acham superiores aos outros (WILLIANS, 2008). Cumpre
destacar que esta superconfiança leva, invariavelmente a maioria a bancarrota,
alguns, entretanto são o motor do capitalismo80, criando novos produtos, novos ramos
de atividade econômica, inovando. Porém o próprio Smith alerta contra este
sentimento de confiança exagerada:

O conceito exageradamente favorável que a maior parte dos homens tem das
suas próprias capacidades é um mal antigo que os filósofos e moralistas de
todas as épocas tem feito notar. A absurda presunção que mantem no que
respeita à sua boa sorte tem sido menos notada. É, todavia, se possível,
ainda mais universal. Não existe nenhum homem que, achando-se de boa
saúde e bem-disposto, não compartilhe de algum modo desse sentimento
(SMITH, 1993a, p. 245).
É necessário, portanto, evitar que políticas públicas incentivem ainda os
empreendedores, enviesando mais uma decisão já enviesada por risco81, que
negligência a competição (competition neglect), o agente público, neste ponto, deve
ser parcimonioso, naquela mesma discussão entre Sunstein e Slovic, anteriormente
(COELHO, 2004).

4.4.4 ESCOLHAS

Curiosamente foi o economista Bruno Frey, da Economia da Felicidade, crítico


do homem econômico racional quem marcou Daniel Kahneman com a sentença: “O

80 Figura central na Teoria do desenvolvimento de Schumpeter (que cita o termo empresário 280
vezes), ver SCHUMPETER, 1997, sendo fundamental para a teoria dos ciclos de VON MISES, 2010
(que usa o termo empreendedor 469 vezes) e HAYEK, 1933 (que usa apenas 13 vezes).
81 Ver APÊNDICE.
86

agente da teoria econômica é racional e egoísta e seus gostos não mudam”


(KAHNEMAN, 2012, p. 335)82.

Kahneman e Tversky iniciaram suas pesquisas acerca da escolha sob


incerteza, porém discordando dos axiomas de Von Neumann e Morgenstein83 acerca
da teoria da utilidade esperada. O modelo da utilidade esperada funciona em duas
frentes: “como lógica que prescreve como as decisões devem ser tomadas e como
uma descrição de como os “Econs” (THALER, 2008)84 fazem suas escolhas”
(KAHNEMAN, 2012, p. 337). Porém como modelo descritivo esta teoria tem se
mostrado inválida (KAHNEMAN, 1979), Kahneman e Tversky propuseram uma Teoria
do prospecto ou da perspectiva, que

A teoria prospectiva distingue duas fases no processo de escolha: uma fase


inicial de edição e uma fase subsequente de avaliação. A fase de edição
consiste em uma análise preliminar das perspectivas oferecidas, o que muitas
vezes produz uma representação mais simples dessas perspectivas. Na
segunda fase, as perspectivas editadas são avaliadas e a perspectiva de
maior valor é escolhida. Em seguida, descrevemos a fase de edição e
desenvolvemos um modelo formal da fase de avaliação (TVERSKY, 1979).
Onde a avaliação do evento sempre será relativa à um ponto de referência, por
exemplo:

Tabela 4 - Erro de Bernouilli

Riqueza 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
(Milhões)

Unidades 10 30 48 60 70 78 84 90 96 100
de
utilidade
Fonte: KAHNEMAN, 2012, p. 341.

82 Apesar de irreal, o axioma da racionalidade é muito utilizado, o que o principal livro-texto de


microeconomia afirma já na sua introdução alerta para os axiomas de preferênca revelada e da
consistência das mesmas. Ver MAS-COLEL, 1995, p. 5. Estes postulados são tomados à priori (e as
principais críticas à Mises e sua praxeologia seria seu apriorismo.). Escapa da capacidade e do escopo
deste trabalho esgotar tal assunto, mas para aprofundar um pouco mais sobre os problemas da indução
e o método cientifico ver POPPER, 1972, em especial o capítulo 1.
83 Ver VON NEUMANN, 1953, em especial o capítulo 1, outro artigo bastante elucidativo acerca da
forma dos axiomas na análise é o texto para discussão de DEBREU, 1971, p. 54. Mas basta um folhear
em qualquer livro texto de Microeconomia para ver estes axiomas sobre preferência e, por conseguinte,
ao problema da escolha.
84 Termo criado por Richard Thaler que diferencia os humanos reais (Human) do homem econômico
racional (Econs).
87

Na figura 3 que um tomador de decisão terá aversão ao risco devido ao “valor


marginal decrescente da riqueza” (KAHNEMAN, 2012, p. 341), conforme esta
situação:

Hoje Jack e Jill têm cada um uma riqueza de 5 milhões.


Ontem, Jack tinha um milhão e Jill tinha 9 milhões.
Ambos estão igualmente felizes? (Eles têm a mesma utilidade?) (TVERSKY,
1979, p. 342)
Conforme MARKOWITZ85 (1952) destacou a utilidade da riqueza é relacionada
a mudanças do estado da mesma, ou seja, depende de um ponto de referência.

A teoria da perspectiva é assim mais complexa do que a teoria da utilidade.


Em ciência, complexidade é considerada um custo, que deve ser justificado
por um conjunto suficientemente rico de previsões novas e
(preferencialmente) interessantes de fatos que a atual teoria não pode
explicar (KAHNEMAN, 2012, p. 350)
A teoria do prospecto, possui três pontos:

a. Status quo ou ponto de referência neutro;


b. Sensibilidade decrescente a mudança de riqueza;
c. Aversão à perda (TVERSKY, 1979).

Figura 7 - Teoria do prospecto

Fonte: STARMER, in AVILA, 2015, p. 69.

Os dois momentos do gráfico mostram que “uma característica proeminente


é a de ser em forma de S, o que representa sensibilidade decrescente tanto
para ganhos como para perdas. Finalmente, as duas curvas do S não são
simétricas. A inclinação da função muda abruptamente no ponto de
referência: a reação às perdas é mais forte do que a reação aos ganhos
correspondentes. Isso é aversão à perda ( KAHNEMAN, 2012, p. 352).

85 Nobel de Economia em 1990, pela teoria do portfólio.


88

A aversão à perda é um sentimento muito mais forte que o risco de ganhar, daí
a diferença de inclinação na curva, ao estar à esquerda do ponto de referência
(RABIN, 2001).

Apesar das críticas aos Econs, Kahneman destaca que esta é uma discussão
que pode ser desmoralizante ao estudante de graduação de economia, em especial,
com os primeiros contatos com a teoria microeconômica, pois aumentaria a
insatisfação com os axiomas irrealistas e simplórios da realidade (KAHNEMAN, 2012,
p. 356).86 Porém, nega-se que a teoria da utilidade esperada tem respondido bem as
mais diversas necessidades econômicas, mas quando a decisão é tomada
emocionalmente o modelo de racionalidade tem revelado desanimador. Um ponto
falho da teoria da perspectiva é o sentimento da decepção e do arrependimento,
porém as teorias do arrependimento ainda dão a ciência “poucas previsões notáveis
que as distinguiriam da teoria da perspectiva, que tem a vantagem de ser mais
simples” (KAHNEMAN, 2012, p. 358).

Outro efeito que deve ser ressaltado é a dotação (endowment effect), também
correlacionado ao ponto de referência. Por exemplo uma curva de indiferença,

Figura 8 - Curvas de Indiferença

Fonte: DP – internet.

Onde o bem X seja sua Renda e o bem Y seja seu lazer. Com tudo o que foi
apresentado que esta indiferença deve estar atrelada a um ponto de referência, pois
não decidimos simplesmente pelo “mais é melhor que menos”, ponderar os

86 Este ponto é polêmico, pois relegar a discussão a alunos mais adiantados pode levar a um
engessamento epistêmico dos mesmos, pois treinar a mente não é uma tarefa fácil, em especial, se o
sistema 1 já se configurou suas heurísticas para os axiomas da racionalidade instrumental.
89

sentimentos e então definir aquilo que dará maior conforto cognitivo, mesmo que,
racionalmente, não seja a melhor opção (ARIELY, 2010), do mesmo modo que o
axioma da transitividade.

O efeito dotação é quando o agente decide de acordo com sua posição em


relação ao objeto sobre o qual se decide: se for proprietário, ele (por aversão à perda)
definirá um valor maior do que se estivesse na posição de compra. Este efeito não é
universal, depende se o objeto é um “bem para uso” ou “para troca” (KAHNEMAN,
2012, p 367)87. Um interessante conceito de pobreza é descrito por Kahneman: “Ser
pobre, na teoria da perspectiva, é viver abaixo do próprio ponto de referência”
(KAHNEMAN, 2012, p. 372).

O cérebro humano é programado para reagir rapidamente a situações adversas


(ROZIN, 2001), sendo que “As más impressões e os estereótipos ruins são mais
rápidos de se formar e desconstruir do que os bons” (BAUMEISTER, 2001).

A intensidade assimétrica das motivações para evitar perdas e conquistar


ganhos aparece quase em toda parte. É uma característica onipresente nas
negociações, sobretudo nas renegociações de um contrato existente, a
situação típica em negociações trabalhistas e em discussões internacionais
de comércio e limitações de armamentos. Os termos existentes definem os
pontos de referência, e uma mudança proposta em qualquer aspecto do
acordo é vista inevitavelmente como uma concessão que um lado faz ao
outro. A aversão à perda cria uma assimetria que torna os acordos difíceis de
alcançar. As concessões que você faz para mim são meus ganhos, mas são
suas perdas; elas lhe causam muito mais dor do que me dão satisfação.
Inevitavelmente, você vai atribuir a elas um valor mais elevado do que eu. O
mesmo é verdadeiro, sem dúvida, em relação às concessões muito dolorosas
que você exige de mim, às quais você não parece dar valor suficiente!
Negociações sobre um bolo cada vez menor são particularmente difíceis, pois
exigem uma alocação de perdas. As pessoas tendem a ser muito mais
tranquilas quando estão negociando sobre um bolo que está crescendo
(KAHNEMAN, 2012, p. 379).
Assim, um ótimo de Pareto é um argumento poderoso para qualquer mudança,
pois haverá sempre a tendência de achar que, neste processo, cede-se mais do que
recebenas negociações.

A diferença entre um ato moral e de um imoral pode ser tênue, por isso a
punição por um ato considerado ilícito não pode extrapolar aquilo que seja
considerado socialmente moral, pois uma normativa dissociada dos sentimentos
sociais leva ou ao desuso ou a desobediência civil. Pois nosso cérebro sente prazer

87Ver KRUEGER, 2001, sobre um interessante caso no Super Bowl, não é difícil imaginar o mesmo
exemplo para uma final da Libertadores ou um show de algum ídolo, afinal, alguns fãs ficam semanas
acampados para serem os primeiros.
90

(QUERVAIN, 2004) na punição altruísta (quando pune-se quem é visto cometendo


uma injustiça). Isto ocasiona diversas distorções devidos à assimetria entre os
sentimentos de perda e ganho (COHEN, 1992 e KOROBKIN, 2003).

A percepção de probabilidade não é linear, atribuí-se peso (ponderação) a cada


possibilidade para escolher aquela que mais satisfaz a aversão à perda (em última
instância). Exempli gratia, uma possibilidade de 90% de ganhar na Mega Sena é mais
agradável que uma chance de 5%. Esta ponderação contraria o princípio de
expectativa (expectation principle)88, deste modo existe um peso para cada variação
de probabilidade, sendo que esta variação recebe maior peso quando sai do zero, o
efeito possibilidade (possibility effect) e quando alcança os cem por cento, o efeito de
certeza (certainty effect), este peso maior das possibilidades irrisórias explica o
atrativo por loterias e por seguros (visto que a possibilidade de se ganhar na Mega
Sena é irrisória (1/50.000.000, segundo ALMEIDA, 2014).

Em 1952, Maurice Allais (Nobel de Economia de 1998) em um encontro que


contava com Paul Samuelson (Nobel de Economia de 1970), Kenneth Arrow (Nobel
de Economia em 1972) e Milton Friedman (Nobel de Economia de 1976), apresentou
um problema para análise, que foi simplificado por Kahneman nos seguintes termos
(ALLAIS, 1953):

A. 61% de chance de ganhar 520 mil dólares OU 63% de chance de ganhar


500 mil dólares.
B. 98% de chance de ganhar 520 mil dólares OU 100% de chance de ganhar
500 mil dólares (KAHNEMAN, 2012, p. 391).
Na letra A, a maioria das pessoas escolherá a primeira opção, já na letra
Boptará pela a segunda opção (WAGNER, 2009, p. 100-104), mesmo erro cometido
pelos futuros Nobéis de Economia, erro este devido ao fato que os “pesos de decisão
não seriam idênticos a probabilidades” (KAHNEMAN, 2012, p. 392).

Assim Kahneman e Tversky, com base na teoria do prospecto formulam um


padrão quádruplo (fourfold pattern), que pode ser visto na figura 5. Portanto pode-se
perceber que no primeiro quadrante (branco) há uma possibilidade de 95% de chance
de ganhar, a presença do efeito certeza, uma aversão ao risco e uma possibilidade
de aceitar acordos desfavoráveis (pagar por 100% um valor não condizente com a
expectativa). No segundo quadrante (cinza), a alta probabilidade de perda, o efeito de

88 Que afirma que a expectativa de uma probabilidade é igual à sua própria probabilidade, pois o
tomador de risco é racional.
91

esperança de conseguir ganhar induz à busca de risco, propensão a rejeitar acordo


favorável, pois se espera um resultado melhor que o provável. No terceiro quadrante
(vermelho), nota-se a baixa probabilidade de ganho causa o sentimento exagerado de
esperança de ganhar (o que explica a loteria), aqui o efeito de possibilidade, extrapola
qualquer racionalidade, pois se busca o risco de ganhar que é irrisório e novamente
se rejeita um acordo favorável, pois se espera resultado mais favorável que o provável,
compra-se a esperança. No quarto e último quadrante (Verde), há uma pequena
chance de perda, mas o medo desta chance impulsiona a compra de segurança
(explica o mercado de seguros), aqui se aceita um acordo desfavorável, somente para
se comprar a segurança.

Tabela 5 - Padrão Quadruplo

GANHOS PERDAS

95% de chance de ganhar 10 mil 95% de chance de perder 10 mil


ALTA dólares; dólares
PROBABILIDADE
Medo de decepção; Esperança de evitar perda;
Efeito de certeza
AVERSÃO AO RISCO; BUSCA DE RISCO
Aceitação de acordo Rejeição de acordo favorável
desfavorável;

5% de chance de ganhar 10 mil 5% de chance de perder 10 mil


BAIXA dólares; dólares;
PROBABILIDADE Esperança de grande ganho; Medo de grande perda;
Efeito de
possibilidade
BUSCA DE RISCO; AVERSÃO AO RISCO
Rejeição de acordo favorável Aceitação de acordo
desfavorável

Fonte: KAHNEMAN, 2012, p. 395 (adaptação nossa).

Como exposto, o efeito de possibilidade causa um viés de exagerar a estimativa


de eventos raros89, este viés é potencializado pela emoção (ROTTENSTREICH, 2001)

89Como o terrorismo ou guerras, quem tem medo ou não conhece alguém que teria medo de viajar
para a Síria em guerra ou visitar o Iraque, também em Guerra? Mas, estatisticamente, o Brasil é mais
perigoso, pois morrem mais pessoas aqui assassinadas que nestes conflitos.
92

e pela pouca especificidade da variável sob julgamento (FOX, 1999). A decisão


também é instigada pela “fluência, vivacidade e facilidade de imaginar” (KAHNEMAN,
2012, p. 410).

A mente é negligente com o denominador (denominator neglect), onde


informações importantes para a tomada de decisão são negligenciadas pelo sistema
1, que processa apenas superficialmente as variáveis necessárias para a tomada de
decisão (KAHNEMAN, 2012, p. 410).

Kimihiko Yamagishi, professor do Instituto de Tecnologia de Tóquio, desenhou


dois interessantes experimentos para demonstrar a “negligência com a taxa base”
(YAMAGISHI, 1997), onde

Os participantes classificaram o câncer como mais arriscado quando foi


descrito como "mata 1.286 de 10.000 pessoas" do que "mata 24,14 de cada
100 pessoas", e resultados semelhantes foram observados em relação às 10
causas de morte restantes (YAMAGISHI, 1997).
O que também demonstra o poder do “efeito do formato” (KAHNEMAN, 2012,
p. 412) e pelo “viés confirmatório da memória” (KAHNEMAN, 2012, p. 416.

Abaixo alguns problemas formulados por Kahneman:

Decisão (i): Escolha entre:


A. ganho seguro de 240 dólares;
B. 25% de chance de ganhar mil dólares e 75% de chance de não ganhar
nada.
Decisão (ii): Escolha entre:
C. perda segura de 750 dólares;
D. 75% de chance de perder mil dólares e 25% de chance de não perder nada
(KAHNEMAN, 2012, p. 418).
Como na figura 5 acima à revelia da teoria da utilidade, escolhe-se a certeza
de ganho da opção A e paga-se pelo risco de perder mil dólares. Se considerar as
quatro opções, o ganho certo de 240 dólares da opção A seria a opção escolhida. Ao
misturar as opções::

AD. 25% de chance de ganhar 240 dólares e 75% de chance de perder 760
dólares;
BC. 25% de chance de ganhar 250 dólares e 75% de chance de perder 750
dólares (KAHNEMAN, 2012, p. 419).
Oberva-se que a opção BC é dominante em relação a AD, pois a chance de
ganho é maior, assim como a chance de perder é menor. Constata-se que a
“consistência lógica das preferências humanas” (KAHNEMAN, 2012, p. 419).

É possível enquadrar as variáveis de dois modos, no processo decisório:


93

• Enquadramento estreito (narrow framing): uma sequência de duas decisões


simples, consideradas separadamente;
• Enquadramento amplo (broad framing): uma única decisão abrangente, com
quatro opções (KAHNEMAN, 2012, p. 419).

O sistema 1 tende a realizar o enquadramento estreito, o que impede a


consistência das escolhas.

A não ser para os muito pobres, para quem a renda coincide com a
sobrevivência, as principais motivações da busca por dinheiro não são
necessariamente econômicas. Para o bilionário que procura ganhar um bilhão
a mais, e na verdade até para o voluntário de um experimento de economia
que busca um dólar extra, dinheiro é um substituto para pontos em uma
escala de autoimagem e realização. Essas recompensas e punições,
promessas e ameaças estão todas em nossa cabeça. Mantemos os olhos
zelosamente nesse placar. Elas moldam nossas preferências e motivam
nossas ações, como os incentivos fornecidos no ambiente social. Como
resultado, nos recusamos a cortar perdas quando fazer tal coisa seria admitir
o fracasso, tendemos contra ações que possam levar ao arrependimento e
traçamos uma distinção acentuada, mas ilusória entre omissão e comissão
(i.e., o ato de comissionar), entre não fazer e fazer, pois o senso de
responsabilidade é maior para um do que para o outro. A moeda derradeira
que recompensa ou pune é com frequência emocional, uma forma mental de
lidar consigo mesmo que inevitavelmente cria conflitos de interesse quando
o indivíduo atua como um agente em prol de uma organização. (KAHNEMAN,
2012, p. 428).
A todo tempo contabiliza-se tudo relacionado às próprias vidas, dinheiro, em
contas distintas (para o pão de manhã, para o cara mau encarado que guarda carros
na rua perto da escola das crianças). Os Econs sempre estão com uma “visão
abrangente” (KAHNEMAN, 2012, p. 429). Um humano realiza seus cálculos levando
em conta seus sentimentos em relação ao que é calculado, o que, obviamente não se
enquadra nos axiomas de racionalidade.

Um efeito interessante das contas mentais é a falácia do custo afundado (sunk-


cost falacy), onde prefere-se “investir recursos adicionais em uma conta perdedora,
quando melhores investimentos estão disponíveis” (KAHNEMAN, 2012, p. 432)90,
investimentos não apenas monetários, mas de qualquer projeto.

