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Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas

Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences


vol. 42, n. 3, jul./set., 2006

Liberação específica de fármacos no cólon por via oral.


II - Tipos de sistemas utilizados

Ana Cristina Freire1, Fridrun Podczeck2, João Sousa1, Francisco Veiga1*

1
Faculdade de Farmácia, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal,2 Faculdade de Farmácia, Universidade de
Sunderland, Reino Unido

Unitermos
Dois tipos de abordagens podem ser utilizadas para liberar
• Liberação específica no
fármacos no cólon: liberação retardada ou liberação específica • cólon
no cólon. O primeiro caso diz respeito a formulações concebidas • Sistemas tempo-dependentes
de forma a prolongar a dissolução do fármaco e a sua absorção, • Sistemas pH-dependentes
até que a formulação chegue ao cólon. Esta estratégia demonstra • Sistemas baseados na
falta de especificidade quando comparada com outras que se • microflora
• Sistemas baseados na
baseiam nas características particulares do cólon. A liberação
• pressão intraluminal
específica no cólon explora as suas propriedades como o pH,
atividade enzimática e pressão intraluminal. No geral, o sistema
ideal pode ser obtido com a utilização de peletes, que como é sabido
possuem maior previsibilidade no seu esvaziamento gástrico e
maior tempo de residência no cólon, ou sistemas revestidos com
um design simples. Teoricamente, os sistemas baseados na atividade
enzimática, e, sobretudo, os que são constituídos por
polissacarídeos, são mais específicos e possuem baixa toxicidade.
No entanto, qualquer outro sistema pode ser eficaz na liberação
específica de fármacos no cólon. Na realidade, alguns sistemas
tempo e pH dependentes comercializados, têm mostrado benefícios
no tratamento da doença inflamatória do intestino, apesar da sua
baixa especificidade. As investigações neste campo, devem ser
*Correspondência: conduzidas de forma a identificar a estratégia apropriada, que
F. Veiga
Faculdade de Farmácia de Coimbra
permita a liberação específica do fármaco de maneira segura,
Rua do Norte, 3000 efetiva, pouco dispendiosa e com a mínima flutuação em termos
Coimbra - Portugal
de liberação de fármacos no local alvo.
E-mail: fveiga@ci.uc.pt

INTRODUÇÃO sistemas de liberação específica de fármacos no cólon tais


como: pH, trânsito gastrointestinal, microflora intestinal,
Na primeira parte desta revisão o cólon foi descrito patologias e capacidade do cólon para absorver fármacos.
como local de liberação de fármacos, dando especial aten- Ficou evidente que a concepção de sistemas de liberação
ção a aspetos fundamentais para o desenvolvimento de específica de fármacos no cólon não é fácil uma vez que
338 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

estes devem evitar as condições adversas do trato sendo, normalmente, detectável 30 a 60 minutos após a
gastrointestinal superior (pH ácido do estômago e ativida- ingestão do Pentasa® (Wilding, 1995).
de enzimática intensa no intestino delgado) e atingir re- Para contornar esta limitação, outro tipo de sistemas
giões específicas do cólon, sendo o cego e a região do có- tempo-dependentes têm sido propostos. Estes sistemas eli-
lon ascendente, as zonas mais adequadas para a liberação minam a variabilidade associada ao tempo de esvaziamento
(Peeters, Kinget, 1993; Ashford, Fell, 1994). gástrico e exploram o tempo de trânsito relativamente cons-
Do ponto de vista tecnológico, formas farmacêuti- tante ao longo do intestino delgado. Devem ser estáveis no
cas como cápsulas, comprimidos ou peletes, revestidos ou ambiente ácido do estômago e, após a passagem ao intesti-
matriciais têm constituído a base destes sistemas. no, acionar o mecanismo responsável pelo tempo pré-deter-
No entanto, para se obter especificidade no local de minado de latência (Gazzaniga et al., 1995), o qual deve
liberação do princípio ativo, inerente a estas formas farma- simular a permanência do sistema no intestino delgado e
cêuticas encontra-se o mecanismo responsável pela libe- posteriormente deve liberar o princípio ativo. Caso seja
ração. Neste contexto, dois tipos diferentes de abordagens possível obter um tempo de latência reprodutível, esta es-
podem ser utilizados para promover a liberação específi- tratégia pode ser bastante promissora (Leopold, 1999).
ca de fármacos no cólon: liberação específica e liberação Sistemas tempo-dependentes com estas caracterís-
retardada (Quadros et al., 1995). A primeira abordagem é ticas foram desenvolvidos por Gazzaniga (Gazzaniga et
mais específica dado que explora diferenças fisiológicas al., 1994, 1995). Um desses sistemas apresentava a se-
entre o cólon e as restantes regiões do trato gastrointestinal guinte configuração: i) uma camada externa gastro-
tais como pH, microflora e pressão intraluminal do cólon. resistente; ii) uma camada intermediária formada por um
No segundo caso, encontramos os sistemas tempo- polímero hidrofílico (HPMC de elevada viscosidade),
dependentes que, embora dotados de baixa especificidade, com capacidade de intumescer em contato com a água,
têm sido a base de alguns produtos comercializados para responsável pelo tempo de latência e iii) um núcleo onde
o tratamento da doença inflamatória do intestino. se encontra o fármaco. Pode estar presente um camada
O objetivo da revisão é descrever, avaliar e compa- entérica adicional, entre o núcleo e a camada intermediá-
rar a efetividade dos sistemas usados na liberação especí- ria que, sendo de natureza gastroresistente, assegura que
fica de fármacos no cólon. a liberação do fármaco não ocorra em valores de pH áci-
dos, no caso da camada hidrofílica se dissolver prematu-
SISTEMAS TEMPO-DEPENDENTES ramente. Ao chegar ao duodeno, a camada externa dissol-
ve-se e o polímero entra em contato com os fluídos intes-
Algumas formulações de liberação controlada podem tinais formando um gel que retarda o contato do fármaco
ser concebidas de forma a prolongar a dissolução do com o meio de dissolução. A liberação do fármaco faz-se
fármaco e, consequentemente, a sua absorção. Estas formu- por um processo de intumescimento e erosão da camada
lações, apesar de menos sofisticadas, são a base de um pro- hidrofílica, pelo que está dependente da espessura da
duto comercializado para o tratamento da doença inflama- mesma. Esta formulação foi testada in vivo, e revelou um
tória do intestino. É o caso do Pentasa®, que consiste em período de latência entre 5 e 10 horas, o que sugere boas
comprimidos resultantes da compressão de microgrânulos características para liberação de componentes ativos no
de ácido 5-aminosalicílico revestidos por etilcelulose. Uma cólon.
vez em contato com os fluídos do trato gastrointestinal, o A sua principal limitação diz respeito à utilização de
comprimido desagrega-se e libera os microgrânulos reves- HPMC de elevada viscosidade no decurso do processo de
tidos. Forma-se um gel em redor de cada microgrânulo que revestimento. Para atomizar dispersões aquosas destes
vai intumescendo, com diferentes graus em função da con- polímeros, é necessário usar baixas concentrações, o que
centração de etilcelulose usada. Este mecanismo torna pos- pressupõem tempos de processamento muito elevados.
sível um tempo de latência, que será tanto maior, quanto Este problema pode ser, em parte, solucionado com o re-
mais espessa a camada de etilcelulose empregue, permitin- curso a dispersões hidro-alcoólicas de HPMC de elevada
do assim, controlar o local de liberação do princípio ativo. viscosidade, se bem que a utilização de solventes orgâni-
A liberação do ácido 5-aminosalicílico faz-se mediante um cos constitui um problema adicional.
processo de erosão e difusão através da camada de gel. No decurso destas conclusões, os mesmos autores
Contudo, esta estratégia parece ser dotada de pouca propuseram o uso da HPMC de baixa viscosidade, como
especificidade. Num estudo de γ-cintilografia realizado em agente retardante. No entanto, para obter o mesmo tempo
9 voluntários humanos, a liberação do ácido 5- de latência, é necessário aumentar a espessura da camada
aminosalicílico iniciou-se no estômago ou intestino delgado de HPMC de baixa viscosidade.
Liberação específica de fármacos no cólon por via oral 339

