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Volume 17, Número 1, Jan/Jun 2013, p 121-135

CARTAS REFLEXIVAS: UMA FERRAMENTA PARA A ORIENTAÇÃO


PROFISSIONAL

Rafael Santos Carrijo


Carmen Lúcia Reis
(Universidade Federal de Uberlândia – UFU - Uberlândia-MG)

Resumo

Vivendo num cenário de constantes inovações tecnológicas nas profissões e no mercado de


trabalho, nos deparamos com a necessidade de criar novas formas de intervenção em
Orientação Profissional. Assim, o objetivo desta proposta é apresentar as Cartas Reflexivas
enquanto uma ferramenta interventiva para esse campo. Para isso, trazemos o relato de uma
experiência realizada num cursinho pré-vestibular alternativo da cidade de Uberlândia-MG e
na Clínica Psicológica da UFU, em que a utilização das cartas permitiu trabalhar medos e
receios relacionados à escolha de uma profissão, ao mesmo tempo, que auxiliou na descoberta
de recursos e de potencialidades, bem como na criação de diferentes sentidos sobre questões
relacionadas ao vestibular e a preparação para o ingresso no Ensino Superior.

Palavras-chave: orientação profissional; escolha profissional; vestibular; intervenção


psicológica.

Abstract

Reflective letters: a tool for professional guidance

Living in a scenario where constant technological innovations affect professions and labor
market, we face the need of creating new methods of Professional Guidance interventions.
This paper presents Reflective Letters as an interventional tool for Professional Guidance. To
accomplish that, we bring the account of experiments performed with students of an
alternative course for preparation to entrance examinations, and with attendants of the
Psychological Clinic of Federal University of Uberlandia, both in the city of Uberlandia/MG.
The utilization of Reflective Letters allowed working through fears and concerns related to
the choice of a profession. Reflective Letters also helped when discovering resources and
potentialities of the individual, as well as when creating different meanings for doubts related
to entrance examinations and the preparation to attend higher education institutions.

Keywords: professional guidance; occupational choice; student admission criteria;


psychological intervention

Introdução em sociedade. Porém, para um grande


número de pessoas, essa é uma das tarefas
mais difíceis de serem realizadas. Nos
A escolha de uma profissão pode
últimos tempos, com a criação de novos
ser considerada hoje como uma das
cursos profissionais, bem como com a
principais condições para a sobrevivência

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escassez de empregos e as mudanças nos espaço no mercado de trabalho. Lassance e


processos seletivos de ingresso no Ensino Sparta (2003) acreditam que há algumas
Superior, os jovens têm se deparado cada décadas atrás, um diploma universitário
vez mais cedo com a escolha de uma significava uma garantia de emprego, de
profissão e com o ingresso no mercado de uma boa remuneração salarial e de
trabalho, e isso tem gerado muitos medos e colocação no mercado de trabalho; no
inseguranças. entanto, hoje, a situação parece ser bem
A Orientação Profissional se insere diferente: cada vez mais temos um menor
nesse contexto, como uma área que visa número de empregos e um maior número
auxiliar/ facilitar o processo da escolha de de inovações tecnológicas, que
uma profissão, seja fornecendo transformam constantemente as atribuições
informações, ou ainda contribuindo para a e ocupações profissionais, bem como as
compreensão de questões contraditórias relações de trabalho. Essas transformações
envolvidas nesse campo, ou até, têm exigido um funcionário mais flexível e
oferecendo um espaço de reflexão sobre si com um maior número de características e
mesmo (gostos, preferências, aptidões, “competências” variadas para exercer sua
entre outros). Segundo Aguiar, Bock e função. Em outras palavras, tem se
Ozella (2002), a função do psicólogo num buscado um profissional “mais
serviço de Orientação Profissional é a de especializado” e a responsabilidade pelo
promotor de saúde, que constroi desenvolvimento dessas características e
juntamente com seus clientes meios para “competências especializadas”, recai sobre
que esse se conheçam e entendam os a figura do trabalhador, que é visto como o
múltiplos aspectos que compõem a escolha único responsável pelo sucesso ou pelo
profissional. fracasso de sua carreira profissional.
Cursar uma universidade, hoje, Assim, nesse jogo pela “sobrevivência do
mais do que um sonho ou uma mais forte”, do mais especializado, do mais
possibilidade de ascensão social, significa apto, daquele que tem mais títulos,
cumprir um ritual “inicial” de ingresso no encontramos muitas pessoas receosas ou
mercado de trabalho. Porém, até angustiadas em realizar uma escolha
contraditoriamente a essa situação, temos profissional, com medo de não fazerem
visto, principalmente a partir de 1990, um uma escolha adequada e/ou satisfatória.
grande número de pessoas com diplomas Diante disso, o trabalho de Orientação
de nível superior que não encontraram Profissional surge como uma possibilidade