Outra emoção que tem forte peso no cálculo mental é o arrependimento, que é
uma “punição” (KAHNEMAN, 2012, p. 434) auto impingida, enviesando a tomada de
decisão do agente que não quer sentir este arrependimento, reforçando a aversão à
perda, sendo mais intensa na ação que não omissão (KAHNEMAN, 2012, p. 436),

90 A discussão de algumas obras da Copa 2014, em especial os bilhões do VLT...


94

esta é definida em relação ao default esperado (se o padrão é agir e não se age, há o
reforço no arrependimento, por exemplo). O que leva a um senso maior de
responsabilidade moral por eventuais perdas, o que SUNSTEIN (2003, p. 1003 e
JOLLS, 1998) chama de princípio de precaução91.

Até agora constata-se que não soa estranho escutar que as nossas
preferências são passíveis de reversão, pois “a escolha individual depende do
contexto em que as escolhas são feitas” (GRETHER, 1979, p. 634), porém estas se
contextualizam dentro de categorias, através da heurística da representatividade
(KAHNEMAN, 1999, p. 211).

Tversky e Kahneman em seu The framing of decisions (Algo como


enquadramento de decisões) conclui que o sistema 1 percebe a realidade por
quadros, formando a perspectiva a partir da qual o indivíduo toma a decisão, sendo
que este enquadramento é emocional, que podem eventualmente levar a erros de
julgamento (KAHNEMAN, 2012, p. 457-460).

4.5 NEUROECONOMIA OU TEORIA GERAL DA DECISÃO

Após este voo panorâmico acerca da Economia Comportamental, que não tem
a pretensão de esgotar o assunto, objetiva-se traçar alguns pontos essenciais para
uma tomada de decisão, campo que a Economia trouxe da Psicologia (GLIMCHER,
2009, p. 3).

A mente prega peças nas pessoas, ao que Simon chama de heurísticas e


vieses (ver Glossário, com uma lista atualizada dos vieses conhecidos). Assim, são
introduzidas ao conceito de arvore de decisão que, não é racional (ao menos limitada,
nos termos de Herbert Simon), abaixo será apresentado um exemplo aleatório,
extremamente simples de alocação de renda:

91Que ele reputa ser custoso e se levado ao extremo se torna paralisante. O que nos teria privado de
várias comodidades modernas, como o avião, o antibiótico...(na verdade, toda e qualquer decisão, pois
decidir evoca risco).
95

Figura 9 - Árvore de decisão

utilizar
renda

investir consumir

renda renda
Comida Vestuário
fixa variável

Fonte: o autor, 2017.

Observe que há uma relação de probabilidade na decisão em que investir seria


p e consumir seria 1-p, relação esta que seguiria ad infinito conforme avançar nas
decisões, pode-se reiterá-las (segundo o modelo de homem econômico racional)
analisando as probabilidades de modo a maximizar meus ganhos e minimizar as
perdas, mesmo com informação assimétrica. Considerando que as decisões sejam
racionais e consistentes obtém-se um modelo de razoável previsibilidade. Porém
vimos que nossa percepção da realidade é enviesada por inúmeros fatores, a maioria
até mesmo inconsciente. Pois esta decisão é tomada através de respostas neuronais
a estímulos e neurotransmissores específicos.
96

Figura 6 - Tomada de decisão neural

Fonte: Nature, 494, 14 de fevereiro de 2013, p.178.

A Neuroeconomia se intitula como uma Teoria Geral da Decisão, um campo


multidisciplinar que estuda desde as sinapses neurológicas e seus
neurotransmissores, à decisão social como senso de justiça, para tanto é um campo
da Economia Comportamental que se utiliza de conhecimentos que vão da genética
à sociologia (GLIMCHER, 2009, p. 9).

Não abordar-se-á as minúcias neurológicas, apenas a descrição de como se


entende o processo de tomada de decisão para a Economia Comportamental:

O agente possui um sistema dual de cognição da realidade, um sistema 1 e 2,


como na seção 3.4.1 acima. Estes sistemas são responsáveis por toda a apreensão
97

da realidade por parte do indivíduo, a Neuroeconomia pontua que o processo de


tomada de decisão passa pela:

1. Avaliação92, que depende de um ponto de referência93, (TVERSKY, 1979);


2. Representação94 simplificada da realidade (complexa, como na seção 3.2,
acima);
3. Seleção da ação95;
4. Avaliação dos resultados96 e;
5. Aprendizagem97. (GLIMCHER, 2009).

Estes passos, estão sujeitos as heurísticas e seus vários vieses cognitivos. Na


figura 6 o sistema nervoso reage à um estímulo de três diferentes formas (4, se ignorar
o estímulo) de crescente complexidade, compatível com a complexidade da realidade
avaliada e representada:

a. “Resposta autônoma aprendida” e os “reflexos”, oriundos da medula espinhal98;


b. “Ações implícitas”, oriundos do Córtex primário e/ou Secundário e/ou
Associativo e/ou Amídala99 e Córtex orbito frontal100 e o Nucleus Accumbeus101
do Estriado ventral102, hipotálamo103 e córtex pré motor;
c. “Ações explicitas”, resultado dos córtex primário, secundário, associativo,
amídala, Córtex orbito frontal e do Córtex Linguistico (ROLLS, 2012)

92 Léxico citado 269 vezes no manual Neuroeconomics (GLIMCHER, 2009).


93 A teoria da perspectiva de Kahneman e Tversky
94 Citado 493 vezes, ibidem.
95 Citado 94 vezes, ibidem.
96 Citado 688 vezes (outcomes), ibidem.
97 Citado 942 vezes, ibidem.
98 Citado 16 vezes, ibidem.
99 Citada 133 vezes, ibidem.
100 Citado 110 vezes, ibidem.
101 Citado 125 vezes, ibidem.
102 Citado 105 vezes, ibidem.
103 Citado 38 vezes, ibidem.
98

Figura 10 - Sistema dual de tomada de decisão

Fonte: ROLLS, 2012.

Tanto a Amídala, o Córtex orbito frontal e o Estriado Ventral são regiões ligadas
às emoções (DAMASIO, 2000b), deste modo corroborando a hipótese de que a
Emoção é uma macroheurística, juntamente com a disponibilidade, pois esta é muito
influenciada pela emoção da memória disponibilizada pelo sistema 1 (KAHNEMAN,
2012, p. 167).

Neurologicamente afirma-se que o Sistema 1, intuitivo e emotivo está no grupo


de neurônios do Córtex Orbito frontal (OFC – Orbitofrontal cortex) e no Nucleus
Accumbeus (NAcc), enquanto o sistema 2 está no Córtex dorsolateral pré frontal
(DLPFC – dorsolateral prefrontal cortex).

Um dos grandes insights de toda Economia Comportamental que este trabalho


é o conceito de conforto cognitivo (cognitive ease)104. No capítulo 3 a tarefa do sistema
1 é construir uma narrativa de modo a dar ordem a realidade observada ou
cognoscível (vide figura 10). Tomam-se decisões com base no conforto cognitivo que
esta decisão nos causa, ou seja, com base nas emoções. Diante ao exposto, é
possível concluir que o indivíduo não irá consumir toda nossa renda em um celular
ultramoderno, com funções que nunca iremos utilizar, com capacidade de
processamento superior a vários PC’s de alguns anos atrás porque opta-se em

104 “O termo técnico para conforto cognitivo é fluência (fluency)” (KAHNEMAN, 2012, p. 562.
99

maximizar racionalmente a utilidade, mas pelo gosto de ter o celular em mãos e de


possuí-lo ou até mesmo para impressionar o sexo oposto em um moderno e complexo
processo de acasalamento (MILLER, 2012).

Figura 11 - Conforto cognitivo

Fonte: Kahneman, 2002, p.79.


100

5 RESULTADOS

5.1 THEORY OF MORAL SENTIMENTS

A Theory of Moral Sentiments (TMS) possui 150.981 léxicos, sendo 5.141


formas ativas (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios), não existe grande
repetição de palavras, como na figura 12, que os pontos esparsos denotam que há
poucas palavras próximas de 1000 repetições.

Figura 12 - Log de frequência lexical - TMS

Fonte: IRaMuTeQ, o autor, 2017.

O programa identificou 6 classes de palavras, ou fatores de análise, e são vistas


as principais palavras de cada fator em cores distintas.

+-+-+-+-+-+-+-+-+
|i|R|a|M|u|T|e|Q| - Sat Feb 18 00:52:00 2017
+-+-+-+-+-+-+-+-+
Number of texts: 1
Number of text segments: 4259
Number of forms: 7225
Number of occurrences: 150981
Número de lemas: 5141
Number of active forms: 4784
101

Número de formas suplementares: 357


Número de formas ativas com a frequência >= 3: 2456
Média das formas por segmento: 35.449871
Number of clusters: 6
3567 segments classified on 4259 (83.75%)
###########################
tempo : 0h 1m 42s
###########################

Conforme figura 13, deve-se ler de cima para baixo, o software dividiu o corpus
em duas classes de palavras, porém estas não eram estáveis pois haviam muitos
segmentos de textos com palavras não semelhantes, estabilidade que foi alcançada
na terceira classificação onde foram encontradas 6 classes:

Figura 13 - Classificação Hierárquica Descendente - TMS

Fonte: IRaMuTeQ, o autor, 2017.

A posição de cada palavra, na figura 14, denota a sua dipersão em relação ao


fator, o tamanho o peso desta no mesmo. O fator 1 é claramente ligado aos
102

sentimentos e as emoções e o 2 à racionalidade. O algoritmo identificou que os fatores


1, 5 e 6 possuem ligação, estes perfazem 56,3% dos léxicos constantes do texto. Os
fatores 2, 3 e 4, por sua vez, são ligados e perfazem 45,7%. O texto ocupa quatro
quadrantes, abarcando uma grande quantidade de conceitos e ideias. O que
corrobora a visão de Smith ser TMS sua principal obra.

Figura 14 - Análise Fatorial - TMS

Fonte: o autor, 2017.


103

A núvem de palavras, da figura 15, mostra que a principal preocupação de


Smith é o homem105, palavra utilizada 715 vezes ao longo do texto, e se somar as 403
vezes de pessoa, resulta um total de 1.118 vezes. Sentir, com 372 vezes e sentimento
com 320 vezes, mostram a importância do sentimento para o corpus textual.
Corroborando assim a leitura de que a emoção é fundamental para o processo de
tomada de decisão. A tabela 8, no Anexo 2, dá uma visão de quantos léxicos podem
ser considerados ligados à ideia de racionalidade ou, em termos smithianos, ao
espectador imparcial. Na análise fatorial e pela quantidade de léxicos nota-se o
sistema dual de cognição, novamente corroborando ao citado anteriormente. Outras
palavras de interesse são razão e razoável, com 114 citações.

Figura 15 - Nuvem de palavras - TMS

Fonte: o autor, 2017.

105 Para facilitar a visualização, os léxicos serão sublinhados.


104

5.2 WEALTH OF NATIONS

A Wealth of Nations (WN) é uma obra bem mais robusta que TMS, possuindo
378.057 léxicos, sendo 6.617 ativos (Substantivos, verbos, adjetivos e advérbios).
Novamente vimos que os pontos esparsos no eixo da frequência nos mostra que
poucas palavras ultrapassam o milhar e milhares são citadas apenas uma vez, ao
longo do texto.

Figura 16 - Log de frequência lexical - WN

Fonte: o autor, 2017.

O programa identificou 5 classes de palavras, ou fatores de análise, as


principais palavras de cada fator são vistas em cores distintas.

+-+-+-+-+-+-+-+-+
|i|R|a|M|u|T|e|Q| - Sat Feb 18 02:38:45 2017
+-+-+-+-+-+-+-+-+
Number of texts: 1
Number of text segments: 10613
Number of forms: 9461
Number of occurrences: 378057
Número de lemas: 6617
Number of active forms: 6239
Número de formas suplementares: 378
Número de formas ativas com a frequência >= 4: 2601
105

Média das formas por segmento: 35.622067


Number of clusters: 5
8602 segments classified on 10613 (81.05%)
###########################
tempo : 0h 4m 34s
###########################

Conforme figura 17 abaixo:

Figura 17 - Classificação Hierárquica Descendente - WN

Fonte: o autor, 2017.

A posição de cada palavra, na figura 18, denota a sua dipersão em relação ao


fator, o tamanho o peso desta no mesmo. O fator 1 é claramente ligado ao que Smith
conhecia por jurisprudência e possui 23,6% dos léxicos, daí sua pouca ligação com
os outros 4 restantes. O algoritmo identificou que os fatores 2 a 5 possuem ligação,
estes perfazem 76,4% dos léxicos constantes do texto. Ao identificar o fator 2 como
de produção, o 3 como mercado, estes tem ligação direta entre si, o 4 pode ser o
mercado externo, e é ligado aos anteriores e o 5 é o monetário e está relacionado aos
três anteriores e ao de direito.
106

Figura 18 - Análise fatorial - WN

Fonte: o autor, 2017.

Na figura 18, constata-se com clareza que os fatores 1 e 5 são bem


independentes dos demais, que estão imiscuídos entre si. Formando três grandes
grupos idiomáticos.

A visão da Nuvem de palavras, da figura 19, corrobora a tese de que não há


um Das Adam Smith Problem, mas sim um enfoque diferente as obras. Enquanto na
TMS, Smith tem como maior preocupação o homem, aqui se destaca o léxico país,
com 1.810 citações. Outra diferença visualmente notável é que na nuvem da TMS lê-
107

se grande homem, nesta grande país, mas sem esquecer que mesmo no WN ter um
enfoque nacional, já o léxico pessoas, citado 965 vezes.

Figura 19 - Nuvem de palavras - WN

Fonte: o autor, 2017.

5.3 HISTORY OF ASTRONOMY

The History of Astronomy (HoA) é um opúsculo constante no Essays on


Philosophical Subjects, o qual ficou durante mais de cem anos esquecido, sendo
somente a biografia de Smith escrita por Dugald Stuart lançada ainda em 1793, sendo
que somente na 8ª edição foi lançada a HoA (RAPHAEL IN SMITH, 1982c, p. 5-8).
108

Possui apenas 30.540 léxicos, sendo 2.431 ativos (substantivos, adjetivos, verbos e
advérbios).

Figura 20 - Log de frequência lexical - HoA

Fonte: o autor, 2017.

Na figura 20 de log de frequência, há poucas repetições, sendo que poucos


léxicos, repetidos, sendo movimento, a palavra mais citada apenas 195 vezes.

O algoritmo identificou 4 fatores, na figura 21, sendo que os 2 e 4, dizem


respeito à filosofia da ciência de Smith, perfazendo cerca de 56,9% da frequência
lexical, e os fatores 1 e 3, dizem respeito a astronomia, com cerca de 43,1%, restantes.

+-+-+-+-+-+-+-+-+
|i|R|a|M|u|T|e|Q| - Sat Feb 18 15:41:35 2017
+-+-+-+-+-+-+-+-+
Number of texts: 1
Number of text segments: 861
Number of forms: 3069
Number of occurrences: 30540
Número de lemas: 2431
Number of active forms: 2122
Número de formas suplementares: 309
Número de formas ativas com a frequência >= 3: 836
Média das formas por segmento: 35.470383
Number of clusters: 4
109

693 segments classified on 861 (80.49%)


###########################
tempo : 0h 0m 13s
###########################

Como no abaixo:

Figura 21 - Classificação Hierárquica Descendente - HoA

Fonte: o autor, 2017.

O desenho da figura 22 mostra que a interligação entre os fatores 1 e 3 é muito


mais forte que entre os 2 e 4. O fator 2 diz repeito às emoções como determinantes
na escolha do paradigma ciêntifico utilizado. No capítulo 2, Smith considera a busca
pelo conhecimento uma forma de aplacar o sentimento de maravilhamento pela
realidade, que não é explicada a contento pela ciência atual, daí a necessidade de
uma nova teoria que satisfaça à mente maravilhada.
110

Figura 22 - Análise fatorial - HoA

Fonte: o autor, 2017.

A visão da nuvem de palavras não nos trás muitas informações, apenas reforça
o cuidado de Smith com sua epistemologia, que se assemelha a Aristóteles e à
Newton, no capítulo 2. Os léxicos com maior destaque são movimento, com 195
citações, sistema, com 164 citações, terra e sol, com 146 e 140 citações,
respectivamente. Imaginação, com 80 citações, observação e a dupla natureza e
natural, com um total de 122 citações.
111

Figura 23 - Nuvem de palavras - HoA

Fonte: o autor, 2017.

5.4 THINKING FAST AND SLOW

No capítulo 3, Daniel Kahneman recebeu o Nobel de Economia de 2002, sendo,


portanto, o único prêmio recebido pela Economia Comportamental. O livro lançado em
comemoração do recebimento do prêmio, Thinking fast and Slow (FSL) possui
171.025 léxicos, sendo 7.697 ativos (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios). A
figura 24 não traz informações diferentes do que as apresentadas até agora, poucos
léxicos com muitas repetições.
112

Figura 24 - Log de frequência lexical - Tfs

Fonte: o autor, 2017.

A figura 25 nos mostra que o programa identificou 4 fatores, que podem ser
assim chamados:

1. Predição, com 30% da frequência;


2. Sistemas, com 30,6% de frequência;
3. Experiência, com 15,9% de frequência e;
4. Perda, com 23,4% de frequência.

+-+-+-+-+-+-+-+-+

|i|R|a|M|u|T|e|Q| - Sat Feb 18 15:45:48 2017


+-+-+-+-+-+-+-+-+
Number of texts: 1
Number of text segments: 4606
Number of forms: 10498
Number of occurrences: 171025
Número de lemas: 7697
Number of active forms: 7116
Número de formas suplementares: 581
Número de formas ativas com a frequência >= 4: 2399
Média das formas por segmento: 37.130916
Number of clusters: 4
4389 segments classified on 4606 (95.29%)
113

###########################
tempo : 0h 1m 1s
###########################

Visualmente:

Figura 25 - Classificação Hierárquica Descendente - TFS

Fonte: o autor, 2017.

A figura 26, mostra a estreita ligação entre os fatores 2 e 3 e a relativa distância


entre estas e a 4. Entende-se esta relação entre experiência e sistema como natural,
afinal, existem muitos léxicos com similitude entre eles, que levam a uma ideia de
sistemas de cognição. O fator, predição é uma consequência dos 2 e 3, e estes três
levam ao entendimento do fator 4, perda.
114

Figura 26 - Análise fatorial - TFS

Fonte: o autor, 2017.

Já a nuvem de palavras da figura 27 é mais esclarecedora. Ao visualizar de


imediato a palavra pessoa, com 586 citações como a principal, aos quais se somar as
187 citações de indivíduo, 773 citações, além de sistema, com 535, corroborando
nossa leitura de sistema dual de cognição, no capítulo 3. Outras palavras
interessantes para nós são perda, 304 vezes, heurística, citada 115 vezes, afeto, 58
vezes, confiança e confiança excessiva, 81 vezes, razão e razoável, 133 vezes.
115

Figura 27 - Nuvem de palavras - TFS

Fonte: o autor, 2017.

5.5 HEURISTIC AND BIASES

Esta coletânea reúne artigos dos principais autores da Economia


Comportamental acerca do tema. É um livro grande, com 959 páginas e 317.920
léxicos, destes sendo 10.575 ativos (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios).
116

Apesar do pequeno “calo” da figura 28, que apenas reflete léxicos suplementares106,
não há muitos léxicos repetidos.

Figura 28 - Log de frequência lexical - HaB

Fonte: o autor, 2017.

Na figura 29 3 fatores se assemelham aos da seção anterior:

1. Probabilidade, que englobou sujeito, taxa, classificação, com 33,4% de


frequência;
2. Experiência, com participante, lembrar, otimista, com 32,1% de frequência;
3. Heuristica, que engloba o léxicos importantes como sistema, cognição,
processo e razão, 34,2% de frequência.