O sistema Pulsincap® (McNeil, Stevens, 1990) (Fi- deste sistema, ao demonstarem que a liberação do fármaco
gura 1) baseia-se no mesmo príncipio das formulações ocorre cerca de 10 horas pós-dose e 7,5 horas após o esvazi-
descritas atrás. Consiste numa cápsula que possui uma amento gástrico, o qual é independente do pH, tempo de re-
parte insolúvel e outra revestida por um polímero entérico. tenção gástrica e estado de nutrição. O local anatômico da li-
A secção gastroresistente dissolve-se à entrada do intesti- beração varia entre o cego e o cólon descendente, e o tempo
no delgado expondo um hidrogel, que em contacto com a necessário para que ocorra a desintegração completa é da or-
água vai intumescer, e ao fim de algum tempo destaca-se dem dos 45-60 minutos. Em estudo posterior (Steed et al.,
promovendo a liberação do fármaco. Esta liberação é con- 1997) foi avaliado com sucesso o potencial deste sistema para
trolada pelo grau de intumescimento do hidrogel, que por liberar especificamente o ácido 5-aminosalicílico no cólon
sua vez, é independente do pH, e que deve decorrer duran- proximal de oito voluntários humanos.
te 3 a 4 horas, isto é, o tempo necessário para que este sis- Algumas formulações baseiam-se na tecnologia das
tema atinja o cólon. Um estudo de ³-cintilografia (Gilchrist bombas osmóticas para promover a liberação de princípios
et al., 1995) provou a eficácia deste sistema demonstran- ativos no cólon. É o caso do sistema OROS-CT® (Figura 2)
do que a liberação do fármaco tem lugar na válvula que pode ser formado por uma única unidade osmótica ou
ileocecal ou no cólon ascendente. por um conjunto de 5 a 6 unidades que se encontram no
interior de uma cápsula de gelatina (Tweeuwes et al., 1993).
Este sistema é composto por um compartimento osmótico
e por um compartimento que contém o princípio ativo, ro-
deados por uma membrana semipermeável. Existe um ori-
fício na membrana semipermeável adjacente ao comparti-
mento que encerra o fármaco. Este dispositivo é rodeado
por uma membrana entérica. Uma vez em contacto com os
fluídos do intestino delgado, a cobertura entérica dissolve-
se, promovendo a entrada de água no sistema. Como
consequência, o compartimento osmótico intumesce e força
a saída do fármaco através do orifício, a uma velocidade
controlada pela velocidade de transporte da água através da
membrana semipermeável. A liberação de fármacos a par-
tir deste sistemas é independente de fatores fisiológicos do
trato gastrointestinal. Ao modificar alguns fatores de formu-
lação, como a solubilidade e pressão osmótica dos compo-
nentes do núcleo, o tamanho do orifício e a natureza da
membrana que controla a entrada de água no sistema podem
obter-se diferentes tempos de latência (Verma et al., 2002).
O OROS-CT® foi concebido para provocar um atraso pós-
gástrico de 3 a 4 horas, evitando que a liberação ocorra no
intestino delgado (Tweeuwes et al., 1993).
FIGURA 1 - Esquema do sistema Pulsincap®. Adaptado
de Mcneil e Stevens, 1990.

O sistema Time Clock® (McNeil, Stevens, 1990) é


outra formulação tempo-dependente que consiste no reves-
timento de um núcleo com uma mistura de polímeros
hidrofóbicos (ceras de carnaúba e de abelha) e um tensoativo
(Tween 80), ao qual se adiciona um polímero hidrofílico para
melhorar a sua adesividade ao núcleo. O objetivo é a libera-
ção rápida e completa do princípio ativo após um tempo pré-
determinado de latência, a qual depende da espessura da ca-
mada hidrofóbica e é independente do pH e o do estado de
nutrição (Pozzi et al., 1994). Os testes realizados em volun- FIGURA 2 - Esquema de um sistema de liberação colônica
tários humanos (Wilding et al., 1994), provaram a efetividade OROS-CT®. Adaptado de Theeuwes et al., 1993.
340 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

SISTEMAS PH-DEPENDENTES Desde então, os sistemas que se baseiam no reves-


timento com estes polímeros compostos têm sido ampla-
Os sistemas pH-dependentes exploram as variações mente explorados sobretudo no tratamento da doença in-
de pH ao longo do trato gastrointestinal para liberar sele- flamatória do cólon.
tivamente fármacos no cólon. Baseiam-se, geralmente, no Nos últimos anos, ligeiras modificações aos reves-
revestimento de comprimidos, peletes e cápsulas com timentos anteriores têm sido propostas. Peteers e Kinget
polímeros insolúveis a pH ácido e solúveis a pH neutro ou (1993) avaliaram o efeito da metilação parcial dos grupos
ligeiramente alcalino. Estes polímeros devem ser capazes carboxílicos livres do polímero Eudragit® S com o intui-
de prevenir a liberação do componente ativo no estômago to de obter um perfil de dissolução mais favorável às con-
e intestino delgado proximal e promovê-la no íleo termi- dições de pH do cólon. Os resultados demonstraram uma
nal ou cólon proximal. dissolução em água a valores de pH superiores, o que se
Os copolímeros derivados do ácido metacrílico e correlacionou in vivo com melhores características de
metilmetacrílico, comercializados como Eudragit®, satis- dissolução no pH do cólon.
fazem estas condições, pelo que são bastante utilizados A utilidade de polímeros lipofílicos obtidos a par-
na concepção de sistemas pH-dependentes. Além disso, tir da substituição de um derivado metacrílico por áci-
os revestimentos constituídos por estes polímeros, po- dos gordos, na preparação de misturas físicas pH-de-
dem ser aplicados nas várias formas farmacêuticas sóli- pendentes destinadas à liberação específica do
das recorrendo a todos os equipamentos convencionais ibuprofeno foi investigada (Luppi et al., 2003). Estas
utilizados pela indústria farmacêutica. A liberação do misturas foram avaliadas in vitro, concluindo-se que
fármaco a partir de formas farmacêuticas revestidas por algumas delas seriam interessantes na liberação espe-
Eudragit® é dependente do pH do meio de dissolução e cífica no cólon, por retardarem a liberação no trato
da espessura do revestimento. Alguns autores sugerem gastrointestinal superior e promover uma elevada
quantidades de polímero da ordem dos 10-12% em rela- biodisponibilidade do ibuprofeno no cólon. Outra pos-
ção ao peso total do comprimido para obter revestimen- sibilidade consiste na utilização de misturas de
tos resistentes ao pH ácido do estômago e capazes de polímeros (Eudragit® L100-55 e Eudragit® S100) com
retardar a liberação até que a forma farmacêutica atinja diferentes solubilidades, no revestimento de comprimi-
o cólon (Healey, 1989). dos, de modo a obter perfis de dissolução do revesti-
Entre os vários tipos (Figura 3) os polímeros Eudragit® mento menos susceptíveis a variações interindividuais
S e L que se dissolvem, respectivamente, para valores de pH de pH (Khan, Prebeg, Kurjakovic, 1999).
superiores a 7 e 6 são os mais empregados. A diferença de Apesar da sua ampla utilização e investigação, a
solubilidade em meio aquoso destes copolímeros depende de especificidade destas formulações pH-dependentes susci-
relação existente entre os grupos carboxílicos livres e tou, desde sempre, algumas dúvidas na medida em que
esterificados que é de 1:2 para o Eudragit® S e de 1:1 para o diferenças mínimas de valores de pH ao longo do intesti-
Eudragit® L. A utilização de Eudragit® S no âmbito da libe- no, aliada à variabilidade a que estão sujeitas as condições
ração específica de fármacos no cólon foi pela primeira vez fisiológicas no trato gastrointestinal, não podem constituir
referida em 1982 (Dew et al., 1982). um mecanismo efetivo para deflagar a liberação específica
de fármacos.
Ashford et al. (1993a, b) avaliaram a eficácia de
comprimidos de ácido salicílico revestidos por Eudragit®
S e demonstraram que além do pH do meio a liberação é
dependente da espessura do revestimento. A retenção por
longos períodos na válvula ileocecal e um tempo de trân-
sito rápido, provaram a ineficácia dos comprimidos como
formas farmacêuticas concebidas sob a forma de sistemas
de liberação específica no cólon. O tempo de chegada ao
cólon e de desagregação revelaram-se altamente variáveis
sendo que a dissolução pode ou não ocorrer, prematura-
mente, no duodeno.
Para contornar o problema de falta de reprodutiblidade
FIGURA 3 - Estrutura química de vários tipos de e especificidade no local de liberação resultante da variabi-
Eudragit®. lidade nos tempos de trânsito gastrointestinal dos comprimi-
Liberação específica de fármacos no cólon por via oral 341

