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Manejo de fragmentos

florestais degradados
Laís Santos de Assis, Marina Campos e Vanessa Jó Girão (org.)

Manejo de fragmentos
florestais degradados

Campinas, São Paulo


The Nature Conservancy
2019
Créditos
Institucionais
FUNDAÇÃO JOSÉ PEDRO DE OLIVEIRA

Fundação José Pedro de Oliveira


Sinval Durigon
Presidente da Fundação José Pedro de Oliveira
Sabrina Kelly Batista Martins
Diretora do Departamento Técnico Científico

The Nature Conservancy Brasil


Rubens de Miranda Benini
Gerente Nacional de Restauração TNC
EXPEDIENTE

REALIZAÇÃO AUTORES
Fundação José Pedro de Oliveira (FJPO) • Alessandra dos Santos Penha
The Nature Conservancy (TNC) • Ana Paula Liboni
• Andréia Alves Rezende
ORGANIZADORES • Berta Lúcia Pereira Villagra
• Laís Santos de Assis • Cinthia Montibeller
• Marina Campos • Cristina Yuri Vidal
• Vanessa Jó Girão • Débora Cristina Rother
• Fabiano Turini Farah

FICHA CATALOGRÁFICA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

M274 Manejo de fragmentos florestais degradados / Organizadoras


Laís Santos de Assis, Marina Campos, Vanessa Jó Girão. –
Campinas (SP): The Nature Conservancy, 2019.
172 p. : 20 x 26 cm

Bibliografia: p. 147-171
ISBN 978-85-60797-32-5

1. Biodiversidade. 2. Ecologia florestal. 3. Florestas –


Conservação. I. Assis, Laís Santos de. II. Campos Marina. III.
Girão, Vanessa Jó.

CDD 333.75

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422


• Felipe Nery Arantes Mello REVISORA
• Guaraci Belo de Oliveira • Natália Macedo Ivanauskas
• Julia Raquel de Sá A. Mangueira
• Laís Santos de Assis REVISÃO ORTOGRÁFICA
• Milton C. Ribeiro E GRAMATICAL
• Rafael Barreiro Chaves • Mônica Saddy Martins
• Renata Giassi Udulutsch
• Renata L. Muylaert DIAGRAMAÇÃO
• Ricardo Augusto Gorne Viani • Link Editoração
• Ricardo Gomes César
• Ricardo Ribeiro Rodrigues GRÁFICA
• Vanessa Jó Girão • Athalaia Gráfica e Editora
• Veridiana de Lara Weiser
• Vinicius Rodrigues Tonetti FOTOGRAFIA
• Ana Paula Liboni
COLABORADORES (Figuras 3.1, 3.2 e 3.3)
• Augusto de Oliveira • Cristiano Marques
Brunow Ventura Barbosa (Figura 6.6)
• Aurélio Padovezi • Edu Fortes (Capa)
• Camila de Sousa Medeiros • Fabiano Farah
Torres Watanabe (Figuras 5.1 e 5.4)
• Cristiano Krepsky • Felipe Nery Arantes Mello
• Cynira Any Jovilhana (Figuras 6.4 e 6.5)
da Silva Gabriel • Gilcimar Santana (Figura 6.1)
• Georgia Nunes Medeiros • Júlia Raquel Mangueira
• Gilcimar Santana (Figura 5.3)
• Lucas Coutinho Magnin • Renata L. Muylaert
• Patrik de Oliveira Aprígio (Figuras 2.3 e 2.5)
• Pedro Henrique Delamain • Ricardo Augusto Gorne Viani
Pupo Nogueira (Figuras 6.2, 6.3, 6.7 e 6.8)
• Sabrina Kelly Batista Martins
• Thomaz Henrique Barrella

PARCEIROS
PALAVRA FJPO
E
sta publicação reforça o papel institucional da Fun-
dação José Pedro de Oliveira (FJPO), cuja missão é
promover a conservação e a recuperação da nature-
za, a produção de conhecimento e a educação am-
biental na região de Campinas. Criada em 1981, com o ob-
jetivo de administrar a Área de Relevante Interesse Ecoló-
gico Mata de Santa Genebra, o maior fragmento florestal
da Região Metropolitana de Campinas, hoje, a FJPO vem se
consolidando como referência na gestão de áreas protegi-
das, principalmente na prática de manejo e recuperação de
fragmentos florestais.
Fruto de várias discussões realizadas entre técnicos da FJPO
e da The Nature Conservancy com especialistas e pesquisado-
res da Biologia da Conservação, esta publicação aborda ques-
tões fundamentais para a realização do manejo de fragmen-
tos florestais, que vão desde aspectos teóricos até ferramentas
práticas de manejo, como a legislação, a fragmentação de ha-
bitat, os diagnósticos ambientais, a fitossociologia, o manejo
de trepadeiras e os métodos de restauração.
Este documento será uma ferramenta importante de plane-
jamento e gestão de áreas protegidas e contribuirá para o di-
recionamento e o aprimoramento da tomada de decisões dos
órgãos gestores, sejam eles públicos, privados ou do terceiro
setor, visando à melhoria da qualidade ambiental dos frag-
mentos florestais, bem como das estratégias de conservação.
Assim, espera-se que as informações dispostas neste livro
Manejo de fragmentos florestais degradados possibilitem uma
gestão mais efetiva das áreas protegidas e contribuam para o
desenvolvimento de políticas públicas voltadas ao manejo e
à conservação dos fragmentos florestais.
Boa leitura!

Sabrina Kelly Batista Martins


Diretora do Departamento Técnico-Científico
Fundação José Pedro de Oliveira
PALAVRA TNC
Q
uando falamos em restauração e conservação da
vegetação nativa, é essencial olharmos para toda
a paisagem. É muito importante que observemos
os remanescentes florestais, sua possível conec-
tividade e, claro, seu grau de degradação.
Remanescentes florestais são essenciais como fonte de pro-
págulos e fundamentais para o sucesso da restauração de pai-
sagens; no entanto, muitas vezes, estão fadados a desaparecer,
principalmente em razão da presença de espécies exóticas in-
vasoras e também do desequilíbrio de lianas.
Especialmente no bioma Mata Atlântica, a degradação dos
fragmentos florestais tem colocado em dúvida a sustentabili-
dade da paisagem florestal. O desenvolvimento de estratégias,
metodologias e tecnologias para a restauração desses fragmen-
tos, considerando o contexto da conectividade, tem se mostra-
do uma tendência entre pesquisadores e especialistas.
The Nature Conservancy é uma das instituições mais expe-
rientes em restauração florestal e trabalha para a construção
de tecnologias e métodos mais eficientes de restauração, con-
tribuindo efetivamente para a consolidação de uma agenda
de restauração mais sólida no Brasil.
Este documento é fruto da estruturação e do trabalho con-
junto de um grupo de instituições envolvidas no tema da res-
tauração florestal. Denominado Manejo de fragmentos flores-
tais degradados, ele é apresentado como o primeiro documento
técnico estruturado com a pretensão de proporcionar os con-
ceitos, as metodologias e as recomendações de manejo nas di-
ferentes situações ambientais em que se podem encontrar es-
ses importantes remanescentes de florestas.
É uma ação inovadora, de grande relevância, que demons-
tra os desafios e árduos trabalhos necessários para o efetivo
sucesso na conservação e restauração florestal.
Boa leitura!

Rubens Benini
Gerente da Estratégia de Restauração
The Nature Conservancy
APRESENTAÇÃO
E
m 2013, iniciou-se um diálogo nicípio de Campinas/SP. Seus 251,77 ha
entre a equipe técnica da Fun- têm 9 km de perímetro. O efeito de bor-
dação José Pedro de Oliveira da, as áreas com predomínio de trepadei-
(FJPO), órgão gestor da Área de ras hiperabundantes e o isolamento tor-
Relevante Interesse Ecológico Mata de nam-se grandes problemas para a ma-
Santa Genebra (ARIE MSG), e outros ges- nutenção das funções ecológicas desse
tores de parques e unidades de conser- remanescente florestal. Desde 2001, pro-
vação sobre o manejo de trepadeiras em jetos de restauração têm sido implan-
fragmentos florestais, notando-se que se tados na ARIE MSG, consistindo no ma-
tratava de uma preocupação recorrente nejo de trepadeiras concomitantemen-
e com pouco amparo técnico e científi- te com o plantio de mudas de espécies
co. Diante da notícia de estudos recen- arbóreas nativas, tendo em vista a recu-
tes sobre manejo florestal, foram pro- peração de sua estrutura e de suas fun-
curados os pesquisadores da Escola Su- ções ecológicas.
perior de Agricultura Luiz de Queiroz Com o objetivo de aproveitar a ex-
da Universidade de São Paulo (ESALQ/ periência adquirida nesses projetos de
USP) que desenvolvem essas pesquisas restauração e diante das lacunas sobre
e, posteriormente, outras instituições,1 o tema, em 2013, foi realizado o I Semi-
como ONGs e setores governamentais, nário “Manejo de Lianas em Fragmen-
e identificou-se a necessidade de reu- tos Florestais”, organizado pela FJPO em
nir o conhecimento atual sobre o tema parceria com o Laboratório de Silvicul-
e aplicá-lo aos desafios reais de manejo, tura Tropical da ESALQ/USP. Esse even-
a fim de diminuir a lacuna entre a pes- to reuniu especialistas de várias institui-
quisa e as tomadas de decisão. ções com os objetivos de compartilhar
A ARIE MSG é um fragmento de Flo- as experiências em projetos correlatos e
resta Estacional Semidecidual (FES) do discutir metodologias de manejo de tre-
bioma Mata Atlântica situado no mu- padeiras hiperabundantes em áreas de-

1 Universidade Federal de São Carlos (UFSCar Araras); Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal (USP, Pi-
racicaba); Universidade Estadual Paulista; Universidade Federal da Fronteira do Sul; Laboratório da Biologia da
Conservação da Universidade Estadual Paulista); Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo; Laborató-
rio de Ecologia Espacial e Conservação; Laboratório de Silvicultura Tropical da Universidade de São Paulo.

10 Manejo de fragmentos florestais degradados


gradadas, além de possíveis propostas de tais Degradados”. A alteração no nome do
projetos de pesquisa a serem desenvol- evento reflete a ampliação e o aprofun-
vidos na ARIE MSG. damento das discussões.
Após as diversas discussões e os enca- Diante desse histórico, foi produzido
minhamentos determinados no primei- este documento técnico, que traz as ex-
ro seminário, visualizou-se a necessida- periências, discussões e contribuições de
de de aprofundar as discussões num se- instituições e especialistas, assim como
gundo evento. Com o apoio de The Na- as pesquisas que fundamentam os pro-
ture Conservancy (TNC), o II Seminário jetos de restauração ecológica aplicados
“Manejo de Lianas em Fragmentos Flo- em fragmentos florestais degradados da
restais” ocorreu em 2014, trazendo a pro- fitofisionomia FES.
posta de desenvolver uma chave para to- Assim, este livro Manejo de fragmen-
mada de decisões que apoiasse iniciati- tos florestais degradados apresenta-se
vas de restauração de fragmentos flores- como uma primeira tentativa de reunir
tais degradados, além de reunir subsí- as diferentes iniciativas em andamen-
dios para a elaboração de um documen- to na área de manejo de fragmentos flo-
to teórico que buscasse fundamentar a restais degradados de FES, no intuito de
implementação de projetos de restaura- embasar políticas públicas e ações cujo
ção e apoiar o desenvolvimento de políti- objetivo seja a melhoria da conservação
cas públicas que permitam incorporar a desses remanescentes florestais. Consi-
restauração de fragmentos florestais de- derando que tem o objetivo de agregar
gradados a uma prática conservacionis- experiências, pessoas e instituições, este
ta de larga escala. documento nem sempre reflete posicio-
Durante a elaboração desse documen- namentos e conclusões concordantes e/
to teórico, em 2016, foi realizado o III Se- ou convergentes, o que contribui para
minário “Manejo de Fragmentos Flores- elucidar as lacunas existentes no tema.

11
SUMÁRIO
18 1 ASPECTOS LEGAIS
DO MANEJO DE
36 2.3 A fragmentação de habitat
e a ecologia de paisagens
FRAGMENTOS
FLORESTAIS PARA 41 2.4 Aplicações em
CONSERVAÇÃO E
ecologia de paisagens:
RESTAURAÇÃO
estratégias de manejo

18 1.1 Manejo de trepadeiras em


fragmentos de mata atlântica 43 2.5 A fragmentação de habitat
da perspectiva da legislação
e das políticas públicas
20 1.1.1 Sobre o controle de
espécies exóticas invasoras
47 2.6 Considerações

21 1.1.2 Sobre o controle de


espécies superabundantes 48 3 DIAGNÓSTICO
DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS
25 1.2 Manejo de trepadeiras DEGRADADOS COMO
no âmbito de projetos de SUBSÍDIO PARA O
restauração ecológica MANEJO ADAPTATIVO:
em áreas desprovidas
PROPOSTA DE
AVALIAÇÃO
de vegetação nativa ECOLÓGICA RÁPIDA
PARA A FLORESTA
27 1.3 Conclusão ESTACIONAL
SEMIDECIDUAL
28 2 FRAGMENTAÇÃO
DE HABITAT 49 3.1 Desafios para a conservação
diante do cenário de
28 2.1 Contexto da degradação ambiental
fragmentação de habitat
50 3.2 A floresta estacional
32 2.2 A fragmentação de semidecidual
habitat e a conservação
da biodiversidade
54 3.3 Fatores de degradação 76 4.1 Recomendações prévias
e efeitos do processo de ao manejo de trepadeiras
fragmentação sobre a estrutura
e a dinâmica florestal 77 4.1.1 Levantamento florístico

60 3.4 A avaliação do 78 4.1.2 Levantamento


estado de conservação de fitossociológico
fragmentos florestais
79 4.1.3 Coleta de material
60 3.4.1 Aspectos a serem reprodutivo e/ou vegetativo
considerados no e incorporação a herbários
diagnóstico florestal
80 4.1.4 Coleta de lenho e
62 3.4.2 Avaliação ecológica rápida incorporação a xilotecas
adaptada para a vegetação da
floresta estacional semidecidual 4.2 Métodos de manejo
80
de trepadeiras
64 3.4.3 O método proposto
4.3 Subsídios para fundamentar
86
69 3.4.4 Exemplos de aplicação da o manejo de trepadeiras
avaliação ecológica rápida na
tomada de decisão quanto ao 88 4.3.1 Riqueza
manejo de fragmentos florestais
91 4.3.2 Abundância
73 3.5 Considerações sobre
o método proposto 93 4.3.3 Dominância

76 4 CONSERVAÇÃO
DE TREPADEIRAS
93 4.3.4 Distribuição diamétrica

NO CONTEXTO DE 4.3.5 Infestação e agressividade


RESTAURAÇÃO 94
DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS 95 4.4 Considerações
DEGRADADOS
98 5 MÉTODOS DE
MANEJO DE
106 5.2.4.1 Manejo de trepadeiras

FRAGMENTOS 110 5.2.4.2 Manejo de bambus em


FLORESTAIS: REVISÃO fragmentos florestais degradados
DA LITERATURA E
PROPOSTAS PARA
ORIENTAR A PRÁTICA 111 5.2.5 Controle e eliminação de
espécies exóticas em fragmentos
florestais degradados
98 5.1 Contextualização

112 5.2.5.1 Controle de herbáceas


100 5.2 Manejo de fragmentos:
revisão da literatura invasoras em fragmentos
florestais degradados

100 5.2.1 Retirada dos fatores de


degradação dos fragmentos 114 5.2.5.2 Controle de espécies

florestais degradados arbóreas invasoras

101 5.2.2 Adensamento dos 115 5.3 Rendimento operacional


fragmentos florestais e gargalos econômicos
degradados: recuperação da prática de manejo de
da estrutura da floresta remanescentes florestais

5.2.3 Enriquecimento dos 117 5.4 Manejo adaptativo


104
fragmentos florestais de remanescentes
degradados: recuperação florestais: proposta para
da composição florística e orientar a prática
funcional da comunidade
121 5.5 Considerações

106 5.2.4 Controle de espécies


nativas hiperabundantes
124 APÊNDICE 137 6.4.1 Fatores históricos
de degradação
126 6 MONITORAMENTO
ECOLÓGICO DE 137 6.4.2 Biodiversidade
FRAGMENTOS
FLORESTAIS: UMA 139 6.4.3 Estrutura
PROPOSTA INICIAL
DE PROTOCOLO
140 6.4.4 Funcionamento dos
126 6.1 Contextualização dos processos ecológicos
fragmentos florestais
degradados 143 6.5 Considerações

131 6.2 A degradação e seus 144 7 CONSIDERAÇÕES


FINAIS
efeitos sobre as florestas
remanescentes 145 8 REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
134 6.3 Os protocolos de
monitoramento da restauração
florestal são adequados
para monitorar fragmentos
florestais degradados?

136 6.4 Uma proposta inicial


de indicadores para
monitoramento ecológico
de fragmentos de floresta
tropical degradados
INTRODUÇÃO

U
m reflexo direto do cresci-
mento da população humana
e da expansão das áreas ocu-
padas por atividades agríco-
las, industriais e urbanas é a diminui-
ção e fragmentação de áreas ocupadas
por ecossistemas nativos, com influên-
cia clara na conservação da biodiversi-
dade dessas áreas, aumentando os ris-
cos de extinção local e ameaçando as es-
pécies de extinção global (SOULÉ, 1986;
TURNER; CORLETT, 1996).
A fragmentação, o tamanho, o forma-
to e o isolamento de remanescentes flo-
restais são fatores que influenciam dire-
tamente sua preservação, além de outros
impactos antrópicos, como o corte sele-
tivo de madeira e o fogo (ROZZA, 2003).
Essas perturbações impactam negativa-
mente os fragmentos florestais e, depen-
dendo do grau de degradação do ecossis-
tema, podem afetar sua capacidade de re-
cuperação (ROZZA, 2003).
As florestas tropicais abrigam cerca
de dois terços de todas as espécies de ani-
mais e plantas da Terra (BIERREGAARD
et al., 1992), e são detentoras de extraor-
dinária biodiversidade e áreas prioritá-
rias para a conservação. Atualmente, res-
tam apenas 12%, aproximadamente, do
bioma Mata Atlântica no território bra-
sileiro. Destes 12%, 80% são fragmentos

16 Manejo de fragmentos florestais degradados


florestais pequenos, áreas menores que tencializar a conservação da biodiversi-
50 hectares (RIBEIRO et al., 2009). Dentre dade (ARROYO-RODRÍGUEZ et al., 2015a;
as fitofisionomias do bioma Mata Atlân- BONGERS et al., 2015; BRANCALION et al.,
tica, a Floresta Estacional Semidecidual 2012a; GARDNER et al., 2009; TABARELLI
(FES) é a mais impactada. Restam apenas et al., 2012; VIDAL et al., 2016). Todos es-
7,1% de sua vegetação original, ao passo ses estudos demonstraram que os rema-
que as florestas ombrófilas densas do sul nescentes de floresta secundária e os re-
e do sudeste do Brasil ainda têm 36,5% de manescentes degradados de floresta ma-
vegetação remanescente e apresentam dura, ainda que pequenos e dispersos na
fragmentos grandes e bem preservados, paisagem, desempenham papel impor-
como os encontrados na região da serra tante não apenas na conservação da bio-
do Mar (RIBEIRO et al., 2009). diversidade remanescente, mas também
Na Floresta Atlântica, mesmo em pai- no aumento das chances de sucesso das
sagens agrícolas muito fragmentadas, ações de restauração (atuando como fon-
ainda são encontradas inúmeras espé- te de propágulos), no sequestro de carbo-
cies e grupos funcionais importantes, no e na provisão de outros serviços ecos-
como as espécies zoocóricas e de final de sistêmicos.
sucessão (MANGUEIRA; HOLL; RODRI- A preservação desses remanescentes
GUES, no prelo; VIDAL et al., 2016), dis- é de extrema importância do ponto de
persas em fragmentos degradados em di- vista ecológico e, mais especificamente,
ferentes estágios de sucessão. Apesar de da ótica da ecologia da paisagem, por sua
a Floresta Atlântica ser considerada um função de depositários de algumas espé-
dos hotspots mundiais de biodiversida- cies de animais e plantas e pela contri-
de, apenas 2,6% de sua área estão prote- buição decisiva para a presença dessas
gidos por unidades de conservação, e es- espécies em outros fragmentos do terri-
ses fragmentos restantes ficam em pro- tório (VIANI et al., 2015). Diante desse ce-
priedades particulares (RIBEIRO et al., nário, adeptos da ecologia da restaura-
2009; SOARES-FILHO et al., 2014). Em ra- ção têm defendido a importância da in-
zão das perturbações recorrentes sofri- serção dos fragmentos florestais degra-
das por esses remanescentes florestais, dados nos projetos de restauração flores-
vários autores já discutiram a necessida- tal; porém, os estudos acadêmicos ainda
de urgente de ações de manejo para po- são escassos nessa área (VIANI et al., 2015).

17
1 ASPECTOS LEGAIS DO MANEJO DE
FRAGMENTOS FLORESTAIS PARA
CONSERVAÇÃO E RESTAURAÇÃO
Rafael Barreiro Chaves1;
Guaraci Belo de Oliveira1

N
este capítulo, serão abordados os diplomas integrantes do arcabouço le-
gal e normativo paulista e brasileiro em que há interface com a temá-
tica desta publicação. Nosso objetivo, nesse sentido, é fornecer contri-
buições interpretativas potencialmente úteis à compreensão do manejo
de trepadeiras no bioma Mata Atlântica, à luz da legislação vigente no estado e no
país. Ambos os autores atuam na área de políticas públicas no estado de São Pau-
lo e se valem de suas experiências profissionais para tecer as interpretações aqui
apresentadas. Não obstante, esclarecem que nenhuma delas pode ser considerada
como definição ou diretriz institucional, tratando-se exclusivamente de contribui-
ções pessoais. Passemos ao objeto de análise.

1.1 Manejo de trepadeiras em Essa determinação foi o que emba-


fragmentos de mata atlântica sou a edição de um projeto de lei, o PL
Com a promulgação da Constituição Fe- 3.285/1992 (BRASIL, 1992) específico so-
deral de 1988, a Mata Atlântica foi classi- bre esse bioma, culminando na publi-
ficada como patrimônio nacional: cação da Lei Federal no 11.428, de 22 de
dezembro de 2006, conhecida como Lei
Art. 225. (...) § 4o A Floresta da Mata Atlântica.
Amazônica brasileira, a Mata A conjuntura na data da promul-
Atlântica, a Serra do Mar, o gação, marcada pelo cenário de devas-
Pantanal Mato-Grossense e a tação crescente do bioma, acarretou a
Zona Costeira são patrimônio criação de uma norma de cunho pre-
nacional, e sua utilização far- servacionista e restritivo, motivando,
se-á, na forma da lei, dentro com base no princípio da precaução,
de condições que assegurem a alguns vetos ao texto original, incluin-
preservação do meio ambiente, do trechos que se referiam à explora-
inclusive quanto ao uso dos ção sustentável.
recursos naturais. (BRASIL 1988, Reproduzimos, abaixo, trecho da men-
grifo nosso) sagem de veto da Lei da Mata Atlântica:

1 Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Coordenadoria de Biodiversidade e Recursos Naturais
(CBRN).

18 Manejo de fragmentos florestais degradados


Destaca-se, também, a Até hoje, essa lacuna gera dúvidas
insuficiência de conhecimentos sobre a possibilidade de realizar esse
científicos que possam garantir tipo de manejo e sobre a aplicabilidade
que o manejo comercial de de procedimentos de autorização. Em-
espécies vegetais da Mata bora essas atividades tenham sido pou-
Atlântica seja realmente co detalhadas, algumas menções, feitas
sustentável e não comprometa, na referida lei e no decreto que a regula-
ainda mais, o já ameaçado menta (Decreto Federal no 6.660, de 21 de
bioma. Além disso, a maioria das novembro de 2008), podem auxiliar na
áreas remanescentes possuem compreensão da intenção dos legislado-
extensão insuficiente para conter res e sobre elas podemos nos apoiar para
populações viáveis, capazes obter esclarecimentos e eventualmente
de garantir a sustentabilidade subsidiar a elaboração de regulamenta-
econômica do manejo comercial. ção que atinja os objetivos e princípios2
(BRASIL 2006b, grifo nosso) da norma.
Mas quais trepadeiras poderiam cons-
Assim, o texto final da Lei 11.428 tratou tituir ameaça à conservação de fragmen-
em detalhes das limitações às práticas de tos de vegetação nativa?
corte e supressão de vegetação, atividades Tanto espécies exóticas invasoras
consideradas de maior impacto negativo quanto espécies nativas superabundan-
na preservação do bioma, e apenas superfi- tes podem se apresentar como fatores
cialmente de atividades de manejo comer- que inibem ou desaceleram o proces-
cial e recuperação da biodiversidade e da so natural de sucessão ecológica, mui-
sanidade dos remanescentes, acabando por tas vezes levando à degradação de frag-
omitir algumas intervenções, como o con- mentos. No entanto, espécies supera-
trole ou o manejo de espécies superabun- bundantes ocorrem dentro de sua área
dantes, ou por não detalhar outras, como de distribuição natural, guardando sua
o controle de espécies exóticas invasoras. importância no sentido da conservação

2 “Art. 6o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica têm por objetivo geral o desenvolvimento sustentável
e, por objetivos específicos, a salvaguarda da biodiversidade, da saúde humana, dos valores paisagísticos, estéticos
e turísticos, do regime hídrico e da estabilidade social.
Parágrafo único. Na proteção e na utilização do Bioma Mata Atlântica, serão observados os princípios da função
socioambiental da propriedade, da eqüidade intergeracional, da prevenção, da precaução, do usuário-pagador,
da transparência das informações e atos, da gestão democrática, da celeridade procedimental, da gratuidade dos
serviços administrativos prestados ao pequeno produtor rural e às populações tradicionais e do respeito ao direito
de propriedade.
Art. 7o A proteção e a utilização do Bioma Mata Atlântica far-se-ão dentro de condições que assegurem:
I – a manutenção e a recuperação da biodiversidade, vegetação, fauna e regime hídrico do Bioma Mata Atlântica
para as presentes e futuras gerações;
II – o estímulo à pesquisa, à difusão de tecnologias de manejo sustentável da vegetação e à formação de uma cons-
ciência pública sobre a necessidade de recuperação e manutenção dos ecossistemas;
III – o fomento de atividades públicas e privadas compatíveis com a manutenção do equilíbrio ecológico;
IV – o disciplinamento da ocupação rural e urbana, de forma a harmonizar o crescimento econômico com a ma-
nutenção do equilíbrio ecológico. (BRASIL, 2006a, grifo nosso)

19
da biodiversidade. Desse modo, é opor- pelo Conselho Nacional do Meio
tuno tratar os dois casos separadamen- Ambiente e autorizado pelo
te, assim como os legisladores aparente- órgão competente do Sisnama.
mente trataram. (BRASIL, 2006a, grifo nosso)

1.1.1 Sobre o controle de espécies O artigo 19, como se nota, refere-se a al-
exóticas invasoras gumas atividades que implicam corte de
A Lei da Mata Atlântica, em seu artigo vegetação nativa, tais como a construção
3o, define: “IV – prática preservacionista: de aceiro no entorno de um fragmento
atividade técnica e cientificamente fun- florestal. Nesses casos, é permitido excluir
damentada, imprescindível à proteção da uma parte (pequena) da vegetação de de-
integridade da vegetação nativa, tal como terminada área em nome da preservação
controle de fogo, erosão, espécies exóticas do fragmento como um todo. No entanto,
e invasoras” (BRASIL 2006a, grifo nosso). o controle de espécies exóticas não pres-
Portanto, o controle de espécies exóti- supõe necessariamente o corte de vege-
cas e invasoras pode ser uma prática pre- tação nativa, mas justamente dos indiví-
servacionista. Para tal, a atividade deve duos que competem com a comunidade
ser cientificamente fundamentada e im- de espécies nativas, prejudicando-a. Não
prescindível à proteção da integridade da se trata, assim, da eliminação da vegeta-
vegetação nativa, conforme a definição ção de determinada área, mas do oposto:
constante da Lei 11.428/2006. controle seletivo de exóticas invasoras
Ao longo de todo o texto dessa lei, nota- para favorecer a vegetação nativa.
-se que a fundamentação técnica e cien- Em uma análise sistemática da lei, ob-
tífica é um elemento caro ao legislador. serva-se que, quando a legislação se re-
O artigo 19 impõe ao Conselho Nacional fere ao “corte de vegetação nativa” ou à
do Meio Ambiente (Conama) a obrigação “supressão de vegetação nativa”, não se
de regulamentar o corte de vegetação pri- trata de corte de indivíduos de modo se-
mária ou secundária nos estágios médio letivo. Nessas situações, as normas utili-
e avançado, para fins de práticas preser- zam expressões como “supressão de es-
vacionistas e condiciona esse corte à au- pécies”, “manejo seletivo” ou “exploração
torização do órgão competente: seletiva”. Dessa forma, entendemos que
o corte de exóticas, quando tem o obje-
Art. 19. O corte eventual tivo de conservar a biodiversidade, não
de vegetação primária ou deve se submeter aos mesmos mecanis-
secundária nos estágios médio mos previstos para a supressão de vege-
e avançado de regeneração do tação nativa, prática diametralmente
Bioma Mata Atlântica, para fins oposta, que provoca dano à biodiversi-
de práticas preservacionistas dade (mesmo que para fins ditos preser-
e de pesquisa científica, será vacionistas), justificando assim o gran-
devidamente regulamentado de cuidado do legislador.

