Você está na página 1de 2

Vida de Cristo, Fulton Sheen

Capítulo 22
Na história da humanidade sempre houve disputa de ideias, filosofias, ideologias. Sempre houve
disputa para saber quem era o verdadeiro mestre. Até na época de Jesus, havia disputa de doutrinas entre
os judeus. Mas Jesus sempre se recusou a ser colocado como um mestre humano, a ser comparado com
outros. Ele veio para dar a sua vida pelos seus – pelas suas ovelhas como veremos – e não apenas para
ser um mestre dos seus seguidores.
Essa disputa surge quando Jesus recupera a visão de um cego de nascença. Os fariseus
começam a investigar o milagre, mas não o fazem para procurar a verdade, mas com a certeza de que
isso não poderia ser considerado um milagre. Mesmo diante de todas as evidências, diante do relato dos
pais do menino de que ele realmente era cego desde que nasceu, eles já tinham um veredito.
Este é o erro que muitas vezes cometemos na nossa caminhada de fé. Temos logo um veredito
para as coisas e partimos nossos pensamentos e ações a partir desse juízo. Por exemplo, se
consideramos que alguém já está “perdido na vida”, não agimos com ele com a misericórdia e atenção e
dedicação que o poderiam ajudar em sua conversão. Na nossa busca em sermos amigos de Jesus é
necessário sempre estar disposto a descobrir a verdade, só assim poderemos encontrá-la e saboreá-la.
Se estou tomando uma bebida e já parto do ponto que eu sei tudo o que ela pode me oferecer, não
vou descobrir nada de novo nela. Mas se faço essa experiência como a de alguém que deseja
verdadeiramente conhecer a bebida, aí então torna-se uma experiência fantástica.
Assim, se parto do ponto que Jesus é isso ou é aquilo, age assim ou assado, perco muito das
coisas que Ele quer me revelar, do modo como quer agir na minha vida. Se já tenho um juízo formado
sobre a pessoa de Jesus, muito pouco vou aproveitar de cada encontro que tenho com Ele. Assim, antes é
preciso ter o coração de quem busca a verdade, não com ingenuidade, mas com esse desejo de
conhecimento amoroso de Jesus, com a reta intenção de amá-lo cada vez mais.
O cego de nascença age como a samaritana. Primeiro diz “aquele homem que se chama Jesus”,
ou seja, não é alguém íntimo, mas apenas ouviu falar dele. Depois diz “é um profeta”, reconhecendo em
Jesus algo de especial, de divino. Por fim, vai terminar prostrado aos pés de Jesus, crendo que ele é o
Filho de Deus.
Em nossa caminhada de fé também há esse processo de, na medida em que nos aproximamos de
Jesus, buscamos a verdade com sinceridade, ele vai deixando de ser um desconhecido para ser alguém a
ser servido e, mais, alguém para ser amado. O ex-cego se prostra aos pés de Jesus, Fulton nos diz: a sua
fé não era aquela que professa com os lábios, mas aquela que adora a Verdade Encarnada.
Se com sinceridade procurarmos a verdade, com disposição de encontrá-la, vamos encontrar a
própria Verdade Encarnada: Jesus Cristo!
Mas os fariseus não acreditavam, estavam decididos a recusar Jesus como Deus. Chegam a
excomungar o menino curado da convivência deles, da participação no Templo, quando Jesus diz: LER
TRECHO 232, FINAL, Jo 10, 9
Jesus não diz que há muitas portas, mas que ele é A Porta. Não são seu ensino e exemplo a porta,
mas Ele mesmo, a sua pessoa. Ele é o único acesso à plenitude da vida divina. E por que diz isso?
Porque ele deu sua vida. Ele dá a vida divina, a vida que transcende, que eleva o ser humano.
Já imaginou se a nossa vida tivesse sentido somente nas coisas desse mundo? Já imaginou se
tivéssemos de vir aqui apenas para trabalhar, formar uma família e – no máximo – deixar bons valores e
bons sentimentos acerca de nós? Que tristeza seria essa vida se ela se encerrasse nesse mundo.
Jesus vai mostrando que essa vida ele não dá por seu ensinamento, mas por sua morte. Não é
apenas um mestre, mas um Salvador! Para ilustrar isso ele recorre à figura do Pastor, tão presente no
antigo testamento:
- O pastor que conduz o povo da servidão à liberdade;
- Isaías retrata Deus que leva a ovelha nos braços;
- Ezequiel retrata Deus como o pastor que procura a ovelha perdida;
- Zacarias profetiza que o pastor seria ferido e suas ovelhas se dispersariam
Jesus não é o bom pastor pois é muito rico e compra os prados e campinas verdejantes, mas
porque dá sua vida pelas ovelhas. E não apenas por causa delas, mas no lugar delas. Ele entrega sua
vida, mas a retoma. LER TRECHO 234
Assim, sua morte está sempre ligada à ressurreição, à sua glória.
Os cordeiros sacrificados no templo recebiam a imposição das mãos para terem os pecados
imputados neles, mas Jesus, o cordeiro de Deus, assume voluntariamente os pecados por causa da nova
vida que daria após a ressurreição.
Se houvesse apenas a morte sem a ressurreição, Jesus teria sido uma linda memória. Mas, com a
ressurreição, Jesus retoma a vida e continua sua realeza, sua soberania, vencendo também o mal, a
morte e o pecado.
O evangelista João nos diz que isso é ordem do Pai. Jesus entrega-se livremente e ressuscita sob
ordem do Pai. A liberdade de Jesus está em obedecer a vontade do Pai. A nossa liberdade também está
condicionada à obediência à Deus. Alguém que não obedece a Deus e se acha livre, é um bobo, escravo
do pecado.
Jesus veio para nos libertar do pecado, do mal e da morte, dá a sua vida por nós, em nosso lugar,
ressuscita para que possa nos dar a plenitude da vida divina. É o bom pastor que se oferece no lugar das
ovelhas para que elas tenham vida em abundância! Livremente se doa por amor a nós na cruz salvadora
da humanidade.

Você também pode gostar