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LEITURA DE PORTFÓLIO

PARTE I
Conteudista
Prof. Me. Cesar Luis Mulati
Desde que surgiu, na primeira metade do século XIX, a Fotografia vem
despertando e aguçando diferentes “olhares”; para alguns, um oficio
profissional, uma forma de expressão e manifestação do pensamento, um
processo de criação, de arte; para outros, apenas um registro documental de
momentos especiais, um hobby, uma diversão, que as vezes levado tão a
sério, acaba se tornando uma das opções anteriores. A verdade é que, desde
que as primeiras imagens começaram a ser registradas pelas câmeras
escuras, nos mais variados e pitorescos suportes, como a lamina de prata
sensibilizada com vapor de iodo (Daguerreotipo) ou a chapa de vidro úmida
(Colodio), até os nossos dias em pleno universo digital, onde os pixels se
elevam e se multiplicam em megapixels e registram tudo e todos nos quatro
cantos do planeta, o homem nunca mais deixou de registrar o que seus olhos
veem, e que ate a chegada desse meio mecânico de captura de imagens,
dependia do desenho, da pintura, da escultura para existir.

Como já se vão quase duzentos anos das primeiras imagens registradas


por Niepce, Daguerre, Florence, Talbot e tantos outros, de lá para cá tivemos o
surgimento de inúmeros nomes de destaque na fotografia, divididos em
diferentes gêneros como o Fotojornalismo, a Fotografia de Documentação
Social, a Publicidade, a Arte, a Moda, a Arquitetura, a Natureza, a Cientifica, o
Retrato, e se detalharmos ainda mais essa classificação, poderíamos listar
dezenas de outros tipos. Seria impossível, diante disso, fazermos um inventário
de todos os nomes da fotografia que contribuíram ou continuam contribuindo
para a evolução da mesma, sem com isso ocuparmos aqui o espaço de uma
enciclopédia, certamente distribuída em diversos volumes. Há nomes
importantes em todos os segmentos onde uma maquina fotográfica foi utilizada
para recortar e eternizar uma cena, um momento, tendo sempre atrás de si,
olhos e mentes atentos, críticos, ousados, curiosos e inovadores.

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Apesar da fotografia não depender essencialmente da mão do fotógrafo,
como a pintura depende da mão do pintor, cuja pincelada jamais pode ser
reproduzida fielmente e sempre é a sua própria interpretação da “cousa” e não
o registro fiel da mesma, a fotografia nasce do olhar do homem, que busca na
cena observada, o momento exato e instantâneo, para autorizar que a luz
penetre pela câmera escura e grave, em um suporte qualquer, hoje quase
sempre digital, a imagem real que tem a sua frente.

Mas, mesmo não sendo possível listar um a um todos os nomes que


compõem essa jovem e complexa história da fotografia, vamos tentar nesse
pequeno espaço que dispomos na disciplina “ Leitura de Portfolio”, conhecer
alguns nomes que conferiram à fotografia o status que ela dispõem hoje no
universo da comunicação e das artes. Essa proposta vem de encontro com a
convicção de que um dos melhores e mais eficientes caminhos para o
conhecimento e a compreensão do fazer fotográfico é, antes de qualquer
iniciativa pessoal e particular, a pesquisa e o estudo dos grandes mestres, dos
grandes fotógrafos, aqueles que com certeza por esse mesmo meio,
desenvolveram sua própria linguagem e construíram sua identidade fotográfica.

Por se tratar de uma rápida visita na obra de alguns fotógrafos


importantes, “Leitura de Portfolio” não devera seguir uma sistemática
cronológica ou classificatória rigorosa na eleição dos nomes, desprendendo
muito mais atenção a importância de determinados olhares, do que do
momento ou do local onde os mesmos aconteceram. O objetivo é que ao
término desse pequeno levantamento, possamos concluir que não há somente
uma forma de ver e registrar o mundo, mas diferentes maneiras, infinitas
possibilidade de gerar imagens capazes de traçar o “DNA” do planeta e de seu
mais ilustre habitante, o homem.

