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CARNEIRO, Dionísio Dias; MODIANO, Eduardo.

“Ajuste externo e desequilíbrio


interno: 1980-1984”. (pp. 323-344).

“1. Introdução” (p. 323).

O autor inicia o seu texto afirmando que a duplicação dos preços do petróleo
e a elevação das taxas de juros internacionais no início da década de 80 dificultaram
o processo de ajuste da oferta doméstica, que vinha sendo feita desde a segunda
metade da década anterior.

Nesse momento foram sentidos os primeiros sinais da escassez de


financiamento externo. Nesse período as políticas macroeconômicas foram ditadas
pela disponibilidade de financiamento externo. Entretanto, apesar da escassez de
recursos, “a exploração de petróleo, a substituição de energia na indústria e no
transporte, a substituição de importações de insumos básicos e nas atividades
voltadas para a exportação não só prosseguiram como foram incluídos na lista de
prioridades do terceiro Plano Nacional de Desenvolvimento (III PND).” (p. 324).

Há um aumento volumoso de privatização devido às preocupações com a


base monetária, junto com a elevação das taxas de juros interna que pretendia
induzir a captação de recursos do exterior (empréstimos).

“2. Recessão sem Fundo: 1981” (p. 324).

“A política macroeconômica que prevaleceu em 1981 e 1982 foi basicamente


direcionada para a redução das necessidades de divisas estrangeiras através do
controle da absorção interna” (p. 324-325). O objetivo dessa política seria o de
reduzir a demanda interna e as importações, e estimular as exportações.

“A política a ser seguida baseava-se na contenção salarial, no controle de


gastos do governo e no aumento da arrecadação, na elevação das taxas de juros
internas e na contração da liquidez real, sem abrir mão do tratamento especial dado
às atividades de exportação, energia e agricultura e às pequenas empresas” (p.
325).

As exportações aumentaram, as importações diminuíram. “Nestas condições,


a captação externa de recursos elevou em 14% a dívida de médio e longo prazos e
permitiu ainda um aumento das reservas cambiais de US$ 600 milhões” (p. 327).
O país passava por uma grande recessão, cuja funcionalidade era
questionada até pelas forças conservadoras.

Os autores, baseando-se em outras obras, apontam dois possíveis motivos


para a recessão verificada nesse período. Uma explicação é a de que ela estaria
vinculada a “combinação do aumento das taxas de empréstimos das financeiras em
fins de 1980 com a redução dos prazos de financiamento do crédito direto ao
consumidor de meados de 1979 e a mudança da política salarial de dezembro de
1980, em detrimento das faixas de renda mais altas” (p. 327). Outra explicação seria
a de que a recessão de 1981 era devida a “uma reversão natural do movimento de
antecipação de consumo de bens duráveis em 1980, induzido pela pré-fixação da
correção monetária pelo tabelamento de juros vigentes naquele ano” (p. 327).

Questiona-se, enfim, o motivo pelo qual o governo não recorreu ao FMI, para
os autores, o motivo seria que o governo não queria se mostrar fraco, o que abalaria
o fraco suporte político do governo.

“3. Da Recessão ao Fundo: 1982” (p. 328).

Já no segundo ano da política econômica, o país não conseguiu produzir um


superávit comercial, devido a pelo menos três fatores: a recessão mundial, o
“comportamento defensivo dos dirigentes das economias centrais” (p. 328) e a
dificuldade de “importar de alguns dos novos consumidores de manufaturas
brasileiras” (p. 328).

Os autores apontam que um dos motivos do governo não recorrer ao FMI era
devido às eleições para o primeiro governante civil após a ditadura, segundo eles, o
governo não queria que isso se tornasse item da campanha eleitoral.

“As frustrações com relação ao ajustamento externo, a falta de progresso nas


condições internas e as incertezas quanto às perspectivas futuras da economia
desempenharam um papel importante na derrota do partido do governo nas eleições
de novembro, apesar deste ter mantido a questão controversa da supervisão do FMI
fora da campanha. A renegociação da dívida externa era a questão predileta dos
partidos da oposição durante esta campanha eleitoral, e permaneceu em voga até
as eleições presidenciais, dois anos depois” (pp. 329-330).

