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Aula 01

Aspectos de Dir Processual Aplicáveis à Fazenda Pública p/


Magistratura Estadual 2019 Curso Regular
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Sumário
Considerações Iniciais ............................................................................... 3

1 – Prescrição .......................................................................................... 4

1.1 – Considerações Iniciais .................................................................... 4

1.2 – Prazo Prescricional aplicável à Fazenda Pública .................................. 5

1.3 – Novo Código Civil e Prazo Prescricional das Ações de Indenização ........ 7

1.4 – Ações Propostas Pela Fazenda Pública ............................................ 11

1.5 - Ações de Ressarcimento ao Erário .................................................. 12

1.6 – Prescrição em Execuções propostas em face da Fazenda Pública; ...... 15

1.7 – Prescrição em Ações Reparatórias por Tortura ................................. 17

1.8 – Prescrição em Execução de Multas Ambientais ................................. 17

1.9 - Suspensão e Interrupção do Prazo Prescricional ............................... 18

1.10 – Possibilidade de Análise de Ofício pelo Juiz .................................... 22

1.11 – Prestações de Trato Sucessivo X Fundo do Direito .......................... 23

2 – Intervenção Anômala ......................................................................... 27

3 – Denunciação da Lide .......................................................................... 33

3.1 – Considerações Gerais ................................................................... 33

3.2 – Denunciação da Lide pela Fazenda Pública ...................................... 34

4 – Remessa Necessária .......................................................................... 37

4.1 – Considerações Iniciais .................................................................. 37

4.2 – Disposição no Novo CPC e Hipóteses de Cabimento .......................... 38

4.3 - Sentença proferida contra a Fazenda Pública ................................... 40

a) Remessa Necessária e Decisões Interlocutórias ......................... 41

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b) Sentença que não resolve o mérito .......................................... 42

c) Remessa Necessária em Mandado de Segurança ........................ 43

d) Ação Popular e Ação Civil Pública ............................................. 44

e) Sentença no qual a Fazenda Pública figure como assistente simples45

f) Não cabimento em decisões colegiadas ..................................... 46

g) Não cabimento em sentença arbitral ........................................ 46

h) Sentença que acolhe embargos à execução fiscal....................... 47

4.4 – Procedimento .............................................................................. 48

4.5 – Remessa Necessária e Recurso Especial .......................................... 50

4.6 – Hipóteses de Dispensa da Remessa Necessária ................................ 51

a) Sentenças com valor certo e líquido abaixo do teto legal ............ 51

b) Sentenças fundadas em Jurisprudência dominante ..................... 52

c) Sentenças fundadas em Orientação Administrativa Vinculante do próprio


ente público .............................................................................. 53

5 - Bibliografia ....................................................................................... 55

6 - Resumo da Aula ................................................................................ 56

7 – Questões Objetivas ........................................................................... 60

7.1 – Quesitos ..................................................................................... 60

7.2 – Gabaritos.................................................................................... 67

7.3 – Comentários ............................................................................... 68

8 - Considerações Finais .......................................................................... 78

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Considerações Iniciais

Olá pessoal, tudo bem?

Firmes nos estudos?

Vamos seguir com nosso curso.

Deixarei abaixo meus contatos para quaisquer dúvidas ou sugestões.

Estou à disposição dos senhores. Grande abraço,

Igor Maciel

profigormaciel@gmail.com

Convido-os a seguir minhas redes sociais. Basta clicar no ícone


desejado:

@ProfIgorMaciel

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1 – Prescrição

1.1 – Considerações Iniciais

Tradicionalmente no Brasil havia uma confusão entre os institutos da


prescrição e da decadência, o que parece ter sido superado com o advento do
Novo Código Civil. Segundo o artigo 189:

Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela
prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Enquanto a decadência diz com a perda do direito potestativo, a prescrição


afeta a pretensão, perdendo-se o direito de se exigir em juízo a prestação que
fora inadimplida. Perde-se, portanto, o poder de reagir contra a violação do
direito e não o próprio direito subjetivo (BARROS, 2015, pg. 67).

Segundo Leonardo Cunha (2017, pg. 60):

A prescrição não alcança o direito, mas a pretensão e, consequentemente, a ação. Os prazos


prescricionais não destroem o direito, não cancelam nem apagam as pretensões. Apenas,
encobrindo a eficácia da pretensão, atendem à conveniência de que não perdure por muito
tempo a exigibilidade. A prescrição serve ao interesse público, garantindo a segurança
jurídica e descongestionando os tribunais que deixam de enfrentar questões relacionadas a
situações muito antigas, de comprovação remota.

Assim, configurada a prescrição, mantem-se incólume o direito subjetivo,


mas o exercício desse direito não pode mais ser exigido, visto que encoberta a
pretensão.

Trata-se de matéria de interesse público e por esta razão (CUNHA, 2017,


pg. 63):

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não se admite que os sujeitos modifiquem seu regime ou alterem os prazos previstos em
lei. Significa que a prescrição não pode ser negociada, devendo ser prevista em lei, e não
em negócio jurídico.

Em relação à Fazenda Pública, há discussões peculiares que exigem o


estudo mais aprofundado do instituto. Vejamos.

1.2 – Prazo Prescricional aplicável à Fazenda Pública

O Código Civil de 1916 previa prazos prescricionais bastante amplos –


alguns de até 20 anos, a exemplo do artigo 177:

Art. 177. As ações pessoais prescrevem, ordinariamente, em vinte anos, as reais em dez,
entre presentes e entre ausentes, em quinze, contados da data em que poderiam ter sido
propostas.

Em uma tentativa de se privilegiar a Administração Pública, em razão da


ampla burocracia necessária para efetivar sua defesa e da dificuldade de guardar
documentos essenciais por tanto tempo, previu o Decreto 20.910/32:

Art. 1º As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e
qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a
sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se
originarem.

Assim, os prazos prescricionais do Código Civil de 1916 seriam aplicados


tão somente aos particulares, enquanto à Fazenda Pública seria aplicado sempre
o prazo prescricional de cinco anos, nos termos do artigo 1º, do Decreto
20.910/32.

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Corroborando tal entendimento, o Decreto-Lei 4.597/1942 dispõe em seu


artigo 2º:

Art. 2º O Decreto nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, que regula a prescrição qüinqüenal,


abrange as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por
lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude
de lei federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os
mesmos.

Relembrando o conceito de Fazenda Pública visto anteriormente, temos que


se incluem no conceito os entes da Administração Direta e Indireta (União,
Estados, Municípios e suas respectivas Autarquias e Fundações Públicas).

E, além disso, não se incluem no conceito de Fazenda Pública as Sociedades


de Economia Mista e as Empresas Públicas, nos termos do seguinte quadro
esquemático:

Fazenda
Pública

Incluem-se no Não se incluem no


Conceito Conceito

Sociedades
União de Economia
Mista

Estados
Empresas
Públicas
Municípios

Distrito Federal

Autarquia

Fundação
Pública

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É dizer: sempre que houver uma pretensão em face da União, Estados,


Municípios, suas autarquias e fundações públicas, o prazo prescricional será de
05 (cinco) anos.

Por outro lado, quando houver uma pretensão em face das Sociedades de
Economia Mista ou de Empresas Públicas, o prazo prescricional aplicável será
o do Código Civil. Neste sentido, eis o teor da Súmula 39, do STJ (editada na
vigência do Código Civil de 1916):

SUMULA 39 STJ – 08.04.1992. Prescreve em vinte anos a ação para haver indenização,
por responsabilidade civil, de sociedade de economia mista.

Com o novo Código Civil, o prazo prescricional de demandas de


responsabilidade civil propostas em face de sociedades de economia mista e
empresas públicas passou a ser de 03 (três) anos, nos termos do artigo 206,
parágrafo 3º, inciso VI, transcrito mais abaixo.

Ressalte-se que, conforme pontuado por Leonardo Cunha (2017, pg. 65):

Pouco importa que a legislação aqui referida açuda à prescrição; antes do Código Civil de
2002, todos os prazos extintivos, seja de prescrição, seja de decadência, eram
denominados, pela legislação de regência, prazos de prescrição.

1.3 – Novo Código Civil e Prazo Prescricional das Ações de


Indenização

Grande a controvérsia gerada com o Novo Código Civil acerca do prazo


prescricional aplicável à Fazenda Pública. É que de acordo com o artigo 10, do
Decreto 20.910/32:

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Art. 10. O disposto nos artigos anteriores não altera as prescrições de menor prazo,
constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas às mesmas regras.

A intenção do legislador, portanto, fora a de privilegiar a Fazenda Pública


ante os elastecidos prazos previstos no Código Civil de 1916. Assim, toda e
qualquer pretensão em face da Fazenda Pública prescreverá em 05 (cinco) anos
(artigo 1º, Decreto 20.910/32), salvo quando a lei dispuser menor prazo (Artigo
10, Decreto 20.910/32).

Ocorre que o Novo Código Civil, em seu artigo 206, parágrafo 3º, dispõe
ser trienal o prazo prescricional aplicável às demandas de reparação civil.

Art. 206. Prescreve: (...)


§ 3o Em três anos:
V - a pretensão de reparação civil;

Em demandas indenizatórias, qual deverá ser, então, o prazo


prescricional aplicável à Fazenda Pública?

Posta a controvérsia perante o Superior Tribunal de Justiça, em um primeiro


momento, a 2ª Turma chegou a reconhecer expressamente que o prazo
prescricional trienal previsto no novo Código Civil deveria prevalecer sobre o
quinquenal, em razão da expressa previsão do artigo 10, do Decreto 20.910/32.

Ora, se o prazo quinquenal havia sido previsto em benefício da Fazenda


Pública, a redução dos prazos pelo novo Código Civil iria melhorar a situação do
ente Público, inexistindo razão para não lhe aproveitar. Neste sentido, abalizada
doutrina (CARVALHO FILHO, 2011, pg. 529).

Eis a ementa do Julgado:

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ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESCRIÇÃO. DECRETO Nº


20.910/32. ADVENTO DO CÓDIGO CIVIL DE 2002. REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL
PARA TRÊS ANOS.
1. O legislador estatuiu a prescrição de cinco anos em benefício do Fisco e, com o manifesto
objetivo de favorecer ainda mais os entes públicos, estipulou que, no caso da eventual
existência de prazo prescricional menor a incidir em situações específicas, o prazo
quinquenal seria afastado nesse particular. Inteligência do art. 10 do Decreto nº 20.910/32.
2. O prazo prescricional de três anos relativo à pretensão de reparação civil – art. 206, §
3º, V, do Código Civil de 2002 – prevalece sobre o quinquênio previsto no art. 1º do Decreto
nº 20.910/32. 3. Recurso especial provido.
STJ - RECURSO ESPECIAL Nº 1.137.354 - RJ (2009/0165978-0), RELATOR: MINISTRO
CASTRO MEIR, 2ª TURMA, DJ 08.09.2009)

Contudo, quando a questão fora submetida à deliberação da 1ª. Seção do


STJ, em julgamento sujeito à sistemática dos recursos repetitivos, fixou o
Superior Tribunal de Justiça o entendimento segundo o qual:

i. o Decreto 20.910/32 encerra normal especial que deverá prevalecer


sobre a norma de caráter geral (Código Civil) e;

ii. o artigo 10 do Decreto 20.910/32 apenas refere-se aos prazos anteriores


à sua edição, não contemplando os prazos posteriores;

Assim, o prazo prescricional a ser aplicado mesmo nas demandas


indenizatórias propostas em face da Administração Pública deve ser quinquenal:

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ARTIGO


543-C DO CPC). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.
PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL (ART. 1º DO DECRETO 20.910/32) X PRAZO TRIENAL
(ART. 206, § 3º, V, DO CC). PREVALÊNCIA DA LEI ESPECIAL. ORIENTAÇÃO PACIFICADA NO
ÂMBITO DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. A controvérsia do presente recurso especial, submetido à sistemática do art. 543-C do
CPC e da Res. STJ n 8/2008, está limitada ao prazo prescricional em ação indenizatória
ajuizada contra a Fazenda Pública, em face da aparente antinomia do prazo trienal (art.
206, § 3º, V, do Código Civil) e o prazo quinquenal (art. 1º do Decreto 20.910/32). (...)
3. Entretanto, não obstante os judiciosos entendimentos apontados, o atual e consolidado
entendimento deste Tribunal Superior sobre o tema é no sentido da aplicação do

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prazo prescricional quinquenal - previsto do Decreto 20.910/32 - nas ações


indenizatórias ajuizadas contra a Fazenda Pública, em detrimento do prazo trienal
contido do Código Civil de 2002.
4. O principal fundamento que autoriza tal afirmação decorre da natureza especial do
Decreto 20.910/32, que regula a prescrição, seja qual for a sua natureza, das pretensões
formuladas contra a Fazenda Pública, ao contrário da disposição prevista no Código Civil,
norma geral que regula o tema de maneira genérica, a qual não altera o caráter especial da
legislação, muito menos é capaz de determinar a sua revogação. Sobre o tema: Rui Stoco
("Tratado de Responsabilidade Civil". Editora Revista dos Tribunais, 7ª Ed. - São Paulo,
2007; págs. 207/208) e Lucas Rocha Furtado ("Curso de Direito Administrativo". Editora
Fórum, 2ª Ed. - Belo Horizonte, 2010; pág.1042).
5. A previsão contida no art. 10 do Decreto 20.910/32, por si só, não autoriza a afirmação
de que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública foi reduzido
pelo Código Civil de 2002, a qual deve ser interpretada pelos critérios histórico e
hermenêutico. Nesse sentido: Marçal Justen Filho ("Curso de Direito Administrativo". Editora
Saraiva, 5ª Ed. - São Paulo, 2010; págs. 1.296/1.299). (...)
7. No caso concreto, a Corte a quo, ao julgar recurso contra sentença que reconheceu prazo
trienal em ação indenizatória ajuizada por particular em face do Município, corretamente
reformou a sentença para aplicar a prescrição quinquenal prevista no Decreto 20.910/32,
em manifesta sintonia com o entendimento desta Corte Superior sobre o tema.
8. Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e
da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 1251993/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/12/2012, DJe 19/12/2012)

O prazo prescricional aplicável à Fazenda Pública é de cinco anos.