dos, a utilização de sistemas multiparticulados tem sido ção da dexametasona nos locais de inflamação onde o pH
equacionada em vários estudos (Rudolph et al., 2001, Gupta é presumivelmente ácido, e no qual estes polímeros se dis-
et al., 2001; Lamprecht et al., 2003; Lamprecht et al., 2004). solvem. Estudos in vitro, revelaram que os perfis de disso-
A comparação, in vivo, do trânsito gastrointestinal de peletes lução destes sistemas e, particularmente, dos polímeros que
e comprimidos, bem como do local de liberação do príncipio formam a camada interna, se adequam à liberação especí-
ativo a partir destas formulações tem mostrado resultados fica de fármacos sob as condições ácidas no cólon de paci-
ligeiramente favoráveis aos peletes. Contudo, estes estudos entes com diagnóstico de doença inflamatória do intestino.
recentes são realizados em indíviduos saudáveis pelo que a Para além das formulações revestidas, a concepção de
relevância destes resultados carece de uma investigação mais matrizes pH-dependentes é, igualmente, uma realidade na
profunda (Brunner et al., 2003; Wilding et al., 2003). tentativa de promover uma liberação específica no cólon.
Para além desta limitação, todos os sistemas pH-de- Krogars et al. (2000) utilizaram Eudragit® S para
pendentes descritos têm em comum o fato de se basearem formular peletes matriciais constituídos por ibuprofeno e
num aumento do valor de pH na passagem do íleo para o ácido cítrico e testaram a formulação in vitro. A investiga-
cólon proximal. No entanto, tal como foi discutido na pri- ção revelou a incapacidade dos sistemas matriciais para
meira parte desta revisão, este fato parece não estar total- liberar especificamente fármacos no cólon. No entanto,
mente correto nem em indíviduos saudáveis nem em verificaram que a redução do pH causada pela presença do
indíduos com patologias colônicas aos quais se destinam ácido cítrico retardou a dissolução do polímero entérico e
estes sistemas. O fato de alguns estudos sugerirem que o pH consequentemente a liberação do ibuprofeno em soluções
luminal do cólon durante ataques agudos da doença infla- tamponadas a pH 7,4 foi retardada em 15 minutos.
matória do intestino cai para valores na ordem dos 2,3 e 4,7, Outros autores (Nykänen et al., 1999, 2001) têm
constituíu o ponto de partida para a preparação de compri- investigado o uso de ácidos orgânicos em grânulos
midos de dexametasona revestidos por um polímero ácido- matricias entéricos destinados a liberar um agente
solúvel (Leopold, Eikeler, 2000). O sistema é formado por terapêutico no cólon. Apesar da observação de que um
3 camadas: uma camada externa gastroresistente de HPMC, ácido orgânico pode atrasar a liberação in vitro de um
uma camada intermediária de HPC e uma camada interna fármaco, nenhuma evidência foi encontrada in vivo.
de Eudragit® E ou de polivinilacetal dietilaminoacetato Os ácidos orgânicos foram utilizados por Ishibashi
(AEA) (Figura 4). A presença de uma camada intermediá- e colaboradores (1998) no desenvolvimento de uma cáp-
ria deve-se ao fato de o HPC ser um polímero inerte que sula designada de CTDC® (Figura 5). Esta cápsula possui
inibe fenomenos de interação entre as duas restantes cama- características únicas, na medida em que alia propriedades
das. Após a dissolução do revestimento gastroresistente, a tempo e pH-dependentes. A principal característica técni-
camada interna de Eudragit® E ou AEA promove a libera- ca do sistema consiste na presença de um ácido orgânico
juntamente com o princípio ativo numa cápsula revestida
por 3 camadas constituídas por um polímero ácido-solú-
vel, um polímero solúvel em água e por um polímero
entérico. O polímero entérico constitui o revestimento

FIGURA 4 - Esquema de um sistema de liberação


específica de fármacos no cólon destinado a liberar o
princípio ativo quando o pH do cólon se torna ácido
durante ataques agudos da doença inflamatória do FIGURA 5 - Esquema do sistema CTDC®. Adaptado de
intestino. Adaptado de Leopold e Eikeler, 2000. Ishibashi et al.,1998.
342 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

mais externo e dissolve-se após o esvaziamento gástrico, ver a liberação específica de fármacos no cólon, median-
tal como a camada intermediária. A cápsula fica reduzida te o recurso a pró-fármacos, formulações revestidas por
ao revestimento por um polímero ácido-solúvel que se polímeros biodegráveis ou matrizes e hidrogeis. É uma
dissolve logo que o pH do micro-ambiente no seu interi- estratégia bastante específica, na medida em que estas
or diminui, devido à dissolução do ácido orgânico. Após bactérias apenas estão presentes no cólon. Não obstante
a dissolução deste polímero, o fármaco é rapidamente li- alguns autores sugerem que a atividade enzimática é sus-
berado em função da espessura da camada interna. Alian- ceptível à dieta, fármacos e outros fatores externos pelo
do a resistência ao pH ácido com a espessura da camada que a reprodutibilidade destes sistemas pode constituir um
interna, pode-se conseguir retardar a liberação por perío- problema (Leopold, 1999).
dos de 3 a 4 horas e, assim, obter um efetivo sistema de
liberação específica no cólon. O comportamento deste Pró-fármacos
sistema foi avaliado em cães (Ishibashi et al., 1999), de-
monstrando ter potencial para liberar fármacos no cólon. A utilização de pró-fármacos no âmbito dos sistemas
O sistema mais complexo de todos os que foram baseados na microflora do cólon, envolve a formação de
descritos até ao momento é o sistema CODES®. A sua fi- moléculas farmacologicamente inativas com características
nalidade é aliar as propriedades tempo e pH-dependentes físico-químicas diferentes da molécula ativa. Devem cum-
à especificidade da meolização pela microflora do cólon, prir os seguintes requisitos: não serem absorvidas pelo in-
eliminando, assim, a variabilidade que é atribuída aos pri- testino delgado e, uma vez que alcancem o cólon, transfor-
meiros sistemas (Watanabe et al., 1998). Este sistema marem-se no composto farmacologicamente ativo median-
consiste num núcleo formado por um fármaco e lactulose, te a ação metabólica da microflora bacteriana (Macleod,
revestido internamente por um polímero ácido-solúvel e Tozer, 1992; Van der Mooter, Samyn, Kinget, 1992). A
no exterior por um polímero entérico. Assim que o siste- hidrofília ou o elevado peso molecular de alguns destes pró-
ma abandona o estômago, o revestimento entérico dissol- fármacos, limita a sua absorção nas porções superiores do
ve-se, expondo a segunda camada formada por Eudragit® trato gastrointestinal (Macleod, Tozer, 1992). Os grandes
E. Este polímero dissolve-se em pH inferior a 5, pelo que incovenientes são: i) a sua aplicação limita-se a alguns
não se dissolverá no conteúdo intestinal. A liberação do fármacos pelo que não são sistemas universais, ii) requerem
fármaco baseia-se na conversão da lactulose pela a modificação química do fármaco iii) não oferecem uma
microflora do cólon em ácidos orgânicos, promovendo um proteção contra o ambiente das regiões superiores do trato
abaixamento do pH envolvente que permitirá a dissolução gastrointestinal tão eficaz quanto outros sistemas e iv) não
do revestimento. permitem a administração de grandes quantidades de
Um sistema CODES ® placebo (Takemura et al., fármaco ou de vários fármacos (Ashford, Fell, 1994). As
2000) foi administrado a 8 voluntários humanos e o seu reações pelas quais o agente ativo pode ser libertado são de
comportamento avaliado através da técnica de ³- dois tipos: reduções azo e hidrólise. A composicão de dife-
cintilografia. A desintegração do sistema ocorreu no cólon rentes pró-fármacos utilizados na liberação específica de
e o seu trânsito mostrou-se independente do estado de fármacos no cólon encontra-se na Tabela 1.
nutrição dos indíviduos em estudo. No entanto, esta inves-
tigação revelou um aspecto menos positivo: a sua desin- Azo-redução
tegração completa demorou cerca de 60 minutos, o que
corresponde ao tempo necessário para que ocorra sufici- O exemplo clássico de um pró-fármaco que sofre azo-
ente produção de ácido e consequente dissolução do redução para liberar especificamente o seu constituínte ativo
polímero ácido-solúvel. no cólon é a sulfasalazina. Este fármaco foi inicialmente in-
troduzido na terapêutica da artrite reumatóide ao combinar
SISTEMAS BASEADOS NA MICROFLORA DO uma molécula de antibiótico, a sulfapiridina, e um salicilato,
CÓLON o ácido 5-aminosalicílico, unidos através de uma ligação azo
(Figura 6) (Schröder, Lewkonia, Price-Evans, 1973).
Como já foi referido, o cólon é colonizado por um O ácido 5-aminossalicílico é muito efetivo no trata-
elevado número de bactérias que lhe conferem uma capa- mento da doença inflamatória do cólon. Contudo, mediante
cidade muito intensa de metabolização de diversos com- a sua administração oral sofre uma intensa absorção nas por-
postos endógenos e exógenos. ções superiores do trato gastrointestinal, não exercendo uma
Os sistemas em análise têm como estratégia ineren- ação local no cólon (Dash, Brittain, 1998). Pelo contrário,
te, a utilização desse metabolismo bacteriano para promo- quando administrado sob a forma de sulfasalazina, pelo
Liberação específica de fármacos no cólon por via oral 343