+-+-+-+-+-+-+-+-+
|i|R|a|M|u|T|e|Q| - Sat Feb 18 22:26:14 2017
+-+-+-+-+-+-+-+-+
Number of texts: 1
Number of text segments: 8932
Number of forms: 14251

106 Aparecem 3.007 vezes for e salta para 4.184 is.


117

Number of occurrences: 317920


Número de lemas: 10575
Number of active forms: 10124
Número de formas suplementares: 451
Número de formas ativas com a frequência >= 7: 2629
Média das formas por segmento: 35.593372
Number of clusters: 3
7381 segments classified on 8932 (82.64%)
###########################
tempo : 0h 2m 15s
###########################

Os fatores 2 e 3 ainda posuem ligação e este com o 1, nada surpreendente


pela descrição dos mesmos.

Figura 29 - Classificação Hierárquica Descendente - HaB

Fonte: o autor, 2017.


118

A distribuição dos léxicos de forma simétrica, figura 30, o que reflete a


distribuição vista na figura anterior.

Figura 30 - Análise Fatorial - HaB

Fonte: o autor, 2017.

A análise visual da nuvem de palavras, na figura 31, abaixo, evidencia a


semelhança com o que vimos em TFS, no centrolê-se julgamento com 1.336 citações
e pessoa com 1.288, como as ideias principais do corpus, estudo completa a tríade
de citações com mais de mil aparições com 1.045 citações. Palavras que são
interessantes para nosso estudo e que merecem destaque são vieses, com 896
citações, sujeito, com 770, heurística com 650, indivíduo com 409, razão com 404,
decisão com 392, afeto com 251, sistema com 295 e os diversos léxicos sobre
emoções.
119

Figura 31 - Nuvem de palavras - HaB

Fonte: o autor, 2017.

5.6 NEUROECONOMICS

Neuroeconomics, também é uma coletânea de capítulos escritos pelos


principais nomes da economia comportamtal que pesquisem neurociência. Com
cercade 512 páginas e 267.984 léxicos não é um texto longo, porém o assunto e os
léxicos ativos, 8.888, tendem a se distanciar um pouco do que vimos até aqui. A
inclinação da curva de log de frequência dos léxicos não difere do até aqui visto.
120

Figura 32 - Log de Frequência lexical - Neuroeconomics

Fonte: o autor, 2017.

Há novamente apenas três fatores, são eles:

1. Probabilidade, com os léxicos função, risco, peso, loteria entre outros, com
cerca de 34,5% de frequência;
2. Neurônio, com os léxicos córtex, atividade, estriado, área, dopamina, entre
outros diversos, com 33,1% de frequência e;
3. Economista, com os léxicos Neuroeconomia, economia, econômico, teoria,
compreender, entre diversos outros, com 32,4% da frequência.

+-+-+-+-+-+-+-+-+

|i|R|a|M|u|T|e|Q| - Sat Feb 18 20:46:50 2017


+-+-+-+-+-+-+-+-+
Number of texts: 1
Number of text segments: 7484
Number of forms: 11811
Number of occurrences: 267984
Número de lemas: 8888
Number of active forms: 8442
121

Número de formas suplementares: 446


Número de formas ativas com a frequência >= 5: 2611
Média das formas por segmento: 35.807590
Number of clusters: 3
4863 segments classified on 7484 (64.98%)
###########################
tempo : 0h 2m 13s
###########################

Visualmente:

Figura 33 - Classificação Hierárquica Descendente - Neuroeconomics

Fonte: o autor, 2017.

A distribuição demonstra os fatores identificaram as três ideias bem distintas


no texto, o que não surpreende, pois se trata de texto de divulgação que, apesar da
linguagem técnica e ao corpo de colaboradores pretende apresentar este campo que
122

mistura economia e neurociência, que são os fatores 3 e 2, respectivamente, sendo o


fator 1 algo mais familiar aos TFS e HaB, analisados nas seções anteriores.

Figura 34 - Análise fatorial - Neuroeconomics

Fonte: o autor, 2017.

As cinco principais palavras do texto são escolha, com 1.348 citações; decisão,
com 1.284 citações; modelo com 1.268 citações; valor, 1.232 e recompensa, 1.189
vezes. Como escolha e decisão são similares infere-se que a grande ideia do texto é
123

decisão, ainda mais com as 420 citações de escolher que totaliza cerca de 3.052
citações, o que corrobora com o texto do capítulo anterior, que o campo de pesquisa
da Neuroeconomia é a Teoria da decisão. Outras palavras que demonstram ser
interessantes para esta pesquisa são sujeito, 693 vezes; cérebro, 546; humano, 539;
emoção, 360; afeto, 144; viés, 104.

Figura 35 - Nuvem de palavras - Neuroeconomics

Fonte: o autor, 2017.


124

6 A TEORIA DA DECISÃO EMOCIONAL

6.1 ADAM SMITH E A ECONOMIA COMPORTAMENTAL

O caminho trilhado até agora tentou ser o mais claro possível, de modo a evitar
maiores surpresas à resposta da questão suscitada na Introdução, assim como o
atingimento do objetivo pretendido, corroborando as hipóteses aventadas. Este
capítulo responderá a estas indagações.

O homem para a Comportamental107 não difere muito do homem de Smith, toma


decisões com base em seus sentimentos para este e com base no conforto cognitivo
para aquela. O modelo smithiano de tomada de decisão é bastante simples perto da
quantidade de vieses que interferem na percepção do ambiente e na tomada de
decisão, mas o insight de tomar decisões espelhando-se no que os outros pensarão
de nós encontra respaldo na moderna ciência comportamental, em especial na
questão das decisões morais.

Atualizando o homem de Smith com os conhecimentos da Economia


comportamental seria possível encontrar um homem que decida de modo encontrar o
maior conforto cognitivo, porém devido à questão evolucionária, océrebro ele otimiza
o custo energético, pois a glicose é escassa (não resisti a graça). Assim, em meio a
inúmeras heurísticas construídas ao longo da vida (Smith tinha noção que a tomada
de decisão se encaixava em um modelo, considera-se uma heurística)108, levam a
outros tantos inúmeros vieses cognitivos, tanto uns quanto outros nem sempre
conscientes. Este conforto é dado pela narrativa criada pelo sistema 1 para ter uma
boa autoimagem, mesmo em questões objetivamente imorais, a auto percepção dará
uma imagem positiva acerca de si mesmo.

Em um muito interessante artigo, Nava Ashraf, Colin F. Camerer e George


Loewenstein descrevem outros paralelos dos insights smithianos que a

107Não se pretende uniformizar e/ou esgotar os diversos estudos de Comportamental, Neuroeconomia


e Economia experimental, esta afirmação se dá em função dos trabalhos aqui expostos, em especial
aos trabalhos de Kahneman, único Nobel até agora da Comportamental.
108 Vide nota de rodapé 82.
125

comportamental e comprovam que Smith é, claramente, um economista


comportamental109. Segundo os autores, o espectador imparcial é muito similar ao que
a comportamental chama de “planejador” que “que entra em conflito com os atores
míopes”, além de funcionar socialmente como a consciência, um autocontrole, o que
é atualmente campo de pesquisa da comportamental também (ASHRAF, 2005).
Outrossim, o conceito de Smith para o Espectador imparcial como a razão e
consciência, citado na página 54 desta dissertação e 166 da Teoria dos Sentimentos
Morais.

No capítulo 2 o modelo de decisão de Smith possui dois níveis ou modelos de


cognição: um emocional/intuitivo que corresponde ao amor de si e a simpatia e um
racional que é o expectador imparcial.

Smith, em Teoria dos Sentimentos Morais, usa 34 vezes a expressão two


different: “aspectos”, “relações”, “esforços”, “padrões”, “caminhos”, “modelos”,
“aspectos” etc, deixando patente seu entendimento sobre o processo dual de tomada
de decisão.

Dois modelos de diferentes, dois retratos diferentes oferecem-se a nós,


segundo os quais podemos desenhar nosso próprio caráter e
comportamento; um mais vistoso e brilhante em suas cores; outro, mais
correto e mais sutilmente belo em seu contorno; um, impondo-se a too olho
errante; outro, atraindo a atenção de quase ninguém, senão do observador
mais atento e cuidadoso (SMITH, 2002, p. 73).
A figura 8, capítulo 2, deixa isso bem claro, pois, a simpatia se dá através do
sentimento, como uma “solidariedade com qualquer paixão” (SMITH, 2012, p. 8). E o
espectador imparcial é a “razão”, “homem interior”. Este dualismo fica mais claro, após
uma breve análise dos léxicos utilizados no texto de Teoria dos Sentimentos Morais.

Percebe-se que o modelo smithiano é dual, mas intui que a emoção tem um
papel preponderante. O que as modernas pesquisas tem dito acerca destes pontos?
No capítulo anterior, mais especificamente, na sub-seção 3.4.1 e seção 3.5 a mente
realmente possui um sistema dual de percepção e de tomada de decisão. Jonathan
Evans, em 2008, escreveu um artigo de revisão acerca do tema, a seguir a tabela por
ele construída:

Tabela 6 - Revisão de literatura acerca do dual process

109 Conforme subentendido nas notas de rodapé 23, 24, 25, 27 e 30, referentes a heurísticas e as 29 e

42 que se referem ao duplo modo de percepção da realidade..


126

Referências Sistema 1 Sistema 2

Fodor (1983, 2001) Módulos de entrada Cognição superior

Schneider & Schiffrin (1977) Automático Controlada

Epstein (1994), Epstein & Pacini Experiencial Racional


(1999)

Chaiken (1980), Chen & Chaiken Heurístico Sistemático


(1999)

Reber (1993), Evans & Over (1996) Implícito / tácito Explícito

Evans (1989, 2006) Heurístico Analítico

Sloman (1996), Smith & DeCoster Associativo Baseado em regras


(2000)

Hammond (1996) Intuitivo Analítico

Stanovich (1999, 2004) Sistema 1 (TASS) Sistema 2 (analítico)

Nisbett et ai. (2001) Holística Analítico

Wilson (2002) Inconsciência adaptativa Consciente

Lieberman (2003) Reflexivo Reflexivo

Toates (2006) Estímulo Ordem superior

Strack & Deustch (2004) Impulsivo Reflexivo

Fonte: EVANS, 2008.


127

A seção 3.5 do capítulo anterior também deixou claro que a decisão é dual, na
figura 6, na citada seção, tanto as ações implícitas quanto as explicitas utilizam-se de
grupos neuronais ligados ao raciocínio como os do Córtex associativo e o linguístico
e o Córtex orbito frontal quanto aos grupos neuronais relacionados á emoção como a
Amídala, o Nucleus Accumbeus, do Estriado ventral.

Dessa forma, conclui-se que há um sistema dual de tomada de decisão em


Smith, que é o paradigma atual da economia comportamental: um sistema 1 emotivo
e intuitivo, ao que Smith chama de simpatia e do amor de si (ou as paixões da alma
sensitiva em uma linguagem mais aristotélica) e um sistema 2 mais racional, analítico,
frio, insensível, ao que Smith deu o nome de espectador imparcial.

Na Teoria dos Sentimentos Morais há uma série de locais onde a emoção toma
um papel importante na tomada de decisão, pois ela é quase que eminentemente
emocional. A emoção é um princípio da natureza que molda sos sentimentos,
simpatizar com o medo, dor e alegria alheio (SMITH, 2002, p. 8), dá o senso de
conveniência ou não de uma ação (ibidem, p. 17), é “indecente” expressar (ibidem, p.
30), portanto “predispostos” a simpatizar (ibidem, p. 35), é “irresistível” (ibidem, p. 58).
O texto da Teoria dos Sentimentos Morais é repleto de léxicos que evocam emoção,
muito mais que razão.

Estudos neurológicos demonstram que a tomada de decisão é eminentemente


emocional (DAMASIO, 2010 e 2003), a Neuroeconomia110 pretende dar um maior rigor
científico à microeconomia (CAMERER, 2007) em especial ao estudo da tomada de
decisão. As emoções concentram-se, principalmente, no Estriado Ventral e no córtex
orbito frontal (DAMASIO, 2000b), nada mais presente na obra de Smith que a tomada
de decisão emocional, citada diversas vezes no capítulo 2. Cumpre lembrar que para
Smith até a pesquisa científica é feita com base nos sentimentos111, graças ao
maravilhamento pela realidade observável.

Damasio conta vários casos de pessoas que tiveram seus cérebros


danificados, por doença ou acidentes, e não conseguiram mais tomar decisões e ter
uma vida normal. Phineas Cage teve seu crânio perfurado por uma barra de metal e

Campo do conhecimento que reúne conhecimentos da Neurologia, da Psicologia e da Economia de


110

modo a ter uma visão mais completa da Tomada de decisão.


111 Vide página 32, acima.
128

a partir daí mudou seu comportamento, de comedido e racional para desbocado e


explosivo. Elliot teve parte de seu cérebro danificado por um tumor e, apesar de
manter a personalidade anterior, não conseguiu retornar ao trabalho e ficou
emocionalmente anestesiado, não conseguindo tomar decisões razoáveis. Estes
casos, e outros narrados e pesquisados por Damasio, indicam que a emoção é não
só importante para a tomada de decisão, como fundamental (DAMASIO, 2010). Pois
estas “precedem os sentimentos” (DAMASIO, 2009) e são fundamentais na
construção identária da consciência (DAMASIO, 2011).

Em Teoria dos Sentimentos Morais compreende-se

Que a dor é, em quase todos os casos, uma sensação mais pungente do que
o prazer oposto e correspondente. Uma quase sempre nos faz cair muito
abaixo do comum, ou do que se pode chamar natural estado de felicidade,
do que outro porventura os ergue acima dele (SMITH, 2012, p. 152).
Uma clara aversão à perda, 200 anos antes de Kahneman e Tversky
formularem tal viés.

Outro viés comportamental encontrado em Smith é a “subestimação dos custos


de oportunidade em relação aos custos de desembolso”, assim:

Portanto, a violação da propriedade, o roubo e o assalto, que nos tiram aquilo


de que temos a posse, são crimes maiores do que quebra de contrato, a qual
apenas nos frustra quanto a algo de que estávamos a espera (SMITH, 2002,
p. 104).
Em que o custo de oportunidade é visto como um ganho perdido e não como
uma perda, daí a derivação da aversão à perda (ASHRAF, 2005).

Para Smith as paixões não conseguem fazer escolhas intertemporais, pois:

O prazer que usufruiremos dentro de dez anos nos interessa tão pouco em
comparação com o que talvez gozemos hoje; a paixão que o primeiro
desperta é, naturalmente, tão fraca em comparação com a violenta emoção
que o segundo pode ocasionar, que um jamais poderia compensar o outro, a
não ser amparado pelo senso de conveniência, pela consciência de que
merecemos a estima e a aprovação (SMITH, 2002, p. 233).
Papel este desempenhado por

Este (espectador imparcial) não experimenta as súplicas de nossos apetites


presentes. Para ele, o prazer que vamos usufruir dentro de uma semana ou
um ano é tão interessante quanto o que estamos usufruindo neste instante
(SMITH, 2002, p. 232).
O que hoje a comportamental trata de “modelos de descontos quase-
hiperbólicos”, e que pesquisas neuroeconômicas descobriram que as decisões
intertemporais entre prazeres presentes e futuros, os presentes ativam as regiões
ligadas à emoção, as futuras não (ASHRAF, 2005).
129

No capítulo 2 Smith, na Riqueza das Nações, aborda o que hoje os economistas


comportamentais chamam de excesso de confiança (explanado no capítulo anterior).

A imaginação simpática é pedra fundante da teoria smithiana, porém ele


mesmo reconhece que ela não é plenamente confiável acerca das decisões morais,
como neste exemplo chamado pelo próprio de simpatia no qual sente-se quase nada
pela desgraça alheia:

Suponhamos que o grande império da China, com suas miríades de


habitantes, fosse subitamente engolido por um terremoto, e imaginemos
como um humanitário na Europa, sem qualquer ligação com aquela parte do
mundo, seria afetado ao receber a notícia dessa terrível calamidade. Imagino
que, antes de tudo expressaria intensamente sua tristeza pela desgraça de
todos esses infelizes, faria muitas reflexões melancólicas sobre a
precariedade da vida humana e a vacuidade de todos os labores humanos,
que num instante puderam ser aniquilados. Além disso, se fosse um homem
especulativo, talvez ponderasse muitos raciocínios sobre os efeitos que este
desastre poderia produzir no comércio da Europa em particular, e nas
transações e negócios do mundo em geral. E quando todos esses
sentimentos humanos tivessem encontrado sua expressão definitiva,
continuaria seus negócios ou seu prazer, teria seu repouso ou sua diversão,
com o mesmo relaxamento e tranquilidade que teria se tal acontecimento não
tivesse ocorrido. O mais frívolo desastre que se abatesse sobre ele causaria
uma perturbação mais real. Se perdesse o dedo mínimo de manhã, não
dormiria de noite; mas desde que nunca os visse, roncaria na mais profunda
serenidade ante a ruína de centenas de milhares de seus irmãos (SMITH,
2002, p. 165-166).
Ou quando, inversamente, sente-se muito mais do que aquele que experimenta
a emoção primária:

Quais são as dores de uma mãe quando ouve os gemidos de seu filhinho
que, na agonia da enfermidade, não consegue expressar o que sente? Na
sua ideia do que a criança está sofrendo, ela soma ao desamparo da criança
sua própria consciência desse desamparo, e seu próprio terror das
consequências desconhecidas dessa perturbação; e de tudo isso forma, para
sua própria dor, a mais completa imagem da desgraça e da aflição. O bebê,
entretanto, sente apenas o desconforto do momento presente, que nunca
pode ser muito grande. Quanto ao futuro, ele está perfeitamente seguro, e
em sua despreocupação e falta de previsão possui um antidoto contra o medo
e a ansiedade, grandes atormentadores do peito humano, dos quais a razão
e a filosofia tentarão, em vão, defende-lo quando se tornar um homem.
Simpatizamos até mesmo com os mortos, e contemplando o que é de real
importância em sua situação – esse terrível futuro que os aguarda –,
principalmente nos afetam aquelas circunstâncias que chocam nossos
sentidos, mas que em nada podem influenciar sua felicidade. (SMITH, 2002,
p. 10).
Esta inconsistência hoje é chamada de “efeito da vítima identificável”, que tem
grandes aplicações em políticas públicas112.

Smith afirma que a reciprocidade entre os homens é natural:

112 Como nos nudges no capítulo anterior.


130

É assim que o homem, que apenas pode subsistir em sociedade, foi


adequado pela natureza à situação para a qual foi criado. Todos os membros
da sociedade humana precisam da ajuda uns dos outros, e estão igualmente
expostos a ofensas mutuas. Onde a ajuda pe reciprocamente provida pelo
amor, gratidão, amizade e estima, a sociedade floresce e é feliz. Todos os
diferentes membros estão atados entre si pelos agradáveis elos do amor e
afeição, como se atraídos para um centro comum de bons serviços recíprocos
(SMITH, 2002, p. 106).
Brosner e Wall, em estudo publicado pela Human Nature em 2002 que estudou
o comportamento altruístico entre macacos, percebeu que existem três tipos de
reciprocidade, que corresponde à natural de Smith:

A reciprocidade baseada em simetria é cognitivamente a forma menos


complexa, baseada em simetrias inerentes em relações diádicas (por
exemplo, associação mútua, parentesco). A reciprocidade atitudinal, que é
mais cognitivamente complexa, baseia-se no espelhamento de atitudes
sociais entre parceiros e é exibida por macacos-capuchinhos e chimpanzés.
Finalmente, a reciprocidade calculada, a forma cognitivamente mais
avançada, baseia-se na avaliação mental e é encontrada apenas em
humanos e possivelmente em chimpanzés (BROSNER, 2002).
Um ano depois, os mesmos autores publicaram um famoso estudo em que
encontram um senso de justiça entre os macacos capuchinhos marrons:

O macaco-marrom capuchinho (Cebus apella), responde negativamente à


distribuição desigual de recompensas em trocas com um experimentador
humano. Os macacos se recusaram a participar se testemunhassem um
membro obter uma recompensa mais atraente para igual esforço, um efeito
amplificado se o parceiro recebeu tal recompensa sem nenhum esforço em
tudo. Essas reações sustentam uma origem evolutiva precoce da aversão à
iniquidade (BROSNER, 2003).
Touché, mais um insight smithiano corroborado pela moderna Economia
comportamental, pois Smith via a justiça como o alicerce que sustenta o edifício social,
mas também como algo natural:

Todos os homens, mesmo os mais ignorantes e estúpidos, tem horror à


fraude, perfídia e injustiça, e regozija-nos vê-las punidas. Mas poucos
homens refletiram sobre a necessidade da justiça para a existência da
sociedade, por mais evidente que essa necessidade possa parecer (SMITH,
2002, p. 111).
Dessa forma a interação social em Smith é fruto da interação entre o amor de
si, a simpatia e o espectador imparcial em busca do sentimento de aprovação. E ainda
que a justiça é inata e o alicerce da sociedade. A interação dos agentes no mercado
depende da confiança (ARROW, 1974, p. 74)113, da benevolência também
(BOULDING, 1969) que conjuntamente com o senso de justiça114, as pesquisas sobre

113“qual a recompensa mais apropriada para promover a prática da verdade, da justiça e humanidade?
A confiança, a estima e o amor daqueles com quem vivemos. A humanidade não almeja ser eminente,
mas ser amada” (SMITH, 2002, p. 201)
114 Na Glasgow edition da Wealth of Nations, encontra-se 72 vezes a palavra institution.
131

equidade mostram que tem àquelas com um mercado mais ativo possuem um
resultado mais equânime nos jogos de ultimato115 testados, ligada ao crescimento
econômico (ASHRAF, 2005).

