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florestais degradados
Laís Santos de Assis, Marina Campos e Vanessa Jó Girão (org.)
Manejo de fragmentos
florestais degradados
REALIZAÇÃO AUTORES
Fundação José Pedro de Oliveira (FJPO) • Alessandra dos Santos Penha
The Nature Conservancy (TNC) • Ana Paula Liboni
• Andréia Alves Rezende
ORGANIZADORES • Berta Lúcia Pereira Villagra
• Laís Santos de Assis • Cinthia Montibeller
• Marina Campos • Cristina Yuri Vidal
• Vanessa Jó Girão • Débora Cristina Rother
• Fabiano Turini Farah
FICHA CATALOGRÁFICA
Bibliografia: p. 147-171
ISBN 978-85-60797-32-5
CDD 333.75
PARCEIROS
PALAVRA FJPO
E
sta publicação reforça o papel institucional da Fun-
dação José Pedro de Oliveira (FJPO), cuja missão é
promover a conservação e a recuperação da nature-
za, a produção de conhecimento e a educação am-
biental na região de Campinas. Criada em 1981, com o ob-
jetivo de administrar a Área de Relevante Interesse Ecoló-
gico Mata de Santa Genebra, o maior fragmento florestal
da Região Metropolitana de Campinas, hoje, a FJPO vem se
consolidando como referência na gestão de áreas protegi-
das, principalmente na prática de manejo e recuperação de
fragmentos florestais.
Fruto de várias discussões realizadas entre técnicos da FJPO
e da The Nature Conservancy com especialistas e pesquisado-
res da Biologia da Conservação, esta publicação aborda ques-
tões fundamentais para a realização do manejo de fragmen-
tos florestais, que vão desde aspectos teóricos até ferramentas
práticas de manejo, como a legislação, a fragmentação de ha-
bitat, os diagnósticos ambientais, a fitossociologia, o manejo
de trepadeiras e os métodos de restauração.
Este documento será uma ferramenta importante de plane-
jamento e gestão de áreas protegidas e contribuirá para o di-
recionamento e o aprimoramento da tomada de decisões dos
órgãos gestores, sejam eles públicos, privados ou do terceiro
setor, visando à melhoria da qualidade ambiental dos frag-
mentos florestais, bem como das estratégias de conservação.
Assim, espera-se que as informações dispostas neste livro
Manejo de fragmentos florestais degradados possibilitem uma
gestão mais efetiva das áreas protegidas e contribuam para o
desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao manejo e
à conservação dos fragmentos florestais.
Boa leitura!
Rubens Benini
Gerente da Estratégia de Restauração
The Nature Conservancy
APRESENTAÇÃO
E
m 2013, iniciou-se um diálogo nicípio de Campinas/SP. Seus 251,77 ha
entre a equipe técnica da Fun- têm 9 km de perímetro. O efeito de bor-
dação José Pedro de Oliveira da, as áreas com predomínio de trepadei-
(FJPO), órgão gestor da Área de ras hiperabundantes e o isolamento tor-
Relevante Interesse Ecológico Mata de nam-se grandes problemas para a ma-
Santa Genebra (ARIE MSG), e outros ges- nutenção das funções ecológicas desse
tores de parques e unidades de conser- remanescente florestal. Desde 2001, pro-
vação sobre o manejo de trepadeiras em jetos de restauração têm sido implan-
fragmentos florestais, notando-se que se tados na ARIE MSG, consistindo no ma-
tratava de uma preocupação recorrente nejo de trepadeiras concomitantemen-
e com pouco amparo técnico e científi- te com o plantio de mudas de espécies
co. Diante da notícia de estudos recen- arbóreas nativas, tendo em vista a recu-
tes sobre manejo florestal, foram pro- peração de sua estrutura e de suas fun-
curados os pesquisadores da Escola Su- ções ecológicas.
perior de Agricultura Luiz de Queiroz Com o objetivo de aproveitar a ex-
da Universidade de São Paulo (ESALQ/ periência adquirida nesses projetos de
USP) que desenvolvem essas pesquisas restauração e diante das lacunas sobre
e, posteriormente, outras instituições,1 o tema, em 2013, foi realizado o I Semi-
como ONGs e setores governamentais, nário “Manejo de Lianas em Fragmen-
e identificou-se a necessidade de reu- tos Florestais”, organizado pela FJPO em
nir o conhecimento atual sobre o tema parceria com o Laboratório de Silvicul-
e aplicá-lo aos desafios reais de manejo, tura Tropical da ESALQ/USP. Esse even-
a fim de diminuir a lacuna entre a pes- to reuniu especialistas de várias institui-
quisa e as tomadas de decisão. ções com os objetivos de compartilhar
A ARIE MSG é um fragmento de Flo- as experiências em projetos correlatos e
resta Estacional Semidecidual (FES) do discutir metodologias de manejo de tre-
bioma Mata Atlântica situado no mu- padeiras hiperabundantes em áreas de-
1 Universidade Federal de São Carlos (UFSCar Araras); Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (USP, Pi-
racicaba); Universidade Estadual Paulista; Universidade Federal da Fronteira do Sul; Laboratório da Biologia da
Conservação da Universidade Estadual Paulista); Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo; Laborató-
rio de Ecologia Espacial e Conservação; Laboratório de Silvicultura Tropical da Universidade de São Paulo.
11
SUMÁRIO
18 1 ASPECTOS LEGAIS
DO MANEJO DE
36 2.3 A fragmentação de habitat
e a ecologia de paisagens
FRAGMENTOS
FLORESTAIS PARA 41 2.4 Aplicações em
CONSERVAÇÃO E
ecologia de paisagens:
RESTAURAÇÃO
estratégias de manejo
76 4 CONSERVAÇÃO
DE TREPADEIRAS
93 4.3.4 Distribuição diamétrica
U
m reflexo direto do cresci-
mento da população humana
e da expansão das áreas ocu-
padas por atividades agríco-
las, industriais e urbanas é a diminui-
ção e fragmentação de áreas ocupadas
por ecossistemas nativos, com influên-
cia clara na conservação da biodiversi-
dade dessas áreas, aumentando os ris-
cos de extinção local e ameaçando as es-
pécies de extinção global (SOULÉ, 1986;
TURNER; CORLETT, 1996).
A fragmentação, o tamanho, o forma-
to e o isolamento de remanescentes flo-
restais são fatores que influenciam dire-
tamente sua preservação, além de outros
impactos antrópicos, como o corte sele-
tivo de madeira e o fogo (ROZZA, 2003).
Essas perturbações impactam negativa-
mente os fragmentos florestais e, depen-
dendo do grau de degradação do ecossis-
tema, podem afetar sua capacidade de re-
cuperação (ROZZA, 2003).
As florestas tropicais abrigam cerca
de dois terços de todas as espécies de ani-
mais e plantas da Terra (BIERREGAARD
et al., 1992), e são detentoras de extraor-
dinária biodiversidade e áreas prioritá-
rias para a conservação. Atualmente, res-
tam apenas 12%, aproximadamente, do
bioma Mata Atlântica no território bra-
sileiro. Destes 12%, 80% são fragmentos
17
1 ASPECTOS LEGAIS DO MANEJO DE
FRAGMENTOS FLORESTAIS PARA
CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
Rafael Barreiro Chaves1;
Guaraci Belo de Oliveira1
N
este capítulo, serão abordados os diplomas integrantes do arcabouço le-
gal e normativo paulista e brasileiro em que há interface com a temá-
tica desta publicação. Nosso objetivo, nesse sentido, é fornecer contri-
buições interpretativas potencialmente úteis à compreensão do manejo
de trepadeiras no bioma Mata Atlântica, à luz da legislação vigente no estado e no
país. Ambos os autores atuam na área de políticas públicas no estado de São Pau-
lo e se valem de suas experiências profissionais para tecer as interpretações aqui
apresentadas. Não obstante, esclarecem que nenhuma delas pode ser considerada
como definição ou diretriz institucional, tratando-se exclusivamente de contribui-
ções pessoais. Passemos ao objeto de análise.
1 Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais
(CBRN).
2 “Art. 6o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento sustentável
e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos
e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.
Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão observados os princípios da função
socioambiental da propriedade, da eqüidade intergeracional, da prevenção, da precaução, do usuário-pagador,
da transparência das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da gratuidade dos
serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações tradicionais e do respeito ao direito
de propriedade.
Art. 7o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica far-se-ão dentro de condições que assegurem:
I – a manutenção e a recuperação da biodiversidade, vegetação, fauna e regime hídrico do Bioma Mata Atlântica
para as presentes e futuras gerações;
II – o estímulo à pesquisa, à difusão de tecnologias de manejo sustentável da vegetação e à formação de uma cons-
ciência pública sobre a necessidade de recuperação e manutenção dos ecossistemas;
III – o fomento de atividades públicas e privadas compatíveis com a manutenção do equilíbrio ecológico;
IV – o disciplinamento da ocupação rural e urbana, de forma a harmonizar o crescimento econômico com a ma-
nutenção do equilíbrio ecológico. (BRASIL, 2006a, grifo nosso)
19
da biodiversidade. Desse modo, é opor- pelo Conselho Nacional do Meio
tuno tratar os dois casos separadamen- Ambiente e autorizado pelo
te, assim como os legisladores aparente- órgão competente do Sisnama.
mente trataram. (BRASIL, 2006a, grifo nosso)
1.1.1 Sobre o controle de espécies O artigo 19, como se nota, refere-se a al-
exóticas invasoras gumas atividades que implicam corte de
A Lei da Mata Atlântica, em seu artigo vegetação nativa, tais como a construção
3o, define: “IV – prática preservacionista: de aceiro no entorno de um fragmento
atividade técnica e cientificamente fun- florestal. Nesses casos, é permitido excluir
damentada, imprescindível à proteção da uma parte (pequena) da vegetação de de-
integridade da vegetação nativa, tal como terminada área em nome da preservação
controle de fogo, erosão, espécies exóticas do fragmento como um todo. No entanto,
e invasoras” (BRASIL 2006a, grifo nosso). o controle de espécies exóticas não pres-
Portanto, o controle de espécies exóti- supõe necessariamente o corte de vege-
cas e invasoras pode ser uma prática pre- tação nativa, mas justamente dos indiví-
servacionista. Para tal, a atividade deve duos que competem com a comunidade
ser cientificamente fundamentada e im- de espécies nativas, prejudicando-a. Não
prescindível à proteção da integridade da se trata, assim, da eliminação da vegeta-
vegetação nativa, conforme a definição ção de determinada área, mas do oposto:
constante da Lei 11.428/2006. controle seletivo de exóticas invasoras
Ao longo de todo o texto dessa lei, nota- para favorecer a vegetação nativa.
-se que a fundamentação técnica e cien- Em uma análise sistemática da lei, ob-
tífica é um elemento caro ao legislador. serva-se que, quando a legislação se re-
O artigo 19 impõe ao Conselho Nacional fere ao “corte de vegetação nativa” ou à
do Meio Ambiente (Conama) a obrigação “supressão de vegetação nativa”, não se
de regulamentar o corte de vegetação pri- trata de corte de indivíduos de modo se-
mária ou secundária nos estágios médio letivo. Nessas situações, as normas utili-
e avançado, para fins de práticas preser- zam expressões como “supressão de es-
vacionistas e condiciona esse corte à au- pécies”, “manejo seletivo” ou “exploração
torização do órgão competente: seletiva”. Dessa forma, entendemos que
o corte de exóticas, quando tem o obje-
Art. 19. O corte eventual tivo de conservar a biodiversidade, não
de vegetação primária ou deve se submeter aos mesmos mecanis-
secundária nos estágios médio mos previstos para a supressão de vege-
e avançado de regeneração do tação nativa, prática diametralmente
Bioma Mata Atlântica, para fins oposta, que provoca dano à biodiversi-
de práticas preservacionistas dade (mesmo que para fins ditos preser-
e de pesquisa científica, será vacionistas), justificando assim o gran-
devidamente regulamentado de cuidado do legislador.
21
retamente no remanescente, a ativida- No capítulo III, o Decreto no 6.660/2008,
de independe de autorização. com algumas ressalvas,3 permite a supres-
são de espécies nativas para efetuar o en-
Art. 10 riquecimento ecológico, e essa supressão
... dependerá de autorização somente quan-
§ 2o Visando a controlar o efeito do o corte de vegetação nativa gerar pro-
de borda nas áreas de entorno de dutos ou subprodutos comercializáveis.
fragmentos de vegetação nativa, o Para fins de aplicação da dispensa de
poder público fomentará o plantio autorização, a supressão de espécies na-
de espécies florestais, nativas ou tivas que não gere produtos ou subpro-
exóticas. (BRASIL, 2006a) dutos comercializáveis foi definida no
artigo 4o, § 1o (BRASIL 2008, grifo nosso):
A segunda abordagem, sobre a qual
discorreremos mais detalhadamente, Art. 4o O enriquecimento ecológico
por se tratar do foco da presente publi- da vegetação secundária da Mata
cação, é a da intervenção direta no frag- Atlântica, promovido por meio
mento. Nesse sentido, a lei prevê uma do plantio ou da semeadura de
prática que vise acelerar a sucessão: o espécies nativas, independe de
enriquecimento ecológico. Caso em que autorização do órgão ambiental
o controle das nativas superabundantes competente, quando realizado:
não é a atividade principal. No entanto,
tal controle poderia ocorrer como meio I – em remanescentes de
de viabilizar o enriquecimento. vegetação nativa secundária nos
O enriquecimento ecológico foi defi- estágios inicial, médio e avançado
nido no artigo 3o da Lei 11.428/2006 (BRA- de regeneração, sem necessidade
SIL, 2006a, grifo nosso): de qualquer corte ou supressão de
espécies nativas existentes;
VI – enriquecimento
ecológico: atividade técnica e II – com supressão de espécies
cientificamente fundamentada nativas que não gere produtos
que vise à recuperação da ou subprodutos comercializáveis,
diversidade biológica em áreas direta ou indiretamente.
de vegetação nativa, por meio da
reintrodução de espécies nativas; § 1o Para os efeitos do inciso
3 Art. 6o Para os efeitos deste Decreto, não constitui enriquecimento ecológico a atividade que importe a supressão
ou corte de:
I – espécies nativas que integram a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção ou cons-
tantes de listas dos Estados;
II – espécies heliófilas que, mesmo apresentando comportamento pioneiro, caracterizam formações climácicas;
III – vegetação primária; e
IV – espécies florestais arbóreas em vegetação secundária no estágio avançado de regeneração, ressalvado o dis-
posto no § 2o do art. 2o. (BRASIL, 2008)
23
no caso de coleta de flores, aplica-se igualmente o disposto
folhas, cascas, óleos, resinas, nos arts. 21, 22 e 23. (BRASIL 2012a,
cipós, bulbos, bambus e raízes. grifo nosso)
25
integrante do projeto de restauração eco- Companhia Ambiental do
lógica. A Resolução SMA 32/2014 aborda Estado de São Paulo - CETESB,
essa necessidade no artigo 14 e, mais es- desde que não comprometam o
pecificamente para o controle de espé- ecossistema em restauração e
cies exóticas, nos artigos 22 e 23: que tenham sido devidamente
registradas no Sistema
Artigo 14 – A etapa de Informatizado de Apoio à
implantação contempla o Restauração Ecológica - SARE.
isolamento dos fatores de
perturbação – tais como presença Parágrafo único – Nas Áreas de
de gado, formigas cortadeiras, Preservação Permanente, deverá
fogo, secas prolongadas, e ser solicitada autorização à
o controle de espécies com Companhia Ambiental do Estado
potencial de invasão –, bem como de São Paulo - CETESB nos
as ações diretas relativas ao casos em que a intervenção para
método escolhido. controle e erradicação de espécies
exóticas arbóreas ocorra em
Artigo 22 – Quando houver áreas com declividade superior a
presença de espécies vegetais 25 (vinte e cinco) graus.
exóticas com potencial de
invasão, sejam herbáceas, Temos, portanto, no artigo 23, dis-
arbustivas ou arbóreas, o posição acerca da dispensa de autori-
interessado deverá adotar zação por parte da Cetesb quando ado-
medidas de controle de modo a tadas as medidas de controle de espé-
não comprometer o ecossistema cies vegetais exóticas, exclusivamente
em restauração, devendo as para os casos nos quais o projeto tenha
medidas ser registradas no sido registrado no Sistema Informati-
Sistema Informatizado de Apoio à zado de Apoio à Restauração Ecológi-
Restauração Ecológica - SARE. ca (Sare). Há, ainda, a ressalva de que
tais medidas não devem comprometer
Artigo 23 – Salvo disposição em o ecossistema em restauração.
contrário, as medidas de controle No que tange às espécies nativas su-
de espécies vegetais exóticas perabundantes, não há menção explíci-
dispensam a autorização da ta na Resolução SMA 32/2014.
27
2 FRAGMENTAÇÃO DE HABITAT
VINICIUS RODRIGUES TONETTI1;
RENATA L. MUYLAERT1;
MILTON C. RIBEIRO1
N
este capítulo, são abordados alguns temas relacionados a uma das
maiores ameaças à biodiversidade global: a fragmentação de habitat.
Inicialmente, discutimos conceitos sobre fragmentação de habitat,
apresentando algumas teorias ecológicas úteis para que se entendam
as mudanças ambientais no tempo e no espaço, assim como algumas de suas im-
plicações na conservação da biodiversidade. Os estudos citados enfocam a Mata
Atlântica. Em seguida, apresentamos a ecologia de paisagens e alguns exemplos
de suas aplicações como estratégias de manejo e criação de políticas públicas.
1 Universidade Estadual Paulista-Unesp, Instituto de Biociências, Departamento de Ecologia, campus de Rio Claro,
São Paulo.
-4’50” 4’50”
-4’55” 4’55”
0 3 6 km
Figura 2.1. Exemplo de paisagem naturalmente fragmentada: manchas de savana (em marrom) inseridas em ma-
triz florestal na Amazônia (verde). Fonte: Elaboração própria
29
Os quatros efeitos Fragmentação
da fragmentação per se!
4’
1. Redução na quantidade
de habitat
2. Aumento no número
de fragmentos
3. Diminuição nos
2’
tamanhos dos
fragmentos
N
4. Aumento do isolamento
0 60 120km
dos fragmentos
4’ 6’ 8’
4 medidas!
Figura 2.2 – Exemplo de paisagem fragmentada pela ação humana, seguido de esquema mostrando de forma resu-
mida alguns dos principais efeitos da fragmentação. A imagem de satélite (Landsat 8) mostra uma paisagem na
divisa dos estados de Amazonas e Tocantins. Para facilitar a visualização, os fragmentos florestais estão represen-
tados em vermelho e a matriz, composta principalmente por pastagens, em branco. A figura em azul que cruza a
figura é o rio Araguaia.
Algumas das primeiras noções sobre que em ilhas grandes. Além disso, essas
os efeitos da fragmentação de habitat na taxas de colonização e extinção são dinâ-
biodiversidade surgiram com a teoria da micas. Algumas espécies são frequente-
biogeografia de ilhas. Tal teoria foi criada mente extintas e outras continuamente
em 1967 pelo ecólogo Robert H. MacArthur colonizam as ilhas. Assim, ilhas grandes
(1930–1972) e pelo biólogo Edward O. Wil- e próximas ao continente abrigariam um
son (1929–). Baseados em observações an- número maior de espécies que ilhas me-
teriores, de que as ilhas oceânicas têm nores e distantes.
menos espécies que os continentes, es- Alguns anos após sua criação, em ra-
ses autores partiram de dois pressupos- zão da crescente preocupação com os efei-
tos fundamentais para tentar explicar tos da fragmentação sobre a biodiversi-
essa diferença: (1) a chance de um or- dade, a teoria da biogeografia de ilhas co-
ganismo alcançar uma ilha é maior em meçou a ser aplicada a ambientes terres-
ilhas próximas ao continente e menor tres. Os fragmentos de vegetação natural
em ilhas mais afastadas e (2) as espécies começaram a ser vistos como “ilhas” de
que alcançam as ilhas têm mais chance biodiversidade em “mares” de ambientes
de serem extintas em ilhas pequenas do hostis e empobrecidos em espécies. Des-
Figura 2.3 – Fragmento florestal pequeno e isolado (“ilha”) no município de Luiz Antônio, SP. Note-se que, ao redor
do fragmento, há um “mar” de cana-de-açúcar. Fotografia: R. L. Muylaert.