PGE/GO – Banca Própria – Procurador do Estado - 2013

A prescrição contra a Fazenda Pública, segundo entendimento atual do


Superior Tribunal de Justiça, observa o regramento de que o prazo aplicado
é

a) o trienal, em razão do advento do Código Civil de 2002, devendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

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b) o quinquenal, previsto no Decreto Federal nº 20.910/32, não podendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

c) o trienal para as ações pessoais e o quinquenal para as ações reais, em


razão da interpretação conjunta do Código Civil de 2002 e do Decreto Federal
nº 20.910/32, devendo a prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz
condutor do feito.

d) o trienal, em razão do advento do Código Civil de 2002, não podendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

e) o quinquenal, previsto no Decreto Federal nº 20.910/32, devendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

Comentários

Alternativa Correta: letra “E”.

Trata-se da típica questão sobre prazos prescricionais aplicáveis à Fazenda


Pública, onde o examinador procura confundir o candidato sobre a aplicação ou
não do prazo prescricional previsto no Código Civil aos entes da Administração
Pública.

Conforme pacificado pelo STJ, o prazo prescricional aplicável à Fazenda


Pública deverá ser o quinquenal previsto no Decreto 20.910/32.

1.4 – Ações Propostas Pela Fazenda Pública

O Decreto 20.910/32 dispõe expressamente que a prescrição quinquenal


deve ser aplicada a demandas propostas contra a Fazenda Pública. E se esta é
Autora da demanda, como deve ser tratado o prazo prescricional? Haveria alguma
diferença quanto ao prazo?

A resposta é não.

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Segundo decidiu o STJ, por isonomia, o prazo prescricional aplicável nas


demandas propostas pela Fazenda Pública deve ser o mesmo aplicável quanto às
demandas contra ela propostas.

Neste sentido:

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO.


CONTINUIDADE DO PAGAMENTO DA REMUNERAÇÃO APÓS O DESLIGAMENTO DO SERVIÇO
ATIVO, POR ERRO DA ADMINISTRAÇÃO. PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO AO ERÁRIO.
APLICAÇÃO POR ANALOGIA DO PRAZO DE CINCO ANOS PREVISTO NO DECRETO
20.910/92. AGRAVO INTERNO DESPROVIDO.
1. In casu, não se está diante de Ação de Ressarcimento ao erário, decorrente da prática
de ato de improbidade. Conforme consta do acórdão recorrido, trata-se de Ação de
Ressarcimento em que se pleiteia a devolução das quantias pagas a título de verba salarial
após a exoneração do Servidor requerido, por erro da Administração Pública (fls. 140).
Dest'arte, não há que se cogitar qualquer discussão acerca da aplicação do art. 37,
§ 5o. da CF/88; que pertine apenas aos casos de ressarcimento pela prática de ato de
improbidade.
2. Em se tratando de ação em que a Fazenda Pública busca reaver parcelas
remuneratórias indevidamente pagas a ex-Servidores, o prazo prescricional a ser
observado, por analogia, é o quinquenal, previsto no art. 1o. do Decreto
20.910/1932, em respeito ao princípio da isonomia (AgRg no REsp.
1.109.941/PR, Rel. Min. LEOPOLDO DE ARRUDA, DJe 11.5.2015). No mesmo sentido:
AgRg no AREsp. 768.400/DF, Rel. Min. HUMBERTO MARTINS, DJe 16.11.2015 e REsp.
1.197.330/MG, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe 12.6.2013. 2. Agravo Interno
do Estado de Goiás desprovido.
(AgInt no AREsp 169.272/GO, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 15/09/2016, DJe 23/09/2016)

1.5 - Ações de Ressarcimento ao Erário

De acordo com o parágrafo 5º, do artigo 37, da Constituição Federal, a lei


deverá estabelecer o prazo prescricional aplicável aos ilícitos praticados por
qualquer agente, servidor ou não, que causem prejuízo ao erário. Contudo, o
próprio dispositivo faz uma ressalva quanto às ações de ressarcimento.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

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§ 5º A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente,
servidor ou não, que causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de
ressarcimento.

É dizer: as ações de ressarcimento ao erário são imprescritíveis.

Qual o alcance do disposto no artigo


37, parágrafo 5º, da Constituição Federal?

O Supremo Tribunal Federal apreciou, em julgado datado de Fevereiro de


2016, um caso onde a União propôs em face de uma empresa de transporte
rodoviário e de um motorista a ela vinculado ação de ressarcimento em razão de
um acidente automobilístico que ocasionou danos ao patrimônio público. O
responsável pelo acidente teria sido o motorista particular.

Trata-se, portanto, de causa originada em ilícito tipicamente civil que nas


palavras do Relator, o Ministro Teori Zavascki:

embora tenha causado prejuízo material ao patrimônio público, não revela conduta
revestida de grau de reprovabilidade mais pronunciado, nem se mostra especialmente
atentatória aos princípios constitucionais aplicáveis à Administração Pública.

Segundo decidiu o STF, imprescritível é apenas a demanda a ser proposta


pela Fazenda Pública em relação ao ressarcimento decorrente de improbidade
administrativa, havendo que se diferenciar o ilícito civil, do ilícito penal e,
ainda, do ilícito de improbidade administrativa.

Há sim a prescrição em casos de ilícitos civis, consoante ementa do julgado


ora destacado:

Ementa: CONSTITUCIONAL E CIVIL. RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. IMPRESCRITIBILIDADE.


SENTIDO E ALCANCE DO ART. 37, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO.

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1. É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de


ilícito civil.
2. Recurso extraordinário a que se nega provimento.
(RE 669069, Relator(a): Min. TEORI ZAVASCKI, Tribunal Pleno, julgado em 03/02/2016,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-082 DIVULG 27-04-2016
PUBLIC 28-04-2016)

Provavelmente, o examinador não fugirá do exemplo abordado pelo


Supremo Tribunal Federal e questionará em sua prova a existência de prazo
prescricional em ações de ressarcimento por ilícitos civis, tal qual acidente
automobilístico.

Assim, marquemos sem medo:

É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito


civil.

No caso acima julgado pelo Supremo Tribunal Federal, precisaremos fazer


uma análise um pouco mais detida.

É que se trata de Recurso Extraordinário manejado em face de Acórdão


proferido pelo Tribunal Regional da 3ª Região que assegurara ser o prazo
prescricional aplicável à espécie o previsto no Código Civil (artigo 206, par. 3º,
V) que prevê 03 anos de prescrição.

O Supremo Tribunal Federal negou provimento ao Recurso Extraordinário,


mantendo-se o Acórdão recorrido.

Surge, então, a dúvida: O Supremo Tribunal Federal reconheceu que o


prazo prescricional aplicável a demandas de reparação de ilícitos civis a serem

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propostas em face da Fazenda Pública devem seguir o prazo de três anos previsto
no Código Civil?

Entendo que não.

O objeto da discussão não fora este (qual o prazo prescricional?) e não se


pode afirmar que o STF possui tal entendimento.

O objeto da discussão: existe prazo prescricional em ilícitos civis praticados


contra a Fazenda Pública? A resposta dada pelo STF foi afirmativa.

Entendo, portanto, que permanece o entendimento já consolidado na


jurisprudência quanto ao prazo prescricional qüinqüenal de demandas propostas
pela Fazenda Pública, em razão da isonomia e da consolidada jurisprudência
sobre o Decreto 20.910/32.

Corroborando minhas conclusões, transcrevo trecho final do voto do


Ministro Relator:

Ante o exposto, nego provimento ao recurso extraordinário, mantendo a conclusão do


acórdão recorrido, embora com fundamentação diversa, e proponho a fixação de tese
segundo a qual a imprescritibilidade a que se refere o art. 37, § 5º, da CF diz respeito
apenas a ações de ressarcimento de danos ao erário decorrentes de atos praticados por
qualquer agente, servidor ou não, tipificados como ilícitos de improbidade administrativa ou
como ilícitos penais.

1.6 – Prescrição em Execuções propostas em face da Fazenda


Pública;

Consoante visto acima, as demandas propostas em face da Fazenda Pública


possuem prazo prescricional de 05 (cinco) anos, conforme disposto no artigo 1º,
do Decreto 20.910/32. Proposta a demanda e transitada em julgado, terá o
particular o direito a executar o título judicial.

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Além disso, pacífico o entendimento do Supremo Tribunal Federal segundo


o qual o prazo de prescrição aplicável a este título será o mesmo da ação
ordinária:

Súmula 150/STF – 13.12.1963 - Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição


da ação.

Assim, o prazo prescricional aplicável às execuções propostas em face da


Fazenda Pública será de 05 (cinco) anos contados do trânsito em julgado da
decisão. E, em relação às sentenças que contém vários capítulos (CUNHA, 2017,
pg. 81):

O prazo de prescrição já começa a correr quanto à parte que transitar em julgado. O outro
capítulo da sentença, ainda não julgado, não terá desencadeado o início do prazo de
prescrição da pretensão executiva.

Por fim, é comum sejam proferidas em face da Fazenda Pública sentenças


ilíquidas, que demandem a feitura de cálculos aritméticos. Segundo decidiu o STJ,
a demora da Fazenda em fornecer fichas financeiras para feitura de cálculos não
interfere no prazo prescricional da ação executiva:

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. PRESCRIÇÃO


QUINQUENAL. OCORRÊNCIA. LIQUIDAÇÃO. MEMÓRIA DE CÁLCULO. APRESENTAÇÃO PELO
EXEQUENTE.
1. De acordo com entendimento deste Sodalício, nas hipóteses em que a execução será
realizada mediante a realização de simples cálculos aritméticos, o atraso ou dificuldade na
obtenção das financeiras não altera o termo inicial da prescrição da pretensão executória.
Precedentes.
2. Agravo regimental improvido.
(AgRg no REsp 1169707/RS, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA
TURMA, julgado em 06/10/2011, DJe 19/10/2011)

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1.7 – Prescrição em Ações Reparatórias por Tortura

São imprescritíveis as demandas indenizatórias propostas em face da


Fazenda Pública – e, portanto, podem ser propostas a qualquer tempo – fundadas
em crimes de tortura praticados durante o regime militar.

É que se trata de crime que atinge diretamente o princípio da dignidade


humana, sendo fundamental o direito de postular a reparação civil decorrente
dos atos de tortura. Entende, então o STJ, pelo afastamento do prazo
prescricional previsto no Decreto 20.910/32:

ADMINISTRATIVO E CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
PERSEGUIÇÃO POLÍTICA, PRISÃO E TORTURA, DURANTE A DITADURA MILITAR.
IMPRESCRITIBILIDADE DA PRETENSÃO INDENIZATÓRIA. PRECEDENTES DO STJ.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 83 DO STJ. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM
CONSONÂNCIA COM A ORIENTAÇÃO JURISPRUDENCIAL PREDOMINANTE NESTA CORTE.
PRETENSÃO DE APRECIAÇÃO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. INVIABILIDADE,
NA VIA DE RECURSO ESPECIAL. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I. De acordo com a orientação jurisprudencial predominante no STJ, a prescrição
quinquenal, prevista no art. 1º do Decreto 20.910/32, não se aplica às ações indenizatórias
por danos morais, em face de perseguição política e tortura, ocorridos durante o regime
militar, decorrentes de violação de direitos fundamentais, sendo, no caso, imprescritível
a pretensão indenizatória. Precedentes do STJ. (...)
IV. Agravo Regimental improvido.
(AgRg no AREsp 816.972/SP, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 10/03/2016, DJe 17/03/2016)

1.8 – Prescrição em Execução de Multas Ambientais

Quanto às multas ambientais, pacificou o Superior Tribunal de Justiça o


entendimento segundo o qual as ações de cobrança a elas relacionadas
prescrevem em cinco anos, contados do término do processo administrativo:

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Súmula 467/ STJ - Prescreve em cinco anos, contados do término do processo


administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por
infração ambiental.

1.9 - Suspensão e Interrupção do Prazo Prescricional

De acordo com o artigo 202, do Código Civil, o prazo prescricional poderá


ser interrompido uma vez, independentemente de quem seja a pessoa favorecida
pelo prazo prescricional:

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a
promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de
credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do
direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a
interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

Com a vigência do atual Código Civil, o ato que interrompe a prescrição não
é mais a citação válida, mas sim o despacho que ordenar a citação, ainda que o
juiz não seja competente.

Além disso, a interrupção da prescrição gerada pelo despacho citatório


retroage à data da propositura da demanda, nos termos do artigo 240, parágrafos
1º e 2º do CPC:

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Art. 240. A citação válida, ainda quando ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e constitui em mora o devedor, ressalvado o disposto
nos arts. 397 e 398 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil).
§ 1o A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que
proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação.

Ocorre que, acaso seja necessário ao Autor a adoção de alguma providência


essencial para viabilizar a citação do Réu, este precisará tomar no prazo de 10
(dez) dias, sob pena de a interrupção do prazo prescricional não retroagir à data
da propositura da demanda, nos termos do parágrafo 2º, do referido artigo:

§ 2o Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para


viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1o.

Segundo Leonardo Cunha (2017, pgs. 69 e 70):

Se o autor não indicar o endereço do réu, não requerer a citação de um litisconsorte


necessário, não apresentar cópia da petição inicial para instruir a carta ou mandado de
citação, enfim, se o autor não adotar as providências necessárias para viabilizar a citação
no prazo de 10 (dez) dias, a interrupção da prescrição – já operada pelo despacho que
ordenou a citação – não retroage para a data da propositura da demanda.

O Código de Processo Civil previu, contudo, que não poderá a parte ser
prejudicada em razão da demora atribuída ao próprio Poder Judiciário em efetivar
tanto o despacho citatório como a citação em si do Réu. Assim, o parágrafo 3º,
do artigo 240, do CPC estabelece que:

§ 3o A parte não será prejudicada pela demora imputável exclusivamente ao serviço


judiciário.

Neste sentido, tem-se a Súmula 106 do STJ:

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SÚMULA 106 – STJ – 03.06.1994 - Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício,
a demora na citação, por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o
acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.

Ademais, o disposto no artigo 7º, do Decreto 20.910/32 encontra-se


tacitamente revogado pela nova sistemática introduzida pelo Código Civil de
2002, eis que a interrupção da prescrição não se dá mais com a citação válida
mas com o despacho do juiz que a ordenar.