20 Manejo de fragmentos florestais degradados


Outro diploma importante a ser men- jetivo de tal ação não seria justamente
cionado é a chamada Lei de Crimes Am- preservar o ecossistema com sua estru-
bientais (Lei Federal no 9.605, de 12 de fe- tura e todas as suas formas de vida, bem
vereiro de 1998), cujos artigos 38, 38-A, 48 como facilitar ou acelerar a regeneração
e 50-A preconizam ser crime: das espécies nativas?
Nesse sentido, é bem-vinda a presen-
Art. 38. Destruir ou danificar te iniciativa de compilação de dados de
floresta considerada de pesquisas e práticas realizadas até o mo-
preservação permanente, mento, que constituem o estado da arte
mesmo que em formação, ou do manejo de trepadeiras, contribuin-
utilizá-la com infringência do para que as instituições competentes
das normas de proteção. obtenham maiores informações sobre:
... a. Quais as situações em que o manejo é
Art. 38-A. Destruir ou danificar imprescindível para a proteção da in-
vegetação primária ou tegridade da vegetação nativa (quan-
secundária, em estágio avançado do manejar).
ou médio de regeneração, do b. Quais os cuidados necessários para que
Bioma Mata Atlântica, ou utilizá- o manejo efetivamente atinja seu ob-
la com infringência das normas jetivo de preservação (como manejar).
de proteção.
. 1.1.2 S
 obre o controle de espécies
Art. 48. Impedir ou dificultar a superabundantes
regeneração natural de florestas Tratar de espécies nativas superabun-
e demais formas de vegetação. dantes exige mais cautela, uma vez que
.. essas espécies ocorrem em seus ecossis-
Art. 50-A. Desmatar, explorar temas de origem e integram a biodiver-
economicamente ou degradar sidade a ser preservada.
floresta, plantada ou nativa, Não obstante, a ocorrência de supera-
em terras de domínio público bundância está ligada com frequência a
ou devolutas, sem autorização algum tipo de distúrbio. Um dos princi-
do órgão competente. (BRASIL, pais distúrbios, nos fragmentos de Mata
1998b, grifo nosso) Atlântica, é o efeito de borda. Dessa for-
ma, são duas as abordagens de controle
Ora, entrar em um fragmento para previstas nas normas sobre esse bioma.
controlar populações de trepadeiras, ne- A primeira é a indireta, em que o foco
gligenciando as devidas precauções, po- não é a intervenção no fragmento, e sim
deria, sim, trazer prejuízo à floresta ou a eliminação ou mitigação desse distúr-
dano pontual à regeneração natural por bio por meio de plantios no seu entorno
pisoteio, mau uso de equipamentos ou como estratégia de redução do efeito de
falta de treinamento. No entanto, o ob- borda. Justamente por não intervir di-

21
retamente no remanescente, a ativida- No capítulo III, o Decreto no 6.660/2008,
de independe de autorização. com algumas ressalvas,3 permite a supres-
são de espécies nativas para efetuar o en-
Art. 10 riquecimento ecológico, e essa supressão
... dependerá de autorização somente quan-
§ 2o Visando a controlar o efeito do o corte de vegetação nativa gerar pro-
de borda nas áreas de entorno de dutos ou subprodutos comercializáveis.
fragmentos de vegetação nativa, o Para fins de aplicação da dispensa de
poder público fomentará o plantio autorização, a supressão de espécies na-
de espécies florestais, nativas ou tivas que não gere produtos ou subpro-
exóticas. (BRASIL, 2006a) dutos comercializáveis foi definida no
artigo 4o, § 1o (BRASIL 2008, grifo nosso):
A segunda abordagem, sobre a qual
discorreremos mais detalhadamente, Art. 4o O enriquecimento ecológico
por se tratar do foco da presente publi- da vegetação secundária da Mata
cação, é a da intervenção direta no frag- Atlântica, promovido por meio
mento. Nesse sentido, a lei prevê uma do plantio ou da semeadura de
prática que vise acelerar a sucessão: o espécies nativas, independe de
enriquecimento ecológico. Caso em que autorização do órgão ambiental
o controle das nativas superabundantes competente, quando realizado:
não é a atividade principal. No entanto,
tal controle poderia ocorrer como meio I – em remanescentes de
de viabilizar o enriquecimento. vegetação nativa secundária nos
O enriquecimento ecológico foi defi- estágios inicial, médio e avançado
nido no artigo 3o da Lei 11.428/2006 (BRA- de regeneração, sem necessidade
SIL, 2006a, grifo nosso): de qualquer corte ou supressão de
espécies nativas existentes;
VI – enriquecimento
ecológico: atividade técnica e II – com supressão de espécies
cientificamente fundamentada nativas que não gere produtos
que vise à recuperação da ou subprodutos comercializáveis,
diversidade biológica em áreas direta ou indiretamente.
de vegetação nativa, por meio da
reintrodução de espécies nativas; § 1o Para os efeitos do inciso

3 Art. 6o Para os efeitos deste Decreto, não constitui enriquecimento ecológico a atividade que importe a supressão
ou corte de:
I – espécies nativas que integram a Lista Oficial de Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de Extinção ou cons-
tantes de listas dos Estados;
II – espécies heliófilas que, mesmo apresentando comportamento pioneiro, caracterizam formações climácicas;
III – vegetação primária; e
IV – espécies florestais arbóreas em vegetação secundária no estágio avançado de regeneração, ressalvado o dis-
posto no § 2o do art. 2o. (BRASIL, 2008)

22 Manejo de fragmentos florestais degradados


II, considera-se supressão de tar recursos como luz ou nutrientes? Sal-
espécies nativas que não gera vo melhor juízo, tal dispositivo poderia
produtos ou subprodutos amparar ambos os cenários.
comercializáveis, direta ou Em nossa análise, concentramo-nos
indiretamente, aquela realizada no manejo sem finalidade comercial,
em remanescentes florestais uma vez que o objetivo central do con-
nos estágios inicial e médio de trole de espécies-problema nativas, como,
regeneração, em áreas de até dois por exemplo, o manejo de trepadeiras, é
hectares por ano, que envolva melhorar as condições de fragmentos de
o corte e o manejo seletivo de vegetação nativa. No entanto, julgamos
espécies nativas, observados adequado comparar, pontualmente, as-
os limites e as condições pectos de coleta, comercial ou não, consi-
estabelecidos no art. 2o. derando que seria indesejável que as me-
didas de conservação encontrassem mais
§ 2o O enriquecimento ecológico entraves burocráticos do que as medi-
realizado em unidades de das de coleta em um mesmo fragmento.
conservação observará o disposto Há diversas interfaces entre a Lei no
neste Decreto e no Plano de 12.651, de 25 de maio de 2012, o manejo e
Manejo da Unidade. a restauração de fragmentos florestais.
Nos artigos 21 a 24, são estabelecidos me-
Assim, o corte e o manejo seletivo de canismos para a desburocratização da
espécies nativas em remanescentes no coleta de produtos florestais com rela-
estágio inicial, médio e avançado de re- ção às outras atividades de manejo flo-
generação, para fins de enriquecimento restal sustentável:
ecológico, em até dois hectares por ano,
estão dispensados de autorização. Caso a Art. 21. É livre a coleta de produtos
intensidade do corte seja maior que esse florestais não madeireiros, tais
limite, a atividade deverá ser previamen- como frutos, cipós, folhas e
te autorizada. sementes, devendo-se observar:
Ora, se o controle de uma espécie su-
perabundante, respeitadas as respecti- I – os períodos de coleta e
vas ressalvas, independe de autorização volumes fixados em regulamentos
quando ela impede potencialmente o específicos, quando houver;
crescimento de espécies plantadas com a
finalidade de enriquecimento ecológico, II – a época de maturação dos
qual seria a justificativa para não apli- frutos e sementes;
car o mesmo raciocínio quando as espé-
cies nativas já estão presentes no frag- III – técnicas que não coloquem
mento, mas trepadeiras superabundan- em risco a sobrevivência de
tes impedem seu crescimento por limi- indivíduos e da espécie coletada

23
no caso de coleta de flores, aplica-se igualmente o disposto
folhas, cascas, óleos, resinas, nos arts. 21, 22 e 23. (BRASIL 2012a,
cipós, bulbos, bambus e raízes. grifo nosso)

Art. 22. O manejo florestal A Lei da Mata Atlântica (BRASIL 2006a),


sustentável da vegetação da por sua vez, permite a coleta de subpro-
Reserva Legal com propósito dutos florestais livremente, ou seja, sem
comercial depende de necessidade de autorização, indepen-
autorização do órgão competente dentemente se comercial ou não, e cita
e deverá atender as seguintes como exemplo de coleta a retirada de
diretrizes e orientações: frutos, folhas e sementes, respeitadas
algumas condicionantes:
I – não descaracterizar a
cobertura vegetal e não Art. 18. No Bioma Mata Atlântica,
prejudicar a conservação da é livre a coleta de subprodutos
vegetação nativa da área; florestais tais como frutos, folhas ou
sementes, bem como as atividades
II – assegurar a manutenção da de uso indireto, desde que não
diversidade das espécies; coloquem em risco as espécies da
fauna e flora, observando-se as
III – conduzir o manejo de limitações legais específicas e em
espécies exóticas com a adoção particular as relativas ao acesso ao
de medidas que favoreçam a patrimônio genético, à proteção e ao
regeneração de espécies nativas. acesso ao conhecimento tradicional
associado e de biossegurança.
Art. 23. O manejo sustentável
para exploração florestal A Lei 12.651/2012, no artigo 21, apresen-
eventual sem propósito tado acima, também permite livremen-
comercial, para consumo no te a coleta, e inclui entre seus exemplos
próprio imóvel, independe os cipós. Contudo, nenhuma dessas leis
de autorização dos órgãos define o termo coleta. A resolução SMA
competentes, devendo apenas 14, de 25 de fevereiro de 2014, procuran-
ser declarados previamente ao do preencher essa lacuna, definiu “cole-
órgão ambiental a motivação da ta de produtos florestais não madeirei-
exploração e o volume explorado, ros” em seu artigo 2o, inciso IV (SÃO PAU-
limitada a exploração anual a 20 LO, 2014a, grifo nosso):
(vinte) metros cúbicos.
Art. 2o
Art. 24. No manejo florestal nas
áreas fora de Reserva Legal, IV – Coleta de produtos florestais

24 Manejo de fragmentos florestais degradados


não madeireiros: atividade de mento dos compromissos de restauração
exploração florestal sustentável deve se basear nos resultados atingidos,
para obtenção de produtos e e não nas ações planejadas”. Isso signifi-
subprodutos florestais, que não ca que, até que o ecossistema atinja pa-
acarrete a morte do indivíduo, râmetros mínimos de estrutura e autos-
que não envolvam sua remoção sustentabilidade, o restaurador é respon-
total, exceto no caso de plântulas, sável por tomar as providências neces-
e que não impliquem a supressão sárias contra os fatores de perturbação,
ou corte do indivíduo. o que inclui o controle de espécies inva-
soras, bem como a correta implantação
Dessa forma, não parece razoável im- da metodologia de restauração que será
por mais burocracia ao desenvolvimento utilizada (CHAVES et al., 2015).
de atividades não exploratórias. No artigo 11 dessa resolução, são des-
Como já exposto, esses distúrbios ocor- critos os quatro métodos de restauração
rem principalmente na Mata Atlântica, ecológica. No caso de as ações de restau-
assim, tratamos as atividades de mane- ração a serem adotadas consistirem ex-
jo de trepadeiras para restauração e con- clusivamente no controle de trepadei-
servação de fragmentos, até o momento, ras, no contexto da presente publicação,
como uma intervenção em remanescen- o objetivo de tais ações é auxiliar a colo-
tes desse bioma. nização e o desenvolvimento dos indiví-
Porém, e quando essa intervenção se duos vegetais nativos presentes na área
der em áreas degradadas ou alteradas, ou no entorno, de modo que o projeto se
onde o manejo tem como objetivo a re- enquadre no método “condução da rege-
composição?4 neração de espécies nativas” (SÃO PAU-
Como as regras são diferentes nesses LO, 2014b, art. 2o, inciso XI):
dois casos, apresentaremos, resumida-
mente, aspectos relevantes que integram XI – condução da regeneração
as normas sobre restauração no estado de de espécies nativas: técnicas
São Paulo, pois eles tangenciam o tema que auxiliem a colonização e o
desta publicação. desenvolvimento dos indivíduos
vegetais nativos presentes
1.2 Manejo de trepadeiras no âmbito na área, inclusive por meio
de projetos de restauração de coroamento, controle de
ecológica em áreas desprovidas gramíneas exóticas, técnicas de
de vegetação nativa nucleação, entre outros;
A Resolução SMA 32, de 3 de abril de 2014,
estabeleceu como um de seus princípios Destaca-se que as medidas de proteção
norteadores que “a verificação de cumpri- contra fatores de perturbação são parte

4 “VIII – recomposição – restituição de ecossistema ou de comunidade biológica nativa degradada ou alterada a


condição não degradada, que pode ser diferente de sua condição original” (BRASIL, 2012b, art. 2o, inciso VIII).

25
integrante do projeto de restauração eco- Companhia Ambiental do
lógica. A Resolução SMA 32/2014 aborda Estado de São Paulo - CETESB,
essa necessidade no artigo 14 e, mais es- desde que não comprometam o
pecificamente para o controle de espé- ecossistema em restauração e
cies exóticas, nos artigos 22 e 23: que tenham sido devidamente
registradas no Sistema
Artigo 14 – A etapa de Informatizado de Apoio à
implantação contempla o Restauração Ecológica - SARE.
isolamento dos fatores de
perturbação – tais como presença Parágrafo único – Nas Áreas de
de gado, formigas cortadeiras, Preservação Permanente, deverá
fogo, secas prolongadas, e ser solicitada autorização à
o controle de espécies com Companhia Ambiental do Estado
potencial de invasão –, bem como de São Paulo - CETESB nos
as ações diretas relativas ao casos em que a intervenção para
método escolhido. controle e erradicação de espécies
exóticas arbóreas ocorra em
Artigo 22 – Quando houver áreas com declividade superior a
presença de espécies vegetais 25 (vinte e cinco) graus.
exóticas com potencial de
invasão, sejam herbáceas, Temos, portanto, no artigo 23, dis-
arbustivas ou arbóreas, o posição acerca da dispensa de autori-
interessado deverá adotar zação por parte da Cetesb quando ado-
medidas de controle de modo a tadas as medidas de controle de espé-
não comprometer o ecossistema cies vegetais exóticas, exclusivamente
em restauração, devendo as para os casos nos quais o projeto tenha
medidas ser registradas no sido registrado no Sistema Informati-
Sistema Informatizado de Apoio à zado de Apoio à Restauração Ecológi-
Restauração Ecológica - SARE. ca (Sare). Há, ainda, a ressalva de que
tais medidas não devem comprometer
Artigo 23 – Salvo disposição em o ecossistema em restauração.
contrário, as medidas de controle No que tange às espécies nativas su-
de espécies vegetais exóticas perabundantes, não há menção explíci-
dispensam a autorização da ta na Resolução SMA 32/2014.

26 Manejo de fragmentos florestais degradados


1.3 Considerações com o conhecimento disponível, é de-
Interpretar diplomas legais e infralegais ver da pesquisa apontar incoerências
requer ponderação para extrair deles o na legislação, a fim de subsidiar altera-
cerne da intenção do legislador/regula- ções, especialmente nos diplomas de ní-
mentador. A ciência e a prática da res- vel mais técnico, como instruções nor-
tauração ecológica, bem como as práti- mativas e resoluções.
cas de manejo de fragmentos com fun- Por meio da análise desenvolvida nes-
damentação legal, são jovens no Brasil. te capítulo, concluímos que, em um ce-
Felizmente, mais pesquisadores têm se nário de evidências científicas que apon-
engajado na tarefa de investigar solu- tem com clareza que o manejo de trepa-
ções para problemas reais no campo da deiras favorece a regeneração natural e
restauração e da conservação. promove a conservação da vegetação na-
Esse processo é saudável, sem dúvi- tiva, a legislação vigente ampara a rea-
da, uma vez que, dessa forma, o legisla- lização dessas práticas. Daí a importân-
dor/regulamentador pode contar siste- cia de desenvolver e divulgar o conheci-
maticamente com a evolução do conhe- mento sobre como e em que condições o
cimento para embasar o cumprimento manejo é recomendado; daí a relevância
dos dispositivos legais. Por outro lado, desta publicação.

27
2 FRAGMENTAÇÃO DE HABITAT
VINICIUS RODRIGUES TONETTI1;
RENATA L. MUYLAERT1;
MILTON C. RIBEIRO1

N
este capítulo, são abordados alguns temas relacionados a uma das
maiores ameaças à biodiversidade global: a fragmentação de habitat.
Inicialmente, discutimos conceitos sobre fragmentação de habitat,
apresentando algumas teorias ecológicas úteis para que se entendam
as mudanças ambientais no tempo e no espaço, assim como algumas de suas im-
plicações na conservação da biodiversidade. Os estudos citados enfocam a Mata
Atlântica. Em seguida, apresentamos a ecologia de paisagens e alguns exemplos
de suas aplicações como estratégias de manejo e criação de políticas públicas.

2.1 Contexto da bitat podem ser mais favoráveis para es-


fragmentação de habitat sas aves por apresentar maior disponibi-
O habitat pode ser entendido como o am- lidade de alimento (e.g., insetos), melho-
biente no qual um organismo vive e ob- res sítios de nidificação e abrigo para fu-
tém recursos, como alimento, e encon- gir de predadores, como os gaviões. Fato-
tra locais adequados para se reproduzir res como, por exemplo, heterogeneidade
e evitar a predação. Desse modo, o habitat da composição do solo, topografia e ciclos
de uma ave florestal é a floresta, ao passo de inundação podem causar diferenças
que o de um peixe pode ser um lago. Além nos tipos de vegetação e fazer com que
dos ambientes naturais, existe uma in- os ambientes sejam vistos como mosai-
finidade de tipos de habitat nos quais os cos naturais, de modo que áreas muito
organismos obtêm recursos, como áreas extensas e homogêneas são raras na na-
urbanas e agrícolas, por exemplo. Dentro tureza. Mais comuns são os citados mo-
de um mesmo tipo de habitat, podem exis- saicos naturais, ou seja, habitat natural-
tir locais mais adequados que outros, é o mente fragmentados.
que se denomina de manchas de habitat. Vejamos um exemplo de habitat na-
Por exemplo, ao estudarem a ocorrência turalmente fragmentado, as savanas
de uma ave endêmica da Mata Atlânti- amazônicas (Figura 2.1). Essas savanas
ca dentro de um enorme bloco de flores- podem ocorrer na forma de manchas
ta na serra da Cantareira, Tonetti e Pizo de vegetação aberta, formadas por ár-
(2016) constataram que os indivíduos da- vores baixas e espaçadas, envoltas por
quela espécie preferem florestas próxi- uma matriz de floresta densa. Nesse
mas a rios e lagos. Essas manchas de ha- caso, a floresta corresponde à matriz,

1 Universidade Estadual Paulista-Unesp, Instituto de Biociências, Departamento de Ecologia, campus de Rio Claro,
São Paulo.

28 Manejo de fragmentos florestais degradados


por ser o tipo de ambiente mais exten- do-se livremente na matriz florestal, ao
so e conectado. Os fragmentos de sava- passo que outros, como uma espécie de
na estão isolados uns dos outros e apa- anfíbio com alta especificidade de habi-
recem em menor quantidade na paisa- tat, obtêm recursos em apenas um am-
gem (ver uma definição de paisagem no biente, ficando restrito a um dos dois
item 2.3). Alguns animais (como a onça- tipos de vegetação. Dessa forma, o que
-pintada) ocorrem tanto nas manchas define um habitat “bom” ou “ruim” é a
de savana quanto na floresta, deslocan- espécie que o ocupa.

61’10’’ 61’5’’ 61’ 60’55”

-4’50” 4’50”

-4’55” 4’55”

0 3 6 km

61’10’’ 61’5’’ 61’ 60’55”

Figura 2.1. Exemplo de paisagem naturalmente fragmentada: manchas de savana (em marrom) inseridas em ma-
triz florestal na Amazônia (verde). Fonte: Elaboração própria

A fragmentação de um habitat – pro- mas das principais ameaças às áreas na-


cesso de redução e isolamento de am- turais. A perda de um habitat em si não
bientes naturais – pode acontecer na- resulta obrigatoriamente em fragmen-
turalmente, como visto no exemplo aci- tação, no entanto, a configuração espa-
ma. No entanto, as atividades antrópicas cial na qual essa perda geralmente ocor-
são atualmente a sua principal causa. A re faz com que fragmentos de ambientes
necessidade humana de suprimir vege- naturais fiquem isolados uns dos outros
tação nativa para dar espaço à produção e entremeados por matrizes de ambien-
de alimentos, à construção de cidades e tes alterados (Figura 2.2). Essas matrizes
estradas, entre outras atividades intrín- são geralmente formadas por pastagens,
secas ao modo de vida humano, são algu- lavouras ou áreas urbanas.

29
Os quatros efeitos Fragmentação
da fragmentação per se!

4’
1. Redução na quantidade
de habitat
2. Aumento no número
de fragmentos
3. Diminuição nos
2’
tamanhos dos
fragmentos
N
4. Aumento do isolamento
0 60 120km
dos fragmentos
4’ 6’ 8’
4 medidas!

Figura 2.2 – Exemplo de paisagem fragmentada pela ação humana, seguido de esquema mostrando de forma resu-
mida alguns dos principais efeitos da fragmentação. A imagem de satélite (Landsat 8) mostra uma paisagem na
divisa dos estados de Amazonas e Tocantins. Para facilitar a visualização, os fragmentos florestais estão represen-
tados em vermelho e a matriz, composta principalmente por pastagens, em branco. A figura em azul que cruza a
figura é o rio Araguaia.

Algumas das primeiras noções sobre que em ilhas grandes. Além disso, essas
os efeitos da fragmentação de habitat na taxas de colonização e extinção são dinâ-
biodiversidade surgiram com a teoria da micas. Algumas espécies são frequente-
biogeografia de ilhas. Tal teoria foi criada mente extintas e outras continuamente
em 1967 pelo ecólogo Robert H. MacArthur colonizam as ilhas. Assim, ilhas grandes
(1930–1972) e pelo biólogo Edward O. Wil- e próximas ao continente abrigariam um
son (1929–). Baseados em observações an- número maior de espécies que ilhas me-
teriores, de que as ilhas oceânicas têm nores e distantes.
menos espécies que os continentes, es- Alguns anos após sua criação, em ra-
ses autores partiram de dois pressupos- zão da crescente preocupação com os efei-
tos fundamentais para tentar explicar tos da fragmentação sobre a biodiversi-
essa diferença: (1) a chance de um or- dade, a teoria da biogeografia de ilhas co-
ganismo alcançar uma ilha é maior em meçou a ser aplicada a ambientes terres-
ilhas próximas ao continente e menor tres. Os fragmentos de vegetação natural
em ilhas mais afastadas e (2) as espécies começaram a ser vistos como “ilhas” de
que alcançam as ilhas têm mais chance biodiversidade em “mares” de ambientes
de serem extintas em ilhas pequenas do hostis e empobrecidos em espécies. Des-

30 Manejo de fragmentos florestais degradados


se modo, analogamente à teoria de bio- dem estar isolados; isso ocorre porque o
geografia de ilhas, fragmentos grandes e processo de fragmentação não se dá ao
próximos a grandes blocos de áreas natu- acaso. Entretanto, é possível encontrar
rais teriam potencial para suportar mais diferentes combinações de aspectos da
espécies do que fragmentos pequenos e fragmentação, incluindo a perda de ha-
isolados (Figura 2.3). Perceba-se que, em bitat sem fragmentação ou a fragmenta-
muitos casos, fragmentos pequenos po- ção sem o aumento do isolamento.

Figura 2.3 – Fragmento florestal pequeno e isolado (“ilha”) no município de Luiz Antônio, SP. Note-se que, ao redor
do fragmento, há um “mar” de cana-de-açúcar. Fotografia: R. L. Muylaert.

A teoria da biogeografia de ilhas mo- res inóspitos” que os organismos preci-


tivou diversos estudos sobre fragmenta- sam atravessar para alcançar novos am-
ção de habitat nas últimas décadas e uma bientes é bastante irrealista. Como será
de suas implicações, a de que ilhas maio- visto com mais detalhes a seguir, as ma-
res abrigam um número maior de espé- trizes são, na verdade, ambientes dife-
cies, foi até mesmo utilizada para deter- rentes das manchas de vegetação nati-
minar a configuração espacial das uni- va e podem ser menos ou mais favorá-
dades de conservação. No entanto, sua veis ao fluxo e à permanência de indiví-
aplicação a sistemas terrestres é contro- duos. Além disso, a teoria da biogeogra-
versa. A comparação entre as matrizes fia de ilhas não considera as diferenças
que circundam os fragmentos e os “ma- entre as espécies, portanto, todas teriam

31
a mesma chance de colonização e extin- do de indivíduos podem ser de grande
ção nas ilhas. importância para a conservação da bio-
Paralelamente à teoria da biogeogra- diversidade, caso contenham subpopu-
fia de ilhas, o ecólogo Richard Levins lações que estejam inseridas em meta-
(1930–2016) propôs, em 1969, a teoria da populações.
dinâmica de metapopulações. De acor-
do com Levins, uma metapopulação pode 2.2 A fragmentação de habitat e a
ser entendida como grupos de pequenas conservação da biodiversidade
subpopulações separadas espacialmente A fragmentação de habitat causada pelo
umas das outras, mas que formam uma homem é um fenômeno observado na
população maior, por manter troca gené- grande maioria dos ambientes naturais
tica entre si no fluxo de indivíduos en- do planeta, senão em todos eles, e as flo-
tre uma área e outra. A teoria das meta- restas tropicais estão entre os ambientes
populações, da maneira como foi formu- que mais sofreram seus efeitos em um
lada inicialmente, assume que mesmo passado recente. Isso se deve, principal-
as maiores subpopulações apresentam mente, às ondas de colonização huma-
probabilidades altas de serem extintas. na, à exploração de novas terras nos úl-
Assim, ao pensar na viabilidade de lon- timos 520 anos e, mais recentemente, ao
go prazo de organismos que ocorrem em advento do agronegócio. Apesar da con-
uma metapopulação, deve-se olhar além tínua perda e alteração de seus habitat,
das taxas de nascimento e morte dentro as florestas tropicais abrigam cerca de
de cada subpopulação, dando atenção às dois terços de todas as espécies de ani-
taxas de extinção e colonização entre as mais e plantas da Terra.
subpopulações. Uma das principais di- A Mata Atlântica e diversos outros am-
ferenças entre a teoria das metapopula- bientes naturais do planeta foram seve-
ções e a da biogeografia de ilhas é que a ramente fragmentados por ação huma-
segunda geralmente considera escalas na no passado recente (NEWBOLD et al.,
continentais, e até mesmo globais, ao pas- 2015) (Figura 2.4). Tendo em vista que vi-
so que a primeira dá mais atenção a es- vemos em um mundo em constante mu-
calas menores, das paisagens, por exem- dança, no qual ambientes pristinos são
plo, permitindo o manejo dessas áreas. frequentemente reduzidos a manchas
Uma das principais implicações da teo- menores de vegetação, é de extrema im-
ria das metapopulações em ambientes portância entender as implicações da
fragmentados é que fragmentos peque- fragmentação de habitat na conserva-
nos que abriguem um número limita- ção da biodiversidade.

32 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 2.4 – A Mata Atlântica brasileira em seu estado original, à esquerda, e hoje, à direita, segundo mapeamento
recente (2014), realizado pela ONG SOS Mata Atlântica. A cobertura florestal está em verde. À direita, em cinza,
estão as áreas do domínio que sofreram perda da vegetação original. Fonte: SOS Mata Atlântica, 2014.

Um dos efeitos mais imediatos da frag- ras e algumas espécies arbustivas, proli-
mentação de habitat nos remanescentes feram nas bordas.
florestais é o “efeito de borda”, que acon- As diferenças de microclima e estrutu-
tece em razão de os ambientes interiores ra de vegetação entre a borda e o interior
e exteriores ao fragmento serem distintos dos fragmentos também causam diferen-
no que se refere a estrutura da vegetação, ças na composição de espécies, tanto de
microclima, solo e/ou composição de es- plantas quanto de animais, assim como
pécies (Figura 2.5). Nas regiões próximas na interação entre elas. Mendes, Ribeiro
a suas bordas, as florestas ficam mais ex- e Galetti (2015) constataram que o consu-
postas à luz solar e ao vento do que em mo de sementes da palmeira-jerivá por
seu interior, fazendo com que as bordas esquilos é maior nos limites dos fragmen-
dos fragmentos florestais sejam, em ge- tos de Mata Atlântica estacional do que
ral, mais quentes e menos úmidas. Algu- no interior da floresta. Esse fenômeno
mas espécies de árvores, principalmente provavelmente se deve ao fato de que al-
as mais sensíveis à incidência de luz so- guns dos predadores naturais dos esqui-
lar e ao vento intenso, podem até mesmo los, como a jaguatirica, ocorrem em me-
morrer logo após a fragmentação, caso es- nor abundância nas bordas. O aumento
tejam na borda. Por outro lado, plantas da taxa de predação de sementes pode ter
que se beneficiam do aumento da lumi- efeito direto em um processo ecológico
nosidade, como, por exemplo, trepadei- fundamental: a dispersão das sementes.

33
Figura 2.5 – Borda de um grande fragmento florestal em contato com uma plantação de cana-de-açúcar no muni-
cípio de Luiz Antônio, SP. O aceiro é usado por caminhões e também impede que as queimadas de um lado passem
para o outro. Fotografia: R. L. Muylaert.

Além do efeito de borda, outra das con- a fragmentação. Na maioria das vezes, a
sequências mais estudadas da fragmen- diminuição no número de espécies ocor-
tação é a perda de espécies que dependem re de forma não linear, conforme a perda
da floresta. As espécies generalistas po- de habitat acontece. Um estudo que reu-
dem até mesmo experimentar aumento niu informações sobre a composição de
de abundância, mas os organismos sen- mamíferos em diversos fragmentos de
síveis às alterações ambientais que ne- Mata Atlântica constatou que há uma
cessitam de áreas florestadas extensas queda abrupta no número de espécies
para encontrar recursos e manter popu- de mamíferos de grande porte quando os
lações viáveis ao longo do tempo tendem fragmentos atingem tamanhos menores
a se extinguir rapidamente com a frag- do que dois mil hectares (MAGIOLI et al.,
mentação. Essa perda de biodiversidade 2015). Outra queda abrupta foi observa-
acontece tanto dentro de cada fragmen- da em fragmentos menores que 60 hec-
to quanto em paisagens que sofrem com tares, porém, nesse caso, as espécies que

34 Manejo de fragmentos florestais degradados


declinaram mais rapidamente foram as com as quais interagem. Nesse caso, o que
de mamíferos de porte médio. pode acontecer são extinções amplifica-
Partindo para a escala da paisagem das no longo prazo. A extinção das intera-
e sem considerar apenas os fragmentos ções ecológicas precede a extinção de es-
como unidade amostral, deve-se levar em pécies e seu efeito pode se estender para
conta o limiar de fragmentação na perda todas as comunidades. Por exemplo, a
de espécies. Um limiar de fragmentação polinização pode ficar seriamente com-
bastante empregado pondera que paisa- prometida com a redução da abundância
gens com menos de 30% de cobertura ve- ou a extinção de polinizadores em con-
getal nativa sofrem perda severa de espé- sequência da fragmentação (FERREIRA;
cies. No entanto, sabe-se atualmente que BOSCOLO; VIANA, 2013). A perda dessa in-
esse número varia conforme o bioma e teração animal-planta vem a ser bastan-
o grupo taxonômico. Em florestas do in- te danosa à biodiversidade nos trópicos,
terior de São Paulo, Muylaert, Stevens e onde a vasta maioria das plantas é poli-
Ribeiro (2016) notaram uma diminuição nizada por abelhas, borboletas e outros
drástica no número de espécies de mor- insetos, além de aves e morcegos. A poli-
cegos quando a quantidade de floresta na nização permite a troca de material ge-
paisagem diminuiu para menos de 50%, nético entre indivíduos de uma mesma
aproximadamente. Fenômeno semelhante espécie de planta e sua ausência pode fa-
foi observado para aves de sub-bosque na zer com que espécies vegetais desapare-
Mata Atlântica formada por florestas om- çam nos fragmentos onde esse fenôme-
brófilas densas (MARTENSEN et al., 2012). no já não acontece, o que, no longo pra-
Concomitantemente às extinções, o zo, pode acarretar mudanças considerá-
processo de fragmentação causa a perda veis na estrutura da vegetação.
de interações ecológicas que evoluíram Tanto a teoria da biogeografia de ilhas
há milhões de anos. A maneira como os quanto a teoria da dinâmica de metapo-
organismos interagem pode ser drasti- pulações levam em consideração a movi-
camente afetada, mesmo quando o nú- mentação dos organismos entre as man-
mero de espécies é mantido. Isso aconte- chas de habitat, e sabe-se que a matriz é
ce porque a abundância de alguns orga- um dos fatores que mais influenciam a
nismos, sobretudo os mais sensíveis às al- capacidade de deslocamento das espécies.
terações ambientais, pode ser reduzida a As matrizes podem ser de diversos tipos e
um ponto em que eles sejam funcional- apresentam diferentes permeabilidades
mente extintos. Em outras palavras, al- para as espécies. Entende-se como per-
gumas espécies se tornam tão raras em meabilidade da matriz a resistência que
regiões que sofrem com a fragmentação essa matriz impõe para ser atravessada.
que a função que desempenham no am- Os organismos se deslocam por distân-
biente se torna praticamente nula. Ima- cias maiores e permanecem mais tem-
ginemos que essas espécies sejam essen- po em matrizes mais permeáveis. Para
ciais para a sobrevivência das espécies exemplificar o efeito da permeabilida-

35
de da matriz, citamos o estudo feito por não todas elas, relaciona a paisagem a uma
Da Silva et al. (2015), realizado com algu- noção de espaço. A definição que usamos
mas espécies de primatas em uma paisa- aqui trata a paisagem como “um mosaico
gem fragmentada de Mata Atlântica no heterogêneo formado por unidades inte-
sul do estado de Minas Gerais. Os autores rativas, sendo esta heterogeneidade exis-
constataram que os macacos conseguem tente para pelo menos um fator, segundo
se deslocar melhor pelos diferentes frag- um observador e numa determinada es-
mentos florestais quando estes estão en- cala de observação” (METZGER, 2001, p. 4).
voltos por matrizes formadas por planta- Esse conceito amplo permite que a paisa-
ções de café do que quando os fragmen- gem seja definida de diferentes maneiras,
tos estão inseridos em matrizes formadas segundo diferentes percepções e extensões.
por pastagens ou plantações de cana-de- Uma paisagem pode ser definida pelos li-
-açúcar. Isso se deve, provavelmente, ao mites expressos na Figura 2.7 ou pode ser,
fato de que as plantações de café são es- também, um quadrado de 1 m x 1 m para
truturalmente mais similares ao ambien- um inseto em um jardim. Dessa forma,
te natural dessas espécies do que as pasta- fica claro que a extensão da paisagem de-
gens e os canaviais. Além do tipo de ma- pende da biologia do organismo que esta-
triz exercer uma forte influência sobre a mos estudando. Usamos a ideia de paisa-
capacidade de deslocamento, a maneira gem como unidade de medida para o que
como cada espécie “percebe” as matrizes nos interessa entender na natureza.
também varia grandemente. Algumas es- A paisagem é estudada por meio de
pécies conseguem atravessar mais facil- diferentes ferramentas que isentam os
mente do que outras uma mesma matriz, pesquisadores de ir até o local de estudo e
a fim de se deslocar entre os fragmentos. medi-lo “na mão”. Essas ferramentas são
Por isso, quando falamos em habitat, de- as ferramentas de sensoriamento remo-
vemos sempre levar em consideração a to. Com elas, é possível saber o que está
biologia da espécie à qual nos referimos. acontecendo na floresta amazônica sem
ter de viajar até lá. Basta carregar imagens
2.3 A fragmentação de habitat de satélite ou fotografias aéreas em um
e a ecologia de paisagens computador e investigar remotamente os
Estudar como os aspectos e processos eco- diferentes elementos da paisagem, que po-
lógicos são influenciados pela configura- dem ser fragmentos de floresta, cidades,
ção espacial dos diferentes ambientes é um plantações, rodovias ou corredores ecoló-
dos principais objetivos da ecologia de pai- gicos (Figura 2.6). Essas imagens contêm
sagens. Para compreender o que é a ecolo- informações sobre o posicionamento es-
gia de paisagens, é preciso primeiramente pacial no planeta (latitude, longitude) e
definir o que seja uma paisagem. Existem também a cobertura da terra, represen-
diversas definições na literatura e citar tada pelos elementos da paisagem. Em
cada uma delas está além do escopo deste sensoriamento remoto, podemos infe-
capítulo. A maior parte das definições, se- rir o uso da terra pela observação de sua

36 Manejo de fragmentos florestais degradados


cobertura. Por exemplo, quantos quilô- cas (Figura 2.6). O grau de detalhamento
metros quadrados tem uma determina- de cada um desses elementos vai depen-
da unidade de conservação? Qual largu- der da pergunta ecológica que se preten-
ra de APP precisa ser restaurada em de- da responder. Em alguns casos, separar
terminada região? Se um morcego con- a paisagem apenas em áreas de floresta/
segue voar 10 km em uma noite, quantos não floresta, por exemplo, pode ser su-
fragmentos poderá visitar para dispersar ficiente. Em outras situações, é necessá-
sementes em uma dada paisagem? Todas rio saber de forma mais detalhada a que
essas perguntas podem ser respondidas correspondem, mais especificamente, os
com o auxílio do sensoriamento remoto ambientes não florestais e quantos tipos
e da ecologia de paisagens. de ambientes florestais existem (uma vez
Ao utilizar as imagens de satélite ou que as florestas podem apresentar dife-
fotografias aéreas nos estudos de ecolo- rentes estágios de regeneração; Figura
gia de paisagem, o procedimento inicial, 2.6). O nível de detalhamento vai depen-
empregado na grande maioria dos casos, der principalmente da sensibilidade dos
é classificar as unidades da paisagem em organismos aos diferentes elementos, as-
mapas formados por unidades categóri- sim como da questão levantada.