TABELA I - Composição de alguns pró-fármacos utilizados na liberação específica no cólon.

Princípio ativo Ligando Referência


Ácido 5-aminossalicílico Sulfapiridina Schröder et al, 1973
Ácido 5-aminossalicílico Polímeros bioadesivos Kope_ek, 1990
Dexametasona Glicosídio Friend et al., 1992
Budenosídio Glicuronídio Friend et al., 1995
Naproxeno Dextrano Harboe et al., 1989
Larsen et al., 1989
Dexametasona Dextrano Macleod et al., 1992
Metilprednisolona Dextrano Macleod et al., 1992
Ácido 5-aminossalicílico Ciclodextrina Yano et al., 2001
Ácido 5-aminossalicílico Polímeros acrílicos Davaran et al., 1999

menos 85% de uma dose oral passa intacta pelo estômago e duas moléculas de ácido 5-aminossalicílico ligadas por
intestino delgado (Watts, Illum, 1997). O envolvimento da uma ligação azo, e da balsalazina que resulta da ligação
enzima azoreductase na redução de compostos com ligações azo entre o ácido 5-aminossalicílico e o composto 4-
azo é muitas vezes mencionado. No entanto, alguns estudos aminobenzoil-β-alanina. Outro pró-fármaco, foi igual-
(Lloyd et al., 1993) apontam para o fato de a azoredução ser mente, sintetizado e testado. Denomina-se ipsalazina e é
uma reação geral, mediada por moléculas de baixo peso o resultado da ligação do ácido 5-aminossalicílico e de 4-
molecular transportadoras de eletrons, como é o caso do aminobenzoil-β-glicina.
NADPH. No entanto, a utilização crônica destes compostos
O principal problema desta formulação são os seus vai estar sempre associada a importantes efeitos adver-
efeitos secundários provocados pela absorção sistémica da sos relacionados com a própria ligação azo (Milojevic
sulfapiridina, tais como perimiocardites, pancreatites e et al., 1995a) os quais incluem efeitos carcinógenos,
diarreia (Azad Khan, Piris, Trueloves, 1977). genotoxicidade e mutagenicidade (Miller, Miller,
A necessidade de utilizar compostos menos tóxicos 1961).
levou ao desenvolvimento de uma nova geração de pró- Um novo conceito de liberação específica de
fármacos (Fig. 6). É o caso da olsalazina que consiste em fármacos, por via oral, foi proposta por Kopecek ao com-

FIGURA 6 - Esquema da liberação do ácido 5-aminosalicílico a partir da sulfasalazina, balsalazida, ipsalazida e olsalazina.
344 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

binar a liberação específica do ácido 5-aminosalicílico a hidrólise provocada pelas glicosidades.


partir de pró-fármacos com as propriedades bioadesivas A eficácia comparativa da dexametasona e do seu
do polímero transportador (Kopecek, 1990). Foram pró-fármaco foi investigada em porcos da Índia aos quais
estabelecidas ligações azo entre o ácido 5-aminos- foi induzida a doença inflamatória do intestino. Ficou
salicílico e copolímeros de N-(2-hidroxipropil) evidente que 0,65 µmol/kg de dexametasona β-D-
metacrilamida (HPMA). À cadeia terminal deste glucósido é tão efetivo quanto 1,3 µmol/kg de
polímero adicionaram açúcares complementares das dexametasona, na redução do número total de úlceras,
lecitinas da mucosa do cólon, que ao interagir com os pelo que os efeitos secundários associados a esta terapêu-
receptores das células epiteliais, facilita a intervenção tica podem ser reduzidos sem comprometer a sua eficácia
das bactérias azoreductases e prolonga a liberação de (Friend, Tozer, 1992).
fármaco no cólon evitando a sua eliminação prematu-
ra com as fezes (Macleod, Tozer, 1992). As caracterís- • Conjugados com glicoronídios
ticas de bioadesão dos copolímeros de HPMA à mucosa
do cólon ficaram demonstradas em modelos animais. A utilização de glucorônidos na preparação de pró-
Quando inoculado com Streptococum faecium, o ácido fármacos destinados a liberar o seu componente ativo no
5-aminossalicílico foi liberado desta formulação devi- cólon surgiu na sequência de duas observações: i) estes
do a ação das azoreductases (Kope_ek et al., 1992). conjugados são mais hidrofílicos do que os glicosídeos
A grande limitação destas formulações é a elevada pelo que a sua absorção no intestino delgado é menor e ii)
dose que tem de ser administrada ao longo do dia, para a atividade das enzimas glucuronidases no intestino del-
alcançar doses de 0,5-3 g de ácido 5-aminossalicílico, já gado é mais baixa.
que do peso total do medicamento apenas 20% corres- Perante estas vantagens sob os pró-fármacos obtidos
ponde a princípio ativo, sendo por isso mais conveniente com glicósidos, Friend (1995) sintetizou dois pró-fármacos de
utilizar outro fármaco que necessite de menores doses componentes ativos utilizados no tratamento da doença infla-
(Van der Mooter, Samyn, Kinget ,1995a). matória do intestino: mentol-β-D-glicoronídio e budenosido-
β-D-glucorónido, observando que a velocidade de degradação
Hidrólise destes compostos entre o intestino delgado e o cólon de ratos
aumentava cerca de 90 vezes no caso do budenosido-²-D-
• Conjugados com glicosídeos glucorónido. Estes resultados, sugerem que ambos os pró-
fármacos apresentam uma absorção neglicenciável através do
A conjugação de fármacos com glicosídeos é outra trato gastrointestinal. A baixa absorção associada a um gradi-
estratégia proposta na formulação de pró-fármacos desti- ente elevado de hidrólise enzimática entre o intestino delgado
nados a liberação específica no cólon. e cólon, demonstra o seu potencial para liberar agentes
Os pró-fármacos formulados com glicosídeos são mais terapêuticos especificamente no cólon. Além disso, estas ob-
hidrofílicos e maiores do que o fármaco o que tende a redu- servações podem ser otimizadas no caso do homem, na medida
zir a extensão de absorção a partir do trato gastrointestinal que este apresenta uma menor atividade de β-D-
(Haeberlin et al., 1993). Uma vez no cólon, estes conjugados glucuronidases no intestino delgado.
sofrem clivagem pela glicosidases bacterianas que aí existem Haeberlin (Haeberlin et al., 1993) investigaram o
em grande número, promovendo a liberação do princípio potencial, in vitro, da dexametasona β-D-glicoronídio e
ativo. No entanto, alguns conjugados com glicosídeos podem obtiveram resultados similares aos anteriores.
sofrer degradação enzimática no trato gastrontestinal superior
(Friend, Tozer, 1992). • Conjugados com dextranos
Esta estratégia foi amplamente utilizada para a libe-
ração de corticosteróides no cólon destinados ao tratamen- Os pró-fármacos obtidos a partir da conjugação com
to local da doença inflamatória do intestino. O pró- dextranos, são degradados pelas dextranases e estereases
fármaco, dexametasona ²-D-glucósido, revelou-se estável presentes no cólon. Esta estratégia apresenta-se promisso-
quando colocado em várias soluções tampão com valores ra na entrega específica de fármacos no cólon no âmbito
de pH entre 2,5 e 7,5: menos de 1% foi hidrolisado em 24 de algumas patologias colónicas, dado que as espécies
horas em todos os valores de pH testados. No entanto, foi Bacteroides, que correspondem a cerca de 20% da
rapidamente hidrolisado em homogeneizados de tecidos e microflora fecal humana, secretam algumas dextranases e
de conteúdos luminais do cólon obtidos de modelos ani- estão presentes na flora fecal de pacientes que sofrem de
mais, sugerindo que a liberação do fármaco se deve à colite ulcerosa e doença de Crohn (Larsen et al., 1989).
Liberação específica de fármacos no cólon por via oral 345