Art. 7º A citação inicial não interrompe a prescrição quando, por qualquer motivo, o
processo tenha sido anulado. (TACITAMENTE REVOGADO)

Interrompida a prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, o prazo


volta a correr pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do
último ato ou termo do respectivo processo. Este o teor dos artigos 8º e 9º do
Decreto 20.910/32:

Art. 8º A prescrição somente poderá ser interrompida uma vez.


Art. 9º A prescrição interrompida recomeça a correr, pela metade do prazo, da data do ato
que a interrompeu ou do último ato ou termo do respectivo processo.

Se o prazo prescricional de demandas a serem propostas em face da


Fazenda Pública é de cinco anos, sempre que interrompido o lapso
prescricional, este voltará a ser contado por dois anos e meio?

Tal afirmação deve ser feita com ressalvas, eis que dependerá do momento
em que tal interrupção do prazo prescricional ocorrer.

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Explica-se: acaso surgida uma pretensão do particular em face da Fazenda


Pública e, um ano após, aquele promove um ato que interrompa a prescrição,
não seria justo que o prazo prescricional voltasse a correr – passada a interrupção
- por apenas dois anos e meio. Isto porque o particular que fora diligente seria
prejudicado (prazo prescricional total ficaria em 3 anos e meio).

A solução encontrada pela jurisprudência foi no sentido de que o prazo


prescricional interrompido sempre voltará a correr pela metade, mas jamais
ficando o prazo prescricional total aquém dos cinco anos previstos no
artigo 1º, do Decreto 20.910/32.

Neste sentido:

Súmula 383, STF - A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois
anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

FCC – TCE/GO -2014 - Adaptada

A prescrição

I. pode ser estabelecida por convenção das partes.

II. extingue o direito e não a pretensão.

III. não pode, em regra, ser impedida, suspensa ou interrompida.

Comentários

Os três itens estão incorretos.

Os prazos prescricionais não podem ser alterados por convenção das


partes, nos termos do artigo 192 do Código Civil.

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Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.

Além disso, conforme explicitado acima, a decadência diz com a perda do


direito em si, enquanto a prescrição diz com a perda da pretensão. E, por fim,
poderá o prazo prescricional ser interrompido ou suspenso, conforme artigo 202
do Código Civil.

E, apenas ocorrerá impedimento, suspensão ou interrupção dos prazos


decadenciais acaso haja expressa ressalva legal, nos termos do artigo 207, do
Código Civil:

Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que
impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

1.10 – Possibilidade de Análise de Ofício pelo Juiz

De acordo com o artigo 487, inciso II, do CPC, poderá o juiz conhecer, de
ofício, a prescrição:

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;

Contudo, o parágrafo único do referido artigo 487 estabelece a necessidade


do juiz ouvir as parte antes de reconhecer a prescrição, salvo em hipóteses de
improcedência liminar do pedido:

Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1º do art. 332, a prescrição e a decadência não


serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se.

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Em verdade, procura o Código de Processo Civil franquear às partes que se


manifestem acerca de alguma causa de suspensão ou interrupção da prescrição
que porventura possa ter ocorrido.

1.11 – Prestações de Trato Sucessivo X Fundo do Direito

Por fim, cabe-nos analisar a diferença da prescrição de prestações de trato


sucessivo da prescrição que atinge o próprio fundo do direito. Trata-se de
raciocínio extremamente necessário, especialmente em demandas envolvendo
servidores públicos.

Quanto a demandas que envolvam o pagamento de prestações periódicas,


a prescrição irá atingir cada uma das parcelas sucessivamente, nos termos do
artigo 3º, do Decreto 20.910/32:

Art. 3º Quando o pagamento se dividir por dias, meses ou anos, a prescrição atingirá
progressivamente as prestações à medida que completarem os prazos estabelecidos pelo
presente decreto.

Acaso algum servidor tenha direito a receber do Estado determinada


parcela remuneratória, mas a Administração permanece omissa quanto ao
pagamento, tem-se uma prestação de trato sucessivo e a prescrição ocorrerá
mês a mês.

Neste sentido:

SÚMULA 85 – STJ – DJ 02.07.1993 -Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a


fazenda pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior
a propositura da ação.

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As relações de trato sucessivo ocorrem, portanto, apenas quando não


houver sido negado o próprio direito reclamado: em geral, quando a
Administração permanece omissa quanto ao direito pleiteado.

Contudo, acaso haja o pronunciamento expresso da Administração negando


formalmente o direito da parte, teremos a negativa do próprio fundo do direito,
iniciando-se o prazo prescricional de 5 (cinco) anos.

Exemplos são úteis para explicar o tema (BARROS, 2015, pg. 73):

i. Se o servidor tem reduzida sua remuneração percebida mensalmente por simples


omissão ilegal do ente público, a prescrição é alcançada periodicamente, na forma
descrita acima (súm. 85).

ii. Diferente é a situação em que o servidor entende devida uma vantagem, faz um
requerimento administrativo e a Administração expressamente responde que ele não
tem direito ao pedido formulado. Assim, tem-se a negativa do próprio fundo do
direito, iniciando-se o prazo prescricional quinquenal. Escoado esse prazo, está
prescrita a possibilidade de se modificar a decisão administrativa que não lhe
concedeu a vantagem pretendida.

Ademais, segundo apontado por Leonardo Cunha, em casos de leis de


efeitos concretos que imediatamente afetam a esfera jurídica do titular do direito,
suprimindo-lhe uma vantagem tem-se que o marco inicial do prazo prescricional
é a data da publicação da lei, não se aplicando a Súmula 85 do STJ. (2016, pg.
70).

Hipótese diferente é aquela que o servidor tem apenas reduzido o valor de


uma determinada gratificação, aplicando-se a Súmula 85 do STJ.

Efetivamente, é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça a diferença entre REDUÇÃO e SUPRESSÃO de vantagens
conferidas a particulares:

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Ato que REDUZ a remuneração do servidor

i. Prestação de trato sucessivo;

ii. Prazo Prescricional renova-se mês a mês;

iii. Aplica-se a Súmula 85, do STJ1;

AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR PÚBLICO. ADICIONAL POR


TEMPO DE SERVIÇO. REDUÇÃO. RELAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO. VIOLAÇÃO DO ARTIGO
6° DA LINDB. MATÉRIA CONSTITUCIONAL. REITERAÇÃO DAS RAZÕES DO ESPECIAL.
SÚMULA 182.
1. A redução do valor de vantagens, diferentemente da supressão destas,
configura relação de trato sucessivo, pois não eqüivale à negação do próprio fundo
de direito (AgRg no REsp 907.461/MS. Rei Ministro FÉLIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJ
12/11/2007, p. 282) (RMS 26.394/MS. Rel. Ministra ALDERITA RAMOS DE OLIVEIRA
(DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/PE). SEXTA TURMA, DJe 12/04/2013). (...)
(AgRg no REsp 1155647/SP, Rel. Ministro NEFI CORDEIRO, SEXTA TURMA, julgado em
17/09/2015, DJe 08/10/2015)

Ato que SUPRIME a remuneração do servidor

i. Ato único que atinge o próprio fundo do direito;

ii. Prazo Prescricional conta-se a partir do ato;

iii. NÃO se aplica a Súmula 85, do STJ;

1
Súmula 85, STJ. Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a fazenda pública figure como
devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas
as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior a propositura da ação.

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CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR


PÚBLICO. VANTAGEM DENOMINADA "HORAS-EXTRAS INCORPORADAS". SUPRESSÃO DOS
CONTRACHEQUES DOS SERVIDORES, PELA ADMINISTRAÇÃO. PRESCRIÇÃO DO DIREITO
DE AÇÃO. OCORRÊNCIA. AGRAVO REGIMENTAL IMPROVIDO.
I. Na forma da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, "em se tratando de ato de
efeito concreto que suprime a vantagem recebida pelo servidor, ocorre a
prescrição do próprio fundo de direito e a contagem do prazo prescricional inicia-
se a partir do momento da publicação do ato em que a vantagem foi suprimida,
não havendo falar, nesse caso, em relação de trato sucessivo" (STJ, AgRg no AREsp
297.337/RJ, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, DJe de 24/04/2013). Em
idêntico sentido: STJ, AgRg no REsp 1.481.565/SE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe de 20/03/2015; STJ, AgRg no REsp 1.397.239/CE, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, DJe de 19/12/2014; STJ, AgRg no REsp
1.272.694/RJ, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, DJe de 19/12/2011;
STJ, AgRg no AREsp 448.429/SP, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA, DJe de
13/02/2014. (...)
(AgRg no REsp 1524593/SC, Rel. Ministra ASSUSETE MAGALHÃES, SEGUNDA TURMA,
julgado em 17/12/2015, DJe 03/02/2016)

O Superior Tribunal de Justiça tem frequentemente analisado a distinção


do prazo prescricional aplicável em hipóteses de reenquadramento de servidores
públicos e de progressão funcional, sempre atentando à hipótese de existência
ou não de negativa formal por parte da Administração.

Vejamos alguns julgados:

Enquadramento ou Reenquadramento de Servidores Públicos

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CÓDIGO


DE PROCESSO CIVIL DE 1973. APLICABILIDADE. ARGUMENTOS INSUFICIENTES PARA
DESCONSTITUIR A DECISÃO ATACADA. REENQUADRAMENTO. ATO ADMINISTRATIVO.
PRESCRIÇÃO DO FUNDO DE DIREITO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 83/STJ. (...)
II - É pacífico o entendimento no Superior Tribunal de Justiça segundo o qual o
ato de enquadramento ou reenquadramento de servidor público constitui ato único
de efeitos concretos, não caracterizando relação de trato sucessivo, de modo que
a prescrição incide sobre o próprio fundo de direito.(...)
(AgRg no AREsp 689.019/RJ, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 19/04/2016, DJe 26/04/2016)

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Progressão Funcional de Servidores Públicos

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. SERVIDOR


PÚBLICO MUNICIPAL. PROGRESSÃO FUNCIONAL. NÃO OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO DO
FUNDO DE DIREITO. INEXISTÊNCIA DE NEGATIVA DO DIREITO PELA ADMINISTRAÇÃO.
OMISSÃO DA ADMINISTRAÇÃO. PRESTAÇÃO DE TRATO SUCESSIVO. AGRAVO REGIMENTAL
DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE DESPROVIDO.
1. Na ação em que se verifica que a parte autora não foi beneficiada pela
progressão funcional prevista em lei e não havendo recusa formal da
Administração, incide a Súmula 85 do STJ, segundo a qual, nas relações jurídicas de
trato sucessivo, em que a Fazenda Pública figure como devedora, quando não tiver sido
negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas
antes do quinquênio anterior à propositura da ação. (...)
(AgRg no AREsp 761.016/MG, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 01/03/2016, DJe 09/03/2016)

2 – Intervenção Anômala

A Lei Federal 9.469/97, em que pese discorrer – na imensa maioria de seus


artigos – sobre a atuação específica da União em juízo ou fora dele, dispõe em
seu artigo 5º e parágrafo único:

Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés,
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas
federais.

Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja
decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer
questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados
úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de
deslocamento de competência, serão consideradas partes.

O dispositivo citado refere-se a uma forma de intervenção da Fazenda


Pública diversa das demais previstas no Código de Processo Civil. Segundo
Guilherme Barros (2015, pg. 121):

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Embora o dispositivo legal faça referência à União, doutrina e jurisprudência já se


consolidaram no sentido de que esse instituto é aplicável a todos os entes políticos
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) e suas autarquias e fundações de direito
público. Portanto, o dispositivo em exame permite o ingresso do ente público
indiscriminadamente em qualquer processo, ainda que o litígio se dê entre particulares.

CESPE – PG/DF -2013

De acordo com a interpretação dada à legislação vigente, é facultada ao DF


a possibilidade de intervir em demandas em que tiver interesse econômico,
independentemente da demonstração de interesse jurídico.

Comentários

O CESPE considerou esta alternativa como VERDADEIRA exatamente por


existir o entendimento de que a norma prevista no artigo 5º, da Lei 9.469/97
aplica-se a todos os entes políticos e não apenas à União.

A grande diferença entre esta modalidade de intervenção e as demais


previstas no Código de Processo Civil é a desnecessidade do ente público
demonstrar interesse jurídico para ingressar no feito, bastando, no caso
concreto, a existência de interesse meramente econômico, ainda que indireto.

A intervenção aqui discutida baseia-se, portanto, em interesse


econômico, não em interesse jurídico.

O ente público ingressa no feito, então, para esclarecer questões de fato e


de direito, juntando memoriais e documentos que reputa úteis para o exame da
matéria.

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Não está habilitado, contudo, a praticar outros atos que competem às


partes, a exemplo de requerimento para oitiva de testemunhas ou apresentar
reconvenção.

A exceção prevista em lei diz com a possibilidade do Ente Público apresentar


recurso, conforme será visto abaixo. Para Leonardo Cunha (2017, pg. 149):

A concretização dessa intervenção de terceiros caracteriza-se pelo imediato


comparecimento da Fazenda Pública em juízo, com apresentação de documentos, provas e
memoriais tidos como úteis para o desfecho da causa.
Requerida a intervenção anômala pela Fazenda Pública, as partes originárias devem ser
intimadas para pronunciamento sobre o pedido de intervenção, podendo questionar a
presença ou não de interesse econômico, em obediência ao princípio da ampla defesa e do
contraditório.

Em que pese discussão doutrinária acerca da natureza jurídica deste tipo


de intervenção, se nova modalidade de intervenção de terceiros (Fredie Didier),
se intervenção anômala (Luiz Guilherme Marinoni) ou se amicus curiae (Cássio
Scarpinella Bueno), o Superior Tribunal de Justiça se manifestou no sentido de
se tratar de assistência simples (BARROS, 2015, pg. 123):

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL. FGTS.