Figura 2.6 – Paisagem com os elementos separados em duas classes (A) e a mesma paisagem, considerando-se sete
classes (B). Fonte: Elaboração própria.

Assim como determinar o nível de deta- cidade influencia a comunidade de for-


lhamento das classes presentes na paisa- migas dentro de um bairro, não faz sen-
gem estudada, é necessário definir a ex- tido mapear uma bacia hidrográfica in-
tensão espacial adequada. Como citado teira. O tamanho da paisagem mapeada
em exemplos anteriores, a maneira como deve ser aquele que melhor responda
cada espécie “percebe” uma paisagem va- ao fenômeno observado (Figura 2.7A). O
ria de acordo com sua necessidade de re- efeito da escala em estudos de ecologia
cursos e sua capacidade de deslocamen- de paisagens pode não ser fácil de deter-
to. Portanto, para estudar como a dispo- minar (para uma revisão sobre o assun-
sição espacial das áreas verdes de uma to, ver JACKSON; FAHRIG, 2015).

37
A B

Figura 2.7 – Extensão (A): a paisagem é comumente representada por círculos, como visto na figura da esquerda. O
tamanho da paisagem vai depender do processo ecológico de interesse para o estudo. Dessa forma, a escala espa-
cial poderá se relacionar a métricas calculadas em diferentes extensões (escalas espaciais). Resolução (B): de ma-
neira semelhante, a menor unidade do mapeamento (pixel) também deve se adequar à pergunta. À direita, estão
mapeamentos de uma mesma paisagem com diferentes resoluções espaciais. As setas indicam o sentido no qual as
resoluções são mais grosseiras. Os valores abaixo de cada mapa indicam o tamanho da aresta dos pixels em me-
tros. Fonte: Elaboração própria.

Após o mapeamento da paisagem razão, grande parte dos índices de frag-


de interesse para o estudo, calculam- mentação se baseia nessa medida. Para
-se as métricas (ou índices) da paisa- boa parte das espécies florestais sensíveis
gem. Atualmente, existem mais de uma às alterações ambientais, as bordas não
centena de métricas e, para uma leitura representam um habitat adequado. As-
mais detalhada sobre as principais de- sim, por mais que uma paisagem tenha
las, sugerimos consultar Metzger (2012). uma quantidade relativamente grande
Uma métrica comumente utilizada em de floresta, caso a maior parte dos frag-
ecologia de paisagem é a que mede a mentos seja pequena, fazendo com que
quantidade de floresta como uma apro- seja alta a relação entre áreas de borda
ximação da quantidade de habitat em e áreas de interior de mata, haverá pou-
ambientes florestais. co habitat disponível. Uma métrica sim-
Medir a quantidade de borda (isto é, a ples de borda é calcular a proporção dos
área de transição entre duas unidades da pixels que correspondem à borda em re-
paisagem) é também muito comum em lação à quantidade total de pixels na pai-
estudos de ecologia de paisagem, por essa sagem (Figura 2.8).

38 Manejo de fragmentos florestais degradados


A B

Figura 2.8 – Paisagens em que os pixels de floresta localizada no limite entre a matriz e o interior dos fragmentos
(ou seja, pixels de borda) são representados em verde musgo, os pixels de interior de floresta são representados em
verde escuro e a matriz é representada em branco. Ambas as paisagens têm a mesma quantidade de floresta. Na
paisagem da esquerda (A), 32% dos pixels são bordas, ao passo que, na paisagem da direita (B), essa proporção é
menor (20%). Perceba-se que, na paisagem onde há maior quantidade de borda (A), o número de fragmentos é
maior e eles são, no geral, menores e mais lineares. Fonte: Elaboração própria.

Outras métricas bastante importantes de trampolins ecológicos, que correspon-


são as de conectividade. A conectividade dem a manchas muito pequenas de ha-
é a capacidade de a paisagem facilitar a bitat, também contribuem significativa-
movimentação dos organismos entre os mente para o aumento da conectividade.
seus elementos. Em paisagens mais co- Os trampolins ecológicos geralmente estão
nectadas, intensifica-se o processo de re- dispersos na paisagem e não fornecem re-
colonização após a extinção de uma po- cursos suficientes para que os organismos
pulação em um fragmento. Os corredo- se estabeleçam neles por longos períodos
res ecológicos, que podem ser definidos de tempo (Figura 2.6A). No entanto, faci-
como manchas de vegetação em formato litam grandemente a movimentação na
linear que ligam fragmentos que já estive- paisagem. Boscolo et al. (2008), realizan-
ram conectados um dia (METZGER, 2012), do experimentos de captura e soltura de
são essenciais para manter a conectivida- uma ave florestal na Mata Atlântica, no-
de. Na Figura 2.6, os corredores estão re- taram que, para cruzar distâncias maio-
presentados por florestas restauradas, em res que cem metros entre um fragmento
laranja. Apesar de os efeitos de borda se- e outro, os animais utilizavam pequenos
rem intensos nesses elementos, pelo fato agrupamentos de árvores, ou até mesmo
de serem estreitos (Figura 2.8), os indiví- árvores isoladas, como pontos de parada.
duos se deslocam mais facilmente entre Na ausência dos trampolins ecológicos, as
dois fragmentos através de corredores do aves não conseguiam manter voo direto
que pela matriz. Assim como os corredo- por longas distâncias na matriz, compos-
res, as stepping stones, também chamadas ta, nesse caso, por pastagens. Uma manei-

39
ra simples de calcular a conectividade é tagem do número de unidades da paisa-
determinar a razão entre o número de pi- gem, que seriam, segundo Metzger (2001),
xels correspondente a corredores e tram- cada tipo de cobertura do solo. De acordo
polins ecológicos e o número total de pi- com essa definição, a paisagem da figura
xels na paisagem (Figura 2.8). 2.6B tem sete unidades (floresta madura,
Assim como corredores e trampolins inicial e restaurada, plantação de cana-
ecológicos, que são elementos facilmente -de-açúcar, pasto “limpo” e “sujo” e tram-
individualizados e mensurados em uma polim ecológico), já a paisagem da figura
paisagem (Figura 2.6), as características 2.6A tem duas (floresta e não floresta, ou
da matriz e a configuração espacial dos seja, tudo, menos floresta). Paisagens com
fragmentos também estão relacionadas maior número de unidades são mais ri-
à conectividade. A permeabilidade da cas e, portanto, apresentam um número
matriz, conforme já discutido no item maior de tipos de ambientes, o que pode
2.2, influencia a movimentação na pai- influenciar a riqueza e a diversidade de
sagem, de modo que matrizes mais per- espécies. As métricas de composição per-
meáveis promovem maior conectivida- mitem também inferir o grau de domi-
de. Em relação à distribuição espacial dos nância espacial das unidades.
fragmentos, as manchas florestais mais É importante ressaltar que as métricas
próximas entre si aumentam a probabi- devem ser calculadas nas situações em que
lidade de os organismos atravessarem a se suspeite que tenham sentido biológico.
matriz para se deslocar de um fragmen- Ao citar as métricas, tentamos ilustrar al-
to a outro. Assim, além de calcular a co- gumas das possíveis relações entre essas
nectividade, contando o número de pixels medidas e a biodiversidade. Por exemplo,
que correspondem a corredores e trampo- para que contar o número de trampolins
lins ecológicos, outro método possível se- ecológicos em uma paisagem? Porque es-
ria medir o grau de isolamento da paisa- ses elementos facilitaram o fluxo de in-
gem, calculando a distância média entre divíduos de uma espécie de ave florestal
os fragmentos. Em duas paisagens com entre fragmentos de Mata Atlântica. As-
a mesma quantidade de floresta, aquela sim, é possível corroborar a hipótese de
que apresenta os fragmentos mais pró- que os trampolins ecológicos aumentam
ximos entre si apresentaria um valor de a conectividade e usar essa informação
isolamento menor. para estimular o plantio de núcleos iso-
Os índices exemplificados anterior- lados de árvores, com a intenção de pro-
mente medem, em sua maior parte, pa- mover a movimentação dos animais e au-
râmetros espaciais da paisagem, como mentar as taxas de colonização em frag-
número de corredores, por exemplo. mentos defaunados. Além disso, a maior
Outra família de métricas da paisagem parte dos índices de paisagem tem senti-
é aquela relacionada à composição dos do apenas quando usada de forma com-
elementos da paisagem. Uma das métri- parativa. Ao comparar o número de espé-
cas mais simples de composição é a con- cies florestais sensíveis às alterações am-

40 Manejo de fragmentos florestais degradados


bientais em duas paisagens com diferen- naturais que podem causar mortalida-
tes quantidades de borda (como as duas de, como tempestades e incêndios.
paisagens da Figura 2.8), por exemplo, será A endogamia é a reprodução de indiví-
possível corroborar (ou refutar) a hipóte- duos proximamente aparentados, o que
se de que paisagens com mais bordas abri- pode resultar em prole com taxas baixas
guem um número menor de organismos de sobrevivência e fertilidade. Nessas po-
especialistas de habitat. pulações, a intervenção humana pode ser
a única solução para permitir a coloni-
2.4 Aplicações em ecologia de zação de novas áreas e reduzir os efeitos
paisagens: estratégias de manejo de endocruzamento por meio de translo-
A fragmentação de habitat causa efeitos cações, reduzindo assim o risco de extin-
danosos à biodiversidade; alguns deles fo- ção. Um exemplo de manejo com popula-
ram vistos no item 2.2. Esses efeitos po- ções em paisagens fragmentadas é o pro-
dem ser revertidos com o auxílio de al- jeto realizado pelo Instituto de Pesquisas
gumas estratégias de manejo que redu- Ecológicas (IPÊ) com o mico-leão-preto
zam as taxas de extinção local ou recu- na Mata Atlântica estacional no interior
perem a biodiversidade em paisagens se- do estado de São Paulo. Nesse projeto, os
veramente depauperadas. pesquisadores têm reintroduzido mi-
O manejo pode ser realizado em popu- cos criados em cativeiro em fragmentos
lações que habitem paisagens fragmen- onde a espécie foi extinta e translocado
tadas ou na própria paisagem. Quando indivíduos entre fragmentos onde a es-
realizado diretamente nas espécies, o pécie ocorre (REZENDE, 2014).
manejo geralmente visa reintroduzir No que se refere às medidas de mane-
populações em locais onde houve extin- jo das paisagens, o aumento da conecti-
ções locais e promover variabilidade ge- vidade é bastante utilizado. A conectivi-
nética por meio da translocação de in- dade pode ser de dois tipos: estrutural
divíduos entre fragmentos. A translo- e funcional. A conectividade estrutural
cação (retirada de indivíduos de algu- está relacionada à conexão espacial entre
mas áreas e soltura em outras) realiza- fragmentos florestais e pode ser aumen-
da em fragmentos onde as populações tada com, por exemplo, criação de corre-
estão isoladas é uma medida análoga à dores e trampolins ecológicos. A conecti-
dinâmica de metapopulações, que acon- vidade estrutural não faz sentido se a co-
tece naturalmente. Conforme visto no nectividade funcional, ou seja, a capaci-
item 2.1, na dinâmica de metapopula- dade das espécies de se deslocar pela pai-
ções, apesar de as subpopulações esta- sagem, não for restabelecida. Dessa for-
rem espacialmente afastadas entre si, ma, a conectividade funcional é depen-
há fluxo de indivíduos de tempos em dente da biologia de cada espécie.
tempos. Populações pequenas e isola- Em uma situação hipotética em que
das correm risco elevado de extinção, existam recursos financeiros para a cria-
em virtude da endogamia e de eventos ção na paisagem de elementos que pro-

41
movam a conectividade (como corredo- pécies arbóreas (que podem ser utiliza-
res e trampolins ecológicos), qual seria das para a produção de frutos ou a ex-
uma boa maneira de saber que configu- tração de madeira). Uma das vantagens
ração espacial serviria para o estabeleci- dos SAFs em relação às culturas tradi-
mento desses elementos, a fim de que a cionais (como extensas monoculturas de
conectividade estrutural fosse a maior soja e cana-de-açúcar) é que, por apre-
possível? Considerando-se que os recur- sentarem estrutura de vegetação seme-
sos disponíveis para os esforços de con- lhante à das florestas tropicais nativas,
servação são geralmente bastante limi- eles podem ser mais adequados para a
tados, investi-los da forma mais benéfi- ocorrência de espécies florestais sensí-
ca possível é extremamente relevante. veis a perda e fragmentação de habitat.
Uma maneira de responder uma ques- Matrizes formadas por SAFs são mais
tão desse tipo é por meio de estudos de permeáveis à movimentação dos organis-
simulação de paisagens que determinem mos e podem até mesmo atuar como ha-
áreas potencialmente mais adequadas e bitat para algumas espécies. Além disso,
que apresentem custo baixo de estabele- os efeitos de borda também ficam redu-
cimento. Um estudo como esse pode ser zidos em fragmentos inseridos em ma-
conduzido com o software LSCorridors trizes agroflorestais, uma vez que as di-
(RIBEIRO et al., manuscrito inédito). ferenças de luminosidade e vento em
Apesar de os estudos de simulação in- SAFs e áreas de floresta são menores do
dicarem os locais onde o custo do esta- que entre floresta e monocultoras e pas-
belecimento de corredores e outros ele- tagens. A criação de SAFs é uma maneira
mentos novos na paisagem são mínimos, de conciliar produção agrícola com con-
a adoção de estratégias desse tipo pode servação da biodiversidade e um exemplo
ser inviável do ponto de vista econômico, de como o manejo da matriz pode auxi-
pois seria necessário ocupar áreas que liar na redução dos efeitos da fragmen-
poderiam ser utilizadas para outras fi- tação. No entanto, vale ressaltar que há
nalidades antrópicas, como a produção evidências que indicam que a capacida-
agrícola. Em regiões onde a produtivida- de dos SAFs de conservar a biodiversi-
de das atividades agropastoris é alta (fa- dade depende, sobretudo, da paisagem
zendo com que o valor das terras seja ele- na qual estejam inseridos. Em paisagens
vado) e onde o custo da restauração flo- com grandes fragmentos de floresta ma-
restal para a criação de corredores tam- dura, os SAFs podem abrigar uma parce-
bém é alto, uma estratégia menos cus- la elevada da biodiversidade, diferente-
tosa de manejo da paisagem para pro- mente de quando estão inseridos em pai-
mover a biodiversidade é incentivar a sagens onde os remanescentes florestais
adoção de sistemas de produção consi- são reduzidos e estão em estágios iniciais
derados de baixo impacto, como os sis- de regeneração (FARIA et al., 2006; FARIA
temas agroflorestais (SAFs). Os SAFs são et al. 2007; PARDINI et al., 2009).
associações de culturas agrícolas com es-

42 Manejo de fragmentos florestais degradados


2.5 A fragmentação de habitat ter o mesmo número de espécies de aves
da perspectiva da legislação e mamíferos que existe em floresta contí-
e das políticas públicas nua, deve ser de 200 metros (LEES; PERES,
Diante da crise atual na biodiversida- 2008). Corredores muito estreitos sofrem
de, a criação de leis e a adoção de políti- intensamente os efeitos de borda (Figu-
cas públicas para reduzir extinções e ga- ra 2.8) e se tornam inadequados para a
rantir a continuidade dos serviços ecos- permanência de espécies florestais sen-
sistêmicos é papel fundamental dos go- síveis. Na Mata Atlântica, estudos sobre
vernantes. No Brasil, dentre as diversas diversos grupos de plantas e animais su-
leis que vigoram em diferentes unidades gerem que a largura mínima dos corre-
político-administrativas, a Lei Federal dores deva ser de 100 metros (50 metros
no 12.651/2012 (conhecida popularmente em cada uma das margens) (METZGER,
como a lei de proteção da vegetação na- 2010). No entanto, a lei de proteção da ve-
tiva) é uma das mais importantes para a getação nativa exige que rios com até dez
conservação (BRASIL, 2012a). Essa lei, de metros de largura preservem uma faixa
forma geral, rege como e onde a vegeta- de, pelo menos, 30 metros de vegetação.
ção nativa pode ser explorada em pro- Além disso, propriedades pequenas (que
priedades privadas. Para exercer sua fun- variam entre 30 hectares e 50 hectares, de-
ção, essa lei compreende dois tipos prin- pendendo da região do país) devem, de
cipais de áreas: as Áreas de Preservação acordo com o Decreto no 7.830/2012, man-
Permanente (APP) e a Reserva Legal (RL). ter APP com pelo menos cinco metros de
As APP têm a função de proteger, por largura (BRASIL, 2012b). Um corredor ri-
meio da preservação das espécies na- pário tão estreito quanto cinco metros é
tivas, áreas mais vulneráveis à erosão, insuficiente para conectar a paisagem no
como margens de rios e terrenos de de- que se refere a uma vasta maioria das es-
clive acentuado. Também é função das pécies florestais (METZGER, 2010).
APP conservar a biodiversidade e pro- Além das APP, a RL também é altamen-
ver serviços ecossistêmicos. Em paisa- te relevante em paisagens fragmentadas.
gens fragmentadas, as APP em beira de De acordo com a lei, a RL é uma “área lo-
rio formam corredores de vegetação que calizada no interior de uma proprieda-
podem aumentar a conectividade. Uma de ou posse rural (...) com a função de as-
das características dos corredores que segurar o uso econômico de modo sus-
mais influencia sua qualidade de prote- tentável dos recursos naturais do imó-
ger a biodiversidade, ou seja, a capacida- vel rural, auxiliar a conservação e a rea-
de de manter a permanência e o fluxo de bilitação dos processos ecológicos e pro-
um grande número de espécies, é a lar- mover a conservação da biodiversida-
gura. Em um estudo realizado na Ama- de, bem como o abrigo e a proteção de
zônia, constatou-se que a faixa de vege- fauna silvestre e da flora nativa” (Brasil
tação mínima a ser preservada em cada 2012a, artigo 3o). A principal função da
uma das margens dos rios, a fim de man- RL, da perspectiva da lei, é que os frag-

43
mentos dispersos na paisagem aumen- sil. Essas UCs são divididas em 12 cate-
tem substancialmente a conectividade, gorias que, por sua vez, estão divididas
fazendo com que a quantidade de vege- em dois grupos: proteção integral e uso
tação natural fique acima dos limiares sustentável. Reservas de proteção inte-
de fragmentação. Pequenos fragmentos gral têm como principal objetivo a con-
florestais em RLs podem facilitar o flu- servação da biodiversidade, portanto, a
xo de indivíduos entre as unidades de presença humana é permitida de forma
conservação e outros grandes blocos de restrita e as atividades que visam explo-
vegetação nativa. Assim, dentre outras rar recursos naturais são bastante limi-
passagens que consideram a paisagem, tadas. Por outro lado, as reservas de uso
a lei diz que, para determinar o local da sustentável visam conciliar a conserva-
RL, o proprietário da terra deve, se pos- ção com o uso de recursos naturais. Nes-
sível, considerar a proximidade com ou- se segundo tipo de UC, a presença huma-
tras áreas de vegetação nativa, que podem na é mais intensa, porém, apenas práti-
ser formadas por APP, RL ou unidades de cas pouco impactantes à biodiversidade
conservação, para que sejam criados cor- são permitidas.
redores que aumentem a conectividade Proteger áreas naturais com a implan-
(BRASIL 2012a, artigo 14). Tendo em vista tação de UCs é o paradigma vigente de
que as áreas protegidas brasileiras pre- conservação da biodiversidade no Bra-
servam uma pequena parcela da vegeta- sil e em países como os Estados Unidos.
ção nativa (9% no caso da Mata Atlânti- Se, por um lado, esse modelo é uma for-
ca; RIBEIRO et al., 2009), proteger flores- ma de manter a biodiversidade alta den-
tas no interior de propriedades privadas, tro dos limites das reservas (geralmente
na forma de APP e RL, é imprescindível formadas por grandes blocos de floresta),
para a conservação da biodiversidade. por outro, pode ser ineficaz para assegu-
Outra lei que tem por objetivo redu- rar a integridade dos processos ecológi-
zir os efeitos da perda e da fragmentação cos em regiões extensas e em prazo lon-
de habitat é o Sistema Nacional de Uni- go. Nos casos em que as UCs estão inse-
dades de Conservação-SNUC (BRASIL, ridas em paisagens altamente fragmen-
2000). O SNUC é o conjunto das diretri- tadas, as espécies que habitam o interior
zes que regem a criação e a gestão das das reservas (especialmente as mais sen-
unidades de conservação (UCs) no Bra- síveis e com mais dificuldade de cruzar

44 Manejo de fragmentos florestais degradados


as matrizes para alcançar outras man- O estabelecimento desse corredor visa
chas de vegetação natural) podem ficar promover ações que aumentem o poten-
restritas a essas áreas de conservação, o cial de conservação e diminuam os efei-
que pode fazer com que suas populações tos da fragmentação por meio da criação
se tornem inviáveis no longo prazo, pe- de novas UCs e do incentivo às ativida-
los fatores discutidos no item anterior, des de baixo impacto.
como endogamia e vulnerabilidade a Outro dispositivo do SNUC para a re-
eventos naturais que resultem em ta- dução dos efeitos da fragmentação é a
xas altas de mortalidade. Dessa manei- criação de mosaicos de UCs. Os mosai-
ra, para amplificar a efetividade das UCs cos são criados em situações em que exis-
na conservação da biodiversidade, polí- te um conjunto de reservas próximas
ticas públicas que aumentem a conecti- entre si, com a intenção de promover a
vidade entre as grandes reservas são ex- gestão integrada das UCs, a fim de am-
tremamente necessárias. pliar seu potencial de conservação e re-
Além da proteção da vegetação nati- duzir o isolamento (BRASIL, 2000). Esse
va, que aumenta a conectividade da pai- tipo de “agrupamento de reservas” sur-
sagem por meio de APP e RL, o próprio giu inicialmente na Mata Atlântica, em
SNUC tem outros dispositivos que visam razão de sua situação atual de fragmen-
reduzir o isolamento das UCs, como a cria- tação. Atualmente, existem 14 mosaicos
ção de corredores para ligar áreas exten- no Brasil (ICMBIO, 2016). Um exemplo é
sas de alta relevância para a conservação, o mosaico da Mantiqueira, formado por
como o corredor central da Mata Atlân- 19 UCs (oito de proteção integral e 11 de
tica (MMA, 2006). O corredor central da uso sustentável), situadas nos estados de
Mata Atlântica compreende uma área de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
8,5 milhões de hectares, está situado no A área total desse mosaico abrange mais
sul do estado da Bahia e em todo o esta- de 700 mil hectares (ver em http://www.
do do Espírito Santo e é formado por 83 mosaicomantiqueira.org.br/site/). Exis-
UCs. Essa região tem níveis altíssimos de tem dezenas de iniciativas com o obje-
biodiversidade. Para exemplificar sua tivo de criar mosaicos em áreas impor-
importância, tenhamos em mente que tantes para a conservação, como ocorre,
50% das aves endêmicas da Mata Atlân- por exemplo, na serra de Paranapiacaba
tica ocorrem nessa região (MMA, 2006). (Figura 2.9).

45
49º30’W 49º0’W 48º30’W 48º0’W

24º0’S 24º0’S

Unidades de Conservação:
24º30’S 24º30’S
1. Parque Estadual Carlos Botelho
2. Parque Estadual Nascentes do
Paranapanema
3. Estação Ecol[ogica Xitué
4. Parque Estadual de Intervales
5. Parque Estadual Turístico do
Alto Ribeira
6. Área de Proteção Ambiental
Quilombo do Médio Riveira

49º30’W 49º0’W 48º30’W 48º0’W

Figura 2.9 – Mosaico das unidades de conservação da serra de Paranapiacaba. Uma iniciativa da Secretaria do
Meio Ambiente do estado de São Paulo e da Fundação Florestal pretende integrar a gestão dessas UCs e criar um
mosaico na região. Fonte: Elaboração própria.

46 Manejo de fragmentos florestais degradados


2.6 Considerações disso, discutimos aspectos relevantes
Neste capítulo, apresentamos concei- para o estudo de paisagens, como a ex-
tos importantes sobre o manejo de frag- tensão e a resolução. Essas característi-
mentos florestais, como fragmentação cas podem determinar a adequação dos
de habitat, e modelos que nos ajudam objetivos de um estudo e sua exequibi-
a entender a estrutura espacial das co- lidade. Por fim, discutimos a fragmen-
munidades ou mesmo a abundância e tação de habitat da perspectiva da legis-
a distribuição das espécies e suas inte- lação e das políticas públicas, com foco
rações, como a teoria da biogeografia de na Mata Atlântica brasileira. É necessá-
ilhas, a dinâmica de metapopulações e rio que o conhecimento a respeito des-
a ecologia de paisagens. Esses modelos sas atividades seja amplamente difun-
evoluíram e se adaptaram, para que dido, a fim de que as ações de conserva-
seu uso nos ajudasse a entender paisa- ção e restauração sejam bem-sucedidas.
gens reais no ambiente terrestre, o que Seria pretencioso abordar todo o con-
é bastante diferente de um conjunto de teúdo dessa temática em um capítulo
ilhas circundadas por um mar inóspi- apenas, mas este é um ponto de parti-
to à vida terrestre. Também utilizamos da para os fundamentos, para a inves-
essas perspectivas ecológicas como fer- tigação da estrutura espacial de comu-
ramentas poderosas para o manejo sus- nidades e das interações em áreas flo-
tentável de fragmentos florestais. Além restais fragmentadas.

47
3D
 IAGNÓSTICO DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS DEGRADADOS
COMO SUBSÍDIO PARA O MANEJO
ADAPTATIVO: PROPOSTA
DE AVALIAÇÃO ECOLÓGICA
RÁPIDA PARA A FLORESTA
ESTACIONAL SEMIDECIDUAL
Ana Paula Liboni1;
Cristina Yuri Vidal2;
Débora Cristina Rother2;
Fabiano Turini Farah1;
Ricardo Ribeiro Rodrigues1

D
iante do atual cenário de degradação ambiental, é urgente a elaboração
de protocolos voltados para a avaliação e o diagnóstico florestal, tanto do
ponto de vista florístico quanto do ponto de vista estrutural. A finalidade
desses protocolos é guiar ações de manejo que possam potencializar seu
papel na conservação da biodiversidade, além de permitir a manutenção de pro-
cessos ecológicos que garantam a provisão de serviços ecossistêmicos em paisagens
alteradas pelas atividades humanas.
Nesse contexto, os objetivos deste capítulo incluem: (1) compilar informações
sobre os principais fatores de degradação e seus efeitos sobre as comunidades ve-
getais de florestas inseridas em matriz agrícola; (2) propor um método rápido para
a avaliação do estado de conservação de fragmentos florestais que forneça subsí-
dios para a tomada de decisões relativas ao manejo adaptativo na fisionomia Flo-
resta Estacional Semidecidual da Mata Atlântica. O manejo adaptativo prevê mu-
danças periódicas nos objetivos e protocolos de manejo, em resposta aos dados de
monitoramento e a informações novas e, na esfera da restauração ecológica, com-
preende intervenções deliberadas no ecossistema durante sua trajetória, visando
superar filtros ou barreiras que dificultem sua evolução rumo ao estado desejado
(ARONSON et al., 2011).
Utilizamos o cenário do interior do estado de São Paulo como exemplo para a
aplicação do método proposto, uma vez que ele compreende, em sua maioria, frag-

1 Universidade São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Laboratório de Ecologia e Restauração
Florestal (LERF).
2 Universidade Estadual de Campinas, Departamento de Biologia Vegetal.

