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Vida de Cristo, Fulton Sheen

Capítulo 12
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Capítulo 13 – O homem que perdeu a cabeça (153 a 160)

O propósito redentor de Deus se manifestou de muitas formas, uma delas através de João Batista.
Nós já vimos como ele foi o precursor, aquele que anuncia o Cordeiro de Deus. Hoje veremos o que lhe
aconteceria depois.
O Evangelho diz que “Herodes temia João”, como o bem é uma censura às consciências. Quando
falamos da samaritana, dissemos que ela tentava mudar de assunto com Nosso Senhor, desviar o foco
para uma discussão de religião que não implicasse em mudança de vida. Do mesmo modo como vemos
hoje tantos aceitarem tratar a religião como algo bom, algo que nos faz lembrar de Deus, mas, quando o
assunto remete à mudança de vida, muitos desistem.
Herodes era um típico mundano, que gostava de dar festas, viver de boa vida e chamar homens
sábios para entretê-lo, no entanto, cortava o assunto quando esse homens começassem a tornar os
ensinamentos de Cristo muito pessoais, concretos, julga-os “intolerantes”, “insensatos demais”. Mas,
apesar dos riscos que corria, João Batista decidiu se dedicar as consciências;
Nós recebemos a comunicação de Deus, a comunicação da vida divina por meio das virtudes
teologais: fé esperança e caridade. Cada uma delas se liga numa faculdade nossa: a fé na inteligência, a
esperança na memória e a caridade na vontade. Aqui nós nos comunicamos com Deus por essas três
virtudes, mas na vida eterna, apenas existirá a caridade. Não será mais necessária a fé, pois já veremos a
Deus; não será necessária a esperança pois já o teremos, e só restará o amor, a caridade. Mas, para
chegar lá, o primeiro passo é a fé, e a purificação da inteligência, da consciência. É por isso que o primeiro
passo para incutir a fé nos cristãos é se dedicar à consciência, como fez João Batista.
E João prosseguiu, tocando num assunto que certamente desagradaria aos homens, a vida
luxuriosa de Herodes: “Não te é permitido ter a mulher do teu irmão.” Herodíades era casada com o irmão
de Herodes, com quem teve uma filha. João fora preso por conta dessa palavras, mas elas ecoavam nas
consciências. Quando nós também somos tocados em nossa consciência, contra algo que nos atinge,
também aquilo ecoa em nós, reverbera, nos faz refletir, meditar. Confrontar a palavra dita, com a nossa
vida: a Lectio Divina é isso. Mas, há um passo além da meditação: a adesão à Palavra de Deus, que é o
próprio Cristo. Se a Lectio Divina parar na meditação, de nada valeu, mas tem de encaminhar para um
compromisso, um diálogo, uma adesão à pessoa de Jesus Cristo.
Enquanto era mantido preso, João mandou alguns de seus discípulos perguntarem a Jesus: “És tu
o que há de vir ou devemos esperar por outro?”. Não porque tivesse dúvida de que era Jesus, mas sim
pois tinha fé na promessa messiânica e em quem era Jesus. Jesus lhe responde: veja as minhas obras e
milagres, as minhas pregações. Deus tem seus caminhos para nos responder, e nem sempre são de
acordo com nossa compreensão. Diante das dúvidas dessa vida, uma certeza devemos ter: Jesus Cristo é
Deus, assumiu a natureza humana, veio para remir nossos pecados, nos perdoar e nos encaminhar ao
Pai.
Depois que os discípulos de João Batista saíram, Jesus pergunta às pessoas “que fostes ver?”
Foram ver João professar a vontade de Deus para conhece-la e realizá-la, ou apenas queriam ver o
espetáculo e popularidade do mensageiro? Que buscamos na nossa vida cristã? Mensagens e novidades
a todo o instante, ou a Verdade realmente? A Verdade é uma pessoa, manifesta e revelada em Jesus
Cristo. Não podemos cair no erro de ficar procurando outras coisas além dela.
Fulton Sheen diz que há duas grandezas: uma terrena e uma celestial. João não viveu uma riqueza
terrena, em palácios, roupas caras, nobreza e realeza, mas, como diz Nosso Senhor, é o primeiro dos
homens no céu pois anunciou o Cordeiro de Deus, pregou a Verdade, a Verdade em pessoa, a Verdade a
que devemos buscar insistentemente e com todo o nosso coração durante nossa vida.
Alguns meses depois, foi dada uma grande festa, de aniversário de Herodes, regada a muita
comida, bebida, música e tudo o que desejava a nobreza da época. Herodes chamou Salomé, a filha de
Herodíades para dançar. Quando ela termina, Herodes, encantado, lhe faz um juramento: LER TRECHO.
É impressionante como tomamos decisões ruins e falamos coisas que não deveriam quando somos
levados por nossas paixões, pelos nossos sentimentos desordenados. Herodes cometeu esse erro.
Salomé pergunta a Herodíades que pede: dá-me a cabeça de João Batista num prato A mãe não
tinha esquecido daquele dia em que João Batista tinha dito: “Não te é permitido ter a mulher do teu irmão”.
Mesmo quando purificamos a nossa consciência, há sempre algo que nos vai remeter a erros passados,
como diz o salmista: “o meu pecado está sempre diante de mim”.
Herodes, diante do público que presenciou sua promessa a Salomé, fica desconcertado. Tinha
algum respeito por João Batista, mas temia a reação dos presentes na festa. É como alguém que crer
acreditar em Deus, mas não quer sair do comportamento mundano. Então, ele decide ser infiel a Deus, à
sua consciência e a si mesmo e é fiel à sua promessa de bêbado.
Fulton Sheen comenta que Herodes foi assombrado a vida toda por esse momento. Algum tempo
depois, quando ouve falar de Jesus, pensa que é João Batista ressurgido dos mortos. Herodes, como todo
homem sensual, não acredita em vida futura. Acredita que a vida acaba aqui, por isso ele se entrega aos
prazeres da carne, por isso come muito, bebe muito, se entrega ao sexo desregrado. Mas, apesar disso,
ele não teme um julgamento por esse comportamento, mas teme sua própria consciência. Assim, quando
Pilatos manda Jesus a Herodes, o evangelista comenta: “de longo tempo desejava vê-lo”. Ele pensa
assim: Se Jesus for João Batista ressuscitado, então eu tomei uma atitude correta. Mandei mata-lo para
agradar minha esposa, mas ele ressurgiu como Jesus Cristo. Buscava um álibi de consciência, como nós
também fazemos com nossos erros, não queremos encarar nossas consciências e por isso o passo da fé
se torna tão difícil para alguns e é o passo fundamental para todos.
Herodes nunca tinha visto Jesus até o momento da sua hora, o momento em que ele vai se
entregar na cruz por amor a nós. Jesus mostra aos discípulos que a morte de João Batista é a
prefiguração da sua própria morte, passa o tempo todo dizendo aos apóstolos que devia morrer para
cumprir sua missão. Como não salvou João Batista da morte cruel, não salva a sim mesmo do mesmo
Herodes, sofrendo o mesmo que João Batista. Assim, mais uma vez a cruz de Cristo está presente em sua
vida, revelando o meio pelo qual o propósito redentor de Deus seria realizado nesse mundo.

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