31
a mesma chance de colonização e extin- do de indivíduos podem ser de grande
ção nas ilhas. importância para a conservação da bio-
Paralelamente à teoria da biogeogra- diversidade, caso contenham subpopu-
fia de ilhas, o ecólogo Richard Levins lações que estejam inseridas em meta-
(1930–2016) propôs, em 1969, a teoria da populações.
dinâmica de metapopulações. De acor-
do com Levins, uma metapopulação pode 2.2 A fragmentação de habitat e a
ser entendida como grupos de pequenas conservação da biodiversidade
subpopulações separadas espacialmente A fragmentação de habitat causada pelo
umas das outras, mas que formam uma homem é um fenômeno observado na
população maior, por manter troca gené- grande maioria dos ambientes naturais
tica entre si no fluxo de indivíduos en- do planeta, senão em todos eles, e as flo-
tre uma área e outra. A teoria das meta- restas tropicais estão entre os ambientes
populações, da maneira como foi formu- que mais sofreram seus efeitos em um
lada inicialmente, assume que mesmo passado recente. Isso se deve, principal-
as maiores subpopulações apresentam mente, às ondas de colonização huma-
probabilidades altas de serem extintas. na, à exploração de novas terras nos úl-
Assim, ao pensar na viabilidade de lon- timos 520 anos e, mais recentemente, ao
go prazo de organismos que ocorrem em advento do agronegócio. Apesar da con-
uma metapopulação, deve-se olhar além tínua perda e alteração de seus habitat,
das taxas de nascimento e morte dentro as florestas tropicais abrigam cerca de
de cada subpopulação, dando atenção às dois terços de todas as espécies de ani-
taxas de extinção e colonização entre as mais e plantas da Terra.
subpopulações. Uma das principais di- A Mata Atlântica e diversos outros am-
ferenças entre a teoria das metapopula- bientes naturais do planeta foram seve-
ções e a da biogeografia de ilhas é que a ramente fragmentados por ação huma-
segunda geralmente considera escalas na no passado recente (NEWBOLD et al.,
continentais, e até mesmo globais, ao pas- 2015) (Figura 2.4). Tendo em vista que vi-
so que a primeira dá mais atenção a es- vemos em um mundo em constante mu-
calas menores, das paisagens, por exem- dança, no qual ambientes pristinos são
plo, permitindo o manejo dessas áreas. frequentemente reduzidos a manchas
Uma das principais implicações da teo- menores de vegetação, é de extrema im-
ria das metapopulações em ambientes portância entender as implicações da
fragmentados é que fragmentos peque- fragmentação de habitat na conserva-
nos que abriguem um número limita- ção da biodiversidade.
Um dos efeitos mais imediatos da frag- ras e algumas espécies arbustivas, proli-
mentação de habitat nos remanescentes feram nas bordas.
florestais é o “efeito de borda”, que acon- As diferenças de microclima e estrutu-
tece em razão de os ambientes interiores ra de vegetação entre a borda e o interior
e exteriores ao fragmento serem distintos dos fragmentos também causam diferen-
no que se refere a estrutura da vegetação, ças na composição de espécies, tanto de
microclima, solo e/ou composição de es- plantas quanto de animais, assim como
pécies (Figura 2.5). Nas regiões próximas na interação entre elas. Mendes, Ribeiro
a suas bordas, as florestas ficam mais ex- e Galetti (2015) constataram que o consu-
postas à luz solar e ao vento do que em mo de sementes da palmeira-jerivá por
seu interior, fazendo com que as bordas esquilos é maior nos limites dos fragmen-
dos fragmentos florestais sejam, em ge- tos de Mata Atlântica estacional do que
ral, mais quentes e menos úmidas. Algu- no interior da floresta. Esse fenômeno
mas espécies de árvores, principalmente provavelmente se deve ao fato de que al-
as mais sensíveis à incidência de luz so- guns dos predadores naturais dos esqui-
lar e ao vento intenso, podem até mesmo los, como a jaguatirica, ocorrem em me-
morrer logo após a fragmentação, caso es- nor abundância nas bordas. O aumento
tejam na borda. Por outro lado, plantas da taxa de predação de sementes pode ter
que se beneficiam do aumento da lumi- efeito direto em um processo ecológico
nosidade, como, por exemplo, trepadei- fundamental: a dispersão das sementes.
33
Figura 2.5 – Borda de um grande fragmento florestal em contato com uma plantação de cana-de-açúcar no muni-
cípio de Luiz Antônio, SP. O aceiro é usado por caminhões e também impede que as queimadas de um lado passem
para o outro. Fotografia: R. L. Muylaert.
Além do efeito de borda, outra das con- a fragmentação. Na maioria das vezes, a
sequências mais estudadas da fragmen- diminuição no número de espécies ocor-
tação é a perda de espécies que dependem re de forma não linear, conforme a perda
da floresta. As espécies generalistas po- de habitat acontece. Um estudo que reu-
dem até mesmo experimentar aumento niu informações sobre a composição de
de abundância, mas os organismos sen- mamíferos em diversos fragmentos de
síveis às alterações ambientais que ne- Mata Atlântica constatou que há uma
cessitam de áreas florestadas extensas queda abrupta no número de espécies
para encontrar recursos e manter popu- de mamíferos de grande porte quando os
lações viáveis ao longo do tempo tendem fragmentos atingem tamanhos menores
a se extinguir rapidamente com a frag- do que dois mil hectares (MAGIOLI et al.,
mentação. Essa perda de biodiversidade 2015). Outra queda abrupta foi observa-
acontece tanto dentro de cada fragmen- da em fragmentos menores que 60 hec-
to quanto em paisagens que sofrem com tares, porém, nesse caso, as espécies que
35
de da matriz, citamos o estudo feito por não todas elas, relaciona a paisagem a uma
Da Silva et al. (2015), realizado com algu- noção de espaço. A definição que usamos
mas espécies de primatas em uma paisa- aqui trata a paisagem como “um mosaico
gem fragmentada de Mata Atlântica no heterogêneo formado por unidades inte-
sul do estado de Minas Gerais. Os autores rativas, sendo esta heterogeneidade exis-
constataram que os macacos conseguem tente para pelo menos um fator, segundo
se deslocar melhor pelos diferentes frag- um observador e numa determinada es-
mentos florestais quando estes estão en- cala de observação” (METZGER, 2001, p. 4).
voltos por matrizes formadas por planta- Esse conceito amplo permite que a paisa-
ções de café do que quando os fragmen- gem seja definida de diferentes maneiras,
tos estão inseridos em matrizes formadas segundo diferentes percepções e extensões.
por pastagens ou plantações de cana-de- Uma paisagem pode ser definida pelos li-
-açúcar. Isso se deve, provavelmente, ao mites expressos na Figura 2.7 ou pode ser,
fato de que as plantações de café são es- também, um quadrado de 1 m x 1 m para
truturalmente mais similares ao ambien- um inseto em um jardim. Dessa forma,
te natural dessas espécies do que as pasta- fica claro que a extensão da paisagem de-
gens e os canaviais. Além do tipo de ma- pende da biologia do organismo que esta-
triz exercer uma forte influência sobre a mos estudando. Usamos a ideia de paisa-
capacidade de deslocamento, a maneira gem como unidade de medida para o que
como cada espécie “percebe” as matrizes nos interessa entender na natureza.
também varia grandemente. Algumas es- A paisagem é estudada por meio de
pécies conseguem atravessar mais facil- diferentes ferramentas que isentam os
mente do que outras uma mesma matriz, pesquisadores de ir até o local de estudo e
a fim de se deslocar entre os fragmentos. medi-lo “na mão”. Essas ferramentas são
Por isso, quando falamos em habitat, de- as ferramentas de sensoriamento remo-
vemos sempre levar em consideração a to. Com elas, é possível saber o que está
biologia da espécie à qual nos referimos. acontecendo na floresta amazônica sem
ter de viajar até lá. Basta carregar imagens
2.3 A fragmentação de habitat de satélite ou fotografias aéreas em um
e a ecologia de paisagens computador e investigar remotamente os
Estudar como os aspectos e processos eco- diferentes elementos da paisagem, que po-
lógicos são influenciados pela configura- dem ser fragmentos de floresta, cidades,
ção espacial dos diferentes ambientes é um plantações, rodovias ou corredores ecoló-
dos principais objetivos da ecologia de pai- gicos (Figura 2.6). Essas imagens contêm
sagens. Para compreender o que é a ecolo- informações sobre o posicionamento es-
gia de paisagens, é preciso primeiramente pacial no planeta (latitude, longitude) e
definir o que seja uma paisagem. Existem também a cobertura da terra, represen-
diversas definições na literatura e citar tada pelos elementos da paisagem. Em
cada uma delas está além do escopo deste sensoriamento remoto, podemos infe-
capítulo. A maior parte das definições, se- rir o uso da terra pela observação de sua
Figura 2.6 – Paisagem com os elementos separados em duas classes (A) e a mesma paisagem, considerando-se sete
classes (B). Fonte: Elaboração própria.
37
A B
Figura 2.7 – Extensão (A): a paisagem é comumente representada por círculos, como visto na figura da esquerda. O
tamanho da paisagem vai depender do processo ecológico de interesse para o estudo. Dessa forma, a escala espa-
cial poderá se relacionar a métricas calculadas em diferentes extensões (escalas espaciais). Resolução (B): de ma-
neira semelhante, a menor unidade do mapeamento (pixel) também deve se adequar à pergunta. À direita, estão
mapeamentos de uma mesma paisagem com diferentes resoluções espaciais. As setas indicam o sentido no qual as
resoluções são mais grosseiras. Os valores abaixo de cada mapa indicam o tamanho da aresta dos pixels em me-
tros. Fonte: Elaboração própria.
Figura 2.8 – Paisagens em que os pixels de floresta localizada no limite entre a matriz e o interior dos fragmentos
(ou seja, pixels de borda) são representados em verde musgo, os pixels de interior de floresta são representados em
verde escuro e a matriz é representada em branco. Ambas as paisagens têm a mesma quantidade de floresta. Na
paisagem da esquerda (A), 32% dos pixels são bordas, ao passo que, na paisagem da direita (B), essa proporção é
menor (20%). Perceba-se que, na paisagem onde há maior quantidade de borda (A), o número de fragmentos é
maior e eles são, no geral, menores e mais lineares. Fonte: Elaboração própria.
39
ra simples de calcular a conectividade é tagem do número de unidades da paisa-
determinar a razão entre o número de pi- gem, que seriam, segundo Metzger (2001),
xels correspondente a corredores e tram- cada tipo de cobertura do solo. De acordo
polins ecológicos e o número total de pi- com essa definição, a paisagem da figura
xels na paisagem (Figura 2.8). 2.6B tem sete unidades (floresta madura,
Assim como corredores e trampolins inicial e restaurada, plantação de cana-
ecológicos, que são elementos facilmente -de-açúcar, pasto “limpo” e “sujo” e tram-
individualizados e mensurados em uma polim ecológico), já a paisagem da figura
paisagem (Figura 2.6), as características 2.6A tem duas (floresta e não floresta, ou
da matriz e a configuração espacial dos seja, tudo, menos floresta). Paisagens com
fragmentos também estão relacionadas maior número de unidades são mais ri-
à conectividade. A permeabilidade da cas e, portanto, apresentam um número
matriz, conforme já discutido no item maior de tipos de ambientes, o que pode
2.2, influencia a movimentação na pai- influenciar a riqueza e a diversidade de
sagem, de modo que matrizes mais per- espécies. As métricas de composição per-
meáveis promovem maior conectivida- mitem também inferir o grau de domi-
de. Em relação à distribuição espacial dos nância espacial das unidades.
fragmentos, as manchas florestais mais É importante ressaltar que as métricas
próximas entre si aumentam a probabi- devem ser calculadas nas situações em que
lidade de os organismos atravessarem a se suspeite que tenham sentido biológico.
matriz para se deslocar de um fragmen- Ao citar as métricas, tentamos ilustrar al-
to a outro. Assim, além de calcular a co- gumas das possíveis relações entre essas
nectividade, contando o número de pixels medidas e a biodiversidade. Por exemplo,
que correspondem a corredores e trampo- para que contar o número de trampolins
lins ecológicos, outro método possível se- ecológicos em uma paisagem? Porque es-
ria medir o grau de isolamento da paisa- ses elementos facilitaram o fluxo de in-
gem, calculando a distância média entre divíduos de uma espécie de ave florestal
os fragmentos. Em duas paisagens com entre fragmentos de Mata Atlântica. As-
a mesma quantidade de floresta, aquela sim, é possível corroborar a hipótese de
que apresenta os fragmentos mais pró- que os trampolins ecológicos aumentam
ximos entre si apresentaria um valor de a conectividade e usar essa informação
isolamento menor. para estimular o plantio de núcleos iso-
Os índices exemplificados anterior- lados de árvores, com a intenção de pro-
mente medem, em sua maior parte, pa- mover a movimentação dos animais e au-
râmetros espaciais da paisagem, como mentar as taxas de colonização em frag-
número de corredores, por exemplo. mentos defaunados. Além disso, a maior
Outra família de métricas da paisagem parte dos índices de paisagem tem senti-
é aquela relacionada à composição dos do apenas quando usada de forma com-
elementos da paisagem. Uma das métri- parativa. Ao comparar o número de espé-
cas mais simples de composição é a con- cies florestais sensíveis às alterações am-
41
movam a conectividade (como corredo- pécies arbóreas (que podem ser utiliza-
res e trampolins ecológicos), qual seria das para a produção de frutos ou a ex-
uma boa maneira de saber que configu- tração de madeira). Uma das vantagens
ração espacial serviria para o estabeleci- dos SAFs em relação às culturas tradi-
mento desses elementos, a fim de que a cionais (como extensas monoculturas de
conectividade estrutural fosse a maior soja e cana-de-açúcar) é que, por apre-
possível? Considerando-se que os recur- sentarem estrutura de vegetação seme-
sos disponíveis para os esforços de con- lhante à das florestas tropicais nativas,
servação são geralmente bastante limi- eles podem ser mais adequados para a
tados, investi-los da forma mais benéfi- ocorrência de espécies florestais sensí-
ca possível é extremamente relevante. veis a perda e fragmentação de habitat.
Uma maneira de responder uma ques- Matrizes formadas por SAFs são mais
tão desse tipo é por meio de estudos de permeáveis à movimentação dos organis-
simulação de paisagens que determinem mos e podem até mesmo atuar como ha-
áreas potencialmente mais adequadas e bitat para algumas espécies. Além disso,
que apresentem custo baixo de estabele- os efeitos de borda também ficam redu-
cimento. Um estudo como esse pode ser zidos em fragmentos inseridos em ma-
conduzido com o software LSCorridors trizes agroflorestais, uma vez que as di-
(RIBEIRO et al., manuscrito inédito). ferenças de luminosidade e vento em
Apesar de os estudos de simulação in- SAFs e áreas de floresta são menores do
dicarem os locais onde o custo do esta- que entre floresta e monocultoras e pas-
belecimento de corredores e outros ele- tagens. A criação de SAFs é uma maneira
mentos novos na paisagem são mínimos, de conciliar produção agrícola com con-
a adoção de estratégias desse tipo pode servação da biodiversidade e um exemplo
ser inviável do ponto de vista econômico, de como o manejo da matriz pode auxi-
pois seria necessário ocupar áreas que liar na redução dos efeitos da fragmen-
poderiam ser utilizadas para outras fi- tação. No entanto, vale ressaltar que há
nalidades antrópicas, como a produção evidências que indicam que a capacida-
agrícola. Em regiões onde a produtivida- de dos SAFs de conservar a biodiversi-
de das atividades agropastoris é alta (fa- dade depende, sobretudo, da paisagem
zendo com que o valor das terras seja ele- na qual estejam inseridos. Em paisagens
vado) e onde o custo da restauração flo- com grandes fragmentos de floresta ma-
restal para a criação de corredores tam- dura, os SAFs podem abrigar uma parce-
bém é alto, uma estratégia menos cus- la elevada da biodiversidade, diferente-
tosa de manejo da paisagem para pro- mente de quando estão inseridos em pai-
mover a biodiversidade é incentivar a sagens onde os remanescentes florestais
adoção de sistemas de produção consi- são reduzidos e estão em estágios iniciais
derados de baixo impacto, como os sis- de regeneração (FARIA et al., 2006; FARIA
temas agroflorestais (SAFs). Os SAFs são et al. 2007; PARDINI et al., 2009).
associações de culturas agrícolas com es-
43
mentos dispersos na paisagem aumen- sil. Essas UCs são divididas em 12 cate-
tem substancialmente a conectividade, gorias que, por sua vez, estão divididas
fazendo com que a quantidade de vege- em dois grupos: proteção integral e uso
tação natural fique acima dos limiares sustentável. Reservas de proteção inte-
de fragmentação. Pequenos fragmentos gral têm como principal objetivo a con-
florestais em RLs podem facilitar o flu- servação da biodiversidade, portanto, a
xo de indivíduos entre as unidades de presença humana é permitida de forma
conservação e outros grandes blocos de restrita e as atividades que visam explo-
vegetação nativa. Assim, dentre outras rar recursos naturais são bastante limi-
passagens que consideram a paisagem, tadas. Por outro lado, as reservas de uso
a lei diz que, para determinar o local da sustentável visam conciliar a conserva-
RL, o proprietário da terra deve, se pos- ção com o uso de recursos naturais. Nes-
sível, considerar a proximidade com ou- se segundo tipo de UC, a presença huma-
tras áreas de vegetação nativa, que podem na é mais intensa, porém, apenas práti-
ser formadas por APP, RL ou unidades de cas pouco impactantes à biodiversidade
conservação, para que sejam criados cor- são permitidas.
redores que aumentem a conectividade Proteger áreas naturais com a implan-
(BRASIL 2012a, artigo 14). Tendo em vista tação de UCs é o paradigma vigente de
que as áreas protegidas brasileiras pre- conservação da biodiversidade no Bra-
servam uma pequena parcela da vegeta- sil e em países como os Estados Unidos.
ção nativa (9% no caso da Mata Atlânti- Se, por um lado, esse modelo é uma for-
ca; RIBEIRO et al., 2009), proteger flores- ma de manter a biodiversidade alta den-
tas no interior de propriedades privadas, tro dos limites das reservas (geralmente
na forma de APP e RL, é imprescindível formadas por grandes blocos de floresta),
para a conservação da biodiversidade. por outro, pode ser ineficaz para assegu-
Outra lei que tem por objetivo redu- rar a integridade dos processos ecológi-
zir os efeitos da perda e da fragmentação cos em regiões extensas e em prazo lon-
de habitat é o Sistema Nacional de Uni- go. Nos casos em que as UCs estão inse-
dades de Conservação-SNUC (BRASIL, ridas em paisagens altamente fragmen-
2000). O SNUC é o conjunto das diretri- tadas, as espécies que habitam o interior
zes que regem a criação e a gestão das das reservas (especialmente as mais sen-
unidades de conservação (UCs) no Bra- síveis e com mais dificuldade de cruzar
45
49º30’W 49º0’W 48º30’W 48º0’W
24º0’S 24º0’S
Unidades de Conservação:
24º30’S 24º30’S
1. Parque Estadual Carlos Botelho
2. Parque Estadual Nascentes do
Paranapanema
3. Estação Ecol[ogica Xitué
4. Parque Estadual de Intervales
5. Parque Estadual Turístico do
Alto Ribeira
6. Área de Proteção Ambiental
Quilombo do Médio Riveira
Figura 2.9 – Mosaico das unidades de conservação da serra de Paranapiacaba. Uma iniciativa da Secretaria do
Meio Ambiente do estado de São Paulo e da Fundação Florestal pretende integrar a gestão dessas UCs e criar um
mosaico na região. Fonte: Elaboração própria.
47
3D
IAGNÓSTICO DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS DEGRADADOS
COMO SUBSÍDIO PARA O MANEJO
ADAPTATIVO: PROPOSTA
DE AVALIAÇÃO ECOLÓGICA
RÁPIDA PARA A FLORESTA
ESTACIONAL SEMIDECIDUAL
Ana Paula Liboni1;
Cristina Yuri Vidal2;
Débora Cristina Rother2;
Fabiano Turini Farah1;
Ricardo Ribeiro Rodrigues1
D
iante do atual cenário de degradação ambiental, é urgente a elaboração
de protocolos voltados para a avaliação e o diagnóstico florestal, tanto do
ponto de vista florístico quanto do ponto de vista estrutural. A finalidade
desses protocolos é guiar ações de manejo que possam potencializar seu
papel na conservação da biodiversidade, além de permitir a manutenção de pro-
cessos ecológicos que garantam a provisão de serviços ecossistêmicos em paisagens
alteradas pelas atividades humanas.