LEGITIMIDADE DA UNIÃO PARA INTERVIR. ART. 5º, DA LEI 9.469/97.
1. A União Federal é parte legítima para figurar na instância recursal, visando à modificação
do julgado de que resultem efeitos diretos ou reflexos, jurídicos ou econômicos, para as
entidades da administração direta ou indireta.
2. O interesse econômico da União resta caracterizado, in casu, pelo disposto no art. 13, §
4º , da Lei 8.036/90 ("O saldo das contas vinculadas é garantido pelo Governo Federal,
podendo ser instituído seguro especial para esse fim")
3. Deveras, é cediço na Corte que "diante da permissão contida na Lei n. 9.469/97,
em seu art. 5º, parágrafo único, justifica-se a intervenção da União na condição
de assistente simples nas causas em que se discute a cobrança das diferenças
decorrentes da aplicação de correção monetária sobre os saldos das contas vinculadas do
FGTS, dispensando-se a demonstração de interesse jurídico em que a sentença venha a ser
favorável à Caixa Econômica Federal, ou seja, bastando exibir exclusivamente interesse
econômico, ainda que de forma indireta e reflexa." (EREsp 589.560/SP, Rel. Ministro TEORI
ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 10.08.2005, DJ 29.08.2005 p.
(EREsp 570.926/SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 12/12/2005, DJ
13/02/2006, p. 655)

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Parece-nos mais adequado, contudo, a tese de que esta intervenção trata-


se de modalidade de amicus curiae, eis que (BARROS, 2015, pg. 124):

(...) o interesse econômico deve estar ligado ao interesse público e a intervenção do artigo
5º parece mesmo se tratar de amicus curiae, pois o ente público ingressa no processo para
levar ao conhecimento do juízo ”interesses institucionais” (o interesse público). O papel
desempenhado pelo ente público é de chamar atenção do julgador para a importância e as
consequências da decisão a ser proferida.

A demanda em que o ente público pretende intervir pode envolver tão


somente particulares, bastando a simples alegação de que possui interesse e a
constatação da potencialidade de eventual lesão econômica para justificar a
intervenção.

E, não é a simples intervenção do Poder Público que irá deslocar a


competência da demanda, conforme já decidiu o STJ:

RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INTERVENÇÃO ANÓDINA DA UNIÃO.


ART. 5º DA LEI Nº 9.469/97. INTERESSE MERAMENTE ECONÔMICO. DESLOCAMENTO DA
COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL. IMPOSSIBILIDADE. RECURSO ESPECIAL NÃO
CONHECIDO.
1. Conquanto seja tolerável a intervenção anódina da União plasmada no art. 5º da Lei nº
9.469/97, tal circunstância não tem o condão de deslocar a competência para a Justiça
Federal, o que só ocorre no caso de demonstração de legítimo interesse jurídico na causa,
nos termos dos arts. 50 e 54 do CPC/73.
2. A interpretação é consentânea com toda a sistemática processual, uma vez que, além de
não haver previsão legislativa de deslocamento de competência mediante a simples
intervenção "anômala" da União, tal providência privilegia a fixação do processo no seu foro
natural, preservando-se a especial motivação da intervenção, qual seja, "esclarecer
questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao
exame da matéria". (...)
(REsp 1097759/BA, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
21/05/2009, DJe 01/06/2009)

Inexiste a modificação de competência em relação à União porque o artigo


109, I, da Constituição Federal estabelece que a competência da Justiça Federal
diz com as causas em que a União, suas autarquias ou empresas públicas federais

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forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou


oponentes.

O ente público apenas ostenta a condição de parte quando interpõe recurso,


justificando-se o deslocamento da competência, conforme leciona Leonardo
Cunha, inclusive ressaltando a crítica da doutrina (2017, pg. 152/153):

Nos termos do parágrafo único, do artigo 5º, da Lei 9.469/97, ao interpor o recurso, a União
ou o ente federal interessado passará a ostentar a condição de parte, deslocando-se,
portanto, a competência para a Justiça Federal. O que se afigura insólito nessa regra é que
a condição de parte surge com a interposição do recurso.

Ademais, o ente público, além de poder interpor recurso poderá também


manejar pedido de suspensão de liminar ou de antecipação de tutela:

STJ – Corte Especial – Rel. Ministro Nilson Naves – DJ 14.04.2006 – AGP 1.621/PE
Agravo regimental. Legitimação da União. Interesse econômico. Inteligência do art. 5º da
Lei nº 9.469/97. Suspensão de (...)
A União tem legitimidade para intervir nos feitos em que sociedade de economia mista figure
como parte, mesmo que seu interesse na causa seja apenas econômico (art. 5º da Lei nº
9.469, de 10 de julho de 1997).
A legitimidade para apresentar recursos concedida à União autoriza, nesse caso, o direito
do uso dos meios indispensáveis para assegurar o resultado útil do processo, entre os quais
figura a possibilidade de requerer a suspensão de liminar ou de antecipação de tutela.

Por fim, dada a incompatibilidade com o rito especial do Mandado de


Segurança, não admite o STJ a intervenção prevista no parágrafo único, do artigo
5º, da Lei 9.469/1997 neste tipo de procedimento:

PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA.


PEDIDO DE INGRESSO NO FEITO. CONDIÇÃO DE ASSISTENTE
LITISCONSORCIAL OU INTERVENÇÃO ANÔMALA. VEDAÇÃO DO § 2º DO
ART. 10 DA LEI 12.016/2009 E INAPLICABILIDADE DO ART. 5º, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA LEI 9.469/97. PRECEDENTES DO STJ E DO STF.

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1. Agravo regimental interposto contra decisão na qual foi indeferido o


pedido de ingresso no feito mandamental no polo passivo, na condição de
assistente litisconsorcial ou como interveniente anômalo.
2. O Supremo Tribunal Federal já fixou que "(...) o rito procedimental do
mandado de segurança é incompatível com a intervenção de
terceiros, ex vi do art. 24 da Lei nº 12.016/09, ainda que na
modalidade de assistência litisconsorcial, na forma da
jurisprudência remansosa do Supremo Tribunal Federal (....)" (MS
32.074/DF, Relator Min. Luiz Fux, Primeira Turma, Processo Eletrônico
publicado no DJe-217 em 5.11.2014.).
3. Em caso, todo similar ao encontrado no presente feito, a Primeira Seção
já manteve o indeferimento de entidade da Administração Pública federal
indireta que postulava o ingresso no feito mandamental para auxiliar na
defesa da autoridade coatora e da União; no caso, restou assentado que "a
jurisprudência vem se consolidando no sentido de considerar
incompatível o instituto da assistência simples com o rito e a
finalidade do mandado de segurança" e que "não se aplica ao
mandado de segurança o art. 5º, parágrafo único, da Lei n.
9.469/1997, que confere à pessoa jurídica de direito público o
privilégio de intervir como assistente em qualquer causa" (AgRg no
MS 15.298/DF, Rel. Ministro Og Fernandes, Primeira Seção, DJe
14.10.2014). Agravo regimental improvido.

(AgRg no MS 16.702/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, PRIMEIRA


SEÇÃO, julgado em 14/10/2015, DJe 22/10/2015)

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3 – Denunciação da Lide

3.1 – Considerações Gerais

A denunciação à lide é uma espécie de intervenção de terceiros e está


prevista no artigo 125 do Código de Processo Civil:

Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
I - ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi transferido ao
denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que da evicção lhe resultam;
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva,
o prejuízo de quem for vencido no processo.
§ 1o O direito regressivo será exercido por ação autônoma quando a denunciação da lide
for indeferida, deixar de ser promovida ou não for permitida.
§ 2o Admite-se uma única denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu
antecessor imediato na cadeia dominial ou quem seja responsável por indenizá-lo, não
podendo o denunciado sucessivo promover nova denunciação, hipótese em que eventual
direito de regresso será exercido por ação autônoma.

Qualquer uma das partes pode promover a denunciação da lide e, segundo


leciona Leonardo Cunha (2017, pg. 167):

A denunciação da lide é uma forma de intervenção de terceiros que, uma vez instaurada,
gera a formação de um cúmulo de demandas no mesmo processo: de um lado, a demanda
havida entre autor e réu; de outro lado, a demanda existente entre denunciante e
denunciado.

Em verdade, trata-se de instituto que se fundamenta no direito de regresso


que teria uma das partes em relação a um terceiro: acaso esta parte saia
derrotada na demanda, caberia o ressarcimento do valor da condenação por este
terceiro, seja por previsão legal ou contratual.

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Assim, tendo como foco a celeridade, a duração razoável e a eficiência do


processo, permite-se a utilização do instituto da denunciação da lide e, conforme
preceitua o artigo 129, do CPC:

Art. 129. Se o denunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento da
denunciação da lide.
Parágrafo único. Se o denunciante for vencedor, a ação de denunciação não terá o seu
pedido examinado, sem prejuízo da condenação do denunciante ao pagamento das verbas
de sucumbência em favor do denunciado.

Ademais, o instituto da denunciação da lide trata-se de uma faculdade do


denunciante, sendo que a ausência de denunciação gera apenas a preclusão do
direito da parte promove-la, sendo possível o ajuizamento de posterior ação
autônoma de regresso2.

3.2 – Denunciação da Lide pela Fazenda Pública

A hipótese mais recorrente de utilização pela Fazenda Pública do instituto


da denunciação da lide seria a propositura de demanda pelo particular de ação
de reparação de danos - causados por um agente público - em face da
Administração.

De acordo com o artigo 37, parágrafo 6º, da Constituição Federal, caberia


à Administração o direito de regresso em face do agente público causador do
dano em casos de dolo ou culpa:

2
Este o entendimento consagrado no Enunciado 120 do Fórum Permanente de Processualistas:
“A ausência de denunciação da lide gera apenas a preclusão do direito de a parte promovê-la,
sendo possível ação autônoma de regresso.”

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§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços


públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,
assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Estaria satisfeita, portanto, a exigência prevista no inciso II, do artigo 125,


do Código de Processo Civil?

Art. 125. É admissível a denunciação da lide, promovida por qualquer das partes:
II - àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação
regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

Colocando de outra forma: é permitido que a Fazenda Pública faça


a denunciação da lide ao agente público causador do dano contra o
particular?

O Superior Tribunal de Justiça pacifico ou entendimento que a


denunciação da lide ao agente público causador não é obrigatória3.

É que a responsabilidade civil do Estado consagrada no parágrafo 6º, do


artigo 37, da Constituição Federal de 88 é na modalidade objetiva: independente
da necessidade de se demonstrar dolo ou culpa do agente. Assim, para haver a
responsabilização do Estado seria necessário tão somente ao autor da demanda
a demonstração:

i. do ato ilícito;
ii. do efetivo dano;
iii. do nexo causal entre a conduta e o dano;

3
AgRg no AREsp 574.301/PE, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 15/09/2015, DJe 25/09/2015

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Ao mesmo tempo o direito de regresso do Estado em face do agente público


é baseado na existência de dolo ou culpa deste (responsabilidade civil subjetiva),
conforme parte final do parágrafo 6º, do artigo 37, da Constituição Federal.

Não seria possível, portanto, a denunciação à lide do agente público em


demandas que envolvam a responsabilidade civil objetiva do Estado, eis que
desnecessário nestas causas a instrução processual que demonstre a existência
de dolo ou culpa do agente.

Já a ação de regresso em face do agente, exige tal instrução.

Ora, se o fundamento do instituto da denunciação da lide é exatamente a


celeridade, inexiste razão em se permitir elemento novo ao processo que irá
prolongar a instrução processual. Neste sentido:

PROCESSUAL CIVIL, CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. ACIDENTE. (...) DENUNCIAÇÃO DA LIDE. PODER PÚBLICO.
DESNECESSIDADE. CELERIDADE PROCESSUAL. RECURSO DESPROVIDO. (...)
6. A obrigatoriedade da denunciação da lide deve ser mitigada em ações
indenizatórias propostas em face do poder público pela matriz da responsabilidade
objetiva (art. 37, § 6º - CF). O incidente quase sempre milita na contramão da
celeridade processual, em detrimento do agente vitimado. Isso, todavia, não inibe
eventuais ações posteriores fundadas em direito de regresso, a tempo e modo. (...)
(REsp 1501216/SC, Rel. Ministro OLINDO MENEZES (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO
TRF 1ª REGIÃO), PRIMEIRA TURMA, julgado em 16/02/2016, DJe 22/02/2016)

Contudo, a doutrina admite a responsabilidade civil subjetiva do Estado em


casos de atos omissivos dos seus agentes, desde que referida omissão não seja
específica. Nestas hipóteses, alguns doutrinadores defendem que seria possível
a denunciação à lide.

Neste sentido (BUENO, 2003, pg. 222):

Destarte, toda vez que a ação indenizatória também se basear na existência de culpa, a
denunciação ao agente público não destoará da mesma fundamentação da ação principal.
Deve, pois, (a denunciação da lide) ser admitida nestes casos.

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4 – Remessa Necessária

4.1 – Considerações Iniciais

O Novo Código de Processo Civil adotou a terminologia de Remessa


Necessária para o antigo instituto denominado reexame necessário ou duplo grau
de jurisdição obrigatório. A mudança, contudo, foi meramente terminológica.

Trata-se de ferramenta de proteção do ente público, resguardando um


benefício processual concebido com o objetivo de se proteger o interesse público,
aplicando-se a mesma ideia desenvolvida na introdução ao tema Fazenda Pública
anteriormente visto neste curso.

Historicamente a remessa necessária fora tratada como um recurso de


ofício a ser interposto pelo próprio juiz. Contudo, tal fato era fortemente criticado
pela doutrina, tendo em vista que o instituto não ostenta as características
próprias dos recursos.

O próprio CPC/1973 já realocou o reexame necessário nos capítulos


relativos à coisa julgada e não aos recursos. O Novo CPC manteve a situação
topográfica da remessa necessária identificando-a não como um recurso, mas
como uma condição de eficácia da sentença (DIDIER, 2016, PG. 402):

A remessa necessária relaciona-se com as decisões de mérito. Somente haverá coisa


julgada se houver a reapreciação da decisão pelo tribunal ao qual está vinculado o juiz que
a proferiu. Enquanto não for procedida a reanálise da sentença, esta não transita em
julgado, não produzindo coisa julgada.

Desse modo, não havendo o reexame e, consequentemente, não transitando em julgado a


sentença, será incabível a ação rescisória. Caso o juiz não determine a remessa necessária
para que seja revista pelo tribunal a sentença de mérito, esta não irá transitar em julgado,
sendo despropositado o manejo da ação rescisória, à míngua de pressuposto específico.

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Acaso o juiz não determine o envio dos autos ao respectivo Tribunal após
prolatar uma sentença sujeita à remessa necessária, referida sentença jamais
transitará em julgado. Não será necessário, portanto, que a Fazenda Pública
maneje uma Ação Rescisória para desfazer o julgado – acaso tenha deixado
transcorrer o prazo recursal.