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de intervenção, que visa, antes de tudo, metodológicos e as nossas impressões


apresentar e problematizar informações (“avaliações”) sobre a utilização das cartas
referentes a cursos universitários, ao como recursos interventivos.
mercado de trabalho, ao vestibular e as
características pessoais, bem como O trabalho em Orientação Profissional
promover reflexões que possibilitem às
pessoas se perceberem como sujeitos Como já foi comentado
singulares, mas que são constituídos ao anteriormente, o serviço de Orientação
longo de um processo sócio-histórico Profissional tem como objetivo principal
(Aguiar, Bock & Ozella, 2002). facilitar o momento de escolha profissional
Nessa perspectiva, propomos aqui e ajudar na reflexão dos aspectos que
uma proposta de trabalho alternativa ao atravessam essa escolha.
uso de testes psicológicos, historicamente Lucchiari (1992) propõe algumas
utilizados em atendimentos de Orientação etapas para esse trabalho de facilitação,
Profissional. Especificamente, nos entre elas podemos citar: 1) o
pautamos por uma orientação frente à conhecimento de si mesmo; 2) o
escolha profissional ligada à Psicologia conhecimento das profissões; e 3) a
Escolar, e que entende o psicólogo como escolha propriamente dita. O
um profissional que tem o compromisso conhecimento de si mesmo ou
ético de refletir sobre o seu saber e fazer, autoconhecimento implica em levar o
de forma a desenvolver uma atuação orientando à reflexão sobre “quem ele é”,
criativa e sensível às demandas sociais. “quem ele foi”, “quem gostaria de ser
Dessa maneira, organizamos este daqui alguns anos”, “qual seu projeto de
texto de maneira a apresentar, vida” (“o que deseja conseguir e realizar
primeiramente, o nosso foco de trabalho ao longo da vida”), seus gostos e
em Orientação Profissional. Em seguida, preferências pessoais, suas características
trazemos um encontro entre a Psicologia marcantes, suas habilidades, expectativas
Escolar e a nossa proposta. Após isso, pessoais e familiares, entre outros. O
comentamos sobre o uso de cartas como conhecimento das profissões, por sua vez,
possíveis ferramentas a serem usadas em implica no orientando apreender
atendimentos psicológicos. Feitas essas informações sobre os diferentes cursos
apresentações, destacamos o objetivo do universitários existentes, bem como as
trabalho, bem como os passos atribuições de trabalho de cada profissão, o

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funcionamento do mercado de trabalho, e orientador profissional é o de fazer