Nesse contexto, os objetivos deste capítulo incluem: (1) compilar informações
sobre os principais fatores de degradação e seus efeitos sobre as comunidades ve-
getais de florestas inseridas em matriz agrícola; (2) propor um método rápido para
a avaliação do estado de conservação de fragmentos florestais que forneça subsí-
dios para a tomada de decisões relativas ao manejo adaptativo na fisionomia Flo-
resta Estacional Semidecidual da Mata Atlântica. O manejo adaptativo prevê mu-
danças periódicas nos objetivos e protocolos de manejo, em resposta aos dados de
monitoramento e a informações novas e, na esfera da restauração ecológica, com-
preende intervenções deliberadas no ecossistema durante sua trajetória, visando
superar filtros ou barreiras que dificultem sua evolução rumo ao estado desejado
(ARONSON et al., 2011).
Utilizamos o cenário do interior do estado de São Paulo como exemplo para a
aplicação do método proposto, uma vez que ele compreende, em sua maioria, frag-
1 Universidade São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Laboratório de Ecologia e Restauração
Florestal (LERF).
2 Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Biologia Vegetal.
49
A degradação dos ecossistemas natu- te diferente do retorno ao estado origi-
rais, especialmente em decorrência da ati- nal (FOLKE et al., 2010).
vidade humana, tem comprometido não Tais premissas têm implicações sig-
apenas a biodiversidade, mas também as nificativas em um contexto de restau-
funções e os processos ecológicos que ga- ração de ecossistemas, já que o manejo
rantem a oferta de serviços ecossistêmi- pode ser concebido para atingir um único
cos (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESS- ponto de equilíbrio como alvo das ações
MENT, 2005; NAEEM; DUFFY; ZAVALETA, de restauração ou múltiplos estados al-
2012). Como as respostas da dinâmica dos ternativos, respeitando a variação que
ecossistemas a tais mudanças podem ser ocorre naturalmente entre os ecossiste-
complexas, não lineares e, muitas vezes, mas (CARPENTER et al., 2001; NEWTON;
imprevisíveis, os esforços de conserva- CANTARELLO, 2015).
ção e manejo de ecossistemas naturais li-
dam com uma grande incerteza (SASAKI 3.2 A floresta estacional semidecidual
et al., 2015). A Floresta Estacional Semidecidual (FES),
Dentro dessa temática, o conceito de também denominada Mata Atlântica de
resiliência tem sido o foco de um deba- interior, é um dos tipos florestais do do-
te substancial na literatura (NEWTON; mínio da Mata Atlântica, juntamente
CANTARELLO, 2015), pois se relaciona à com as fisionomias Floresta Ombrófila
capacidade de autorrecuperação de um Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta
ecossistema. Em seu sentido mais amplo, Estacional Decidual, Restinga e Mangue-
resiliência é a medida da persistência de zal (IBGE 2012). O que caracteriza a FES é o
um ecossistema e de sua capacidade de fato de as árvores que compõem o dossel
absorver perturbações (HOLLING, 1973) florestal serem, em grande parte, de espé-
ou a capacidade de um ecossistema de cies decíduas, ou seja, que perdem as fo-
manter suas funções diante de diferen- lhas como resposta à escassez de água, pe-
tes distúrbios (WEBB, 2007). Um concei- culiar aos meses de inverno em boa par-
to mais recente considera que os ecos- te do interior do Brasil (DURIGAN et al.,
sistemas apresentam múltiplos estados 2012). Portanto, o conceito ecológico des-
de equilíbrio (em inglês, stable states), e se tipo florestal é estabelecido em função
define a “resiliência ecológica” ou “re- do clima estacional, que determina a de-
siliência do ecossistema” como a quan- ciduidade da folhagem do dossel da flo-
tidade de perturbação que um sistema resta. Na zona tropical, esse tipo flores-
pode absorver antes de mudar para ou- tal está associado à região marcada por
tro estado estável (BRAND; JAX, 2007). intensas chuvas de verão, seguidas de es-
Em um sistema com múltiplos estados tiagens acentuadas. Na zona subtropical,
estáveis, as perturbações podem resul- correlaciona-se ao clima sem período seco,
tar na transição de um estado para ou- porém, com seca fisiológica provocada
tro pela superação do limiar ou domínio pelo frio intenso do inverno (tempera-
de estabilidade, o que é qualitativamen- turas médias mensais inferiores a 15 °C),
51
maior disponibilidade de água no solo, TABANEZ, 1996) e intensamente pertur-
que ocorre em razão da menor intercep- bados (RODRIGUES et al., 2011).
tação da água da chuva pelas copas das A maioria dessas florestas está inserida
árvores durante o período seco (SOUZA; em propriedades particulares destinadas
GANDOLFI; RODRIGUES, 2014). As trepa- à produção agrícola (RODRIGUES et al.,
deiras heliófitas também se destacam en- 2011; SPAROVEK et al., 2010; SPAROVEK et
tre as espécies favorecidas pela abertu- al., 2012), e está distante (mais de 25 km)
ra do dossel. Algumas espécies de trepa- de unidades de conservação (RIBEIRO
deiras proliferam vigorosamente após et al., 2009). Esses fragmentos florestais
distúrbios ou formação de clareiras em compreendem tanto áreas em processo
florestas tropicais (ROZZA; FARAH; RO- de sucessão secundária após supressão
DRIGUES, 2007) e podem vir a estagnar total ou parcial da vegetação quanto flo-
ou até mesmo reverter a sucessão flo- restas remanescentes que sofreram per-
restal (FARAH et al., 2014; SCHNITZER; turbações naturais ou antrópicas (extra-
DALLING; CARSON, 2000). ção de madeira ou produtos não madei-
No Brasil, a ocorrência da FES coin- reiros, caça, presença de gado, fogo etc.)
cide com as regiões em que o habitat se e se apresentam em diferentes estágios
encontra mais fragmentado, em virtu- sucessionais, com potenciais distintos
de da alta aptidão agrícola e, por isso, es- para a oferta de serviços ecossistêmicos
sas florestas foram historicamente sub- (FERRAZ et al., 2014). Essa é a situação da
metidas ao uso intensivo do solo (RIBEI- Mata Atlântica de interior em diversas
RO et al., 2009; RODRIGUES et al., 2011). regiões do Brasil; no entanto, utilizare-
A ocupação dos solos férteis por dife- mos o exemplo do estado de São Paulo
rentes ciclos agrícolas reduziu a cober- para ilustrar a proposta deste capítulo.
tura florestal da Mata Atlântica a apro- O interior do estado de São Paulo com-
ximadamente 10% da cobertura origi- preende dois domínios, o cerrado e a Mata
nal (METZGER et al., 2009; RIBEIRO et Atlântica (IBGE, 2004), cada um represen-
al., 2009) e os remanescentes ficaram tado por diversas fisionomias vegetais.
restritos a áreas de difícil acesso, que Embora seja naturalmente heterogênea,
apresentam relevo acidentado, ou são essa região é representada principalmente
representados por pequenos fragmen- por fragmentos de FES (KRONKA; NALON;
tos de vegetação nativa (83% são meno- MATSUKUMA, 2005) imersos em planta-
res que 50 hectares e 97% são menores ções de cana-de-açúcar (SIFESP, 2010); se-
que 250 hectares), isolados (METZGER rão eles o alvo desta proposta teórica em
et al., 2009; RIBEIRO et al., 2009; VIANA; desenvolvimento (Figura 3.1).
53
tação, fica evidente que a avaliação e o distúrbios podem ser naturais ou an-
diagnóstico de fragmentos florestais são tropogênicos e têm variações de esca-
extremamente importantes na manu- la, intensidade e frequência. Ghazoul et
tenção das comunidades vegetais e na al. (2015) definiram floresta degradada
conservação da biodiversidade em pai- como aquela que perdeu sua resiliência
sagens antrópicas. A legislação brasi- em razão de causas antropogênicas atuais
leira oferece algumas ferramentas que e/ou passadas, de forma que não é pos-
orientam a avaliação da estrutura e da sível recuperar sua estrutura ou os pro-
composição de fragmentos florestais; cessos sucessionais da condição pré-dis-
no entanto, não existe atualmente uma túrbio naturalmente, ou seja, sem que
regra que estabeleça as variáveis mais haja intervenções para a retomada da
adequadas a serem registradas nos diag- trajetória sucessional. Os autores des-
nósticos, seja para fins de caracterização tacam que esse diagnóstico deve se ba-
da vegetação, seja para ações de mane- sear em parâmetros que representem a
jo. Este capítulo traz uma proposta sim- dinâmica florestal, como a avaliação da
plificada para a avaliação e o diagnósti- comunidade de plântulas e indivíduos
co de fragmentos florestais da fisiono- jovens em escalas de tempo compatíveis
mia FES, com o objetivo de incentivar e (GHAZOUL et al., 2015).
nortear, em um primeiro momento, as As principais causas relacionadas à
ações de manejo adaptativo. degradação florestal são a perda de ha-
bitat resultante do desmatamento e do
3.3 F
atores de degradação e efeitos do processo de fragmentação, a extração se-
processo de fragmentação sobre a letiva de madeira e de produtos não ma-
estrutura e a dinâmica florestal deireiros, a sobrecaça e a incidência de
Apesar de a degradação de florestas tro- fogo (PUTZ; REDFORD, 2010; TABANEZ;
picais ser um tema de relevância mun- VIANA, 2000). Para compreender o ce-
dial, sua definição ainda não é clara, nário de degradação das florestas bra-
pois abrange uma variedade de altera- sileiras, devemos considerar o fato de
ções na estrutura, na composição e nas que mais de um terço da vegetação na-
funções florestais, em diferentes escalas tural do país já foi convertida em áreas
espaciais e temporais (GHAZOUL et al., agrícolas (SPAROVEK et al., 2010). As re-
2015). É preciso notar que a ideia de de- giões com maior potencial econômico
gradação se relaciona a um estado de re- foram as mais intensamente afetadas,
ferência, representado por um conjun- como é o caso da Mata Atlântica. Especi-
to de possíveis situações florestais, que ficamente no estado de São Paulo, o his-
variam com a dinâmica dos distúrbios tórico antigo de desmatamento e ocu-
e com a capacidade natural de autorre- pação resultou em matrizes pouco per-
cuperação (resiliência) de uma floresta. meáveis, como pastos, cultivos agrícolas
Acrescentando complexidade a es- e áreas urbanas (GARDNER et al., 2009;
sas definições, devemos lembrar que os RIBEIRO et al., 2009), em que restaram
55
MARTINS; RODRIGUES, 2007; GALETTI; tuada pelo avanço da matriz agrícola e
ALEIXO, 1998), constituindo importante pela fragmentação do habitat, em razão
elemento para a estrutura e a dinâmica da facilitação do acesso às áreas natu-
da vegetação (MULER et al., 2014; ROTHER; rais (MELO et al., 2013b), assim como de
RODRIGUES; PIZO, 2016). outros distúrbios, já citados.
A conversão de florestas em áreas agrí- Tomando o estado de São Paulo como
colas corresponde a 80% do desmatamen- exemplo, nos últimos 40 anos, houve a in-
to no planeta (KISSINGER; HEROLD; DE tensificação da expansão sucroalcoolei-
SY, 2012) e é a principal causa da perda de ra. O estado é hoje o maior produtor na-
biodiversidade e da degradação dos ecos- cional de cana-de-açúcar, com mais de
sistemas (TSCHARNTKE et al., 2005; TUR- 5,7 milhões de hectares destinados a esse
NER et al., 2007). Cerca de 50% dos ver- cultivo agrícola (CANASAT, 2014). Ape-
tebrados terrestres são ameaçados pe- sar desse longo histórico de produção, os
los impactos da intensificação agrícola impactos ambientais gerados pelo culti-
(BECA et al., 2017; CEBALLOS et al., 2015), vo da cana são ainda pouco conhecidos
que afetam principalmente a movimen- (FILOSO et al., 2015). Embora poucos es-
tação das espécies e, consequentemente, tudos tenham avaliado os efeitos do fogo
os fluxos biológicos nas paisagens agrí- nas comunidades vegetais (MELO; DURI-
colas (LEES; PERES, 2009). A defaunação GAN, 2010), é possível prever que a práti-
das florestas tropicais pode acarretar al- ca da queima da cana antes da colheita
terações significativas em sua estrutura terá efeitos negativos sobre a biodiver-
e dinâmica, como evidenciado por Bello sidade regional (Figura 3.2). Há indícios
et al. (2015), que apontam efeitos negati- da redução da quantidade e da qualida-
vos sobre o estoque de carbono. Segun- de da vegetação remanescente (i.e., esto-
do esses autores, a redução das popula- ques de biomassa) e da fauna associada,
ções de grandes herbívoros dispersores o que empobrece as comunidades natu-
de sementes compromete a dispersão e rais e, possivelmente, facilita as invasões
a regeneração de espécies de sementes biológicas por espécies exóticas (MELO;
grandes, que dependem desses animais DURIGAN, 2010). A regulamentação da
para manter suas populações, e de espé- utilização de fogo nas colheitas de cana-
cies de crescimento lento, que fixam mais -de-açúcar ocorreu apenas em 2002, com
carbono em sua biomassa. A sobrecaça a Lei no 11.241, de 19 de setembro de 2002
também representa uma séria ameaça à (SÃO PAULO, 2002), que dispõe sobre a
biodiversidade, sobretudo aos vertebra- eliminação gradativa da queima da pa-
dos de médio a grande porte, e é acen- lha da cana-de-açúcar até 2021.
57
degradadas por fatores antrópicos, por temos, entre outros, o bambu lenhoso ta-
isso, raramente são encontradas em ecos- quaruçu Guadua tagoara (Nees) Kunth
sistemas naturais conservados. Já as espé- (MATOS; PIVELLO, 2009), as samambaias
cies invasoras são capazes de ocupar am- do gênero Pteridium (SCHWARTSBURD;
bientes mais sombreados (MAJOR et al., MORAES; LOPES-MATTOS, 2014), as tre-
2013) e, portanto, podem ocorrer no in- padeiras lenhosas dos gêneros Mikania,
terior de florestas, até mesmo em áreas Piptocarpha, Heteropterys, Serjania e Paul-
mais conservadas (DURIGAN et al., 2013). linia (PIVELLO et al., 2018). Em suma, o
Essa classificação das espécies exóticas pouco conhecimento sobre a dinâmi-
em ruderais e invasoras é fundamental ca dessas espécies invasoras e/ou do-
para direcionar as ações de manejo, pois minantes, a falta de métodos eficientes
o nível de prioridade e as intervenções de controle e as poucas ações concretas
são diferentes para esses dois grupos para combatê-las as tornam uma amea-
de espécies (DURIGAN et al., 2013). Den- ça real à biodiversidade nativa, compro-
tre as espécies vegetais com comporta- metendo permanentemente esses ecos-
mento invasor (i.e., aquelas que prolife- sistemas florestais já degradados (MA-
ram formando maciços e prejudicando TOS; PIVELLO, 2009; PIVELLO et al., 2018).
a regeneração de espécies nativas, tanto Apesar dessas limitações, ações experi-
em áreas conservadas quanto degrada- mentais de manejo devem ser aplicadas,
das), podemos citar as gramíneas africa- já que são a única forma de gerar dados
nas, tais como as braquiárias (Urochloa e fomentar avanços no conhecimento
spp), o capim-colonião (Megathyrsus sobre a maneira de amenizar e reverter
maximus (Jacq.) B.K.Simon & S.W.L. Ja- os processos degradadores em curso nas
cobs) e o capim-gordura (Melinis minu- florestas remanescentes.
tiflora P.Beauv.), a palmeira australia- O conjunto dos fatores de degrada-
na Archontophoenix cunninghamiana ção citados atua de forma sinérgica e
(H.Wendl.) H.Wendl. & Drude (MATOS; pode alterar a estrutura e a dinâmica
PIVELLO, 2009), entre outras. das comunidades, reduzir a diversida-
Algumas espécies nativas também de e prejudicar as funções dos ecossiste-
podem se tornar dominantes (espécies mas (HADDAD et al., 2015). A fragmenta-
nativas hiperabundantes) (PIVELLO et ção de habitat afeta diretamente a estru-
al., 2018), formando maciços ou domi- tura e as condições ambientais na inter-
nando a comunidade a ponto de inibir face entre os ecossistemas naturais e an-
a regeneração de outras espécies nati- trópicos, em decorrência de uma transi-
vas, especialmente em áreas degradadas ção abrupta que define os efeitos de bor-
(DURIGAN et al., 2013). Como exemplos, da (MURCIA, 1995) (Figura 3.3).
59
sagens resultam em mudanças graduais 3.4 A
avaliação do estado
na composição das comunidades ao lon- de conservação de
go do tempo, caracterizando um proces- fragmentos florestais
so de homogeneização biótica (LÔBO et
al., 2011; MCKINNEY; LOCKWOOD, 1999; 3.4.1 Aspectos a serem considerados
OLDEN; ROONEY, 2006; TABARELLI; PE- no diagnóstico florestal
RES; MELO, 2012). Esse processo consis- Paisagens com elevado grau de fragmen-
te em uma convergência biótica, oca- tação requerem a conservação da biota
sionada pela simplificação ou pelo em- tanto na escala local, considerando cada
pobrecimento da diversidade genética, mancha de floresta, quanto na escala da
taxonômica e funcional das comunida- paisagem. Na escala da paisagem, desta-
des afetadas, em que espécies toleran- ca-se a importância de considerar o con-
tes às perturbações proliferam e as mais junto de fragmentos florestais em uma
sensíveis vão sendo extintas localmente região, mesmo que esses fragmentos se-
(MCKINNEY; LOCKWOOD, 1999; OLDEN; jam pequenos, e não apenas um ou ou-
ROONEY, 2006). tro fragmento individualmente. Além
Nessas condições de fragmentação de conter as espécies regionais remanes-
acentuada e isolamento das comunida- centes (TURNER; CORLETT, 1996), os frag-
des, ações de restauração ecológica na es- mentos pequenos também são importan-
cala local e na escala da paisagem são fun- tes por aumentar a conectividade da pai-
damentais para viabilizar a manutenção sagem (PARDINI et al., 2005). Eles podem
desses ecossistemas e dos seus serviços funcionar como corredores ou trampo-
associados (CALMON et al., 2011; MELO et lins ecológicos, capazes de interligar um
al., 2013a; PINTO et al., 2014; VIDAL et al., fragmento a outro por meio do fluxo bio-
2016). Portanto, a avaliação dos remanes- lógico (PARDINI et al., 2005). No entanto,
centes florestais inseridos em paisagens esse fluxo depende da estrutura da pai-
antrópicas se torna essencial nesse con- sagem, ou seja, da composição e disposi-
texto, pois, embora possam parecer con- ção espacial de seus elementos (detalhes
servados em imagens de satélite, muitos no Capítulo 2). Em paisagens altamente
estão biologicamente degradados (TA- fragmentadas e onde a cobertura flores-
BARELLI; LOPES; PERES, 2008; VALIEN- tal se restringe a menos de 10% da área
TE-BANUET et al., 2015). Um diagnóstico original, como é o caso de regiões no inte-
da qualidade é imprescindível para a de- rior do estado de São Paulo, os fragmen-
finição das ações a serem tomadas a fim tos encontram-se geralmente isolados,
de vencer os filtros ecológicos que impe- distantes entre si e das unidades de con-
dem a sucessão florestal e restabelecer a servação (RIBEIRO et al., 2009). Esse cená-
trajetória sucessional das florestas per- rio reforça a importância da restauração
turbadas (FARAH et al., 2014). ecológica na escala da paisagem, visan-
61
fragmentos. Ao contrário, uma floresta tivo (VIDAL et al., 2016) e, portanto, não
perturbada está se recuperando quando podem ser descartadas do diagnóstico do
houver uma tendência geral de apresen- estado de conservação e resiliência das
tar as características opostas às apresen- florestas remanescentes.
tadas anteriormente.
Cabe, ainda, ressaltar que o diagnós- 3.4.2 Avaliação Ecológica Rápida
tico da estrutura das comunidades ve- adaptada para a vegetação da
getais pode ser obtido pela caracteriza- Floresta Estacional Semidecidual
ção fitossociológica, que, além de infor- O processo de degradação das florestas
mações qualitativas, como a composição só pode ser constatado por métodos que
florística da comunidade, utiliza parâ- empreguem monitoramento da área em
metros numéricos que expressam a es- campo, em escalas espacial e temporal
trutura horizontal da floresta (i.e., orde- apropriadas. Em virtude da dinâmica da
nam as espécies segundo sua importân- vegetação, é difícil dizer se uma área se-
cia na estruturação da comunidade com gue uma trajetória de avanço sucessio-
base em dados de frequência, densidade nal ou de degradação se não houver um
e dominância) (detalhes no Capítulo 4). estudo ao longo de certo tempo.