Caberá ao ente público tão somente atravessar uma petição simples


requerendo que o magistrado determine o envio dos autos ao Tribunal, eis que a
ausência de tal remessa impede o trânsito em julgado, podendo o juiz corrigir a
omissão a qualquer momento, não havendo preclusão quanto à matéria.

Este entendimento está sedimentado pelo próprio Supremo Tribunal


Federal:

SÚMULA 423 – STF - Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex
officio, que se considera interposto ex lege.

Além disso, conforme ressaltado por Leonardo Cunha, acaso o juiz não
envie os autos ao Tribunal para apreciação da remessa necessária, em vista de
provocação de qualquer das partes ou até mesmo de ofício, poderá, de igual
modo, o presidente do tribunal avocar os autos. (2017, pg. 193).

4.2 – Disposição no Novo CPC e Hipóteses de Cabimento

O Novo Código de Processo Civil previu a remessa necessária no artigo 496:

Art. 496. Está sujeita ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de
confirmada pelo tribunal, a sentença:
I - proferida contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas respectivas
autarquias e fundações de direito público;
II - que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.

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§ 1o Nos casos previstos neste artigo, não interposta a apelação no prazo legal, o juiz
ordenará a remessa dos autos ao tribunal, e, se não o fizer, o presidente do respectivo
tribunal avocá-los-á.
§ 2o Em qualquer dos casos referidos no § 1o, o tribunal julgará a remessa necessária.
§ 3o Não se aplica o disposto neste artigo quando a condenação ou o proveito econômico
obtido na causa for de valor certo e líquido inferior a:
I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas autarquias e fundações de
direito público;
II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito Federal, as respectivas
autarquias e fundações de direito público e os Municípios que constituam capitais dos
Estados;
III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e respectivas autarquias
e fundações de direito público.
§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo
do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

Tenhamos em mente sempre que a remessa necessária é o instituto através


do qual não produzirá efeitos, senão após confirmada pelo respectivo tribunal, a
sentença:

a) proferida contra a Fazenda Pública; ou

b) que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos à


execução fiscal;

Todos os entes da Fazenda Pública estão abrangidos pelo dispositivo legal,


estando superada a Súmula 620 do Supremo Tribunal Federal4 editada antes
mesmo da Constituição Federal de 88. Hoje o entendimento pacífico é que

4
Súmula 620 – STF - A sentença proferida contra autarquias não está sujeita a reexame
necessário, salvo quando sucumbente em execução de dívida ativa.

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também as autarquias e fundações públicas se sujeitam ao conceito de Fazenda


Pública e, por conseguinte, ao reexame necessário:

PROCESSO CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. SENTENÇA ILÍQUIDA. A sentença ilíquida


proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município e as respectivas
autarquias e fundações de direito público está sujeita ao duplo grau de jurisdição,
não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; a exceção contemplada no
§ 2º do art. 475 do Código de Processo Civil supõe, primeiro, que a condenação ou o direito
controvertido tenham valor certo e, segundo, que o respectivo montante não exceda de 60
(sessenta) salários mínimos. Recurso especial provido.
(REsp 1300505/PA, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em
21/08/2014, DJe 01/09/2014)

Vejamos alguns pontos sobre o cabimento ou não da remessa necessária.

4.3 - Sentença proferida contra a Fazenda Pública

Conforme estabelecido no inciso I, do artigo 496, do CPC, estão sujeitas à


remessa necessária as sentenças proferidas contra a União, os Estados, o Distrito
Federal, os Municípios e suas respectivas autarquias e fundações de direito
público.

É dizer: estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição as sentenças proferidas


contra a Fazenda Pública.

Exatamente porque não ostentam tal condição, as empresas públicas e as


sociedades de economia mista não constam do dispositivo legal. Assim, as
sentenças proferidas em face de empresas públicas e sociedades de economia
mista não estão sujeitas à remessa necessária.

Quanto à extensão do duplo grau de jurisdição, este devolve ao tribunal


todas as parcelas da condenação imposta à Fazenda Pública, inclusive honorários
advocatícios. Trata-se de disposição sumulada pelo STJ no enunciado 325:

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Súmula 325 – STJ - A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas
da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado.

Segundo Leonardo Cunha (2016, pg. 187):

À evidência, excepcionadas as ressalvas contidas no próprio art. 496 do CPC, toda e


qualquer condenação imposta contra a Fazenda Pública deve sujeitar-se à remessa
necessária, ainda que seja apenas relativa a honorários de sucumbência.

A condenação que enseja a remessa necessária poderá ocorrer, inclusive,


no seio de uma reconvenção julgada contrariamente à Fazenda Pública. Assim,
será cabível a remessa necessária sempre que seja imposta uma condenação à
Fazenda Pública e não se estiver diante de uma das exceções previstas no artigo
496 do CPC.

a) Remessa Necessária e Decisões Interlocutórias

De acordo com a norma legal, seria cabível a remessa necessária em


relação a sentenças proferidas contra a Fazenda Pública ou que julgassem
procedentes, no todo ou em parte, os embargos à execução fiscal.

Ocorre que o artigo 356 do CPC elencou hipóteses em que o juiz, mediante
uma decisão interlocutória, poderá decidir o mérito de uma determinada questão
posta nos autos:

Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos formulados
ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355.
§ 1o A decisão que julgar parcialmente o mérito poderá reconhecer a existência de
obrigação líquida ou ilíquida.

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§ 2o A parte poderá liquidar ou executar, desde logo, a obrigação reconhecida na decisão


que julgar parcialmente o mérito, independentemente de caução, ainda que haja recurso
contra essa interposto.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se houver trânsito em julgado da decisão, a execução será
definitiva.
§ 4o A liquidação e o cumprimento da decisão que julgar parcialmente o mérito poderão ser
processados em autos suplementares, a requerimento da parte ou a critério do juiz.
§ 5o A decisão proferida com base neste artigo é impugnável por agravo de instrumento.

Ademais, nos termos dos parágrafos 2º e 4º, do artigo 356, do CPC,


referida decisão poderá ser inclusive objeto de liquidação e execução imediata.
Contudo, por não extinguir o processo, tal pronunciamento judicial trata-se de
uma decisão interlocutória que resolve parcialmente o mérito e pode formar coisa
julgada.

Se uma decisão de tal natureza for proferida contra a Fazenda Pública,


Didier entende que (2016, pg. 405):

Mesmo não sendo sentença, estará sujeita à remessa necessária. Isso porque a remessa
necessária relaciona-se com as decisões de mérito proferidas contra a Fazenda Pública; a
coisa julgada somente poderá ser produzida se houver remessa necessária.
Se houve decisão de mérito contra o Poder Público, é preciso que haja seu reexame pelo
tribunal respectivo; é preciso, enfim, que haja remessa necessária. Significa, então, que
há remessa necessária de sentença, bem como da decisão interlocutória que
resolve parcialmente o mérito.

Quanto à decisão interlocutória em essência, não há dúvida de que está


afastado o reexame necessário. As decisões de caráter provisório, tal qual as
liminares em mandado de segurança não estão sujeitas à remessa necessária.

b) Sentença que não resolve o mérito

E se a Fazenda Pública propuser uma demanda e esta for extinta sem


resolução do mérito, caberá a remessa necessária?

Segundo o STJ, em sentenças que não se resolve o mérito da demanda não


há uma decisão contra a Fazenda Pública, não se justificando o reexame da

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matéria pelo tribunal, eis que só há remessa necessária se a sentença for de


mérito e contrária ao Poder Público.

Nem mesmo a condenação em honorários advocatícios oriundos de tal


extinção do processo sem resolução do mérito serão passíveis de gerar a remessa
necessária. Isto porque, no entender do STJ, o ônus sucumbencial decorre do
princípio da causalidade. Neste sentido:

PROCESSUAL CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. ART. 475, INCISO I, DO CPC. SENTENÇA QUE
EXTINGUE O PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO E CONDENA A FAZENDA NACIONAL
AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INAPLICABILIDADE.
1. Não está sujeita ao reexame necessário (art. 475 do CPC) a sentença que extingue o
processo sem julgamento de mérito. Precedentes.
2. A condenação da Fazenda Nacional ao pagamento de honorários advocatícios em
sentença extintiva do processo, sem julgamento de mérito, não tem o condão de impor a
observância à remessa necessária. O ônus sucumbencial decorre do princípio da
causalidade. O duplo grau obrigatório é proteção que se destina a conferir maior segurança
aos julgamentos de mérito desfavoráveis à Fazenda Pública. REsp 640.651/RJ, Min. Castro
Meira, Segunda Turma, DJ 7.11.2005.
3. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no AREsp 335.868/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 05/11/2013, DJe 09/12/2013)

c) Remessa Necessária em Mandado de Segurança

Independente do valor da condenação, das partes envolvidas e da matéria


discutida, no Mandado de Segurança sempre haverá remessa necessária na
sentença que conceder a segurança, dado o disposto no parágrafo 1º, do
artigo 14, da Lei 12.016/2009:

Art. 14. Da sentença, denegando ou concedendo o mandado, cabe apelação.


§ 1o Concedida a segurança, a sentença estará sujeita obrigatoriamente ao duplo
grau de jurisdição.

Trata-se de exceção à regra do Código de Processo Civil, eis que conforme


veremos na aula relativa a Mandado de Segurança, a Súmula 333, do STJ permite

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a impetração do writ em face de pessoas privadas que se equiparam a


autoridades públicas:

SÚMULA 333 – STJ - Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação
promovida por sociedade de economia mista ou empresa pública”

Nos dizeres de Fredie Didier (2016, pg. 407)

No Mandado de segurança, haverá remessa necessária, não porque a sentença foi proferida
contra a União, o Estado, o Município, o Distrito Federal ou qualquer outro ente público,
mas porque se trata de sentença concessiva da segurança. Concedida a segurança, ainda
que se trate de sentença contra empresa pública ou sociedade de economia mista, haverá
a remessa necessária.
Perceba a diferença: numa demanda de procedimento comum, não há remessa necessária
de sentença proferida contra um ente privado, mas, no mandado de segurança, proferida
sentença de procedência, independentemente da condição da parte demandada, haverá
remessa necessária.

Ressalte-se que não caberá reexame necessário na decisão liminar


proferida em Mandado de Segurança, apenas quando da concessão da segurança
em si.

d) Ação Popular e Ação Civil Pública

De acordo com o artigo 19, da Lei 4.717/65, na ação popular a remessa


necessária está prevista em relação às sentenças que extinguem o processo sem
resolução do mérito e em relação às sentenças que julgam improcedente o
pedido:

Art. 19. A sentença que concluir pela carência ou pela improcedência da ação está sujeita
ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal;
da que julgar a ação procedente caberá apelação, com efeito suspensivo.

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Ademais, segundo já decidiu o Superior Tribunal de Justiça, por aplicação


analógica, as sentenças proferidas da mesma forma nas Ações Civis Públicas
também se sujeitam à remessa necessária:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. REEXAME


NECESSÁRIO. CABIMENTO. APLICAÇÃO, POR ANALOGIA, DO ART. 19 DA LEI 4.717/1965.
1. "Por aplicação analógica da primeira parte do art. 19 da Lei nº 4.717/65, as sentenças
de improcedência de ação civil pública sujeitam-se indistintamente ao reexame necessário"
(REsp 1.108.542/SC, Rel. Ministro Castro Meira, j. 19.5.2009, Dje 29.5.2009).
2. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no REsp 1219033/RJ, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 17/03/2011, DJe 25/04/2011)

A ideia é que tanto a ação popular como a Ação Civil Pública destinam-se à
proteção do interesse público, exatamente a pretensão das prerrogativas e
benefícios processuais aplicáveis à Fazenda Pública.

e) Sentença no qual a Fazenda Pública figure como assistente simples

Sendo a Fazenda Pública assistente simples do réu, esta não ostenta a


condição de parte e, exatamente por isto, não se sujeita à coisa julgada.

Uma vez que a remessa necessária trata-se de condição de eficácia da


sentença que guarda estreita relação com a coisa julgada, no caso da Fazenda
Pública ser assistente simples, esta não será cabível. Isto porque não haverá
sentença contra ela produzida.

Ademais, conforme alerta Fredie Didier (2016, pg. 409):

Na hipótese do assistido ser também uma pessoa jurídica de direito público, haverá remessa
necessária, não porque há um ente público como assistente, mas sim por haver um outro
que figura como parte que restou vencida.

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Diante disso, é forçoso concluir que, sendo a Fazenda Pública assistente simples, não há
remessa necessária, caso o assistido venha a ser derrotado, a não ser que ele também
ostente a condição de pessoa jurídica de direito público. Nesse caso, haverá a remessa
necessária não porque há um ente público como assistente, mas sim por haver um outro
que figura como réu.

f) Não cabimento em decisões colegiadas

Guilherme Barros, fazendo referência a Nelson Nery Júnior diz que (2015,
pg. 165):

A referência legal a “sentença” não deve ser interpretada de forma genérica, como sinônima
de decisão emitida pelo Poder Judiciário. (...). Portanto, não estão sujeitos ao reexame
necessário as decisões proferidas na 2ª instância, no Tribunal, seja através de acórdão, seja
por decisão monocrática do relator. Nas hipóteses de demandas cuja competência originária
seja do Tribunal, a decisão colegiada, ainda que contrária ao Estado, não se sujeita ao
reexame obrigatório.

g) Não cabimento em sentença arbitral

Em que pese o Poder Público poder sujeitar-se a cortes arbitrais, nos termos
do parágrafo 1º, do artigo 1º, da Lei 9.307/96, a estas sentenças não se aplica
a remessa necessária.

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
§ 1o A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir
conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

Este o entendimento do Fórum Permanente de Processualistas através do


Enunciado 164:

A sentença arbitral contra a Fazenda Pública não está sujeita à remessa necessária.

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h) Sentença que acolhe embargos à execução fiscal

Dispõe o inciso II, do artigo 496, do CPC que estará sujeita à remessa
necessária a sentença que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos
à execução fiscal.

Ora, se o inciso I estabelece que caberá remessa necessária em razão de


condenações ocorridas contra a Fazenda Pública e o acolhimento de Embargos à
Execução é uma decisão contrária ao ente público, qual a necessidade de constar
expressamente no dispositivo legal?