ainda, realizar entrevistas com diagnósticos, prognósticos e indicar,
profissionais da área pretendida, de pautado por conhecimentos psicométricos,
maneira a se aproximar do universo quais eram as ocupações mais favoráveis
profissional pretendido. Finalmente, a para cada pessoa (Sparta, 2003).
escolha propriamente dita, está relacionada Diante dessa realidade, ainda é
à compreensão da escolha como uma muito comum encontrarmos pessoas,
decisão pessoal, particular, que deve ser orientandos, que esperam do orientador
viabilizada em termos de ação do profissional uma resposta mágica, objetiva
orientando, isto é, “o que ele precisa fazer e pronta, que possa-lhes garantir pleno
para alcançar seus objetivos”. Além disso, sucesso e felicidade na escolha
quando se trabalha focando-se na escolha, profissional. Entretanto, acreditamos que
é preciso convidar o orientando a focar-se essa resposta é impossível de ser dada,
no curso escolhido (como é esse curso que pelo menos, quando se entende que o ser
escolheu, quais são as disciplinas a serem humano não tem uma essência estável e
estudadas, como está o mercado de sim, é constituído continuamente por meio
trabalho dessa profissão) e a diminuir o de processos sociais e culturais. Assim, nos
foco sobre os demais preteridos. pautamos por uma Orientação Profissional
A atividade de Orientação que não se apega a uma proposta
Profissional já era desenvolvida desde o psicométrica e sim, que busca
início do século passado. Na Europa, no possibilidades de intervenção menos
início do século XX, já se buscava opressivas, menos rotularizantes e mais
descobrir nas indústrias quais eram os ligadas à realidade das pessoas. Nesse
trabalhadores aptos e os inaptos para a movimento, nos deparamos com o convite
realização de determinadas tarefas. No ético da Psicologia Escolar crítica.
Brasil, essa área surge ligada à Psicologia
Aplicada, mais especificamente, ao Em busca de um jeito de fazer
trabalho de orientação educacional junto a Psicologia Escolar com um olhar crítico
estudantes. Desde o começo, a Orientação
Profissional brasileira utilizava-se de testes A prática do psicólogo escolar
psicológicos para embasar seu trabalho. esteve, por muito tempo, ligada ao uso de
Assim, esse campo surge em nosso país testes psicológicos e estudos quantitativos,
atrelado a noção de que o papel do que acabavam medindo e classificando as

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habilidades e os desempenhos dos alunos. multideterminada dos fenômenos; 4)


Essa prática acabava por diagnosticar e/ou concepção do homem como um sujeito
remediar problemas de aprendizagem, que sócio-histórico; 5) entendimento da
eram entendidos como próprios dos alunos. historicidade dos fatos humanos, que não
Com o avanço nos estudos da área são inerentes, mas foram construídos a
de desenvolvimento e aprendizagem, partir de olhares ao longo da história.
Vokoy e Pedroza (2005) comentam que O encontro entre Educação e esse
surgiram discursos mais críticos, que movimento de uma Psicologia Escolar
problematizavam os fenômenos e Crítica, tem sido discutido por muitos
ampliavam as discussões no contexto trabalhos, entre eles, podemos citar os de
educacional. De forma geral, esses novos Tanamachi, Proença e Rocha (2000),
ares da Psicologia Escolar buscavam, de Meira e Antunes (2003) e Souza (2007).
forma geral, uma escola mais democrática, Essas propostas buscam e propõem
em que os alunos pudessem se tornar mais práticas alternativas à aplicação e uso de
autônomos e críticos (Machado, 2000; testes psicológicos, atendimentos clínicos
Tanamachi & Meira, 2003). na escola, atuação focada no aluno, entre
Esse movimento em prol de uma outros.
Psicologia Escolar mais crítica se Buscando possibilidades de
caracteriza, principalmente, por intervenção mais criativas para o exercício
problematizar questões relacionadas ao ético do psicólogo escolar enquanto
contexto educacional, que, historicamente, orientador profissional, encontramos
foram entendidas como naturais e próprias trabalhos na área clínica, como os de
dos indivíduos. Meira e Antunes (2003) Epston, White e Murray (1998), que
comentam que uma concepção crítica em utilizam cartas como ferramentas de
Psicologia Escolar, pode ser pautada, entre intervenção. Esses autores criaram uma
outros aspectos, por: 1) referenciais proposta de terapia chamada Terapia
teórico-filosóficos e metodológicos da Narrativa, uma elaboração construcionista
Psicologia, que foram elaborados a partir social da prática clínica, baseada na
do Materialismo Histórico Dialético; 2) metáfora textual; isto é, eles entendem as
responsabilidade e compromisso social narrativas das pessoas como instrumentos
com a produção do conhecimento culturais, construídos historicamente, que
científico, de forma a contribuir para a são usados nas interações do dia a dia para
emancipação das pessoas; 3) compreensão dar sentido às experiências. Assim, quando