As dextranases classificam-se em dois grupos em consequentemente a liberação do 5-ASA. Neste contexto, a


função do produto que formam através da hidrólise liberação do ácido 5-aminosalicílico nos conteúdos do cólon
enzimática.: as endodextranases e as exodextranases. As e cego foi superior quando se utilizou a ciclodextrina mais
primeiras promovem a quebra de ligações glicosídicos solúvel (γ-ciclodextrina). Por outro lado, independentemente
α-1,6 e α-1,3 da cadeia polimérica, provocando quer uma do tipo de ciclodextrina e sua solubilidade quando se proce-
redução do peso molecular, quer da viscosidade. As deu à incubação em conteúdos do estômago e intestino del-
endodextranases atuam rompendo as ligações terminais, gado verificou-se uma liberação do 5-ASA muito baixa.
libertando mono e dissacarídeos (Macleod, 1992).
Harboe et al. (1989) estudaram a biodisponibilidade • Conjugados com polímeros acrílicos
oral do naproxeno em porcos da Índia a partir de ésteres do
naproxeno-dextrano com diferentes pesos moleculares. Outra estratégia utilizada na liberação específica
Concluíram que este pró-fármaco possui várias caracterís- de fármacos no cólon baseia-se na união do ácido 5-
ticas de um bom sistema de liberação específica: i) o pró- aminosalicílico a polímeros acrílicos dando lugar a pró-
fármaco intacto não atinge a circulação sistémica; ii) não fármacos que possuem ligações amida ou éster
sofre degradação enzimática no conteúdo do intestino del- biodegradáveis. É o caso do metacriloiloxetil 5-amino-
gado; iii) a regeneração seletiva do naproxeno ocorre no salicilato e do N-metacriloilaminoetil 5-aminosalicilato
cego e cólon e iv) a biodisponibilidade do naproxeno a partir (Davaran, Hanaee, Khosravi, 1999). A eficácia destes
de todos os pró-fármacos preparados foi quase de 100%. sistemas é dependente de seu grau de intumescimento
Num estudo posterior (Larsen et al., 1989), compa- nas regiões do trato gastrointestinal que antecedem o
rou-se a velocidade de liberação destes pró-fármacos em cólon. Em meios com pH baixo, estes polímeros devem
homogeneizados de vários segmentos do trato gastro- exibir um grau de intumescimento baixo, reduzindo a
intestinal do porco. A liberação foi 15 a 17 vezes mais possibilidade de hidrólise. Contudo, quando o pH au-
rápida nos homogeneizados do conteúdo do cego e cólon menta, o grau de intumescimento torna-se mais signi-
do que num tampão de pH 7,4 ou homogeneizado de con- ficativo, tornando-os mais susceptíveis à hidrólise. No
teúdo do intestino delgado. entanto, se levarmos em conta o fato de que não existe
Macleod e colaboradores (Macleod, Friend, Tozer, um significativo gradiente de pH entre o intestino del-
1993) analisaram, com êxito, a união da dexametasona e gado e cólon, então uma quantidade considerável de
metilprednisolona ao dextrano através do ácido succínico. fármaco pode ser liberada no intestino delgado devido
Este pró-fármaco demonstrou elevada estabilidade nos à hidrólise do polímero intumescido, o que torna estes
conteúdos do intestino delgado e rápida ativação mediante sistemas pouco eficazes na liberação específica de
hidrólise pelas bactérias do cólon. fármacos no cólon.

• Conjugados com ciclodextrinas • Revestimento com polímeros biodegradáveis

As ciclodextrinas são oligassarídeos cíclicos passí- O revestimento de diferentes formas farmacêuticas


veis de fermentação pelas polissacaridases presentes no com polímeros biodegradáveis tem sido proposto como
cólon. Estes compostos são pouco hidrolisados e apenas mecanismo de liberação seletiva de fármacos no cólon.
ligeiramente absorvidos durante a sua passagem pelo es- As duas principais classes de polímeros utilizados
tômago e intestino delgado (Yano et al., 2002). Estas duas no revestimento de sistemas de liberação específica de
características levaram ao desenvolvimento de pró- fármacos no cólon são os polímeros sintéticos com liga-
fármacos do ácido 5-aminosalicílico que resultam da ções azo, e os polímeros naturais.
união a ciclodextrinas (Zou et al., 2004). Os excipientes utilizados no revestimento devem
Uma vez que as doses diárias deste fármaco no tra- obedecer a determinados requisitos: proteger o fármaco no
tamento de doenças do cólon é muito elevado, o grau de conteúdo gástrico e do intestino delgado e assegurar uma
substituição da ciclodextrina, isto é, o número de molécu- liberação rápida do princípio ativo, predominantemente
las de 5-ASA ligados à molécula de ciclodextrina, deve ser no cego (Bauer, Kesselhut, 1995). Para isso devem: i) ser
o mais elevado possível, sem que, contudo, a solubilida- insolúveis em água em qualquer valor de pH, ii)
de do pró-fármaco seja tão baixa que comprometa a libe- suceptíveis a degradação pelas bactérias do cólon, iii)
ração do princípio ativo no cólon. solúveis ou dispersíveis em solventes adequados às for-
Além disso, a solubilidade da ciclodextrina deve ser mulações de revestimento, iv) mostrar capacidade para
considerada pois afeta a solubilidade do pró-fármaco e formar filmes e v) ser isentos de toxicidade (Bauer,
346 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

Kessehult, 1995). A formulação de comprimidos, cápsu- polissacarídeos é a existência de quantidades significati-