A trajetória negativa de um ecossis- Em muitos casos, o acompanhamento
tema com estrutura e funções alteradas temporal da vegetação baseado em par-
pode ser revertida ativamente com ações celas permanentes tem se mostrado efi-
de manejo (ver o Capítulo 5). Ações poten- ciente e promissor no estudo da dinâmi-
ciais de manejo na escala local incluem ca de vegetações (FARAH et al., 2014; OLI-
a eliminação de fatores de perturbação VEIRA-FILHO; MELLO; SCOLFORO, 1997).
(i.e., entrada de gado, ocorrência de incên- A observação da dinâmica durante um
dios, controle de espécies exóticas inva- período em que a trajetória se mantenha
soras e de populações hiperabundantes consistente – por exemplo, grande per-
etc.), a melhoria das condições ambien- da de biomassa durante todo o período
tais locais (i.e., umidade e luminosida- – pode fornecer dados importantes para
de incidente no interior do fragmento), a definição de estratégias de interven-
além da reintrodução de espécies vege- ção, prevenindo o colapso do ecossiste-
tais nativas regionais ou pertencentes ma. O raciocínio é que, mantida a traje-
a grupos funcionais defasados ou mais tória de degradação observada, não há ra-
suscetíveis à extinção (LEÃO et al., 2014; zão para supor que o ecossistema muda-
RODRIGUES et al., 2011). Dessa forma, as rá essa trajetória no curto prazo. Nessa
informações básicas sobre a biologia das situação, pode-se admitir que o colapso
espécies e seu comportamento ecológico estrutural e funcional é altamente pro-
(distribuição espacial, habitat de ocor- vável, o que comprometerá a autossus-
rência, tolerância à sombra, síndrome de tentação do ecossistema e o provimen-
dispersão etc.) são essenciais para orien- to de serviços ambientais. Nesse senti-
tar as recomendações de manejo adapta- do, por uma questão de precaução, pode-
63
3.4.3 O método proposto ria em campo, pela identificação das di-
A escolha dos parâmetros para a avalia- ferentes situações ecológicas pelo avalia-
ção e o diagnóstico de fragmentos flo- dor (i.e., áreas ribeirinhas, trechos de flo-
restais considerou aqueles que repre- resta secundária, trechos de floresta ma-
sentam o estágio sucessional e o estado dura etc.). Análises prévias de imagens
de conservação para a fisionomia FES do de satélite também podem auxiliar na
interior paulista, permitindo uma ava- localização dos pontos de amostragem.
liação qualitativa e quantitativa (cate- Recomenda-se que sejam estabele-
górica). Utilizamos como referência os cidos segmentos na borda e no interior
estágios de sucessão da Mata Atlântica do fragmento, pois esses dois ambientes
definidos pelas resoluções do Conama (borda e interior) podem requerer uma
no 10/93 e 1/94 (CONAMA, 1993, 1994). Va- tomada de decisão distinta quanto ao ma-
lendo-nos dessas resoluções, acrescen- nejo. Sugerimos que a AER seja realiza-
tamos detalhamentos pertinentes à fi- da em segmentos de 100 m2 (50 m x 2 m
sionomia alvo desta proposta, com base ou 25 m x 4 m), em mesmo número nos
na literatura disponível e na experiên- ambientes de borda e interior (quando
cia de campo dos autores. possível, sugerimos cinco segmentos por
Cabe ressaltar que um fragmento flo- ambiente). A avaliação é feita durante a
restal é normalmente heterogêneo – re- caminhada por toda a extensão de cada
presentado por um mosaico de situações segmento, para registro dos parâmetros
– com estrutura e composição de espécies de avaliação.
variáveis no espaço. Por esse motivo, su- No interior: recomenda-se que os seg-
gerimos que a AER seja feita por meio do mentos sejam estabelecidos sistematica-
registro de parâmetros em diversos seg- mente, no sentido norte-sul, mantendo
mentos florestais. A definição da locali- uma distância mínima de 20 m entre si.
zação desses segmentos não necessita ser Também recomendamos que haja a ex-
sistemática: os locais de amostragem po- clusão de, no mínimo, 10 m a partir da
dem ser estabelecidos de forma aleató- borda imediata do fragmento para o es-
65
Ambientes Segmentos Fragmentos
P1
P2 1º diagnóstico
S1 P3 Média por
P4
parâmetro
P1
P2
por ambiente
S2 P3
P4 Parâmetros
P1 passíveis de
Borda S3
P2
P3
manejo
P4 Média ≥ 2,5
P1
P2
S4 P3
P1 Número de estratos
P4
P2 Continuidade do dossel
P1
P3 Fatores locais de degradação
P2
S5 P3
P4 Presença de espécies-problema
P4
P1
P2
S1 P3
P4 2º diagnóstico
P1 Média geral
P2
S2 P3
da pontuação
P4 dos segmentos
P1
P2
Interior S3 P3
P4
Necessidade
P1
de manejo
P2 Média geral
S4 P3 de segmentos
P4
P1
P2
S5 P3
P4
4 5 6 7 8 9 10 11 12
Figura 3.4 – Esquema ilustrativo dos dois diagnósticos para avaliação do estado de conservação de fragmentos
florestais da Floresta Estacional Semidecidual, visando subsidiar a tomada de decisões quanto à necessidade e
prioridade de manejo. Fonte: Elaboração própria.
67
Tabela 3.1 – Descritores biológicos e estruturais (parâmetros) a serem avaliados na Ava-
liação Ecológica Rápida (AER) de fragmentos florestais da fisionomia Floresta Estacio-
nal Semidecidual (FES), visando à tomada de decisão quanto à necessidade e priorida-
de de manejo adaptativo.
PARÂMETRO CATEGORIAS E EXEMPLOS PONTUAÇÃO
69
passíveis de manejo (média ≥ 2,5) no pri- mentar ações de erradicação, contenção
meiro diagnóstico, são eles: número de ou controle de espécies exóticas invaso-
estratos, continuidade do dossel e pre- ras (OLIVEIRA; PEREIRA, 2010).
sença de espécies-problema. Ao contrá- Exemplo 2 (Tabela 3.3): Este exemplo
rio, o interior não apresentou nenhum corresponde a um fragmento florestal
parâmetro passível de manejo, de acor- que apresenta a borda e o interior com
do com os valores estipulados pelo mé- nível mais alto de degradação. De acordo
todo. Esse é um cenário comumente en- com o primeiro diagnóstico, nos dois am-
contrado nos fragmentos florestais de bientes (borda e interior), os parâmetros
paisagens agrícolas no interior do estado continuidade do dossel e presença de es-
de São Paulo, com as bordas mais degra- pécies-problema apresentaram média ≥
dadas, dominadas por espécies invasoras 2,5, sendo passíveis de manejo. No entan-
ou nativas hiperabundantes, e o interior to, outros parâmetros apresentaram mé-
em melhor estado de conservação. O se- dia elevada, muito próxima de 2,5, como
gundo diagnóstico mostrou uma média número de estratos e fatores de degra-
geral para o fragmento de 8,1, indicando dação. Fragmentos florestais com dos-
necessidade intermediária de manejo. sel descontínuo permitem a prolifera-
Destacamos que algumas situações ção de espécies heliófitas, nativas ou exó-
de degradação merecem mais atenção, ticas, que podem dominar a comunida-
como é o caso da presença de espécies de vegetal, diminuindo a resiliência lo-
invasoras no parâmetro “espécies-pro- cal do fragmento. Nesse caso, as espécies
blema” (pontuação 3). Nesse caso, mes- invasoras foram registradas em três seg-
mo que a média geral para o fragmento mentos da borda e do interior, o que, por
tenha sido 8,1, recomendamos o mane- si só, requer ações para seu controle ou
jo das espécies invasoras, com base no erradicação, conforme mencionado no
“princípio da precaução”, conforme es- Exemplo 1. A ocorrência de fatores locais
tabeleceu a Convenção sobre a Diversi- de degradação, como observado dos seg-
dade Biológica, regulamentada no Bra- mentos do interior, pode agravar ainda
sil pelo Decreto no 2.519, de 16 de março mais esse quadro, aumentando a neces-
de 1998 (BRASIL, 1998a). De acordo com sidade de manejo adaptativo para a reto-
esse princípio, as decisões de manejo de- mada e manutenção da resiliência local.
vem ser tomadas antes mesmo da certe- O segundo diagnóstico apresentou mé-
za científica absoluta de que tal situação dia geral de 9,7 para o fragmento, indi-
configura ameaça real ao ambiente, bas- cando, portanto, uma situação mais crí-
tando a plausibilidade, fundada nos co- tica de degradação, que provavelmente
nhecimentos científicos disponíveis na demandará maiores esforços para ser re-
época. Portanto, a falta de certeza cien- vertida com as ações de manejo.
tífica não deve ser usada como justifica-
tiva para prorrogar ou deixar de imple-
MÉDIA PARÂMETRO
MÉDIA PARÂMETRO
1º DIAGNÓSTICO
1º DIAGNÓSTICO
INTERIOR4
INTERIOR2
INTERIOR3
INTERIOR5
INTERIOR1
BORDA4
BORDA2
BORDA3
BORDA5
BORDA1
Estratos
3 3 2 3 3 2,8 1 3 2 1 2 1,8
Dossel
3 3 3 2 3 2,8 1 2 2 1 2 2
degradação
Fatores de
1 1 2 2 2 1,6 1 1 1 1 1 1
Espécies-problema
3 3 3 3 3 3 3 2 1 1 1 1,2
Soma
10 10 10 10 11 6 8 6 4 6
2o diagnóstico
Média geral
8,1
71
Tabela 3.3 – Exemplo 2, utilizando o método de AER proposto para a decisão de realizar
ou não o manejo do fragmento florestal.
MÉDIA PARÂMETRO
MÉDIA PARÂMETRO
1º DIAGNÓSTICO
1º DIAGNÓSTICO
INTERIOR4
INTERIOR2
INTERIOR3
INTERIOR5
INTERIOR1
BORDA4
BORDA2
BORDA3
BORDA5
BORDA1
Estratos
2 3 2 2 3 2,4 2 2 2 3 3 2,4
Dossel
2 3 2 3 3 2,6 2 2 3 3 3 2,6
degradação
Fatores de
1 2 2 2 2 1,8 2 2 3 3 2 2,4
Espécies-problema
2 3 2 3 3 2,6 2 2 3 3 3 2,6
Soma
7 11 8 10 11 8 8 11 12 11
2o diagnóstico
Média geral
9,7
73
dam medidas rápidas para prevenir da- sidade de realizar o manejo e da sua efi-
nos futuros, como no caso da presença de cácia em paisagens tão modificadas pe-
espécies exóticas, conforme já foi men- las atividades humanas.
cionado no item 3.4.4 (Exemplo 1) e, por- Apesar das circunstâncias pouco con-
tanto, tornam-se prioritárias na pauta vidativas e cheias de incertezas, reforça-
do manejo adaptativo. mos que as decisões recomendadas pelo
Esses questionamentos nos levam ao método proposto se baseiam em aspec-
terceiro ponto discutível, que é exata- tos ecológicos bem estudados da dinâmi-
mente a ausência de evidências concre- ca florestal e do processo de fragmenta-
tas sobre a eficácia das ações de manejo, ção e degradação do habitat, que apontam
tanto do ponto de vista ecológico quan- para cenários catastróficos, caso nenhu-
to do ponto de vista econômico. As inter- ma medida seja tomada, tendo em vista
venções com propósitos conservacionis- a expansão das atividades antrópicas e
tas são escassas na prática e na literatura, fatores agravantes como o aquecimen-
com o agravante de que as respostas às to global (HELLER; ZAVALETA, 2009; NE-
ações de manejo só se revelam em longo WBOLD et al., 2015). Por fim, ressaltamos
prazo e exigem um delineamento apro- que, muito além dos aspectos ecológicos,
priado para registrá-las. Considerando a as iniciativas de conservação e restaura-
complexidade decorrente dos diferentes ção ecológica precisam trazer a discus-
graus de resiliência dos fragmentos flo- são para uma realidade factível, na qual
restais remanescentes, dos múltiplos es- aspectos práticos devam ser ponderados
tados estáveis possíveis e da imprevisibi- para a concretização de políticas públi-
lidade das respostas (BRAND; JAX, 2007, cas coerentes e robustas, delineando uma
FOLKE et al. 2010; SASAKI et al., 2015), es- estratégia efetiva para a manutenção da
tamos cientes da dificuldade de chegar biodiversidade e dos serviços ecossistê-
a conclusões concretas acerca da neces- micos em paisagens antrópicas.
A
visão dendrológica de que as florestas são um conjunto de árvores é uma
ideia equivocada, enraizada na cultura e na história brasileiras. Uma flores-
ta é um ecossistema em que espécies vegetais de diferentes formas de vida
interagem umas com as outras, com a fauna e com o ambiente físico. Em al-
gumas situações, a restauração ecológica de fragmentos florestais se faz necessária, até
mesmo com a aplicação de algum método de manejo de espécies de trepadeiras. No en-
tanto, essa prática deve ser planejada com consciência, responsabilidade e embasamen-
to científico. O manejo de trepadeiras indiscriminado e sem fundamentação científica
representa um distúrbio antrópico que intensifica o processo de degradação do ecos-
sistema florestal e provoca resultados desastrosos, como a perda da diversidade bioló-
gica. Esse prejuízo consiste não apenas na perda da diversidade de espécies como tam-
bém no detrimento da diversidade genética, da diversidade química, da diversidade
ecológica, da fonte de medicamentos, da fonte de alimentos, da fonte de matéria-pri-
ma e biotecnologia. Considerando a importância da restauração dos fragmentos de Flo-
resta Estacional Semidecídua (FES) e da conservação das espécies de trepadeiras nesses
fragmentos, apresentamos neste capítulo recomendações prévias ao manejo de trepa-
deiras, métodos de manejo de trepadeiras e subsídios para fundamentar esse manejo.
4.1 R
ecomendações prévias ao cresciam selvagens em regiões tempera-
manejo de trepadeiras das, no oeste da Ásia, no sudeste da Eu-
Desde a antiguidade, as trepadeiras fa- ropa, na Argélia e no Marrocos, são os
zem parte da história da humanidade. mais conhecidos (DE CANDOLLE, 1883).
Os relatos da ocorrência de videiras, que O hábito trepador nas plantas foi re-
1 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências, Departamento de Ciências Bio-
lógicas, campus de Bauru. Programa de Pós-graduação em Biociências (Interunidades) da Faculdade de Ciências e
Letras, campus de Assis, e da Faculdade de Ciências, campus de Bauru.
2 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Departamento de Biologia e Zootecnia, campus de Ilha Solteira.
3 Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Agrárias, campus de Araras.
4 Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Realeza.
5 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Departamento de Ciências Biológicas, campus de Assis.
77
exercida sobre as regiões fragmenta- dos coletores. Por esse motivo, muitas
das e as unidades de conservação, que vezes, essas informações não estão pre-
devem dispor de um plano de manejo, sentes nas etiquetas dos herbários. São
de acordo com a Lei Federal no 9.985, de incluídos aspectos referentes ao hábito,
18 de julho de 2000 (BRASIL, 2000). Essa comumente confundido com outras for-
lei regulamenta quaisquer atividades mas de vida, e, especialmente, as adapta-
de manejo, que devem, por definição, ções de escalada: gavinhas, ganchos, es-
estar sempre fundamentadas em crité- pinhos, raízes, volubilidade do caule ou
rios científicos. de outra parte da planta.
O levantamento florístico é um dos Associado à recomendação de um le-
métodos mais acessíveis para o conhe- vantamento florístico, sugerimos um
cimento da diversidade; entretanto, os modelo de anotação de campo para tre-
aspectos morfológicos das trepadeiras padeiras, que contribuirá para a deter-
que são pertinentes à determinação das minação das espécies do estudo (Qua-
espécies não são conhecidos da maioria dro 4.1).
79
preendimentos diversos ou desfloresta- teca Profa. Dra. Maria Aparecida Mourão
das (PEIXOTO et al., 2006). Brasil da Universidade Estadual Paulista,
O Brasil tem hoje 249 herbários. Mais campus de Botucatu (BOTUw), em Botuca-
da metade deles é ativa em intercâmbio tu; Xiloteca do Instituto de Biociências da
de dados e materiais científicos. Os de- Universidade de São Paulo (SPFw), em São
mais têm finalidade didática ou estão em Paulo. Duas estão em Pernambuco: Xilo-
implantação (REDE BRASILEIRA DE HER- teca do Trópico Semiárido (HTSAw) e Xi-
BÁRIOS, 2017). Ainda é baixa e difícil de loteca do Herbário Vale do São Francisco
mensurar a representatividade do hábito da Universidade do Vale do São Francisco
trepador nos herbários, já que há mais de (HVASFw), ambas em Petrolina. Há uma
80 famílias de plantas trepadeiras entre no Amazonas: Xiloteca do Instituto Nacio-
as angiospermas e muitos registros mal nal de Pesquisas da Amazônia (INPAw),
informam o hábito, que pode se modifi- em Manaus. E, por fim, uma em Santa Ca-
car durante o ciclo de vida da planta tre- tarina: Xiloteca Joinvillea da Universida-
padeira. Além disso, a maioria das espé- de da Região de Joinville (JOIw), em Join-
cies de trepadeiras floresce em períodos ville (SPECIES LINK, 2016).
diferentes (MORELLATO; LEITÃO FILHO, O lenho depositado nas xilotecas é
1996; WEISER, 2002, 2007) e em locais ina- quase que totalmente proveniente de ár-
cessíveis às tesouras de alta poda. vores. São raras as coleções de madeira
com espécimes de trepadeiras lenhosas.
4.1.4 Coleta de lenho e A anatomia das trepadeiras é um tema
incorporação a xilotecas ainda pouco estudado, embora já tenha
A xiloteca é uma coleção de partes de sido abordado por Schenck (1892). Foi so-
madeira desidratada, preparadas segun- mente depois de Obaton (1960) que sur-
do técnicas específicas e devidamente giram novas informações sobre a anato-
armazenadas e organizadas. Para o de- mia de trepadeiras em artigos que tra-
pósito de material, são necessárias in- tam desse grupo de plantas.
formações básicas, como nome do co- O desenvolvimento do caule das tre-
letor, local de coleta, nome científico padeiras em diferentes sistemas de es-
da espécie e nome popular, entre ou- calada provocou adaptações no câmbio
tras. As xilotecas fornecem informações vascular, formando características ana-
adicionais para a identificação das es- tômicas diferenciadas, chamadas de es-
pécies e são indispensáveis aos estudos truturas irregulares ou anômalas. Essas
de características da madeira (FONSE- estruturas, como auxiliares na identifi-
CA; VIEIRA, 1984). cação das espécies, revelaram-se muito
São sete as xilotecas brasileiras regis- importantes, pois permitem a determi-
tradas na rede Species Link. Três delas es- nação das espécies que não apresentam
tão no estado de São Paulo: Xiloteca Cal- folhas, flores ou frutos no momento da
vino Mainieri do Instituto de Pesquisas coleta, principalmente em levantamen-
Tecnológicas (BCTw), em São Paulo; Xilo- tos fitossociológicos.