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as pessoas narram acontecimentos, trabalho que desenvolvíamos. Assim, nesta


situações ou episódios, elas constroem proposta, buscamos apresentar as Cartas
sentidos, organizam suas relações e agem Reflexivas enquanto possíveis
sobre o mundo. Diante dessa concepção, os instrumentos de intervenção num
autores propõem o uso das cartas atendimento de Orientação Profissional.
terapêuticas como ferramentas para
auxiliar seus clientes na re-autoria de suas Objetivo
histórias, num movimento de re-contar a
história da própria vida, de uma maneira O objetivo deste trabalho é
mais satisfatória, não marcada pelo apresentar o uso das Cartas Reflexivas
sofrimento ou pela opressão. Em outras como possíveis ferramentas de intervenção
palavras, as cartas são usadas para para o trabalho de Orientação Profissional
proporcionar diferentes possibilidades para tanto individual quanto em grupo. Para
as pessoas re-significarem suas vidas, isso, buscamos, especificamente, descrever
criando novas histórias, com diferentes o contexto de utilização dessa ferramenta,
sentidos, que possibilitem novas relações refletindo sobre sua utilização nos
com as pessoas e com o mundo. atendimentos.
Inspirados pela proposta dos
autores acima, buscamos adaptar a Método
utilização das cartas terapêuticas da
Terapia Narrativa para o contexto de Contexto dos atendimentos
Orientação Profissional, porém como o
nosso trabalho não tinha um enfoque Foram realizados dois atendimentos
terapêutico, mas voltado para Psicologia individuais na Clínica Psicológica de uma
Escolar, adaptamos a proposta de tal forma universidade pública mineira e um grupo
que as cartas se tornaram-se uma de atendimento, contendo inicialmente seis
ferramenta complementar no encerramento pessoas, num cursinho pré-vestibular
dos nossos atendimentos, de maneira a alternativo de uma cidade do interior de
convidar os clientes à reflexividade. Minas Gerais. Os encontros individuais
Assim, adequamos o uso e o próprio nome totalizaram, em média, oito sessões de uma
desse recurso que foi nomeado como hora de duração cada, ao longo de dois
Cartas Reflexivas, pois, a nosso ver, meses. Por sua vez, os encontros em grupo,
combinava melhor com objetivo do com duração de 1 hora e 20 minutos cada,

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foram realizados semanalmente, em um profissional, pois, segundo ela, tinha


total de doze atendimentos. Os clientes “limitações” e “dificuldades” de
atendidos nas duas modalidades eram de aprendizagem.
ambos os sexos, com idade que variava de
17 a 27 anos. A orientação teórica que Rodrigo: jovem de 28 anos, desempregado,
influenciou este trabalho foi inspirada pela solteiro, que descrevia-se como uma
perspectiva sócio-histórica. pessoa “tranqüila”, que havia deixado o
emprego para “ter uma vida melhor”.
Breve descrição dos participantes dos Buscava com o ingresso ao ensino
atendimentos: superior, uma oportunidade para melhorar
sua vida. Para o participante, sem o estudo
Atendimento em grupo não se pode ter qualidade na vida.
Queixava-se de falta de motivação para
Joana: jovem de 24 anos, secretária, estudar e de que sentia sono ao tentar ler
casada, se queixava de problemas de algum conteúdo.
memória e atenção prejudicando sua rotina
de estudos, bem como de dificuldades na Atendimentos individuais
organização do conteúdo a ser estudado.
Descrevia-se como uma pessoa que não Bianca: jovem de 19 anos, desempregada e
conseguia escolher um curso universitário, solteira. Buscou o atendimento de
apesar de se considerar com aptidão para Orientação Profissional a pedido do pai,
cursos ligados à Arte. que queria muito que ela ingressasse numa
universidade pública. Queixava-se de não
Maria: jovem de 26 anos, funcionária de conseguir organizar uma rotina de estudos
uma empresa, solteira, chegou ao grupo e de falta de concentração durante as
com a queixa de que não conseguia estudar leituras. Tinha dúvidas com relação a qual
para o vestibular e de que tinha curso seguir: pensava em talvez fazer o
dificuldades na leitura e na escrita. A mesmo curso da irmã mais velha (e, assim,
participante acreditava que essas agradar seu pai) ou fazer um outro que, na
dificuldades podiam comprometer-lhe sua opinião, combinaria mais com seu jeito
durante a realização da prova do de ser.
vestibular. Descrevia-se como uma pessoa
insegura com relação à escolha