Surge, então, a dúvida: ao prever especificamente o reexame necessário


para a sentença que julga os embargos à execução fiscal, estaria o dispositivo
legal excluindo a necessidade de reexame nos embargos à execução não-fiscal,
ainda que contrária à Fazenda Pública?

Para Hélio do Valle Ferreira (2003, pg. 147), a referência feita pelo inciso
II seria irrelevante e existiria o reexame necessário mesmo em julgamento de
embargos à execução de natureza não fiscal.

Contudo, este não é o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de


Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. NÃO CABIMENTO DE


REEXAME NECESSÁRIO.
1. Nos termos do art. 475, II, do CPC, é cabível reexame necessário quando se tratar de
embargos propostos em execução de dívida ativa.
2. Não cabe recurso de ofício contra a sentença proferida em embargos à execução de título
judicial. Precedentes.
3. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1467426/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/03/2015, DJe 18/03/2015)

PROCESSO CIVIL - EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL - REEXAME NECESSÁRIO


- DESCABIMENTO - ARTS. 475, II, CPC - PRECEDENTES DA CORTE ESPECIAL - RECURSO
ESPECIAL PROVIDO.

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1. O Superior Tribunal de Justiça, consoante diversos precedentes da Corte Especial, firmou


entendimento no sentido de que o reexame necessário em processo de execução limita-se
à hipótese de procedência dos embargos opostos em execução de dívida ativa, sendo
incabível nos demais casos de embargos do devedor.
2. Recurso especial provido.
(REsp 1131341/PE, Rel. Ministra ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em
01/10/2009, DJe 14/10/2009)

O STJ afasta, portanto, o reexame necessário de embargos de natureza


não fiscal, dada a interpretação restritiva que deve ser feita ao
instituto.

4.4 – Procedimento

A remessa necessária seguirá no tribunal o mesmo procedimento aplicável


ao Recurso de Apelação.

Exatamente por isto (CUNHA, 2017, pg. 193):

A decisão que julgar a remessa necessária substitui a decisão reexaminada. Em outras


palavras, aplica-se à remessa necessária o disposto no artigo 1.008 do CPC, valendo dizer
que a decisão que a julga substitui a sentença reexaminada.

À remessa necessária aplica-se o art. 935 do CPC, devendo seu julgamento ser incluído em
pauta, com a antecedência de, pelo menos, cinco dias, sob pena de nulidade (Súmula 117
do STJ). O enunciado 117 da Súmula do STJ refere-se ao prazo de 48 horas, pois era este
o previsto no CPC/1973, No CPC/2015, o prazo foi ampliado para cinco dias. Aliás, convém
lembrar que tal prazo deve ser contado em dias úteis (CPC, art. 219).

O artigo 1.013, parágrafo 3º, do CPC estabelece a possibilidade de o próprio


Tribunal apreciar desde logo o mérito de demandas extintas sem seu julgamento
em recurso de apelação.

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Tal dispositivo também deve ser aplicado à remessa necessária.

Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.


§ 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir
desde logo o mérito quando:
I - reformar sentença fundada no art. 485;
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação.

Ressalte-se apenas que, por se tratarem de decisões interlocutórias que


não resolvem o mérito, o disposto no inciso I, do parágrafo 3º, não se aplica à
remessa necessária, conforme visto acima. (DIDIER, 2016, pg. 417):

Os demais incisos do §3º do art. 1.013 são perfeitamente cabíveis na remessa necessária:
a) decisão incongruente (inciso II do §3º); b) decisão omissa (inciso III do §3º); c) decisão
nula por falta de fundamentação (inciso IV do §3º). Em todos esses casos, pode o tribunal,
invalidando sentença, estando a causa em condições de imediato julgamento, decidir desde
logo o mérito da causa.

Ademais, a vedação ao reformatio in pejus também se aplica à remessa


necessária, não podendo o tribunal agravar a condenação da Fazenda Pública,
nos termos da Súmula 45 do STJ:

Súmula 45 – STJ - No reexame necessário é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação


imposta à Fazenda Pública.

Por fim, mesmo que a Fazenda Pública apresente Recurso de Apelação


quanto à sentença de 1º grau e tal recurso seja apenas parcial, a remessa
necessária será total, devolvendo toda a matéria para o Tribunal.

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4.5 – Remessa Necessária e Recurso Especial

Inicialmente, o Superior Tribunal de Justiça entendia não ser cabível a


interposição de Recurso Especial pela Fazenda Pública em demandas que não
foram objeto de Recurso de Apelação, apenas de reexame necessário.

Proferida sentença contrária à Fazenda Pública ainda na primeira instância,


esta não interpôs Recurso de Apelação, apenas deixou o processo subir para o
Tribunal por força da remessa necessária.

Nestes casos, entendia o STJ não ser cabível o Recurso Especial por
preclusão lógica do direito de recorrer.

É que se a Fazenda não manifestara sua vontade de recorrer da sentença


proferida em primeiro grau, haveria um comportamento contraditório em interpor
Recurso Especial do julgamento do Tribunal.

Contudo, em julgamento da 1ª. Seção, o Superior Tribunal de Justiça


mudou o seu entendimento, passando a entender que não há qualquer preclusão
lógica na falta de interposição de Recurso de Apelação, quando cabível o reexame
necessário.

Ademais, eventual erro de procedimento poderá surgir, inclusive, no


próprio tribunal, justificando-se a interposição do Recurso Especial. Neste
sentido:

PROCESSUAL CIVIL. PRECLUSÃO LÓGICA. NÃO OCORRÊNCIA. INTERESSES CONFLITANTES


ENTRE ASSISTENTE E ASSISTIDO. NÃO CONFIGURAÇÃO.
1. Não se verifica a preclusão lógica. É possível concluir que o interesse recursal do Município
de Santa Luzia surgiu em segunda instância, quando da extinção do feito com resolução do
mérito, pois diante da coisa julgada material, em regra, não se poderia rediscutir o mérito
da causa.
2. Ademais, a Corte Especial, por ocasião do julgamento do REsp 905.771/CE, de relatoria
do Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, pacificou o entendimento de que a ausência de
recurso da Fazenda Pública contra sentença de Primeiro Grau que lhe tenha sido
desfavorável, não impede, em razão da remessa necessária, que ela recorra do acórdão
proferido pelo Tribunal de origem. Assim, não se aplica o instituto da preclusão lógica.(...)
(AgRg no REsp 1450676/SE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado
em 01/09/2015, DJe 15/09/2015)

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Por fim, válidas as palavras de Leonardo Cunha (2017, pg.201):

Não há nenhuma conduta contraditória ou desleal da Fazenda Pública em não recorrer.


Como existe o reexame necessário, é legítimo que deixe de haver recurso, pois o caso já
será revisto pelo tribunal. Ao deixar de recorrer, a Fazenda está valendo-se de uma regra
(antiga, diga-se de passagem) que lhe garante o reexame da sentença pelo tribunal. Não
houve ato em sentido contrário, nem há qualquer contradição.

Inexiste, portanto, qualquer óbice ou abuso de direito por parte da


Fazenda Pública ao interpor Recurso Especial de acórdão proferido em
remessa necessária.

4.6 – Hipóteses de Dispensa da Remessa Necessária

Os parágrafos 3º e 4º, do artigo 496 do CPC estabelecem hipóteses em que


a remessa necessária será dispensada.

a) Sentenças com valor certo e líquido abaixo do teto legal

De acordo com o parágrafo 3º, do artigo 496, será dispensada a remessa


necessária quando a condenação ou o proveito econômico obtido na causa for de
valor certo e líquido inferior a:

I - 1.000 (mil) salários-mínimos para a União e as respectivas


autarquias e fundações de direito público;

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II - 500 (quinhentos) salários-mínimos para os Estados, o Distrito


Federal, as respectivas autarquias e fundações de direito público e
os Municípios que constituam capitais dos Estados;

III - 100 (cem) salários-mínimos para todos os demais Municípios e


respectivas autarquias e fundações de direito público.

Referido montante deve ser apreciado no momento em que a sentença seja


proferida e não quanto ao valor emprestado à petição inicial ou quanto ao valor
do momento da execução do julgado.

Assim, apenas a sentença certa e líquida com valores inferiores aos


previstos acima é que poderão ter a remessa necessária dispensada, não se
aplicando às sentenças ilíquidas. Este, inclusive é o teor da Súmula 490 do STJ:

Súmula 490 – STJ - A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou


do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças
ilíquidas.

Referida súmula fora editada com base no CPC/73. Assim, o entendimento


deve ser mantido, alterando-se, contudo, os limites legais.

b) Sentenças fundadas em Jurisprudência dominante

De acordo com os incisos I, II e III, do parágrafo 4º, do artigo 496 do CPC,


dispensa-se a remessa necessária também quando a sentença estiver fundada
em súmula de Tribunal Superior ou em entendimento firmado em casos
repetitivos.

Estes podem ter sido proferidos tanto em acórdãos do Supremo Tribunal


Federal ou Superior Tribunal de Justiça (inciso II), como em incidentes de
demandas repetitivas ou assunção de competência (inciso III):

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§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
I - súmula de tribunal superior;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça
em julgamento de recursos repetitivos;
III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;

Ressalte-se que o próprio artigo 928 do CPC estabelece serem casos de


demandas repetitivas:

Art. 928. Para os fins deste Código, considera-se julgamento de casos repetitivos a decisão
proferida em:
I - incidente de resolução de demandas repetitivas;
II - recursos especial e extraordinário repetitivos.
Parágrafo único. O julgamento de casos repetitivos tem por objeto questão de direito
material ou processual.

Trata-se da própria lógica do Novo CPC em criar uma espécie de


microssistema de formação de precedentes obrigatórios em julgamento objetivo.

c) Sentenças fundadas em Orientação Administrativa Vinculante do próprio ente


público

Por fim, não será cabível, ainda, a remessa necessária se a sentença estiver
fundada em entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no
âmbito administrativo do próprio ente público, consolidada em manifestação,
parecer ou súmula administrativa (inciso IV):

§ 4o Também não se aplica o disposto neste artigo quando a sentença estiver fundada em:
(...)
IV - entendimento coincidente com orientação vinculante firmada no âmbito administrativo
do próprio ente público, consolidada em manifestação, parecer ou súmula administrativa.

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É comum no seio da Advocacia Pública, a edição de orientações


consolidadas em súmulas administrativas acerca de determinados temas. A ideia
é racionalizar a máquina pública orientando todo o Poder Executivo sobre o
posicionamento do ente quanto àquela matéria jurídica.

Ante o volume de demandas idênticas propostas, o advogado público já


sabe como deve se portar, a exemplo da Súmula 35 da Advocacia Geral da União:

Enunciado – 35 – AGU - "O exame psicotécnico a ser aplicado em concurso público deverá
observar critérios objetivos, previstos no edital, e estará sujeito a recurso administrativo."

Assim, não deverão os advogados públicos vinculados à Advocacia Geral da


União insistir na discussão acerca de tal tema em juízo. No mesmo sentido, acaso
a sentença baseie-se neste entendimento, não haverá a remessa necessária.

Segundo Guilherme Barros (2015, pg. 177):

O objetivo é racionalizar o uso do reexame necessário. De fato, não faz sentido utilizar tal
ferramenta de proteção do interesse público quando a própria Administração Pública – neste
caso, na esfera federal – já deliberou a desnecessidade de resistência da advocacia pública.

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5 - Bibliografia

BARROS, Guilherme Freire de Melo. PODER PÚBLICO EM JUÍZO PARA


CONCURSOS. 5ª. Edição. Salvador: Editora JusPodivm, 2015.

BUENO, Cassio Scarpinella. PARTES E TERCEIROS NO PROCESSO CIVIL


BRASILEIRO. São Paulo: Saraiva, 2003.

CUNHA, Leonardo Carneiro da. A FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO. 14ª. Edição.


Rio de Janeiro: Forense, 2017.

DIDIER JR, Fredie e CUNHA, Leonardo Carneiro da. CURSO DE DIREITO


PROCESSUAL CIVIL – VOLUME 3. 13ª. Edição. Salvador: Editora JusPodivm,
2016.

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6 - Resumo da Aula

1. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo
e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal,
seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data
do ato ou fato do qual se originarem (Decreto 20.910/32).

2. Segundo entendimento consolidado do STJ:

a) o Decreto 20.910/32 encerra normal especial que deverá prevalecer sobre


a norma de caráter geral (Código Civil) e;

b) o artigo 10 do Decreto 20.910/32 apenas refere-se aos prazos anteriores à


sua edição, não contemplando os prazos posteriores;

3. Assim, o prazo prescricional de cinco anos previsto no Decreto 20.910/32


deve prevalecer mesmo nas demandas de responsabilidade civil propostas em
face da Fazenda Pública.

4. Ademais, o STJ tem entendimento jurisprudencial no sentido de que o prazo


prescricional de demandas propostas PELA Fazenda Pública deve ser o mesmo
prazo previsto no Decreto 20.910/32 (demandas propostas CONTRA a
Fazenda Pública), em razão do princípio da isonomia.

5. É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública


decorrente de ilícito civil, sendo imprescritíveis as de ressarcimento

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ao erário por atos de improbidade administrativa, nos termos do


parágrafo 6º, do artigo 37, da CF.
6. Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

7. São imprescritíveis as demandas indenizatórias propostas em face da Fazenda


Pública – e, portanto, podem ser propostas a qualquer tempo – fundadas em
crimes de tortura praticados durante o regime militar.

8. Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a


pretensão da Administração Pública de promover a execução da multa por
infração ambiental.

9. A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e


meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

10. O prazo de prescrição pode ser interrompido, suspenso ou renunciado. Já o


prazo decadencial não pode ser objeto de interrupção, suspensão ou renúncia.
Realmente, a decadência não tem seu prazo suspenso, interrompido, nem
impedido, contrariamente ao que ocorre com a prescrição.

11. Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação,
por motivos inerentes ao mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento
da argüição de prescrição ou decadência.

12. SÚMULA 85 – STJ – DJ 02.07.1993 -Nas relações jurídicas de trato


sucessivo em que a fazenda pública figure como devedora, quando não tiver
sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as
prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior a propositura da ação.

