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Vida de Cristo, Fulton Sheen

Capítulo 17
Agora passemos a uma das cenas mais importantes da vida de Cristo, não só por nossa ligação
afetiva com essa 1passagem – nós que somos consagrados do Movimento da Transfiguração –, mas
sobretudo por sua importância inerente.
Três grandes momentos de Jesus Cristo acontecem em montanhas, e sobre as três está
sobreposta aquela sombra da cruz que Fulton Sheen sempre comenta. No sermão da montanha, onde
Cristo prega as bem-aventuranças, elas seriam crucificadas pelo mundo; no Tabor, onde Cristo se
transfigura, mostra a glória para além da cruz; e no Calvário, oferece-se a Si mesmo, anunciando também
a glória que viria depois.
Jesus chama três apóstolos para subirem ao Tabor com ele: Pedro, Thiago e João. Pedro é a
rocha sobre a qual a Igreja é fundada; Thiago foi o primeiro apóstolo martirizado; e João – como Fulton
coloca – o visionário da glória futura do Apocalipse. Os três tinham que purificar a falsa concepção de
messias, e ver a glória que brilhava para além do martírio da cruz.
Para Pedro conduzir a Igreja, é preciso que entenda a cruz e veja e anuncie a glória. Para Thiago
dispor-se ao martírio, é preciso ter refletida em seus olhos a luz da glória vindoura. Para João permanecer
junto de Cristo e esperar pela glória futura, é necessário que visse a glória de Cristo.
Nós também, enquanto anunciadores, evangelizadores, dispostos ao martírio, desejosos da glória
futura, devemos também ter diante de nós a glória de Cristo. Meditar sobra a Transfiguração do Senhor é
ter um antegozo da glória celeste, aquilo que “olhos não viram, ouvidos não ouviram, nem o coração
compreendeu” é o que nos espera.
Em todo ano, no segundo domingo da quaresma, meditamos a Transfiguração do Senhor como
que um alento na caminhada rumo à cruz. É uma antecipação daquilo que há para além da cruz, para
depois da Cruz, é um antegozo. Meditar na Transfiguração do Senhor é ter um spoiler do fim do filme.
Quando alguém te conta o final do filme, sabe? Isso é um spoiler, uma antecipação. A Transfiguração é
uma antecipação do final do filme, é a Glória de Cristo que Ele deixou escapar para que víssemos e isso
fortalecesse a nossa caminhada, nos animasse.
A glória que reveste Cristo na Transfiguração não é algo que vem de fora, não é uma roupa que lhe
colocaram, mas é algo natural, vem de dentro de Cristo, é inerente a Ele. Fulton diz “o milagre não era o
brilho momentâneo em torno Dele; ao contrário, era que em todo o restante do tempo fosse reprimido”. Por
um breve momento, os homens puderam ver como Cristo é realmente: glorioso.
Se o nosso corpo é como uma prisão para a alma, ou seja, no sentido em que nossa corporeidade,
nossos sentidos, afetos, potências, são limitados por nossa realidade corporal, o corpo de Cristo era o
Tempo da Divindade. O resplendor de sua glória teve de ser contido para ocultar a divindade que estava
Nele. Isso é um grande mistério para nós e, como mistério, motivo de alegria.
O mistério não é um segredo, totalmente oculto, escondido. Mas em todo mistério há algo de
escondido, mas algo que deseja ser revelado, ou seja, requer a nossa colaboração, a nossa adesão, a
nossa vontade em conhecer o mistério. O mistério não pode ser totalmente explicado, nós nunca vamos
esgotar os mistérios da Vida de Cristo – deixariam de ser mistérios se fosse assim –, mas sempre que nos
aproximamos, meditamos, lemos sobre esse mistério e nos deixamos conduzir por ele, damos a nossa
adesão, colocamos nele o nosso coração, a nossa vontade de conhece-lo, aí somos como que envolvidos
por ele e o conhecemos um pouco mais.