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Clara: jovem de 17 anos, estudante atendidas. Os participantes assinaram um


e solteira. Buscou o atendimento em termo autorizando a utilização de
Orientação Profissional para resolver informações dos atendimentos. De forma
conflitos com relação a escolha geral, respeitou-se todos os procedimentos
profissional. Queixava-se de ter uma éticos.
família muito rígida, que lhe exigia muito
nos estudos. Tinha receios em realizar uma Escrevendo as Cartas Reflexivas:
escolha errada e, assim, decepcionar ela método e intencionalidade
mesma e sua família.
Feita as apresentações das pessoas As Cartas Reflexivas foram
que participaram de nossos atendimentos, utilizadas na penúltima ou na última sessão
passemos para o entendimento das Cartas de cada modalidade de atendimento e os
Reflexivas como uma possibilidade de clientes após os encontros, poderiam levá-
intervenção. las para casa e refletir sobre os
questionamentos e apontamentos que essas
Cartas Reflexivas: construindo uma traziam. Os nossos objetivos com as cartas
ferramenta de intervenção em Psicologia eram: a) estimular as pessoas em
atendimento a avaliarem a processualidade
Para discutirmos e refletirmos e os resultados alcançados com o trabalho
sobre a possibilidade de utilização das desenvolvido; b) ajudá-los na construção e
Cartas Reflexivas, usamos os relatos dos no fortalecimento do projeto de vida e na
atendimentos, um caderno de anotações escolha profissional; c) convidá-los a se
(local em que eram feitos relatos e atentarem para as descrições de si mesmo e
anotações sobre os encontros individuais e as habilidades e aptidões que possuíam,
em grupo, descrição de algumas mas não lhes era claro; d) fortalecer as
impressões e reflexões) e as cartas escritas mudanças conquistadas e percebidas ao
para os orientandos profissionais. longo do atendimento realizado; e e)
propor reflexões que lhes ajudassem na
Cuidados éticos manutenção e ampliação destas
descobertas e mudanças para outros
Neste estudo os nomes utilizados contextos.
são fictícios, a fim de preservar a Buscando convidar as pessoas em
identidade de cada uma das pessoas atendimento a avaliarem o processo de

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Orientação, construímos frases que Maria, você, por exemplo, no começo


do grupo nos deu a impressão de ser
propunham uma reflexão que abrangia o
forte, uma verdadeira guerreira,
processo do atendimento propriamente decidida, determinada, no entanto,
depois de alguns encontros, ficou
dito, porém com um movimento que os
comentando sobre algumas dificuldades
convidasse a pensar sobre o futuro, e ficou mais quieta, silenciosa e distante
(Parte do parágrafo escrito para Maria
estimulando cada orientando a perceber o
na carta construída para o atendimento
que aprendeu durante os encontros e a usar em grupo).
esta aprendizagem em outros momentos da
vida. [...] após algumas conversas no grupo
notamos uma outra Maria, agora com
um brilho diferente no olhar, com
O que você descobriu sobre si mesma descobertas de recursos – talvez ainda
ao longo dos nossos encontros? Que desconhecidos – mais motivada, com
capacidades e habilidades percebeu que vontade, desejos de conhecer seus
antes não se atentava? Como está gostos e lutar pelos seus projetos e
saindo do grupo? Que mensagens, leva sonhos (Parte do parágrafo escrito para
daqui? O que precisa fazer para ampliar Maria na carta construída para o
as aprendizagens que conquistou atendimento em grupo).
durante os atendimentos, para contextos
além do grupo? (Parte do parágrafo
escrito para Maria na carta construída Aos poucos, notamos que esse Rodrigo
para o atendimento em grupo). “brincalhão” foi dando lugar para um
Rodrigo muito disposto a conversar de
O que os nossos encontros significaram assuntos sérios. Nos chamou a atenção
para você? Como eles podem lhe ajudar o quanto você foi assumindo diferentes
durante as reflexões sobre as escolhas posturas ao longo dos nossos encontros,
da vida?” (Parte do parágrafo escrito principalmente por meio dos
para Bianca na carta construída para o “Momentos Culturais. (Parte do
atendimento em grupo). parágrafo escrito para Rodrigo na carta
construída para o atendimento em
grupo).
Para fortalecer o projeto de vida e a
escolha profissional, bem como para criar Assim, vou ficando por aqui com um
tom de despedida, mas de alegria por
um espaço para as pessoas perceberem perceber que você, Bianca, parece estar
capacidades e aptidões que lhes ajudassem mais segura e autônoma para realizar as
suas escolhas. (Parte da carta escrita
a ter mais autonomia e segurança na para Bianca).
escolha profissional e na preparação para o
vestibular, buscamos descrever nossas Com o intuito de fortalecer as
impressões e o movimento de mudança da mudanças conquistadas e percebidas ao
pessoa seja no grupo ou no atendimento longo do atendimento, como também
individual numa dimensão temporal. estimular a manutenção e ampliação dessas
para outros contextos, elaboramos cartas
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que tivessem a intenção de compartilhar escrita, alguns momentos do trabalho