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13. Efetivamente, é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a


diferença entre REDUÇÃO e SUPRESSÃO de vantagens conferidas a
particulares:
a) Redução: Prestação de trato sucessivo; Prazo Prescricional renova-se mês
a mês; Aplica-se a Súmula 85, do STJ;

b) Supressão: Ato único que atinge o próprio fundo do direito; Prazo


Prescricional conta-se a partir do ato; NÃO se aplica a Súmula 85, do STJ;

14. Sendo objetiva a responsabilidade da Fazenda Pública, não caberia a


denunciação da lide do Agente Público causador do dano, pois o direito de
regresso estaria fundado em responsabilidade subjetiva, havendo, em tal
hipótese, agregação de elemento novo à causa de pedir, causando a
necessidade de uma instrução não exigida inicialmente.

15. O instituto da remessa necessária não se trata de recurso, mas de condição


de eficácia da sentença, sem a qual esta não transita em julgado.

16. SÚMULA 423 – STF - Não transita em julgado a sentença por haver omitido
o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege.

17. A remessa necessária é o instituto através do qual não produzirá efeitos,


senão após confirmada pelo respectivo tribunal, a sentença: proferida
contra a Fazenda Pública ou que julgar procedentes, no todo ou em
parte, os embargos à execução fiscal.

18. Súmula 325 – STJ - A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de


todas as parcelas da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive
dos honorários de advogado.

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19. Se uma decisão interlocutória com conteúdo meritório for proferida contra a
Fazenda Pública, mesmo não sendo sentença, estará sujeita à remessa
necessária.

20. Segundo o STJ, em sentenças que não se resolve o mérito da demanda não
há uma decisão contra a Fazenda Pública, não se justificando o reexame da
matéria pelo tribunal, eis que só há remessa necessária se a sentença for de
mérito e contrária ao Poder Público.

21. Independente do valor da condenação, das partes envolvidas e da matéria


discutida, no Mandado de Segurança sempre haverá remessa necessária
na sentença que conceder a segurança, dado o disposto no parágrafo 1º,
do artigo 14, da Lei 12.016/2009.

22. O Superior Tribunal de Justiça, consoante diversos precedentes da Corte


Especial, firmou entendimento no sentido de que o reexame necessário em
processo de execução limita-se à hipótese de procedência dos embargos
opostos em execução de dívida ativa, sendo incabível nos demais casos de
embargos do devedor.
23. A remessa necessária seguirá no tribunal o mesmo procedimento aplicável ao
Recurso de Apelação.

24. A dispensa de remessa necessária quando o valor da condenação ou do direito


controvertido for inferior ao limite previsto no CPC não se aplica a sentenças
ilíquidas.

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7 – Questões Objetivas

7.1 – Quesitos

Questão 01 – FCC – Auditor – TCE/AL - 2008

1. Interrompida a prescrição contra a Fazenda Pública, recomeça o prazo a


correr

a) pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do último ato


ou termo do respectivo processo, mas não poderá ficar aquém do prazo
originário, se a interrupção se der antes de sua metade.

b) do ato que a interrompeu ou do último ato ou termo do respectivo processo,


pelo tempo faltante para completar cinco anos.

c) da data do trânsito em julgado da sentença que vier a ser proferida no


respectivo processo, e pelo prazo faltante para completar cinco anos.

d) pelo mesmo tempo do prazo prescricional, uma vez que não se trata de
suspensão, contando-se da data do ato que a interrompeu ou do último ato
ou termo do respectivo processo.

e) pelo dobro do tempo faltante, contado da data do ato que a interrompeu


ou do último ato ou termo do respectivo processo.

Questão 02 – PGE/GO – Banca Própria – Procurador do Estado - 2013

2. A prescrição contra a Fazenda Pública, segundo entendimento atual do


Superior Tribunal de Justiça, observa o regramento de que o prazo aplicado
é

a) o trienal, em razão do advento do Código Civil de 2002, devendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

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b) o quinquenal, previsto no Decreto Federal nº 20.910/32, não podendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

c) o trienal para as ações pessoais e o quinquenal para as ações reais, em


razão da interpretação conjunta do Código Civil de 2002 e do Decreto
Federal nº 20.910/32, devendo a prescrição ser conhecida de ofício pelo
juiz condutor do feito.

d) o trienal, em razão do advento do Código Civil de 2002, não podendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

e) o quinquenal, previsto no Decreto Federal nº 20.910/32, devendo a


prescrição ser conhecida de ofício pelo juiz condutor do feito.

Questão 03 – FCC – Procurador do Estado – PGE/RN - 2014

3. No tocante à extinção das pretensões, pela prescrição, contra a Fazenda


Pública, julgue as afirmações abaixo.

I. Nenhuma disposição do Decreto n° 20.910/1932, que a regulava,


subsiste depois da entrada em vigor do Código Civil de 2002, porque
este disciplinou integralmente a matéria referente à prescrição.

II. Não se admite a distinção entre prescrição parcelar e prescrição de fundo


de direito ou nuclear.

III. Não corre prescrição durante a demora que, no estudo, no


reconhecimento ou no pagamento da dívida, considerada líquida,
tiverem as repartições ou funcionários encarregados de estudar e apurá-
la.

IV. A prescrição somente poderá ser interrompida uma vez e recomeçará a


correr, pela metade do prazo, da data do ato que a interrompeu ou do
último ato ou termo do respectivo processo, mas, se a interrupção
ocorrer antes da metade do prazo de cinco (05) anos, o lustro será
respeitado a favor do credor.

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V. O prazo prescricional sujeita-se à interrupção, mas não se sujeita à


suspensão.

Questão 04 – VUNESP – Advogado – DESENVOLVESP - 2014

4. No que diz respeito à prescrição e à Administração Pública, assinale a


alternativa correta.

a) A prescrição quinquenal é válida para direitos reais e pessoais, não se


aplicando regras de direito comum à matéria administrativa, afastada
reiteradamente pelas decisões jurisprudenciais.

b) A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos


e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco
anos, embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade
do prazo.

c) A interrupção do prazo quinquenal de prescrição é reconhecida todas as


vezes que for necessário ao administrado, conforme jurisprudência
majoritária dos tribunais superiores.

d) As pretensões declaratórias em face da Fazenda Pública prescrevem no


mesmo prazo das pretensões condenatórias.

e) O direito à reclamação administrativa, que não tiver prazo fixado em lei,


prescreve em cinco anos a contar da data do ato ou fato do qual esta se
originar.

Questão 05 – PUC/PR – Procurador do Estado – PGE/PR - 2015

5. Por exigências de segurança do tráfico jurídico, de certeza nas relações


jurídicas e de paz social, a ordem jurídica fixa prazos prescricionais dentro
dos quais o titular do direito deve exercê-lo, sob pena de ficar impedido de
fazê-lo. Quanto à prescrição, é CORRETO afirmar:

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a) As pretensões de reparação civil contra o Estado têm prazo prescricional


de três anos, conforme disposto no artigo 206, § 3o , V, do Código Civil
Brasileiro.

b) A prescrição não pode ser decretada de ofício pelo juiz, salvo no caso de
interesses de incapazes.

c) Nas relações de trato sucessivo, como o pagamento de salários ou


vencimentos, o prazo prescricional conta-se a partir do ato ou omissão que
gerou o pagamento a menor. Quando transcorrido tal prazo, a prescrição
atinge, simultaneamente, todas as parcelas vencidas.

d) A prescrição das dívidas passivas dos Estados só pode ser interrompida


uma vez e recomeça a correr pela metade do prazo

e) Os prazos prescricionais são fixados por lei e só podem ser reduzidos por
disposições contratuais quando versarem sobre direitos disponíveis.

Questão 06 – FCC – Procurador do Estado – PGE/PR - 2014

6. Caio ajuizou, perante a Justiça Comum, ação de indenização em face do


Estado. Afirmou que, em razão de colisão com viatura policial, teria tido
seu veículo avariado, ficando privado do uso do bem, que empregaria,
habitualmente, na profissão de taxista. Requereu a realização de perícia e
estimou os danos materiais, emergentes e lucros cessantes, em cerca de
50 salários mínimos. Atribuiu à causa o valor de R$36.000,00. O Juízo
julgou procedentes os pedidos e determinou que o valor da indenização
fosse obtido em liquidação de sentença. De acordo com Súmula do Superior
Tribunal de Justiça, a sentença

a) está sujeita ao duplo grau de jurisdição, por se tratar de sentença ilíquida.

b) estará sujeita ao duplo grau de jurisdição apenas se o particular recorrer


buscando a majoração da indenização.

c) não está sujeita ao duplo grau de jurisdição, porque o reexame necessário


não se aplica às causas de valor inferior a 60 salários mínimos.

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d) está sujeita ao duplo grau de jurisdição, porque o reexame necessário não


se sujeita a valor de alçada.

e) não está sujeita ao duplo grau de jurisdição, porque não há reexame


necessário quando a ação, em razão da pouca complexidade, poderia ter
sido distribuída perante o Juizado Especial.

Questão 07 – CESPE – Procurador do Estado – PGE/PI - 2014

7. O estado do Piauí ajuizou ação de indenização contra particulares que


incendiaram vários ônibus de uma concessionária de serviço público de
transporte. Sobreveio a sentença de extinção do processo por ilegitimidade
ativa ad causam. A apelação interposta pelo estado foi intempestiva.
Iniciada a fase de cumprimento de sentença para pagamento dos
honorários advocatícios arbitrados, a PGE/PI alegou nulidade processual
devido à falta de remessa necessária. Considerando essa situação
hipotética, assinale a opção correta com base na legislação aplicável e na
jurisprudência do STJ.

a) Se o valor dos honorários arbitrados for inferior a sessenta salários


mínimos, não caberá a remessa necessária; se for superior, a remessa
deverá ser processada.

b) Na hipótese, a sentença não está sujeita à remessa necessária.

c) Enquanto não processado o reexame necessário, a sentença não terá


eficácia e, portanto, a fase de cumprimento não pode ter início.

d) Se houver o reexame necessário, os honorários advocatícios poderão ser


revistos, para mais ou para menos, já que o tribunal pode rever toda a
causa.

e) Se o juiz indeferir o pleito da PGE/PI, o processo poderá ser submetido a


reexame necessário por avocação do presidente do Tribunal, mas o prazo a
quo para eventual ação rescisória será contado da data do trânsito em
julgado devido à intempestividade da apelação.

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Aula 01

Questão 08 – CESPE – Procurador do Município – PGM – Salvador/BA -


2015

8. Em execução movida por particular contra a fazenda pública, determinado


município ajuizou embargos, que foram considerados infundados e julgados
improcedentes. Nessa situação, se o valor dos embargos for superior a
sessenta salários mínimos, o reexame necessário pelo tribunal será
condição de eficácia da sentença.

Questão 09 - VUNESP – Procurador – PGM/SP - 2014

9. A respeito da intervenção das pessoas de direito público em causas cuja


decisão possa lhes gerar efeitos, assinale a alternativa correta.

a) É admitida a intervenção mesmo que se trate de efeitos reflexos indiretos


e de natureza econômica.

b) A intervenção só é admitida se demonstrado o interesse jurídico na vitória


de uma das partes.

c) A intervenção depende da anuência da parte cujos interesses coincidem


com o da interveniente.

d) Essa intervenção, afora as hipóteses de comprovado interesse jurídico, só


pode se dar pela via do recurso de terceiro interessado.

e) Não prescinde a pessoa jurídica de direito público interveniente da


demonstração de que seria parte legítima para figurar como autora ou ré
da demanda.

Questão 10 – FCC – Juiz do Trabalho – TRT 18ª Região - 2012

10. O reexame necessário

a) admite agravar a condenação imposta à Fazenda Pública, salvo quando esta


também recorrer.

b) devolve ao tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação


suportadas pela Fazenda Pública, salvo os honorários de advogado.

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c) é admissível para o Tribunal rever sentença ilíquida proferida contra a


Fazenda Pública.

d) não comporta julgamento unipessoal do relator.

e) não é aplicável quando a sentença de mérito for proferida contrariamente


a fundações de direito público.

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7.2 – Gabaritos

Questão Resposta Questão Resposta

1 A 6 A

2 E 7 B

3 FFVVF 8 FALSO

4 B 9 A

5 D 10 C

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Aula 01

7.3 – Comentários

Questão 01 – FCC – Auditor – TCE/AL - 2008

Comentários

Alternativa Correta: letra “A”.

A questão envolve talvez um dos focos principais que o examinador poderá


adotar em relação à prescrição em face da Fazenda Pública.

O candidato precisaria conhecer o inteiro teor da Súmula 383, do Supremo


Tribunal Federal que diz exatamente o teor da alternativa “A”, gabarito da
questão:

Súmula 383, STF - A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois
anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

Questão 02 – PGE/GO – Banca Própria – Procurador do Estado - 2013

Comentários

Alternativa Correta: letra “E”.

A questão envolve talvez o principal ponto que o examinador poderá adotar


em relação à prescrição em face da Fazenda Pública: se o prazo prescricional
aplicável será o trienal (previsto no Código Civil) ou o quinquenal (previsto no
Decreto 20.910/32).