Smith ao afirmar que as paixões se adaptam à visão do espectador imparcial


também é corroborada pela economia comportamental, pois “as condições atuais,
como problemas de saúde, encarceramento, pobreza e riqueza têm pouco impacto a
longo prazo no bem-estar subjetivo” (ASHRAF, 2005). Mesmo o viés de achar que a
dor e o prazer terão uma duração maior do que efetivamente tiveram e que perseguir
um prazer ligado as posses é uma insensatez:

Durante toda a sua vida, persegue a ideia de certo repouso artificial e


elegante, que talvez jamais alcance, e pelo qual sacrifica uma tranquilidade
verdadeira que a todo tempo está a seu dispor; repouso que, se nos extremos
da velhice chega por fim a conquistar, descobrirá que não é, de modo algum,
preferível a esta humilde segurança e contentamento que abandonou por ele.
É então, nos últimos arrancos de sua vida, o corpo exaurido por fadigas e
doenças, o espirito amargurado e assaltado pela lembrança de mil ofensas e
desilusões que imagina procederem da injustiça de seus inimigos ou da
perfídia e ingratidão dos amigos, quando finalmente começa a se dar conta
de que riqueza e honra são meros enfeites frívolos em nada mais capazes de
propiciar alivio ao corpo e tranquilidade ao espírito do que os estojos dos
aficionados por bugigangas e que, como elas. São um fardo mais pesado
para quem as carrega, que cômodas pela soma de vantagens que poderiam
proporcionar (SMITH, 2002, p. 222).
Onde hoje as pesquisas sobre bem estar e felicidade endossam este insight
smithiano116 onde foram descobertas “conexões surpreendentemente fracas entre
felicidade e riqueza ou renda, especialmente ao longo do tempo ou entre países”.

Esta ilusão de felicidade na riqueza é o que impulsiona a produtividade e a


inventividade humana, citada na página na página 40, do capítulo 2:

É bom que a natureza se imponha a nós dessa maneira. É essa ilusão que
dá origem e mantém em continuo movimento a destreza dos homens. É o
que primeiro os incitou a cultivar o solo, a construir casas, a fundar cidades e
estados e a inventar e aperfeiçoar todas as ciências e artes, que enobrecem
e embelezam a vida humana; que mudaram toda face do globo,
transformando as rudes florestas naturais em planícies agradáveis e férteis
(SMITH, 2002, p. 225).

115 “Um "jogo de ultimato" tem dois jogadores. O primeiro jogador recebe uma soma de dinheiro. O
jogador é instruído a oferecer alguma parte desse dinheiro para o segundo jogador. Se o segundo
jogador aceitar a divisão, então ambos os jogadores mantêm o dinheiro. Se o segundo jogador rejeita
a divisão, ambos os jogadores recebem zero. Em um único jogo do jogo, se os jogadores são racionais
e auto interessados, então o primeiro jogador deve oferecer ao segundo jogador apenas uma
quantidade mínima, que o segundo jogador vai aceitar porque é melhor do que nada. Mas quando o
jogo é jogado realmente, as ofertas pequenas são rejeitadas geralmente (mesmo para quantias
elevadas), e mesmo em um jogo one-shot, é comum para que o primeiro jogador ofereça uma divisão
50:50 da quantia original” (ASHRAF, 2005).
116 A bem da verdade, visão nos Estóicos e em Aristóteles, capítulo 2.
132

Ashraf, Camerer e Loewenstein destacam ainda quatro insights que merecem


ser pesquisados pela comportamental:

1. O desejo de ser bem considerado pela posteridade;


2. Reações negativas a serem julgadas mal;
3. Crença equivocada na objetividade dos gostos; e
4. Simpatia pelos grandes e ricos (ASHRAF, 2005).
Até este ponto, mostram-se os diversos pontos de convergência entre a Teoria
dos Sentimentos Morais e as diversas pesquisas da Economia Comportamental que
se complementam. Smith, como profundo observador da mente humana carece da
cientificidade que a Comportamental conferiu à Economia, mesmo porque o conceito
de Ciência hoje está em um patamar bem mais “popperianamente” rigoroso. Grande
diferença entre as abordagens é que a Comportamental parece carecer de uma visão
do todo social, não tem uma teoria acerca das interações humanas, que é a base do
estudo de Aristóteles e Smith117. A percepção que a interação humana se dava
espontaneamente é poderosa e até hoje é a base para diversos modelos ditos liberais,
como os austríacos118.

Nas interações entre os sistemas 1 e 2, vistos no capítulo 3, a motivação do


ego pode ser definida, de forma simplória, como a vontade de “poder nos olhar (sic)
no espelho e nos sentir bem em relação a nós mesmos” (ARIELY, 2012, p. 24). Deste
modo, o agente pode ser descrito como uma interação entre o sistema 1 e 2 com a
motivação do ego, conforme figura 11, abaixo:

117 Existem algumas teorias acerca da Justiça, nos moldes de Aristóteles e Smith, mas que escapam
ao escopo desta dissertação, perfazendo um interessantíssimo campo a ser abordado em trabalhos
posteriores.
118 Carece de cientificidade na praxeologia apriorística de Von Mises que Hayek corrige, mas
permanece preso ao modelo de racionalidade instrumental
133

Figura 36 - Humans119

Agente A

Motivação
Sistema 1 do Ego

Sistema 2

Fonte: o autor, 2017.

A interação será dada pela capacidade imagética do agente, a imaginação


segue como uma variável imprescindível a qualquer modelo de tomada de decisão.
Em um modelo de quatro agentes, a interação entre eles seria dada pela necessidade
de aceitação do Ego pelo sistema 1 de seus pares, pois o Sistema 1 cria narrativas
para compreensão da realidade fática por parte do agente. Atente que este esquema
é uma simplificação ainda grosseira da interação, pois nem sempre esta será linear e
direta, mas encampando muitas vezes aquilo que o agente imagina ser a reação do
sistema 1 alheio. Pois a imaginação não é a realidade, mas aquilo que o sistema 1
acredita que seja, desde que o sistema 2 não o corrija:

119 Termo criado por Richard Thaller, em contraposição ao Econs que seria o homem econômico

racional.
134

Figura 37 - interações entre Humans

Agente A Agente B

Motivação Motivação
Sistema 1 do Ego Sistema 1 do Ego

Sistema 2 Sistema 2

Motivação Motivação
Sistema 1 do Ego Sistema 1 do Ego

Sistema 2 Sistema 2

Agente C Agente D

Fonte: o autor, 2016.

A palavra expressão chave para uma compreensão de uma Teoria da Tomada


de decisão emocional é conforto cognitivo. Tomr a decisão mais agradável, a que mais
gostar, que causa maior conforto dos sistemas 1 e 2. Destarte, o sistema 1 cria
narrativas de modo que seja possível compreender a realidade. Não é pertinente
pensar que o sistema 2 fica desligado e só seja ligado com algum alerta soando como
na mente da Riley120, na verdade eles atuam em graduações (DAMASIO, 1996).

Deste modo, respondendo à questão da Introdução: as contribuições teóricas


disponíveis (ou conhecidas) explicam de forma satisfatória o processo de tomada de

120 Menina de 11 anos, personagem principal da animação de 2015, Divertida Mente, da Disney.
135

decisão dos agentes econômicos? Pode ser assim respondida: SIM. Porém a ressalva
o que deve ser feito, é o caráter transitório do conhecimento científico, aliado ao
conforto cognitivo que também enviesa a ciência, pois no capítulo 2, o cientista só
quebra o paradigma (para homenagear Kuhn) quando este lhe é desconfortável121.

O modelo atual em que a racionalidade é ampla ou mesmo comportar alguma


irracionalidade122 imagina-se o agente nestes termos graficamente:

Figura 38 - Tomador de decisão

Racionalidade Emoção

Fonte: o autor, 2017.

Por mais que evidências refutem a racionalidade instrumental do agente


econômico racional, este ainda é um modelo aceitável, como um caso especial de
uma Teoria Geral da Tomada de Decisão123, algumas decisões são racionais, ou seja,
as preferências são completas e transitivas, ao menos nas situações em que sua
sobrevivência esteja em risco124. O que provém de uma leitura rápida do texto de
economia de 1972, trata-se do University Economics: Elements of inquiry. Nele

121 Atentar para as diferenças epistêmicas entre Aristóteles e Smith neste aspecto, já anteriormente
tratadas, vide nota de rodapé 17.
122 Termo polêmico, tendo em Ariely o maior expoente na Comportamental (ARIELY, 2008 e 2010).
123 Campo que hoje é abarcado pela neuroeconomia.
124 Individualmente sempre haverá outliers neste sentido, pois é evidente que pessoas tomam decisões
que podem prejudicar sua sobrevivência (os crescentes casos de suicídio são uma evidência deveras
palpável), mas em termos de agrupamento e seleção de espécies, estes indivíduos não passarão este
erro adiante. Permanecer aqui é prova de seres racionais.
136

“nenhum homem pode ver perfeitamente o futuro”, e os postulados prescindem do


auto interesse como egoísmo, posto que as pessoas fazem caridade (ALCHIAN, 1972,
p. 19-26).

Tabela 7 - Comparação entre Smith e a Economia Comportamental

ADAM SMITH ECONOMIA COMPORTAMENTAL


SISTEMA DUAL Decisão é tomada Sistema 1 – intuitivo e emocional,
DE COGNIÇÃO com base nas neurônios ligados a decisão
emoções e intuição emocional, como o Estriado Vetral, o
(Simpatia e amor de Nucleus Accumbens e Amidala e;
si) e racionalmente Sistema 2 – Racional e maximizador
(espectador (utilidade esperada), neurônios
imparcial) ligados à tomada de decisão
racional, como o Córtex dorso lateral
e orbito frontal. (KAHNEMAN, 2012,
p. 29-32 e GLIMCHER, 2009).
HEURÍSTICAS
Afeto Simpatia (SMITH, Afeto (SLOVIC IN GILOVICH, 2009,
2002, p. 8) p. 439-465)
VIESES
Aversão à perda Aversão à dor RABIN, 2001; ASHRAF, 2005 e
(SMITH, 2002, p. KAHNEMAN, 2012, p. 352-356;
152);
Overconfidence Confiança (SMITH, ARMOUR IN GILOVICH, 2009, p.
2002, p. 104). 375-387 e KAHNEMAN, 2012, p.
249-331
Desconto Papel do tempo LAIBSON, 1997
hiperbólico (SMITH, 2002, p.
233);
Negligência ao Quebra de contrato FREDERICK, 2009
custo de (SMITH, 2012, p.
oportunidade 152)
137

Efeito da Vítima SMITH, 2002, p. 10 JENNI, 1997


identificável e 166;
CONCEITOS
Senso natural de SMITH, 2002, p. 111 BROSNER, 2003;
Justiça
Reciprocidade SMITH, 2002, p. 106 BROSNER, 2002
Confiança SMITH, 2002, p. 201 ARROW, 1974, p. 74
Benevolência SMITH, 2002, p. BOULDING, 1969
399-407
Ilusão de felicidade SMITH, 2002, p. 225 MARKOWITZ, 1952
Fonte: O autor, 2017.

6.2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciar o estudo houve a dificuldade inicial, Adam Smith é um autor pouco


lido no Brasil e acredita-se que não deve ser muito diferente no restante do mundo,
sempre solícito a novidades e publicações. Assim experimentou-se a solidão da
pesquisa, pois não há especialistas em Smith no Brasil e de Economia
Comportamental, ainda são poucos.

Esta intersecção entre dois universos aparentemente tão distintos é fruto de


uma formação meio outsider de interesse em Economia, Psicologia, Filosofia,
Teologia e Direito. Então pensar interdisciplinarmente foi quase que natural. Não
entender os pressupostos que erroneamente são ensinados como axiomas
comportamentais microeconômicos, em especial a racionalidade instrumental full
time, que neste estudo se apresenta como algo que não encontra respaldo teórico.

A Teoria da Decisão de Smith é bem simples, apesar de profunda. As variáveis


que se inter-relacionam são até certo ponto intuitivas. A Simpatia remonta ao próprio
Aristóteles, que já discutia acerca da imaginação simpática, a capacidade de se
imaginar no lugar do outro e, no caso da simpatia moral, de sentir o que os outros
sentiam. Mas mesmo Smith ao verificar que esta simpatia é enviesada percebeu que
a razão lhe dá um freio e contrapeso ao amor de si estóico. Assim o ser humano busca
138

aprovação através da simpatia de terceiros, a razão, espectador imparcial e do amor


de si, como na seção 3.3.

A Economia Comportamental, por sua vez, tem o sistema dual de cognição, em


que o sistema 1 e 2 são faces de uma mesma moeda neural. Um intuitivo e outro
racional, um preguiçoso o outro sempre a postos, como no capítulo quatro. A mente
humana então possui uma faceta emocional e outra racional além de um espelho onde
o ego pode-se imaginar. Como as semelhanças entre os insigths são vários, alguns
estão na tabela 7.

No capítulo 5, os resultados da análise de conteúdo demonstram que não existe


um Das Adam Smith Problem visto que como as seções 5.1 e 5.2 deixam claro que a
principal ideia de Adam Smith na a Teoria dos Sentimentos Morais é escrever sobre
o Homem e na Riqueza das Nações é a nação. São livros que se complementam,
conforme farta literatura que também foi abordada no capítulo 3. A História da
Astronomia corrobora a leitura de que o sentimento é a chave da ação humana para
Smith, seja nas suas decisões morais seja nas decisões enquanto cientista que busca
aplacar o maravilhamento que a realidade cognoscível lhe causa.

Os três livros sobre a Economia Comportamental não dão um resultado


significativo, visto que, como coletâneas de artigos e textos de diferentes autores o
algoritmo não conseguiu captar uma linha de raciocínio, posto cada texto foi pensado
por seus autores como um texto independente125. Entrementes a ideia de
probabilidade ter sido bastante forte, além de predição e economia.

Os métodos se complementam de modo a reforçar a conclusão de que existem


elementos que autorizam a afirmar que a Teoria da Decisão de Adam Smith é bastante
similar com o que hoje se pesquisa na Economia Comportamental, sendo que Smith,
um economista comportamental (como bem disse Loewenstein)126, também pode ser
considerado o pai da Economia Comportamental, não em influência direta, posto que
grande parte de seu pensamento permaneceu ignorado pelos economistas por
duzentos anos.

125 Não poderia ser diferente, pois um artigo não é escrito para ser parte de um texto, mas o próprio
corpo textual, o que enviesou esta amostra. Não há como afirmar ideias principais, pois cada corpus
textual terá a sua linha.
126 ASHRAF, 2005.
139

Adam Smith, em sua Teoria dos Sentimentos Morais, quase descreve um viés
cognitivo por parágrafo. Sem contar com o História da Astronomia e o restante de suas
Glasgow Editions, assim esta dissertação pretende ser um prolegômeno de uma
análise da obra smithiana não com enfoque apenas de História do pensamento mas
com os olhos voltados para o futuro, pois ainda existem insights do gênio escocês que
carecem de corroboração, um campo de inspiração para a Economia por, quem sabe,
mais 250 anos.
140

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158

GLOSSÁRIO DOS VIESES COGNITIVOS

FONTE: John Manoogian III, Acessado em 10/12/2016.

Tomada de decisão, crenças e vieses127

Nome Descrição

A tendência de evitar opções para as quais a informação perdida faz


Efeito ambiguidade
com que a probabilidade pareça "desconhecida".

A tendência de depender pesadamente, ou "âncora" de um traço ou


Ancoragem
pedaço de informação ao tomar decisões (geralmente a primeira
informação adquirida sobre o assunto).

127 Traduzido pelo autor, disponível em https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_cognitive_biases


Acessado em 10/12/2016.
159

A tendência de caracterizar animais, objetos e conceitos abstratos


Antropomorfismo ou
com características, emoções e intenções humanas.
personificação

A tendência da percepção ser afetada por pensamentos recorrentes.


Atenção

A tendência de depender excessivamente de sistemas automatizados


Automação
que podem levar a informações automatizadas errôneas que anulam
decisões corretas.

Heurus A tendência para superestimar a probabilidade de eventos com maior


"disponibilidade" na memória, o que pode ser influenciado pela
recente, como as memórias são incomum ou emocionalmente quanto
carregadas que pode ser.

Cascata de Um processo de auto reforço no qual uma crença coletiva ganha cada
disponibilidade vez mais plausibilidade através de sua repetição crescente no
discurso público.

Efeito de retrocesso A reação à evidências desconfirmando o fortalecimento das crenças


anteriores. Cf. Efeito de influência contínua.

Efeito de banda A tendência de fazer (ou acreditar) coisas porque muitas outras
pessoas fazem (ou acreditam) o mesmo. Relacionado ao
comportamento do grupo e do rebanho.

Falácia da taxa básica A tendência para ignorar a informação da taxa básica (informação
ou negligência da taxa genérica, geral) e concentrar-se em informações específicas, que
básica pertencem apenas a um determinado caso.

Preconceito de crença Um efeito em que a avaliação de alguém da força lógica de um


argumento é influenciada pela credibilidade da conclusão.

Efeito Ben Franklin Uma pessoa que fez um favor para alguém é mais provável fazer um
outro favor para essa pessoa do que seria se tivessem recebido um
favor daquela pessoa.

Viés do ponto cego A tendência de se ver menos tendenciosa do que outras pessoas, ou
de ser capaz de identificar mais vieses cognitivos nos outros do que
em si mesmo.
160

Efeito Cheerleader A tendência para que as pessoas pareçam mais atraentes em um


grupo do que em isolamento.

Tendência de apoio à A tendência de lembrar as escolhas como melhores do que realmente


escolha eram.

Ilusão de A tendência para superestimar a importância de pequenas corridas,


agrupamento estrias ou clusters em grandes amostras de dados aleatórios (ou seja,
vendo padrões fantasma).

Viés de confirmação A tendência para procurar, interpretar, focar e lembrar a informação


de uma forma que confirma os vieses de cada uma.

Preconceito de A tendência para testar hipóteses exclusivamente através de testes


congruência diretos, em vez de testar possíveis hipóteses alternativas.

Falácia de Conjunção A tendência de supor que as condições específicas são mais


prováveis do que as gerais.

Conservadorismo A tendência de revisar a crença de alguém insuficientemente quando


(revisão de crenças) apresentado com novas evidências.