com os clientes as aprendizagens que desenvolvido e convidando os orientandos
havíamos percebido. Além disso, em cada a um exercício de reflexão, de forma que
apontamento, utilizávamos perguntas que essas lhes ajudassem no processo de
lhes convidavam a refletir sobre como escolha profissional.
utilizar o que descobriram sobre eles A seguir, apresentaremos o estilo
mesmos em outros contextos. literário (“a técnica”) que utilizamos na
redação das Cartas Reflexivas.
Com paciência e perseverança,
encontramos as respostas que tanto
procuramos. Aliás, você já tem Construindo um estilo literário paras as
começado a encontrar muitas respostas,
né? Percebo que você tem aprendido Cartas Reflexivas: dando forma para
muitas coisas sobre você mesma. Você nossas intenções
percebe isso?. (Parte da carta escrita
para Clara).
Baseando-se nas propostas de
Ficamos pensando que parece que você
já andou um tanto do caminho. Um Freeman, Epston e Labovits, (2001) e de
grande pensador dizia: “O caminho se Epston, White e Murray (1998) para a
faz caminhando!”. Essa frase faz
sentido para você? O que precisa ser redação de cartas num contexto
feito para você continuar trilhando seu terapêutico, utilizamos alguns recursos
caminho? (Parte do parágrafo escrito
para Rodrigo na carta construída para o estilísticos de escrita, que nos ajudaram a
atendimento em grupo). alcançar os objetivos que definimos
O que você descobriu sobre você ao anteriormente. Os recursos literários que
longo dos nossos encontros? Que utilizamos foram: a) questionamentos e
capacidades e habilidades percebeu em
você que antes não se atentava? Como perguntas que convidavam a diferentes
você está saindo do grupo? Que possibilidades; b) verbos usados, em
mensagens você leva daqui? O que você
precisa fazer para ampliar as alguns momentos, na voz ativa, de forma a
aprendizagens que conquistou durante posicionar os clientes como agentes de
os atendimentos, para contextos além
do grupo? (Parte do parágrafo escrito suas escolhas; c) uso do gerúndio para dar
para Maria na carta construída para o ideia de movimento; e d) uso do modo
atendimento em grupo).
subjuntivo, para não estimular os

Como pudemos perceber, de forma orientados à respostas diretas como “sim”

geral, as cartas procuraram expor situações ou “não”.

e acontecimentos dos próprios Durante a redação das cartas,

atendimentos, documentando por meio da utilizamos alguns questionamentos e

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perguntas que estimulavam a reflexão e O caminho é grande, longo e


desconhecido. Mas como você mesmo
permitiam diferentes olhares para a mesma
disse no dia que relacionou a sua vida
situação. Isto é, nossa intenção não era dar com o filme “A sete regras do amor”:
“Mas o mais importante e maravilhoso
respostas prontas para as pessoas em
é que você escolhe. „Eu escolho. E
nossos atendimentos, nem lhes dar um quero saber escolher, mesmo sabendo
que não existem nem sete regras para a
diagnóstico ou prognóstico, mas estimulá-
escolha certa‟ (Parte da carta para
los a pensar sobre suas vidas e suas Clara).
escolhas e criar possibilidades diferentes As cartas também contavam com o
junto com eles. uso do gerúndio, de forma a produzir uma
sensação de progresso e de movimento,
Às vezes, queremos ter o controle de
tudo, mas, tem momentos que não que, também, poderia contribuir para dar
temos o controle de nada ou da maior
maior segurança e autonomia para as
parte das coisas. Talvez seja mesmo
difícil ter controle de tudo, mas talvez pessoas de nossos atendimentos de forma
também seja necessário aprender que
que pudessem realizar suas escolhas e seus
nem tudo está no controle das nossas
mãos (Parte da carta para Clara). projetos de vida.

