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Aula 3 - Plasticidade Neuronal PDF
Aula 3 - Plasticidade Neuronal PDF
AULA
Plasticidade neuronal
Meta da aula
Mostrar as principais características do
desenvolvimento do sistema nervoso e
sua importância para a Educação Especial.
objetivos
Pré-requisito
Para que você compreenda melhor este novo
conteúdo, é necessário que tenha pleno
conhecimento das aulas anteriores.
Tópicos em Educação Especial | Plasticidade neuronal
DESENVOLVIMENTO E PERIODIZAÇÃO
Um pouco de história
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Períodos da vida: Periodização
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As etapas em que a vida humana tem sido dividida compreende
a infância, a adolescência, a idade adulta e a velhice, que têm sido apre-
sentadas como etapas universais e associadas a características comuns
a todas as pessoas. Esses períodos são rigorosamente marcados por mu-
danças, até certo ponto drásticas, tais como a infância, tida como uma
época em que ocorrem experiências com efeito determinante sobre o de-
senvolvimento posterior; a adolescência, como um período de mudanças
drásticas e turbulentas; a idade adulta, como um período de ausência
de mudanças importantes e um momento de estabilidade. A velhice, o
último dos períodos, é marcada pela diminuição da produtividade e
deterioração dos processos psicológicos (PALACIOS, 1995).
A visão que sempre prevaleceu é de que o desenvolvimento se dá
em períodos estanques, marcados por aquisições ou perdas definidas.
A ênfase, quando é dada aos processos de origem biológica, na busca
de universalidade, não leva em conta os aspectos da história cultural e
individual dos sujeitos, “essa perspectiva não contempla a multiplicidade
de possibilidades de desenvolvimento humano, nem tampouco a própria
essência do desenvolvimento, que é a transformação” (OLIVEIRA &
TEIXEIRA, 2002, p. 23).
Atualmente, discute-se a questão da periodização do desenvolvi-
mento nas teorias psicológicas e se propõe uma reflexão sobre esse pro-
cesso, os fatores que o constituem, a necessidade de se definirem etapas
de desenvolvimento e a universalização ou não dessas etapas.
Quando nos referimos ao desenvolvimento como um conjunto de
transformações, esses processos estão relacionados a três fatores descritos
por Palacios (1995):
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Tópicos em Educação Especial | Plasticidade neuronal
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desenvolvimento tipicamente humano encontram-se nas circunstâncias
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histórico-culturais e nas peculiaridades da história e das experiências de
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cada sujeito (OLIVEIRA & TEIXEIRA, 2002).
O perfeito entendimento sobre a importância das circunstâncias
histórico-culturais e sobre as experiências de cada sujeito ajudam a
perceber com maior clareza a complexidade dos processos de desen-
volvimento que, por sua vez, têm dimensões individuais e particulares
extremamente relevantes. Associados a esse entendimento, novos estu-
dos sobre o desenvolvimento cerebral oferecem melhores condições de
entender a dinâmica do desenvolvimento humano, especialmente nos
primeiros anos de vida.
Durante muito tempo, acreditou-se que o cérebro não possuía
capacidade para regenerar suas células nervosas. Hoje sabe-se que o
cérebro muda durante a vida e que essa mudança é benéfica.
Atualmente, entende-se que o psiquismo humano tem uma plas-
ticidade que permite, na maioria das vezes, em situações mais propícias,
superar ou minimizar histórias de condições difíceis e/ou adversas.
Entende-se por plasticidade cerebral a capacidade de o sistema
nervoso alterar o funcionamento motor e perceptivo baseado nas mu-
danças do ambiente, através da conexão e (re)conexão das sinapses
nervosas, organizando e (re)organizando as informações dos estímulos
motores e sensitivos.
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SISTEMA NERVOSO
Dendritos e corpo celular
Axônio
todas as células. Ele está dividido em três partes principais – corpo da
Bainha célula, que contém o núcleo, os dendritos e o axônio.