81
abundâncias relativas ou de seus níveis valor de importância, há efeitos deleté-
de agressividade. rios claros sobre as populações de espé-
Considerando tanto o manejo quanto cies arbóreas e arbustivas importantes
a conservação florestal, Gerwing (2006) na estrutura da comunidade?
questionou qual tipo de manejo de trepa- Sfair et al. (2015) amostraram trepadei-
deiras deveria ser utilizado: o corte indis- ras e seus forófitos, no intuito de tentar
criminado de todas as trepadeiras, para compreender os padrões de interações de
diminuir a superabundância de algumas trepadeiras e forófitos em três formações
espécies, ou o corte seletivo, pensando- vegetais no estado de São Paulo – Flores-
-se que poderia haver trepadeiras que se ta Ombrófila Densa, Floresta Estacional
manteriam naturalmente raras nessas Semidecídua e cerradão – por meio de si-
florestas e que seriam, portanto, susce- mulações matemáticas, visando testar a
tíveis à extinção local. Para responder a eficiência de duas estratégias de manejo
essa indagação, é importante considerar – remoção de trepadeiras abundantes e
os questionamentos propostos por Engel, remoção de trepadeiras mais robustas –,
Fonseca e Oliveira (1998), úteis para nor- contrastando-as com a remoção aleató-
tear decisões sobre o manejo de trepadei- ria. Os autores também analisaram se as
ras em fragmentos florestais ou para es- trepadeiras com maiores diâmetros se-
colher a estratégia de manejo mais ade- riam as mais agressivas. Se esse padrão,
quada a cada condição local: de fato, fosse verificado, o manejo pode-
1) As trepadeiras são a causa primária ria enfocar apenas esses indivíduos. As
da degradação ou uma das respostas ge- simulações da remoção de trepadeiras
radas pelo conjunto de fatores que cul- basearam-se nas abundâncias: remo-
minaram na fisionomia e estrutura da veu-se, metodicamente, desde a espécie
floresta verificada e quantificada naque- de trepadeira mais abundante até a mais
le momento? rara na amostragem, calculando a quan-
2) Os efeitos de trepadeiras em árvores tidade de árvores sem trepadeiras após
individuais podem comprometer sua so- a sua remoção; já as simulações de cor-
brevivência e seu desenvolvimento, com te de trepadeiras foram realizadas com
reflexos negativos na estrutura da comu- base em diâmetros progressivamente
nidade florestal toda? maiores, verificando-se, posteriormen-
3) A riqueza e a diversidade de trepa- te, a proporção de árvores que ainda ti-
deiras na comunidade é baixa ou está nham trepadeiras.
em declínio, havendo evidência de ex- Os autores constataram que remo-
clusão competitiva de espécies relativa- ver espécies de trepadeiras com base na
mente raras? abundância mostrou-se mais eficiente
4) Há espécies de trepadeiras indica- que manejá-las aleatoriamente: a maior
doras de perturbações intensas na co- parte das espécies de trepadeiras não era
munidade? agressiva e escalou poucas árvores nas
5) Do ponto de vista de seus índices de três formações vegetais. Portanto, se a
83
sugeriu-se que o manejo pelo corte fosse lativas e no crescimento das espécies de
empregado apenas para as espécies de tre- trepadeiras (VIDAL et al., 1997).
padeira com alta capacidade de rebrota. O corte indiscriminado (aleatório, em
Destacamos, portanto, que os acha- termos experimentais) como estratégia
dos de Rocha (2014) foram congruentes potencial de manejo de espécies de tre-
com os achados de Sfair et al. (2015), des- padeiras na Amazônia também foi com-
critos anteriormente. Nesse caso, pare- parado à eficiência do uso de incêndios
ce que a escolha da estratégia de corte controlados, visando ao aumento da re-
seletivo, baseada na maior velocidade generação de árvores (GERWING, 2001),
de rebrota, reduziria os custos de ma- com estas expectativas principais: (1) o
nejo e aumentaria as chances de su- manejo reduziria a densidade de trepa-
cesso da restauração ecológica da área deiras; (2) as trepadeiras seriam mais
(VIDAL; GERWING, 2003) no que tange tolerantes ao fogo do que as árvores; e
ao alcance da sustentabilidade no lon- (3) ambas as estratégias de manejo au-
go prazo. Contudo, são necessários ex- mentariam o crescimento e o recruta-
perimentos mais prolongados, que ge- mento de árvores.
rem informações sobre o tipo de trata- Ao longo de dois anos, em parcelas de
mento e a época mais promissora para 1.600 m2 (em seis blocos casualizados), após
o corte. Esses experimentos devem le- a execução dos tratamentos, foram me-
var em conta que alguns resultados su- didos o crescimento e a sobrevivência de
geriram a necessidade de manter o ma- árvores, a cobertura do dossel, além da
nejo das trepadeiras, além do corte de densidade e da velocidade de regenera-
espécies de trepadeiras agressivas, até ção das trepadeiras.
que o dossel seja recomposto, a ponto A mortalidade média após o incêndio
de diminuir a regeneração por meio controlado foi significativamente maior
de sementes de trepadeiras presentes para as espécies de trepadeiras do que
no banco de sementes e de propágulos para as árvores. Porém, após dois anos, a
do solo (GIRÃO, 2015). rebrota e a germinação de sementes de
Devemos dar a devida atenção a essas trepadeiras levou à retomada de 70% da
ações, especialmente para que o manejo densidade inicial de trepadeiras. Ambos
seletivo ou irrestrito não favoreça as es- os tratamentos aumentaram significati-
pécies mais agressivas em crescimento, vamente a ocorrência de árvores, que pas-
situação que poderia intensificar os efei- saram a se regenerar, particularmente
tos deletérios sobre a composição florísti- nas áreas que experimentaram manejo
ca e a estrutura fitossociológica da comu- com fogo. Ainda assim, foi argumentado
nidade florestal (VIDAL et al., 1997). Nesse que o corte de trepadeiras parecia ser o
caso, após os resultados obtidos nos ex- mais promissor, considerando-se a me-
perimentos citados, aconselhamos que o nor taxa de regeneração de trepadeiras,
manejo de trepadeiras, seja seletivo, seja adicionada à possibilidade de essa estra-
irrestrito, baseie-se nas abundâncias re- tégia ser incluída em um plano mais am-
85
irrestrito ou seletivo, fundamente-se na das possíveis relações entre espécies de
composição local de espécies de trepadei- árvores e de trepadeiras; provavelmen-
ras, mais precisamente na densidade re- te, outras variáveis devem estar relacio-
lativa e nas taxas de crescimento relati- nadas aos padrões de rebrota e infesta-
vo das espécies, para que se reconheçam ção de espécies superabundantes após o
as mais agressivas na área alvo. No mé- tratamento de corte. Logo, outras carac-
dio e no longo prazo, contudo, é possível, terísticas estruturais, morfológicas e a
ainda, imaginar que as estratégias suge- própria história de vida das espécies ar-
ridas até o momento não sejam suficien- bóreas, que facilitariam ou inibiriam a
temente bem-sucedidas no alcance da infestação por espécies de trepadeiras
sustentabilidade de fragmentos de FES, (SFAIR et al., 2013) e o real impacto exer-
uma vez que as espécies de trepadeiras cido por elas sobre os forófitos, poderão
têm capacidades distintivas de rebrota. ajudar a predizer como a manutenção
Nesse aspecto, o desafio principal é ou o aumento da riqueza e da diversida-
controlar as trepadeiras que se tornam de de espécies de trepadeiras influencia-
superabundantes em determinado cená- ria a riqueza e a diversidade da floresta
rio de degradação e que se mantêm com toda (DIAS, 2009).
elevadas velocidades de crescimento re-
lativo, mesmo após o manejo. Da mesma 4.3 Subsídios para fundamentar
forma, o corte dessas espécies supera- o manejo de trepadeiras
bundantes pode, eventualmente, alterar No estado de São Paulo, apenas quatro
as abundâncias relativas de outras espé- áreas de FES foram avaliadas quanto à
cies da comunidade, de modo que as es- estrutura fitossociológica de espécies
pécies mais raras localmente se mante- de trepadeiras. No entanto, como o cri-
nham em risco de extinção na comuni- tério de inclusão adotado nessas avalia-
dade ou passem a apresentar algum tipo ções foi o de trepadeira com diâmetro do
de ameaça à extinção local (GERWING; caule igual ou superior a 1 cm (Tabela 4.1),
VIDAL, 2002). predominaram as lianas, i.e., as trepadei-
É necessário, portanto, compreender ras lenhosas. Os estudos foram realiza-
melhor os filtros ecológicos impostos dos na Fazenda Canchim, em São Carlos
por esse grupo de plantas que estejam (HORA; SOARES, 2002), na Estação Ecoló-
envolvidos na diminuição da velocida- gica de Paulo de Faria, em Paulo de Faria
de de resiliência da floresta, a fim de es- (REZENDE; RANGA; PEREIRA, 2007), na
tabelecer formas de manejo com poten- Fazenda Cambuhy, em Matão, e na Fa-
cial mais elevado de sucesso. Do que já foi zenda Boa Vista, em União Paulista (RO-
produzido, reconhecemos apenas parte BATINO, 2010).
Tamanho do
112 ha 650 ha 2.189 ha 230 ha
fragmento florestal
Método de
parcela parcela parcela parcela
amostragem
T A T A T A T A
Critério de
2,5 cm nc 1 cm 3 cm 1 cm 5 cm 1 cm 5 cm
inclusão (DAP)
Número de
45 nc 45 87 65 110 66 66
espécies
Número de gêneros 36 nc 33 68 43 79 38 52
Número de
13 nc 13 35 19 36 15 27
famílias
Equabilidade
0,84 nc 0,78 0,80 0,75 0,64 0,74 0,69
(Pielou)
Índice de
diversidade de
3,2 nc 2,98 3,58 3,11 3,03 3,09 2,90
Shannon-Weaver
(nats. indivíduo-1)
Área basal
1,05 nc 1,73 30,27 1,24 20,83 1,04 24,78
(m2.ha-1)
Densidade
528 nc 1.427 1.419 1.421 1.286 1.857 1.059
(ind.ha-1)
Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010); Marcondelli (2010).
87
Considerando os levantamentos reali- presentes em uma comunidade (BEGON;
zados nessas quatro áreas e a importân- HARPER; TOWNSEND, 1996; MARTINS;
cia de fornecermos subsídios para fun- SANTOS, 1999).
damentar planos de manejo em FES no Considerando as quatro áreas, foram
estado de São Paulo, avaliamos: (1) a ri- identificadas 95 espécies de trepadeiras
queza de espécies de trepadeiras amos- (Tabela 4.2), das quais apenas 13 eram
tradas, destacando as comuns a todas as comuns a todas as áreas, representadas
áreas e as exclusivas; (2) as espécies abun- pelas famílias Bignoniaceae (oito espé-
dantes e as dominantes; (3) os resultados cies), Sapindaceae (três), Apocynaceae e
referentes às distribuições de trepadei- Fabaceae (uma espécie cada).
ras por classes de tamanho; e (4) a infes- Das 95 espécies amostradas, cerca da
tação e a agressividade das espécies. metade era exclusiva: 48 espécies (Tabela
4.3). União Paulista apresentou o maior
4.3.1 Riqueza número de espécies exclusivas (15), São
A riqueza em espécies, ou riqueza especí- Carlos apresentou 14, Paulo de Faria, 11,
fica, corresponde ao número de espécies e Matão, oito.
Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).
89
FAMÍLIA ESPÉCIE/[SINONÍMIA] OCORRÊNCIA
Machaerium lanceolatum (Vell.) J.F.Macbr. União Paulista
Machaerium oblongifolium Vogel Paulo de Faria
LOGANIACEAE
Strychnos acuta Progel [Strychnos albiflora Progel] União Paulista
Strychnos bicolor Progel União Paulista
Strychnos acuta Progel [Strychnos albiflora Progel] União Paulista
Strychnos bicolor Progel União Paulista
MALPIGHIACEAE
Banisteriopsis lutea (Griseb.) Cuatrec. Paulo de Faria
Banisteriopsis oxyclada (A.Juss.) B.Gates União Paulista
Carolus chlorocarpus (A.Juss.) W.R.Anderson São Carlos
Heteropterys argyrophaea A.Juss. Paulo de Faria
Heteropterys dumetorum (Griseb.) Nied. Paulo de Faria
Heteropterys pauciflora (A.Juss.) A.Juss. São Carlos
Niedenzuella acutifolia (Cav.) W.R.Anderson
São Carlos
[Tetrapterys guilleminiana A.Juss.]
Stigmaphyllon lalandianum A.Juss. São Carlos
Stigmaphyllon macropodum A.Juss. União Paulista
MENISPERMACEAE
Cissampelos pareira L. Paulo de Faria
NYCTAGINACEAE
Bougainvillea glabra Choisy Matão
POLYGALACEAE
Bredemeyera floribunda Willd. União Paulista
RUBIACEAE
Chiococca alba (L.) Hitchc. Matão
Guettarda pohliana Müll.Arg. Paulo de Faria
SALICACEAE
Pristimera andina Miers São Carlos
Pristimera celastroides (Kunth) A.C.Sm. Matão
SAPINDACEAE
Serjania communis Cambess. Paulo de Faria
Serjania meridionalis Cambess. Matão
Thinouia mucronata Radlk. São Carlos
TRIGONIACEAE
Trigonia nivea Cambess. União Paulista
VITACEAE
Cissus campestris (Baker) Planch. Paulo de Faria
Cissus erosa Rich. União Paulista
Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).
91
Tabela 4.4 – Espécies de trepadeiras mais abundantes nas quatro áreas de Floresta Es-
tacional Semidecídua no estado de São Paulo.
ABUNDÂNCIA
ÁREAS DE FLORESTA ESTACIONAL
ESPÉCIES SEMIDECÍDUA
PAULO SÃO UNIÃO
MATÃO
DE FARIA CARLOS PAULISTA
Anthodon decussatum Ruiz & Pav. 101
Dolichandra quadrivalvis (Jacq.) L.G.Lohmann
[Melloa quadrivalvis (Jacq.) A.H.Gentry] 153 188
Doliocarpus dentatus (Aubl.) Standl. 111
Forsteronia glabrescens Müll.Arg. 124 273
Forsteronia pilosa Müll.Arg. 168
Forsteronia pubescens A.DC. 171 121
Fridericia triplinervia (Mart. ex DC.) L.G.Lohmann
[Arrabidaea triplinervia (Mart. ex DC.) Baill. ex Bureau] 121
Mansoa difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. 103
Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers 198
Serjania lethalis A.St.-Hil. 165
Urvillea laevis Radlk. 142
Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).
Tabela 4.5 – Espécies de trepadeiras com apenas um indivíduo em uma das quatro áreas
de Floresta Estacional Semidecídua no estado de São Paulo.
FAMÍLIA ESPÉCIES/[SINONÍMIA]
APOCYNACEAE Condylocarpon isthmicum (Vell.) A.DC. União Paulista
Forsteronia pilosa Müll.Arg. Matão
BIGNONIACEAE Adenocalymma marginatum (Cham.) DC. União Paulista
Anemopaegma chamberlaynii (Sims) Bureau &
Matão
K.Schum.
Fridericia platyphylla (Cham.) L.G.Lohmann
União Paulista
[Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau]
Stizophyllum perforatum (Cham.) Miers União Paulista
Tanaecium pyramidatum (Rich.) L.G.Lohmann
São Carlos
[Paragonia pyramidata (Rich.)]
FABACEAE Machaerium oblongifolium Vogel Paulo de Faria
Rhynchosia phaseoloides (Sw.) DC. União Paulista
LOGANIACEAE Strychnos acuta Progel [Strychnos albiflora Progel] União Paulista
Carolus chlorocarpus (A.Juss.) W.R.Anderson
MALPIGHIACEAE São Carlos
[Mascagnia chlorocarpa (A.Juss.) Griseb.]
Heteropterys dumetorum (Griseb.) Nied. Paulo de Faria
Mascagnia cordifolia (A.Juss.) Griseb. Matão e União Paulista
Stigmaphyllon macropodum A.Juss. União Paulista
RHAMNACEAE Gouania virgata Reissek Matão
SAPINDACEAE Urvillea ulmacea Kunth Matão e São Carlos
Fontes: Hora; Soares (2002; Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).
93
CINHA; CASTRO, 2010; MEYER et al., 1961). tanto, que é fundamental a realização de
Quanto à análise do diâmetro dos in- estudos sobre a dinâmica das espécies de
divíduos amostrados nas quatro áreas, trepadeiras nas comunidades florestais
observamos que a maioria pertence à antes de submetê-las ao manejo.
classe de pequenos diâmetros, inferio-
res a 2,5 cm. Em São Carlos, aproxima- 4.3.5 Infestação e agressividade
damente 74% dos indivíduos apresen- O índice de infestação de trepadeiras re-
taram diâmetros menores que 2,5 cm e fere-se à comunidade ou a determinada
somente quatro indivíduos apresenta- espécie. Em nosso estudo, utilizamos o ín-
ram diâmetros acima de 10 cm. Em Pau- dice de infestação das trepadeiras na co-
lo de Faria, 57,6% dos indivíduos amos- munidade, i.e., a relação entre o número
trados apresentaram diâmetros meno- total de forófitos e o número total de in-
res que 2,5 cm e apenas 26 indivíduos divíduos arbustivos e arbóreos em uma
apresentaram diâmetros maiores que comunidade (WEISER, 2007).
10 cm. O maior indivíduo amostrado foi A agressividade de uma espécie de tre-
de Dolichandra quadrivalvis, com diâme- padeira refere-se ao número de forófitos
tro de 30,6 cm. Em Matão, 44,4% dos indi- que um mesmo indivíduo dessa espécie
víduos apresentaram diâmetros meno- ocupa, i.e., espécies de trepadeiras agres-
res que 2,5 cm e somente 26 indivíduos sivas são aquelas cujos indivíduos ocu-
apresentaram diâmetros maiores que 10 pam quatro ou mais forófitos (VIDAL et
cm. O maior indivíduo amostrado foi de al., 1997).
Fridericia mutabilis, com 17,3 cm de diâme- A análise sobre a infestação de árvo-
tro. Em União Paulista, 56% dos indiví- res por trepadeiras e sua agressividade
duos apresentaram diâmetros menores em FES no estado de São Paulo foi reali-
que 2,5 cm e apenas 11 indivíduos apre- zada apenas por Rezende (2005), na Esta-
sentaram diâmetros maiores que 10 cm. ção Ecológica de Paulo de Faria, em Pau-
O maior indivíduo amostrado, Forstero- lo de Faria. A autora verificou que, das
nia pubescens, com 13,3 cm de diâmetro. 1.419 árvores, 760 carregavam pelo me-
A dominância e a distribuição diamé- nos uma trepadeira, conferindo um ín-
trica revelam uma informação valiosa dice de infestação de 53,6% à área. Des-
sobre a espécie Urvillea laevis, abundan- ses 760 forófitos, 383 indivíduos (50,4%)
te em Paulo de Faria, mas formada exclu- apresentaram diâmetros maiores que
sivamente de indivíduos pequenos. Essa 10 cm. Das 33 espécies de árvores com
espécie não foi amostrada nas classes de pelo menos dez indivíduos de trepadei-
diâmetros maiores, evidenciando que de- ras, quatro apresentaram proporção de
terminadas espécies de trepadeiras podem infestação significativamente menor do
apresentar maior abundância de indiví- que a média geral: Inga marginata Willd.,
duos jovens e essa abundância se reduzir Piper amalago L., Trichilia catigua A.Juss.
com o passar do tempo. Ressaltamos, por- e Trichilia claussenii C.DC. Somente uma,
95
dez espécies de trepadeiras que, até então, que ocorrem no fragmento que será
não tinham ocorrência descrita no estado submetido à restauração ecológica? Es-
de São Paulo. Essa evidência fundamen- sas espécies são abundantes ou raras?
ta nossa preocupação com a prática indis- •• Quais são as espécies de trepadeiras
criminada do manejo de trepadeiras em dominantes no fragmento que será
fragmentos de FES e também nos forne- submetido à restauração ecológica?
ce subsídios para incentivar a conserva- Essas espécies dominantes apresen-
ção das espécies de trepadeira durante a tam indivíduos jovens e adultos igual-
restauração ecológica. mente distribuídos?
Para viabilizar a conservação das es- •• Qual é o índice de infestação das es-
pécies de trepadeiras em processos de pécies de trepadeiras no fragmen-
restauração ecológica de fragmentos de to que será submetido à restauração
FES, o pesquisador deve responder às se- ecológica?
guintes questões: •• Das espécies de trepadeiras com po-
tencial de agressividade, quantos in-
•• E xiste uma lista florística das espécies divíduos são, de fato, agressivos?
de trepadeiras que ocorrem no frag- •• Há estudos sobre a dinâmica das po-
mento que será submetido à restau- pulações das espécies de trepadeiras
ração ecológica? com potencial de agressividade no
•• Existe um estudo sobre a estrutura da fragmento que será submetido à res-
comunidade de trepadeiras no frag- tauração ecológica?
mento que será submetido à restau- •• Por fim, quais são os fatores que limi-
ração ecológica? tam a densidade populacional das es-
•• Há material vegetativo ou reproduti- pécies de trepadeiras com potencial
vo das espécies de trepadeira que ocor- de agressividade?
rem no fragmento que será submeti- Um estudo prévio das espécies de tre-
do à restauração ecológica deposita- padeiras é essencial para fundamentar o
do em herbários? plano de manejo. Conhecendo as respos-
•• Há exemplares de lenho das espécies tas para essas questões, o pesquisador terá
de trepadeiras lenhosas (lianas) que subsídios para planejar com consciência,
ocorrem no fragmento que será sub- responsabilidade e embasamento cien-
metido à restauração ecológica depo- tífico o manejo das espécies de trepadei-
sitados em xilotecas? ras, visando à conservação delas e à res-
•• Quais são as espécies de trepadeiras tauração dos fragmentos de FES.