Também procuramos empregar Em alguns momentos lhe achamos


disperso, mas com muita vontade de
alguns verbos na voz ativa, de forma a estar no grupo. Parecia que você estava
posicionar as pessoas que atendíamos no se aquecendo, se preparando para nos
apresentar um outro jeito de ser do
papel de agentes de suas conquistas, de Rodrigo (Parte do parágrafo escrito para
seus objetivos, seja o vestibular ou as Rodrigo na carta construída para o
atendimento em grupo).
escolhas. Isto é, tínhamos como foco a
Por fim, usamos também o modo
busca da autonomia de nossos orientandos.
subjuntivo, com a intenção de ampliar as
Como no texto: „O vôo da Renovação‟, possibilidades possíveis de respostas às
que você trouxe no último encontro,
percebemos o movimento de um nossas perguntas. O nosso objetivo ao usar
Rodrigo que se prepara para alçar novos o modo subjuntivo era restringir a
vôos, encontrar outros caminhos, ciente
de que algumas mudanças não são tão utilização de respostas do tipo “sim” ou
fáceis, sendo que algumas vezes podem “não” por parte dos clientes e incentivá-los
vir acompanhadas de dor. Ficamos
pensando que parece que você já andou a refletirem sobre diferentes
um tanto do caminho. (Parte do possibilidades, diferentes futuros possíveis.
parágrafo escrito para Rodrigo na carta
construída para o atendimento em
Mas aí eu fiquei pensando: quem que a
grupo)
Clara quer ser? Como ela se vê daqui há
dez, vinte ou trinta anos? Que profissão
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RAFAEL SANTOS CARRIJO, CARMEN LÚCIA REIS

ela gostaria de estar exercendo? Será e com as características particulares de


que pretende estar casada, com filhos?
cada pessoa.
Será que vai querer ter cachorros como
bichos de estimação? E hoje, qual é o
seu maior sonho, Clara? E o que você
Avaliando o uso das cartas
tem feito para alcançá-lo? (Parte da
carta para Clara).
Nesta proposta, não utilizamos
É importante destacar que nenhum método de avaliação sistemático
acreditamos que não exista um único jeito para o uso das Cartas Reflexivas em
para se escrever cartas as pessoas num atendimentos de Orientação Profissional,
atendimento em Orientação Profissional. até porque não se trata de uma pesquisa e
Nesta proposta, não temos a intenção de sim, de um relato de experiência.
propor uma ferramenta padronizada ou um Entretanto, acreditamos que o compartilhar
modelo acético para esse tipo de desse recurso pode ser muito útil para o
atendimento. Porém, é importante saber-fazer do orientador profissional.
destacarmos que o recurso estilístico- No trabalho que desenvolvemos em
literárario de escrita que utilizamos, teve, grupo foi elaborada somente uma carta
claramente, uma intencionalidade definida. reflexiva (no último encontro) endereçada
Além disso, durante a redação das cartas, para os três participantes restantes. Essa
procuramos obedecer a objetivos que eram carta continha um parágrafo para cada
importantes para o desenvolvimento da pessoa do grupo. Nessa, buscamos, durante
proposta do nosso trabalho. Vale destacar o compartilhar de impressões, resgatar os
também que, ao buscamos sustentar nossas momentos e os episódios que
metas, procuramos dar a cada uma das acreditávamos ser marcantes durante os
cartas, um tom particular que combinasse atendimentos, no sentido de descoberta de
com as características que percebíamos das recursos, de competências, bem como no
pessoas que atendíamos, bem como com as sentido de apontar o movimento de
relações que tínhamos com cada um deles. mudança dos participantes e estimulá-los a
Por exemplo, para algumas pessoas pensarem sobre as aprendizagens que
escrevíamos cartas mais formais, para conquistaram. Percebemos, dessa maneira,
outras, por outro lado, usávamos uma que o resgate de momentos marcantes teve
redação mais leve, lúdica. Ou seja, as um efeito interessante no grupo: os
cartas foram construídas, personalizadas e participantes ficaram surpresos com os
endereçadas de acordo com a dinâmica das apontamentos trazidos pelas cartas, pois
nossas relações pessoais nos atendimentos
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destacamos algumas características e até intervenções realizadas dando uma maior