Efeito de influência A tendência a acreditar que a informação errada aprendida


contínua anteriormente, mesmo depois de ter sido corrigido. A desinformação
ainda pode influenciar as inferências que se gera após a correção ter
ocorrido. Cf. Efeito de retrocesso.

Efeito de contraste O realce ou redução dos estímulos de uma certa percepção quando
comparado com um objeto contrastante recentemente observado.

Preconceito de A tendência a dar uma opinião que seja mais socialmente correta do
cortesia que a verdadeira opinião, de modo a evitar ofender qualquer um.

Maldição do Quando as pessoas mais bem informadas acham extremamente


conhecimento difícil pensar nos problemas da perspectiva de pessoas menos
informadas.

Declinismo A crença de que uma sociedade ou instituição tende para o declínio.


Particularmente é a predisposição para ver o passado favoravelmente
(retrospecção rosada) e futuro negativamente.
161

Efeito chamariz As preferências para a opção A ou B mudam em favor da opção B


quando a opção C é apresentada, o que é semelhante à opção B,
mas de forma alguma melhor.

Efeito de A tendência para gastar mais dinheiro quando é denominada em


denominação pequenas quantidades (por exemplo, moedas) em vez de grandes
quantidades (por exemplo, contas).

Efeito de disposição A tendência de vender um ativo que se acumulou em valor e resistir


à venda de um ativo que tem declinado deste.

Preconceito de A tendência a considerar duas opções como mais dissimiles ao


distinção avaliá-las simultaneamente do que ao avaliá-las separadamente.

Efeito Dunning-Kruger A tendência para os indivíduos não qualificados para superestimar a


sua própria capacidade e a tendência para os especialistas a
subestimar a sua própria capacidade.

Duração negligência A negligência da duração de um episódio na determinação do seu


valor.

Diferença de empatia A tendência para subestimar a influência ou força dos sentimentos,


quer em si próprio ou outros.

Efeito dotação A tendência para as pessoas exigirem muito mais para desistir de um
objeto do que estariam dispostos a pagar para adquiri-lo.

Expectativa Com base nas estimativas, a evidência do mundo real revela-se


exagerada menos extrema do que as expectativas (condicionalmente inversa do
viés conservador).

Tendência do A tendência dos pesquisadores de acreditar, certificar e publicar


experiente ou dados que concordam com suas expectativas para o resultado de
expectativa uma experiência, e de descrer, descartar ou degradar os
correspondentes ponderações de dados que parecem entrar em
conflito com essas expectativas.

Efeito de focagem A tendência de colocar demasiada importância em um aspecto de um


evento.
162

Efeito Forer ou efeito A observação de que os indivíduos darão avaliações de alta precisão
Barnum a descrições de sua personalidade que supostamente são adaptados
especificamente para eles, mas são de fato vaga e geral o suficiente
para se aplicar a uma ampla gama de pessoas. Este efeito pode
fornecer uma explicação parcial para a aceitação generalizada de
algumas crenças e práticas, como astrologia, adivinhação, grafologia
e alguns tipos de testes de personalidade.

Efeito de Desenho de conclusões diferentes a partir da mesma informação,


enquadramento dependendo de como essa informação é apresentada

Ilusão de frequência A ilusão em que uma palavra, um nome ou outra coisa que
recentemente veio à sua atenção de repente parece aparecer com
frequência improvável pouco tempo depois (não deve ser confundido
com a ilusão de recente ou viés de seleção). Esta ilusão pode explicar
alguns exemplos do fenômeno Baader-Meinhof, em que alguém ouve
uma nova palavra ou frase repetidamente em um curto espaço de
tempo.

Fixação funcional Limita uma pessoa a usar um objeto apenas na forma como é
tradicionalmente utilizado

A falácia do jogador A tendência para pensar que as probabilidades futuras são alteradas
por eventos passados, quando na realidade eles são inalterados. A
falácia surge de uma conceituação errônea da lei dos grandes
números. Por exemplo, "eu virei cabeças com esta moeda cinco
vezes consecutivas, então a chance de caudas saindo no sexto flip é
muito maior do que cabeças".

Efeito Hard-easy Com base em um nível específico de dificuldade de tarefa, a


confiança nos julgamentos é muito conservadora e não extrema o
suficiente.

Preconceito Às vezes chamado de "Eu-sabia-tudo-junto" efeito, a tendência de ver


retrospectivo eventos passados como sendo previsível no momento em que esses
acontecimentos aconteceram.

Falácia de mão A "falácia da mão quente" (também conhecida como o "fenômeno da


quente mão quente" ou "mão quente") é a crença falaciosa de que uma
163

pessoa que tenha experimentado o sucesso com um evento aleatório


tem maior chance de mais sucesso em tentativas adicionais.

Desconto hiperbólico Descontar é a tendência para que as pessoas tenham uma


preferência mais forte por retornos mais imediatos em relação aos
retornos posteriores. O desconto hiperbólico leva a escolhas que são
inconsistentes ao longo do tempo - as pessoas fazem escolhas hoje
que seus futuros “eu” prefeririam não ter feito, apesar de usar o
mesmo raciocínio. Também conhecido como viés do atual momento,
presente-viés e relacionados com inconsistência dinâmica.

Efeito da vítima A tendência para responder mais fortemente a uma única pessoa
identificável identificada em risco do que a um grande grupo de pessoas em risco.

Efeito IKEA A tendência das pessoas colocarem um valor desproporcionalmente


alto em objetos que eles parcialmente se montaram, como móveis da
IKEA, independentemente da qualidade do resultado final.

Ilusão de controle A tendência para superestimar o grau de influência sobre outros


eventos externos.

Ilusão de validade A crença de que a informação adquirida posteriormente gera dados


adicionais relevantes para as previsões, mesmo quando
evidentemente não.

Correlação ilusória Percebendo de forma imprecisa uma relação entre dois eventos não
relacionados.

Efeito ilusório da A tendência de acreditar que uma afirmação é verdadeira se é mais


verdade fácil de processar ou se foi afirmado várias vezes,
independentemente da sua veracidade real. Estes são casos
específicos de veracidade.

Viés de impacto A tendência para superestimar o comprimento ou a intensidade do


impacto dos estados sentimentais futuros.

Viés de informação A tendência para buscar informações, mesmo quando não pode
afetar a ação.

Insensibilidade ao A tendência para subestimar a variação em amostras pequenas.


tamanho da amostra
164

Escalada irracional O fenômeno onde as pessoas justificam aumento do investimento em


uma decisão, com base no investimento anterior acumulado, apesar
de novas evidências sugerindo que a decisão foi provavelmente
errada. Também conhecida como a falha de custo afundado.

Lei do instrumento "Se tudo que você tem é um martelo, tudo se parece com um prego".

Menos-é-melhor efeito A tendência de preferir um conjunto menor a um conjunto maior


julgado separadamente, mas não em conjunto.

Aversão à perda A desutilidade de desistir de um objeto é maior do que a utilidade


associada à sua aquisição. (Ver Efeitos de custos afundados e efeito
de dotação).

Mero efeito de A tendência para expressar o gosto indevido pelas coisas


exposição simplesmente por causa da familiaridade com elas.

Ilusão do dinheiro A tendência para se concentrar no valor nominal (valor de face) do


dinheiro em vez de seu valor em termos de poder de compra.

Efeito de credencial A tendência de um histórico de não viés para aumentar o viés


moral subsequente.

Negatividade ou Fenômeno psicológico pelo qual os seres humanos têm um maior


negatividade efeito recall de memórias desagradáveis em comparação às memórias
positivas. (Ver também viés de ator-observador, erro de atribuição de
grupo, efeito de positividade e efeito de negatividade).

Negligência da A tendência a desconsiderar completamente a probabilidade ao tomar


probabilidade uma decisão sob incerteza.

Viés de normalidade A recusa em planejar ou reagir a um desastre que nunca aconteceu


antes.

Não inventado aqui Aversão ao contato ou uso de produtos, pesquisa, padrões ou


conhecimento desenvolvidos fora de um grupo. Relacionado ao efeito
IKEA (ver verbete).

Efeito de expectativa Quando um pesquisador espera um determinado resultado e


de observação consequentemente inconscientemente manipula uma experiência ou
165

interpreta mal os dados para encontrá-lo (ver também efeito de


expectativa de sujeito).

Viés de omissão A tendência de julgar as ações prejudiciais como piores, ou menos


morais, do que omissões igualmente nocivas (inação).

Viés de otimismo A tendência a ser excessivamente otimista, superestimando


resultados favoráveis e agradáveis (ver também o pensamento
positivo, o efeito de valência, o viés de desfecho positivo).

Efeito avestruz Ignorando uma situação óbvia (negativa).

Viés de resultado A tendência de julgar uma decisão por seu eventual resultado em vez
de basear-se na qualidade da decisão no momento em que foi feita.

Efeito de excesso de Confiança excessiva em suas próprias respostas às perguntas. Por


confiança exemplo, para certos tipos de perguntas, as respostas que as
pessoas classificam como "99% de certeza" ficam erradas 40% do
tempo.

Pareidolia Um estímulo vago e aleatório (muitas vezes uma imagem ou som) é


percebido como significativo, por exemplo, vendo imagens de animais
ou rostos em nuvens, o homem na lua e ouvindo mensagens ocultas
inexistentes em registros jogados em sentido inverso.

Viés de pessimismo A tendência para algumas pessoas, especialmente aqueles que


sofrem de depressão, para superestimar a probabilidade de coisas
negativas acontecendo com eles.

Falácia de A tendência de subestimar os tempos de conclusão das tarefas.


planejamento

Racionalização pós- A tendência de persuadir a si mesmo através do argumento racional


compra de que uma compra era de bom valor.

Viés pró-inovação A tendência a ter um otimismo excessivo em relação a uma invenção


ou utilidade da inovação em toda a sociedade, embora muitas vezes
não conseguem identificar suas limitações e fraquezas.
166

Viés de projeção A tendência de superestimar o quanto nossos futuros “eus”


compartilham suas preferências, pensamentos e valores atuais,
levando assim a escolhas sub ótimas.

Efeito Pseudocerteza A tendência de fazer escolhas avessas ao risco se o resultado


esperado for positivo, mas fazer escolhas de busca de risco para
evitar resultados negativos.

Reação O desejo de fazer o oposto do que alguém quer que você faça por
necessidade de resistir a uma tentativa percebida de restringir sua
liberdade de escolha (ver também Psicologia reversa).

Desvalorização Desvalorização de propostas apenas porque eles supostamente se


reativa originaram com um adversário.

Ilusão de recente A ilusão de que uma palavra ou uso da linguagem é uma inovação
recente, quando ela é, de fato, de longa data (ver também ilusão de
frequência).

Viés regressivo Um certo estado de espírito em que os valores altos e as


probabilidades altas são superestimadas enquanto os valores baixos
e as baixas probabilidades são subestimados.

Viés de restrição A tendência de superestimar a capacidade de mostrar restrição diante


da tentação.

Rima como efeito de As afirmações de rima são percebidas como mais verdadeiras. Um
razão exemplo famoso que está sendo usado no julgamento de O.J
Simpson com o uso da defesa da frase "se as luvas não cabem, a
seguir você deve absolver."

Compensação de A tendência de assumir maiores riscos quando a segurança


risco / efeito Peltzman percebida aumenta.

Percepção seletiva A tendência para que as expectativas afetem a percepção.

Reflexo Semmelweis A tendência a rejeitar novas evidências que contradizem um


paradigma.
167

Viés de comparação A tendência, ao tomar decisões de contratação, é favorecer


social candidatos potenciais que não competem com os pontos fortes de
cada um.

Viés de desejabilidade A tendência para sobre-relatar características socialmente desejáveis


social ou comportamentos em si mesmo e sub-relatório socialmente
indesejáveis características ou comportamentos.

Viés do status quo A tendência de que as coisas se mantenham relativamente iguais (ver
também aversão à perda, efeito doado e justificação do sistema).

Estereótipo Esperar que um membro de um grupo tenha certas características


sem ter informações reais sobre esse indivíduo.

Efeito de A tendência para julgar a probabilidade de o todo ser menor do que


subaditividade as probabilidades das partes.

Validação subjetiva Percepção de que algo é verdadeiro se a crença de um sujeito exige


que seja verdade. Também atribui conexões percebidas entre
coincidências.

Viés de sobrevivência Concentrando-se nas pessoas ou coisas que "sobreviveram" a algum


processo e, inadvertidamente, negligenciar aqueles que não por
causa de sua falta de visibilidade.

Viés de Economia de Subestimações do tempo que poderiam ser salvas (ou perdidas) ao
tempo aumentar (ou diminuir) uma velocidade relativamente baixa e
superestimar o tempo que poderia ser salvo (ou perdido) ao aumentar
(ou diminuir) de uma velocidade relativamente alta.

Efeito da terceira A crença de que as mensagens de mídia de massa comunicada têm


pessoa um efeito maior sobre os outros do que sobre si mesmos.

Trivialidade / Lei de A tendência de dar peso desproporcional a questões triviais. Também


Parkinson conhecido como desvio de bicicleta, este viés explica por que uma
organização pode evitar assuntos especializados ou complexos,
como o projeto de um reator nuclear, e em vez disso se concentrar
em algo fácil de entender ou recompensar para o participante médio,
como o projeto de um bicicletário.
168

Viés de unidade A tendência para querer terminar uma determinada unidade de uma
tarefa ou um item. Forte impacto no consumo de alimentos em
particular.

Lei de Weber-Fechner Dificuldade em comparar pequenas diferenças em grandes


quantidades.

Efeito estrada bem Subestimação da duração das rotas frequentemente percorridas e


viajado sobreavaliação da duração das rotas menos conhecidas.

Viés de risco zero Preferência para reduzir um pequeno risco para zero em uma redução
maior em um risco maior.

Heurística de soma Avaliando intuitivamente uma situação como sendo de soma zero
zero (isto é, que ganhos e perdas estão correlacionados). Deriva do jogo
de soma zero na teoria dos jogos, onde as vitórias e as perdas somam
zero. A frequência com que esse viés ocorre pode estar relacionada
ao fator de personalidade de orientação da dominância social.

Vieses sociais

Nome Descrição

Viés Ator- A tendência para as explicações dos comportamentos de outros


observador indivíduos para enfatizar demais a influência de sua personalidade bem
como de sua situação (ver também o erro de atribuição fundamental), e
para as explicações de seus próprios comportamentos fazer o oposto
(isto é, enfatizar demais a influência da situação e subestimar a influência
da própria personalidade).

Viés de autoridade A tendência de atribuir maior precisão à opinião de uma figura de


autoridade (não relacionada ao seu conteúdo) e ser mais influenciada
por essa opinião.

Hipótese de Atribuir mais culpa a um agressor como o resultado se torna mais grave
atribuição ou como pessoal ou situacional semelhança com a vítima aumenta.
defensiva
169

Viés egocêntrico Ocorre quando as pessoas reivindicam mais responsabilidade por si


mesmas pelos resultados de uma ação conjunta do que um observador
externo acreditaria neles.

Viés de incentivos Uma exceção ao erro de atribuição fundamental, quando as pessoas


extrínsecos veem os outros como tendo motivações extrínsecas (situacionais) e
(disposicional) motivações intrínsecas para si.

Efeito de consenso A tendência para as pessoas superestimar o grau em que os outros


falso concordam com eles.

Forer efeito (aka A tendência de dar avaliações de alta precisão para descrições de sua
efeito Barnum) personalidade que supostamente são adaptados especificamente para
eles, mas são de fato vaga e geral o suficiente para se aplicar a uma
ampla gama de pessoas. Por exemplo, horóscopos.

Erro de atribuição A tendência das pessoas enfatizar demais as explicações baseadas na


fundamental personalidade para comportamentos observados em outros, enquanto
subestimam o papel e o poder das influências situacionais sobre o
mesmo comportamento (ver também o viés do ator-observador, o erro
de atribuição do grupo, o efeito positividade, e efeito de negatividade).

Erro de atribuição A crença tendenciosa de que as características de um membro do grupo


de grupo individual refletem o grupo como um todo ou a tendência de assumir que
os resultados da decisão do grupo refletem as preferências dos
membros do grupo, mesmo quando há informações disponíveis que
claramente sugerem o contrário.

Efeito halo A tendência para os traços positivos ou negativos de uma pessoa


"derramar-se" de uma área de personalidade para outra na percepção
dos outros sobre eles (ver também o estereótipo de atração física).

Ilusão de As pessoas percebem o seu conhecimento de seus pares para superar


percepção o conhecimento de seus pares deles.
assimétrica

Ilusão de agência Quando as pessoas veem preferências autogeradas como sendo


externa causadas por agentes perspicazes, eficazes e benevolentes.

Ilusão de As pessoas superestimam a capacidade dos outros de conhecê-las, e


transparência também superestimam sua capacidade de conhecer outras pessoas.
170

Superioridade Superestimar as qualidades desejáveis e subestimar as qualidades


ilusória indesejáveis, em relação a outras pessoas. (Também conhecido como
"efeito Lake Wobegon", "efeito melhor que a média" ou "viés de
superioridade".)

Viés de grupo A tendência para que as pessoas deem tratamento preferencial a outros
que eles percebem serem membros de seus próprios grupos.

Hipótese do mundo A tendência para que as pessoas querem acreditar que o mundo é
justo fundamentalmente justo, fazendo com que racionalizem uma injustiça de
outra forma inexplicável como merecido pela vítima(s).

Sorte moral A tendência para que as pessoas atribuam uma posição moral maior ou
menor com base no resultado de um evento.

Cinismo ingênuo Esperando um viés mais egocêntrico nos outros do que em si mesmo.

Realismo ingênuo A crença de ver a realidade como ela realmente é - objetiva e sem viés;
Que os fatos são claros para que todos vejam; Que as pessoas racionais
concordarão conosco; E que aqueles que não são desinformados,
preguiçosos, irracionais ou tendenciosos.

Viés Os indivíduos veem membros de seu próprio grupo sendo relativamente


homogeneidade mais variados do que membros de outros grupos.
fora do grupo

Viés de A tendência de reivindicar mais responsabilidade por sucessos do que


autosserviço fracassos. Também pode se manifestar como uma tendência para as
pessoas avaliarem informações ambíguas de uma forma benéfica para
seus interesses (ver também o viés de grupo-serviço).

Viés de informação Conhecida como a tendência de os membros do grupo gastarem mais


compartilhada tempo e energia discutindo informações que todos os membros já
conhecem (ou seja, informações compartilhadas), e menos tempo e
energia discutindo informações que somente alguns membros estão
cientes (ou seja, informações não compartilhadas).

Viés de A representação desproporcionalmente maior de palavras relacionadas


sociabilidade da a interações sociais, em comparação com palavras relacionadas a
linguagem aspectos físicos ou mentais do comportamento, na maioria das línguas.
Esse preconceito atribui à natureza da linguagem como uma ferramenta
171

facilitadora das interações humanas. Quando os descritores verbais do


comportamento humano são usados como fonte de informação, o viés
de sociabilidade de tais descritores surge em estudos fator-analíticos
como um fator relacionado ao comportamento pró-social (por exemplo,
do fator Extraversão nos cinco grandes traços de personalidade).

Justificativa do A tendência para defender e reforçar o status quo. Os arranjos sociais,


sistema econômicos e políticos existentes tendem a ser preferidos, e as
alternativas depreciadas, às vezes até mesmo à custa do interesse
pessoal individual e coletivo. (Ver também o viés do status quo.)

Viés de traço de A tendência para que as pessoas se vejam como relativamente variáveis
atribuição em termos de personalidade, comportamento e humor, enquanto vêem
os outros como muito mais previsíveis.

Erro de atribuição Semelhante ao erro de atribuição fundamental, neste erro é provável que
final uma pessoa faça uma atribuição interna a um grupo inteiro em vez dos
indivíduos dentro do grupo.

Efeito pior que a Uma tendência a acreditar que somos pior do que outros em tarefas
média difíceis.

Erros de memória e vieses

Nome Descrição

Efeito estranho Material estranho é melhor lembrado do material comum.