las ou peletes com polímeros biodegradáveis oferece duas vas de polissacaridases no cólon humano o que favorece
grandes vantagens: especificidade no local de liberação do a liberação seletiva de fármacos nesse local (Rubinstein et
princípio ativo e administração de quantidades ilimitadas al., 1997). Além disso, estes materiais possuem uma bai-
de um fármaco (Van der Mooter, Samyn, Kinget, 1993). xa toxicidade e uma significativa capacidade para
O grande inconveniente é a dificuldade em obter re- gelificar. No entanto, apresentam alguns inconvenientes,
vestimentos reprodutíveis. Para além disso, sendo o esva- como a fragilidade das suas membranas e a sua elevada
ziamento gástrico a parte mais variável do trânsito hidrofilia, tornando-os muito solúveis nos fluidos gástri-
gastrointestinal, as formas farmacêuticas revestidas podem co e intestinal, dando origem a difusões prematuras do
ser afetadas por alterações deste trânsito (Liu et al., 2003). fármaco. Aliando isso, ao fato de alguns polissacarídeos,
serem degradados nas porções superiores do trato
• Revestimento com polímeros sintéticos gastrointestinal, constitui uma barreira ao seu uso isolado.
Algumas estratégias foram investigadas quer no
Van Der Mooter et al. (1992) sintetizaram novos sentido de melhorar as propriedades mecânicas dos fil-
polímeros azo através da incorporação de um composto mes, quer com o intuito de reduzir a solubilidade destes
bifuncional azo, o bis(metilcriolamina)azobenzeno compostos. Bauer e Kesselhut (1995) propuseram a
(BMAAB), em copolímeros do 2-hidroxietil metacrilato reticulação de galactomananos e a união de dextranos a
(HEMA) e do metacrilato de metila (MMA). Após a sua ácidos gordos, como o ácido capróico, por forma a dimi-
análise in vitro e in vivo, concluíram que os revestimen- nuir a solubilidade destes compostos e melhorar as carac-
tos por filme constituídos por estes polímeros são degra- terísticas dos seus filmes.
dados pelas bactérias intestinais. Contudo, deve ser No entanto, do ponto de vista da concepção destes
equacionada a relação entre a quantidade de componentes sistemas, estas estratégias tornam a sua reprodutibilidade
hidrofílicos, que asseguram a acessibilidade aos grupos um problema. Apesar disso, a utilização de polímeros
azo, e os componentes hidrofóbicos que conferem maior naturais no revestimento de sistemas de liberação especí-
resistência ao suco gástrico e fluídos do intestino delgado. fica de fármacos no cólon tem constituído, nos últimos
Após inclusão cirúrgica de cápsulas revestidas por anos, a base de vários trabalhos científicos. De seguida,
polímeros azo e contendo teofilina como fármaco mode- descrevem-se alguns desses trabalhos com ênfase nas es-
lo no intestino delgado e cego de ratos, observaram-se tratégias que têm sido adotadas para contornar as limita-
concentrações plasmáticas de teofilina superiores, quan- ções destes compostos.
do as cápsulas eram inseridas no cego (Van der Mooter, A amilose é um polissacarídeo que possui capacida-
Samyn, Kinget, 1995b) o que demonstrou que a liberação de de formar geis e filmes (Milojevic et al., 1995a) que
da teofilina é o resultado combinado da difusão e degra- apresentam uma microestrutura potencialmente resistente
dação do polímero azo pelas azorredutases. Contudo, foi à ação da α-amilase pancreática mas passível de ser
verificada a absorção da teofilina a partir do intestino del- digerida pelas amilases da microflora do cólon (Milojevic
gado, como consequência da simples difusão do fármaco et al., 1995b). A fragilidade destes filmes e o elevado grau
através do polímero intumescido. de intumescimento na presença de água, obriga à adição de
Outro grande grupo de polímeros sintéticos agentes estruturantes, como, por exemplo, a etilcelulose,
degradáveis no cólon é formado pelas poliamidas lineares que é adicionada sob a forma de dispersões aquosas ou de
e poliuretanos (Kimura et al., 1992). Schacht et al. (1996) soluções orgânicas. A incorporação de Ethocel® em reves-
demonstraram que as poliamidas que contém grupos azo timentos de amilose permitiu uma supressão da liberação in
na sua estrutura são reduzidas em meio colônico. Depen- vitro, do fármaco, pelo período de 12 horas (Milojevic et al.,
dendo da natureza do polímero, a redução pode resultar na 1995a) e não comprometeu a sua susceptibilidade para so-
ruptura da cadeia ou deter-se no momento em que se for- frer degradação enzimática (Siew et al., 2004).
ma a hidrazina. Neste último caso, o revestimento perma- Em estudos posteriores (Milojevic et al., 1995c) pre-
nece intacto, mas as trocas físicas que ocorrem, tornam-os pararam-se peletes revestidos com amilose e Ethocel® numa
passíveis de ser utilizados na formulação de sistemas de relação de 1:4. O fármaco modelo utilizado foi a glucose
liberação colônica. marcada com 13C e a validação do revestimento realizou-se
determinando o 13CO2 no ar expirado e por γ-cintigrafia. O
13
• Revestimento com polímeros naturais CO2 apareceu na respiração 7 horas após administração e
o tempo de chegada ao cólon, avaliado através dos estudos
O princípio de utilização de sistemas revestidos por de γ-cintigrafia foi de 4,5 horas. Esta diferença de 2,5 horas
Liberação específica de fármacos no cólon por via oral 347

parece dever-se ao tempo que as enzimas demoram a degra- guiu proteger o núcleo por mais de 6 horas, o que
dar o revestimento e libertar a glucose. corresponde a 25-30% de erosão, seguida de liberação
A pectina é um polissacarídeo heterogêneo compos- rápida do ácido 5-aminosalicílico no cólon mediante de-
to, majoritariamente, por ácido galacturônico e o seu éster gradação enzimática.
metílico (Ashford et al., 1994). É resistente à ação das A capacidade de revestimentos constituídos por
enzimas presentes no estômago e intestino delgado e é, pectina e quitosana na relação de 1:10 foi avaliada quan-
quase completamente, degradada pelas bactérias do cólon, do aplicada em comprimidos de pequenas dimensões e
produzindo uma série de oligogalacturonatos solúveis. De usando como fármacos modelo, a indometacina (pouco
acordo com o seu grau de metoxilação, as pectinas apre- hidrossolúvel) e o paracetamol (hidrossolúvel). Esta com-
sentam distintas solubilidades. Assim, as pectinas com binação confere um maior grau de proteção da liberação
elevado grau de metoxilação são menos solúveis enquanto prematura dos fármacos nas porções superiores do trato
que as mais solúveis são caracterizadas por um baixo grau gastrointestinal do que o revestimento composto, apenas,
de metoxilação. A elevada solubilidade de algumas por pectina, sendo este efeito mais sentido quando se uti-
pectinas pode ser reduzida mediante a reticulação com lizam fármacos insolúveis como a indometacina. Na rea-
cátions bivalentes como é o caso do cálcio ou zinco (El- lidade, o paracetamol mostrou uma liberação prematura
Gibaly, 2001). Deste modo, quer as pectinas com elevado em condições que simulam as condições do trato
grau de metoxilação, quer as pectinas com menor grau de gastrointestinal superior (Fernandez-Hervás, Fell, 1998).
metoxilação, mas formuladas com uma quantidade con- A inulina é um polissacarídeo resistente à hidrólise
trolada destes elementos, constituem mecanismos passí- e digestão no trato gastrointestinal superior e fermentado
veis de maximizar a especificidade na liberação colônica, pela microflora do cólon (Vervoort, Kinget, 1996). Para
assegurando uma proteção eficaz durante o trânsito pelo além da sua elevada hidrofilia, este composto natural não
cólon e uma elevada susceptibilidade para sofrer degrada- tem capacidade para formar filmes com características
ção enzimática (Ashford et al., 1994). adequadas ao revestimento de formas farmacêuticas. De
O pectinato de cálcio foi utilizado no revestimento de modo a formular este composto como material de reves-
peletes de teofilina (Sriamornsak et al., 1997). A liberação timento biodegradável, a sua solubilidade foi reduzida
in vitro, da teofilina foi testada em água, tampão pH 7,4 e através de um elevado grau de polimerização e, posterior-
suco gástrico artificial. Em geral, a liberação foi constante mente, incorporada em filmes de Eudragit® RS (Vervoort
até que cerca de 75 a 80% do fármaco fosse libertado e in- e Kinget, 1996). Esta formulação demonstrou ser capaz de
dependente do meio de dissolução, do tipo de pectina e do manter a sua integridade nos fluídos gástrico e intestinal
tempo de revestimento. O efeito mais marcante foi o tama- e ser susceptível a degradação enzimática.
nho do núcleo dos peletes, sendo que os de maiores dimen- O Eudragit® RS foi igualmente, utilizado no reves-
sões com menores superfícies de contacto e mais extensas timento de comprimidos de ácido 5-aminosalicílico em
vias de difusão, demonstraram velocidades lentas de libe- combinação com a β-ciclodextrina (Fetzner et al., 2004).
ração da teofilina. Concluíu-se que o revestimento com Até ao momento, o único polissacarídeo utilizado
pectinato de cálcio é fácil de aplicar e confere perfis de li- isoladamente no revestimento de sistemas de liberação es-
beração relativamente independentes do pH. pecífica de fármacos no cólon foi a goma guar (Krishnaiah
Para além da utilização de pectinato de cálcio, a et al., 1998a). Este composto é amplamente utilizado em
combinação da pectina com polímeros naturais ou sinté- formulações farmacêuticas como agente desintegrante,
ticos insolúveis em água, tem sido intensamente estabilizante e espessante.
investigada. Esses polímeros incluem: etilcelulose Quando comprimidos de indometacina revestidos
(Zeitoun, Brisard, 1988), hidroxipropilmetilcelulose por goma guar foram administrados a voluntários huma-
(Turkoglu, Ugurlu, 2002), Eudragit® (Semdé et al., 2000a, nos e o seu percurso no organismo avaliado por ³-
b) e quitosana (Fernandez-Hervás, Fell, 1998; Macleod et cintilografia concluíu-se que esta formulação permanecia
al., 1999). intacta no estômago e intestino delgado. A degradação do
Uma formulação de ácido 5-aminosalicílico revestimento iniciou-se à entrada do cólon ascendente
revestida por diferentes proporções desses dois polímeros devido à atividade das bactérias que aí residem.
(100% de pectina, 80% de pectina- 20% de HPMC, e 60%
de pectina-40% de HPMC) foi concebida de acordo com • Matrizes e hidrogeis
o conceito de tempo de trânsito gastrointestinal, assumin-
do um tempo de chegada ao cólon de 6 horas. A concen- Alguns polissacarídeos têm sido utilizados na for-
tração ótima de HPMC foi de 20%, e este sistema conse- mulação de matrizes, como é o caso da pectina
348 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