recursos que nos pareceu que eles legitimidade a essas e proporcionando um
possuíam, como determinação e motivação senso maior de autonomia e emancipação
para alcançar o projeto de vida, bem como para os orientandos. Isto é, de forma geral,
coragem, dinamismo, entre outros, por elas criaram condições para facilitar o
exemplo, e isso, ao ser ouvido por eles, foi processo de escolha profissional. Em um
entendido como sendo útil no sentido de dos atendimentos, uma pessoa conseguiu
ajudar-lhes a sentir-se mais seguros e ampliar a discussão da escolha profissional
capazes para a realização da prova do ajudando-lhe em outros contextos de sua
vestibular. Uma participante, em vida.
específico, que em encontros anteriores Vale destacar que as cartas nos
havia nos contado que estava desmotivada atendimentos individuais traziam mais
e sem vontade de estudar, após a leitura da informações, propostas de reflexão e
carta, comentou que se percebeu como questionamentos do que as do grupo, pois
uma pessoa com capacidades para eram endereçadas a somente uma pessoa.
ingressar em uma universidade pública, Cada orientando recebia sua carta e, assim,
pois, antes, ela não estava percebendo era convidado a refletir sobre suas
alguns recursos que possuía. Outro questões.
participante, por sua vez, que, De maneira geral, acreditamos que
anteriormente, se apresentava como uma as Cartas Reflexivas podem ser
“pessoa que não queria muito importantes ferramentas para trabalhar: o
compromisso com os estudos” ficou autoconhecimento, a escolha profissional,
entusiasmado quando usamos a descrição os medos, as influências e pressões
de um “garoto brincalhão que também familiares e sociais, o mercado de trabalho,
sabia conversar sobre assuntos sérios”. Ou entre outros, pois permitem às pessoas em
seja, ao redigirmos as cartas, atendimento maior visibilidade e
posicionávamos as pessoas que atendemos entendimento dessas questões,
em lugares antes não conhecidos, contribuindo para a construção de
contribuindo para construir junto com eles, diferentes sentidos sobre essas temáticas.
possibilidades diferentes para se Ademais, também é necessário se dizer
descreverem e, consequentemente, agirem. que a possibilidade de documentar o
Nos atendimentos individuais, as processo do atendimento (a história)
cartas também permitiram uma revisão das permite maior concretização do

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RAFAEL SANTOS CARRIJO, CARMEN LÚCIA REIS

atendimento realizado, e isso contribui uma resposta pronta, mágica, pautada por
tanto para os orientandos, no sentido de desempenho em testes psicológicos. Na
perceberem com maior clareza o que foi verdade, com as cartas, pudemos
trabalhado, quanto para o orientador compartilhar nossas impressões com os
profissional, que pode visualizar melhor o orientandos de uma maneira clara, o que
que foi desenvolvido. possibilitou, a nosso ver, a criação de
Enfim, o uso das Cartas Reflexivas diferentes sentidos sobre questões
proporcionou a criação de um espaço para relacionadas ao vestibular e à preparação
que os orientandos fizessem um para o ingresso no Ensino Superior.
retrospecto dos atendimentos, sem receber

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Os autores:

Rafael Santos Carrijo, Avenida Mato Grosso, 1942, Sta Terezinha, CEP: 38440-046, Araguari-MG,
rafael_carrijo@yahoo.com.br

Carmen Lúcia Reis, Av. Pará, 1720 Bloco 2C Sala 17 – Campus Umuarama, CEP: 38400-902, Uberlândia –
MG, reiscarmenpsi@gmail.com.

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