48 Manejo de fragmentos florestais degradados


mentos florestais pequenos e isolados, localizados principalmente em proprieda-
des agrícolas com matriz de cana-de-açúcar, que se apresentam em diferentes es-
tados de conservação e são representativos da situação da Mata Atlântica de inte-
rior no Brasil. Buscamos promover um método simples de avaliação da vegetação,
com a intenção de facilitar e estimular o diagnóstico voltado para o manejo adap-
tativo de florestas inseridas em matriz agrícola. Esse é um primeiro passo na tenta-
tiva de estabelecer protocolos mais robustos e efetivos, que possam contribuir para
a conservação da biodiversidade em paisagens alteradas por atividades humanas.

3.1 Desafios para a conservação variabilidade dos fatores abióticos, pelas


diante do cenário de condições microclimáticas, edáficas, to-
degradação ambiental pográficas, entre outras (BARBERIS et al.,
As florestas tropicais são os ecossistemas 2002; DECOCQ, 2002). Juntamente com as
terrestres mais biodiversos. Abrigam variações edáficas e de relevo, os distúrbios
mais da metade das espécies animais e naturais ou antrópicos que atuam na es-
vegetais conhecidas e se destacam nas cala local geram heterogeneidade dos re-
listas dos ecossistemas ameaçados (MY- cursos no espaço, definindo as diferenças
ERS et al., 2000; SHVIDENKO; BARBER; na composição, na estrutura e, portanto,
PERSSON, 2005). A imensa riqueza bio- na manutenção da alta diversidade des-
lógica dos ecossistemas florestais é re- sas florestas (MOLINO; SABATIER, 2001).
sultado de processos históricos e evolu- Dessa maneira, devemos considerar
tivos que compõem um gradiente ao lon- que a vegetação sofre modificações no
go da superfície do planeta, respeitando tempo em um mesmo lugar, de acordo
padrões climáticos e hidrológicos, confe- com a dinâmica de comunidades carac-
rindo-lhes elevada heterogeneidade. As terística da sucessão secundária (DENT;
florestas tropicais são muito dinâmicas, DEWALT; DENSLOW, 2013; FELDPAUS-
pois sua estrutura e sua composição va- CH et al., 2007; LAURANCE et al., 2002;
riam no tempo e no espaço, em respos- LEBRIJA-TREJOS et al., 2010; NORDEN et
ta aos distúrbios naturais ou antrópicos al., 2009; NORDEN et al., 2015) ou, em uma
que atuam em diferentes escalas, asso- escala de tempo mais ampla, em resposta
ciados aos diferentes padrões climáticos a mudanças climáticas (SHOO et al., 2011;
que modulam a organização da comuni- THOMAS et al., 2004). Todos esses aspec-
dade vegetal (CHAZDON, 2008; KRAFT; tos dificultam a caracterização das for-
VALENCIA; ACKERLY, 2008). mações vegetais e/ou o reconhecimento
Além da heterogeneidade inerente a de suas fisionomias em campo, que, por-
essas florestas, em escala local, a hetero- tanto, devem considerar não somente a
geneidade espacial da vegetação ocorre estrutura da vegetação (altura e conti-
usualmente em duas dimensões: na verti- nuidade do dossel, área basal etc.) como
cal, correspondente à estratificação da ve- também a composição de espécies em de-
getação, e na horizontal, determinada pela terminada área (DURIGAN et al., 2012).

49
A degradação dos ecossistemas natu- te diferente do retorno ao estado origi-
rais, especialmente em decorrência da ati- nal (FOLKE et al., 2010).
vidade humana, tem comprometido não Tais premissas têm implicações sig-
apenas a biodiversidade, mas também as nificativas em um contexto de restau-
funções e os processos ecológicos que ga- ração de ecossistemas, já que o manejo
rantem a oferta de serviços ecossistêmi- pode ser concebido para atingir um único
cos (MILLENNIUM ECOSYSTEM ASSESS- ponto de equilíbrio como alvo das ações
MENT, 2005; NAEEM; DUFFY; ZAVALETA, de restauração ou múltiplos estados al-
2012). Como as respostas da dinâmica dos ternativos, respeitando a variação que
ecossistemas a tais mudanças podem ser ocorre naturalmente entre os ecossiste-
complexas, não lineares e, muitas vezes, mas (CARPENTER et al., 2001; NEWTON;
imprevisíveis, os esforços de conserva- CANTARELLO, 2015).
ção e manejo de ecossistemas naturais li-
dam com uma grande incerteza (SASAKI 3.2 A floresta estacional semidecidual
et al., 2015). A Floresta Estacional Semidecidual (FES),
Dentro dessa temática, o conceito de também denominada Mata Atlântica de
resiliência tem sido o foco de um deba- interior, é um dos tipos florestais do do-
te substancial na literatura (NEWTON; mínio da Mata Atlântica, juntamente
CANTARELLO, 2015), pois se relaciona à com as fisionomias Floresta Ombrófila
capacidade de autorrecuperação de um Densa, Floresta Ombrófila Mista, Floresta
ecossistema. Em seu sentido mais amplo, Estacional Decidual, Restinga e Mangue-
resiliência é a medida da persistência de zal (IBGE 2012). O que caracteriza a FES é o
um ecossistema e de sua capacidade de fato de as árvores que compõem o dossel
absorver perturbações (HOLLING, 1973) florestal serem, em grande parte, de espé-
ou a capacidade de um ecossistema de cies decíduas, ou seja, que perdem as fo-
manter suas funções diante de diferen- lhas como resposta à escassez de água, pe-
tes distúrbios (WEBB, 2007). Um concei- culiar aos meses de inverno em boa par-
to mais recente considera que os ecos- te do interior do Brasil (DURIGAN et al.,
sistemas apresentam múltiplos estados 2012). Portanto, o conceito ecológico des-
de equilíbrio (em inglês, stable states), e se tipo florestal é estabelecido em função
define a “resiliência ecológica” ou “re- do clima estacional, que determina a de-
siliência do ecossistema” como a quan- ciduidade da folhagem do dossel da flo-
tidade de perturbação que um sistema resta. Na zona tropical, esse tipo flores-
pode absorver antes de mudar para ou- tal está associado à região marcada por
tro estado estável (BRAND; JAX, 2007). intensas chuvas de verão, seguidas de es-
Em um sistema com múltiplos estados tiagens acentuadas. Na zona subtropical,
estáveis, as perturbações podem resul- correlaciona-se ao clima sem período seco,
tar na transição de um estado para ou- porém, com seca fisiológica provocada
tro pela superação do limiar ou domínio pelo frio intenso do inverno (tempera-
de estabilidade, o que é qualitativamen- turas médias mensais inferiores a 15 °C),

50 Manejo de fragmentos florestais degradados


que determina a queda parcial das folhas 2002; IVANAUSKAS; RODRIGUES; NAVE,
(VELOSO; RANGEL FILHO; LIMA, 1991). 1999). No estrato superior, predominam
As florestas estacionais foram insufi- gêneros amazônicos de ampla distri-
cientemente estudadas antes de sua des- buição brasileira, como, por exemplo:
truição em larga escala, por isso, sabemos Parapiptadenia, Peltophorum, Cariniana,
muito pouco sobre sua composição flo- Handroanthus, Astronium e outros de me-
rística primitiva (CÂMARA, 2003). Mes- nor importância fisionômica (VELOSO;
mo assim, essas regiões são reconhecidas RANGEL FILHO; LIMA, 1991). No estrato
por apresentar alto endemismo e diver- inferior, predominam os representan-
sidade, tanto na região tropical quanto tes das famílias Rutaceae, Meliaceae,
globalmente (ICPB, 1992; LACLAU, 1994). Euphorbiaceae e Rubiaceae (PAGANO;
A composição florística das florestas es- LEITÃO-FILHO, 1987). Entre as formas
tacionais inclui espécies peculiares, mas subarbustivas e herbáceas, são frequentes
não faltam elementos em comum com a os representantes das famílias Rubiaceae,
Floresta Ombrófila (RIZZINI, 1997). No Bra- Acanthaceae e Poaceae. O componente
sil, a FES ocorre especialmente nas regiões das plantas epífitas e hemiepífitas pou-
a oeste da serra do Mar, com área expres- co se destaca no conjunto da vegetação,
siva nos estados de São Paulo, Mato Gros- ao passo que as trepadeiras se salien-
so do Sul, Minas Gerais e Paraná, além de tam, principalmente nas bordas e nas
manchas menores em outros estados. De clareiras maiores (UDULUTSCH; ASSIS;
acordo com um inventário recente da ve- PICCHI, 2004).
getação do Brasil, a FES apresenta 3.384 es- A FES tem densidade ao redor de mil
pécies de angiospermas, das quais 241 são árvores por hectare, com diâmetro à al-
endêmicas e restritas a esse tipo de vege- tura do peito (DAP) maior ou igual a 5
tação (ZAPPI et al., 2015). cm – em florestas maduras, as árvores
O componente arbóreo desse tipo emergentes podem ultrapassar um me-
florestal geralmente se apresenta em tro de diâmetro (DURIGAN et al., 2012). A
dois estratos floristicamente distintos porcentagem das árvores que perdem as
(PAGANO; LEITÃO-FILHO, 1987). O es- folhas na estação mais seca situa-se en-
trato superior tem entre 15 m e 20 m de tre 20% e 50% (VELOSO; RANGEL FILHO;
altura, além de árvores emergentes que LIMA, 1991), alterando ciclicamente, em
podem alcançar 30 m, e o estrato infe- quantidade e qualidade, o regime de luz
rior tem até 15 m de altura. As famílias que atinge o sub-bosque (GANDOLFI
com maior número de espécies arbóreas et al., 2007; SOUZA; GANDOLFI; RODRI-
geralmente são Fabaceae, Myrtaceae, GUES, 2014; TOMITA; SEWIA, 2004). Essas
Lauraceae, Rubiaceae, Euphorbiaceae alterações afetam as espécies dos estra-
e Solanaceae (BAITELLO et al., 1988; tos inferiores que apresentam diferen-
CERQUEIRA; BRAGANÇA GIL; MEIRELES, tes requerimentos de luminosidade: as
2008; COLLETTA, 2015; DURIGAN et al., espécies intolerantes à sombra são fa-
2000; DURIGAN; SANTOS; GANDARA, vorecidas pela abertura do dossel e pela

51
maior disponibilidade de água no solo, TABANEZ, 1996) e intensamente pertur-
que ocorre em razão da menor intercep- bados (RODRIGUES et al., 2011).
tação da água da chuva pelas copas das A maioria dessas florestas está inserida
árvores durante o período seco (SOUZA; em propriedades particulares destinadas
GANDOLFI; RODRIGUES, 2014). As trepa- à produção agrícola (RODRIGUES et al.,
deiras heliófitas também se destacam en- 2011; SPAROVEK et al., 2010; SPAROVEK et
tre as espécies favorecidas pela abertu- al., 2012), e está distante (mais de 25 km)
ra do dossel. Algumas espécies de trepa- de unidades de conservação (RIBEIRO
deiras proliferam vigorosamente após et al., 2009). Esses fragmentos florestais
distúrbios ou formação de clareiras em compreendem tanto áreas em processo
florestas tropicais (ROZZA; FARAH; RO- de sucessão secundária após supressão
DRIGUES, 2007) e podem vir a estagnar total ou parcial da vegetação quanto flo-
ou até mesmo reverter a sucessão flo- restas remanescentes que sofreram per-
restal (FARAH et al., 2014; SCHNITZER; turbações naturais ou antrópicas (extra-
DALLING; CARSON, 2000). ção de madeira ou produtos não madei-
No Brasil, a ocorrência da FES coin- reiros, caça, presença de gado, fogo etc.)
cide com as regiões em que o habitat se e se apresentam em diferentes estágios
encontra mais fragmentado, em virtu- sucessionais, com potenciais distintos
de da alta aptidão agrícola e, por isso, es- para a oferta de serviços ecossistêmicos
sas florestas foram historicamente sub- (FERRAZ et al., 2014). Essa é a situação da
metidas ao uso intensivo do solo (RIBEI- Mata Atlântica de interior em diversas
RO et al., 2009; RODRIGUES et al., 2011). regiões do Brasil; no entanto, utilizare-
A ocupação dos solos férteis por dife- mos o exemplo do estado de São Paulo
rentes ciclos agrícolas reduziu a cober- para ilustrar a proposta deste capítulo.
tura florestal da Mata Atlântica a apro- O interior do estado de São Paulo com-
ximadamente 10% da cobertura origi- preende dois domínios, o cerrado e a Mata
nal (METZGER et al., 2009; RIBEIRO et Atlântica (IBGE, 2004), cada um represen-
al., 2009) e os remanescentes ficaram tado por diversas fisionomias vegetais.
restritos a áreas de difícil acesso, que Embora seja naturalmente heterogênea,
apresentam relevo acidentado, ou são essa região é representada principalmente
representados por pequenos fragmen- por fragmentos de FES (KRONKA; NALON;
tos de vegetação nativa (83% são meno- MATSUKUMA, 2005) imersos em planta-
res que 50 hectares e 97% são menores ções de cana-de-açúcar (SIFESP, 2010); se-
que 250 hectares), isolados (METZGER rão eles o alvo desta proposta teórica em
et al., 2009; RIBEIRO et al., 2009; VIANA; desenvolvimento (Figura 3.1).

52 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 3.1 – Paisagem típica do interior do estado de São Paulo (nesta fotografia, um exemplo no município de Ba-
tatais), com florestas ciliares e fragmentos de vegetação nativa imersos em matriz de cana-de-açúcar. Fotografia:
Ana Paula Liboni.

Embora tenham diferenças na estru- gulos e de indivíduos para os fragmen-


tura da vegetação e na composição de tos do entorno e as áreas em processo de
espécies em relação às florestas conser- restauração (RIBEIRO et al., 2009; RODRI-
vadas (CHAZDON et al., 2009), os estu- GUES et al., 2011).
dos indicam que as florestas de regiões Os estudos têm mostrado, ainda, que,
fragmentadas podem apresentar eleva- embora perturbadas, essas florestas apre-
da diversidade florística e grupos fun- sentam elevada dissimilaridade (diversi-
cionais importantes, como espécies de dade beta), ou seja, a composição de espé-
estágios avançados da sucessão, espécies cies de cada floresta é peculiar e abran-
zoocóricas, entre outras (AGUIRRE, 2008; ge espécies raras ou pouco frequentes
FARAH et al., 2014; FARAH et al., 2017; FI- (ARROYO-RODRÍGUEZ et al., 2013; CAR-
GUEIREDO, 2016; LIBONI, 2018; MAGNAGO NEIRO et al., 2016; FARAH et al., 2017; LI-
et al., 2014; MANGUEIRA, 2017; RODRI- BONI, 2018; MANGUEIRA, 2017; SANTOS;
GUES et al. 2011; SABINO, 2012; SANTOS; KINOSHITA; SANTOS, 2007; SOLAR et al.,
KINOSHITA; SANTOS, 2007; SOLAR et al., 2015). Essa característica ressalta o papel
2015). Em paisagens intensamente per- das florestas remanescentes localizadas
turbadas e com cobertura vegetal redu- em propriedades agrícolas na conserva-
zida, essas florestas constituem os únicos ção da biodiversidade em paisagens frag-
habitat florestais e garantem a provisão mentadas, papel complementar ao das
de serviços ecossistêmicos, como a poli- unidades de conservação (FARAH et al.,
nização nas lavouras, o controle de pra- 2017; LIBONI, 2018).
gas, a proteção dos cursos d’água e o ar- Considerando a dinâmica natural das
mazenamento de carbono (CHAZDON et florestas tropicais e o cenário atual, que
al., 2009), além de serem fontes de propá- une degradação e regeneração da vege-

53
tação, fica evidente que a avaliação e o distúrbios podem ser naturais ou an-
diagnóstico de fragmentos florestais são tropogênicos e têm variações de esca-
extremamente importantes na manu- la, intensidade e frequência. Ghazoul et
tenção das comunidades vegetais e na al. (2015) definiram floresta degradada
conservação da biodiversidade em pai- como aquela que perdeu sua resiliência
sagens antrópicas. A legislação brasi- em razão de causas antropogênicas atuais
leira oferece algumas ferramentas que e/ou passadas, de forma que não é pos-
orientam a avaliação da estrutura e da sível recuperar sua estrutura ou os pro-
composição de fragmentos florestais; cessos sucessionais da condição pré-dis-
no entanto, não existe atualmente uma túrbio naturalmente, ou seja, sem que
regra que estabeleça as variáveis mais haja intervenções para a retomada da
adequadas a serem registradas nos diag- trajetória sucessional. Os autores des-
nósticos, seja para fins de caracterização tacam que esse diagnóstico deve se ba-
da vegetação, seja para ações de mane- sear em parâmetros que representem a
jo. Este capítulo traz uma proposta sim- dinâmica florestal, como a avaliação da
plificada para a avaliação e o diagnósti- comunidade de plântulas e indivíduos
co de fragmentos florestais da fisiono- jovens em escalas de tempo compatíveis
mia FES, com o objetivo de incentivar e (GHAZOUL et al., 2015).
nortear, em um primeiro momento, as As principais causas relacionadas à
ações de manejo adaptativo. degradação florestal são a perda de ha-
bitat resultante do desmatamento e do
3.3 F
 atores de degradação e efeitos do processo de fragmentação, a extração se-
processo de fragmentação sobre a letiva de madeira e de produtos não ma-
estrutura e a dinâmica florestal deireiros, a sobrecaça e a incidência de
Apesar de a degradação de florestas tro- fogo (PUTZ; REDFORD, 2010; TABANEZ;
picais ser um tema de relevância mun- VIANA, 2000). Para compreender o ce-
dial, sua definição ainda não é clara, nário de degradação das florestas bra-
pois abrange uma variedade de altera- sileiras, devemos considerar o fato de
ções na estrutura, na composição e nas que mais de um terço da vegetação na-
funções florestais, em diferentes escalas tural do país já foi convertida em áreas
espaciais e temporais (GHAZOUL et al., agrícolas (SPAROVEK et al., 2010). As re-
2015). É preciso notar que a ideia de de- giões com maior potencial econômico
gradação se relaciona a um estado de re- foram as mais intensamente afetadas,
ferência, representado por um conjun- como é o caso da Mata Atlântica. Especi-
to de possíveis situações florestais, que ficamente no estado de São Paulo, o his-
variam com a dinâmica dos distúrbios tórico antigo de desmatamento e ocu-
e com a capacidade natural de autorre- pação resultou em matrizes pouco per-
cuperação (resiliência) de uma floresta. meáveis, como pastos, cultivos agrícolas
Acrescentando complexidade a es- e áreas urbanas (GARDNER et al., 2009;
sas definições, devemos lembrar que os RIBEIRO et al., 2009), em que restaram

54 Manejo de fragmentos florestais degradados


pequenos remanescentes florestais vi- as diversas canelas (pertencentes aos
sivelmente degradados, com muitas ár- gêneros Cryptocarya, Nectandra e Ocotea),
vores mortas em pé, predomínio de tre- e muitas outras. Vale lembrar que espécies
padeiras no dossel e presença de gramí- de madeiras menos nobres também foram
neas exóticas invasoras. extraídas para usos cotidianos, como
Além da redução drástica da cobertura lenha, carvão, construção de cercas etc.,
florestal, os impactos gerados pela extra- causando danos à estrutura das florestas.
ção madeireira no século XX também po- A exploração de produtos florestais
dem ser percebidos até hoje nas florestas não madeireiros também representa,
remanescentes. Dada a exuberância e a em menor ou maior grau, um distúrbio,
vastidão de nossas florestas, a exploração e inclui o uso de recursos alimentícios
madeireira foi feita sem qualquer preo- (mel, polpas, palmito etc.), de extratos
cupação com uma produção sustentável. oleosos ou medicinais, como copaíba
Um exemplo disso é que, nos anos 1970, a (Copaifera langsdorffii Desf.), breu
Mata Atlântica contribuía com aproxima- (Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand)
damente metade de toda a produção de e sassafrás (Ocotea odorifera (Vell.)
madeira em toras do Brasil (GALINDO- Rohwer), e de produtos medicinais,
-LEAL; CÂMARA, 2005; MMA, 2000). As es- como a espinheira-santa (Maytenus
pécies com madeira de alto valor comer- aquifolia Mart.), a carqueja (Baccharis
cial (com boa densidade, tonalidade e re- crispa Spreng.), o guaco (Mikania sp),
sistência) foram exploradas intensamen- entre outros (GALINDO-LEAL; CÂMARA,
te, com possíveis efeitos deletérios sobre a 2005). Cabe ressaltar que a extração
viabilidade das populações remanescen- ilegal de palmito (Euterpe edulis Mart.),
tes, ainda pouco conhecidas quanto aos que resulta na morte das plantas, é um
seus processos reprodutivos, suas intera- fator de degradação expressivo na Mata
ções ecológicas e seus mecanismos de de- Atlântica, especialmente na Floresta
riva genética no longo prazo. Ombrófila Densa (MULER et al., 2014;
Algumas das espécies típicas da ROTHER; PIZO; JORDANO, 2016; ROTHER;
FES exploradas intensamente pelo RODRIGUES; PIZO, 2016); no entanto, essa
valor madeireiro incluem: o cedro- espécie também foi alvo de extrativismo
rosa (Cedrela fissilis Vell.), a cabreúva nas florestas estacionais. A retirada do
(Myroxylum peruiferum L.f.), o pau-marfim palmito é comprovadamente um fator
(Balfourodendronriedelianum(Engl.)Engl.), de degradação que altera a dinâmica da
a peroba-rosa (Aspidosperma polyneuron regeneração natural (ROTHER; PIZO;
Müll. Arg.), os ipês (Handroanthus spp e JORDANO, 2016) e tem consequências
Tabebuia spp), o jequitibá-rosa (Cariniana negativas para a comunidade de
legalis (Mart.) Kuntze), o jequitibá- frugívoros (ROTHER; RODRIGUES; PIZO,
branco (Cariniana estrelenses (Raddi) 2016), dado que essa espécie produz grande
Kuntze), o guarantã (Esenbeckia leiocarpa quantidade de frutos por ano e em uma
Engl.), o jatobá (Hymenaea courbaril L.), época de escassez de recursos (CASTRO;

55
MARTINS; RODRIGUES, 2007; GALETTI; tuada pelo avanço da matriz agrícola e
ALEIXO, 1998), constituindo importante pela fragmentação do habitat, em razão
elemento para a estrutura e a dinâmica da facilitação do acesso às áreas natu-
da vegetação (MULER et al., 2014; ROTHER; rais (MELO et al., 2013b), assim como de
RODRIGUES; PIZO, 2016). outros distúrbios, já citados.
A conversão de florestas em áreas agrí- Tomando o estado de São Paulo como
colas corresponde a 80% do desmatamen- exemplo, nos últimos 40 anos, houve a in-
to no planeta (KISSINGER; HEROLD; DE tensificação da expansão sucroalcoolei-
SY, 2012) e é a principal causa da perda de ra. O estado é hoje o maior produtor na-
biodiversidade e da degradação dos ecos- cional de cana-de-açúcar, com mais de
sistemas (TSCHARNTKE et al., 2005; TUR- 5,7 milhões de hectares destinados a esse
NER et al., 2007). Cerca de 50% dos ver- cultivo agrícola (CANASAT, 2014). Ape-
tebrados terrestres são ameaçados pe- sar desse longo histórico de produção, os
los impactos da intensificação agrícola impactos ambientais gerados pelo culti-
(BECA et al., 2017; CEBALLOS et al., 2015), vo da cana são ainda pouco conhecidos
que afetam principalmente a movimen- (FILOSO et al., 2015). Embora poucos es-
tação das espécies e, consequentemente, tudos tenham avaliado os efeitos do fogo
os fluxos biológicos nas paisagens agrí- nas comunidades vegetais (MELO; DURI-
colas (LEES; PERES, 2009). A defaunação GAN, 2010), é possível prever que a práti-
das florestas tropicais pode acarretar al- ca da queima da cana antes da colheita
terações significativas em sua estrutura terá efeitos negativos sobre a biodiver-
e dinâmica, como evidenciado por Bello sidade regional (Figura 3.2). Há indícios
et al. (2015), que apontam efeitos negati- da redução da quantidade e da qualida-
vos sobre o estoque de carbono. Segun- de da vegetação remanescente (i.e., esto-
do esses autores, a redução das popula- ques de biomassa) e da fauna associada,
ções de grandes herbívoros dispersores o que empobrece as comunidades natu-
de sementes compromete a dispersão e rais e, possivelmente, facilita as invasões
a regeneração de espécies de sementes biológicas por espécies exóticas (MELO;
grandes, que dependem desses animais DURIGAN, 2010). A regulamentação da
para manter suas populações, e de espé- utilização de fogo nas colheitas de cana-
cies de crescimento lento, que fixam mais -de-açúcar ocorreu apenas em 2002, com
carbono em sua biomassa. A sobrecaça a Lei no 11.241, de 19 de setembro de 2002
também representa uma séria ameaça à (SÃO PAULO, 2002), que dispõe sobre a
biodiversidade, sobretudo aos vertebra- eliminação gradativa da queima da pa-
dos de médio a grande porte, e é acen- lha da cana-de-açúcar até 2021.

56 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 3.2 –
Evidência da
ocorrência de fogo
em fragmento
florestal.
Fotografia: Ana
Paula Liboni.

Na ocorrência desses fatores de per- composição da comunidade de plantas


turbação, algumas espécies encontram nativas, suprimindo a regeneração des-
as condições ideais para se propagar ra- sas espécies (DURIGAN et al., 2013).
pidamente, podendo desequilibrar ainda Embora essas espécies-problema apre-
mais os ecossistemas já fragilizados em sentem tipicamente atributos de espé-
seu potencial de resiliência. Neste item, cies pioneiras (produção abundante de
adotamos o termo espécies-problema para sementes, crescimento rápido, períodos
denominar as espécies que formam po- juvenis curtos), alguns autores indicam
pulações fora do seu sistema natural ou espécies com diferentes atributos, não
fora do seu tamanho desejável (i.e., apre- dependentes de distúrbios e não restri-
sentam elevada densidade) (MOREIRA; tas às fases iniciais da sucessão flores-
PIOVEZAN, 2005). Dentro desse concei- tal (CATFORD et al., 2012; DECHOUM et
to mais amplo, distinguem-se as espé- al., 2014; DURIGAN et al., 2013; MARTIN;
cies invasoras e as espécies exóticas rude- CANHAM; MARKS, 2009). As espécies ru-
rais, que podem alterar a estrutura ou a derais ocorrem principalmente em áreas

57
degradadas por fatores antrópicos, por temos, entre outros, o bambu lenhoso ta-
isso, raramente são encontradas em ecos- quaruçu Guadua tagoara (Nees) Kunth
sistemas naturais conservados. Já as espé- (MATOS; PIVELLO, 2009), as samambaias
cies invasoras são capazes de ocupar am- do gênero Pteridium (SCHWARTSBURD;
bientes mais sombreados (MAJOR et al., MORAES; LOPES-MATTOS, 2014), as tre-
2013) e, portanto, podem ocorrer no in- padeiras lenhosas dos gêneros Mikania,
terior de florestas, até mesmo em áreas Piptocarpha, Heteropterys, Serjania e Paul-
mais conservadas (DURIGAN et al., 2013). linia (PIVELLO et al., 2018). Em suma, o
Essa classificação das espécies exóticas pouco conhecimento sobre a dinâmi-
em ruderais e invasoras é fundamental ca dessas espécies invasoras e/ou do-
para direcionar as ações de manejo, pois minantes, a falta de métodos eficientes
o nível de prioridade e as intervenções de controle e as poucas ações concretas
são diferentes para esses dois grupos para combatê-las as tornam uma amea-
de espécies (DURIGAN et al., 2013). Den- ça real à biodiversidade nativa, compro-
tre as espécies vegetais com comporta- metendo permanentemente esses ecos-
mento invasor (i.e., aquelas que prolife- sistemas florestais já degradados (MA-
ram formando maciços e prejudicando TOS; PIVELLO, 2009; PIVELLO et al., 2018).
a regeneração de espécies nativas, tanto Apesar dessas limitações, ações experi-
em áreas conservadas quanto degrada- mentais de manejo devem ser aplicadas,
das), podemos citar as gramíneas africa- já que são a única forma de gerar dados
nas, tais como as braquiárias (Urochloa e fomentar avanços no conhecimento
spp), o capim-colonião (Megathyrsus sobre a maneira de amenizar e reverter
maximus (Jacq.) B.K.Simon & S.W.L. Ja- os processos degradadores em curso nas
cobs) e o capim-gordura (Melinis minu- florestas remanescentes.
tiflora P.Beauv.), a palmeira australia- O conjunto dos fatores de degrada-
na Archontophoenix cunninghamiana ção citados atua de forma sinérgica e
(H.Wendl.) H.Wendl. & Drude (MATOS; pode alterar a estrutura e a dinâmica
PIVELLO, 2009), entre outras. das comunidades, reduzir a diversida-
Algumas espécies nativas também de e prejudicar as funções dos ecossiste-
podem se tornar dominantes (espécies mas (HADDAD et al., 2015). A fragmenta-
nativas hiperabundantes) (PIVELLO et ção de habitat afeta diretamente a estru-
al., 2018), formando maciços ou domi- tura e as condições ambientais na inter-
nando a comunidade a ponto de inibir face entre os ecossistemas naturais e an-
a regeneração de outras espécies nati- trópicos, em decorrência de uma transi-
vas, especialmente em áreas degradadas ção abrupta que define os efeitos de bor-
(DURIGAN et al., 2013). Como exemplos, da (MURCIA, 1995) (Figura 3.3).

58 Manejo de fragmentos florestais degradados


A B C
Figura 3.3 – Bordas de fragmentos florestais que fazem interface com plantios de cana-de-açúcar no interior do
estado de São Paulo, ressaltando a presença de gramíneas exóticas (A) e a dominância de trepadeiras heliófitas (B
e C). Fotografia: Ana Paula Liboni.