Vimos na nossa Aula 01 que o Superior Tribunal de Justiça pacificou o


entendimento acerca da aplicação do prazo prescricional quinquenal:

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Aula 01

ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA (ARTIGO


543-C DO CPC). RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA.
PRESCRIÇÃO. PRAZO QUINQUENAL (ART. 1º DO DECRETO 20.910/32) X PRAZO TRIENAL
(ART. 206, § 3º, V, DO CC). PREVALÊNCIA DA LEI ESPECIAL. ORIENTAÇÃO PACIFICADA NO
ÂMBITO DO STJ. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. A controvérsia do presente recurso especial, submetido à sistemática do art. 543-C do
CPC e da Res. STJ n 8/2008, está limitada ao prazo prescricional em ação indenizatória
ajuizada contra a Fazenda Pública, em face da aparente antinomia do prazo trienal (art.
206, § 3º, V, do Código Civil) e o prazo quinquenal (art. 1º do Decreto 20.910/32). (...)
3. Entretanto, não obstante os judiciosos entendimentos apontados, o atual e consolidado
entendimento deste Tribunal Superior sobre o tema é no sentido da aplicação do prazo
prescricional quinquenal - previsto do Decreto 20.910/32 - nas ações indenizatórias
ajuizadas contra a Fazenda Pública, em detrimento do prazo trienal contido do Código Civil
de 2002.
4. O principal fundamento que autoriza tal afirmação decorre da natureza especial do
Decreto 20.910/32, que regula a prescrição, seja qual for a sua natureza, das pretensões
formuladas contra a Fazenda Pública, ao contrário da disposição prevista no Código Civil,
norma geral que regula o tema de maneira genérica, a qual não altera o caráter especial da
legislação, muito menos é capaz de determinar a sua revogação. Sobre o tema: Rui Stoco
("Tratado de Responsabilidade Civil". Editora Revista dos Tribunais, 7ª Ed. - São Paulo,
2007; págs. 207/208) e Lucas Rocha Furtado ("Curso de Direito Administrativo". Editora
Fórum, 2ª Ed. - Belo Horizonte, 2010; pág.1042).
5. A previsão contida no art. 10 do Decreto 20.910/32, por si só, não autoriza a afirmação
de que o prazo prescricional nas ações indenizatórias contra a Fazenda Pública foi reduzido
pelo Código Civil de 2002, a qual deve ser interpretada pelos critérios histórico e
hermenêutico. Nesse sentido: Marçal Justen Filho ("Curso de Direito Administrativo". Editora
Saraiva, 5ª Ed. - São Paulo, 2010; págs. 1.296/1.299). (...)
7. No caso concreto, a Corte a quo, ao julgar recurso contra sentença que reconheceu prazo
trienal em ação indenizatória ajuizada por particular em face do Município, corretamente
reformou a sentença para aplicar a prescrição quinquenal prevista no Decreto 20.910/32,
em manifesta sintonia com o entendimento desta Corte Superior sobre o tema.
8. Recurso especial não provido. Acórdão submetido ao regime do artigo 543-C, do CPC, e
da Resolução STJ 08/2008.
(REsp 1251993/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado
em 12/12/2012, DJe 19/12/2012)

Tal julgado torna falsa, assim, as alternativas “A”, “C” e “D”.

A questão remanescente seria: pode o juiz reconhecer de ofício esta


prescrição?

De acordo com o artigo 487, inciso II, do CPC, poderá o juiz conhecer, de
ofício, a prescrição:

Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz:


II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição;

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Aula 01

Contudo, o parágrafo único do referido artigo 487 estabelece a necessidade


do juiz ouvir as parte antes de reconhecer a prescrição, salvo em hipóteses de
improcedência liminar do pedido:

Parágrafo único. Ressalvada a hipótese do § 1o do art. 332, a prescrição e a decadência


não serão reconhecidas sem que antes seja dada às partes oportunidade de manifestar-se.

Assim, o juiz poderá sim conhecer de ofício a Prescrição, contudo, procura


o Código de Processo Civil franquear às partes que se manifestem acerca de
alguma causa de suspensão ou interrupção da prescrição que porventura possa
ter ocorrido.

Alternativa correta, letra “E”.

Questão 03 – FCC – Procurador do Estado – PGE/RN - 2014

Comentários

Os itens envolvem diversas questões acerca da prescrição aplicável à


Fazenda Pública. Analisemos um a um:

I – Item Falso. Conforme estudamos, mesmo após o Novo Código Civil, as


disposições do artigo 1º, do Decreto 20.910/32 subsistem aplicando-se o prazo
prescricional à Fazenda Pública de 05 (cinco) anos.

II – Item Falso. O Superior Tribunal de Justiça faz clara distinção quanto à


prescrição de parcelas de trato sucessivo e a prescrição do próprio fundo do
direito. Tal entendimento originou inclusive a Súmula 85:

Súmula 85 – STJ – DJ 02.07.1993. Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a


fazenda pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior
a propositura da ação.

III – Item Verdadeiro. Trata-se da expressa disposição do Artigo 4º, do Decreto


20.910/32. Atenção, contudo, ao disposto no parágrafo único do dispositivo:

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Art. 4º Não corre a prescrição durante a demora que, no estudo, ao reconhecimento ou no


pagamento da dívida, considerada líquida, tiverem as repartições ou funcionários
encarregados de estudar e apurá-la.
Parágrafo único. A suspensão da prescrição, neste caso, verificar-se-á pela entrada do
requerimento do titular do direito ou do credor nos livros ou protocolos das repartições
públicas, com designação do dia, mês e ano.

IV – Item Verdadeiro. Trata-se de expressa disposição da Súmula 383 do


Supremo Tribunal Federal:

Súmula 383, STF - A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois
anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

V – Item Falso. Conforme entendimento pacífico na doutrina (CUNHA, 2016, pg.


75):

O prazo de prescrição pode ser interrompido, suspenso ou renunciado. Já o prazo


decadencial não pode ser objeto de interrupção, suspensão ou renúncia. Realmente, a
decadência não tem seu prazo suspenso, interrompido, nem impedido, contrariamente ao
que ocorre com a prescrição.

Questão 04 – VUNESP – Advogado – DESENVOLVESP - 2014

Comentários

Alternativa Correta: Letra “B”.

Trata-se da expressa disposição da Súmula 383 do Supremo Tribunal


Federal:

Súmula 383, STF - A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois
anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

Questão 05 – PUC/PR – Procurador do Estado – PGE/PR - 2015

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Comentários

Conforme comentado na questão 02, o prazo prescricional das demandas


propostas em face da Fazenda Pública é quinquenal, nos termos do Decreto
20.910/32, não se aplicando o prazo trienal do Código Civil, tornando falsa a
alternativa “A”.

Por outro lado, também vimos na questão 02 que o juiz poderá sim
reconhecer a prescrição de ofício, nos termos do artigo 467, II, do CPC, tornando
falsa a alternativa “B”.

A alternativa “C” nos traz uma hipótese de relação de trato sucessivo, dada
a omissão da Administração ou a REDUÇÃO da remuneração do servidor. Temos,
portanto, que a prescrição não atinge o próprio fundo do direito – como pretendeu
a alternativa. Falso, portanto, o item.

Neste sentido:

SÚMULA 85 – STJ – DJ 02.07.1993 -Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a


fazenda pública figure como devedora, quando não tiver sido negado o próprio direito
reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas antes do qüinqüênio anterior
a propositura da ação.

A alternativa “D” foi considerada correta pela banca, mas nos traz um item
incompleto, eis que o prazo prescricional final não poderá ficar aquém dos cinco
anos inicialmente previstos, nos termos da Súmula 383, do STF:

Súmula 383, STF - A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois
anos e meio, a partir do ato interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos,
embora o titular do direito a interrompa durante a primeira metade do prazo.

Já a alternativa “E” está falsa por contrariar o disposto no artigo 192 do


Código Civil:

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Art. 192. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes.

Questão 06 – FCC – Procurador do Estado – PGE/PR - 2014

Comentários

Alternativa Correta: Letra “A”.

Ao sentenciar o processo, o juiz do caso expressamente consignou que a


sentença era ilíquida: “O Juízo julgou procedentes os pedidos e determinou que
o valor da indenização fosse obtido em liquidação de sentença”.

Segundo a Súmula 490 do STJ (editada antes do Novo Código de Processo


Civil):

Súmula 490 – STJ - A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou


do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças
ilíquidas.

Assim, não caberia a remessa necessária no caso em epígrafe, por se tratar


de sentença ilíquida. Ressalte-se que, conforme pontuado em nossa aula, o
entendimento da referida súmula deve ser mantido, alterando-se, contudo, os
limites legais para os previstos no parágrafo 3º, do artigo 496, do Novo CPC.

Questão 07 – CESPE – Procurador do Estado – PGE/PI - 2014

Comentários

Alternativa Correta: Letra “B”.

De acordo com o enunciado da questão: “Sobreveio a sentença de extinção


do processo por ilegitimidade ativa ad causam. A apelação interposta pelo estado
foi intempestiva”.

Ora, a ilegitimidade ativa ad causam, é causa de extinção do processo sem


resolução do mérito. Temos, portanto, uma hipótese de sentença terminativa.

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Aula 01

Conforme disposto na página 38 da nossa Aula 01, segundo o STJ, em


sentenças que não se resolve o mérito da demanda não há uma decisão contra
a Fazenda Pública, não se justificando o reexame da matéria pelo tribunal, eis
que só há remessa necessária se a sentença for de mérito e contrária ao Poder
Público.

Nem mesmo a condenação em honorários advocatícios oriundos de


tal extinção do processo sem resolução do mérito serão passíveis de
gerar a remessa necessária. Isto porque, no entender do STJ, o ônus
sucumbencial decorre do princípio da causalidade.

Neste sentido:

PROCESSUAL CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. ART. 475, INCISO I, DO CPC. SENTENÇA QUE
EXTINGUE O PROCESSO SEM JULGAMENTO DE MÉRITO E CONDENA A FAZENDA NACIONAL
AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. INAPLICABILIDADE.
1. Não está sujeita ao reexame necessário (art. 475 do CPC) a sentença que extingue o
processo sem julgamento de mérito. Precedentes.
2. A condenação da Fazenda Nacional ao pagamento de honorários advocatícios em
sentença extintiva do processo, sem julgamento de mérito, não tem o condão de impor a
observância à remessa necessária. O ônus sucumbencial decorre do princípio da
causalidade. O duplo grau obrigatório é proteção que se destina a conferir maior segurança
aos julgamentos de mérito desfavoráveis à Fazenda Pública. REsp 640.651/RJ, Min. Castro
Meira, Segunda Turma, DJ 7.11.2005.
3. Agravo Regimental não provido.
(AgRg no AREsp 335.868/CE, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado
em 05/11/2013, DJe 09/12/2013)

Questão 08 – CESPE – Procurador do Município – PGM – Salvador/BA -


2015

Comentários

Item Falso.

Dispõe o inciso II, do artigo 496, do CPC que estará sujeita à remessa
necessária a sentença que julgar procedentes, no todo ou em parte, os embargos
à execução fiscal.

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Aula 01

Em que pese críticas de parte da doutrina, o entendimento do Superior


Tribunal de Justiça é no sentido de que apenas os Embargos à Execução Fiscal
estão abrangidos pelo conceito legal.

Assim, não há que se falar em remessa necessária quanto à sentenças


proferidas em embargos à execução de título judicial (hipótese da questão).
Neste sentido:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. NÃO CABIMENTO DE


REEXAME NECESSÁRIO.
1. Nos termos do art. 475, II, do CPC, é cabível reexame necessário quando se tratar de
embargos propostos em execução de dívida ativa.
2. Não cabe recurso de ofício contra a sentença proferida em embargos à execução de título
judicial. Precedentes.
3. Recurso especial a que se nega provimento.
(REsp 1467426/SP, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
10/03/2015, DJe 18/03/2015)

Questão 09 - VUNESP – Procurador – PGM/SP - 2014

Comentários

Alternativa Correta: Letra “A”.

A intervenção anômala da Fazenda Pública prevista no artigo 5º, da Lei


9.469/97 dispõe sobre hipótese em que o ente público não precisa demonstrar
interesse jurídico para ingressar no feito (tornando falsa a letra “B”)

Tal intervenção não depende da anuência das partes e se dá por simples


petição nos autos (tornando falsas as letras “C” e “D”.

Por fim, atenção às palavras utilizadas pela alternativa “E”. Segundo este
item, é imprescindível (indispensável) que a pessoa jurídica de direito público
demonstre que seria parte legítima para figurar na demanda como autora ou ré
(interesse jurídico).

Trata-se de item falso e que diz o oposto da alternativa “A” (verdadeira),


eis que nos termos do artigo 5º, da Lei 9.469/97:

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Aula 01

Art. 5º A União poderá intervir nas causas em que figurarem, como autoras ou rés,
autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas
federais.
Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja
decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir,
independentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer
questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados
úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de
deslocamento de competência, serão consideradas partes.

Questão 10 – FCC – Juiz do Trabalho – TRT 18ª Região - 2012

Comentários

Alternativa correta: Letra “C”.

Conforme discutido em nossa Aula 01, a remessa necessária possui no


Tribunal rito similar ao Recurso de Apelação. Com tal ideia em mente, temos que
a remessa necessária:

a) Não admite agravar a condenação imposta à Fazenda Pública;

Súmula 45 – STJ - No reexame necessário é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação


imposta à Fazenda Pública.

b) Devolve ao Tribunal o reexame inclusive dos Honorários Advocatícios:

Súmula 325 – STJ - A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas
da condenação suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado.

c) é admissível para o Tribunal rever sentença ilíquida proferida contra a


Fazenda Pública.

Súmula 490 – STJ - A dispensa de reexame necessário, quando o valor da condenação ou


do direito controvertido for inferior a sessenta salários mínimos, não se aplica a sentenças
ilíquidas.

d) Comporta julgamento unipessoal do Relator (tal qual o Recurso de Apelação


em alguns casos), conforme pontuado por Leonardo Cunha (2016, pg.
193):

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A remessa necessária pode ser julgada apenas pelo relator, se configurada uma das
hipóteses relacionadas no art. 932, IV e V (Súmula 253 do STJ). O enunciado 253 da Súmula
do STJ menciona o art. 557, pois este era o dispositivo equivalente ao atual art. 932.
Mantém-se o enunciado sumular, com a ressalva do número do dispositivo.

e) Aplica-se aos entes integrantes da Fazenda Pública, inclusive as fundações


de direito público. Neste sentido:

PROCESSO CIVIL. REEXAME NECESSÁRIO. SENTENÇA ILÍQUIDA. A sentença ilíquida


proferida contra a União, o Estado, o Distrito Federal, o Município e as respectivas
autarquias e fundações de direito público está sujeita ao duplo grau de jurisdição,
não produzindo efeito senão depois de confirmada pelo tribunal; a exceção contemplada no
§ 2º do art. 475 do Código de Processo Civil supõe, primeiro, que a condenação ou o direito
controvertido tenham valor certo e, segundo, que o respectivo montante não exceda de 60
(sessenta) salários mínimos. Recurso especial provido.
(REsp 1300505/PA, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, PRIMEIRA TURMA, julgado em
21/08/2014, DJe 01/09/2014)

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8 - Considerações Finais

Chegamos ao final de mais uma aula!

Espero que vocês tenham gostado! Quaisquer dúvidas, estou às ordens nos
canais do curso e nos seguintes contatos:

profigormaciel@gmail.com

@ProfIgorMaciel

Aguardo vocês na próxima aula.

Grande abraço e até lá!

Igor Maciel

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