E
ste capítulo traz um panorama geral dos estudos científicos e da expe-
riência prática no manejo de fragmentos florestais degradados com vis-
tas à restauração. Apresentamos a literatura referente à retirada dos fa-
tores de degradação, ao adensamento e enriquecimento de fragmentos
e ao controle de espécies exóticas e nativas hiperabundantes. Também apresen-
tamos estimativas preliminares do rendimento operacional de algumas ações
de intervenção nesses fragmentos e concluímos com orientações práticas para
guiar ações futuras nesses ecossistemas.
99
nanceiro. Por fim, valendo-nos de todos pais fatores de degradação de remanes-
os dados discutidos ao longo do capítulo, centes florestais comumente observados
listamos as principais considerações ne- em paisagens tropicais estão relaciona-
cessárias para fomentar a prática do ma- dos às culturas agrícolas (no caso da Flo-
nejo de fragmentos degradados. resta Atlântica, especialmente a cana-
-de-açúcar), à silvicultura, às pastagens
5.2 Manejo de fragmentos: e áreas urbanas. O uso do fogo na ma-
revisão da literatura triz agrícola, a caça e a extração seletiva
Neste item, discutiremos os dados obti- de madeira, a deriva de herbicidas, a en-
dos em uma ampla revisão da literatu- trada de gado e a invasão biológica estão
ra, que inclui artigos publicados em re- entre os principais fatores que levam ao
vistas nacionais e internacionais, livros declínio da biodiversidade e à degrada-
e capítulos de livros, dissertações e teses ção dos remanescentes florestais (JOLY;
que testaram diferentes métodos de ma- METZGER; TABARELLI, 2014; TABARELLI;
nejo de fragmentos florestais degrada- GASCON, 2005).
dos. O foco dessa revisão é encontrar ex- O isolamento da área e o controle dos
periências que possam nortear o manejo fatores de perturbação são primordiais
de fragmentos degradados de Florestas para aumentar as chances de sucesso da
Estacionais Semideciduais (FES), com o restauração e potencializar a capacidade
objetivo de potencializar o papel desses de autorrecuperação da comunidade. As
fragmentos na conservação da biodiver- ações podem variar desde a construção
sidade. No entanto, também abordamos de aceiros, para diminuir as chances de
e discutimos as experiências e o conhe- incêndios, e a instalação de cercas, para
cimento acumulado em outras forma- impedir o acesso de animais, até o con-
ções de florestas tropicais. Os trabalhos trole de espécies invasoras ou nativas
identificados na literatura foram agru- hiperabundantes (discutido nos próxi-
pados de acordo com os principais méto- mos itens). Nesse contexto, para quais-
dos utilizados (isolamento, adensamen- quer projetos de restauração, indepen-
to, enriquecimento, manejo de espécies dentemente do grau de degradação da
invasoras e nativas hiperabundantes) e área (seja uma área sem regeneração na-
são apresentados a seguir. tural, a ser restaurada desde o início, se-
jam remanescentes naturais alvo de ma-
5.2.1 Retirada dos fatores de nejo e conservação), a retirada dos fato-
degradação dos fragmentos res de degradação deve ser a primeira
florestais degradados etapa. O não isolamento da área afeta o
Após a identificação dos principais fato- desenvolvimento do projeto, aumentan-
res de degradação que detêm ou limitam do os custos e diminuindo a efetividade
a sucessão de uma comunidade a ser res- (ISERNHAGEN et al., 2009).
taurada, deve-se realizar seu isolamen- Em paisagens pouco fragmentadas,
to (RODRIGUES et al., 2009). Os princi- com elevado potencial de regeneração
101
Nos casos em que exista uma cober- da regeneração natural pela indução do
tura espessa de serapilheira, gramíneas banco de sementes é fortemente influen-
ou trepadeiras hiperabundantes, bem ciada pela forma do manejo, pelas condi-
como competição e efeito alelopático de ções climáticas no microssítio e pelas in-
plantas agressivas e/ou invasoras, a re- terações intra e interespecíficas na co-
moção desses fatores de degradação au- munidade, e o monitoramento da área
menta a incidência luminosa e a variação é que demonstrará a necessidade de ma-
de temperatura no ambiente. Essa mu- nejo adaptativo.
dança no microclima possibilita a ger- Em áreas onde não há resiliência do
minação, principalmente das sementes banco de sementes, o adensamento deve
de espécies arbóreas pioneiras, caso elas ser feito pelo plantio de mudas ou semen-
existam no banco. Desse modo, a cober- tes de espécies que apresentem crescimen-
tura pioneira obtida por meio da rege- to rápido e formação de copa densa e am-
neração leva à reestruturação da flores- pla – as chamadas espécies recobridoras
ta, condição necessária para a continui- (BRANCALION; GANDOLFI; RODRIGUES,
dade do processo sucessional (ROZZA; 2015; RODRIGUES et al. 2011). Essa opera-
FARAH; RODRIGUES, 2007). ção tem como objetivo aumentar o núme-
O estímulo do banco de sementes só ro de indivíduos em áreas com falhas na
é eficiente, no entanto, se o controle das regeneração natural, fechar rapidamen-
plantas competidoras e/ou a remoção te clareiras abertas e sombrear áreas em
da cobertura impeditiva tiverem início plantios já em andamento ou em áreas
na época chuvosa, conforme observado de regeneração natural escassa. Com a
por Farah (2003), ao manejar um rema- introdução dessas espécies, esperam-se a
nescente florestal degradado no muni- recuperação da fisionomia florestal ini-
cípio de Campinas (SP). O manejo pode cial da área, a melhoria das condições de
não ter o efeito desejado se for realizado microclima para germinação e do desen-
fora da época de chuvas regulares, pois se volvimento de espécies não pioneiras da
corre o risco de estimular a germinação sucessão e o controle do crescimento e da
de plântulas, seguida por alta mortalida- abundância de espécies invasoras ou hi-
de em poucos dias, em decorrência de ve- perabundantes, como trepadeiras e gra-
ranicos ou da estação seca. Nesse caso, a míneas (BRANCALION; GANDOLFI; RO-
operação de manejo realizada de forma DRIGUES, 2015; ISERNHAGEN et al., 2009).
errada leva à perda de boa parte do ban- Assim, alguns estudos testaram o
co de sementes local. O autor também ob- plantio de adensamento como metodo-
servou que, mesmo com o manejo reali- logia para introduzir espécies de rápi-
zado corretamente, a expressão da rege- do crescimento e boa cobertura de copa,
neração natural pode ser bastante hete- a fim de cicatrizar clareiras florestais
rogênea, tanto qualitativa (na composi- com baixa resiliência e de difícil recu-
ção) quanto quantitativamente (no nú- peração. Em um trecho de floresta com
mero de indivíduos). Assim, a expressão baixa expressão da regeneração após o
103
5.2.3 Enriquecimento dos fragmentos de florestas secundárias. Bertacchi et al.
florestais degradados: recuperação (2015) avaliaram a sobrevivência e o cres-
da composição florística e cimento de nove espécies arbóreas plan-
funcional da comunidade tadas por semeadura direta no sub-bos-
O enriquecimento representa a intro- que de áreas em restauração com dife-
dução de espécies finais de sucessão ou rentes idades que, mesmo após décadas
de outras formas de vida que não con- de plantio e recuperação da estrutura da
seguem colonizar a área naturalmente, floresta, ainda apresentam limitações
por meio de plantio de mudas, semeadu- na regeneração natural. Os autores con-
ra, transposição de topsoil, transposição cluíram que, nas áreas mais jovens e sob
de plântulas etc. (BERTACCHI et al., 2015; clareiras de deciduidade, típicas de FES
BRANCALION; GANDOLFI; RODRIGUES, (SOUZA; GANDOLFI; RODRIGUES, 2014),
2015; ISERNHAGEN, 2010; ISERNHAGEN as espécies apresentaram taxas melho-
et al., 2009; LE BOURLEGAT et al., 2013; res de recrutamento, o que sugere que as
VIANI; RODRIGUES, 2009), a fim de au- espécies podem se comportar de manei-
mentar o número de espécies e a diver- ra idêntica em remanescentes de flores-
sidade da comunidade, numa tentativa tas secundárias. Santos e Durigan (2013)
de contribuir para sua manutenção no encontraram resultados semelhantes em
longo prazo. Em áreas em processo de três áreas de restauração de FES de dife-
restauração (fragmentos ou, mais comu- rentes idades: cinco espécies arbóreas, de
mente, áreas abertas) inseridas em paisa- alto valor comercial e tolerantes à som-
gens altamente fragmentadas, pode ser bra, foram plantadas no sub-bosque dos
necessário incluir, como uma das etapas plantios. Embora o sombreamento não
do projeto, o enriquecimento dessas co- tenha afetado significativamente a mor-
munidades. Nesse tipo de paisagem, fre- talidade, as mudas apresentaram maior
quentemente, existe limitação da oferta, crescimento em áreas abertas e clareiras,
da dispersão ou do estabelecimento de es- por isso, os autores recomendam que se-
pécies finais de sucessão, o que pode le- jam abertas clareiras no dossel antes de
var à estagnação da sucessão em áreas em realizar o plantio de enriquecimento. De
restauração. Essas áreas podem perma- maneira semelhante, César et al. (2016)
necer indefinidamente na condição de- observaram que o manejo de trepadei-
gradada, a menos que sejam implemen- ras favorece a sobrevivência das mudas
tadas ações de manejo (VIANI et al., 2015). plantadas para o enriquecimento de re-
Em áreas abertas onde foram reali- manescentes florestais degradados, pro-
zados plantios de restauração, têm sido vavelmente em razão da maior disponi-
testadas diferentes estratégias de enri- bilidade de luz para as mudas. Numa ten-
quecimento, com diferentes objetivos, tativa de inserir outras formas de vida
cujos resultados oferecem bases teóri- em uma área em restauração em Irace-
cas e práticas importantes para experi- mápolis (SP), Le Bourlegat et al. (2013) tes-
mentos de manejo em remanescentes taram o enriquecimento pela semeadu-
105
te foi amostrado (LIMA et al., 2015). Nes- da de overabundance por Garrot e Whi-
se contexto, na Floresta Atlântica, em ra- te (1993); em português, o termo mais co-
zão do grau elevado de fragmentação (i.e., mumente utilizado é hiperabundância.
baixa cobertura florestal, baixa conecti- Apesar de serem nativas, essas espécies
vidade entre as manchas e tamanho re- oportunistas, como espécies pioneiras e
duzido da maior parte dos remanescen- bambus, quando hiperabundantes, in-
tes), a recomendação é que o manejo de fluenciam a distribuição de outros gru-
remanescentes seja feito exclusivamente pos funcionais na comunidade, em razão
para fins de conservação, a fim de poten- de suas características ecológicas, como
cializar o papel de conservação da biodi- tempo de vida, fenologia e deciduidade
versidade desempenhado pelas florestas (TABARELLI et al., 2010). Nesse contexto,
secundárias que sobraram nas paisagens espécies nativas podem ser passíveis de
altamente modificadas (BRANCALION ação de manejo, a fim de possibilitar o
et al., 2012a; VIDAL et al., 2016). retorno da comunidade a uma trajetó-
ria sucessional aceitável, conforme dis-
5.2.4 Controle de espécies nativas cutiremos nos itens a seguir. Para mais
hiperabundantes informações sobre o manejo de espécies-
Em florestas tropicais degradadas, múl- -problema, deve-se consultar o Capítulo
tiplos fatores, que operam desde a escala 4 deste documento técnico.
local até a escala global, interferem na di-
nâmica das comunidades florestais e em 5.2.4.1 Manejo de trepadeiras
sua trajetória sucessional (ARROYO-RO- Lianas são trepadeiras lenhosas que en-
DRÍGUEZ et al., 2015a). Os diferentes re- raízam no solo e investem seus recur-
gimes de distúrbios antrópicos frequen- sos em crescimento e produção de bio-
temente causam mudanças na composi- massa, em detrimento da manutenção
ção taxonômica e funcional das comuni- de sua rigidez, dessa forma, dependem
dades, por meio da seleção de grupos de de apoio estrutural externo para atin-
espécies adaptadas às características de gir o dossel florestal (DEN DUBBELDEN;
ambientes degradados, dominados por OOSTERBEEK, 1995).
borda e isolados de outros remanescen- Em florestas tropicais fragmentadas e
tes florestais (LÔBO et al., 2011). degradadas, tem sido observado um au-
Uma das mudanças estruturais mais mento na densidade, na biomassa e na
proeminentes em curso em diversas flo- produtividade das comunidades de trepa-
restas tropicais é o aumento na abundân- deiras, o que altera a estrutura e a função
cia e na biomassa de trepadeiras, o que dos fragmentos. Os estudos indicam que
pode acarretar alterações severas na di- esse aumento pode ser atribuído, prin-
nâmica florestal e em seu funcionamen- cipalmente, à recorrência de distúrbios
to (SCHNITZER; BONGERS, 2011). A domi- (naturais e antrópicos), ao aumento da
nância de espécies nativas causada por demanda evapotranspirativa, em decor-
distúrbios foi inicialmente denomina- rência da crescente severidade das secas
107
2) Fogo: os incêndios causam a mor- 4) Remoção por capina: esse método
talidade de árvores jovens e de trepa- consiste na remoção dos indivíduos de
deiras, que têm diâmetro relativamente trepadeiras, inclusive das raízes super-
pequeno; no entanto, as trepadeiras são ficiais, com enxada, por exemplo. A re-
extremamente resilientes e proliferam moção completa (que deve ser realiza-
vigorosamente após os incêndios, com- da apenas nas áreas infestadas dos frag-
prometendo a regeneração dos indiví- mentos) favorece o crescimento e o au-
duos arbustivos e arbóreos (FARAH et mento da densidade de indivíduos arbó-
al., 2014; GERWING, 2001; PINARD; PUTZ; reos e arbustivos, quando utilizada jun-
LICONA, 1999). to com o corte de trepadeiras; no entan-
3) Controle biológico: os fragmentos flo- to, o baixo rendimento operacional des-
restais inseridos em paisagens antrópi- sa atividade a torna inviável em larga es-
cas vêm sendo historicamente submeti- cala (GIRÃO, 2015).
dos a distúrbios crônicos, além do isola- Além dos métodos descritos anterior-
mento reprodutivo e da pequena área de mente, pode-se fazer o corte das trepa-
habitat para manter algumas populações deiras com facão, que resulta em me-
de espécies nativas. Esses fatores conver- nor impacto ambiental, custa menos e
gem para alterar a composição e a estru- é uma ferramenta com a qual a maio-
tura da comunidade florestal, tornando- ria das pessoas está acostumada (PAUL;
-a mais vulnerável à invasão de espécies YAVITT, 2011). O corte pode ser realizado
exóticas e ao desequilíbrio populacional a aproximadamente um metro de altura
de espécies nativas (FARAH et al., 2014; em relação ao solo, de maneira seletiva
JOSHI; MUDAPPA; SHANKAR RAMAN, ou não (ver o Capítulo 4). Os resultados
2015). O comportamento dos organismos dos estudos já realizados apontam que
que podem ser introduzidos para o con- não é necessário que os indivíduos ma-
trole biológico de trepadeiras se torna nejados sejam removidos da copa das ár-
imprevisível nesse contexto, e não exis- vores, pois isso reduz o rendimento ope-
tem experimentos que tenham abordado racional, causa danos à copa das árvores
o controle biológico de trepadeiras nos e aumenta o risco de acidentes. As trepa-
ecossistemas brasileiros. Ao mesmo tem- deiras deixadas nas copas secam em pou-
po, as trepadeiras são representadas por cas semanas, o que diminui a área cober-
um grupo diverso (várias famílias botâ- ta das árvores, reduzindo a competição
nicas), o que inviabiliza o controle bioló- por luz, e caem naturalmente em menos
gico, que, geralmente, é específico e exer- de um ano e meio (Figura 5.2).
cido por um ou poucos agentes.
Figura 5.2 – Indivíduo arbóreo infestado por trepadeiras: A) antes do manejo das trepadeiras; B) oito meses após
o manejo; C) 18 meses após o manejo.Fonte: César et al., 2016.
109
chas dominadas por lianas hiperabun- deiras aumentou a biomassa dos indiví-
dantes. O experimento considerou dife- duos arbóreos com DAP entre 1,58 cm e 5
rentes níveis de intensidade de manejo cm em menos de três anos após o manejo,
e testou: (a) o corte de lianas na área to- em relação às áreas sem manejo. Os mes-
tal da parcela; (b) o corte em faixas co- mos autores também observaram aumen-
brindo 50% da parcela; e (c) o corte pon- to na sobrevivência das mudas plantadas
tual de trepadeiras em um raio de 40 cm para o enriquecimento do fragmento em
ao redor do caule de árvores e arbustos. áreas com manejo de trepadeiras e um rá-
Após 24 meses de avaliação, observou-se pido fechamento do dossel pelas árvores
uma regeneração arbustivo-arbórea sig- em menos de dez meses após o manejo.
nificativamente maior no tratamento em Em todos os casos, é necessária uma
área total. Os tratamentos de intensida- definição clara dos objetivos do manejo
de menor não foram eficientes, pois es- de trepadeiras, além de um planejamen-
sas trepadeiras se alastram de maneira to de médio e longo prazo para as ações
muito vigorosa, fechando rapidamente de restauração, a fim de manter a susten-
as áreas de clareira, principalmente por tabilidade das áreas manejadas (ENGEL;
meio de rebrotas e pelo crescimento ho- FONSECA; OLIVEIRA, 1998). Em alguns
rizontal sobre o dossel da floresta nos li- fragmentos, a remoção das trepadeiras,
mites da área manejada. isoladamente, pode não ser suficiente
Ainda que apresentem esse compor- para o recrutamento de indivíduos ar-
tamento agressivo, formando grandes bóreos (CAMPANELLO et al., 2007). Ou-
emaranhados em áreas extensas de frag- tras ações, como os plantios de adensa-
mentos degradados, poucas espécies ru- mento e enriquecimento, discutidos an-
derais de trepadeiras tornam-se hipera- teriormente neste capítulo, podem ser
bundantes. Mello (2015) observou que so- necessárias nas áreas manejadas, caso a
mente três espécies ruderais representa- densidade de indivíduos arbóreos rege-
vam aproximadamente 30% dos indiví- nerantes obtidos seja baixa. Apesar dos
duos de trepadeiras em um fragmento vários estudos já desenvolvidos, os resul-
degradado em Piracicaba (SP), já Sfair et tados dos testes experimentais nem sem-
al. (2015) constataram que cinco espécies pre foram conclusivos, assim, muitos de-
de trepadeiras ocupavam mais de 50% safios permanecem em relação à efetivi-
dos indivíduos arbóreos em uma flores- dade, ao custo e à viabilidade operacio-
ta em Paulo de Faria (SP). nal do manejo de trepadeiras (CÉSAR et
Nesse contexto, o manejo dessas trepa- al., 2016; VIANI et al., 2015).
deiras pode favorecer o desenvolvimen-
to da comunidade arbustiva e arbórea no 5.2.4.2 Manejo de bambus
curto prazo (ver a discussão sobre o cor- Em determinados trechos muito pertur-
te seletivo de trepadeiras no Capítulo 4). bados de remanescentes florestais (por
Em um remanescente de FES, César et al. exemplo, abertos para plantio ou extra-
(2016) observaram que o manejo de trepa- ção de árvores ou acometidos por incên-
111
do ambiente alterado e ocupam nichos dispensável ao crescimento dessas her-
não tomados por espécies nativas. Assim, báceas, por exemplo, em áreas de borda,
as espécies exóticas invasoras podem al- nas grandes clareiras e em fragmentos
terar funções no ecossistema, como a que sofreram alterações grandes, como
ciclagem de nutrientes, competir com incêndios e desmatamentos. Da mesma
espécies nativas por recursos e interfe- forma, as herbáceas são o principal pro-
rir na sucessão secundária, ao impedir blema a ser superado nos projetos de res-
a regeneração natural de espécies na- tauração florestal de áreas abertas des-
tivas, dentre outros efeitos deletérios matadas. Um grupo importante de her-
(VITOUSEK et al., 1997). Em alguns ca- báceas invasoras em remanescentes flo-
sos, a presença dessas espécies não re- restais é o das gramíneas, formado espe-
presenta uma ameaça ao equilíbrio do cialmente por espécies originárias das
ecossistema e, em áreas degradadas ou savanas africanas, que foram dissemi-
em processo de restauração, é possível nadas pelo mundo para uso em pasta-
até utilizá-las como aliadas na recupe- gens, pelo alto vigor do metabolismo C4,
ração do ecossistema (D’ANTONIO; ME- pela grande facilidade de dispersão de
YERSON, 2002). sementes, pelo crescimento rápido, pela
Quando as espécies exóticas se tor- rusticidade e capacidade de rebrota. Em
nam invasoras, no entanto, podem do- virtude dessas características, essas gra-
minar a comunidade ou interferir de míneas tendem a ganhar a competição
forma negativa na sucessão do ecossis- com as espécies nativas, abafando a ger-
tema. Nesses casos, é necessário implan- minação e o estabelecimento dos indiví-
tar ações de controle e manejo dessas es- duos arbustivo-arbóreos (CÉSAR et al.,
pécies, a fim de auxiliar a recuperação 2014; HOLL et al., 2000; MANTOANI; TO-
do ecossistema. Neste subitem, discuti- REZAN, 2016). Podemos citar alguns gê-
mos estudos que manejaram dois gru- neros importantes, como Urochloa spp
pos de espécies exóticas que podem al- (braquiárias), Panicum sp (colonião) e
terar e estagnar a sucessão de uma co- Melinis sp (capim-gordura).
munidade em florestas secundárias de- Tradicionalmente, o controle de gra-
gradadas: as herbáceas invasoras, espe- míneas tem sido realizado mecanica-
cialmente as gramíneas africanas, e as mente (com roçadeira) ou quimicamen-
espécies arbóreas invasoras. te (com herbicidas). A segunda opção ge-
ralmente apresenta melhor custo-be-
5.2.5.1 Controle de herbáceas invasoras nefício (CÉSAR et al., 2013). Na restau-
Em ambientes muito alterados, a rege- ração de áreas abertas, após o contro-
neração frequentemente é impedida le inicial, tem sido utilizada a cobertu-
pela competição com espécies herbáceas ra do solo com espécies de adubos ver-
invasoras. Em fragmentos degradados, des, que, nos primeiros anos do projeto,
essa situação é mais comum em áreas apresenta excelente desempenho para
de alta incidência luminosa, fator in- sombrear o terreno, impedindo a germi-
A B
Figura 5.3 – Presença de gramíneas em remanescentes florestais degradados: (A) gramíneas ocupando uma clarei-
ra no interior de um remanescente; (B) sub-bosque sem regeneração natural, ocupado por gramíneas. Fotografias:
Julia Raquel Mangueira.