Em um primeiro momento, as alte- SAR; ROTHER; BRANCALION, 2017), co-


rações das condições abióticas incluem mumente encontradas em remanescen-
mudanças nos regimes de luz, tempe- tes florestais degradados.
ratura e umidade, resultantes da pro- No longo prazo, os efeitos indiretos
ximidade com áreas muito abertas (por de borda afetam a frequência dos dis-
exemplo, áreas agrícolas), onde a eleva- túrbios, alteram as taxas de natalidade
da incidência solar aumenta a amplitu- e mortalidade e aumentam as taxas de
de de variação de temperatura e de umi- extinção (LAURANCE et al., 2002). Con-
dade do ar e do solo (MURCIA, 1995). Em siderando que as espécies possuem atri-
consequência direta das mudanças fí- butos variados e apresentam respostas
sicas do ambiente, a estrutura da vege- diferentes às mudanças ambientais, al-
tação nessas regiões também se modifi- guns autores as categorizam como “ven-
ca; algumas espécies mais sensíveis, que cedoras” ou “perdedoras” (MCKINNEY;
ocorrem preferencialmente em ambien- LOCKWOOD, 1999; TABARELLI; PERES;
tes sombreados, podem se extinguir lo- MELO, 2012). As espécies vencedoras são
calmente. Os indivíduos recém-estabe- aquelas com grande habilidade de sobre-
lecidos, as plântulas, são particularmen- vivência e colonização (produção rápida
te suscetíveis às alterações de microcli- e abundante de propágulos, tolerância à
ma. Sua mortalidade aumenta nas zo- luz, ampla dispersão etc.), já as espécies
nas de borda (MURCIA, 1995), já as árvo- perdedoras são limitadas nesses quesitos
res podem morrer por desenraizamento (propágulos maiores e menos abundan-
e quebras ocasionadas pela ação do ven- tes, dispersão limitada ou dependente de
to (LAURANCE et al., 2000; LAURANCE et animais de médio e grande porte, tole-
al., 2001; TABARELLI; DA SILVA; GASCON, rância a ambientes sombreados etc.), o
2004). Por outro lado, espécies tolerantes que as torna mais vulneráveis aos efei-
às novas condições de luz e temperatu- tos da fragmentação. As diferenças no
ra crescem vigorosamente, como é o caso desempenho fisiológico e ecológico das
de espécies de trepadeiras ruderais (CÉ- espécies diante das alterações nas pai-

59
sagens resultam em mudanças graduais 3.4 A
 avaliação do estado
na composição das comunidades ao lon- de conservação de
go do tempo, caracterizando um proces- fragmentos florestais
so de homogeneização biótica (LÔBO et
al., 2011; MCKINNEY; LOCKWOOD, 1999; 3.4.1 Aspectos a serem considerados
OLDEN; ROONEY, 2006; TABARELLI; PE- no diagnóstico florestal
RES; MELO, 2012). Esse processo consis- Paisagens com elevado grau de fragmen-
te em uma convergência biótica, oca- tação requerem a conservação da biota
sionada pela simplificação ou pelo em- tanto na escala local, considerando cada
pobrecimento da diversidade genética, mancha de floresta, quanto na escala da
taxonômica e funcional das comunida- paisagem. Na escala da paisagem, desta-
des afetadas, em que espécies toleran- ca-se a importância de considerar o con-
tes às perturbações proliferam e as mais junto de fragmentos florestais em uma
sensíveis vão sendo extintas localmente região, mesmo que esses fragmentos se-
(MCKINNEY; LOCKWOOD, 1999; OLDEN; jam pequenos, e não apenas um ou ou-
ROONEY, 2006). tro fragmento individualmente. Além
Nessas condições de fragmentação de conter as espécies regionais remanes-
acentuada e isolamento das comunida- centes (TURNER; CORLETT, 1996), os frag-
des, ações de restauração ecológica na es- mentos pequenos também são importan-
cala local e na escala da paisagem são fun- tes por aumentar a conectividade da pai-
damentais para viabilizar a manutenção sagem (PARDINI et al., 2005). Eles podem
desses ecossistemas e dos seus serviços funcionar como corredores ou trampo-
associados (CALMON et al., 2011; MELO et lins ecológicos, capazes de interligar um
al., 2013a; PINTO et al., 2014; VIDAL et al., fragmento a outro por meio do fluxo bio-
2016). Portanto, a avaliação dos remanes- lógico (PARDINI et al., 2005). No entanto,
centes florestais inseridos em paisagens esse fluxo depende da estrutura da pai-
antrópicas se torna essencial nesse con- sagem, ou seja, da composição e disposi-
texto, pois, embora possam parecer con- ção espacial de seus elementos (detalhes
servados em imagens de satélite, muitos no Capítulo 2). Em paisagens altamente
estão biologicamente degradados (TA- fragmentadas e onde a cobertura flores-
BARELLI; LOPES; PERES, 2008; VALIEN- tal se restringe a menos de 10% da área
TE-BANUET et al., 2015). Um diagnóstico original, como é o caso de regiões no inte-
da qualidade é imprescindível para a de- rior do estado de São Paulo, os fragmen-
finição das ações a serem tomadas a fim tos encontram-se geralmente isolados,
de vencer os filtros ecológicos que impe- distantes entre si e das unidades de con-
dem a sucessão florestal e restabelecer a servação (RIBEIRO et al., 2009). Esse cená-
trajetória sucessional das florestas per- rio reforça a importância da restauração
turbadas (FARAH et al., 2014). ecológica na escala da paisagem, visan-

60 Manejo de fragmentos florestais degradados


do aumentar a cobertura florestal e a co- minar o estado de conservação da área.
nectividade entre os fragmentos flores- Para isso, a Resolução Conama no 1, de 31
tais (RODRIGUES et al., 2011; ROTHER et de janeiro de 1994 (CONAMA, 1994), para
al., 2018; TAMBOSI et al., 2014). o estado de São Paulo, define vegetação
Se, por um lado, na escala da paisagem, primária e secundária nos estágios pio-
o objetivo principal é diminuir o grau de neiro, inicial, médio e avançado de rege-
isolamento entre os habitat e restabele- neração da Mata Atlântica. Essa resolu-
cer fluxos biológicos por meio da manu- ção pode nos auxiliar na recomendação
tenção e restauração de florestas, na es- das estratégias de restauração florestal
cala local, métodos específicos estão ba- mais adequadas para cada situação am-
seados na resiliência ecológica das flo- biental observada nos fragmentos, uma
restas e têm como objetivo recuperar a vez que traz indicadores específicos da
estrutura como primeira etapa, para, em estrutura e da composição de remanes-
seguida, restabelecer as funções ecossis- centes da Mata Atlântica.
têmicas e os processos ecológicos típicos Em geral, florestas em trajetória de de-
de florestas tropicais de alta diversidade gradação apresentam fisionomia com in-
(VIDAL et al., 2016) (ver o Capítulo 5). No dícios de perturbação, como, por exem-
entanto, o diagnóstico do estado de con- plo: (a) redução drástica na altura máxi-
servação e da resiliência florestal não é ma do dossel, por quebra de copas ou au-
uma tarefa trivial: as florestas são sis- sência de espécies emergentes de maior
temas dinâmicos em múltiplas escalas porte; (b) dossel florestal descontínuo,
espaciais e temporais e o diagnóstico se resultando em maior chegada de luz ao
refere a uma “fotografia” da área ou de solo; (c) predominância de indivíduos de
um conjunto de áreas em um determina- espécies pioneiras; (d) área basal reduzi-
do tempo/espaço. Dessa forma, somente da de árvores, arbustos e palmeiras (no-
com acompanhamento da vegetação ao tadamente não pioneiras); (e) diminui-
longo do tempo podemos chegar à con- ção no número de estratos (dossel, sub-
clusão de que o ecossistema se encontra -dossel e sub-bosque); (f ) diminuição na
em rota de degradação ou regeneração. diversidade de formas de vida como ar-
Em razão das exigências legais quanto voretas, arbustos e ervas de sub-bosque,
à preservação da vegetação nativa e dos trepadeiras não pioneiras e epífitas; (g)
desdobramentos do processo de licencia- domínio de trepadeiras heliófitas hipe-
mento ambiental, desenvolveram-se al- rabundantes, representadas por espé-
gumas ferramentas para auxiliar a avalia- cies pioneiras com alto vigor competi-
ção do estado de conservação de florestas. tivo sobre a regeneração arbórea e que
Segundo a legislação ambiental vigente, ocupam maciçamente as copas das ár-
os fragmentos florestais do domínio da vores, formando uma manta sobre elas;
Mata Atlântica podem ser caracteriza- (h) presença de espécies exóticas rude-
dos quanto ao seu estágio sucessional – rais ou invasoras, que podem proliferar
uma informação importante para deter- nas bordas, bem como no interior dos

61
fragmentos. Ao contrário, uma floresta tivo (VIDAL et al., 2016) e, portanto, não
perturbada está se recuperando quando podem ser descartadas do diagnóstico do
houver uma tendência geral de apresen- estado de conservação e resiliência das
tar as características opostas às apresen- florestas remanescentes.
tadas anteriormente.
Cabe, ainda, ressaltar que o diagnós- 3.4.2 Avaliação Ecológica Rápida
tico da estrutura das comunidades ve- adaptada para a vegetação da
getais pode ser obtido pela caracteriza- Floresta Estacional Semidecidual
ção fitossociológica, que, além de infor- O processo de degradação das florestas
mações qualitativas, como a composição só pode ser constatado por métodos que
florística da comunidade, utiliza parâ- empreguem monitoramento da área em
metros numéricos que expressam a es- campo, em escalas espacial e temporal
trutura horizontal da floresta (i.e., orde- apropriadas. Em virtude da dinâmica da
nam as espécies segundo sua importân- vegetação, é difícil dizer se uma área se-
cia na estruturação da comunidade com gue uma trajetória de avanço sucessio-
base em dados de frequência, densidade nal ou de degradação se não houver um
e dominância) (detalhes no Capítulo 4). estudo ao longo de certo tempo.
A trajetória negativa de um ecossis- Em muitos casos, o acompanhamento
tema com estrutura e funções alteradas temporal da vegetação baseado em par-
pode ser revertida ativamente com ações celas permanentes tem se mostrado efi-
de manejo (ver o Capítulo 5). Ações poten- ciente e promissor no estudo da dinâmi-
ciais de manejo na escala local incluem ca de vegetações (FARAH et al., 2014; OLI-
a eliminação de fatores de perturbação VEIRA-FILHO; MELLO; SCOLFORO, 1997).
(i.e., entrada de gado, ocorrência de incên- A observação da dinâmica durante um
dios, controle de espécies exóticas inva- período em que a trajetória se mantenha
soras e de populações hiperabundantes consistente – por exemplo, grande per-
etc.), a melhoria das condições ambien- da de biomassa durante todo o período
tais locais (i.e., umidade e luminosida- – pode fornecer dados importantes para
de incidente no interior do fragmento), a definição de estratégias de interven-
além da reintrodução de espécies vege- ção, prevenindo o colapso do ecossiste-
tais nativas regionais ou pertencentes ma. O raciocínio é que, mantida a traje-
a grupos funcionais defasados ou mais tória de degradação observada, não há ra-
suscetíveis à extinção (LEÃO et al., 2014; zão para supor que o ecossistema muda-
RODRIGUES et al., 2011). Dessa forma, as rá essa trajetória no curto prazo. Nessa
informações básicas sobre a biologia das situação, pode-se admitir que o colapso
espécies e seu comportamento ecológico estrutural e funcional é altamente pro-
(distribuição espacial, habitat de ocor- vável, o que comprometerá a autossus-
rência, tolerância à sombra, síndrome de tentação do ecossistema e o provimen-
dispersão etc.) são essenciais para orien- to de serviços ambientais. Nesse senti-
tar as recomendações de manejo adapta- do, por uma questão de precaução, pode-

62 Manejo de fragmentos florestais degradados


mos adotar medidas de manejo adapta- ção (SAYRE et al., 2000). A AER deve ser de
tivo, visando à correção de rumo da su- fácil utilização, reproduzível e deve redu-
cessão florestal pela implementação de zir os custos e o tempo gastos na avaliação
ações de restauração ecológica. do estado de conservação de áreas natu-
Sabendo que o monitoramento detalha- rais (MEDEIROS; TOREZAN, 2013; SAYRE
do de ecossistemas no espaço e no tempo et al., 2000). Essa metodologia não pre-
(parcelas permanentes, estudos fitossocio- tende substituir estudos de longo prazo
lógicos etc.) é inviável para determinados e inventários científicos, e não se desti-
objetivos, dos pontos de vista econômi- na a isso, mas pode ser utilizada para es-
co e prático, vários métodos de avaliação tender a aplicação geográfica desses estu-
surgiram com o intuito de fazer um diag- dos e inventários, principalmente quan-
nóstico rápido e representativo da biodi- do o orçamento e o tempo para a realiza-
versidade em situações variadas. Dentre ção do trabalho forem fatores limitantes.
eles, podemos citar alguns: Gap Analysis Uma avaliação pontual da estrutura e
(US Fish and Wildlife Service – SCOTT et do potencial de resiliência de uma flores-
al., 1993), Rapid Ecological Assessment (The ta, com parâmetros bem definidos, pode
Nature Conservancy – SAYRE et al., 2000) e ser eficaz para detectar os principais fa-
Rapid Assessment Program (Conservation tores de degradação e o estado de con-
International – PARKER et al., 1993). Cada servação dos remanescentes florestais,
um desses métodos tem suas particulari- permitindo a elaboração de propostas
dades, porém, o principal objetivo em co- de manejo específicas para as diferentes
mum é obter o diagnóstico do estado eco- situações encontradas. No entanto, tra-
lógico dos ecossistemas de forma rápida duzir teorias ecológicas em indicadores
e pouco dispendiosa, utilizando um con- passíveis de serem observados em cam-
junto de indicadores observáveis em cam- po e que sejam eficazes na representação
po (ALLEN, 2009; MEDEIROS; TOREZAN, do estado de conservação de uma flores-
2013; SAYRE et al., 2000; STEIN et al., 2009). ta é um desafio. Para uma avaliação fide-
O método apresentado aqui é uma ver- digna, o ideal é buscar informações com-
são adaptada da Avaliação Ecológica Rápi- plementares, que revelem o histórico e
da (AER) (ou Rapid Ecological Assessment), a dinâmica do ecossistema em questão.
originalmente proposta por The Nature No caso de fragmentos florestais inseri-
Conservancy (TNC) (SAYRE et al., 2000), dos em propriedades agrícolas particu-
com foco na análise e no diagnóstico da lares, por vezes, os proprietários podem
vegetação. A AER é uma metodologia de- conhecer o processo de ocupação da re-
senvolvida para levantamentos flexíveis, gião e o histórico de degradação dos frag-
acelerados e direcionados a espécies e ti- mentos florestais e auxiliar na avaliação
pos vegetacionais, que pode ser produzi- da trajetória de degradação/regeneração
da e analisada em diferentes escalas espa- das florestas com base nas característi-
ciais, dependendo das metas de conserva- cas já destacadas no item 3.4.1.

63
3.4.3 O método proposto ria em campo, pela identificação das di-
A escolha dos parâmetros para a avalia- ferentes situações ecológicas pelo avalia-
ção e o diagnóstico de fragmentos flo- dor (i.e., áreas ribeirinhas, trechos de flo-
restais considerou aqueles que repre- resta secundária, trechos de floresta ma-
sentam o estágio sucessional e o estado dura etc.). Análises prévias de imagens
de conservação para a fisionomia FES do de satélite também podem auxiliar na
interior paulista, permitindo uma ava- localização dos pontos de amostragem.
liação qualitativa e quantitativa (cate- Recomenda-se que sejam estabele-
górica). Utilizamos como referência os cidos segmentos na borda e no interior
estágios de sucessão da Mata Atlântica do fragmento, pois esses dois ambientes
definidos pelas resoluções do Conama (borda e interior) podem requerer uma
no 10/93 e 1/94 (CONAMA, 1993, 1994). Va- tomada de decisão distinta quanto ao ma-
lendo-nos dessas resoluções, acrescen- nejo. Sugerimos que a AER seja realiza-
tamos detalhamentos pertinentes à fi- da em segmentos de 100 m2 (50 m x 2 m
sionomia alvo desta proposta, com base ou 25 m x 4 m), em mesmo número nos
na literatura disponível e na experiên- ambientes de borda e interior (quando
cia de campo dos autores. possível, sugerimos cinco segmentos por
Cabe ressaltar que um fragmento flo- ambiente). A avaliação é feita durante a
restal é normalmente heterogêneo – re- caminhada por toda a extensão de cada
presentado por um mosaico de situações segmento, para registro dos parâmetros
– com estrutura e composição de espécies de avaliação.
variáveis no espaço. Por esse motivo, su- No interior: recomenda-se que os seg-
gerimos que a AER seja feita por meio do mentos sejam estabelecidos sistematica-
registro de parâmetros em diversos seg- mente, no sentido norte-sul, mantendo
mentos florestais. A definição da locali- uma distância mínima de 20 m entre si.
zação desses segmentos não necessita ser Também recomendamos que haja a ex-
sistemática: os locais de amostragem po- clusão de, no mínimo, 10 m a partir da
dem ser estabelecidos de forma aleató- borda imediata do fragmento para o es-

64 Manejo de fragmentos florestais degradados


tabelecimento dos segmentos do interior. ou seja, situações mais críticas e que de-
Sabemos que o efeito de borda é comple- mandam mais atenção quanto à neces-
xo (MURCIA, 1995) e pode ser observado sidade de manejo (Tabela 3.1).
em maiores distâncias a partir da borda Após o registro dos parâmetros na
do fragmento (100 m) (LAURANCE et al., AER, faremos uma somatória da pon-
2002). Entretanto, considerando a situa- tuação obtida para os parâmetros, por
ção da maioria dos fragmentos florestais segmento. Assim, é possível uma análi-
remanescentes no interior do estado de se por parâmetro analisado em cada am-
São Paulo, já mencionada anteriormen- biente (borda e interior) e para o frag-
te neste capítulo, seria inviável eliminar mento como um todo. Ressaltamos que
maiores distâncias para estabelecer os o objetivo da AER proposta neste item é
segmentos de interior. obter um diagnóstico preliminar quan-
Na borda: recomenda-se que os seg- to à necessidade de adotar ações de ma-
mentos de 100 m2 sejam estabelecidos pa- nejo em fragmentos florestais da FES (o
ralelamente à borda imediata do frag- detalhamento das possíveis ações de ma-
mento florestal ou a uma distância de até nejo está no Capítulo 5). Portanto, o in-
10 m a partir dela, caminhando de forma tuito é responder às seguintes questões:
a circundar o fragmento em análise. Re- (1) Quais descritores biológicos e estru-
comendamos manter uma distância mí- turais do fragmento florestal precisam/
nima de 20 m entre os segmentos, sem- podem ser manejados para aumentar
pre que possível. a resiliência local e manter a trajetória
Na nossa proposta de AER, seleciona- sucessional da floresta em questão?; (2)
mos quatro parâmetros de avaliação (des- Qual a prioridade de manejo do fragmen-
critores biológicos ou estruturais), cada to florestal em análise?
um dividido em três categorias, com pon- Quanto ao manejo, esta proposta su-
tuação variando de um a três. A maior gere duas análises das pontuações obti-
pontuação (três pontos) se refere às si- das na AER, anteriores à tomada de de-
tuações que indicam maior degradação, cisão (Figura 3.4).

65
Ambientes Segmentos Fragmentos

P1
P2 1º diagnóstico
S1 P3 Média por
P4
parâmetro
P1
P2
por ambiente
S2 P3
P4 Parâmetros
P1 passíveis de
Borda S3
P2
P3
manejo
P4 Média ≥ 2,5
P1
P2
S4 P3
P1 Número de estratos
P4
P2 Continuidade do dossel
P1
P3 Fatores locais de degradação
P2
S5 P3
P4 Presença de espécies-problema

P4

P1
P2
S1 P3
P4 2º diagnóstico
P1 Média geral
P2
S2 P3
da pontuação
P4 dos segmentos
P1
P2
Interior S3 P3
P4
Necessidade
P1
de manejo
P2 Média geral
S4 P3 de segmentos
P4

P1
P2
S5 P3
P4

Baixa Média geral Alta

4 5 6 7 8 9 10 11 12

Figura 3.4 – Esquema ilustrativo dos dois diagnósticos para avaliação do estado de conservação de fragmentos
florestais da Floresta Estacional Semidecidual, visando subsidiar a tomada de decisões quanto à necessidade e
prioridade de manejo. Fonte: Elaboração própria.

66 Manejo de fragmentos florestais degradados


A primeira se refere à análise por pa- mentos avaliados (média geral dos frag-
râmetro em cada ambiente (borda e inte- mentos) (2o diagnóstico). A menor nota
rior) e seu objetivo é detectar quais são os possível para cada segmento será de qua-
parâmetros passíveis de manejo na bor- tro pontos (quando todos os parâmetros
da e no interior do fragmento em ques- tiverem a pontuação mínima, um). A
tão (1o diagnóstico). A menor média pos- maior nota possível para cada segmen-
sível para cada parâmetro é um, quan- to será de 12 pontos (quando todos os pa-
do todos os segmentos receberem a pon- râmetros tiverem a pontuação máxima,
tuação mínima (um ponto) para o parâ- três). A nota intermediária será de oito
metro em análise, indicando uma situa- pontos (quando todos os parâmetros ti-
ção de menor degradação. A maior mé- verem a pontuação dois). Quanto maior
dia possível é três, quando todos os seg- a média geral para o fragmento (mais
mentos receberem a pontuação máxima próxima de 12), maior a necessidade de
(três pontos), indicando um nível maior adotar ações de manejo. A segunda ava-
de degradação. Definimos que os parâ- liação, portanto, fornece um gradiente
metros passíveis de manejo são aqueles de necessidade de manejo que, simples-
que apresentarem média ≥ 2,5, por apon- mente, considera mais urgente a inter-
tarem situações intermediárias ou gra- venção nos fragmentos florestais que
ves de degradação, de acordo com a pon- apresentem maiores pontuações para os
tuação desenvolvida para esse método. parâmetros analisados, ou seja, que pro-
A segunda análise se refere à média vavelmente apresentam maior nível de
da pontuação obtida para o total de seg- degradação (Figura 3.4).

67
Tabela 3.1 – Descritores biológicos e estruturais (parâmetros) a serem avaliados na Ava-
liação Ecológica Rápida (AER) de fragmentos florestais da fisionomia Floresta Estacio-
nal Semidecidual (FES), visando à tomada de decisão quanto à necessidade e priorida-
de de manejo adaptativo.
PARÂMETRO CATEGORIAS E EXEMPLOS PONTUAÇÃO

1. Número de estratos: a FES é 1 estrato: dossel composto por espécies


estruturalmente caracterizada pela arbóreas, sem a presença de um
presença de árvores emergentes (árvores estrato inferior; somente um estrato 3 pontos
de 20 m a 30 m), além dos estratos composto, predominantemente,
dossel (árvores de 15 m a 20 m) e sub- por espécies pioneiras.
dossel (árvores até 15 m). O sub-bosque
é composto por arvoretas de até 5 m de 2 ou 3 estratos: dossel com árvores e
altura, arbustos e ervas (componente palmeiras, e sub-bosque composto
residente), além de indivíduos jovens de 2 pontos
por espécies tolerantes à sombra;
espécies arbóreas (componente transiente dossel, sub-dossel e sub-bosque.
do sub-bosque). A presença de epífitas
e hemiepífitas é pouco expressiva na
FES, por isso, não será considerada neste
parâmetro. Para definir o número de 4 estratos: presença de espécies
estratos florestais, consideramos somente emergentes além daquelas que compõem 1 ponto
os indivíduos arbustivos e arbóreos o dossel, o sub-dossel e o sub-bosque.
(os estratos herbáceo e epifítico foram
desconsiderados neste parâmetro).

2. Continuidade do dossel arbóreo: o Descontínuo (< 50% de cobertura):


predomínio de dossel descontínuo indica quando as copas das árvores se tocam
3 pontos
que a estrutura florestal está degradada, em até 50% do total da área do segmento
possivelmente em decorrência da perda avaliado, formando um teto descontínuo.
de espécies de grupos sucessionais mais
avançados da sucessão florestal. A Intermediário (50% < cobertura <
reintrodução de espécies deve considerar 75%): quando as copas das árvores
aquelas de crescimento rápido e boa se tocam em alguns pontos e não em
cobertura, e também as espécies de 2 pontos
outros ao longo do segmento avaliado,
crescimento mais lento e com ciclo de formando um teto com cobertura entre
vida longo, buscando a manutenção 50% e 75% da área do segmento.
da estrutura florestal por um prazo de
tempo maior. Com base na projeção
linear das copas das árvores do dossel
sobre uma trena, é possível verificar a
continuidade do dossel, expressa em
porcentagem de cobertura. Quanto Contínuo (> 75% de cobertura):
maior a porcentagem de cobertura do quando as copas das árvores se tocam,
1 ponto
dossel, menor é a nota recebida pelo formando um teto contínuo em pelo
segmento. *Alertamos que essa medida menos 75% do segmento amostrado.
deve ser registrada preferencialmente
fora do período seco, quando parte das
árvores do dossel perde as folhas.

68 Manejo de fragmentos florestais degradados


PARÂMETRO CATEGORIAS E EXEMPLOS PONTUAÇÃO

3. Fatores locais de degradação: Presença de dois ou mais


3 pontos
além dos distúrbios provocados pelo fatores de degradação.
processo de redução e fragmentação do
habitat, muitos fatores de degradação Presença de um fator de degradação. 2 pontos
em escala local são recorrentes nos
fragmentos florestais inseridos em matriz
agrícola e no entorno de áreas urbanas.
Destacamos indícios de fogo, deriva de
agrotóxico, presença de gado, extração Ausência de fatores locais de degradação. 1 ponto
de madeira e produtos não madeireiros
(extrativismo ilegal), poluição (lixo ou
descarte de resíduos), caça e erosão.

Árvores, arbustos ou palmeiras exóticas


invasoras: presença de um ou mais
indivíduos estabelecidos (> 15 cm CAP) ou
regenerantes no segmento (ex.: vampi-do-
vietnã, mangueira, amoreira, goiabeira, 3 pontos
jambolão, uva-do-japão, Citrus etc.).
Ervas exóticas invasoras: ocorrem em >
25% de cobertura do segmento (ex.: lírio-
do-brejo, gramíneas africanas etc.).

4. Presença de espécies-problema: Árvores, arbustos ou palmeiras


espécies nativas hiperabundantes e/ exóticas ruderais: presença de um ou
ou exóticas (invasoras ou ruderais) que mais indivíduos estabelecidos (> 15
modificam a dinâmica dos ecossistemas cm CAP) ou regenerantes no segmento
afetados por promover alterações (ex.: ipê-de-jardim, leucena etc.).
significativas na estrutura ou composição Ervas exóticas ruderais ou bambus,
da comunidade de plantas nativas. samambaias e ervas nativas
hiperabundantes: ocorrem em > 2 pontos
50% de cobertura do segmento (ex.:
samambaias Pteridium sp, taboa,
bambu lenhoso taquaruçu etc.).
Trepadeiras nativas hiperabundantes:
presença em > 50% dos
indivíduos arbóreos do segmento,
ocupando > 50% da copa.

Ausência de espécies-problema. 1 ponto

Fonte: Elaboração própria.

3.4.4 Exemplos de aplicação da lecionados, com a finalidade de ilustrar


Avaliação Ecológica Rápida na o método proposto neste item para ava-
tomada de decisão quanto ao liação e diagnóstico de fragmentos flo-
manejo de fragmentos florestais restais de FES.
Apresentamos dois exemplos hipotéticos Exemplo 1 (Tabela 3.2): Este exemplo
(Tabelas 3.2 e 3.3) de aplicação da AER, com corresponde a um fragmento florestal
os descritores biológicos e estruturais se- cuja borda apresentou três parâmetros

69
passíveis de manejo (média ≥ 2,5) no pri- mentar ações de erradicação, contenção
meiro diagnóstico, são eles: número de ou controle de espécies exóticas invaso-
estratos, continuidade do dossel e pre- ras (OLIVEIRA; PEREIRA, 2010).
sença de espécies-problema. Ao contrá- Exemplo 2 (Tabela 3.3): Este exemplo
rio, o interior não apresentou nenhum corresponde a um fragmento florestal
parâmetro passível de manejo, de acor- que apresenta a borda e o interior com
do com os valores estipulados pelo mé- nível mais alto de degradação. De acordo
todo. Esse é um cenário comumente en- com o primeiro diagnóstico, nos dois am-
contrado nos fragmentos florestais de bientes (borda e interior), os parâmetros
paisagens agrícolas no interior do estado continuidade do dossel e presença de es-
de São Paulo, com as bordas mais degra- pécies-problema apresentaram média ≥
dadas, dominadas por espécies invasoras 2,5, sendo passíveis de manejo. No entan-
ou nativas hiperabundantes, e o interior to, outros parâmetros apresentaram mé-
em melhor estado de conservação. O se- dia elevada, muito próxima de 2,5, como
gundo diagnóstico mostrou uma média número de estratos e fatores de degra-
geral para o fragmento de 8,1, indicando dação. Fragmentos florestais com dos-
necessidade intermediária de manejo. sel descontínuo permitem a prolifera-
Destacamos que algumas situações ção de espécies heliófitas, nativas ou exó-
de degradação merecem mais atenção, ticas, que podem dominar a comunida-
como é o caso da presença de espécies de vegetal, diminuindo a resiliência lo-
invasoras no parâmetro “espécies-pro- cal do fragmento. Nesse caso, as espécies
blema” (pontuação 3). Nesse caso, mes- invasoras foram registradas em três seg-
mo que a média geral para o fragmento mentos da borda e do interior, o que, por
tenha sido 8,1, recomendamos o mane- si só, requer ações para seu controle ou
jo das espécies invasoras, com base no erradicação, conforme mencionado no
“princípio da precaução”, conforme es- Exemplo 1. A ocorrência de fatores locais
tabeleceu a Convenção sobre a Diversi- de degradação, como observado dos seg-
dade Biológica, regulamentada no Bra- mentos do interior, pode agravar ainda
sil pelo Decreto no 2.519, de 16 de março mais esse quadro, aumentando a neces-
de 1998 (BRASIL, 1998a). De acordo com sidade de manejo adaptativo para a reto-
esse princípio, as decisões de manejo de- mada e manutenção da resiliência local.
vem ser tomadas antes mesmo da certe- O segundo diagnóstico apresentou mé-
za científica absoluta de que tal situação dia geral de 9,7 para o fragmento, indi-
configura ameaça real ao ambiente, bas- cando, portanto, uma situação mais crí-
tando a plausibilidade, fundada nos co- tica de degradação, que provavelmente
nhecimentos científicos disponíveis na demandará maiores esforços para ser re-
época. Portanto, a falta de certeza cien- vertida com as ações de manejo.
tífica não deve ser usada como justifica-
tiva para prorrogar ou deixar de imple-

70 Manejo de fragmentos florestais degradados


Tabela 3.2 – Exemplo 1, utilizando o método de AER proposto para a decisão de realizar
ou não o manejo do fragmento florestal.

MÉDIA PARÂMETRO

MÉDIA PARÂMETRO
1º DIAGNÓSTICO

1º DIAGNÓSTICO
INTERIOR4
INTERIOR2

INTERIOR3

INTERIOR5
INTERIOR1
BORDA4
BORDA2

BORDA3

BORDA5
BORDA1
Estratos

3 3 2 3 3 2,8 1 3 2 1 2 1,8
Dossel

3 3 3 2 3 2,8 1 2 2 1 2 2
degradação
Fatores de

1 1 2 2 2 1,6 1 1 1 1 1 1
Espécies-problema

3 3 3 3 3 3 3 2 1 1 1 1,2
Soma

10 10 10 10 11 6 8 6 4 6
2o diagnóstico
Média geral

8,1

Fonte: Elaboração própria.

71
Tabela 3.3 – Exemplo 2, utilizando o método de AER proposto para a decisão de realizar
ou não o manejo do fragmento florestal.

MÉDIA PARÂMETRO

MÉDIA PARÂMETRO
1º DIAGNÓSTICO

1º DIAGNÓSTICO
INTERIOR4
INTERIOR2

INTERIOR3

INTERIOR5
INTERIOR1
BORDA4
BORDA2

BORDA3

BORDA5
BORDA1
Estratos

2 3 2 2 3 2,4 2 2 2 3 3 2,4
Dossel

2 3 2 3 3 2,6 2 2 3 3 3 2,6
degradação
Fatores de

1 2 2 2 2 1,8 2 2 3 3 2 2,4
Espécies-problema

2 3 2 3 3 2,6 2 2 3 3 3 2,6
Soma

7 11 8 10 11 8 8 11 12 11
2o diagnóstico
Média geral

9,7

Fonte: Elaboração própria.