Normalmente, os impulsos nervosos caminham em uma só dire-
ção. Eles vão dos dendritos para o corpo celular, passando pelo axônio,
até os dendritos ou corpo celular do neurônio seguinte, ou a um músculo,
ou a uma glândula. Portanto, as extremidades receptoras do neurônio
Terminais do axônio são os dendritos e a extremidade transmissora é o axônio.
Para que um impulso passe bem rápido pelos neurônios, é preciso
SINAPSES que haja uma ligação entre eles. Essa ligação, chamada junção SINÁPTICA
É a propagação do ou conexões sinápticas, irão permitir a facilitação, a inibição, a coorde-
impulso nervoso de
um neurônio para nação ou a integração desses impulsos.
outro por meio da
ação de mediadores
Então, podemos dizer que o neurônio, unidade sinalizadora do sis-
químicos, neurormô- tema nervoso, é uma célula de transmissão e processamento de sinais.
nios ou nervos trans-
missores. O impulso nervoso propaga-se velozmente através do axônio e
provoca a emissão da mensagem química, que leva a informação intacta
ou alterada para a outra célula em um fenômeno eletroquímico.
Para que os impulsos neuronais, carregados eletricamente, não
entrem em curto-circuito, a maioria dessas fibras está isolada com uma
camada branca chamada bainha de mielina.
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Na época do nascimento, a MIELINIZAÇÃO do sistema nervoso não
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MIELINIZAÇÃO
está completa. Isso explica a intensa atividade do bebê, característica de
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É o primeiro passo no
suas reações físicas. Um exemplo desse fenômeno é a reação exagerada processo que possibilita
a condução dos impul-
que o bebê tem ao ser tocado no pé. Esse estímulo desencadeia uma série sos nervosos através
de movimentos em ambos os pés, nos braços e até no tronco. Apesar de das fibras nervosas.
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ATIVIDADE
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Compare o que você observou nos itens 2 e 3 com as observações feitas
no item 1.
Caso não consiga, em hipótese alguma, fazer as observações diretamente,
sugerimos que procure conversar com parentes, amigos ou vizinhos que
tenham filhos dessas idades e pergunte sobre as habilidades e principais
aquisições das crianças em cada idade.
Em ultimo caso, faça a mesma pesquisa em livros de psicologia.
Terminada a tarefa, discuta com outro colega ou no encontro de tutoria
sobre suas anotações e comentários.
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter encontrado, para os respectivos itens, que:
a. O recém-nascido passa a maior parte do tempo dormindo e,
quando acordado, dá respostas à luz e ao som, suas mãos agarram
um objeto quando lhe colocam na palma, emite sons, suga quando
lhe tocam os lábios, agita os braços em resposta a qualquer estímulo
forte, entre outras reações.
b. A criança com 1 ano de idade, aproximadamente, é capaz de ficar
em pé apoiado em móveis (42 semanas); rastejar/ engatinhar com
certa agilidade (44 semanas); anda quando ajudado (45 semanas)
e anda sozinho (62 semanas).
c. Uma criança de pré-escola, apresenta uma sofisticação motora,
ela anda, corre e salta sem dificuldade. Todos os avanços em relação
aos recém-nascidos e aos bebês de 18 meses, são significativos em
termos, principalmente, de destreza. A criança se agrupa e brinca
com outras crianças. Primeiro brincam juntas, depois se separam
e voltam a se juntar.
Você deve ter percebido que as aquisições motoras são significativa-
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PLASTICIDADE NEURONAL
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Após inúmeros experimentos, podemos reafirmar a plasticidade
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do cérebro no início da vida. Por exemplo, quando ocorrem lesões do AFASIA
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hemisfério esquerdo nos períodos pré e perinatal, raramente essas lesões Perturbação da
linguagem.
produzem AFASIA permanente na criança, enquanto que, se ocorrerem lesões
na mesma área no indivíduo adulto, essas, freqüentemente, concorrerão
para um quadro de afasia (BRAGA, 1995).