Em novembro, foi feito o anúncio de um projeto que envolvia quatro pontos


que seriam submetidos ao FMI, e que tinha obtido um acordo formal com os bancos
privados. Esse projeto “definiu um novo modelo para as negociações da dívida
externa brasileira” (p. 330). As políticas macroeconômicas passaram a ser definidas
tomando como base o crivo do FMI.

“A economia brasileira ficou praticamente estagnada em 1982, com um


crescimento real do PIB de apenas 1,1% (...) A taxa de inflação em 1982 também
não se modificou em relação ao ano anterior. A variação em 12 meses do IGP-DI
acumulou 100% no final de 1982” (p. 330).

“4. O Fundo da Recessão: 1983” (p. 330).

A partir deste ponto, os autores passam a tratar das cartas de intenção que o
governo brasileiro passou a submeter ao FMI. A primeira de sete foi submetida em
06 de janeiro de 1983. Os autores apontam que essa quantidade de cartas era uma
constante troca de metas e normas, e revelava a dificuldade de “adaptar o
receituário da instituição a uma economia em desenvolvimento” (p. 331). Uma
economia nacional em que de 30 a 50% dos investimentos eram de
responsabilidade do setor público, que intervia até no setor privado devido a
“administração de importantes fundos compulsórios de poupança” (p. 331).

Houve metas externas e internas a serem alcançadas. Dentre as metas


internas estava: a fixação da taxa de inflação em 78%, com a contração dos gastos
do governo, “reduções drásticas nos gastos das empresas estatais, de tal forma que
as restrições às importações afetariam o setor público mais intensamente que o
setor privado” (p. 331).

Os autores apontam que o governo pretendeu fazer “uma aceleração


compensatória da inflação (...) [e] uma desindexação parcial dos salários” (p. 332).
Isso provocou uma perda de 15% do poder de compra ao longo de 1983.

“Uma combinação de fatores tais como a recessão interna, a queda do salário


real, a desvalorização cambial, as quedas do preço internacional do petróleo e da
taxa de juros, e a recuperação da economia norte-americana, que se fortaleceu
durante a segunda metade do ano, contribuiu para o cumprimento de praticamente
todas as metas relacionadas com as contas externas em 1983” (p. 332). Entretanto,
“o Brasil acumulou atrasos de pagamentos da ordem de US$23 bilhões” (p. 332),
pois a entrada líquida de capitais estimada não se concretizou.
Houve uma queda que superou as expectativas com relação às importações,
isso ocorreu graças à queda no “preço internacional do petróleo, aos controles
diretos, à contração da demanda induzida pela recessão, além da substituição de
longo prazo permitida pela entrada em operação de vários projetos novos
desenvolvidos no âmbito do programa de investimentos pós-1975” (p. 333). Os
autores ainda indicam que a renda e a “maior produção doméstica” (p. 333) foram
responsáveis pela diminuição das importações.

Ainda, o sucesso externo se fez a partir de negociações complexas com o


FMI sobre os ajustes internos, e o que mais dificultava nesse ponto era a inflação.
Dois fatores foram responsáveis por não se ter sucesso em 1983 para se reduzir a
inflação: “a maxidesvalorização do cruzeiro e a elevação dos preços agrícolas” (p.
333). Sobre os preços agrícolas, o país havia exportado o que não dispunha, e,
agora, faltava internamente. Além de prejuízos climáticos, como enchentes no sul e
secas no nordeste.

A taxa anual projetada pelo governo para inflação ficou desacreditada e o FMI
suspendeu o empréstimo de US$ 2 bilhões.

Uma nova carta de intenções é enviada ao FMI em novembro de 1983, a


quarta. O cerne era ajustar as finanças públicas com cortes significativos nas
despesas de capital das empresas estatais.