113
5.2.5.2 Controle de espécies comuns nas matas de interior da Flores-
arbóreas invasoras ta Atlântica. Algumas espécies podem
As espécies arbóreas invasoras repre- ser consideradas invasoras em todas as
sentam um grande desafio para a res- regiões brasileiras e, por isso, quando
tauração ecológica. Elas ocorrem em encontradas em remanescentes flores-
ambientes que sofreram algum distúr- tais, seu controle e manejo devem ser
bio, natural ou antrópico, estabelecem- prioritários (por exemplo, Acacia man-
-se e dominam o ambiente, em razão de gium, Leucena leucocephala, Melia aze-
algumas características que favorecem darach, entre várias outras – ver revi-
seu comportamento competitivo, den- são em ZENNI; ZILLER, 2011) (Figura 5.4).
tre elas: período juvenil curto; alto po- No entanto, a densidade de algumas de-
tencial de dispersão da espécie (muitas las deve ser avaliada localmente. Como
delas são atrativas de fauna); alta taxa exemplo, Psidium guajava (goiabeira) é
de germinação e estabelecimento; lon- uma espécie nativa da América do Sul
go tempo de vida e persistência no am- que se comporta como ruderal, em vir-
biente (D’ANTONIO; MEYERSON, 2002; tude da fácil dispersão pela fauna. Na
REJMANEK; RICHARDSON, 1996). Exis- maioria das regiões, a baixa densidade
tem diversas iniciativas de manejo e de indivíduos dessa espécie não exerce
controle dessas espécies, especialmen- interferência negativa, pelo contrário,
te em áreas abertas e plantios homogê- fornece recursos alimentares, poleiros
neos (DECHOUM; ZILLER, 2013). Essas ex- e abrigo para a fauna, o que favorece
periências podem orientar a prática de muito o processo de sucessão ecológica.
manejo em remanescentes degradados. Em determinados sítios, por outro lado,
No Apêndice, apresentamos uma lis- os indivíduos de P. guajava ocorrem em
ta das espécies arbóreas invasoras mais densidade elevada, a ponto de formar
frequentemente encontradas em áreas maciços quase homogêneos, o que suge-
naturais perturbadas ou em processo re a necessidade de raleamento de parte
de restauração florestal. Leucena leuco- dos indivíduos, para permitir a diversi-
cephala e Pinus spp são algumas das es- ficação gradativa da flora pelo ingresso
pécies arbóreas exóticas invasoras mais de novas espécies.
115
(BRANCALION et al., 2012a; VIANI et al., de interesse econômico (PINHO et al.,
2015; VIDAL et al., 2016). Dentro de pro- 2009). Esses valores dificilmente podem
priedades rurais, as matas ribeirinhas, ser extrapolados para estimar o rendi-
os topos de morro e as encostas estão pro- mento operacional do manejo de trepa-
tegidos como Área de Preservação Per- deiras para a recuperação de fragmen-
manente. Além disso, pelo menos mais tos florestais degradados, em razão das
uma porcentagem da área da proprieda- diferenças entre os métodos de manejo
de também deve estar coberta com ve- e a estrutura da vegetação entre flores-
getação nativa, protegida como Reserva tas conservadas e perturbadas.
Legal (Lei 12.651/2012). Embora esse seja César (2013) estimou que seriam ne-
um grande avanço na proteção de frag- cessários, em média, 88,3 ± 45,0 homens-
mentos de florestas na propriedade ru- -hora (hh) por hectare (ha) para o corte
ral (localizados majoritariamente den- de todas as trepadeiras (mínimo de 25,4
tro de propriedades privadas; SOARES-FI- e máximo de 200,2 hh/ha), em um frag-
LHO et al., 2014), não há nenhuma obri- mento em Piracicaba (SP). Em setores de-
gação legal que exija que os proprietá- gradados do Parque Estadual de Vassu-
rios das terras mantenham a qualida- nunga, em Santa Rita do Passa Quatro,
de desses fragmentos, apenas sua estru- foram estimados 216 ± 40 hh/ha para ma-
tura. Além disso, iniciativas de incenti- nejar todas as trepadeiras (dados ainda
vo financeiro que estimulem o manejo inéditos, coletados por Felipe de Arantes
desses remanescentes, como o pagamen- Mello e Luciana de Carvalho em 2016), o
to por serviços ambientais, ainda são tí- que representa um rendimento pelo me-
midas e pouco abrangentes (SEEHUSEN; nos cinco vezes menor do que o mane-
CUNHA; OLIVEIRA Jr., 2011). jo de trepadeiras em áreas conservadas
Ainda é escassa a literatura que abor- (GRAUEL; PUTZ, 2004; PÉREZ-SALICRUP
da o custo e o rendimento operacional et al., 2001; VIDAL et al., 1997). Consideran-
do manejo de fragmentos. A maioria dos do o valor da diária de um trabalhador
trabalhos, e mesmo os estudos que abor- como R$ 150,00, o manejo de trepadeiras
dam técnicas tradicionais de restaura- custaria, em Piracicaba, cerca de R$ 1.656
ção ecológica, como semeadura direta e ± 844/ha e, no PE Vassununga, R$ 4.050
plantio de mudas em áreas abertas, dis- ± 750/ha. Mangueira, Holl e Rodrigues
cutem pouco o custo e a viabilidade ope- (no prelo) encontraram um valor apro-
racional dos projetos (PALMA; LAURAN- ximado de R$ 85,1/ha e R$ 902,00/ha para
CE, 2015). Os poucos trabalhos que abor- a implantação de um enriquecimento
dam o custo do manejo de trepadeiras, de remanescentes, utilizando, respecti-
por exemplo, foram desenvolvidos no vamente, semeadura direta e plantio de
contexto de produção madeireira em flo- mudas nativas de quatro espécies arbó-
restas tropicais sem perturbações seve- reas nativas finais de sucessão.
ras, onde o corte de trepadeiras era rea- A variação nos custos dessas ativida-
lizado apenas em árvores individuais des pode ser resultado de diversos fato-
117
5.5). Nesse diagnóstico, devem ser iden- das situações de degradação dos frag-
tificados os trechos degradados e, para mentos florestais, com consequências
cada situação de degradação, recomen- imprevisíveis para a biodiversidade re-
damos uma abordagem de manejo dife- manescente. Nesse sentido, recomenda-
renciada, inicialmente aplicada em ca- mos sempre um delineamento experi-
ráter experimental, em pequena escala, mental, incluindo áreas não manejadas
com posterior avaliação dos resultados como controle, possibilitando a mensu-
obtidos, rediscussão das ações realiza- ração do ganho efetivo das ações efetiva-
das e adoção ou não de ações corretivas, das de manejo. Da mesma forma, deve-
sempre na busca dos melhores resulta- mos comparar o ganho nos parâmetros
dos ecológicos. Essa estratégia permite ecológicos, comparando a área maneja-
uma ampliação gradativa da escala de da no tempo inicial (antes do manejo) e
manejo, incrementando a possibilidade final (após o manejo). Essa abordagem
de sucesso. Essa precaução em relação à permite a avaliação e a redefinição das
escala evita a aplicação de ações de ma- ações de restauração para a área, bem
nejo não devidamente testadas em todo como o registro da experiência de ma-
o fragmento, o que tem grande chance nejo para novas situações de florestas
de insucesso, dada a heterogeneidade degradadas a serem restauradas.
Resultado
Tratamento sem manejo
(testemunha)
Ecossistema Ecossistema
conservado degradado Tratamento com manejo
• Pequena escala espacial
Comparação estatística dos resultados • Estratificação por situação
ambiental
Testemunha Tratamento A, B ou C
Repensar estratégias • Realizar monitoramento
de manejo • Delinear novos experimentos
Figura 5.5 – Proposta teórica de delineamento de experimentos, visando à restauração ecológica de remanescentes
florestais degradados. Fonte: Elaboração própria.
119
Considerando os principais fatores de apresentar elevada heterogeneidade es-
degradação discutidos neste capítulo, a pacial, tanto qualitativa (variação nas es-
Figura 5.5 ilustra uma proposta de estra- pécies) quanto quantitativamente (varia-
tégia de manejo adaptativo de fragmen- ção no número de indivíduos), em decor-
tos florestais degradados inseridos em rência dos diferentes históricos de per-
paisagem agrícola tecnificada, quando turbação de cada trecho do fragmento.
o objetivo do manejo for a conservação Dessa forma, o monitoramento da área
da biodiversidade. Como já dito, a retira- em restauração é essencial para que se-
da dos fatores de perturbação deve ser o jam adotadas as ações mais adequadas,
primeiro passo, como estratégia de fa- segundo os resultados obtidos em cada
vorecimento e condução da regenera- momento (ver discussões no Capítulo 6).
ção natural em áreas muito perturba- No caso de áreas em que, por exemplo, o
das. A retirada desses fatores e o contro- corte de trepadeiras ou o revolvimento
le de espécies competidoras (nativas ou do solo não tenham levado à indução do
exóticas) deve propiciar a reocupação da banco de sementes de pioneiras e de reco-
área com espécies nativas arbustivo-ar- brimento, deve ser realizado o plantio de
bóreas e palmeiras pioneiras num pri- adensamento. Já em áreas onde foi reali-
meiro momento. É importante reiterar, zado o adensamento, porém sem ingres-
como afirmamos anteriormente, que a so de novas espécies, deve ser efetuado o
expressão da regeneração natural pode plantio de enriquecimento (Figura 5.6).
Deficiente
Plantio de Formação de coberturade copas inicial
adensamento (cicatrização de clareiras)
Eficiente
Figura 5.6 – Esquema geral, visando à restauração de um trecho degradado de remanescente florestal, baseado em
avaliações periódicas da expressão da regeneração natural ou do plantio de espécies nativas regionais e respecti-
vas ações de manejo adaptativo. Fonte: Elaboração própria.
630 m² • 81% 5m
25 m
630 m² 630 m²
25 m 28,3 m
29% 26%
Figura 5.7 – Diferentes formatos de parcelas para manejo de trepadeiras em fragmentos florestais degradados.Os
diferentes formatos apresentam diferentes proporções de área suscetível à reinfestação por trepadeiras pelas bor-
das (definida arbitrariamente a dois metros da borda da parcela), vindas da floresta não manejada. Os números
entre parênteses indicam a proporção da área manejada suscetível à infestação de trepadeiras provenientes das
bordas. As parcelas circulares ou quadradas seriam potencialmente mais efetivas para o manejo de trepadeiras. A
área total das formas foi arredondada para a dezena superior mais próxima. Fonte: Elaboração própria.
121
1) Gestão adequada. Por se tratar de um sos d’água. O aumento da conectividade
trabalho de longo prazo, é preciso com- na paisagem possibilitará o trânsito de
promisso e planejamento dos recursos até animais polinizadores e dispersores de
que o processo se conclua, caso contrário, sementes, consequentemente, viabiliza-
haverá perda dos recursos investidos. rá a sustentabilidade dos ecossistemas
2) Conhecimento do ecossistema e uso em processo de restauração.
adequado da resiliência local. Estraté- 4) Manejo adaptativo. Onde a resiliên-
gias como a regeneração natural, sem- cia não for expressa, onde o manejo não
pre que possível, proporcionam mais surtir o efeito desejado ou após a obser-
benefícios ecológicos, em menor tem- vação de novos distúrbios, novas decisões
po de restauração e com redução de cus- deverão ser tomadas. Dessa forma, o ma-
tos. Naturalmente, isso implica a com- nejo adaptativo representa um aprimo-
preensão dos elementos e da dinâmica ramento contínuo das estratégias e ações,
do ecossistema local. em decorrência da natureza intrinseca-
3) Uso da resiliência regional. Em mé- mente dinâmica do ecossistema. Obvia-
dio e longo prazo, a restauração só será mente, esse processo só pode funcionar
efetiva se houver uma abordagem no ní- com um trabalho contínuo de monito-
vel da paisagem, interligando o remanes- ramento, por meio do qual sejam reali-
cente florestal em restauração a outros, zadas avaliações periódicas dos parâme-
por exemplo, aproveitando as áreas de tros ecológicos observados e traçadas ten-
preservação permanente, que são natu- dências para o ecossistema em restaura-
ralmente áreas que atravessam grandes ção, que deve sempre ser comparado com
paisagens, por estarem associadas a cur- ecossistemas de referência.
Dendê, coqueiro-de-dendê,
Elaeis guineensis Jacq.
palma-de-guiné
Uva-do-japão, uva-japonesa,
RHAMNACEAE Hovenia dulcis Thunb.
banana-do-japão, passa-japonesa
** Essas espécies brasileiras costumam se comportar como invasoras quando plantadas fora das regiões de ocor-
rência natural, devendo ser controladas. Fonte: Elaboração própria.
125
6 MONITORAMENTO ECOLÓGICO DE
FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA
PROPOSTA INICIAL DE PROTOCOLO
Ricardo Augusto Gorne Viani1;
Felipe Nery Arantes Mello2;
Vanessa Jó Girão3;
Laís Santos de Assis4
E
ste capítulo traz um panorama geral sobre o monitoramento ecológi-
co de fragmentos florestais com vistas à restauração, demonstrando sua
importância para a melhoria da qualidade dos remanescentes florestais.
Apresentamos os principais protocolos de monitoramento existentes para
restauração em áreas desflorestadas e, por fim, propomos indicadores prioritá-
rios e um protocolo inicial para monitoramento e avaliação da trajetória ecoló-
gica de fragmentos florestais na Mata Atlântica, voltado principalmente para a
fisionomia de Floresta Estacional Semidecidual (FES).
6.1 C
ontextualização dos fragmentos co entre populações, e também pela po-
florestais degradados tencialização de outros fatores de per-
A fragmentação de habitat e a degrada- turbação, como incêndios (Figura 6.1),
ção da cobertura florestal nativa decor- extração de madeira (Figura 6.2), caça,
rentes de distúrbios antrópicos resultam invasão biológica, deriva de herbicidas,
em diversas alterações nos remanescen- pastoreio, descarga de enxurrada pro-
tes florestais, que afetam sua composi- veniente de áreas agrícolas e diversos
ção, sua estrutura e seu funcionamento outros fatores que contribuem para a
(LAURANCE, 2002; PÜTZ et al., 2011). Es- degradação de processos ecológicos em
sas alterações ocorrem pelo isolamento remanescentes florestais (TABARELLI
reprodutivo, que restringe o fluxo gêni- et al., 2005).
1 Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais, campus de Araras.
2 Departamento de Ciências Biológicas, Marquette University.
3 The Nature Conservancy.
4 Fundação José Pedro de Oliveira.
127
A restauração ecológica de ecossiste- mento florestal degradado com vistas à
mas naturais tem importância reconhe- restauração, é necessário entender e de-
cida mundialmente e, hoje, existem vá- finir o que seja realmente um fragmen-
rios programas de restauração com me- to “degradado”. O conceito de degrada-
tas globais ambiciosas (SUDING et al., ção é complexo e uma padronização, a
2015). Entretanto, a qualidade dos frag- fim de caracterizar e monitorar rema-
mentos florestais em paisagens degra- nescentes florestais em tal situação, pode
dadas é frequentemente negligenciada ajudar a guiar intervenções adequadas,
em programas de restauração e se acre- que condigam com as necessidades de
dita que tais remanescentes estejam pas- recuperação dos ecossistemas florestais
sando por um processo de perda de bio- (GHAZOUL et al., 2015; MORI et al., 2017).
diversidade, estrutura e funções ecos- Assim, uma demanda inicial importan-
sistêmicas. Assim, entre pesquisadores te é reconhecer os indicadores ecológi-
e especialistas, vislumbra-se uma nova cos essenciais e seus níveis insatisfató-
tendência na restauração florestal, que rios e desejados, que, consequentemen-
consiste na intervenção e na melhoria te, expressem o nível de degradação ou
dos remanescentes florestais degrada- de conservação dos fragmentos flores-
dos, com vistas à conservação da biodi- tais de uma região específica.
versidade e à provisão de serviços ecos- Não há protocolos bem estabeleci-
sistêmicos (VIANI et al., 2015). dos de avaliação da qualidade e do grau
Essa nova tendência de intervenção de degradação de fragmentos florestais
permitiria isolar e manejar fatores de de- com base em indicadores ecológicos da
gradação, com o objetivo de potencializar vegetação (biomassa, diversidade etc.).
a dispersão e o fluxo gênico para as áreas Por outro lado, existem protocolos de
do entorno, contribuindo para o processo monitoramento já em aplicação para a
de regeneração natural, que é essencial à restauração florestal em áreas desprovi-
sustentabilidade da restauração executa- das de floresta que incluem níveis de re-
da nas áreas desflorestadas. Argumenta- ferência para os indicadores (CHAVES et
se, também, que essas intervenções que al., 2015; VIANI et al., 2017). Porém, pouco
visam à melhoria da qualidade de frag- ou nada foi discutido ou testado sobre a
mentos florestais degradados permiti- aplicação destes em áreas que já apre-
riam, em muitos casos, um melhor cus- sentam uma cobertura florestal estabe-
to-benefício na conservação da biodiver- lecida, como é o caso dos fragmentos flo-
sidade e na provisão de serviços ecossis- restais. Desse modo, fica clara a necessi-
têmicos na paisagem, quando compara- dade de estudar indicadores ecológicos
das com intervenções de restauração rea- e procedimentos adequados para o mo-
lizadas em áreas desflorestadas bastante nitoramento da trajetória dos fragmen-
degradadas e isoladas (VIANI et al., 2015). tos florestais degradados.
Entretanto, antes de se tomar qual- Assegurar a evolução de áreas em pro-
quer decisão sobre o manejo de um frag- cesso de restauração florestal só é possí-
129
Figura 6.3 – Área no Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), antes do corte de trepadei-
ras. Fotografia: Ricardo Augusto Gorne Viani.
Figura 6.4 – Área no Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), quatro meses após o corte
de trepadeiras. Foto: Felipe Nery Arantes Mello.
131
vel observar altas densidades de plantas liferação de plantas trepadeiras ou até
trepadeiras nos remanescentes florestais mesmo gramíneas se estende para den-
(CÉSAR et al., 2016; VIANI et al., 2015) (Fi- tro do fragmento, já se trata de um efei-
guras 6.6 e 6.7). A proliferação de plantas to negativo, que sugere degradação. Uma
trepadeiras nas bordas dos fragmentos vez abundantes, as trepadeiras causam
é um processo natural, principalmen- limitações ao crescimento e à regenera-
te em florestas estacionais, porém, isso ção das árvores e, consequentemente, re-
é esperado somente nos primeiros me- dução na diversidade e empobrecimen-
tros de borda, o que resulta em um mi- to florístico dos fragmentos (ALVAREZ-
croclima ideal para a vinda de espécies -CANSINO et al., 2015; SCHNITZER et al.,
tolerantes à sombra (Figura 6.8). Se a pro- 2005; TOBIN et al., 2012).