Viés de apoio à De forma autojustificante, atribuir retroativamente as escolhas de


escolha alguém para estar mais informado do que quando eram feitos.

Viés de mudança Depois de um investimento de esforço na produção de mudança,


lembrando o desempenho passado de alguém como mais difícil do
que realmente era.

Amnésia infantil A retenção de poucas memórias de antes dos quatro anos de idade.
172

Conservadorismo ou Tendência a lembrar altos valores e probabilidades / probabilidades /


viés regressivo frequências elevadas como inferiores ao que realmente eram e baixas
como mais altas do que realmente eram. Com base na evidência, as
memórias não são extremas o suficiente.

Viés de consistência Incorretamente lembrando as atitudes e comportamentos passados


como se assemelhando a atitudes e comportamentos atuais.

Efeito de contexto Essa cognição e memória são dependentes do contexto, de tal forma
que as memórias fora do contexto são mais difíceis de recuperar do
que as memórias no contexto (por exemplo, o tempo e a precisão
para uma memória relacionada ao trabalho será menor em casa e
vice-versa).

Efeito de corrida A tendência para que as pessoas de uma raça tenham dificuldade em
cruzada identificar membros de uma raça diferente da sua.

Cryptomnesia Uma forma de má atribuição onde uma memória é confundido com a


imaginação, porque não há experiência subjetiva de que seja uma
memória.

Viés egocêntrico Lembrando o passado de forma auto-útil, por exemplo, lembrando-se


das notas do exame como sendo melhores do que eram, ou
lembrando um peixe capturado como maior do que realmente era.

Aflição de afeito Um viés no qual a emoção associada a memórias desagradáveis


desaparece mais rapidamente do que a emoção associada a eventos
positivos.

Memória falsa Uma forma de má atribuição onde a imaginação é confundida com


uma memória.

Efeito de geração Essa informação auto-gerada é lembrada melhor. Por exemplo, as


(efeito de auto- pessoas são mais capazes de lembrar memórias de declarações que
geração) eles geraram do que declarações semelhantes geradas por outros.

Efeito Google A tendência para esquecer a informação que pode ser encontrada
prontamente em linha usando os motores de busca do Internet.
173

Viés de retrospectiva A inclinação para ver os eventos passados como sendo mais
previsíveis do que realmente eram; Também chamado de "Eu-sabia-
tudo-junto" efeito.

Efeito Humor Os itens humorísticos são mais facilmente lembrados do que os não-
humorísticos, o que pode ser explicado pelo caráter distintivo do
humor, o aumento do tempo de processamento cognitivo para
entender o humor ou a excitação emocional causada pelo humor.

Efeito de ilusão de Que as pessoas são mais propensos a identificar como declarações
verdade verdadeiras aqueles que ouviram antes (mesmo que eles não podem
conscientemente se lembrar de ter ouvido), independentemente da
validade real da declaração. Em outras palavras, uma pessoa é mais
provável de acreditar em uma declaração familiar do que um familiar
desconhecido.

Correlação ilusória Inacreditavelmente lembrando uma relação entre dois eventos.

Efeito de atraso O fenômeno pelo qual a aprendizagem é maior quando se estuda é


espalhado ao longo do tempo, ao contrário de estudar a mesma
quantidade de tempo em uma única sessão. Veja também efeito de
espaçamento.

Nivelamento e afiação Distorções de memória introduzidas pela perda de detalhes em uma


lembrança ao longo do tempo, muitas vezes concorrentes com
afiação ou recolhimento seletivo de certos detalhes que assumem
significado exagerado em relação aos detalhes ou aspectos da
experiência perdida através de nivelamento. Ambos os preconceitos
podem ser reforçados ao longo do tempo, e por repetidas lembranças
ou relatos de uma memória.

Efeito de níveis de Que diferentes métodos de codificação de informações em memória


processamento têm diferentes níveis de eficácia.

Efeito de comprimento Uma porcentagem menor de itens é lembrada em uma lista mais
de lista longa, mas como o comprimento da lista aumenta, o número absoluto
de itens lembrados também aumenta.

Efeito de Memória tornando-se menos precisa devido à interferência de


desinformação informações pós-evento.
174

Efeito de modalidade Esse recall de memória é maior para os últimos itens de uma lista
quando os itens de lista foram recebidos via fala do que quando eles
foram recebidos por meio de escrita.

Viés de memória O melhoramento da recordação de informação congruente com o


congruente com o humor atual.
humor

Efeito próximo da fila Que uma pessoa em um grupo tenha diminuído a lembrança das
palavras de outros que falaram imediatamente antes dele, se eles se
revezam, falando.

Efeito de indicação de Que sendo mostrado alguns itens de uma lista e mais tarde recuperar
lista parcial um item faz com que ele se torne mais difícil de recuperar os outros
itens.

Regra de fim de pico Que as pessoas parecem perceber não a soma de uma experiência,
mas a média de como foi no seu pico (por exemplo, agradável ou
desagradável) e como ele terminou.

Persistência A recorrência indesejada de memórias de um evento traumático.

Efeito de A noção de que os conceitos que são aprendidos através da


superioridade da visualização de imagens são mais facilmente e com mais freqüência
imagem lembrados do que os conceitos que são aprendidos através da
visualização de suas contrapartes escritas.

Efeito de positividade Que os adultos mais velhos favorecem positivas sobre informações
negativas em suas memórias.

Efeito Primazia e Que itens perto do final de uma sequência são os mais fáceis de
efeito de posição recordar, seguido pelos itens no início de uma sequência, os itens no
serial meio são os menos susceptíveis de serem lembrados.

Dificuldade de Essa informação que leva mais tempo para ler e é pensado em mais
processamento (processado com mais dificuldade) é mais facilmente lembrada.

Reminicência colisão O recall de eventos mais pessoais da adolescência e início da idade


adulta do que eventos pessoais de outros períodos de vida.
175

Retrospecção Rosy A lembrança do passado como tendo sido melhor do que realmente
era.

Efeito de auto- Que lembranças relacionadas com o eu são melhor lembradas do que
relevância informações semelhantes relacionadas aos outros.

Fonte de confusão Confundindo memórias episódicas com outras informações, criando


memórias distorcidas.

Efeito de Essa informação é melhor lembrada se a exposição a ela é repetida


espaçamento ao longo de um longo período de tempo, em vez de um curto.

Efeito holofote A tendência para superestimar a quantidade que outras pessoas


notar sua aparência ou comportamento.

Viés estereotipado Memória distorcida em relação a estereótipos (por exemplo, raciais


ou de gênero), por exemplo, nomes de "sons negros" sendo
lembrados como nomes de criminosos.

Efeito sufixo Diminuição do efeito de recente porque um item sonoro é


acrescentado à lista que o sujeito não é obrigado a recordar.

Sugestionabilidade Uma forma de má atribuição onde ideias sugeridas por um


questionador são confundidos com memória.

Efeito telescópico A tendência para deslocar eventos recentes para trás no tempo e
eventos remotos para a frente no tempo, de modo que os eventos
recentes parecem mais remotos e eventos remotos, mais recentes.

Efeito de teste O fato de que você mais facilmente se lembra de informações que
você leu reescrevendo-o em vez de relê-lo.

Dica do fenômeno da Quando um sujeito é capaz de recuperar partes de um item, ou


língua informações relacionadas, mas é frustrantemente incapaz de lembrar
o item inteiro. Isto é pensado para ser uma instância de "bloqueio",
onde várias memórias semelhantes estão sendo lembrados e
interferem uns com os outros.

Síndrome de Travis Superestimando o significado do presente. Relaciona-se com a Ideia


do Progresso e esnobismo cronológico com possivelmente um apelo
à falácia lógica da novidade que faz parte do viés.
176

Efeito Verbatim Que a "essência" do que alguém disse é melhor lembrada do que a
redacção literal. Isto é porque as memórias são representações, não
cópias exatas.

Efeito Von Restorff Que um item que sobe fora é mais provável que seja lembrado do que
outros itens.

Efeito Zeigarnik Que as tarefas incompletas ou interrompidas são lembradas melhor


do que as concluídas.
177

ANEXO 1 – ALEGORIA DA CAVERNA 128

SÓCRATES — Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa natureza relativamente
à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna,
com uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de pernas e pescoço
acorrentadas, de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois
as correntes os impedem de voltar a cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa
colina que se ergue por detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada
ascendente. Imagina que ao longo dessa estrada está construída um pequeno muro, semelhante
às divisórias que os apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem
as suas maravilhas.
Glauco — Estou vendo.
Sócrates — Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de
toda espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda
espécie de matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em
silêncio.
Glauco — Um quadro estranho e estranhos prisioneiros.
Sócrates — Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham
alguma vez visto, de si mesmos e dos seus companheiros, mais da que as sombras projetadas
pelo fogo na parede da caverna que lhes fica defronte?
Glauco — Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida?
Sócrates — E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo?
Glauco — Sem dúvida.
Sócrates — Portanto, se pudessem se comunicar uns com as outros, não achas que tomariam
por objetos reais as sombras que veriam?
Glauco — É bem possível.
Sócrates — E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos
transportadores falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles?
Glauco — Sim, por Zeus!
Sócrates — Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos
fabricados.
Glauco — Assim terá de ser.
Sócrates — Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas
cadeias e curadas da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele
obrigado a endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para
a luz: ao fazer todos estes movimentas sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os
abjetos de que antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que
não viu até então senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para
objetos mais reais, vê com mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que
passam, o obrigar, à força de perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçada e
que as sombras que via outrora lhe parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe
mostram agora?
Glauco — Muito mais verdadeiras.

128 Platão, 2016, p. 296-300.


178

Sócrates — E se a forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará
ele a vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais
distintas do que as que se lhe mostram?
Glauco — Com toda a certeza.
Sócrates — E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e
escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente
e não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos
ofuscados pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras?
Glauco — Não o conseguirá, pelo menos de início.
Sócrates — Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior.
Começará por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos
outros objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá,
enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente, durante a noite, os
corpos celestes e o próprio céu da que, durante o dia, o Sol e a sua luz.
Glauco — Sem dúvida.
Sócrates — Por fim, suponho eu, será o Sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em
qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar
tal como é.
Glauco — Necessariamente.
Sócrates — Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os
anos, que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele
via com os seus companheiros, na caverna.
Glauco — É evidente que chegará a essa conclusão.
Sócrates — Ora, lembrando-se da sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e
daqueles que aí foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a
mudança e lamentará os que lá ficaram?
Glauco — Sim, com certeza, Sócrates.
Sócrates — E se então distribuíssem honras e louvares, se tivessem recompensas para aquele
que se apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se
recordasse das que costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que
por isso era o mais hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que,
entre os prisioneiros, são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não
preferirá mil vezes ser um simples criado de charrua, a serviço de um pobre lavrador, e sofrer
tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia?
Glauco — Sou da tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira.
Sócrates — Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar:
não ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol?
Glauco — Por certo que sim.
Sócrates— E se tiver de entrar de nova em competição com os prisioneiros que não se libertaram
de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que os
seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo,
não fará que os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista
estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se a alguém tentar libertar e conduzir
para o alto, esse alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo?
Glauco — Sem nenhuma dúvida.
Sócrates — Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que
dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do
179

fogo que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos
seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te
enganarás quanto à minha ideia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela
é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a ideia do bem é a
última a ser apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela
é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou
a luz e o soberana da luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a
inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida
pública.
Glauco — Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la.

Sócrates — Pois bem! Compartilha-a também neste ponto e não te admires se aqueles que se
elevaram a tais alturas de sistema de se ocupar das coisas humanas e as suas almas aspiram
sem cessar a instalar-se nas alturas. Isto é muito natural, se a nossa alegoria for exata.
Glauco — Com efeito, é muito natural.
Sócrates — Mas como? Achas espantoso que um homem que passa das contemplações divinas
às miseráveis coisas humanas revele repugnância e pareça inteiramente ridículo, quando, ainda
com a vista perturbada e não estando suficientemente acostumado às trevas circundantes, é
obrigado a entrar em disputa, perante os tribunais ou em qualquer outra parte, sobre sombras
de justiça ou sobre as imagens que projetam essas sombras, e a combater as interpretações que
disso dão os que nunca viram a justiça em si mesma?
180

ANEXO 2 – QUANTIDADE E MORFOLOGIA DOS CORPUS TEXTUAIS

A - Theory of Moral Sentiments

Tabela 8 - Quantidade e morfologia dos Léxicos human 168 adj


ativos - TMS
happiness 168 nom
Léxico qtde Morf. general 168 nom
man 715 nom mind 167 ver
great 610 adj call 167 nom
person 403 nom approbation 167 nom
feel 372 ver thing 162 nom
even 353 ver society 161 nom
object 347 nom naturally 155 nr
virtue 340 nom part 152 nom
sentiment 320 nom spectator 151 nom
passion 311 nom justice 151 nom
conduct 299 nom view 150 ver
regard 290 ver resentment 150 nom
action 262 nom interest 150 nom
nature 240 nom being 147 nom
degree 238 nom consider 146 ver
occasion 218 ver pleasure 145 nom
think 215 nom contrary 142 nom
case 214 nom order 139 nom
propriety 213 nom particular 136 nom
natural 208 nom desire 133 ver
situation 206 nom agreeable 133 nr
rule 206 nom high 128 adj
manner 203 nom render 126 nom
account 203 ver body 125 nom
character 202 nom approve 124 ver
good 199 adj altogether 123 nom
love 196 nom system 122 nom
proper 194 adj kind 121 adj
time 192 nom act 117 nom
sense 186 nom frequently 115 nr
life 180 nom merit 114 nom
affection 180 nom excite 113 ver
sympathy 179 nom enter 112 ver
principle 169 nom deserve 112 ver
respect 168 ver public 111 nom
mankind 168 nr praise 111 nom
181

pain 111 nom commonly 81 nr


real 110 adj arise 81 ver
punishment 109 nom state 80 ver
friend 109 nom joy 80 nom
endeavour 109 ver idea 80 nom
observe 106 ver concern 80 ver
motive 105 nom beauty 80 nom
gratitude 105 nom expose 79 ver
give 104 nom behaviour 79 nom
esteem 104 nom support 78 nom
consist 103 ver sorrow 78 nom
suffer 102 ver power 78 nom
affect 102 ver necessary 78 nom
reason 101 ver disagreeable 78 nom
long 100 nom produce 77 nom
effect 100 nom found 77 nom
world 99 nom country 77 nom
death 99 nom moral 76 nom
law 97 nom emotion 76 nom
judge 97 nom wise 75 adj
admiration 97 nom fellow 75 nom
place 95 nom due 75 nom
direct 94 ver humanity 74 nom
just 93 adj form 74 ver
command 93 nom sympathize 73 ver
apt 93 adj impartial 73 nr
sort 92 nom imagine 73 ver
misfortune 91 nom vice 72 nom
find 91 ver scarce 72 adj
duty 90 nom live 72 adj
quality 89 nom fear 72 nom
bring 89 ver dispose 72 nom
circumstance 88 ver like 71 ver
attention 88 nom age 71 nom
fortune 87 nom weakness 70 nom
measure 86 nom imagination 70 nom
require 85 ver heart 70 nom
suppose 84 ver expect 69 ver
perfect 84 adj present 68 ver
seldom 83 nr influence 68 nom
nothing 83 nom superior 67 nom
necessarily 83 nr contempt 67 nom
capable 83 adj blame 67 nom
judgment 81 nom reward 66 ver
conceive 81 ver prosperity 66 nom
182

persons 66 nr prudence 56 nom


opinion 66 nom properly 56 nr
injustice 66 nom avoid 56 ver
consequence 66 nom attempt 56 nom
breast 66 nom teach 55 nom
strong 65 adj fail 55 nom
distress 65 nom applause 55 nom
common 65 adj admire 55 ver
wish 64 ver put 54 ver
easily 64 nr purpose 54 nom
ordinary 63 adj hand 54 nom
honour 63 nom eye 54 nom
perfectly 62 nr express 54 ver
indignation 62 nom ease 54 nom
fall 62 ver custom 53 nom
attend 62 ver spirit 52 nom
perform 61 ver perfection 52 nom
nation 61 nom light 52 ver
faculty 61 nom individual 52 nom
end 61 nom depend 52 ver
derive 61 ver danger 52 nom
crime 61 nom satisfaction 51 nom
rank 60 ver noble 51 adj
injury 60 nom know 51 ver
equally 60 nr immediately 51 nr
cause 60 ver happen 51 ver
doubt 59 nom generally 51 nr
tranquillity 58 nom enemy 51 nom
please 58 ver come 51 ver
neighbour 58 nom child 51 nom
virtuous 57 nr bestow 51 ver
vanity 57 nom punish 50 ver
small 57 adj possess 50 ver
sensibility 57 nom hurt 50 ver
establish 57 ver enjoy 50 ver
acquire 57 ver
Fonte: o autor, 2017.

B - Wealth of Nations
183

Tabela 9 - Quantidade e Morfologia dos Léxicos small 441 adj


ativos - WN
necessary 440 nom
Léxico Qtde Morf. duty 437 nom
great 2820 adj being 423 nom
country 1810 nom industry 409 nom
part 1644 nom carry 409 ver
price 1330 nom manner 404 nom
produce 1104 nom europe 404 nr
labour 1043 ver england 401 nr
trade 1018 nom pound 399 nom
time 989 nom purchase 391 nom
person 965 nom publick 389 nr
tax 921 nom high 386 adj
land 909 nom nation 374 nom
good 900 adj frequently 374 nr
quantity 863 nom britain 372 nr
value 841 ver government 367 nom
pay 816 nom bank 367 ver
capital 769 nom wage 361 nom
money 768 nom numb 361 adj
year 747 nom society 359 nom
profit 739 nom law 358 nom
employ 711 nom necessarily 357 nr
revenue 698 nom merchant 347 nom
silver 650 nom raise 346 ver
stock 628 ver employment 345 nom
market 619 nom account 345 ver
increase 577 ver maintain 344 ver
expence 559 nr work 341 ver
interest 557 nom real 341 nom
manufacture 527 ver find 341 ver
even 522 ver generally 340 nr
proportion 518 nom equal 339 nom
particular 512 nom place 337 ver
gold 505 adj case 337 nom
rend 491 ver improvement 327 nom
order 485 ver shilling 326 nom
man 483 nom company 321 nom
state 481 ver suppose 319 ver
foreign 478 nr kind 319 adj
commodity 472 nom annual 319 nom
present 469 ver afford 313 ver
occasion 456 ver demand 311 ver
corn 443 nom sort 310 nom
colony 442 nom common 309 nom
184

bring 300 ver farmer 211 nom


general 299 nom advantage 211 nom
mean 298 ver support 209 nom
give 298 nom rich 206 adj
altogether 298 nom house 202 ver
home 295 nom fund 201 ver
considerable 292 nom cheap 201 adj
sell 288 nom america 200 nr
call 277 nom sum 199 nom
hundred 276 nom system 198 nom
consumption 274 nom landlord 198 nom
naturally 273 nr sovereign 197 nom
establish 272 ver consider 194 ver
new 270 adj like 193 nom
rate 266 ver master 192 nom
fall 266 ver private 191 adj
exchange 266 nom monopoly 191 nom
coin 266 ver mine 191 nom
exportation 265 nom way 190 nom
ordinary 260 adj ten 189 nom
subject 259 nom diminish 189 ver
low 259 adj buy 188 ver
thing 258 nom free 186 adj
rise 258 ver poor 185 adj
long 258 adj branch 185 nom
commonly 254 nr seldom 184 nr
cent 245 nom antient 184 nr
commerce 243 nom century 183 nom
supply 240 nom draw 182 ver
twenty 238 nom workman 181 nom
amount 235 nom inhabitant 181 nom
render 234 nom continue 181 ver
natural 234 nom manufacturer 178 nom
france 234 nr consequence 178 nom
war 232 nom proper 176 adj
thousand 226 nom productive 174 nr
oblige 225 ver circumstance 173 nom
effect 224 nom reduce 172 ver
sufficient 222 nr degree 171 nom
require 221 ver wealth 170 nom
bounty 220 nom life 170 nom
metal 215 nom deal 169 nom
advance 215 ver scotland 168 nr
town 214 nom penny 168 nom
importation 212 nom impose 166 ver
185