Sobre as áreas que foram atingidas devido à recessão de 1983, pode-se


destacar: os setores dinâmicos da indústria “tais como minerais não-metálicos,
mecânica, material elétrico e de comunicação, material de transporte, metalurgia e
química, embora setores menos dinâmicos, tais como têxtil, produtos alimentares,
vestuário e bebidas” (p. 336).

Em fins de 1983, setores mais conservadores defendiam o sucateamento da


indústria brasileira, “argumentavam que a industrialização durante o final da década
de 70 fora promovida artificialmente pela tecnocracia brasileira sem qualquer
consideração por preços relativos ou vantagens comparativas” (p. 336). Entretanto,
no início do ano de 1984, devido às exportações, os setores mais artificiais da
indústria brasileira, tiveram um crescimento vigoroso.

“5. Com o Fundo sem Recessão: 1984” (p. 337).


“Em 1984, pela primeira vez desde 1979, a restrição externa da economia
brasileira mostrou sinais de relaxamento” (p. 337). O vigor da recuperação norte-
americana é apontado como um dos primeiros fatores para esse relaxamento. O
“FMI atendeu ao pedido brasileiro de novo waiver” (p. 337).

Uma nova carta de intenções foi enviada ao FMI em março de 1984, e vigorou
pelo prazo recorde de seis meses. Entretanto, como se baseava em uma queda da
taxa de inflação não alcançada, em setembro de 1984, enviou-se a sexta carta de
intenções ao FMI.

“A recuperação foi liderada pelas indústrias mecânica, metalúrgica e química”


(p. 338). No segundo semestre do ano as despesas com consumo também subiram
“graças à recomposição da renda rural e da classe média urbana” (p. 338).

Houve, também, a recuperação das lavouras. Entretanto, os preços agrícolas


ainda estavam dependentes da inércia inflacionária.

“A generalização do entendimento do caráter inercial da inflação suscitou o


aparecimento de sugestões de políticas visando à redução do nível de indexação da
economia brasileira” (p. 340).

Entre as que se destacaram estão a da “moeda indexada” de Arida e


Resende (1985) e do “choque heterodoxo” de Lopes (1984)” (p. 340).

A primeira defendia indexar plenamente a economia através da criação de


uma moeda paralela que fosse corrigida mensalmente de acordo com a inflação,
com a estabilidade e a credibilidade da nova moeda, induziria a conversão para
nova moeda sem nova reindexação. A segunda defendia “a eliminação imediata e
total de todas as regras formais de repasse da inflação passada e o congelamento
temporário dos preços, dos salários e da taxa de câmbio” (p. 340).

A inflação acelerou no fim do ano de 1984 devido às estimativas pessimistas


sobre a safra de alimentos para o ano de 1985, à remarcação dos bens duráveis de
consumo, e aos “efeitos sobre os custos industriais dos reajustes salariais maiores e
mais freqüentes” (p. 341).

Os últimos apontamentos são: a recuperação do saldo de conta corrente do


balanço de pagamentos e o crescimento moderado da dívida externa.
Algumas teses sobre o ajustamento externo da balança de pagamentos foram
comprovadas: a importância das exportações para um ajustamento não-recessivo,
“o endividamento externo explosivo em condições normais de comércio
internacional” (p. 341) faz encolher a “capacidade produtiva existente” (p. 341), as
estratégias de longo prazo estavam pagando dividendos.

As novas perspectivas de crescimento da economia brasileira fizeram com


que se alterassem os padrões de negociação com o FMI. Uma sétima carta de
intenções foi enviada, mas, foi rejeitada pelo FMI, que postergou as negociações até
a posse do novo governo em março de 1985.

“6. Conclusões” (p. 342).

Para os autores, o ajustamento externo da economia brasileira empreendido


durante esses quatro anos foi bem sucedido, no sentido “estrutural”. Entretanto,
houve “excessiva tolerância ou complacência passiva” (p. 344) com relação aos
desequilíbrios internos, “notadamente as elevadas taxas de inflação” (p. 344).

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