(Rubinstein et al., 1993; El-Gibaly, 2002), goma guar número de reticulações que se têm de degradar é superi-
(Prasad, Krishnaiah e Satyanarayana, 1998), quitosana or. Do mesmo modo, entre hidrogéis que apresentem a
(Zhang, Alsarra e Neau, 2002) e sulfato de condroitina mesma densidade mas diferentes longitudes do agente
(Rubinstein et al., 1992a). Os sistemas matricias apre- reticulante, o intumescimento e a velocidade de degrada-
sentam a vantagem de serem utilizados, em larga escala, ção será superior para aqueles que apresentam maior lon-
pela indústria farmacêutica sem necessidade de recorrer gitude (Duchene, Ponchel,1993).
a equipamento muito sofisticado (Liu et al., 2003). Ape- Para além destes hidrogéis, também se sintetizaram
sar disso, a elevada hidrofilia dos polissacarídeos repre- outros hidrogéis biodegradáveis a partir do dextrano
senta, sobretudo nestes sistemas, uma grande limitação, (Brønsted, Hovgaard, Simonsen,1995a; Simonsen et al.,
pelo que a sua utilização restringe-se a fármacos pouco 1995; Hovgaard, Brønsted, 1995), goma guar (Krishnaiah et
solúveis. Outro incoveniente é a morosidade da degrada- al., 1998b) e inulina (Vervoort et al., 1998a; Vervoort et al.,
ção enzimática de uma matriz constituída por polis- 1998b).
sacarídeos, que pode requerer mais de 12 horas para se Brøndsted e colaboradores (1995a) demonstraram
completar (Yang, Chu e Fix, 2002). que os hidrogéis de dextrano são degradados in vitro por
Neste sentido, as matrizes que têm sido preparadas uma preparação de dextranases, e, in vivo, no cego de ratos.
requerem uma pré-modificação dos polissacarídeos com Em estudos posteriores, os mesmos investigadores
o intuito de reduzir a sua solubilidade. É o caso da pectina (Brønsted, Hovgaard, Simonsen, 1995b) avaliaram a
(Rubinstein, Sintov, 1992) e do sulfato de condroitina potencialidade dos hidrogéis de dextrano na liberação
(Rubinstein, Nakar, Sintov, 1992a) que necessitam de colônica da hidrocortisona e do fosfato sódico de
sofrer reticulação. prednisolona. A liberação da hidrocortisona, que é um
O sulfato de condroitina é um mucopolissacarídeo fármaco hidrofóbico, mostrou ser controlada por mecanis-
hidrossolúvel que serve de substrato às bactérias do cólon, mos de difusão e proporcional à densidade de reticulação
sobretudo Bacteroides. Rubinstein et al. (1992a) ensaiaram do hidrogel. A liberação do fosfato sódico de prednisolona
matrizes de sulfato de condroitina reticulada com 1,12- é controlada pelo grau de intumescimento e é inversamen-
diaminododecano, utilizando o composto diciclohexil te proporcional à densidade de reticulação do hidrogel.
carbodiimida como catalisador e a indometacina como Assim, para o fármaco hidrofílico, tanto na presença como
fármaco modelo. O sulfato de condroitina, apesar de se en- na ausência de dextranases, o sistema apresenta uma rápi-
contrar reticulado, mostrou-se passível de ser degradado da liberação do fármaco. Contrariamente, quando o
pelas bactérias exitentes no cego (Rubinstein, Nakar, fármaco é mais hidrofóbico e na ausência de enzimas a
Sintov, 1992b). velocidade de liberação é lenta, mas aumenta drastica-
Outro tipo de sistemas que se degradam unica- mente na presença de dextranases. Este fato sugere que os
mente no cólon são os hidrogéis. Alguns destes siste- hidrogéis de dextrano são adequados para a liberação no
mas contém monômeros ácidos e reticulações azo aro- cólon de fármacos hidrofóbicos.
máticas que são degradadas por enzimas azoredutoras O incoveniente das matrizes e hidrogéis face ao reves-
(Duchene, Ponchel, 1993). O grau de intumescimento timento por polímeros biodegradáveis é que a quantidade de
do hidrogel, nas condições ácidas do estômago, é muito fármaco é limitada, não sendo viável para certos princípios
baixo, prevenindo, assim, a degradação do princípio ativos, como é o caso do ácido 5-aminossalicílico, que ape-
ativo por parte das enzimas digestivas. À medida que o nas é efetivo em doses elevadas (Van der Mooter et al., 1995).
pH vai aumentando ao longo do trato gastrointestinal,
o grau de intumescimento aumenta, como consequência SISTEMAS BASEADOS NA PRESSÃO
da ionização e repulsão das cargas do hidrogel. No có- INTRALUMINAL DO CÓLON
lon, o grau de intumescimento é tal, que as reticulações
estão acessíveis às enzimas azoredutases, promovendo Outra estratégia para promover a liberação espe-
a liberação do fármaco (Kopecek et al.,1992). cífica de fármacos no cólon baseia-se na presença de
O mecanismo e a velocidade de degradação de um ondas peristálticas vigorosas que aí ocorrem e que con-
hidrogel estão diretamente relacionados com a estrutura e duzem a um aumento da pressão intraluminal. As for-
longitude do agente reticulante, com a densidade da rede mulações designadas de PCDC ® (“Pressure control
polimérica resultante e com o grau de intumescimento colon delivery capsule”), consistem em cápsulas cuja
destes sistemas. Se a densidade de reticulação é muito liberação específica no cólon é controlada pela pressão.
elevada, há uma menor degradação, dado que a acessibi- As cápsulas apresentam a forma de supositórios de
lidade por parte das enzimas às reticulações é menor e o polietilenoglicóis (PEG), revestidas por etilcelulose
Liberação específica de fármacos no cólon por via oral 349