Figura 6.6 – Trecho com alta densidade de plantas trepadeiras na Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de
Santa Genebra, em Campinas (SP). Fotografia: Cristiano Marques Barbosa.
Figura 6.8 – Trecho com proliferação de plantas trepadeiras e capim na borda de um fragmento de FES em Araras
(SP). Fotografia: Ricardo Augusto Gorne Viani.
133
Estudos realizados em florestas con- composição e à regeneração natural da
tínuas mostram que os processos que vegetação arbórea nativa (SUGANUMA;
controlam a abundância e a distribui- DURIGAN, 2015; WORTLEY; HERO; HO-
ção de plantas trepadeiras são diferen- WES, 2013). Isso está evidenciado em al-
tes daqueles que controlam tais padrões guns protocolos recentemente desenvol-
para árvores (SCHNITZER, 2005). As evi- vidos para avaliar (não exclusivamente)
dências salientam o papel importante a restauração da FES da Mata Atlântica
da sazonalidade e das perturbações nos (CHAVES et al., 2015; VIANI et al., 2017).
padrões de distribuição de trepadeiras Existem vários protocolos de monito-
e, em um cenário de aumento na fre- ramento que já são utilizados por diver-
quência de distúrbios e secas, as lianas sas instituições empenhadas na restau-
seriam favorecidas em relação às árvo- ração florestal. Aqui, escolhemos dois,
res (LEDO; SCHNITZER, 2014). Na verdade, formalmente publicados no Brasil, para
estudos recentes sugerem que as plantas uma análise da aplicabilidade de seus
trepadeiras estão aumentando em den- indicadores ao monitoramento de frag-
sidade nas florestas neotropicais contí- mentos florestais. Esses protocolos serão
nuas, o que pode estar relacionado com brevemente apresentados a seguir. Am-
tais vantagens adaptativas (SCHNITZER; bos foram desenvolvidos recentemen-
BONGERS, 2011). te, não havendo, ainda, tempo suficiente
Assim, podemos dizer que há infor- para uma avaliação mais consistente de
mações suficientes sobre alguns atribu- sua eficiência. Entretanto, representam
tos das comunidades florestais que são esforços coletivos relevantes na criação
comumente e claramente afetados pela de métodos universais para o monitora-
degradação dos remanescentes. Entre- mento da trajetória ecológica da restau-
tanto, faltam informações de referên- ração florestal e são aplicáveis a diferen-
cia que expressem o nível de degradação tes regiões, fitofisionomias e técnicas de
desses atributos nos fragmentos degra- restauração.
dados. Falta, ainda, a compreensão so- O protocolo estabelecido pelo Pacto
bre a trajetória ecológica que esses atri- pela Restauração da Mata Atlântica em
butos seguirão após a execução de ações 2013, por exemplo, tem seu princípio ecoló-
de restauração. gico de monitoramento dividido em duas
fases: a fase I, centrada na estruturação
6.3 O
s protocolos de monitoramento do dossel, e a fase II, focada na avaliação
da restauração florestal são de indicadores que expressem a trajetó-
adequados para monitorar ria ecológica da floresta em restauração
fragmentos florestais degradados? (VIANI et al., 2017). A fase I tem como in-
Os principais indicadores ecológicos para dicador prioritário a avaliação da cober-
avaliar o sucesso da restauração florestal tura do solo pelas copas, mas apresenta
numa área anteriormente desprovida de outros indicadores: cobertura do solo por
floresta estão relacionados à estrutura, à herbáceas hiperabundantes, densidade
135
florestas estacionais degradadas. Portan- dos são adaptados do protocolo de mo-
to, é necessário estudar indicadores e mé- nitoramento da restauração florestal do
todos específicos para o monitoramen- Pacto pela Restauração da Mata Atlân-
to de fragmentos florestais degradados tica (VIANI et al., 2017). Para alguns in-
e adaptá-los a um protocolo. dicadores, também utilizamos os valo-
res de referência estabelecidos pela Re-
6.4 U
ma proposta inicial de solução SMA no 32/2014 do estado de São
indicadores para monitoramento Paulo (SÃO PAULO, 2014b), quando estes
ecológico de fragmentos de convergiam nos objetivos de manejo de
floresta tropical degradados fragmentos florestais degradados. Justi-
A seguir, faremos uma proposta inicial fica-se ter tais protocolos já estabeleci-
de indicadores ecológicos que, baseados dos como referência, não só pela escas-
nos protocolos de monitoramento de res- sez de protocolos específicos para frag-
tauração já estabelecidos e em pesquisas mentos florestais, como também pelo
científicas em paisagens fragmentadas, grande esforço teórico-científico depo-
consideramos importantes para o moni- sitado na produção desses documentos
toramento dos processos de degradação de monitoramento da restauração flo-
e restauração em remanescentes flores- restal. Entendemos que um alinhamen-
tais. Tais indicadores visam guiar ações to e a adaptação conceitual dos protoco-
de manejo e restauração que sejam efe- los para monitoramento de fragmentos
tivas para uma retomada dos processos florestais degradados são formas de sim-
ecológicos vitais e da trajetória ecológi- plificação e unificação das linguagens e
ca, tendo em vista a sustentabilidade dos dos métodos avaliativos de restauração,
remanescentes. Essa proposta inicial se tanto em áreas totalmente desfloresta-
baseia na escassa literatura preexisten- das como em remanescentes degradados.
te sobre o assunto e na experiência prá- Nossas sugestões para o monitora-
tica dos autores deste capítulo em proje- mento de fragmentos florestais degra-
tos específicos. Portanto, trata-se de uma dados consistem em quatro categorias
proposta de monitoramento de fragmen- de indicadores, principalmente qualita-
tos florestais cuja avaliação dos indicado- tivos/categóricos e alguns quantitativos.
res se faz necessária para que estes sejam Há indicadores de acesso fácil e rápido e
constantemente melhorados, de acordo outros mais criteriosos, com necessidade
com as demandas surgidas de sua aplica- de conhecimento botânico e/ou de mé-
ção e uso contínuo como ferramenta, as- todos específicos para obtenção das in-
sim como de incrementos advindos de formações. Para alguns indicadores, fo-
avanços científicos teóricos e/ou expe- ram sugeridos limiares de valores críti-
rimentais (MORI et al., 2017). cos (I), mínimos (II) e adequados (III), que
Em virtude de algumas sobreposições indicam, respectivamente, situações em
conceituais e finalidades ecológicas co- que novas intervenções e revisões no pro-
muns, muitos dos indicadores sugeri- jeto são necessárias, valores intermediá-
137
indicar nível crítico (I, Tabela 6.1). A ri- gio avançado da sucessão, pois, em ca-
queza de árvores mencionada é uma pro- sos extremos de degradação, essas espé-
posta inicial com apenas um verificador cies são as remanescentes, por serem as
de nível crítico. O valor sugerido precisa maiores, ao passo que o sub-bosque não
ser validado após a aplicação continua- existe ou está tomado por espécies inva-
da do protocolo, assim como devem ser soras e/ou trepadeiras abundantes. As-
buscados níveis intermediários e ade- sim, o uso do indicador grupo ecológico
quados para esse indicador. Ademais, é predominante para árvores identifica-
necessário desenvolver um método es- das requer cautela. Recomendamos sua
pecífico para mensurar a riqueza de ár- aplicação periódica para avaliar melhor
vores, visto que esse indicador é sensível a trajetória do fragmento (avanço ou re-
ao tempo despendido no levantamento e trogressão sucessional), juntamente com
à área do remanescente florestal. os outros indicadores.
Sugerimos um indicador adicional, Um dos principais problemas em frag-
relativo ao grupo ecológico predominan- mentos florestais degradados é a gran-
te para árvores identificadas, com verifi- de proliferação e abundância de plan-
cadores categóricos, como: predominante- tas adaptadas a condições de distúrbio,
mente espécies pioneiras e oportunistas (I, especialmente plantas trepadeiras, que
mais de 65% de pioneiras); espécies pionei- podem atuar como filtros ecológicos à
ras e não pioneiras em níveis similares (II, regeneração natural (CÉSAR et al., 2016).
entre 35% e 65% para cada grupo ecológi- Com base nisso, sugerimos que o indica-
co); predominantemente espécies não pio- dor dominância por plantas trepadeiras
neiras (III, mais de 65% de não pioneiras). seja avaliado em três condições: bordas,
Trata-se de um indicador que demanda clareiras e indivíduos arbóreos isolados. A
conhecimento específico e certo grau de presença de plantas trepadeiras nessas
subjetividade na classificação quanto ao três condições pode ser mensurada ca-
grupo ecológico das árvores. Entretanto, tegoricamente por verificadores como,
pode ajudar a entender o cenário da su- por exemplo: mais de 75% tomado/cober-
cessão florestal no fragmento. to (I); entre 25% e 75% tomado/coberto (II);
Fragmentos com predominância de menos de 25% tomado/coberto (III). Para
espécies pioneiras e oportunistas estão as bordas, tais valores se aplicam a uma
no estágio inicial da sucessão florestal, área de até 40 m a partir do limite exter-
o que não necessariamente é um sinal no do fragmento (valor médio de zonas
de degradação atual, já que pode ser fru- tampão em planos de manejo de unida-
to de uma degradação pretérita e a pre- des de conservação); em clareiras, esses
sença de pioneiras, um sinal de ocorrên- valores se aplicam em relação à área to-
cia da sucessão florestal na área (aspecto tal da clareira; e, em indivíduos arbóreos
positivo). Por outro lado, a predominân- isolados, em relação à ocupação total da
cia de espécies não pioneiras, como tar- copa desses indivíduos. Em bordas, uma
dias de dossel, nem sempre indica está- maior abundância de trepadeiras é na-
139
como resultado final para o fragmento 6.4.4 Funcionamento dos
o nível (I, II ou III) que for o mais abun- processos ecológicos
dante entre os dez transectos. A trajetória ecológica de fragmentos flo-
Finalizamos este item com mais um restais degradados só ocorrerá se houver
indicador, a área basal (m2.ha-1), que é a o restabelecimento dos processos ecoló-
soma das áreas das seções transversais gicos. Um processo-chave é a regenera-
do tronco das árvores, que representam ção natural das espécies arbóreas, que
a maior parte da biomassa total da flo- pode ser inferida por sua riqueza e den-
resta. Porém, a área basal é um indica- sidade, já que, se há regenerantes, os fil-
dor sem muito valor quando avaliado tros para germinação e estabelecimento
sozinho, pois é possível encontrar altos de plântulas estão sendo superados por
valores de área basal em fragmentos sementes oriundas do banco ou da dis-
florestais degradados, em razão da per- persão das espécies regionais.
sistência de árvores de maior diâmetro Dentro dos transectos amostrais de 50
na floresta degradada. Aqui, sugerimos m x 2 m, todos os indivíduos arbustivos
avaliar a área basal juntamente com os ou arbóreos com altura ≥ 0,5 m e DAP < 5
indicadores de estrutura de dossel e ri- cm devem ser contados e identificados, a
queza/densidade de regeneração natu- fim de gerar a riqueza total e a densidade
ral dos transectos da amostra. Sugeri- de regenerantes por hectare. Para o indi-
mos, ainda, as seguintes categorias de cador densidade e riqueza de regenera-
área basal: até 10 m².ha-1 (I), de 10 m².ha-1 ção natural de árvores, foram considera-
a 25 m².ha-1 (II), acima de 25 m².ha-1 (III). dos os métodos e valores de referência fi-
Essas categorias são, respectivamente, nais estabelecidos pela resolução SMA no
os valores críticos, mínimos e adequa- 32/2014 (SÃO PAULO, 2014b) para o estado
dos de área basal na FES. Esse indicador de São Paulo; porém, adicionamos a esses
deve ser avaliado em cada transecto pela valores, os valores críticos e intermediá-
coleta do DAP de cada árvore com DAP ≥ rios (Tabela 6.1). Vale ressaltar que os in-
5 cm. O valor final deve ser obtido pela divíduos eventualmente plantados ou se-
média dos transectos. meados dentro do remanescente, fruto de
técnicas de restauração ativa, não devem
ser contados nessa avaliação.
Para entender a
fotografia atual da 1. Intensidade de
comunidade florestal uso do entorno Qualitativa,
e o estado de saúde 2. Tempo de visual ou com
de um fragmento, é isolamento base em consulta III: o fator de
necessário rastrear 3. Extração a pessoas do degradação está
Históricos de
os acontecimentos madeireira entorno, a fim ausente ou já
degradação
históricos e as 4. Ocorrência de informar a não ocorre no
perturbações que de fogo existência atual fragmento.
levaram à atual 5. Presença de gado ou pretérita
composição e e outros animais desses fatores.
estrutura biológica domésticos
do remanescente.
Quantitativa.
Avaliação expedita
6. Riqueza de do número de I: menos de
árvores espécies de árvores, 25 espécies
caminhando-se
pela floresta.
I: mais de 65%
A biodiversidade é Quantitativa.
de pioneiras
uma das razões para Cálculo da
7. Proporção de II: entre 35% e 65%
conservar fragmentos proporção de
grupos ecológicos de pioneiras
florestais, pois árvores pioneiras
III: menos de 35%
seu nível se altera e não pioneiras.
de pioneiras
com a degradação.
Além disso, é Quantitativa.
importante avaliar a Avaliação do
biodiversidade para 8. Riqueza de número de espécies III: mais de 20
inferir o potencial trepadeiras trepadeiras, espécies
Biodiversidade caminhando-se
de recolonização de
áreas adjacentes ao pela floresta.
fragmento. Por essa
razão, é fundamental 9. Dominância I: mais de 75%
entender os níveis de trepadeiras tomado/coberto
de biodiversidade (bordas, clareiras Quantitativa, II: entre 25% e 75%
de alguns grupos e indivíduos categórica. tomado/coberto
importantes no arbóreos III: menos de 25%
remanescente isolados) tomado/coberto
analisado. 10. Presença de
III: Espécies
espécies invasoras
Qualitativa, invasoras ou
ou outras
visual, problema não
espécies-problema
observando-se a existem ou estão
(p. ex., bambu,
presença dessas em níveis pouco
gramíneas
espécies na área. detectáveis e
e invasoras
apenas na borda
arbóreas)
141
CATEGORIA INDICADORES FORMA DE NÍVEIS DE
JUSTIFICATIVA
DE INDICADORES RECOMENDADOS AVALIAÇÃO REFERÊNCIA
I: em sua maior
Quantitativa,
A estrutura da parte descontínuo
mas determinada
floresta degradada é 11. Continuidade do II: de 50% a 75%
visualmente
modificada. Muitas dossel arbóreo contínuo
nos transectos
vezes, o dossel é III: mais de 75%
de 50 m x 2 m.
descontinuado e a contínuo
Estrutura
biomassa, reduzida.
I: menos de
Restabelecer esses
10 m².ha-1
atributos para níveis Quantitativa.
12. Área basal II: entre 10% e
de conservação Transectos de
(m2.ha-1) 25 m².ha-1
é importante. 50 m x 2 m.
III: mais de
25 m².ha-1
I: menos de 10
13. Riqueza da espécies
A restauração só Quantitativa.
regeneração II: entre 10 e
ocorre se houver o Transectos de
natural de 30 espécies
restabelecimento de 50 m x 2 m.
árvores III: mais de 30
processos ecológicos espécies
essenciais, e a
Funcionamento
regeneração natural I: menos de
de árvores é um 14. Densidade da 1.000 ind.ha-1
Quantitativa.
processo-chave para regeneração II: de 1.000 a
Transectos de
o funcionamento natural de 3.000 ind.ha-1
50 m x 2 m.
dos ecossistemas. árvores III: mais de
3.000 ind.ha-1
143
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A
situação atual dos fragmen- ção de áreas degradadas; todavia, pouco
tos de Floresta Estacional Se- se sabe quais serão suas consequências
midecidual (FES) é alarman- no longo prazo.
te. É imprescindível avaliar O protocolo apresentado neste docu-
e propor medidas que visem à melhor mento técnico se dirige aos profissio-
conservação dessas áreas. Esses rema- nais engajados no debate sobre as me-
nescentes são pequenos e estão isola- lhores formas de promover e executar
dos entre si, o que intensifica o efeito de ações de restauração ecológica. Algu-
borda e compromete a manutenção dos mas dessas ações resultaram em políti-
processos ecológicos e do fluxo gênico, cas públicas, em instrumentos de orien-
degradando muito esses fragmentos. tação e em metas de restauração. Con-
Por outro lado, os remanescentes de tudo, o avanço das discussões e, conse-
FES constituem refúgio para inúmeras quentemente, o aprimoramento deste
espécies típicas de florestas, desempe- documento evidenciam que as referên-
nhando papel importante na conserva- cias técnicas e a pesquisa continuada
ção da biodiversidade, além de oferecer sobre o manejo de fragmentos flores-
serviços ecossistêmicos imprescindíveis, tais degradados com vistas à restaura-
que beneficiam a humanidade de formas ção ainda são escassas.
variadas, incluindo sua contribuição para Acreditamos que esta iniciativa desem-
o avanço das metas de conservação e res- penhe papel importante na conservação
tauração das paisagens florestais. e restauração de florestas no contexto da
Nesse contexto, são necessárias ações paisagem, porém, concluímos que neces-
de manejo que visem à restauração des- sitamos de grandes avanços nesse senti-
ses fragmentos e também das áreas de- do. Como exemplo, podemos citar o estí-
gradadas ao longo dos cursos d’água, para mulo ao desenvolvimento de pesquisas e
aumentar a conectividade da paisagem. discussões, para que haja um maior ali-
Tais ações devem ser fundamentadas em nhamento técnico entre pesquisadores e
avaliações da condição de conservação especialistas quanto aos principais con-
de cada fragmento, a fim de subsidiar a ceitos e estratégias a serem empregados.
tomada de decisões quanto à priorida- Assim, seria possível aprimorar pro-
de e às técnicas adequadas de manejo. tocolos de tomada de decisão no mane-
Atualmente, essas decisões são dificul- jo de fragmentos florestais degradados,
tadas pela escassez de documentos téc- que, futuramente, poderiam integrar e
nicos. Uma das lacunas de conhecimen- fortalecer estratégias de políticas públi-
to diz respeito ao manejo de trepadeiras, cas, a fim de consolidar e disseminar a
que, no curto prazo, tem se mostrado uma prática do manejo desses remanescen-
alternativa benéfica para a reestrutura- tes tão importantes.
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azonia. Forest Ecology and Management, v. 98, n. 2, p. 105-114.
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A Fundação José Pedro de Oliveira – FJPO - é uma
organização governamental ligada à Prefeitura
Municipal de Campinas com reconhecida atua-
ção na gestão de áreas protegidas, educação am-
biental e apoio à pesquisa científica.
Atuando na gestão da Área de Relevante Inte-
resse Ecológico Federal Mata de Santa Genebra,
maior remanescente florestal da Região Metropo-
litana de Campinas que abriga diversas espécies
ameaçadas de extinção, a FJPO tem liderado pro-
jetos que estão recuperando uma área superior a
40 campos de futebol no interior da Unidade de
Conservação e conectando a Mata de Santa Ge-
nebra a outros remanescentes florestais por meio
de corredores ecológicos. Para saber mais, visite
www.fjposantagenebra.sp.gov.br ou curta Funda-
ção José Pedro de Oliveira – ARIE Mata de San-
ta Genebra no facebook @matadesantagenebra.
A The Nature Conservancy (TNC) é uma or-
ganização global de conservação ambiental de-
dicada à preservação das terras e água das quais
depende toda a vida. Guiados pela ciência, cria-
mos soluções inovadoras e práticas para os de-
safios mais difíceis do mundo, para que a natu-
reza e as pessoas possam prosperar juntas. Esta-
mos lidando com as mudanças climáticas, con-
servando terras, águas e oceanos em uma esca-
la sem precedentes, fornecendo alimentos e água
de forma sustentável e ajudando a tornar as ci-
dades mais sustentáveis. Trabalhando em 72 paí-
ses, utilizamos uma abordagem colaborativa
que envolve comunidades locais, governos, se-
tor privado e outros parceiros. Para saber mais,
visite www.nature.org, www.tnc.org.br ou siga
@tncbrasil no Twitter.