labourer 165 nom exercise 133 ver


debt 165 nom act 133 nom
regulate 163 ver weight 132 nom
principal 163 nom dear 132 adj
cultivation 163 nom british 132 nr
subsistence 161 nom allow 132 ver
power 159 nom arise 131 ver
hand 159 nom extraordinary 130 nr
few 159 adj competition 130 nom
province 158 nom think 129 nom
payment 157 nom paper 129 nom
day 156 nom family 129 nom
return 155 ver regard 128 ver
cultivate 155 ver agriculture 128 nom
business 155 nom large 127 adj
respect 152 ver contribute 127 ver
proprietor 152 nom till 126 nom
nature 151 nom period 126 nom
material 151 nom share 125 nom
body 151 nom exceed 125 ver
scarce 150 adj equally 125 nr
enable 149 ver regulation 124 nom
export 148 nom improve 124 ver
consist 148 ver acquire 124 ver
purpose 147 nom rank 123 ver
import 147 nom measure 123 nom
endeavour 146 ver empire 123 nom
contrary 146 nom augment 123 ver
derive 144 ver london 122 nr
king 143 nom likewise 122 nr
cattle 143 nr begin 122 ver
advantageous 143 nr custom 121 nom
half 142 nom average 120 nom
rude 141 adj remain 119 ver
surplus 140 nom east 119 nom
million 139 nom force 118 ver
keep 138 ver world 117 nom
circulate 138 ver superior 117 nom
maintenance 136 nom servant 117 nom
gain 136 ver observe 116 ver
authority 135 nom inferior 116 nom
fortune 134 nom individual 116 nom
english 134 nr expect 115 ver
annually 134 nr end 115 ver
gradually 133 nr distant 115 nr
186

court 115 ver live 100 adj


bill 115 nom security 99 nom
grant 114 ver properly 99 nr
worth 113 nom progress 99 nom
wool 113 nom levy 99 nom
loss 113 nom replace 98 ver
consume 113 ver object 98 nom
provision 112 nom dispose 98 nom
encourage 112 ver mercantile 97 nr
doubt 112 nom immediately 97 nr
come 112 ver class 97 ver
operation 111 nom portugal 96 nr
european 111 nr judge 96 nom
easily 111 nr extent 96 nom
continually 111 nr spain 95 nr
cost 110 nom favour 95 nom
reason 109 ver bullion 95 nom
put 109 ver borrow 95 ver
food 109 nom art 95 nom
trad 107 nom extend 94 ver
peace 107 nom establishment 94 nom
depend 107 ver direct 94 ver
attention 107 nom city 94 nom
army 107 nom roman 93 nom
french 106 nr management 93 nom
artificer 106 nom instrument 93 nom
receive 105 ver enjoy 93 ver
difference 105 nom circulation 93 nom
credit 105 nom wheat 92 nom
persons 104 nr turn 92 nom
parliament 104 nom prevent 92 ver
church 104 nom thirty 91 nom
situation 103 nom partly 90 nr
ship 103 ver forty 89 nom
except 103 ver clergy 89 nom
divide 103 nom back 89 nom
belong 103 ver specie 88 nom
scarcity 102 nom property 88 nom
quarter 102 ver prohibit 88 ver
justice 102 nom piece 88 nom
indies 102 nr neighbour 88 nom
sea 101 nom standard 87 nom
ounce 101 nom parish 87 nom
wine 100 nom neighbourhood 87 nom
moderate 100 ver exclusive 87 nom
187

estate 87 nom difficult 77 nr


bad 87 adj destine 77 ver
term 86 nom chiefly 77 nr
liberty 86 nom administration 77 nom
india 86 nr possess 76 ver
encouragement 86 nom independent 76 nom
compensate 86 ver annuity 76 nom
sink 85 ver age 76 nom
affect 85 ver member 75 nom
officer 84 nom run 74 nom
leave 84 nom originally 74 nr
lay 84 nom month 74 nom
happen 84 ver late 74 adj
fine 84 ver introduce 74 ver
dealer 84 nom short 73 adj
important 83 nr sale 73 nom
human 83 adj necessity 73 nom
extensive 82 nr liable 73 nr
consumer 82 nom easy 73 adj
believe 82 ver defray 73 ver
bear 82 ver portion 72 nom
balance 82 nom policy 72 nom
tobacco 81 nom lose 72 ver
save 81 ver farm 72 ver
institution 81 nom discourage 72 ver
education 81 nom tenant 71 nom
ruin 80 ver suffer 71 ver
prohibition 80 nom service 71 nom
owner 80 nom contain 71 ver
conduct 80 ver capable 71 adj
book 80 nom mr 70 nr
attempt 80 nom settlement 69 nom
statute 79 nom project 69 nom
stand 79 ver original 69 nom
kingdom 79 nom fourth 69 nom
grind 79 ver expensive 69 nr
confine 79 ver contract 69 ver
holland 78 nr add 69 ver
condition 78 nom prosperity 68 nom
command 78 nom pretend 68 ver
sugar 77 nom note 68 nom
provide 77 ver north 68 nom
privilege 77 nom grow 68 ver
lie 77 ver form 68 ver
lend 77 ver civil 68 nr
188

additional 68 nr twelve 61 nom


set 67 ver sufficiently 61 nr
serve 67 ver restrain 61 ver
precious 67 nom profession 61 nom
fit 67 adj neglect 61 nom
effectual 67 nr mint 61 nom
single 66 nom apply 61 ver
production 66 nom source 60 nom
principle 66 nom season 60 nom
division 66 nom respective 60 nr
defence 66 nom currency 60 nom
attend 66 ver child 60 nom
article 66 nom chapter 60 nom
variation 65 nom butcher 60 nom
understand 65 ver accumulate 60 ver
teacher 65 nom usual 59 nom
superiority 65 nom unproductive 59 nr
reasonable 65 nr soldier 59 nom
owe 65 ver quality 59 nom
notwithstanding 65 nr perform 59 ver
excise 65 nom occasional 59 nr
discovery 65 nom military 59 nom
cause 65 ver fifth 59 nom
mother 64 nom field 59 nom
learn 64 ver convenient 59 nr
iii 64 nr commercial 59 nom
hinder 64 ver west 58 nom
fifty 64 nom rent 58 nom
abroad 64 nr prepare 58 ver
vary 63 ver open 58 adj
teach 63 ver expences 58 nr
spirit 63 nom admit 58 ver
slave 63 nom spanish 57 nr
send 63 nom represent 57 ver
meat 63 nom plenty 57 nom
malt 63 nom luxury 57 nom
linen 63 nom inland 57 nom
heavy 63 adj imagine 57 ver
fix 63 nom benefit 57 ver
distance 63 nom propose 56 ver
citizen 63 nom peculiar 56 nom
sterling 62 nom method 56 nom
spend 62 ver lord 56 nom
evidently 62 nr limit 56 nom
china 62 nom importance 56 nom
189

change 56 nom constitute 53 ver


ability 56 nom secure 52 adj
port 55 nom joint 52 nom
obtain 55 ver grain 52 ver
manage 55 ver dominion 52 nom
enact 55 ver crown 52 nom
diminution 55 nom constantly 52 nr
civilize 55 ver woollen 51 nom
build 55 ver tend 51 ver
water 54 ver practice 51 nom
university 54 nom possession 51 nom
prince 54 nom fast 51 adj
militia 54 nom defend 51 ver
impossible 54 nom creditor 51 nom
feed 54 nom charge 51 nom
experience 54 nom american 51 nr
due 54 nom shill 50 ver
determine 54 ver plate 50 nom
coast 54 ver nominal 50 nom
salt 53 adj modern 50 adj
restraint 53 nom fully 50 nr
perfectly 53 nr full 50 adj
influence 53 nom collect 50 ver
ii 53 nr carriage 50 nom
dutch 53 nr bread 50 nom

C - The History of Astronomy

Tabela 10 - Quantidade e morfologia dos léxicos time 85 nom


ativos - HoA
body 83 nom
Léxico Qtde Morf. imagination 80 nom
motion 195 nom object 79 nom
system 164 nom connect 75 ver
earth 146 nom revolve 71 ver
sun 140 nom nature 68 nom
planet 121 nom moon 68 nom
great 96 adj appearance 68 nom
revolution 90 nom appear 68 ver
round 89 adj thing 67 nom
190

sphere 66 nom star 26 nom


suppose 65 ver principies 26 nr
natural 54 nom point 26 nom
part 53 nom move 26 ver
circle 51 nom heavenly 26 adj
observe 48 ver excite 26 ver
account 48 nom day 26 nom
heaven 47 nom chain 26 nom
center 46 nom surprise 25 nom
find 45 ver periodical 25 nom
order 42 nom fall 25 nom
observation 42 nom doctrine 25 nom
distance 40 nom begin 25 ver
copernicus 40 nr small 24 adj
hypothesis 39 nom numb 24 adj
astronomer 39 nom matter 24 nom
wonder 38 ver line 24 nom
philosophy 38 nom velocity 23 nom
event 38 nom render 23 nom
orbit 36 nom produce 23 nom
long 36 adj law 23 adj
conceive 36 ver give 23 ver
betwixt 35 nr endeavour 23 ver
regard 34 ver circular 23 nom
manner 33 nom attend 23 ver
feel 33 ver proportion 22 ver
ptolemy 32 nr present 22 nom
philosopher 32 nom idea 22 nom
movement 32 nom direction 22 nom
discover 32 ver universe 21 nom
being 32 nom perfectly 21 nr
epicycle 30 nom kind 21 adj
easily 30 nr gravity 21 nom
centre 30 nom familiar 21 nom
carry 30 nom diurnal 21 nom
world 29 nom degree 21 nom
occasion 29 ver call 21 nom
necessarily 29 nr passion 20 nom
equal 29 nom naturally 20 nr
less 28 adj last 20 ver
violent 27 nr force 20 nom
place 27 nom axis 20 nom
mankind 27 nr astronomy 20 nom
kepler 27 nr aristotle 20 nr
contrary 27 nom ancient 20 nom
191

Fonte: o autor, 2017.

D - Thinking fast and slow

Tabela 11 - Quantidade e morfologia dos léxicos word 192 ver


ativos - Tfs
individual 187 nom
Léxico Qtde Morf. idea 186 nom
person 586 nom work 183 ver
system 535 nom story 181 nom
experience 357 nom show 181 ver
decision 351 nom prediction 174 nom
probability 339 nom small 170 adj
question 336 ver information 169 nom
think 324 nom long 165 adj
effect 314 nom result 161 nom
know 305 ver point 161 nom
loss 304 nom day 161 nom
time 303 nom bias 160 ver
problem 296 nom win 159 nom
outcome 275 nom gamble 157 ver
year 264 nom consider 153 ver
risk 263 nom gain 152 ver
choice 261 adj rate 151 ver
judgment 258 nom intuition 151 nom
value 256 ver memory 150 nom
find 256 ver task 149 nom
event 245 nom participant 149 nom
good 242 adj fact 149 nom
answer 241 nom set 148 ver
large 237 adj anchor 146 ver
ask 232 ver like 145 nom
high 226 adj average 145 nom
even 224 ver believe 144 ver
life 223 nom bad 144 adj
mind 222 nom state 142 ver
theory 211 nom evidence 142 nom
case 208 nom feel 138 ver
chance 202 nom lose 137 ver
expect 201 ver price 134 nom
study 196 ver intuitive 134 nr
student 194 nom frame 134 nom
experiment 194 nom weight 132 ver
192

numb 131 adj end 98 nom


base 130 adj reason 97 ver
evaluation 129 nom change 97 nom
course 129 nom part 96 nom
surprise 128 nom early 96 adj
learn 127 ver cost 96 nom
group 127 ver amos 95 nr
subject 125 nom focus 93 ver
few 124 adj explain 93 ver
utility 123 nom cause 93 ver
ten 120 nom aversion 93 nom
situation 119 nom simple 92 adj
self 119 ver hand 92 nom
estimate 118 nom come 92 ver
tell 117 ver predict 91 ver
preference 117 nom error 89 nom
easy 117 adj control 89 nom
low 116 adj world 88 nom
attention 116 nom skill 88 nom
heuristic 115 nom psychologist 88 nom
thing 114 nom money 88 nom
include 114 ver future 88 nom
call 113 ver belief 88 nom
sample 112 nom accept 88 ver
prospect 112 nom understand 87 ver
effort 112 nom true 87 adj
cognitive 112 nr measure 87 nom
choose 111 ver judge 87 nom
read 110 ver face 87 nom
difference 110 nom book 87 nom
being 110 nom wealth 86 nom
view 109 ver rational 86 nom
illusion 109 nom lead 85 ver
option 106 nom difficult 85 nr
need 105 ver impression 84 nom
term 103 nom important 84 nr
increase 102 ver imagine 84 ver
rule 101 nom amount 84 nom
pay 101 ver spend 83 ver
own 101 ver score 83 nom
report 100 ver research 83 nom
mental 100 nr reference 83 nom
expert 100 nom produce 83 nom
human 99 nom offer 83 nom
evaluate 98 ver help 83 ver
193

sense 81 nom general 71 nom


patient 81 adj size 70 nom
draw 81 ver recognize 70 ver
buy 81 ver provide 70 ver
require 80 ver play 70 ver
hundred 80 nom social 69 nom
ease 80 nom single 69 nom
pain 79 nom occur 69 ver
observe 79 ver failure 69 nom
firm 79 adj conclusion 69 nom
description 79 nom wrong 68 adj
test 78 ver write 68 ver
subjective 78 nr statistic 68 nom
stock 78 ver psychology 68 nom
reduce 78 ver sell 67 nom
mean 78 nom regression 67 nom
instance 78 nom performance 67 nom
account 78 ver version 66 nom
quickly 77 nr determine 66 ver
fail 77 nom avoid 66 ver
emotional 77 nr apply 66 ver
child 77 nom woman 64 ver
similar 76 nr success 64 nom
response 76 nom present 64 ver
million 76 nom neglect 64 nom
great 76 adj action 64 nom
add 76 ver significant 63 nom
remember 75 ver school 63 nom
forecast 75 ver process 63 nom
figure 75 nom interest 63 nom
team 74 nom context 63 nom
influence 74 nom confidence 63 nom
behavior 74 nom prefer 62 ver
start 73 nom last 62 ver
procedure 73 nom ability 62 nom
plan 73 ver poor 61 adj
list 73 ver form 61 ver
give 73 nom economist 61 nom
availability 73 nom causal 61 nr
assess 73 ver bet 61 ver
suggest 72 ver share 60 nom
strong 72 adj role 60 nom
statistical 72 nr project 60 nom
turn 71 ver moment 60 nom
pattern 71 nom consequence 60 nom
194

leave 59 nom hold 53 nom


involve 59 ver frequency 53 nom
improve 59 ver correct 53 ver
common 59 adj conduct 53 nom
ticket 58 nom associative 53 nr
speak 58 ver sentence 52 nom
short 58 adj relevant 52 nr
receive 58 ver quality 52 nom
psychological 58 nr public 52 nom
affect 58 ver model 52 nom
statement 57 nom half 52 nom
seek 57 nom function 52 nom
move 57 nom explanation 52 nom
happy 57 adj describe 52 ver
far 57 adj current 52 nom
emotion 57 nom compare 52 ver
prime 56 nom activity 52 nom
mistake 56 nom twenty 51 nom
factor 56 nom observation 51 nom
correlation 56 nom minute 51 adj
respondent 55 nom intensity 51 nom
professional 55 nom illustrate 51 ver
market 55 ver identify 51 ver
happen 55 ver hard 51 adj
extreme 55 adj guess 51 ver
evoke 55 ver generally 51 nr
car 55 nom drive 51 nom
assign 55 nom condition 51 nom
science 54 nom brain 51 nom
reaction 54 nom approach 51 ver
policy 54 nom store 50 ver
match 54 nom save 50 nom
feature 54 nom random 50 nom
favor 54 nom linda 50 nr
depend 54 ver economic 50 nr
company 54 nom easily 50 nr
alternative 54 nom contrast 50 nom
sequence 53 nom construct 50 nom
regret 53 nom clear 50 adj
normal 53 nom business 50 nom
immediately 53 nr

Fonte: o autor, 2017.


195

E - Heuristic and Biases

Tabela 12 - Quantidade e morfologia dos léxicos ativos - HaB

Léxico Qtde Morf. experience 402 nom


judgment 1336 nom case 401 nom
person 1288 nom decision 392 nom
study 1045 ver test 390 nom
probability 963 nom ask 389 ver
bias 896 ver predict 378 ver
participant 787 nom think 371 nom
subject 770 nom risk 352 nom
effect 667 nom set 348 ver
event 652 nom belief 347 nom
heuristic 650 nom expect 346 ver
hypothesis 632 nom tversky 345 nr
anchor 613 ver kahneman 345 nr
prediction 611 nom suggest 343 ver
evidence 603 ver al 343 nr
task 567 nom judge 341 nom
information 531 nom group 337 ver
result 517 nom present 333 ver
support 516 nom research 331 nom
base 512 adj well 323 nom
process 506 nom consider 307 ver
rate 500 ver mean 296 ver
model 498 nom system 295 nom
problem 488 nom recall 295 ver
even 454 ver datum 292 nom
value 450 ver provide 290 ver
question 449 ver student 288 nom
outcome 442 nom target 286 ver
show 439 ver numb 286 adj
high 439 adj own 285 ver
response 435 nom report 283 ver
estimate 433 nom influence 279 nom
find 425 ver answer 279 nom
what 418 nom low 267 adj
time 414 nom error 267 nom
theory 413 nom negative 265 nom
individual 409 nom cue 263 nom
condition 405 ver behavior 263 nom
reason 404 ver conjunction 258 nom
rule 402 nom general 256 nom
196

weight 254 ver experiment 193 nom


great 254 adj note 190 nom
attribute 254 ver assume 189 ver
sample 252 ver statistical 187 nr
affect 251 ver adjustment 186 nom
assessment 246 nom consistent 185 nr
observe 245 ver believe 184 ver
choice 245 adj feature 182 nom
average 244 nom require 181 ver
increase 240 ver player 181 nom
like 238 nom relevant 180 nr
positive 233 adj frequency 180 nom
knowledge 233 nom good 177 adj
forecast 231 nom control 177 ver
account 229 ver being 177 nom
lead 227 ver occur 176 ver
expert 224 nom mind 176 ver
alternative 224 nom choose 175 ver
similar 223 nr know 174 ver
respondent 223 nom source 173 nom
factor 222 nom generate 173 ver
evaluate 221 ver future 173 nom
point 220 nom social 171 nom
cognitive 220 nr object 171 nom
optimistic 216 nr normative 171 nr
particular 211 nom match 171 nom
fact 211 nom feel 171 ver
year 208 nom evaluation 171 nom
view 207 ver people 170 nom
state 206 ver pair 170 nom
overconfidence 206 nom involve 170 ver
affective 205 nr word 168 ver
large 204 adj why 168 nom
performance 202 nom specific 168 nom
term 201 ver domain 168 nom
difference 201 nom assess 168 ver
strategy 200 nom ability 168 nom
include 199 ver perspective 167 nom
representativeness 198 nr order 167 ver
produce 198 nom relative 166 nom
correct 196 ver pattern 166 nom
category 196 nom human 166 adj
situation 195 nom explain 165 ver
analysis 195 nom accuracy 165 nom
work 194 ver win 164 nom
197