LUCIA W. BRAGA (1995), quando estudou a plasticidade relacionada LUCIA WILLADINO
BRAGA
às lesões cerebrais, concluiu que, mesmo na infância, a plasticidade é
Pesquisadora e
geralmente limitada e está relacionada à importância da localização e diretora da rede
extensão da lesão. Sarah de hospitais.
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Instrumento
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É o elemento que está entre o trabalhador e o objeto de seu trabalho,
capaz de ampliar as possibilidades de transformação da Natureza. Ele é
um objeto social e mediador da relação entre o indivíduo e o mundo.
O instrumento é o que provoca mudanças externas, pois amplia a possi-
bilidade de intervenção. Um exemplo seria a caça, o uso da flecha para
permitir alcançar o animal distante ou, para cortar uma árvore, o uso
de um instrumento cortante.
Exemplos de instrumentos: a partir do ambiente em que o homem vive,
ele tem acesso a instrumentos físicos (faca, mesa, enxada, entre outros)
e a instrumentos simbólicos (cultura, valores, tradições, conhecimento),
que foram desenvolvidos pelas gerações anteriores.
Signos
Os signos podem ser definidos como elementos que representam ou
expressam outros objetos, eventos ou situações. É uma marca externa
que auxilia o homem em tarefas que exigem memória ou atenção.
O signo age como instrumento de atividade psicológica, assim como o
instrumento age na atividade de trabalho. São chamados, por Vygotsky,
de instrumentos psicológicos. O signo pode ser considerado como aquilo
que representa algo diferente de si mesmo, como no código de trânsito.
A cor vermelha é um signo que indica a necessidade de parar. A lingua-
gem é um signo mediador por excelência, pois traz consigo os conceitos
generalizados e elaborados pela cultura humana (REGO,1995).
Exemplos de signos: A palavra cadeira é um signo que representa um objeto:
cadeira. O símbolo 5 é um signo para a quantidade cinco. O desenho de
uma bolsa ou de uma mulher na porta de um banheiro é um signo que
indica que ali é um sanitário feminino.
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Significado
Nas relações entre pensamento e linguagem, o significado ocupa um
lugar central. Ele é um componente essencial da palavra. O significado
que possibilita a comunicação entre os usuários de uma língua define
um modo de organizar o mundo real de maneira que uma determinada
palavra possa se aplicar a alguns objetos e não a outros. É nele que se
encontra a unidade das duas funções básicas da linguagem: o intercâm-
bio social e a função generalizante (Oliveira,1995).
Ao longo do processo de desenvolvimento, por meio da interação ver-
bal, a criança toma posse de alguns significados e depois vai ajustando
seus significados de forma a aproximá-los aos conceitos usados pelo
seu grupo.
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Alexei Nikolaievick Leontiev (1904-1979) muito contribuíram para o
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entendimento dos processos psicológicos humanos.
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O campo de estudo relativo à deficiência foi particularmente
iluminado pela teoria de Vygotsky. São inúmeros os trabalhos publi-
cados, além de ele ter sido o fundador do Instituto dos Deficientes de
Moscou. Apesar de sua morte prematura, aos 37 anos, ele produziu
de uma maneira excepcional.
Atualmente, já se tem mais familiaridade com seu trabalho;
mesmo assim, ao se tentar compreender o desenvolvimento e a edu-
cação de crianças deficientes, ainda se rende homenagens àquele que,
no início do século passado, já descrevia, entre outros conceitos, o de
plasticidade cerebral.
Vygotsky dedicou-se ao estudo das chamadas funções psicológi-
cas superiores, que consistem no modo de funcionamento psicológico
tipicamente humano, como a capacidade para planejar, a memória
voluntária, a imaginação. Esses processos são considerados como sofis-
ticados e superiores porque eles estão relacionados às ações conscientes,
a mecanismos intencionais, a processos voluntários que concedem ao
indivíduo a possibilidade de agir com independência em relação ao
momento que está vivendo. Estes processos não são inatos; eles têm
origem nas relações entre os indivíduos e se desenvolvem ao longo do
processo de internalização de formas culturais de comportamento.