No Tabor, além de Jesus e dos apóstolos Pedro, Thiago e João, estavam duas outras pessoas,
importantes figuras do Antigo Testamento. LER TRECHO.
Se Moisés era aquele que recebeu a Lei, Cristo é o cumprimento da lei; se Elias é o chefe dos
profetas, Jesus é a realização das profecias. Eles conversavam sobre a cruz de Cristo, como nos diz o
Evangelista Lucas, ou seja, seu dever de cumprir a Lei e as profecias. No ícone da transfiguração,
podemos ver Moisés e Elias apontando para Jesus como dizendo, nele a Redenção está consumada.
É Jesus o autor da Lei e o objeto das profecias, ou seja, é dele que falam toda a lei e os profetas. A
lei e os profetas são a representação de todo o Antigo Testamento. Assim, quando lemos o Antigo
Testamento temos de fazê-lo à luz de Cristo. O Antigo Testamento não tem sentido se for lido
simplesmente como uma história bonita, como um dado histórico, uma fato sem relação com nada, mas
tudo o que está lá tem relação com Jesus Cristo. Se lemos Gênesis, temos de lê-lo sob a perspectiva de
Jesus. Se lemos o livro de Jó, de Isaías, de Tobias, enfim... temos sempre de ter em nossa mente e em
nosso coração que Cristo é a plenitude, o perfeito cumprimento de toda a Lei e das profecias. É para ele
que tudo aponta.
Nessa cena, uma nuvem os envolve e eles ouvem a voz do Pai. Toda vez que uma nuvem
aparece, é a manifestação gloriosa de Deus, como quando a nuvem acompanhava o povo no deserto,
como quando Maria perguntou ao anjo como se daria a gravidez e ele disse “uma nuvem lhe cobrirá”. A
nuvem revela a presença de Deus. Se no batismo o céu se abriu e a voz do Pai se dirigiu ao Filho, agora
se dirige aos apóstolos: “ouvi-o”.
A voz do Pai não diz “ouçam a lei”, mas ouçam aquele que é o cumprimento perfeito da lei; não diz
“ouçam os profetas”, mas aquele que é maior que os profetas e a profecia realizada em pessoa. Ouvi-o! É
o modo pelo qual permaneceremos unidos a Jesus, unidos à Santíssima Trindade, faremos nossa
amizade com Jesus: ouvindo-o! Ele é nosso maior amigo e é Deus, em pessoa, que se relaciona conosco:
ouçamos a Jesus! Ouçamos o que nos diz, o que nos indica, o que realizou, o que é, ouçamos a Jesus.
Diante de tão grande momento, Pedro, em nome de todos, sugere que fiquem lá. LER TRECHO
Se algumas semanas antes Pedro estava tentando afastar a cruz de Cristo, agora quer um atalho
para a glória, sem a cruz. Ele pensa que a glória de Deus pode ser abrigada entre os homens sem uma
luta contra o pecado. Ora, mas isso é impossível. Como viver em tão grande glória, estar diante da glória
de Deus sem extirpar o pecado, sem purificar nossa vida. Cristo venceu o pecado pela cruz, e é nos
juntando a Ele nas nossas cruzes de cada dia, e nos unindo sempre mais intimamente à sua pessoa que
somos purificados dos nossos pecados, que nossa alma poderá melhor aproveitar a glória celeste.
NINGUÉM LEVA UM CEGO A UM CINEMA.
Jesus ignora o que Pedro fala, pois sabia que Pedro não sabia o que dizia. Depois da
Ressurreição, no entanto, se lembraria da Transfiguração dizendo:
LER TRECHO.
Assim, se aproximando da Vida de Cristo, meditando sobre os mistérios de sua vida, nos tornando
amigos de Jesus, nós compreendemos melhor aquilo que acontece em nossas vidas, temos essa lâmpada
que ilumina todo o nosso ser também vai nos transfigurando a cada dia.

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