(Takaya et al., 1995; Hu et al., 2000a; Shibata, et al., trânsito intestinal são variáveis, a composição quantita-
2001). Quando administradas oralmente, vão compor- tiva da microflora colónica pode, igualmente, ser afeta-
tar-se como um “balão” de etilcelulose, uma vez que a da por fatores como a dieta, fármacos, idade e patologi-
sua base se liquefaz à temperatura corporal. No trato as. Adicionalmente, a primeira parte desta revisão deixou
gastrointestinal superior, estas cápsulas não estão dire- bem patente que algumas patologias, como é o caso da
tamente sujeitas a pressões luminais, dado que existe doença inflamatória do intestino, podem ter um impac-
sempre fluído no estômago e intestino delgado e, como to muito negativo na eficácia destes sistemas. Neste con-
tal, mantêm a sua integridade. texto, talvez o sistema mais específico de liberação de
Com base na limitada avaliação in vivo destes siste- fármacos no cólon possa tirar partido das suas condições
mas, demonstrou-se que a sua capacidade para liberar patológicas, isto é, do fato de vários estudos sugerirem
fármacos especificamente no cólon, depende da espessura que as doenças inflamatórias do intestino, como a colite
do filme de etilcelulose e do tamanho da cápsula: à medida ulcerosa, são caracterizadas por uma diminuição dos
que a espessura aumenta, aumenta a fase de latência (Hu valores normais de pH de 6,4-7,0 para valores de 2,3-3,7.
et al., 1998). Alguns investigadores (Hu et al., 2000b), O mecanismo utilizado para a liberação consistiria no
avaliaram os tempos de trânsito gastrointestinal destes revestimento de uma forma farmacêutica com um
sistemas. Quando administrados oralmente, em humanos polímero ácido-solúvel, que assegure a liberação do
usando a cafeína como fármaco modelo, observou-se que agente farmacológico seletivamente no local ativo de
em dois indivíduos as cápsulas chegavam ao cólon 4 e 5 doença onde o pH é mais baixo. No entanto, para garantir
horas após administração. Nesses mesmos indivíduos, a sua integridade até que chegue ao cólon, este sistema
detectaram-se níveis de cafeína na saliva 6 a 5 horas, res- deverá ser revestido externamente por um polímero
pectivamente, após administração oral. Estes resultados entérico. A grande vantagem deste sistema sob os con-
confirmam a eficácia destes sistemas na liberação vencionais sistemas pH-dependentes é o fato de aliar a
especifíca de fármacos no cólon, ao retardar a liberação da facilidade de produção das formulações revestidas por
cafeína até que se atinja o íleo terminal ou cólon ascenden- polímeros pH-dependentes, às características fisiológi-
te. No entanto, deve ser referido que o conhecimento so- cas e patológicas do cólon e, assim, garantir a máxima
bre esta fase de pressão aumentada é muito limitado, no- especificidade e eficácia.
meadamente no que respeita à sua reprodutibilidade e O mecanismo utilizado para a liberação é, sem dú-
duração. Na realidade, pensa-se que as maiores ondas vida, o aspecto mais importante na concepção de um sis-
peristálticas surgem, apenas, uma a duas vezes por dia de tema de liberação específica de fármacos no cólon. No
acordo com um ritmo circadiano (Yang, Chu, Fix, 2001) entanto, existem outros fatores fundamentais, como a es-
pelo que a reprodutibilidade destes sistemas pode consti- colha da forma farmacêutica. Na perspectiva do desenvol-
tuir uma séria limitação ao seu uso. vimento de formas farmacêuticas estes sistemas devem
apresentar um design simples, facilidade de produção em
CONCLUSÕES grande escala e a um custo reduzido. Os sistemas mais
complexos podem oferecer dificuldades na produção e
A revisão apresentada pode suscitar algumas ques- reprodutibilidade. Estes requisitos podem ser conseguidos
tões mais pertinentes em relação à eficácia dos vários sis- com o recurso a sistemas multiparticulados como peletes,
temas de liberação específica no cólon. Avaliar e compa- que como já foi discutido apresentam várias vantagens sob
rar a eficácia destes sistemas implica conhecer qual o seu os comprimidos ou cápulas.
principal objectivo, isto é, liberar um fármaco em locais As matrizes, sobretudo as que utilizam polissacarídeos
específicos do cólon, onde se reconheçam vantagens tera- hidrossolúveis, não conferem um grau de protecção aceitá-
pêuticas, quer do ponto de vista do tratamento local de vel nas condições presentes no trato gastrointestinal superi-
patologias colônicas, quer na absorção sistêmica de deter- or, em particular quando se tratam de fármacos solúveis.
minados fármacos. Neste sentido, as formulações revestidas constituem a melhor
Os sistemas que se baseiam na microflora e alternativa. Além disso, e tal como foi discutido ao longo
enzimas do cólon mostram ser os mais específicos, en- desta revisão, o tratamento da doença inflamatória com o
quanto que os sistemas tempo e pH-dependentes, apesar ácido 5-aminossalicílico e corticosteróides, requer doses di-
de menos específicos, são igualmente eficazes. Na rea- árias elevadas destes compostos e as formulações revestidas
lidade, todas as estratégias apresentadas são em maior ou possibilitam a administração de doses ilimitadas de fármaco,
menor extensão afetadas pelas variações das condições resultando numa maior conveniência de dosificação.
fisiológicas intra e interindividuais. Se o pH e tempo de Para concluir, as investigações futuras neste campo,
350 A. C. Freire, F. Podczeck, J. Sousa, F. Veiga

devem ser conduzidas por forma a identificar a estratégia ASHFORD, M.; FELL, J. T.; ATTWOOD, D.; SHARMA, H.;
apropriada, que permita a liberação específica do fármaco de WOODHEAD, P. J. An vivo investigation into the
uma maneira segura, efetiva, pouco dispendiosa e com a suitability of pH-dependent polymers for colonic targeting.
mínima flutuação em termos de liberação de fármacos no Int. J. Pharm., Amsterdam, v. 95, p. 193-199, 1993a.
local alvo. Esta revisão deixou em aberto a possibilidade de
conceber um sistema pH-dependente que poderá ser muito ASHFORD, M.; FELL, J. T.; ATTWOOD, D.; WOODHEAD,
vantajoso no tratamento da doença inflamatória do intestino. P. J. An in vitro investigation into the suitability of pH-
dependent polymers for colonic targeting. Int. J. Pharm.,
ABSTRACT Amsterdam, v. 91, p. 241-245, 1993b.

Colonic drug delivery. II- Types of delivery systems ASHFORD, M.; FELL, J. T.; ATTWOOD, D.; SHARMA,
H.; WOODHEAD, P. J. Studies on pectin formulations
Two basic approaches may be taken in delivering drugs to for colonic drug delivery. J. Control. Release,
the colon: time-delayed release or colonic targeting. The Amsterdam, v. 30, p. 225-232, 1994.
former involves sustained release dosage forms, which are
designed to prolong drug dissolution and hence AZAD KHAN, A. K.; PIRIS, J.; TRUELOVES, C. An
absorption, until it reaches the colon. This strategy shows experiment to determine the active therapeutic moiety of
lack of specificity when compared with others that take sulphasalazine. Lancet, London, v. 2, p. 892-895, 1997.
advantage of unique characteristics present in the colon.
Direct targeting involves the exploitation of environmental BAUER, K. H.; KESSELHUT, J. F. Novel pharmaceutical
properties of the colon, like pH of the colon, enzymatic excipients for colon targeting. S.T.P. Pharma Sci., Paris,
activity or intraluminal pressure. In general, the ideal v. 5, n. 1, p. 54-59, 1995.
colonic drug delivery may be accomplished by using
pellets, which are known to have more predictable gastric BRØNDSTED, H.; HOVGAARD, L.; SIMONSEN, L.
emptying and great colonic residence times, and coated Dextran hydrogels for colon-specific drug delivery. III. In
dosage forms with a simple design since they are easy to vitro and in vivo degradation. S.T.P. Pharma Sci., Paris,
manufacture. Theoretically, the enzyme dependent v. 5, n. 1, p. 60-64, 1995a.
systems, and, specially, those based in the use of
polysaccharides, are more specific and non-toxic. BRØNDSTED, H.; HOVGAARD, L.; SIMONSEN, L.
Nevertheless, any of the others approaches might be Dextran hydrogels for colon-specific drug delivery. IV.
suitable to obtain a colonic delivery system with the Comparative release study of hydrocortisone and
appropriate characteristics. Some commercially time- prednisolone sodium phosphate. S.T.P. Pharma Sci.,
dependent and pH-dependent systems have shown Paris, v. 5, n. 1, p. 65-69, 1995b.
important benefits in the treatment of inflammatory bowel
disease, despite their less specificity. The investigations in BRUNNER, M.; GREINWALD, R.; KLETTER, K.;
this field should be conducted to identify the appropriate KVATERNIKS, H.; CORRADO, M. E.; EIGHLER,
approach, which can result in the delivery of drugs in a H. G.; MULLER, M. Gastrointestinal transit and
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