As funções psicológicas superiores se desenvolvem, portanto,
através da mediação. Os elementos básicos responsáveis por este proces-
so são o instrumento e o signo. Como vimos anteriormente, o primeiro
tem a função de regular as ações sobre os objetos, e o segundo, regula
as ações sobre o psiquismo das pessoas (REGO, 1995).
Mediação, portanto, é o processo de intervenção de um elemento
intermediário numa relação. Ela deixa de ser direta e passa a ser me-
diada por este elemento. A relação do homem com o mundo não é uma
relação direta, mas uma relação mediada, sendo os sistemas simbólicos
os elementos intermediários entre eles.
Antes de concluir, é interessante observar que, segundo Olivei-
ra(1995), embora as características de cada espécie definam limites e
possibilidades para o desenvolvimento dos organismos individuais,
existe sempre uma certa flexibilidade, uma possibilidade de variação
nos comportamentos típicos da espécie, e isso garante a adaptação
dos seres vivos a ambientes diversificados e, portanto, o processo de
evolução das espécies.
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Tópicos em Educação Especial | Plasticidade neuronal
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
Um ano e sete meses depois de um acidente de ultraleve (...), Herbert Viana vive
um milagre. Seu empenho para cumprir a rotina de tratamento, a capacidade
de regeneração do cérebro e os grandes avanços da medicina podem ser as
causas de tanto progresso.
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(...) Atualmente, segundo ela, ele tem apenas problemas ligados à memória.
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O neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, da equipe que operou o músico,
concorda:— Herbert é muito inteligente, fluente em línguas, músico e tinha
áreas cognitivas muito desenvolvidas. Isso foi essencial na sua recuperação.
Alguns circuitos do cérebro assumiram o papel dos outros lesionados. A música
foi determinante para estimular a memória.
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COMENTÁRIO
Desenvolvimento: Herbert Viana é uma pessoa que teve um processo
de desenvolvimento marcado por uma multiplicidade de experiências
históricas, sociais, culturais e psicológicas em que teve a oportunidade
de construir uma complexa configuração de processos de desenvol-
vimento com características absolutamente singulares (inteligente,
fluente em línguas, criativo, músico). Tinha, portanto, áreas cognitivas
muito desenvolvidas.
Sistema nervoso e mosaico de regiões: Se as funções mentais são
resultado da atividade coordenada de neurônios agrupados em cer-
tas regiões do cérebro, no caso do Herbert, a capacidade de cantar
novamente, de lembrar as letras das músicas, de usar corretamente
a linguagem e de pensar, entre outras coisas, demonstra a intensa
atividade de diferentes regiões do cérebro.
Mielinização: A lesão medular provocou a paraplegia, isto é, há um
impedimento, na medula, da passagem dos impulsos nervosos para
os membros inferiores; por este motivo, ele está impossibilitado de
mexer as pernas.
Plasticidade neuronal: os exercícios propostos ao cantor têm a finalidade
de estimular as sinapses nervosas para que ocorra um (re)arranjo des-
sas informações neurais. Aos poucos ele foi recuperando as habilidades
e as capacidades que possuía anteriormente.
Novos caminhos para superar os obstáculos: gradativamente, o cantor
foi dando mostras de que estava superando as dificuldades. O excelente
estado de recuperação de Herbert Viana demonstra que o cérebro é
um sistema aberto, com grande plasticidade, tanto que, depois do
acidente, eram poucas as suas chances de sobreviver.
As respostas consideradas corretas serão aquelas que, ao contempla-
rem os conceitos encontrados no texto, balizarão sua compreensão da
notícia. Qualquer dúvida, retorne ao conteúdo da aula.
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RESUMO
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Os mais recentes estudos têm demonstrado a importância dos primeiros anos de
vida na formação e desenvolvimento do cérebro humano. Quanto mais se avança
na compreensão sobre o funcionamento e as conexões cerebrais, mais se comprova
a necessidade de proporcionar à criança um meio ambiente em que os estímulos se
façam constantemente presentes.
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