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Inaugurando essa galeria de mestres da fotografia, resgatamos aqui o
trabalho de um fotógrafo que tinha na música sua paixão, mas que acabou
encontrando na fotografia sua real criação, quando por volta de 1927 publicou
seu primeiro álbum de fotografias onde procurava imitar a pintura
impressionista, mediante a supressão de detalhes em favor de efeitos suaves,
muitas vezes obtidos no laboratório. Para Ansel Adams (1902-1984), fotógrafo
norte-americano nascido em São Francisco, Califórnia, a paisagem natural não
era uma escultura fixa e sólida, mas uma imagem insubstancial, tão mutável
como a luz que continuamente a redefine. Seu conceito sobre imagem acabou
levando-o a criar a famosa técnica para a fotografia em preto e branco
conhecida como “Zone System”, ou sistema de zonas, método que
predeterminava com precisão o tom de cada parte da cena fotografada na
cópia final, o que originava uma fotografia em preto e branco com todos os tons
de cinzas possíveis registrados no momento da exposição do filme. Ansel
Adams é, e sempre será, referência para qualquer fotógrafo que se identifique
com a fotografia em PB.

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ANSEL ADAMS: Grand Teton National Park, Wyoming, EUA, in
http://www.historyplace.com/unitedstates/adams/index.html, acessado em 7 de
maio de 2013.

ANSEL ADAMS: Glacier National Park, Montana, EUA, in


http://www.historyplace.com/unitedstates/adams/index.html, acessado em 7 de
maio de 2013.

Se para Ansel Adams o segredo da fotografia está no rigoroso controle


dos claros e escuros, para alguns fotografos o que lhes propicia a construçao
de uma linguagem propria dentro de seu trabalho é, por exemplo, o uso de
“maquinas de mão”, como foram chamadas as primeiras maquinas de pequeno
formato, que possibilitavam uma fotografia mais rapida e independente.

André Kertész, fotógrafo nascido na Hungria em 1894 e falecido em


1985, em Nova Iorque, é considerado um dos pioneiros no uso dessas
pequenas cameras, sendo talvez um dos fotografos que mais descobriu e
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demonstrou a estetica especial desse tipo de equipamento. Kertész nunca se
interessou em buscar com suas imagens a verdade épica, mas sim a lírica,
aquela capaz de revelar o detalhe inesperado, o momento fugaz, a visao
elíptica. Adorava a relaçao entre desenho e profundidade espacial,
tansformando sua fotografia em uma especie de trampolim visual, tensa e
elastica. Alem dessa preocupaçao formal com a imagem, podemos observar
em suas fotos uma atençao ao sentido da docura da vida, do prazer livre e
inocente ante a beleza do mundo , a maravilha que é o ato de viver. Seu
principal trabalho “Distorçoes”, traz imagens de corpos distorcidos com
membros agigantados que parecem de mateiral flexivel, que se tranformam
numa escultura humana, transformando o banal em arte.

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http://lounge.obviousmag.org/por_tras_do_espelho/2012/07/as-distorcoes-de-
andre-kertesz.html

E como toda grande obra está sempre a serviço da formação de novos


mestres, a de Kertész influenciou diretamente o surgimento de outro grande
nome da fotografia, Brassai, que depois de estudar artes nas academias de
Budapeste e Berlim, foi para Paris em meados de 1920 onde começou a
frequentar as rodas de artistas e escritores, o que lhe inspirou se tornar um
fotógrafo genuinamente urbano, apaixonado pelo movimento, pelas faces
desavisadas e pelos passos errantes nas ruas da cidade. Apaixonado pelas
imagens noturnas da cidade resolvia os problemas de iluminação das mais
variadas formas, muitas vezes armando sua câmera em um tripé e abrindo o
obturador no momento exato em que disparava uma lâmpada de magnésio. Se
a qualidade de sua iluminação não condizia com a dos locais onde tirava suas
fotografias, tanto melhor para Brassai, pois elas saiam mais diretas,
impiedosas, explicitas e consoantes. Ainda que Bressai tenha fotografado
diversas personalidades francesas no começo do século XX, seu livro “Paris
de Nuit”, um retrato poético da Paris noturna dos anos 20,o consagrou
definitivamente um mestre da fotografia urbana.

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http://obviousmag.org/sphere/2012/12/as-fotografias-de-george-brassai.html

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Falar da França sem lembrar a obra de Eugene Atget, nascido em 1857,
em Libourne, perto de Bordeaux, e morto em 1927, seria um pecado. Depois
de ter sido marinheiro, trabalhado em teatro e experimentado a pintura, Atget
iniciou aos 40 anos sua verdadeira vocação, a fotografia. Não era um fotografo
propenso a experimentações, não fundou nenhum movimento, nem atraiu uma
legião de adeptos; pelo contrario, trabalhou pacientemente com técnicas
obsoletas e quase anacrônicas no fim de sua vida. Porem, através de seu
trabalho, criou um grande catalogo visual dos legados da cultura francesa no
primeiro quarto do século XX, gerando imagens sedutoras, ardilosamente
simples, integralmente equilibradas, reticentes, repletas de experiência,
misteriosas e verídicas.