72 Manejo de fragmentos florestais degradados


3.5 Considerações sobre o “espécies invasoras” e “espécies exóticas
método proposto ruderais”, que não são tão óbvios na prá-
A proposta deste capítulo objetiva facili- tica. Dessa maneira, o treinamento dos
tar e incentivar a avaliação e o diagnósti- avaliadores é um aspecto essencial e de-
co de fragmentos florestais de paisagens cisivo para a real eficácia do método, o
antrópicas e contribuir para a preserva- que pode se tornar uma limitação para
ção e restauração da vegetação nativa. sua aplicação.
Como em toda proposta pioneira, mui- O segundo ponto é que, a princípio, to-
tos de seus pontos são discutíveis e ain- dos os remanescentes de FES inseridos em
da devem ser refinados após os resulta- paisagens antrópicas estão perturbados
dos obtidos e a avaliação crítica dos ato- em algum grau e, a rigor, poderiam ser
res envolvidos na aplicação do método. alvo do manejo adaptativo. Vimos que o
Destacamos três pontos principais: o 2o diagnóstico sugerido permite um ran-
primeiro é que a simplicidade da AER queamento da situação geral dos frag-
proposta pode parecer inapropriada para mentos analisados quanto à necessidade
representar a complexidade dos ecos- de ações de manejo, porém, a decisão so-
sistemas alvo, mas não devemos esque- bre quais devem ter prioridade de inter-
cer que a ampla aplicação desse método venção deve ser avaliada pelo menos de
exige que ele possa ser reproduzido pe- dois ângulos, o biológico e o econômico.
los profissionais em campo e de forma Com base nisso, surgem questões como:
não dispendiosa. Como avaliação preli- (a) devemos priorizar as florestas que es-
minar, entendemos que essa AER é fácil tão em estado mais crítico, com maior
de ser aplicada e suficiente para indicar comprometimento estrutural e/ou bio-
em que situação se encontra cada parâ- lógico?; ou (b) devemos priorizar os re-
metro, mostrando o nível de degradação manescentes que estão em estado inter-
de cada ambiente avaliado (borda ou in- mediário de degradação, que provavel-
terior) (1o diagnóstico) e do fragmento mente têm maior potencial de resiliên-
como um todo (2o diagnóstico). Idealmen- cia? Florestas mais degradadas podem
te, uma avaliação posterior mais detalha- exigir intervenções mais drásticas, in-
da poderia ser recomendada. No entan- fluenciando o aporte laboral e financei-
to, tendo em vista a necessidade de per- ro para o manejo. Por outro lado, se for
mitir a tomada de decisão a respeito do real a expectativa de que florestas menos
manejo de fragmentos florestais em es- degradadas têm maior potencial de re-
calas mais amplas, o método proposto pa- siliência, as intervenções devem produ-
rece ser satisfatório, exatamente por ser zir respostas mais rápidas em fragmen-
simplificado e não oneroso. Porém, con- tos que estão em estado intermediário
vém ressaltar que ele não descarta o re- de degradação, podendo reduzir o apor-
conhecimento das espécies em campo e te laboral e financeiro, se forem os pri-
seu comportamento ecológico, e inclui a meiros alvos das ações de manejo. Cabe
diferenciação entre conceitos como o de lembrar que algumas situações deman-

73
dam medidas rápidas para prevenir da- sidade de realizar o manejo e da sua efi-
nos futuros, como no caso da presença de cácia em paisagens tão modificadas pe-
espécies exóticas, conforme já foi men- las atividades humanas.
cionado no item 3.4.4 (Exemplo 1) e, por- Apesar das circunstâncias pouco con-
tanto, tornam-se prioritárias na pauta vidativas e cheias de incertezas, reforça-
do manejo adaptativo. mos que as decisões recomendadas pelo
Esses questionamentos nos levam ao método proposto se baseiam em aspec-
terceiro ponto discutível, que é exata- tos ecológicos bem estudados da dinâmi-
mente a ausência de evidências concre- ca florestal e do processo de fragmenta-
tas sobre a eficácia das ações de manejo, ção e degradação do habitat, que apontam
tanto do ponto de vista ecológico quan- para cenários catastróficos, caso nenhu-
to do ponto de vista econômico. As inter- ma medida seja tomada, tendo em vista
venções com propósitos conservacionis- a expansão das atividades antrópicas e
tas são escassas na prática e na literatura, fatores agravantes como o aquecimen-
com o agravante de que as respostas às to global (HELLER; ZAVALETA, 2009; NE-
ações de manejo só se revelam em longo WBOLD et al., 2015). Por fim, ressaltamos
prazo e exigem um delineamento apro- que, muito além dos aspectos ecológicos,
priado para registrá-las. Considerando a as iniciativas de conservação e restaura-
complexidade decorrente dos diferentes ção ecológica precisam trazer a discus-
graus de resiliência dos fragmentos flo- são para uma realidade factível, na qual
restais remanescentes, dos múltiplos es- aspectos práticos devam ser ponderados
tados estáveis possíveis e da imprevisibi- para a concretização de políticas públi-
lidade das respostas (BRAND; JAX, 2007, cas coerentes e robustas, delineando uma
FOLKE et al. 2010; SASAKI et al., 2015), es- estratégia efetiva para a manutenção da
tamos cientes da dificuldade de chegar biodiversidade e dos serviços ecossistê-
a conclusões concretas acerca da neces- micos em paisagens antrópicas.

74 Manejo de fragmentos florestais degradados


4 CONSERVAÇÃO DE TREPADEIRAS NO
CONTEXTO DE RESTAURAÇÃO DE
FRAGMENTOS FLORESTAIS DEGRADADOS
Veridiana de Lara Weiser1;
Andréia Alves Rezende2;
Alessandra dos Santos Penha3;
Berta Lúcia Pereira Villagra4;
Renata Giassi Udulutsch5

A
visão dendrológica de que as florestas são um conjunto de árvores é uma
ideia equivocada, enraizada na cultura e na história brasileiras. Uma flores-
ta é um ecossistema em que espécies vegetais de diferentes formas de vida
interagem umas com as outras, com a fauna e com o ambiente físico. Em al-
gumas situações, a restauração ecológica de fragmentos florestais se faz necessária, até
mesmo com a aplicação de algum método de manejo de espécies de trepadeiras. No en-
tanto, essa prática deve ser planejada com consciência, responsabilidade e embasamen-
to científico. O manejo de trepadeiras indiscriminado e sem fundamentação científica
representa um distúrbio antrópico que intensifica o processo de degradação do ecos-
sistema florestal e provoca resultados desastrosos, como a perda da diversidade bioló-
gica. Esse prejuízo consiste não apenas na perda da diversidade de espécies como tam-
bém no detrimento da diversidade genética, da diversidade química, da diversidade
ecológica, da fonte de medicamentos, da fonte de alimentos, da fonte de matéria-pri-
ma e biotecnologia. Considerando a importância da restauração dos fragmentos de Flo-
resta Estacional Semidecídua (FES) e da conservação das espécies de trepadeiras nesses
fragmentos, apresentamos neste capítulo recomendações prévias ao manejo de trepa-
deiras, métodos de manejo de trepadeiras e subsídios para fundamentar esse manejo.

4.1 R
 ecomendações prévias ao cresciam selvagens em regiões tempera-
manejo de trepadeiras das, no oeste da Ásia, no sudeste da Eu-
Desde a antiguidade, as trepadeiras fa- ropa, na Argélia e no Marrocos, são os
zem parte da história da humanidade. mais conhecidos (DE CANDOLLE, 1883).
Os relatos da ocorrência de videiras, que O hábito trepador nas plantas foi re-

1 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências, Departamento de Ciências Bio-
lógicas, campus de Bauru. Programa de Pós-graduação em Biociências (Interunidades) da Faculdade de Ciências e
Letras, campus de Assis, e da Faculdade de Ciências, campus de Bauru.
2 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Departamento de Biologia e Zootecnia, campus de Ilha Solteira.
3 Universidade Federal de São Carlos, Centro de Ciências Agrárias, campus de Araras.
4 Universidade Federal da Fronteira Sul, campus de Realeza.
5 Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Departamento de Ciências Biológicas, campus de Assis.

76 Manejo de fragmentos florestais degradados


conhecido e está descrito desde o século das no Capítulo 3), especialmente dessa
XVII. Charles Plumier (PLUMIER, 1693) foi forma de vida. Esses estudos podem ser
o primeiro a denominar de lianas as “plan- desenvolvidos por meio de levantamen-
tas que se amarram, se atam, e são utili- tos florísticos, complementados por le-
zadas como cordas” pelos ameríndios da vantamentos fitossociológicos, acompa-
América Central (VILLAGRA et al., 2014). nhados de coletas de material reprodu-
Hoje, as trepadeiras constituem tivo e/ou vegetativo das espécies de tre-
reconhecidamente um importante padeiras, para incorporação aos acervos
componente das florestas tropicais. Em dos herbários, e de lenho, para incorpo-
trechos com ausência de perturbações ração a xilotecas.
significativas, as trepadeiras raramente
contribuem com mais de 5% do total de 4.1.1 Levantamento florístico
biomassa (HEGARTY; CABALLÉ, 1991). O levantamento florístico é um dos estu-
Porém, em locais próximos a bordas dos iniciais para o conhecimento da flo-
e clareiras, nos quais há interrupção ra de uma determinada área (MARTINS,
abrupta do dossel, algumas espécies de 1990). Esse estudo compreende a observa-
trepadeiras tornam-se muito abundantes ção, o registro das informações, a coleta
(HEGARTY; CABALLÉ, 1991), podendo dos espécimes em flor e/ou fruto, ou ou-
até indicar o grau de degradação da tros critérios de inclusão, durante um pe-
vegetação (GENTRY, 1991). Nos últimos ríodo mínimo de um ano, visando à pro-
anos, têm sido atribuídos às trepadeiras dução de uma lista de espécies.
o aumento da mortalidade das árvores Os levantamentos florísticos repre-
(GROGAN; LANDIS, 2009; INGWELL et sentam uma parte fundamental dos es-
al., 2010) e a perturbação dos ambientes tudos para compor listas de espécies da
(SCHNITZER; CARSON, 2010; TOLEDO- flora do Brasil, que hoje conta com 46.546
ACEVES; SWAINE, 2008). espécies. Os registros para plantas de há-
Em ambientes ditos perturbados, é bito trepador (liana/volúvel/trepadeira)
frequente o manejo de parte ou da tota- chegam a 3.994 espécies (FLORA DO BRA-
lidade de indivíduos de trepadeiras, sem SIL, 2020 em construção). Considerando
qualquer critério ou identificação dos que o hábito trepador pode ultrapassar
espécimes. A fim de amenizar essa pro- os 10% da flora de angiospermas do país,
blemática, buscamos recomendar ações fica clara a subamostragem do grupo.
prévias, para que o manejo de trepadei- São pontuais os ecossistemas cuja ri-
ras herbáceas e lenhosas (lianas) se faça queza de trepadeiras é conhecida. A ca-
de maneira adequada. rência de estudos sobre sua taxonomia
Anteriormente a qualquer tipo de ma- e ecologia se reflete parcialmente no
nejo de trepadeiras, são estritamente im- patrimônio tombado nos herbários do
portantes estudos prévios dos ambien- país. Os estudos de taxonomia e ecologia
tes (informações sobre o diagnóstico de tornam-se ainda mais urgentes quando
um fragmento florestal podem ser obti- verificada a intensa pressão antrópica

77
exercida sobre as regiões fragmenta- dos coletores. Por esse motivo, muitas
das e as unidades de conservação, que vezes, essas informações não estão pre-
devem dispor de um plano de manejo, sentes nas etiquetas dos herbários. São
de acordo com a Lei Federal no 9.985, de incluídos aspectos referentes ao hábito,
18 de julho de 2000 (BRASIL, 2000). Essa comumente confundido com outras for-
lei regulamenta quaisquer atividades mas de vida, e, especialmente, as adapta-
de manejo, que devem, por definição, ções de escalada: gavinhas, ganchos, es-
estar sempre fundamentadas em crité- pinhos, raízes, volubilidade do caule ou
rios científicos. de outra parte da planta.
O levantamento florístico é um dos Associado à recomendação de um le-
métodos mais acessíveis para o conhe- vantamento florístico, sugerimos um
cimento da diversidade; entretanto, os modelo de anotação de campo para tre-
aspectos morfológicos das trepadeiras padeiras, que contribuirá para a deter-
que são pertinentes à determinação das minação das espécies do estudo (Qua-
espécies não são conhecidos da maioria dro 4.1).

Quadro 4.1 – Modelo de anotação de campo para trepadeiras

Morfologia do caule: herbáceo ( ) lenhoso ( )


Adaptação de escalada: g
 avinha ( ) gancho ( )
espinho ( ) raízes ( ) volubilidade ( )
Local da adaptação: C
 aule: simples ( ) composto
( ) / quantos feixes:
Látex: ( ) sim ( ) não / cor:
Resina: ( ) sim ( ) não / cor:
Aspectos da flor, como cor, odor:
Aspectos do fruto, como cor, odor:

Fonte: Modificado de Villagra et al., 2014.

4.1.2 Levantamento fitossociológico ção às trepadeiras, entender os padrões


O levantamento fitossociológico é o es- de distribuição espacial e prever a ocor-
tudo em que se considera a quantifica- rência das espécies é essencial para evi-
ção das espécies em sua distribuição es- tar a perda de diversidade de trepadeiras.
pacial no ambiente, levando-se em con- As propostas de manejo de espécies de
ta densidade, frequência e dominância. trepadeiras que localmente apresentam
Tradicionalmente, é aplicado ao compo- elevada abundância (hiperabundantes, su-
nente arbustivo-arbóreo, mas também perabundantes) e infestam árvores devem
pode ser aplicado à sinúsia trepadora. Co- incluir uma análise fitossociológica asso-
nhecer a estrutura da floresta com rela- ciada ao histórico de perturbação da área,

78 Manejo de fragmentos florestais degradados


uma vez que a elevada densidade de tre- les dos indivíduos de trepadeiras e a for-
padeiras pode ser consequência de ações ma de tratar os caules múltiplos, os clo-
antrópicas e não a causa da perturbação nes enraizados e os caules não cilíndri-
propriamente dita (ENGEL; FONSECA; OLI- cos também são dificuldades enfrenta-
VEIRA, 1998). Sem os dados da análise fi- das no levantamento fitossociológico,
tossociológica e do histórico de perturba- que podem ser parcialmente ameniza-
ção, proceder ao manejo se torna uma ação das pela utilização de protocolos já exis-
subjetiva, que coloca em risco outras for- tentes, publicados em “A standard proto-
mas de vida e espécies de trepadeiras com col for liana censuses” (GERWING et al.,
algum grau de ameaça e/ou espécies en- 2006), “Supplemental protocol for liana
dêmicas de densidade relativa diminuta. censuses” (SCHNITZER; RUTISHAUSER;
Vários motivos justificam os poucos AGUILAR, 2008) e “Métodos de amostra-
estudos quantitativos de trepadeiras. O gem e estudo de caso de lianas: em busca
primeiro é o hábito abrangente, incluin- de padronização”(REZENDE et al., 2015).
do espécies herbáceas e lenhosas, porém,
há autores que priorizam apenas os le- 4.1.3 Coleta de material
vantamentos das trepadeiras lenhosas, reprodutivo e/ou vegetativo e
também chamadas de lianas (CITADINI- incorporação a herbários
-ZANETTE; SOARES; MARTINELLO, 1997; A coleta de espécimes de trepadeiras é es-
HORA; SOARES, 2002; VENTURI, 2000). sencial para cada estudo proposto, pois
Analisando estudos recentes de trepa- documenta parte da diversidade e tor-
deiras, florísticos e principalmente fitos- na conhecida a ocorrência de raridade, o
sociológicos, não se verifica uma padro- endemismo e outras formas de compor-
nização nos critérios de amostragem. Há tamento que possam variar com o am-
estudos em florestas tropicais maduras biente. Os documentos que certificam a
que utilizam como critério de inclusão diversidade e a riqueza da flora de uma
do suporte, também chamado de forófi- determinada região ou país encontram-
to (OCHSNER, 1927), o diâmetro do caule -se depositados em herbários, que regis-
à altura do peito (DAP) > 10 cm (CLARK; tram em livros os espécimes ou exempla-
CLARK, 2000). Outros estudos incluem as res e os dados a eles associados (PEIXO-
lianas com o DAP > 2,54 cm (GENTRY, 1982; TO et al., 2006).
HORA; SOARES, 2002) e, mais comumen- Os herbários são indispensáveis aos
te, o DAP > 1 cm (REZENDE; RANGA; PE- estudos de botânica e são ferramentas
REIRA, 2007; VENTURI, 2000; VILLAGRA de apoio à pesquisa em muitas outras
et al., 2013) e o DAP < 1 cm (GERWING; áreas do conhecimento. Além de docu-
UHL, 2002), além de estudos ecológicos mentar a diversidade biológica do país,
que incluem todas as trepadeiras den- os espécimes depositados em herbários
tro das parcelas (WEISER, 2007). guardam parte da história de regiões an-
A divergência entre a localização dos teriormente cobertas por vegetação na-
pontos de medição de diâmetro dos cau- tural e hoje ocupadas por cidades, em-

79
preendimentos diversos ou desfloresta- teca Profa. Dra. Maria Aparecida Mourão
das (PEIXOTO et al., 2006). Brasil da Universidade Estadual Paulista,
O Brasil tem hoje 249 herbários. Mais campus de Botucatu (BOTUw), em Botuca-
da metade deles é ativa em intercâmbio tu; Xiloteca do Instituto de Biociências da
de dados e materiais científicos. Os de- Universidade de São Paulo (SPFw), em São
mais têm finalidade didática ou estão em Paulo. Duas estão em Pernambuco: Xilo-
implantação (REDE BRASILEIRA DE HER- teca do Trópico Semiárido (HTSAw) e Xi-
BÁRIOS, 2017). Ainda é baixa e difícil de loteca do Herbário Vale do São Francisco
mensurar a representatividade do hábito da Universidade do Vale do São Francisco
trepador nos herbários, já que há mais de (HVASFw), ambas em Petrolina. Há uma
80 famílias de plantas trepadeiras entre no Amazonas: Xiloteca do Instituto Nacio-
as angiospermas e muitos registros mal nal de Pesquisas da Amazônia (INPAw),
informam o hábito, que pode se modifi- em Manaus. E, por fim, uma em Santa Ca-
car durante o ciclo de vida da planta tre- tarina: Xiloteca Joinvillea da Universida-
padeira. Além disso, a maioria das espé- de da Região de Joinville (JOIw), em Join-
cies de trepadeiras floresce em períodos ville (SPECIES LINK, 2016).
diferentes (MORELLATO; LEITÃO FILHO, O lenho depositado nas xilotecas é
1996; WEISER, 2002, 2007) e em locais ina- quase que totalmente proveniente de ár-
cessíveis às tesouras de alta poda. vores. São raras as coleções de madeira
com espécimes de trepadeiras lenhosas.
4.1.4 Coleta de lenho e A anatomia das trepadeiras é um tema
incorporação a xilotecas ainda pouco estudado, embora já tenha
A xiloteca é uma coleção de partes de sido abordado por Schenck (1892). Foi so-
madeira desidratada, preparadas segun- mente depois de Obaton (1960) que sur-
do técnicas específicas e devidamente giram novas informações sobre a anato-
armazenadas e organizadas. Para o de- mia de trepadeiras em artigos que tra-
pósito de material, são necessárias in- tam desse grupo de plantas.
formações básicas, como nome do co- O desenvolvimento do caule das tre-
letor, local de coleta, nome científico padeiras em diferentes sistemas de es-
da espécie e nome popular, entre ou- calada provocou adaptações no câmbio
tras. As xilotecas fornecem informações vascular, formando características ana-
adicionais para a identificação das es- tômicas diferenciadas, chamadas de es-
pécies e são indispensáveis aos estudos truturas irregulares ou anômalas. Essas
de características da madeira (FONSE- estruturas, como auxiliares na identifi-
CA; VIEIRA, 1984). cação das espécies, revelaram-se muito
São sete as xilotecas brasileiras regis- importantes, pois permitem a determi-
tradas na rede Species Link. Três delas es- nação das espécies que não apresentam
tão no estado de São Paulo: Xiloteca Cal- folhas, flores ou frutos no momento da
vino Mainieri do Instituto de Pesquisas coleta, principalmente em levantamen-
Tecnológicas (BCTw), em São Paulo; Xilo- tos fitossociológicos.

80 Manejo de fragmentos florestais degradados


A coleta do lenho de trepadeiras e seu perabundantes pode contribuir para a
depósito em xilotecas devem ser incenti- estagnação dos processos de sucessão se-
vados, considerando a formação de clo- cundária e, nesse contexto, seu controle
nes e para que todo e qualquer espéci- é uma medida de manejo recomendada,
me seja conhecido e investigado quanto a fim de favorecer a regeneração de ár-
a suas potencialidades. vores e de arbustos no interior de frag-
mentos de FES (RODRIGUES; BRANCA-
4.2. Métodos de manejo de trepadeiras LION; ISERNHAGEN, 2009). No entanto,
Por vários motivos, o manejo de tre- dependendo do método de manejo esco-
padeiras é recomendado em projetos lhido, sem conhecimento experimental
de restauração ecológica (GIRÃO, 2015; prévio, pode ser que ocorra a seleção de
PÉREZ-SALICRUP, 2001; ROZZA; FARAH; espécies de trepadeiras que apresentem
RODRIGUES, 2007). Quando superabun- crescimento mais agressivo e, também,
dantes, algumas espécies de trepadeiras alto potencial de rebrota, o que intensi-
podem formar um maciço sobre os fo- fica os problemas da comunidade flo-
rófitos (PÉREZ-SALICRUP; SORK; PUTZ, restal com essas espécies (ENGEL; FON-
2001; PUTZ, 1984), aumentando o risco SECA; OLIVEIRA, 1998).
de morte das árvores que as suportam, Em geral, são reconhecidas algumas
em razão do peso excessivo exercido so- possibilidades de manejo de trepadeiras
bre suas copas (SCHNITZER, 2005). Isso nas florestas tropicais degradadas que
ocorre especialmente nas espécies arbó- constituem alvos potenciais de estraté-
reas típicas dos estádios finais da suces- gias diversas de restauração ecológica:
são secundária, potencialmente as mais (1) o manejo seletivo, em que são cortadas
vulneráveis ao estresse provocado pela apenas as espécies de trepadeiras supe-
competição com as espécies trepadei- rabundantes (ENGEL; FONSECA; OLIVEI-
ras (LAURANCE et al., 2001; SCHNITZER; RA, 1998) ou que apresentem alto nível
DALLING; CARSON, 2000). de agressividade na área de restauração
Quando essas árvores caem e formam (SFAIR et al., 2015); (2) o manejo não seleti-
uma clareira na floresta, algumas das es- vo, em que todas as trepadeiras são corta-
pécies de trepadeiras que ocupavam suas das de maneira irrestrita na área de res-
copas crescem horizontalmente de forma tauração ecológica, independentemen-
rápida, impedindo a regeneração de pro- te da espécie, de suas abundâncias rela-
págulos oriundos da chuva e do banco de tivas ou de seus níveis de agressividade
sementes, o que pode limitar ou impos- (ENGEL; FONSECA; OLIVEIRA, 1998; GER-
sibilitar os processos de sucessão secun- WING, 2001); e (3) o manejo aleatório, em
dária (GERWING, 2001; PUTZ et al., 2001). que todas as trepadeiras da área de res-
Apesar de as trepadeiras geralmente não tauração ecológica são marcadas com
serem consideradas a causa primária da um número e submetidas a sorteio que
degradação (ENGEL; FONSECA; OLIVEI- define os indivíduos que serão cortados,
RA, 1998), a presença de trepadeiras su- independentemente da espécie, de suas

81
abundâncias relativas ou de seus níveis valor de importância, há efeitos deleté-
de agressividade. rios claros sobre as populações de espé-
Considerando tanto o manejo quanto cies arbóreas e arbustivas importantes
a conservação florestal, Gerwing (2006) na estrutura da comunidade?
questionou qual tipo de manejo de trepa- Sfair et al. (2015) amostraram trepadei-
deiras deveria ser utilizado: o corte indis- ras e seus forófitos, no intuito de tentar
criminado de todas as trepadeiras, para compreender os padrões de interações de
diminuir a superabundância de algumas trepadeiras e forófitos em três formações
espécies, ou o corte seletivo, pensando- vegetais no estado de São Paulo – Flores-
-se que poderia haver trepadeiras que se ta Ombrófila Densa, Floresta Estacional
manteriam naturalmente raras nessas Semidecídua e cerradão – por meio de si-
florestas e que seriam, portanto, susce- mulações matemáticas, visando testar a
tíveis à extinção local. Para responder a eficiência de duas estratégias de manejo
essa indagação, é importante considerar – remoção de trepadeiras abundantes e
os questionamentos propostos por Engel, remoção de trepadeiras mais robustas –,
Fonseca e Oliveira (1998), úteis para nor- contrastando-as com a remoção aleató-
tear decisões sobre o manejo de trepadei- ria. Os autores também analisaram se as
ras em fragmentos florestais ou para es- trepadeiras com maiores diâmetros se-
colher a estratégia de manejo mais ade- riam as mais agressivas. Se esse padrão,
quada a cada condição local: de fato, fosse verificado, o manejo pode-
1) As trepadeiras são a causa primária ria enfocar apenas esses indivíduos. As
da degradação ou uma das respostas ge- simulações da remoção de trepadeiras
radas pelo conjunto de fatores que cul- basearam-se nas abundâncias: remo-
minaram na fisionomia e estrutura da veu-se, metodicamente, desde a espécie
floresta verificada e quantificada naque- de trepadeira mais abundante até a mais
le momento? rara na amostragem, calculando a quan-
2) Os efeitos de trepadeiras em árvores tidade de árvores sem trepadeiras após
individuais podem comprometer sua so- a sua remoção; já as simulações de cor-
brevivência e seu desenvolvimento, com te de trepadeiras foram realizadas com
reflexos negativos na estrutura da comu- base em diâmetros progressivamente
nidade florestal toda? maiores, verificando-se, posteriormen-
3) A riqueza e a diversidade de trepa- te, a proporção de árvores que ainda ti-
deiras na comunidade é baixa ou está nham trepadeiras.
em declínio, havendo evidência de ex- Os autores constataram que remo-
clusão competitiva de espécies relativa- ver espécies de trepadeiras com base na
mente raras? abundância mostrou-se mais eficiente
4) Há espécies de trepadeiras indica- que manejá-las aleatoriamente: a maior
doras de perturbações intensas na co- parte das espécies de trepadeiras não era
munidade? agressiva e escalou poucas árvores nas
5) Do ponto de vista de seus índices de três formações vegetais. Portanto, se a

82 Manejo de fragmentos florestais degradados


ideia for remover 50% de trepadeiras, final da estação seca, quando, dos 30 fo-
por exemplo, é possível nos concentrar- rófitos amostrados, sortearam-se 15 para
mos na remoção das espécies com eleva- realizar um segundo corte de trepadeiras.
da dominância. As análises também de- No total, foram cortadas 131 rametas
monstraram que as trepadeiras mais ro- de trepadeiras nos 30 forófitos amostra-
bustas da Floresta Ombrófila Densa e do dos, pertencentes a 16 espécies, além de
cerradão ocuparam mais árvores. Nes- dois morfotipos. Dolichandra unguis-cati
ses casos, os autores argumentam que (L.) L.G.Lohmann e Serjania laruotteana
ambas as estratégias de manejo não le- Cambess. e as menos abundantes Serjania
variam à extinção local das espécies re- caracasana (Jacq.) Willd., Cissus campestris
movidas, mesmo considerando um ce- (Baker) Planch. e Forsteronia pilosa Müll.
nário de fragmentação florestal e de per- Arg. foram as espécies mais frequente-
turbações intensivas, em virtude de suas mente cortadas na primeira amostra-
estratégias de crescimento, reprodução gem. A maioria das espécies de trepa-
e dispersão. deiras cortadas (90%) foi considerada
Rocha (2014) cortou espécies de trepa- “fina”. Duzentos e setenta dias após o
deiras no interior de um fragmento de- tratamento de corte, 63 rametas rebro-
gradado de FES em Araras, São Paulo, para taram: Dolichandra unguis-cati, Serjania
verificar se o crescimento e a sobrevivên- laruotteana e Serjania caracasana, com
cia das trepadeiras desbastadas nos foró- maior frequência. A análise de correla-
fitos variavam significativamente entre ção de Pearson demonstrou uma rela-
as espécies. A expectativa era de que fos- ção negativa e significativa entre o diâ-
sem identificadas diferenças no cresci- metro das trepadeiras cortadas e o cres-
mento entre espécies de trepadeiras após cimento médio das rebrotas. O número
o corte, relacionadas ao diâmetro do cau- de rebrotas após o tratamento de corte
le, i.e., as trepadeiras mais grossas cres- variou significativamente entre a esta-
ceriam mais lentamente do que as mais ção seca (45 rametas) e a estação chuvo-
finas. Foram amostrados, por sorteio, 30 sa (18 rametas).
forófitos ao longo de 18 transecções. As A elevada abundância de trepadei-
trepadeiras foram quantificadas nesses ras “finas” na amostragem pode ser indi-
forófitos e classificadas em duas catego- cadora dos estádios iniciais da sucessão
rias arbitrárias: “grossas”, quando apre- florestal, pensando que, inversamente,
sentavam diâmetro do caule maior ou trepadeiras com diâmetros maiores se-
igual a 2,5 cm, e “finas”, quando apresen- jam mais comuns em trechos de flores-
tavam diâmetro do caule menor que 2,5 tas em estádios sucessionais mais avan-
cm. O corte foi realizado a 0,5 m de altu- çados (LETCHER; CHAZDON, 2009). Nes-
ra do caule do forófito em dois períodos se aspecto, os resultados do corte ao final
do ano: (1) no final da estação chuvosa, da estação chuvosa demonstraram maior
quando foram cortadas todas as trepa- eficiência no controle do crescimento das
deiras nos 30 forófitos amostrados; (2) no trepadeiras. Com base nessa constatação,

83
sugeriu-se que o manejo pelo corte fosse lativas e no crescimento das espécies de
empregado apenas para as espécies de tre- trepadeiras (VIDAL et al., 1997).
padeira com alta capacidade de rebrota. O corte indiscriminado (aleatório, em
Destacamos, portanto, que os acha- termos experimentais) como estratégia
dos de Rocha (2014) foram congruentes potencial de manejo de espécies de tre-
com os achados de Sfair et al. (2015), des- padeiras na Amazônia também foi com-
critos anteriormente. Nesse caso, pare- parado à eficiência do uso de incêndios
ce que a escolha da estratégia de corte controlados, visando ao aumento da re-
seletivo, baseada na maior velocidade generação de árvores (GERWING, 2001),
de rebrota, reduziria os custos de ma- com estas expectativas principais: (1) o
nejo e aumentaria as chances de su- manejo reduziria a densidade de trepa-
cesso da restauração ecológica da área deiras; (2) as trepadeiras seriam mais
(VIDAL; GERWING, 2003) no que tange tolerantes ao fogo do que as árvores; e
ao alcance da sustentabilidade no lon- (3) ambas as estratégias de manejo au-
go prazo. Contudo, são necessários ex- mentariam o crescimento e o recruta-
perimentos mais prolongados, que ge- mento de árvores.
rem informações sobre o tipo de trata- Ao longo de dois anos, em parcelas de
mento e a época mais promissora para 1.600 m2 (em seis blocos casualizados), após
o corte. Esses experimentos devem le- a execução dos tratamentos, foram me-
var em conta que alguns resultados su- didos o crescimento e a sobrevivência de
geriram a necessidade de manter o ma- árvores, a cobertura do dossel, além da
nejo das trepadeiras, além do corte de densidade e da velocidade de regenera-
espécies de trepadeiras agressivas, até ção das trepadeiras.
que o dossel seja recomposto, a ponto A mortalidade média após o incêndio
de diminuir a regeneração por meio controlado foi significativamente maior
de sementes de trepadeiras presentes para as espécies de trepadeiras do que
no banco de sementes e de propágulos para as árvores. Porém, após dois anos, a
do solo (GIRÃO, 2015). rebrota e a germinação de sementes de
Devemos dar a devida atenção a essas trepadeiras levou à retomada de 70% da
ações, especialmente para que o manejo densidade inicial de trepadeiras. Ambos
seletivo ou irrestrito não favoreça as es- os tratamentos aumentaram significati-
pécies mais agressivas em crescimento, vamente a ocorrência de árvores, que pas-
situação que poderia intensificar os efei- saram a se regenerar, particularmente
tos deletérios sobre a composição florísti- nas áreas que experimentaram manejo
ca e a estrutura fitossociológica da comu- com fogo. Ainda assim, foi argumentado
nidade florestal (VIDAL et al., 1997). Nesse que o corte de trepadeiras parecia ser o
caso, após os resultados obtidos nos ex- mais promissor, considerando-se a me-
perimentos citados, aconselhamos que o nor taxa de regeneração de trepadeiras,
manejo de trepadeiras, seja seletivo, seja adicionada à possibilidade de essa estra-
irrestrito, baseie-se nas abundâncias re- tégia ser incluída em um plano mais am-