mood 162 nom standard 139 nom


important 162 nr method 139 nom
fallacy 162 nom fail 139 nom
apply 162 ver component 139 nom
small 161 adj option 138 nom
scale 161 nom strong 137 adj
form 160 ver possibility 136 nom
focus 160 ver explicit 136 nr
direct 160 ver change 136 nom
understand 159 ver action 136 nom
argument 159 nom plan 135 ver
disjunction 158 nom likelihood 135 nom
subadditivity 156 nr cause 135 ver
procedure 156 nom perceive 134 ver
world 155 nom major 134 ver
long 154 adj close 134 adj
call 154 nom variable 133 nom
life 153 nom criterion 133 nom
description 153 nom subjective 132 nr
tendency 152 nom role 132 nom
rank 152 ver generally 132 nr
chance 152 nom unpack 131 ver
reflect 151 ver imply 131 ver
level 151 nom strength 130 nom
principle 150 nom draw 130 ver
compare 150 ver similarity 129 nom
list 149 ver item 129 nom
design 149 ver actual 129 nom
instance 148 nom offer 128 nom
contrast 148 ver tend 127 ver
intuitive 147 nr feelings 127 nr
uncertainty 146 nom easy 127 adj
review 146 ver mental 126 nr
difficult 146 nr hold 126 nom
measure 145 nom complete 126 adj
interpretation 144 nom linda 125 nr
comparison 144 nom expectation 125 nom
calibration 144 nom argue 124 ver
bet 144 ver sequence 123 ver
reduce 143 ver sense 123 nom
inference 143 nom relate 123 ver
imagine 143 ver range 123 ver
early 143 adj give 123 nom
type 140 ver demonstrate 123 ver
confidence 140 nom interest 122 nom
198

determine 122 ver interpret 110 ver


conclusion 122 nom claim 110 nom
norm 121 nom slovic 109 nr
discuss 121 ver significant 109 nom
degree 121 nom reaction 109 nom
actor 121 nom psychological 109 nr
shoot 120 nom bank 109 nom
patient 120 adj true 108 adj
hand 120 nom law 108 nom
failure 120 nom price 107 ver
avoid 120 ver past 107 nom
approach 120 ver half 107 nom
preference 119 nom causal 106 nr
examine 119 ver teller 105 nom
assign 119 nom recognize 105 ver
represent 118 ver observer 105 nom
neglect 118 nom initial 105 nom
contagion 118 nom attention 105 nom
common 118 adj assumption 105 nom
class 118 nom train 104 ver
tell 117 ver thought 104 nom
impression 117 nom percentage 104 nom
explanation 117 nom line 104 nom
concern 117 ver attempt 104 ver
rating 116 nom yield 103 nom
bayesian 116 nr stimulus 103 nom
hit 115 nom simple 103 adj
reveal 114 ver representative 103 nom
finding 114 nom program 103 ver
part 113 nom perform 103 ver
memory 113 nom few 103 adj
day 113 nom current 103 nom
availability 113 nom disease 102 nom
propose 112 ver trait 101 nom
implicit 112 nr serve 101 ver
difficulty 112 nom relation 101 nom
correlation 112 nom manipulation 101 nom
versus 111 nr image 101 nom
natural 111 nom happy 101 adj
learn 111 ver function 101 nom
highly 111 nr consequence 101 nom
context 111 nom project 100 nom
city 111 nom limit 99 nom
scenario 110 nom equal 99 ver
need 110 ver basis 99 nom
199

version 98 nom fischhoff 88 nr


underlie 98 ver mechanism 87 nom
statement 98 nom bad 87 adj
regression 98 nom amount 87 nom
perception 98 nom previous 86 nr
identify 98 ver obtain 86 ver
define 98 ver implication 86 nom
receive 97 ver benefit 86 ver
real 97 adj select 85 ver
focal 97 nr idea 85 nom
act 97 nom death 85 nom
ross 96 nr team 84 nom
personal 96 nom share 84 nom
kind 96 adj induce 84 ver
accurate 96 nr describe 84 ver
turn 95 ver university 83 nom
phenomenon 95 nom observation 83 nom
game 95 adj begin 83 ver
population 93 nom speaker 82 nom
play 93 ver side 82 nom
section 92 nom prefer 82 ver
experimental 92 nr man 82 nom
ease 92 nom characteristic 82 nom
depend 92 ver woman 81 ver
construct 92 nom systematic 81 nr
actuarial 92 nr surprise 81 nom
validity 91 nom issue 81 nom
typically 91 nr develop 81 ver
size 91 nom compatibility 81 nom
schwarz 91 nr vary 80 ver
property 91 nom simply 80 nr
illustrate 91 ver rely 80 ver
favor 91 nom read 80 ver
discussion 91 nom rational 80 nom
counterfactual 91 nr quality 80 nom
similarly 90 nr miss 80 ver
impact 90 nom extension 80 nom
fig 90 nom differ 80 ver
end 90 ver content 80 nom
single 89 ver clear 80 adj
rationality 89 nom prior 79 nom
position 89 ver judgmental 79 nr
literature 89 nom express 79 ver
score 88 nom fit 78 adj
head 88 nom due 78 nom
200

associative 78 nr effort 70 nom


aspect 78 nom decrease 70 nom
significantly 77 nr success 69 nom
representation 77 nom pay 69 nom
physical 77 nom number 69 ver
overestimate 77 ver enhance 69 ver
emotion 77 nom random 68 nom
laboratory 76 nom intention 68 nom
face 76 nom fast 68 adj
extreme 76 adj consideration 68 nom
experimenter 76 nom add 68 ver
american 76 nr statistic 67 nom
far 75 adj shot 67 nom
variation 74 nom probable 67 nom
suspect 74 ver potential 67 nom
suppose 74 ver payoff 67 nom
notion 74 nom opposite 67 nom
nature 74 nom maker 67 nom
mr 74 nr lichtenstein 67 nr
johnson 74 nr health 67 nom
symptom 73 nom guide 67 nom
search 73 nom grade 67 nom
relationship 73 nom finally 67 nr
lack 73 ver demonstration 67 nom
field 73 nom addition 67 nom
variety 72 nom psychologist 66 nom
structure 72 ver message 66 nom
run 72 nom member 66 nom
place 72 nom interview 66 ver
medalist 72 nom history 66 nom
lose 72 ver empirical 66 nr
extent 72 nom descriptive 66 nr
environment 72 nom defense 66 nom
bring 72 ver clinical 66 nr
basic 72 nom circumstance 66 nom
thing 71 nom arise 66 ver
physician 71 nom yates 65 nr
easily 71 nr skill 65 nom
detail 71 ver short 65 adj
come 71 ver product 65 nom
chinese 71 nr previously 65 nr
remain 70 ver original 65 nom
loss 70 nom lie 65 ver
goal 70 nom evoke 65 ver
finish 70 nom elicit 65 ver
201

create 65 ver operation 59 nom


cost 65 nom movement 59 nom
contact 65 nom medical 59 nom
attitude 65 nom intend 59 ver
application 65 nom gigerenzer 59 nr
anticipate 65 ver food 59 nom
additional 65 nr comparative 59 nom
survey 64 ver leave 58 nom
psychology 64 nom koehler 58 nr
proportion 64 nom follow 58 nom
intuition 64 nom feminist 58 nom
false 64 adj discrimination 58 nom
deal 64 nom achieve 58 ver
attribution 64 nom accountability 58 nom
accept 64 ver mention 57 ver
wrong 63 adj improve 57 ver
sum 63 ver explore 57 ver
refer 63 ver eliminate 57 ver
peer 63 nom distinction 57 nom
everyday 63 nr child 57 nom
display 63 nom absolute 57 adj
silver 62 nom stock 56 nom
readily 62 nr stand 56 ver
forecaster 62 nom regret 56 nom
conflict 62 ver record 56 nom
completion 62 nom nisbett 56 nr
adjust 62 ver language 56 nom
wilson 61 nr job 56 nom
violation 61 nom independent 56 nom
science 61 nom gamble 56 nom
market 61 nom exposure 56 nom
happen 61 ver element 56 nom
griffin 61 nom drive 56 nom
force 61 ver compel 56 ver
direction 61 nom bronze 56 nom
conclude 61 ver rozin 55 nr
allow 61 ver predictive 55 nr
researcher 60 nom name 55 nom
persons 60 nr logic 55 nom
distribution 60 nom exhibit 55 ver
distinguish 60 ver uncertain 54 nr
directly 60 nr taylor 54 nr
conduct 60 ver plausible 54 nr
concept 60 nom motivate 54 ver
athlete 60 nom jones 54 nr
202

hard 54 adj confirm 52 ver


exceed 54 ver college 52 nom
dollar 54 nom topic 51 nom
contamination 54 nom reference 51 nom
complex 54 adj proposition 51 nom
accident 54 nom personality 51 nom
respect 53 ver measurement 51 nom
probabilistic 53 nr light 51 nom
derive 53 ver investigate 51 ver
ambiguous 53 nr infer 51 ver
reliance 52 nom gain 51 ver
paper 52 nom down 51 nom
multiple 52 nom culture 51 nom
meet 52 adj series 50 nr
mark 52 ver separate 50 nom
house 52 nom school 50 nom
heart 52 nom oppose 50 ver
gilbert 52 nom label 50 ver
fundamental 52 nom introduce 50 ver
free 52 adj exist 50 ver
formal 52 nom dispositional 50 nr
equally 52 nr cultural 50 nr
decide 52 ver critical 50 nr
cross 52 adj correction 50 nom
constant 52 nom

Fonte: o autor, 2017.

F - Neuroeconomics

Tabela 13 - Quantidade e morfologia dos léxicos ativos - Neuroeconomics

Léxico Qtde Morf. subject 693 nom


choice 1348 adj game 682 adj
decision 1284 nom learn 671 ver
model 1268 nom theory 660 nom
value 1232 ver function 641 nom
reward 1189 ver outcome 580 nom
study 857 ver brain 546 nom
action 783 nom human 539 nom
behavior 724 nom utility 537 nom
response 704 nom process 525 nom
203

neural 525 nr involve 287 ver


preference 515 nom movement 281 nom
risk 509 nom predict 277 ver
neuron 497 nom error 277 nom
activity 486 nom offer 276 nom
time 470 nom play 275 ver
task 463 nom activation 273 nom
prediction 445 nom understand 272 ver
show 440 ver strategy 270 nom
signal 428 nom effect 270 nom
social 426 nom high 269 adj
choose 420 ver goal 264 nom
probability 416 nom approach 262 ver
state 410 ver difference 261 nom
expect 404 ver provide 259 ver
person 398 nom measure 258 nom
suggest 397 ver variable 256 nom
player 394 nom region 256 nom
economic 380 nr particular 256 nom
monkey 374 nom important 255 nr
behavioral 370 nr striatum 252 nr
experiment 367 nom case 251 nom
trial 366 nom work 240 ver
emotion 360 nom role 237 nom
figure 353 nom give 237 nom
option 350 nom food 237 nom
result 344 nom relate 233 ver
dopamine 344 nom set 232 ver
cortex 341 nom test 228 ver
area 341 nom mechanism 226 nom
stimulus 338 nom form 226 ver
what 336 nom way 223 nom
individual 333 nom observe 222 ver
evidence 323 ver even 222 nom
condition 322 ver prospect 221 nom
system 320 nom method 217 nom
base 320 adj situation 211 nom
find 318 ver target 209 ver
increase 314 ver large 208 adj
datum 311 nom rate 207 ver
gain 304 ver experience 203 nom
good 302 nom encode 202 ver
information 295 nom include 201 ver
loss 290 nom like 199 nom
animal 289 nom term 196 ver
204

receive 195 ver low 150 adj


numb 195 adj determine 150 ver
level 195 nom lottery 148 nom
specific 194 nom long 147 adj
point 194 nom further 147 ver
control 193 ver valuation 146 nom
participant 191 nom small 146 adj
simple 187 adj review 146 ver
interest 187 nom define 146 ver
payoff 186 nom respond 145 nom
economist 186 nom examine 145 ver
direct 186 ver event 145 nom
motor 184 nom assume 145 ver
research 183 nom affect 144 ver
lead 183 ver experimental 143 nr
subjective 181 nr punishment 141 nom
representation 177 nom money 141 nom
primate 177 nom cognitive 141 nr
neuroeconomics 177 nr ventral 138 nr
correlate 177 nom temporal 138 nom
emotional 175 nr parameter 136 nom
represent 174 ver own 136 ver
consider 174 ver standard 135 nom
aversion 174 nom equilibrium 134 nom
amount 172 nom compare 134 ver
present 171 ver depend 133 ver
partner 170 nom reveal 132 ver
economics 169 nr fire 132 nom
group 167 nom maker 131 nom
mean 166 ver uncertainty 129 nom
question 165 ver typically 128 nr
weight 163 ver reason 128 ver
similar 163 nr prefrontal 128 nr
order 162 ver pattern 128 nom
problem 161 nom obtain 128 ver
influence 161 nom contrast 128 nom
hypothesis 161 nom consistent 128 nr
relative 158 nom positive 127 adj
reinforcement 157 nom prefer 126 ver
require 154 ver neuroscience 126 nom
call 154 nom field 126 nom
pavlovian 153 nr underlie 125 ver
future 152 nom trust 125 ver
belief 152 nom estimate 125 nom
fact 151 nom type 124 nom
205

selection 124 nom alternative 109 nom


early 124 adj volume 108 nom
single 123 nom occur 108 ver
view 122 ver object 108 nom
potential 122 nom altruism 108 nom
face 122 nom reflect 107 ver
structure 121 ver distribution 107 nom
neuronal 121 nr component 107 nom
environment 121 nom colleague 107 nom
change 121 ver support 106 nom
assumption 120 nom performance 106 nom
sensory 119 nr lip 106 nom
recent 119 adj report 105 nom
note 119 nom propose 105 ver
reaction 118 nom aversive 105 nr
price 118 nom share 104 nom
axiom 118 nom optimal 104 nr
range 117 ver general 104 nom
pure 117 adj bias 104 ver
visual 116 nom negative 103 nom
psychological 116 nr hand 103 ver
interaction 116 nom glimcher 103 nr
demonstrate 116 ver explain 103 ver
risky 115 adj elicit 103 ver
need 115 ver ability 103 nom
cost 115 nom striatal 102 nr
context 114 nom rule 102 nom
begin 114 ver public 102 nom
technique 113 nom critical 102 nr
ofc 113 nr common 102 nom
leave 113 nom reduce 101 ver
account 113 ver random 101 nom
maximize 112 ver instrumental 101 nom
discuss 112 ver factor 101 ver
focus 111 ver benefit 101 ver
fmri 111 nr unfair 100 adj
empathy 111 nom previous 100 nr
instance 110 nom chimpanzee 100 nom
image 110 ver average 100 nom
capuchin 110 nom analysis 100 nom
part 109 nom section 99 nom
match 109 nom new 99 adj
gamble 109 nom great 99 adj
assess 109 ver detail 99 ver
altruistic 109 nr select 98 ver
206

directly 98 nr pair 84 nom


chimp 98 nom finally 84 nr
specie 97 nom feel 84 ver
neuroeconomic 97 nr argue 84 ver
identify 97 ver algorithm 84 nom
clear 96 adj juice 83 nom
observation 95 nom exist 83 ver
nature 95 nom dynamic 83 nom
link 95 nom design 83 ver
know 95 ver current 83 nom
cue 95 nom apply 83 ver
computer 95 nom stage 82 nom
vary 93 ver relationship 81 nom
inequity 93 nom produce 81 nom
free 93 adj network 81 nom
finding 93 nom input 81 nom
dopaminergic 93 nr stimulation 80 nom
think 92 ver affective 80 nr
chance 92 nom world 79 nom
move 91 nom seek 79 ver
issue 91 nom incentive 79 nom
basis 91 nom idea 79 nom
attention 91 nom complex 79 adj
possibility 90 nom caudate 79 nom
experimenter 90 nom simply 78 nr
strong 89 adj mix 78 ver
monetary 89 nr direction 78 nom
amygdala 89 nom decrease 78 nom
pay 88 nom close 78 adj
medial 87 nom neurobiological 77 nr
limit 87 ver imply 77 ver
feature 87 nom train 76 ver
anterior 87 nr reference 76 nom
actor 87 nom frame 76 nom
activate 87 ver expression 76 nom
researcher 86 nom domain 76 nom
nash 86 nr agent 76 nom
develop 86 ver remain 75 ver
describe 86 ver lesion 75 nom
allow 86 ver functional 75 nom
magnitude 85 nom dorsal 75 nr
compute 85 nom computational 75 nr
turn 84 ver comparison 75 nom
refer 84 ver addition 75 nom
perform 84 ver start 74 nom
207

multiple 74 nom people 66 nom


due 74 nom map 66 nom
degree 74 nom generate 66 ver
contribute 74 ver far 66 adj
property 73 nom eye 66 nom
evaluation 73 nom exchange 66 nom
market 72 nom establish 66 ver
computation 72 nom empirical 66 nr
basic 72 nom characterize 66 ver
schultz 71 nr block 66 nom
reach 71 ver believe 66 ver
rat 71 nom assign 66 nom
circuit 71 nom accept 66 ver
sample 70 ver tversky 65 nr
return 70 ver motivation 65 nom
reject 70 ver equal 65 nom
motive 70 nom axiomatic 65 nr
key 70 nom assessment 65 nom
insula 70 nr specifically 64 nr
inference 70 nom release 64 nom
generally 70 nr principle 64 nom
distinguish 70 ver pain 64 nom
delay 70 nom measurement 64 nom
de 70 nr location 64 nom
attitude 70 nom equivalent 64 nom
plan 69 ver dlpfc 64 nr
opponent 69 nom derive 64 ver
frontal 69 nom consequence 64 nom
behave 69 ver additional 64 nr
ask 69 ver prior 63 nom
unit 68 nom kahneman 63 nr
true 68 adj feelings 63 nr
perceive 68 ver cooperation 63 nom
nucleus 68 nom attempt 63 nom
mind 68 ver actual 63 nom
aspect 68 nom predictive 62 nr
tendency 67 nom initial 62 nom
phenomenon 67 nom illustrate 62 ver
perception 67 nom evaluate 62 ver
knowledge 67 nom effort 62 nom
difficult 67 nr relevant 61 nr
complete 67 adj recently 61 nr
step 66 nom procedure 61 nom
primary 66 nom perceptual 61 nr
posterior 66 nom opportunity 61 nom
208

lack 61 ver motivate 57 ver


fit 61 adj cingulate 57 nr
deliver 61 ver strength 56 nom
concern 61 ver shape 56 ver
characteristic 61 nom likelihood 56 nom
arise 61 ver implication 56 nom
theoretical 60 nr concept 56 nom
sense 60 nom punish 55 ver
prosocial 60 nr natural 55 nom
prize 60 nom interpretation 55 nom
physiological 60 nr independent 55 nom
period 60 nom extend 55 ver
parietal 60 nom patient 54 adj
paper 60 nom paradigm 54 nom
nacc 60 nr linear 54 nr
mental 60 nr exhibit 54 ver
induce 60 ver constraint 54 nom
differ 60 ver win 53 nom
author 60 nom short 53 adj
real 59 adj record 53 nom
policy 59 nom rational 53 nom
normative 59 nr psychology 53 nom
expectation 59 nom persons 53 nr
emerge 59 ver investigate 53 ver
definition 59 nom equation 53 nom
contribution 59 nom discount 53 ver
challenge 59 nom decide 53 ver
central 59 adj correlation 53 nom
variety 58 nom construct 53 nom
update 58 nom apple 53 nom
tend 58 ver variance 52 nom
stochastic 58 nr sv 52 nr
source 58 nom perspective 52 nom
sensitive 58 nom member 52 nom
line 58 nom few 52 adj
impact 58 nom cooperative 52 nom
framework 58 nom advance 52 ver
fairness 58 nom psychologist 51 nom
class 58 nom income 51 nom
transfer 57 ver display 51 nom
tool 57 nom desire 51 nom
significant 57 nom cortical 51 nr
scale 57 ver advantage 51 nom
repeat 57 nom act 51 nom
population 57 nom year 50 nom
209

versus 50 nr item 50 nom


table 50 nom hold 50 nom
piece 50 nom guide 50 nom
noise 50 nom drive 50 nom
neuroimaging 50 nr camerer 50 nr
literature 50 nom appetitive 50 nr
l2 50 nr

Fonte: o autor, 2017.

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