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http://www.atgetphotography.com/The-Photographers/Eugene-Atget.html

Parece redundante dizer que fotografia é questão de visão e intuição,


mas poucos fotógrafos conseguiram ter isso tão claro como Edward Weston,
nascido nos EUA em 1886 e morto em 1958. Até aos 45 anos de idade havia
produzido uma obra que iria identifica-lo como um artista de grande porte, dono
de um conceito capaz de mudar a nossa concepção do mundo e da vida. Para
Weston, as coisas do dia a dia se transformavam em esculturas orgânicas,
cujas formas eram ao mesmo tempo expressão e justificativa da vida que
abrigavam. Conseguiu a façanha de libertar seus olhos da expectativa
convencional, do comum, e ensinou-os a perceber a intencionalidade que
reside na forma natural, indo além do objeto, transcendendo a mera realidade,
conseguindo com isso conferir uma excitante força visual a sua obra. Diante de
suas fotografias, temos nossa imaginação ampliada, aguçada, provocada para
diferentes leituras que transcendem o próprio objeto fotografado.

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http://www.edward-weston.com/

Impossível citar Weston e não falar de Alfred Stieglitz fotografo


americano nascido em 1864 e morto em 1946, amante da arte moderna e que
durante toda sua vida, lutou para que a fotografia fosse reconhecida como arte
tanto quanto a pintura ou a escultura. Inicialmente seu trabalho teve um cunho
essencialmente pictural, sendo posteriormente focado em profundidade sobre
alguns assuntos, inclusive Nova Iorque, os estudos em nuvens e uma serie de
retratos de sua esposa, a pintora Gerogia O’Keeffe.

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http://www.getty.edu/art/gettyguide/artMakerDetails?maker=1851&page=3

Apesar de Irving Penn, fotografo norte americano nascido em 1917 e


morto em 2009, ter revolucionado com seu olhar um sem-número de gêneros
fotograficos, foi na fotografia de moda que ele deixou definitivamente sua
marca impressa, sendo hoje uma referência indispensavel para aqueles que
trabalham nessa área. Embora seu formalismo va contra muitos dos
experimentalismos da vanguarda de sua epoca, ainda que em muitas fotos o
cultivo da pose remeta à foto de moda das decadas de 20 e30, seu
minimalismo e despojamento inserem-no claramente na contemporaneidade
que ele mesmo ajudou a criar. Sem dar importancia a cenarios elaborados e
efeitos fantásticos, o olhar de Penn concentra-se no essencial, na pose, onde
está a sua historia, confirmando assim o carater essencial da fotografia: olhar
do fotógrafo.

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http://oseculoprodigioso.blogspot.com.br/2006/01/penn-irving-fotografia.html

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Bibliografia

PAIVA, Joaquim. Olhares Refletidos – Dialogo com 25 fotógrafos brasileiros.


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SALGADO, Sebastião. Portfolio. Photo Poche, 1993.

SALGADO, Sebastião. Retratos de Crianças do Êxodos. São Paulo: Cia. Das


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PERSICHETI, Simoneta. Imagens da Fotografia Brasileira – vls. 1 e 2. SP:


Editora Senac/Estação Liberdade.

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Museum of Modern Art, New York: publicado para o Museu de Arte Moderna de
São Paulo, São Paulo, 1999.

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Editora Senac/Estação Liberdade.

BRIL, Stefania. Notas, 1987

FABRIS, Annateresa. FOTOGRAFIA -Usos e Funções no seculo XIX. Edusp,


1991.

Great Photographers: Time Life, 1971

HEDGECOE, John. O Novo Livro da Fotografia: Ed. Livros e Livros.

NEWHALL, Beaumont. Historia de la fotografia: Gustavo Gilli, Barcelona,1983

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos – A fotografia e as exposiçoes na era


do espetaculo: Funarte/MC/Rocco, 1995

PHOTOFILE - coleção de livros sobre os principais fotógrafos: THAMES AND


UDSON

Fotógrafos:
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- Brassai

- Eugene Atge

-W. Eugene Smith

- Jacques Henri Lartigue

- Helmut Newton

- Duane Michals

- Bruce Davidson

- Man Ray

- Sebastião Salgado

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