84 Manejo de fragmentos florestais degradados


plo de manejo silvicultural, que visasse à interior do estado de São Paulo é compos-
produção planejada de madeira. to predominantemente por espécies in-
Atualmente, o corte seletivo de trepa- vasoras (MELO; DURIGAN; GORENSTEIN,
deiras superabundantes é a técnica de 2007; ZENNI; ZILLER, 2011). Isso, sem con-
manejo mais considerada, pois objetiva tar que os fragmentos florestais encon-
favorecer a retomada da riqueza, da di- tram-se geralmente isolados entre si e
versidade e dos processos sucessionais das imersos em paisagens onde predominam
comunidades em restauração (LE BOUR- matrizes de monocultura e áreas de pas-
LEGAT et al., 2013). Essa técnica é indica- tagem, características que possivelmente
da apenas para locais específicos do frag- restringem o fluxo de diásporos (CARREI-
mento florestal – no interior ou na bor- RA, 2013; PIVELLO et al., 2006). Nesse as-
da da floresta – e tem como alvo, prefe- pecto, sugerimos que se associe o manejo
rencialmente, aquelas espécies de cres- das espécies de trepadeiras superabun-
cimento bastante agressivo, que se tor- dantes a outras técnicas de restauração
nam superabundantes em áreas altera- ecológica (ver o Capítulo 5), como o enri-
das por perturbações e com alto poten- quecimento (RODRIGUES et al., 2009), as
cial de rebrota (ENGEL; FONSECA; OLI- “árvores-poleiro” (CARREIRA, 2013; HER-
VEIRA, 1998; JORDÃO, 2009; ROCHA, 2014; RERA; GARCIA, 2009) e/ou a nucleação
ROZZA; FARAH; RODRIGUES, 2007; SFAIR (REIS et al., 2003; TRES; REIS, 2009).
et al., 2015). Estudos preliminares têm mostrado re-
Entretanto, reconhecemos que mui- sultados promissores, como a regeneração
tas questões diretamente ligadas ao de- de trepadeiras provenientes de banco de
senvolvimento dessa e de outras estraté- sementes alóctones e a sobrevivência de
gias de manejo de trepadeiras ainda ca- 100% das mudas de trepadeiras (SANTOS,
recem de respostas (ALVIRA; PUTZ; FRE- 2011) transplantadas para enriquecimento
DERICKSEN, 2004; ENGEL; FONSECA; OLI- de áreas de restauração (LE BOURLEGAT et
VEIRA, 1998) e requerem estudos cientí- al., 2013; SCHNITZER; CARSON, 2010). Tais
ficos adicionais. investigações, associadas a outras infor-
A grande problemática dos esforços mações, como a composição de espécies
de controle de espécies de trepadeiras de trepadeiras, seus padrões de regene-
superabundantes é que, mesmo que haja ração após o corte (GIRÃO, 2015; ROCHA,
uma forma real de efetivar esse contro- 2014), o acúmulo de matéria morta na flo-
le, a regeneração natural da área alvo do resta proveniente de seu manejo e as res-
manejo pode dar espaço à germinação de postas das árvores à remoção de trepadei-
uma baixa quantidade de espécies nati- ras superabundantes, são úteis para sus-
vas, tanto arbóreas e arbustivas quanto citar novas concepções de manejo de tre-
trepadeiras (MENDONÇA, 2007). A rege- padeiras em florestas degradadas.
neração pode, ainda, ocorrer muito lenta- Finalmente, com base nas informa-
mente, uma vez que o banco de sementes ções disponíveis até o momento, acon-
da maior parte dos fragmentos de FES do selhamos que o manejo de trepadeiras,

85
irrestrito ou seletivo, fundamente-se na das possíveis relações entre espécies de
composição local de espécies de trepadei- árvores e de trepadeiras; provavelmen-
ras, mais precisamente na densidade re- te, outras variáveis devem estar relacio-
lativa e nas taxas de crescimento relati- nadas aos padrões de rebrota e infesta-
vo das espécies, para que se reconheçam ção de espécies superabundantes após o
as mais agressivas na área alvo. No mé- tratamento de corte. Logo, outras carac-
dio e no longo prazo, contudo, é possível, terísticas estruturais, morfológicas e a
ainda, imaginar que as estratégias suge- própria história de vida das espécies ar-
ridas até o momento não sejam suficien- bóreas, que facilitariam ou inibiriam a
temente bem-sucedidas no alcance da infestação por espécies de trepadeiras
sustentabilidade de fragmentos de FES, (SFAIR et al., 2013) e o real impacto exer-
uma vez que as espécies de trepadeiras cido por elas sobre os forófitos, poderão
têm capacidades distintivas de rebrota. ajudar a predizer como a manutenção
Nesse aspecto, o desafio principal é ou o aumento da riqueza e da diversida-
controlar as trepadeiras que se tornam de de espécies de trepadeiras influencia-
superabundantes em determinado cená- ria a riqueza e a diversidade da floresta
rio de degradação e que se mantêm com toda (DIAS, 2009).
elevadas velocidades de crescimento re-
lativo, mesmo após o manejo. Da mesma 4.3 Subsídios para fundamentar
forma, o corte dessas espécies supera- o manejo de trepadeiras
bundantes pode, eventualmente, alterar No estado de São Paulo, apenas quatro
as abundâncias relativas de outras espé- áreas de FES foram avaliadas quanto à
cies da comunidade, de modo que as es- estrutura fitossociológica de espécies
pécies mais raras localmente se mante- de trepadeiras. No entanto, como o cri-
nham em risco de extinção na comuni- tério de inclusão adotado nessas avalia-
dade ou passem a apresentar algum tipo ções foi o de trepadeira com diâmetro do
de ameaça à extinção local (GERWING; caule igual ou superior a 1 cm (Tabela 4.1),
VIDAL, 2002). predominaram as lianas, i.e., as trepadei-
É necessário, portanto, compreender ras lenhosas. Os estudos foram realiza-
melhor os filtros ecológicos impostos dos na Fazenda Canchim, em São Carlos
por esse grupo de plantas que estejam (HORA; SOARES, 2002), na Estação Ecoló-
envolvidos na diminuição da velocida- gica de Paulo de Faria, em Paulo de Faria
de de resiliência da floresta, a fim de es- (REZENDE; RANGA; PEREIRA, 2007), na
tabelecer formas de manejo com poten- Fazenda Cambuhy, em Matão, e na Fa-
cial mais elevado de sucesso. Do que já foi zenda Boa Vista, em União Paulista (RO-
produzido, reconhecemos apenas parte BATINO, 2010).

86 Manejo de fragmentos florestais degradados


Tabela 4.1 - Informações sobre quatro áreas de Floresta Estacional Semidecídua no estado de
São Paulo e os descritores estruturais das comunidades de trepadeiras e árvores. Legenda: T
= trepadeira; A = árvore, nc = não consta, ind = indivíduo.
PAULO DE UNIÃO
SÃO CARLOS MATÃO
FARIA PAULISTA

Tamanho do
112 ha 650 ha 2.189 ha 230 ha
fragmento florestal

Tamanho da 7.500 m2 10.000 m2 10.000 m2 10.000 m2


área amostral (0,075 ha) (1 ha) (1 ha) (1 ha)

Método de
parcela parcela parcela parcela
amostragem

T A T A T A T A

Critério de
2,5 cm nc 1 cm 3 cm 1 cm 5 cm 1 cm 5 cm
inclusão (DAP)

Número de
45 nc 45 87 65 110 66 66
espécies

Número de gêneros 36 nc 33 68 43 79 38 52

Número de
13 nc 13 35 19 36 15 27
famílias

Equabilidade
0,84 nc 0,78 0,80 0,75 0,64 0,74 0,69
(Pielou)

Índice de
diversidade de
3,2 nc 2,98 3,58 3,11 3,03 3,09 2,90
Shannon-Weaver
(nats. indivíduo-1)

Área basal
1,05 nc 1,73 30,27 1,24 20,83 1,04 24,78
(m2.ha-1)

Densidade
528 nc 1.427 1.419 1.421 1.286 1.857 1.059
(ind.ha-1)

Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010); Marcondelli (2010).

87
Considerando os levantamentos reali- presentes em uma comunidade (BEGON;
zados nessas quatro áreas e a importân- HARPER; TOWNSEND, 1996; MARTINS;
cia de fornecermos subsídios para fun- SANTOS, 1999).
damentar planos de manejo em FES no Considerando as quatro áreas, foram
estado de São Paulo, avaliamos: (1) a ri- identificadas 95 espécies de trepadeiras
queza de espécies de trepadeiras amos- (Tabela 4.2), das quais apenas 13 eram
tradas, destacando as comuns a todas as comuns a todas as áreas, representadas
áreas e as exclusivas; (2) as espécies abun- pelas famílias Bignoniaceae (oito espé-
dantes e as dominantes; (3) os resultados cies), Sapindaceae (três), Apocynaceae e
referentes às distribuições de trepadei- Fabaceae (uma espécie cada).
ras por classes de tamanho; e (4) a infes- Das 95 espécies amostradas, cerca da
tação e a agressividade das espécies. metade era exclusiva: 48 espécies (Tabela
4.3). União Paulista apresentou o maior
4.3.1 Riqueza número de espécies exclusivas (15), São
A riqueza em espécies, ou riqueza especí- Carlos apresentou 14, Paulo de Faria, 11,
fica, corresponde ao número de espécies e Matão, oito.

Tabela 4.2 - Espécies de trepadeiras comuns às quatro áreas de Floresta Estacional


Semidecídua no estado de São Paulo.
FAMÍLIAS ESPÉCIES/[SINONÍMIA]
APOCYNACEAE
Forsteronia pubescens A.DC.
BIGNONIACEAE
Amphilophium paniculatum (L.) Kunth
Dolichandra quadrivalvis (Jacq.) L.G.Lohmann [Melloa quadrivalvis (Jacq.) A.H.Gentry]
Dolichandra unguis-cati (L.) L.G.Lohmann [Macfadyena unguis-cati (L.) A.H.Gentry]
Fridericia triplinervia (Mart. ex DC.) L.G.Lohmann [Arrabidaea triplinervia (Mart. ex DC.) Baill. ex Bureau]
Lundia obliqua Sond.
Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers
Tanaecium selloi (Spreng.) L.G.Lohmann [Arrabidaea selloi (Spreng.) Sandwith]
Tynanthus cognatus (Cham.) Miers [Tynanthus elegans Miers]
FABACEAE
Bauhinia microstachya (Raddi) J.F.Macbr. [Schnella microstachya Raddi]
SAPINDACEAE
Serjania caracasana (Jacq.) Willd.
Serjania laruotteana Cambess.
Urvillea laevis Radlk.

Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).

88 Manejo de fragmentos florestais degradados


Tabela 4.3 – Ocorrência das espécies de trepadeiras exclusivas em cada uma das qua-
tro áreas de Floresta Estacional Semidecídua no estado de São Paulo.
FAMÍLIA ESPÉCIE/[SINONÍMIA] OCORRÊNCIA
APOCYNACEAE
Secondatia densiflora A.DC. União Paulista
ASTERACEAE
Dasyphyllum flagelare (Casar.) Cabrera Paulo de Faria
BIGNONIACEAE
Bignonia campanulata Cham. [Clytostoma
São Carlos
campanulatum (Cham.) Bureau & K.Schum.]
Bignonia sciuripabulum (K.Schum.) Bureau & K.Schum. Matão
Cuspidaria floribunda (DC.) A.H.Gentry
União Paulista
[Adenocalymma floribundum A.DC.]
Cuspidaria pulchra (Cham.) L.G.Lohmann
União Paulista
[Arrabidaea pulchra (Cham.) Sandwith]
Fridericia conjugata (Vell.) L.G.Lohmann
São Carlos
[Arrabidaea conjugata (Vell.) Mart.]
Fridericia craterophora (DC.) L.G.Lohmann
União Paulista
[Arrabidaea craterophora (DC.) Bureau]
Fridericia platyphylla (Cham.) L.G.Lohmann
União Paulista
[Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau]
Fridericia pubescens (L.) L.G.Lohmann
União Paulista
[Arrabidaea pubescens (L.) A.H.Gentry]
Fridericia speciosa Mart. São Carlos
Mansoa difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. São Carlos
CANNABACEAE
Celtis fluminensis Carauta Matão
COMBRETACEAE
Combretum discolor Taub. Paulo de Faria
CUCURBITACEAE
Wilbrandia longisepala Cogn. Paulo de Faria
DILLENIACEAE
Davilla rugosa Poir. São Carlos
EUPHORBIACEAE
Dalechampia pentaphylla Lam. Matão
Dalechampia triphylla Lam. Matão
FABACEAE
Acacia tenuifolia (L.) Willd. [Acacia paniculata Willd.] São Carlos
Dalbergia frutescens (Vell.) Britton São Carlos
Machaerium amplum Benth. União Paulista
Machaerium dimorphandrum Hoehne São Carlos

89
FAMÍLIA ESPÉCIE/[SINONÍMIA] OCORRÊNCIA
Machaerium lanceolatum (Vell.) J.F.Macbr. União Paulista
Machaerium oblongifolium Vogel Paulo de Faria
LOGANIACEAE
Strychnos acuta Progel [Strychnos albiflora Progel] União Paulista
Strychnos bicolor Progel União Paulista
Strychnos acuta Progel [Strychnos albiflora Progel] União Paulista
Strychnos bicolor Progel União Paulista
MALPIGHIACEAE
Banisteriopsis lutea (Griseb.) Cuatrec. Paulo de Faria
Banisteriopsis oxyclada (A.Juss.) B.Gates União Paulista
Carolus chlorocarpus (A.Juss.) W.R.Anderson São Carlos
Heteropterys argyrophaea A.Juss. Paulo de Faria
Heteropterys dumetorum (Griseb.) Nied. Paulo de Faria
Heteropterys pauciflora (A.Juss.) A.Juss. São Carlos
Niedenzuella acutifolia (Cav.) W.R.Anderson
São Carlos
[Tetrapterys guilleminiana A.Juss.]
Stigmaphyllon lalandianum A.Juss. São Carlos
Stigmaphyllon macropodum A.Juss. União Paulista
MENISPERMACEAE
Cissampelos pareira L. Paulo de Faria
NYCTAGINACEAE
Bougainvillea glabra Choisy Matão
POLYGALACEAE
Bredemeyera floribunda Willd. União Paulista
RUBIACEAE
Chiococca alba (L.) Hitchc. Matão
Guettarda pohliana Müll.Arg. Paulo de Faria
SALICACEAE
Pristimera andina Miers São Carlos
Pristimera celastroides (Kunth) A.C.Sm. Matão
SAPINDACEAE
Serjania communis Cambess. Paulo de Faria
Serjania meridionalis Cambess. Matão
Thinouia mucronata Radlk. São Carlos
TRIGONIACEAE
Trigonia nivea Cambess. União Paulista
VITACEAE
Cissus campestris (Baker) Planch. Paulo de Faria
Cissus erosa Rich. União Paulista

Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).

90 Manejo de fragmentos florestais degradados


Considerando apenas as áreas onde (2011), existe um padrão de abundância
foram realizados levantamentos de tre- nas comunidades, i.e., geralmente, algu-
padeiras e árvores (MARCONDELLI, 2010; mas poucas espécies têm grande núme-
REZENDE; RANGA; PEREIRA, 2007; RO- ro de indivíduos (elevada abundância)
BATINO, 2010), verificamos que aquelas e muitas espécies são amostradas com
consideradas conservadas após análises pequeno número de indivíduos (baixa
de imagens de satélite – Matão e Paulo de abundância), estas são chamadas de es-
Faria – apresentaram uma proporção de pécies raras.
espécies trepadeiras em relação às de ár- Considerando as espécies mais abun-
vores de 0,59 e 0,52, respectivamente (Ta- dantes, apenas 11 foram representadas por
bela 4.1). Já União Paulista, área conside- mais de 100 indivíduos. Considerando esse
rada perturbada, apresentou a propor- critério de abundância, em São Carlos, ape-
ção de 1:1 (Tabela 4.1). nas uma espécie foi abundante, Mansoa
A riqueza específica, que variou de 45 difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. (Ta-
a 66 espécies, indica a relevância das tre- bela 4.4). Dolichandra quadrivalvis (Jacq.)
padeiras nas FES estudadas. A proporção L.G.Lohmann foi abundante em Matão
entre as espécies de trepadeiras e as de e em Paulo de Faria. Forsteronia glabres-
árvores, em torno de 50%, em áreas con- cens Müll.Arg. foi abundante em Matão
sideradas conservadas, como Paulo de e União Paulista e Forsteronia pubescens
Faria e Matão, e de 100%, na área consi- A.DC., em Paulo de Faria e União Paulista
derada perturbada, em União Paulista, (Tabela 4.4). As outras oito espécies foram
sugere a importância de avaliarmos em as mais abundantes em apenas uma das
outras áreas se a relação entre o núme- áreas. Forsteronia glabrescens foi a espécie
ro de espécies de trepadeiras e de árvo- com maior valor de abundância (273 in-
res poderia ser utilizada como indicado- divíduos), em União Paulista, seguida de
ra de níveis de perturbação. Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers (198
indivíduos) em Matão e de Dolichandra
4.3.2 Abundância quadrivalvis (188 indivíduos) em Paulo de
A abundância representa o número de Faria (Tabela 4.4).
indivíduos amostrados e se refere ao Outro fato interessante foram as es-
número de indivíduos registrados tanto pécies de trepadeiras que apresentaram
para uma dada espécie quanto para a co- apenas um indivíduo nos fragmentos.
munidade como um todo (MORO; MAR- Em União Paulista, essas espécies repre-
TINS, 2011). No nosso estudo, assumimos sentam 12%, em Matão representam 8%,
que a abundância se refere ao número em São Carlos, 7% e, em Paulo de Faria,
de indivíduos amostrados para cada es- 4% das espécies de trepadeiras amostra-
pécie. De acordo com Moro e Martins das (Tabela 4.5).

91
Tabela 4.4 – Espécies de trepadeiras mais abundantes nas quatro áreas de Floresta Es-
tacional Semidecídua no estado de São Paulo.
ABUNDÂNCIA
ÁREAS DE FLORESTA ESTACIONAL
ESPÉCIES SEMIDECÍDUA
PAULO SÃO UNIÃO
MATÃO
DE FARIA CARLOS PAULISTA
Anthodon decussatum Ruiz & Pav. 101
Dolichandra quadrivalvis (Jacq.) L.G.Lohmann
[Melloa quadrivalvis (Jacq.) A.H.Gentry] 153 188
Doliocarpus dentatus (Aubl.) Standl. 111
Forsteronia glabrescens Müll.Arg. 124 273
Forsteronia pilosa Müll.Arg. 168
Forsteronia pubescens A.DC. 171 121
Fridericia triplinervia (Mart. ex DC.) L.G.Lohmann
[Arrabidaea triplinervia (Mart. ex DC.) Baill. ex Bureau] 121
Mansoa difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. 103
Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers 198
Serjania lethalis A.St.-Hil. 165
Urvillea laevis Radlk. 142

Fontes: Hora; Soares (2002); Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).

Tabela 4.5 – Espécies de trepadeiras com apenas um indivíduo em uma das quatro áreas
de Floresta Estacional Semidecídua no estado de São Paulo.
FAMÍLIA ESPÉCIES/[SINONÍMIA]
APOCYNACEAE Condylocarpon isthmicum (Vell.) A.DC. União Paulista
Forsteronia pilosa Müll.Arg. Matão
BIGNONIACEAE Adenocalymma marginatum (Cham.) DC. União Paulista
Anemopaegma chamberlaynii (Sims) Bureau &
Matão
K.Schum.
Fridericia platyphylla (Cham.) L.G.Lohmann
União Paulista
[Arrabidaea brachypoda (DC.) Bureau]
Stizophyllum perforatum (Cham.) Miers União Paulista
Tanaecium pyramidatum (Rich.) L.G.Lohmann
São Carlos
[Paragonia pyramidata (Rich.)]
FABACEAE Machaerium oblongifolium Vogel Paulo de Faria
Rhynchosia phaseoloides (Sw.) DC. União Paulista
LOGANIACEAE Strychnos acuta Progel [Strychnos albiflora Progel] União Paulista
Carolus chlorocarpus (A.Juss.) W.R.Anderson
MALPIGHIACEAE São Carlos
[Mascagnia chlorocarpa (A.Juss.) Griseb.]
Heteropterys dumetorum (Griseb.) Nied. Paulo de Faria
Mascagnia cordifolia (A.Juss.) Griseb. Matão e União Paulista
Stigmaphyllon macropodum A.Juss. União Paulista
RHAMNACEAE Gouania virgata Reissek Matão
SAPINDACEAE Urvillea ulmacea Kunth Matão e São Carlos

Fontes: Hora; Soares (2002; Rezende; Ranga; Pereira (2007); Robatino (2010).

92 Manejo de fragmentos florestais degradados


Das 13 espécies de trepadeiras comuns laevis Radlk. (REZENDE; RANGA; PEREI-
às quatro áreas analisadas, somente qua- RA, 2007). Analisando os valores de área
tro estão entre as mais abundantes nas co- basal de cada uma dessas espécies, veri-
munidades analisadas: Dolichandra qua- ficamos que variaram de 0,3433 m2.ha-1
drivalvis, Forsteronia pubescens, Pyrostegia a 0,0402 m2.ha-1. Este último valor é refe-
venusta e Urvillea laevis; entretanto, es- rente à área basal de Urvillea laevis, indi-
sas espécies não são abundantes em to- cando que essa espécie estava represen-
das as áreas. Constatamos que as espécies tada, na área, por muitos indivíduos de
mais abundantes e as espécies mais co- pequeno diâmetro de caule.
muns, por si só, não são indicadoras de Em Matão, a espécie com maior den-
perturbação. Todavia, admitimos que a sidade, Dolichandra quadrivalvis, tam-
maior proporção de indivíduos trepadei- bém foi a mais dominante (ROBATINO,
ras em relação às árvores, verificada na 2010). Entretanto, Fridericia mutabilis (Bu-
comunidade florestal em União Paulis- reau & K.Schum.) L.G.Lohmann, apesar
ta, pode ser um indicativo de perturba- de não estar entre as espécies mais abun-
ção na comunidade. dantes, foi a segunda com maior valor de
dominância, indicando que seus indiví-
4.3.3 Dominância duos apresentam diâmetros maiores. O
A dominância expressa a área basal de indivíduo de maior diâmetro amostra-
uma espécie ou de uma comunidade por do era dessa espécie. Em União Paulista,
unidade de área, geralmente o hecta- Forsteronia glabrescens foi a espécie de
re (MORO; MARTINS, 2011). No nosso es- maior abundância, seguida de Serjania
tudo, utilizamos a dominância absolu- lethalis A.St.-Hil. Entretanto, esta última
ta, i.e., a soma das áreas basais dos cau- foi a mais dominante, reflexo dos eleva-
les de todos os indivíduos de uma mes- dos valores de diâmetro dos caules dos
ma espécie, considerando que a área ba- indivíduos dessa espécie.
sal de um indivíduo é a secção transver-
sal de seu caule (MORO; MARTINS, 2011). 4.3.4 Distribuição diamétrica
Em São Carlos, a espécie de maior É possível inferir a história de uma
dominância foi Tynanthus cognatus comunidade por sua estrutura diamétrica
(Cham.) Miers, o que reflete o grande (MEYER et al., 1961), um potencial indicati-
diâmetro dos indivíduos dessa espé- vo de equilíbrio ou desequilíbrio de uma
cie, com área basal superior à das de- comunidade (HARPER, 1990). As forma-
mais espécies (HORA; SOARES, 2002). ções florestais equilibradas apresentam
Em Paulo de Faria, as espécies dominan- a distribuição diamétrica dos indivíduos
tes foram também as mais abundantes: na forma exponencial negativa, ou seja,
Dolichandra quadrivalvis, Fridericia tripli- o histograma de frequências dos indiví-
nervia (Mart. ex DC.) L.G.Lohmann, Fors- duos assemelha-se a um jota invertido. A
teronia pubescens, Anthodon decussatum maior frequência dos indivíduos encontra-
Ruiz & Pav., Forsteronia pilosa e Urvillea -se nas classes de diâmetro menor (CABA-

93
CINHA; CASTRO, 2010; MEYER et al., 1961). tanto, que é fundamental a realização de
Quanto à análise do diâmetro dos in- estudos sobre a dinâmica das espécies de
divíduos amostrados nas quatro áreas, trepadeiras nas comunidades florestais
observamos que a maioria pertence à antes de submetê-las ao manejo.
classe de pequenos diâmetros, inferio-
res a 2,5 cm. Em São Carlos, aproxima- 4.3.5 Infestação e agressividade
damente 74% dos indivíduos apresen- O índice de infestação de trepadeiras re-
taram diâmetros menores que 2,5 cm e fere-se à comunidade ou a determinada
somente quatro indivíduos apresenta- espécie. Em nosso estudo, utilizamos o ín-
ram diâmetros acima de 10 cm. Em Pau- dice de infestação das trepadeiras na co-
lo de Faria, 57,6% dos indivíduos amos- munidade, i.e., a relação entre o número
trados apresentaram diâmetros meno- total de forófitos e o número total de in-
res que 2,5 cm e apenas 26 indivíduos divíduos arbustivos e arbóreos em uma
apresentaram diâmetros maiores que comunidade (WEISER, 2007).
10 cm. O maior indivíduo amostrado foi A agressividade de uma espécie de tre-
de Dolichandra quadrivalvis, com diâme- padeira refere-se ao número de forófitos
tro de 30,6 cm. Em Matão, 44,4% dos indi- que um mesmo indivíduo dessa espécie
víduos apresentaram diâmetros meno- ocupa, i.e., espécies de trepadeiras agres-
res que 2,5 cm e somente 26 indivíduos sivas são aquelas cujos indivíduos ocu-
apresentaram diâmetros maiores que 10 pam quatro ou mais forófitos (VIDAL et
cm. O maior indivíduo amostrado foi de al., 1997).
Fridericia mutabilis, com 17,3 cm de diâme- A análise sobre a infestação de árvo-
tro. Em União Paulista, 56% dos indiví- res por trepadeiras e sua agressividade
duos apresentaram diâmetros menores em FES no estado de São Paulo foi reali-
que 2,5 cm e apenas 11 indivíduos apre- zada apenas por Rezende (2005), na Esta-
sentaram diâmetros maiores que 10 cm. ção Ecológica de Paulo de Faria, em Pau-
O maior indivíduo amostrado, Forstero- lo de Faria. A autora verificou que, das
nia pubescens, com 13,3 cm de diâmetro. 1.419 árvores, 760 carregavam pelo me-
A dominância e a distribuição diamé- nos uma trepadeira, conferindo um ín-
trica revelam uma informação valiosa dice de infestação de 53,6% à área. Des-
sobre a espécie Urvillea laevis, abundan- ses 760 forófitos, 383 indivíduos (50,4%)
te em Paulo de Faria, mas formada exclu- apresentaram diâmetros maiores que
sivamente de indivíduos pequenos. Essa 10 cm. Das 33 espécies de árvores com
espécie não foi amostrada nas classes de pelo menos dez indivíduos de trepadei-
diâmetros maiores, evidenciando que de- ras, quatro apresentaram proporção de
terminadas espécies de trepadeiras podem infestação significativamente menor do
apresentar maior abundância de indiví- que a média geral: Inga marginata Willd.,
duos jovens e essa abundância se reduzir Piper amalago L., Trichilia catigua A.Juss.
com o passar do tempo. Ressaltamos, por- e Trichilia claussenii C.DC. Somente uma,

94 Manejo de fragmentos florestais degradados


Machaerium paraguariense Hassl., apre- espécies, contrariando os relatos de que
sentou proporção de infestação signifi- trepadeiras com gavinhas apresentam
cativamente maior do que a média ge- maior capacidade de infestação (REZEN-
ral, indicando ser um forófito de alta DE, 2005). De acordo com Rezende (2005),
suscetibilidade. as árvores com diâmetros maiores apre-
As espécies arbóreas infestadas por sentaram correlação positiva com a densi-
um maior número de indivíduos de tre- dade de trepadeiras. Essa correlação pode
padeiras em Paulo de Faria apresentaram indicar que essas árvores, provavelmen-
também maior diversidade e riqueza de te mais velhas e com copas grandes, te-
espécies de trepadeiras, sugerindo que riam mais chance de acumular mais in-
não há especificidade na associação en- divíduos de trepadeiras em seus troncos
tre espécies de árvores e de trepadeiras. ao longo do tempo. De acordo com Sfair
Caso houvesse, esperar-se-ia que esses et al. (2013), as árvores maiores têm co-
valores fossem independentes da infes- pas mais iluminadas e, quanto maior a
tação por trepadeiras – árvores infesta- iluminação, maior a porcentagem de co-
das com muitos indivíduos, mas de pou- bertura de trepadeiras.
cas espécies (REZENDE, 2005). Observamos que a maioria das espécies
O número médio de árvores que cada de trepadeiras com potencial de agressi-
indivíduo de trepadeira escalou foi de vidade é igualmente dominante e abun-
1,3, com variação de um a seis forófitos dante. Entretanto, advertimos que, ape-
(REZENDE, 2005). As espécies Urvillea sar de apresentar potencial de agressi-
laevis, Forsteronia pilosa e Anthodon de- vidade, um número mínimo de indiví-
cussatum infestaram até quatro foró- duos dessas espécies é, de fato, agressivo.
fitos, já Fridericia triplinervia infestou
até seis forófitos (REZENDE, 2005). Des- 4.4 Considerações
sas espécies potencialmente agressivas, O estado de São Paulo concentra a maior
à exceção de Urvillea laevis, todas as ou- parte dos pesquisadores do país estudio-
tras também foram as mais dominan- sos da forma de vida trepadeira, mesmo
tes e abundantes na área. Ressaltamos assim, existem muitos fragmentos de FES
que, embora apresentem potencial de no estado que ainda não foram inventa-
agressividade, poucos indivíduos, dois riados. A ausência de informações sobre
de Urvillea laevis e apenas um de cada a biodiversidade dessas áreas represen-
uma das outras espécies, realmente fo- ta uma grande lacuna de conhecimento
ram considerados agressivos. que nós, pesquisadores, precisamos preen-
O número de árvores que cada trepa- cher. O recente levantamento florístico so-
deira escalou não foi relacionado ao tipo bre trepadeiras realizado no Parque Esta-
de sistema de escalada nem ao diâmetro dual de Porto de Ferreira (VARGAS et al.,
da trepadeira. Esse resultado sugere que 2018) corrobora essa informação. Em ape-
o tipo de sistema de escalada tem pou- nas uma área recentemente inventariada
ca importância no estabelecimento das no estado de São Paulo foram amostradas

95
dez espécies de trepadeiras que, até então, que ocorrem no fragmento que será
não tinham ocorrência descrita no estado submetido à restauração ecológica? Es-
de São Paulo. Essa evidência fundamen- sas espécies são abundantes ou raras?
ta nossa preocupação com a prática indis- •• Quais são as espécies de trepadeiras
criminada do manejo de trepadeiras em dominantes no fragmento que será
fragmentos de FES e também nos forne- submetido à restauração ecológica?
ce subsídios para incentivar a conserva- Essas espécies dominantes apresen-
ção das espécies de trepadeira durante a tam indivíduos jovens e adultos igual-
restauração ecológica. mente distribuídos?
Para viabilizar a conservação das es- •• Qual é o índice de infestação das es-
pécies de trepadeiras em processos de pécies de trepadeiras no fragmen-
restauração ecológica de fragmentos de to que será submetido à restauração
FES, o pesquisador deve responder às se- ecológica?
guintes questões: •• Das espécies de trepadeiras com po-
tencial de agressividade, quantos in-
•• E xiste uma lista florística das espécies divíduos são, de fato, agressivos?
de trepadeiras que ocorrem no frag- •• Há estudos sobre a dinâmica das po-
mento que será submetido à restau- pulações das espécies de trepadeiras
ração ecológica? com potencial de agressividade no
•• Existe um estudo sobre a estrutura da fragmento que será submetido à res-
comunidade de trepadeiras no frag- tauração ecológica?
mento que será submetido à restau- •• Por fim, quais são os fatores que limi-
ração ecológica? tam a densidade populacional das es-
•• Há material vegetativo ou reproduti- pécies de trepadeiras com potencial
vo das espécies de trepadeira que ocor- de agressividade?
rem no fragmento que será submeti- Um estudo prévio das espécies de tre-
do à restauração ecológica deposita- padeiras é essencial para fundamentar o
do em herbários? plano de manejo. Conhecendo as respos-
•• Há exemplares de lenho das espécies tas para essas questões, o pesquisador terá
de trepadeiras lenhosas (lianas) que subsídios para planejar com consciência,
ocorrem no fragmento que será sub- responsabilidade e embasamento cien-
metido à restauração ecológica depo- tífico o manejo das espécies de trepadei-
sitados em xilotecas? ras, visando à conservação delas e à res-
•• Quais são as espécies de trepadeiras tauração dos fragmentos de FES.

96 Manejo de fragmentos florestais degradados


5 MÉTODOS DE MANEJO DE FRAGMENTOS
FLORESTAIS: REVISÃO DA LITERATURA E
PROPOSTAS PARA ORIENTAR A PRÁTICA
Julia Raquel de Sá A. Mangueira1;
Cinthia Montibeller2;
Ricardo Gomes César3;
Fabiano Turini Farah2;
Ricardo Ribeiro Rodrigues2

E
ste capítulo traz um panorama geral dos estudos científicos e da expe-
riência prática no manejo de fragmentos florestais degradados com vis-
tas à restauração. Apresentamos a literatura referente à retirada dos fa-
tores de degradação, ao adensamento e enriquecimento de fragmentos
e ao controle de espécies exóticas e nativas hiperabundantes. Também apresen-
tamos estimativas preliminares do rendimento operacional de algumas ações
de intervenção nesses fragmentos e concluímos com orientações práticas para
guiar ações futuras nesses ecossistemas.

5.1 Contextualização deral se comprometeu a restaurar 12 mi-


Estamos na era da restauração ecológi- lhões de florestas até 2020 e o Pacto pela
ca (SUDING, 2011). Os mais recentes acor- Restauração da Floresta Atlântica tem
dos internacionais comprovam essa afir- como objetivo a restauração de 15 mi-
mação, pois estabelecem metas ambicio- lhões de hectares até 2050, apenas nesse
sas de restauração de 15% das áreas de- bioma (CALMON et al., 2011).
gradadas no mundo (Declaração de Ai- O conceito atual de restauração con-
chi, ONU, disponível em: <https://www. sidera que todos os elementos da paisa-
cbd.int/sp/targets/>), ou 150 milhões de gem devem ser incluídos em projetos de
hectares (Bonn Challenge, disponível em: restauração e conservação da biodiver-
<http://www.bonnchallenge.org/>), até sidade em larga escala, incluindo áreas
2020, ou ainda 350 milhões de hectares até abertas a serem restauradas, remanes-
2030 (Declaração de Nova York, disponí- centes de floresta primária (ainda que
vel em: <http://forestdeclaration.org/>). degradados) e áreas em sucessão secun-
No Brasil, metas ambiciosas também fo- dária (CHAZDON; GUARIGUATA, 2016).
ram estabelecidas: em 2015, o governo fe- Nesse contexto, o manejo de florestas

1 Programa de Pós-Graduação em Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Campinas, Unicamp.


2 Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Laboratório de Ecologia e Restau-
ração Florestal (LERF).
3 Universidade de São Paulo, Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Laboratório de Silvicultura Tropical
(LASTROP)

98 Manejo de fragmentos florestais degradados


secundárias degradadas tem chamado a das como ponto de partida para discus-
atenção da comunidade acadêmica. Via- sões posteriores e novos experimentos
ni et al. (2015) destacam que a restaura- em restauração ecológica. Em escala lo-
ção de fragmentos degradados pode ser cal, o restaurador deve reunir o mais am-
uma importante estratégia não só para plo conjunto de dados a respeito de seu
melhorar o estado de conservação des- ecossistema e, com base em uma avaliação
sas áreas como também para tornar real- do estado de perturbação, decidir quais
mente possível que se atinjam as metas de as melhores estratégias, quais as ações e
restauração de áreas degradadas estabe- quais as intensidades dessas ações a se-
lecidas mundialmente. Embora já se re- rem empregadas em cada situação de de-
conheçam o valor das florestas secundá- gradação. No entanto, o manejo de frag-
rias e primárias degradadas para a con- mentos para fins de conservação da bio-
servação da biodiversidade e sua contri- diversidade ainda é área relativamente
buição para as áreas em processo de res- pouco estudada e com poucos trabalhos
tauração, a pesquisa e a prática em res- publicados, portanto, carece de uma bi-
tauração ecológica ainda têm investido bliografia sistematizada, que possa sub-
pouco no manejo de remanescentes flo- sidiar a tomada de decisões. Para áreas
restais nas últimas décadas, visto que o abertas em processo de restauração, Du-
foco desses estudos reside na recupera- rigan e Ramos (2013) compilaram diver-
ção de áreas já desmatadas. sas experiências de manejo adaptativo
Neste capítulo, referimo-nos ao ma- que podem nortear recomendações de
nejo como uma abordagem baseada em manejo para fragmentos degradados.
uma filosofia de manejo adaptativo (GUN- Neste capítulo, a fim de preencher
DERSON, 2000). Esse tipo de manejo ad- essa lacuna, apresentamos uma revisão
mite que o conhecimento humano será da literatura sobre os métodos que têm
sempre incompleto e que a interação hu- sido testados no manejo de fragmentos
mana com os ecossistemas estará sempre florestais degradados inseridos em ma-
evoluindo, aprofundando-se e adaptan- triz agrícola tecnificada, com o objeti-
do-se. O manejo adaptativo reconhece vo de potencializar seu papel de conser-
que os recursos manejados sempre mu- vação da biodiversidade. Nessa revisão,
darão, de modo que os restauradores de- baseados na discussão de sucessos e in-
vem responder com ajustes nas estraté- sucessos, assim como dos principais de-
gias de restauração, à medida que as mu- safios encontrados, apresentamos algu-
danças acontecerem, de maneira integra- mas propostas para nortear a pesquisa e
da e multidisciplinar. Com essa aborda- a prática de manejo nos próximos anos.
gem, garantimos que o manejo adaptati- Oferecemos dados para discutir o rendi-
vo tenha sempre os processos ecológicos mento operacional em diferentes méto-
como sustentação teórica e alvo. dos de manejo de fragmentos degrada-
Dessa forma, as estratégias e ações dis- dos e os gargalos que limitam essa práti-
cutidas neste capítulo devem ser encara- ca, especialmente a falta de incentivo fi-

99
nanceiro. Por fim, valendo-nos de todos pais fatores de degradação de remanes-
os dados discutidos ao longo do capítulo, centes florestais comumente observados
listamos as principais considerações ne- em paisagens tropicais estão relaciona-
cessárias para fomentar a prática do ma- dos às culturas agrícolas (no caso da Flo-
nejo de fragmentos degradados. resta Atlântica, especialmente a cana-
-de-açúcar), à silvicultura, às pastagens
5.2 Manejo de fragmentos: e áreas urbanas. O uso do fogo na ma-
revisão da literatura triz agrícola, a caça e a extração seletiva
Neste item, discutiremos os dados obti- de madeira, a deriva de herbicidas, a en-
dos em uma ampla revisão da literatu- trada de gado e a invasão biológica estão
ra, que inclui artigos publicados em re- entre os principais fatores que levam ao
vistas nacionais e internacionais, livros declínio da biodiversidade e à degrada-
e capítulos de livros, dissertações e teses ção dos remanescentes florestais (JOLY;
que testaram diferentes métodos de ma- METZGER; TABARELLI, 2014; TABARELLI;
nejo de fragmentos florestais degrada- GASCON, 2005).
dos. O foco dessa revisão é encontrar ex- O isolamento da área e o controle dos
periências que possam nortear o manejo fatores de perturbação são primordiais
de fragmentos degradados de Florestas para aumentar as chances de sucesso da
Estacionais Semideciduais (FES), com o restauração e potencializar a capacidade
objetivo de potencializar o papel desses de autorrecuperação da comunidade. As
fragmentos na conservação da biodiver- ações podem variar desde a construção
sidade. No entanto, também abordamos de aceiros, para diminuir as chances de
e discutimos as experiências e o conhe- incêndios, e a instalação de cercas, para
cimento acumulado em outras forma- impedir o acesso de animais, até o con-
ções de florestas tropicais. Os trabalhos trole de espécies invasoras ou nativas
identificados na literatura foram agru- hiperabundantes (discutido nos próxi-
pados de acordo com os principais méto- mos itens). Nesse contexto, para quais-
dos utilizados (isolamento, adensamen- quer projetos de restauração, indepen-
to, enriquecimento, manejo de espécies dentemente do grau de degradação da
invasoras e nativas hiperabundantes) e área (seja uma área sem regeneração na-
são apresentados a seguir. tural, a ser restaurada desde o início, se-
jam remanescentes naturais alvo de ma-
5.2.1 Retirada dos fatores de nejo e conservação), a retirada dos fato-
degradação dos fragmentos res de degradação deve ser a primeira
florestais degradados etapa. O não isolamento da área afeta o
Após a identificação dos principais fato- desenvolvimento do projeto, aumentan-
res de degradação que detêm ou limitam do os custos e diminuindo a efetividade
a sucessão de uma comunidade a ser res- (ISERNHAGEN et al., 2009).
taurada, deve-se realizar seu isolamen- Em paisagens pouco fragmentadas,
to (RODRIGUES et al., 2009). Os princi- com elevado potencial de regeneração

100 Manejo de fragmentos florestais degradados


natural ou com histórico recente de des- reverter o processo de retrogressão su-
matamento e degradação, é provável que cessional, que é representado pela queda
apenas isolar os remanescentes flores- contínua na abundância geral de indiví-
tais dos fatores de perturbação seja su- duos, pela redução da altura dos indiví-
ficiente para a recuperação (CHAZDON; duos e do número de estratos, pela perda
GUARIGUATA, 2016). Em paisagens alta- da continuidade do dossel e da biomassa
mente modificadas, no entanto, existem geral da comunidade (FARAH et al., 2014;
inúmeros fatores de degradação que com- TABARELLI; LOPES; PERES, 2008).
prometem a biodiversidade e limitam o O adensamento pode ser obtido de
potencial de regeneração natural e de au- duas formas: (1) pelo uso do banco de se-
torrecuperação dos remanescentes, como mentes do solo; (2) pelo plantio de mu-
o regime de distúrbios, a disponibilida- das ou sementes (ROZZA; FARAH; RO-
de de propágulos e as características da DRIGUES, 2007). No caso de remanes-
paisagem (ARROYO-RODRÍGUEZ et al., centes florestais degradados, a área a
2015a). Nesse contexto, apenas o isolamen- ser restaurada (por exemplo, uma borda
to não é suficiente e as ações de manejo ou uma clareira antrópica) pode guar-
subsequentes são imprescindíveis para dar várias espécies que, à primeira vista,
retomar a trajetória sucessional das co- encontram-se ocultas, na forma de um
munidades e possibilitar a recuperação banco de sementes. Esse banco é forma-
dos fragmentos (VIANI et al., 2015). do pela chuva de sementes, recente ou
antiga, e seu potencial pode ser aprovei-
5.2.2 Adensamento dos fragmentos tado para a restauração da comunidade
florestais degradados: recuperação florestal. Se adequadamente induzido, o
da estrutura da floresta banco de sementes pode levar à germi-
O adensamento é uma técnica comu- nação e ao estabelecimento de uma alta
mente utilizada em projetos de restau- densidade de indivíduos, composta por
ração ecológica. Ela visa ao restabeleci- diversas espécies de genótipos autócto-
mento da cobertura de copas por indi- nes e, portanto, extremamente adapta-
víduos arbustivo-arbóreos e palmeiras, dos às condições locais (tipo de solo, re-
possibilitando a construção de uma es- gime de chuvas etc.). O aproveitamen-
trutura inicial favorável à continuidade to do banco de sementes evita a intro-
da dinâmica florestal típica por meio do dução de espécies e genótipos não regio-
aumento do número de indivíduos em nais (por meio de mudas, por exemplo),
áreas onde a regeneração natural é espa- que talvez tenham menor probabilida-
cialmente heterogênea (BRANCALION; de de sobrevivência. Ao mesmo tempo,
GANDOLFI; RODRIGUES, 2015). O restabe- evita a introdução de plantas invaso-
lecimento da estrutura do remanescen- ras no remanescente florestal, o que se-
te degradado é uma etapa fundamental ria uma falha grosseira no caso de um
na restauração de uma comunidade flo- plantio mal executado (RODRIGUES et
restal. Essa reestruturação visa conter e al., 2009, 2011).

101
Nos casos em que exista uma cober- da regeneração natural pela indução do
tura espessa de serapilheira, gramíneas banco de sementes é fortemente influen-
ou trepadeiras hiperabundantes, bem ciada pela forma do manejo, pelas condi-
como competição e efeito alelopático de ções climáticas no microssítio e pelas in-
plantas agressivas e/ou invasoras, a re- terações intra e interespecíficas na co-
moção desses fatores de degradação au- munidade, e o monitoramento da área
menta a incidência luminosa e a variação é que demonstrará a necessidade de ma-
de temperatura no ambiente. Essa mu- nejo adaptativo.
dança no microclima possibilita a ger- Em áreas onde não há resiliência do
minação, principalmente das sementes banco de sementes, o adensamento deve
de espécies arbóreas pioneiras, caso elas ser feito pelo plantio de mudas ou semen-
existam no banco. Desse modo, a cober- tes de espécies que apresentem crescimen-
tura pioneira obtida por meio da rege- to rápido e formação de copa densa e am-
neração leva à reestruturação da flores- pla – as chamadas espécies recobridoras
ta, condição necessária para a continui- (BRANCALION; GANDOLFI; RODRIGUES,
dade do processo sucessional (ROZZA; 2015; RODRIGUES et al. 2011). Essa opera-
FARAH; RODRIGUES, 2007). ção tem como objetivo aumentar o núme-
O estímulo do banco de sementes só ro de indivíduos em áreas com falhas na
é eficiente, no entanto, se o controle das regeneração natural, fechar rapidamen-
plantas competidoras e/ou a remoção te clareiras abertas e sombrear áreas em
da cobertura impeditiva tiverem início plantios já em andamento ou em áreas
na época chuvosa, conforme observado de regeneração natural escassa. Com a
por Farah (2003), ao manejar um rema- introdução dessas espécies, esperam-se a
nescente florestal degradado no muni- recuperação da fisionomia florestal ini-
cípio de Campinas (SP). O manejo pode cial da área, a melhoria das condições de
não ter o efeito desejado se for realizado microclima para germinação e do desen-
fora da época de chuvas regulares, pois se volvimento de espécies não pioneiras da
corre o risco de estimular a germinação sucessão e o controle do crescimento e da
de plântulas, seguida por alta mortalida- abundância de espécies invasoras ou hi-
de em poucos dias, em decorrência de ve- perabundantes, como trepadeiras e gra-
ranicos ou da estação seca. Nesse caso, a míneas (BRANCALION; GANDOLFI; RO-
operação de manejo realizada de forma DRIGUES, 2015; ISERNHAGEN et al., 2009).
errada leva à perda de boa parte do ban- Assim, alguns estudos testaram o
co de sementes local. O autor também ob- plantio de adensamento como metodo-
servou que, mesmo com o manejo reali- logia para introduzir espécies de rápi-
zado corretamente, a expressão da rege- do crescimento e boa cobertura de copa,
neração natural pode ser bastante hete- a fim de cicatrizar clareiras florestais
rogênea, tanto qualitativa (na composi- com baixa resiliência e de difícil recu-
ção) quanto quantitativamente (no nú- peração. Em um trecho de floresta com
mero de indivíduos). Assim, a expressão baixa expressão da regeneração após o

102 Manejo de fragmentos florestais degradados


corte de trepadeira (Parque Estadual de esse fim. Como exemplo, a embaúba (Ce-
Vassununga, Santa Rita do Passa Qua- cropia pachystachya), muito usada na res-
tro, SP), Jordão (2009) efetuou o plantio tauração, pelo rápido crescimento em al-
de espécies arbóreas, visando ao reco- tura, tem cobertura de copa escassa, não
brimento do terreno. A autora encon- exercendo adequadamente o papel de rá-
trou maiores valores de sobrevivência pida recobridora. A observação local dirá
e crescimento das espécies em áreas de quais são as espécies recobridoras mais
borda menos sombreadas, pois as espé- adequadas na região. Espécies como fu-
cies selecionadas precisaram dessa con- mo-bravo (Solanum mauritianum), pau-
dição para se desenvolver. -pólvora (Trema micrantha) e mutambo
A escolha correta das espécies de re- (Guazuma ulmifolia) são exemplos de es-
cobrimento é fundamental. Elas devem pécies adequadas a várias regiões de do-
ser definidas com base na flora local e mínio de FES (Figura 5.1). Dessa forma,
adaptadas ao tipo de solo e ao regime de para cicatrizar clareiras e recuperar a es-
umidade do sítio, correspondendo às es- trutura da floresta, devem ser utilizadas
pécies arbustivo-arbóreas de rápido cres- espécies claramente recobridoras. As es-
cimento e ampla cobertura de copa, logo pécies pioneiras que não exercem essa
nos primeiros meses após o plantio. Nem função devem ser usadas para agregar
todas as espécies pioneiras se aplicam a diversidade ao remanescente.

Figura 5.1 – Solanum mauritianum,


uma espécie recobridora que pode ser
usada para adensamento de fragmen-
tos em várias regiões de domínio de
Floresta Estacional Semidecidual. Foto-
grafias: Fabiano Farah.

103
5.2.3 Enriquecimento dos fragmentos de florestas secundárias. Bertacchi et al.
florestais degradados: recuperação (2015) avaliaram a sobrevivência e o cres-
da composição florística e cimento de nove espécies arbóreas plan-
funcional da comunidade tadas por semeadura direta no sub-bos-
O enriquecimento representa a intro- que de áreas em restauração com dife-
dução de espécies finais de sucessão ou rentes idades que, mesmo após décadas
de outras formas de vida que não con- de plantio e recuperação da estrutura da
seguem colonizar a área naturalmente, floresta, ainda apresentam limitações
por meio de plantio de mudas, semeadu- na regeneração natural. Os autores con-
ra, transposição de topsoil, transposição cluíram que, nas áreas mais jovens e sob
de plântulas etc. (BERTACCHI et al., 2015; clareiras de deciduidade, típicas de FES
BRANCALION; GANDOLFI; RODRIGUES, (SOUZA; GANDOLFI; RODRIGUES, 2014),
2015; ISERNHAGEN, 2010; ISERNHAGEN as espécies apresentaram taxas melho-
et al., 2009; LE BOURLEGAT et al., 2013; res de recrutamento, o que sugere que as
VIANI; RODRIGUES, 2009), a fim de au- espécies podem se comportar de manei-
mentar o número de espécies e a diver- ra idêntica em remanescentes de flores-
sidade da comunidade, numa tentativa tas secundárias. Santos e Durigan (2013)
de contribuir para sua manutenção no encontraram resultados semelhantes em
longo prazo. Em áreas em processo de três áreas de restauração de FES de dife-
restauração (fragmentos ou, mais comu- rentes idades: cinco espécies arbóreas, de
mente, áreas abertas) inseridas em paisa- alto valor comercial e tolerantes à som-
gens altamente fragmentadas, pode ser bra, foram plantadas no sub-bosque dos
necessário incluir, como uma das etapas plantios. Embora o sombreamento não
do projeto, o enriquecimento dessas co- tenha afetado significativamente a mor-
munidades. Nesse tipo de paisagem, fre- talidade, as mudas apresentaram maior
quentemente, existe limitação da oferta, crescimento em áreas abertas e clareiras,
da dispersão ou do estabelecimento de es- por isso, os autores recomendam que se-
pécies finais de sucessão, o que pode le- jam abertas clareiras no dossel antes de
var à estagnação da sucessão em áreas em realizar o plantio de enriquecimento. De
restauração. Essas áreas podem perma- maneira semelhante, César et al. (2016)
necer indefinidamente na condição de- observaram que o manejo de trepadei-
gradada, a menos que sejam implemen- ras favorece a sobrevivência das mudas
tadas ações de manejo (VIANI et al., 2015). plantadas para o enriquecimento de re-
Em áreas abertas onde foram reali- manescentes florestais degradados, pro-
zados plantios de restauração, têm sido vavelmente em razão da maior disponi-
testadas diferentes estratégias de enri- bilidade de luz para as mudas. Numa ten-
quecimento, com diferentes objetivos, tativa de inserir outras formas de vida
cujos resultados oferecem bases teóri- em uma área em restauração em Irace-
cas e práticas importantes para experi- mápolis (SP), Le Bourlegat et al. (2013) tes-
mentos de manejo em remanescentes taram o enriquecimento pela semeadu-

104 Manejo de fragmentos florestais degradados


ra direta de três espécies de trepadeiras tação (FARAH, 2003; WILSON, 2015). Em
sob a copa de quatro espécies com dife- condições climáticas favoráveis, é possí-
rentes comportamentos de deciduidade. vel que as taxas de sobrevivência dos in-
As espécies de trepadeiras apresentaram divíduos plantados em fragmentos de-
desempenho semelhante, independente- gradados sejam semelhantes às dos in-
mente da espécie que compunha o dos- divíduos plantados em fragmentos con-
sel, indicando que podem ser semeadas servados (YEONG; REYNOLDS; HILL, 2016).
em qualquer local no interior das áreas. Em florestas secundárias, embora pou-
Embora tenham encontrado baixas ta- cos trabalhos abordem o enriquecimen-
xas de emergência, os autores conside- to para fins de conservação, os plantios
ram que essa estratégia é viável para o de enriquecimento com fins econômi-
enriquecimento de áreas em restaura- cos estão bem descritos na literatura, nas
ção, embora sejam necessários mais es- mais diversas regiões de florestas tropi-
tudos. Em uma floresta tropical em res- cais (ÅDJERS et al., 1995; D’OLIVEIRA, 2000;
tauração no Panamá, Schweizer, Gilbert KEEFE et al., 2009; MONTAGNINI et al., 1997;
e Holl (2013) encontraram maiores taxas PEÑA-CLAROS et al., 2002; RAMOS; AMO,
de mortalidade e menores taxas de cres- 1992; RICKER et al., 1999, dentre outros).
cimento em mudas plantadas sob indiví- Na Floresta Atlântica, ainda são poucas as
duos adultos de espécies relacionadas fi- iniciativas de plantio de enriquecimento
logeneticamente às espécies plantadas, o com espécies para aproveitamento ma-
que oferece um critério de seleção para a deireiro, exatamente pelo fato de ainda
disposição das espécies no campo. haver elevadas taxas de desmatamento,
Em florestas secundárias degradadas, poucas regiões com extensas coberturas
Mangueira, Holl e Rodrigues (no prelo) de habitat, além de restrições legais para
realizaram plantio de enriquecimento, o manejo dos remanescentes (MAY, 2011).
utilizando quatro espécies arbóreas fi- Por isso, o foco dos estudos com enrique-
nais de sucessão, introduzidas por semea- cimento para fins econômicos tem sido
dura direta, plantio de mudas jovens (até a região amazônica. Ainda se sabe pouco
dois meses de viveiro) e plantio de mu- sobre o efeito do manejo de florestas se-
das maduras (até nove meses de vivei- cundárias sobre a biodiversidade, embo-
ro). Os autores encontraram diferenças ra alguns trabalhos apontem não haver
na sobrevivência das espécies, de acor- redução significativa de riqueza nem de
do com os diferentes métodos, embora composição de comunidades vegetais e
não tenham encontrado diferenças no animais após o corte e a colheita das es-
crescimento dos indivíduos. Em virtu- pécies madeireiras (PUTZ et al., 2012). Não
de de uma forte seca no ano de implan- se sabe, no entanto, qual seria o impac-
tação do projeto, a taxa de mortalidade to dessas atividades de exploração num
foi elevada, corroborando resultados de ecossistema tão fragmentado e tão pouco
trabalhos anteriores, de que a restaura- conhecido como a Floresta Atlântica, do
ção é altamente dependente da precipi- qual menos de 1% da área remanescen-

105
te foi amostrado (LIMA et al., 2015). Nes- da de overabundance por Garrot e Whi-
se contexto, na Floresta Atlântica, em ra- te (1993); em português, o termo mais co-
zão do grau elevado de fragmentação (i.e., mumente utilizado é hiperabundância.
baixa cobertura florestal, baixa conecti- Apesar de serem nativas, essas espécies
vidade entre as manchas e tamanho re- oportunistas, como espécies pioneiras e
duzido da maior parte dos remanescen- bambus, quando hiperabundantes, in-
tes), a recomendação é que o manejo de fluenciam a distribuição de outros gru-
remanescentes seja feito exclusivamente pos funcionais na comunidade, em razão
para fins de conservação, a fim de poten- de suas características ecológicas, como
cializar o papel de conservação da biodi- tempo de vida, fenologia e deciduidade
versidade desempenhado pelas florestas (TABARELLI et al., 2010). Nesse contexto,
secundárias que sobraram nas paisagens espécies nativas podem ser passíveis de
altamente modificadas (BRANCALION ação de manejo, a fim de possibilitar o
et al., 2012a; VIDAL et al., 2016). retorno da comunidade a uma trajetó-
ria sucessional aceitável, conforme dis-
5.2.4 Controle de espécies nativas cutiremos nos itens a seguir. Para mais
hiperabundantes informações sobre o manejo de espécies-
Em florestas tropicais degradadas, múl- -problema, deve-se consultar o Capítulo
tiplos fatores, que operam desde a escala 4 deste documento técnico.
local até a escala global, interferem na di-
nâmica das comunidades florestais e em 5.2.4.1 Manejo de trepadeiras
sua trajetória sucessional (ARROYO-RO- Lianas são trepadeiras lenhosas que en-
DRÍGUEZ et al., 2015a). Os diferentes re- raízam no solo e investem seus recur-
gimes de distúrbios antrópicos frequen- sos em crescimento e produção de bio-
temente causam mudanças na composi- massa, em detrimento da manutenção
ção taxonômica e funcional das comuni- de sua rigidez, dessa forma, dependem
dades, por meio da seleção de grupos de de apoio estrutural externo para atin-
espécies adaptadas às características de gir o dossel florestal (DEN DUBBELDEN;
ambientes degradados, dominados por OOSTERBEEK, 1995).
borda e isolados de outros remanescen- Em florestas tropicais fragmentadas e
tes florestais (LÔBO et al., 2011). degradadas, tem sido observado um au-
Uma das mudanças estruturais mais mento na densidade, na biomassa e na
proeminentes em curso em diversas flo- produtividade das comunidades de trepa-
restas tropicais é o aumento na abundân- deiras, o que altera a estrutura e a função
cia e na biomassa de trepadeiras, o que dos fragmentos. Os estudos indicam que
pode acarretar alterações severas na di- esse aumento pode ser atribuído, prin-
nâmica florestal e em seu funcionamen- cipalmente, à recorrência de distúrbios
to (SCHNITZER; BONGERS, 2011). A domi- (naturais e antrópicos), ao aumento da
nância de espécies nativas causada por demanda evapotranspirativa, em decor-
distúrbios foi inicialmente denomina- rência da crescente severidade das secas

106 Manejo de fragmentos florestais degradados


sazonais, e ao aumento tanto dos níveis rabundantes não seja a causa primária
de CO2 atmosférico quanto da deposição da degradação, ela pode contribuir para
de nutrientes (SCHNITZER, 2015; SCH- processos irreversíveis de degradação es-
NITZER; BONGERS, 2011). Quando os dis- trutural e funcional. Por essa razão, seu
túrbios ou os fatores de degradação são controle tem sido recomendado como
mantidos, como é o caso na maioria dos ferramenta de manejo conservacionis-
fragmentos de FES do interior do esta- ta (ENGEL; FONSECA; OLIVEIRA, 1998;
do de São Paulo, em áreas intensamente FARAH et al., 2014; ROZZA; FARAH; RO-
ocupadas pela agropecuária, algumas es- DRIGUES, 2007).
pécies de trepadeiras ruderais são favo- O manejo de trepadeiras deve ser rea-
recidas e tendem a proliferar e acelerar lizado de acordo com os objetivos do pro-
o colapso do ecossistema, por suprimir jeto, a fisionomia vegetal a ser maneja-
os processos sucessionais da comunida- da e a disponibilidade de recursos finan-
de florestal (ENGEL; FONSECA; OLIVEI- ceiros e humanos para as atividades de
RA, 1998; PINARD; PUTZ; LICONA, 1999; restauração ecológica. Na literatura, fo-
SCHNITZER; DALLING; CARSON, 2000). ram descritas diferentes estratégias de
As características e interações das lia- manejo de trepadeiras em florestas tro-
nas nas comunidades florestais estão dis- picais, como: (1) borrifamento de herbi-
cutidas em mais detalhe no Capítulo 4. cidas (PUTZ, 1991); (2) emprego do fogo
A presença de trepadeiras hiperabun- (GERWING, 2001); (3) controle biológico
dantes representa um filtro ecológico (KING; WILLIAMS; MADIRE, 2011); (4) re-
no curto prazo (restringindo o estabe- moção por capina (GIRÃO, 2015). Justifi-
lecimento de plântulas de espécies pio- caremos a seguir por que, no contexto
neiras) e no longo prazo (prejudicando dos fragmentos perturbados de FES da
a comunidade de árvores não pioneiras Floresta Atlântica, as ferramentas e os
adultas). A combinação dessas barreiras métodos citados para o manejo de trepa-
ecológicas pode manter os remanescen- deiras devem ser aplicados com cautela.
tes florestais degradados em um estado 1) Herbicidas: o borrifamento de her-
alternativo estável, dominado por tre- bicidas nas folhas das trepadeiras pode
padeiras hiperabundantes, com poucas atingir outras espécies nativas próximas,
chances de ocorrer sucessão para as con- já o pincelamento ou a injeção de her-
dições ecológicas anteriores ao distúr- bicidas na parte lenhosa das trepadei-
bio (CÉSAR, 2013; SCHNITZER; DALLING; ras – uma alternativa ao borrifamento
CARSON, 2000). Consequentemente, o au- – é proibitivamente trabalhoso, pois as
mento da abundância e da biomassa de poucas espécies ruderais que proliferam
trepadeiras apresenta, potencialmente, em fragmentos perturbados são finas e
ramificações profundas na composição e abundantes; além disso, no longo prazo,
no funcionamento da floresta (SCHNIT- as trepadeiras podem desenvolver resis-
ZER; BONGERS, 2011). Diante disso, mes- tência aos herbicidas (BAUCOM; MAU-
mo que a presença de trepadeiras hipe- RICIO, 2008).

107
2) Fogo: os incêndios causam a mor- 4) Remoção por capina: esse método
talidade de árvores jovens e de trepa- consiste na remoção dos indivíduos de
deiras, que têm diâmetro relativamente trepadeiras, inclusive das raízes super-
pequeno; no entanto, as trepadeiras são ficiais, com enxada, por exemplo. A re-
extremamente resilientes e proliferam moção completa (que deve ser realiza-
vigorosamente após os incêndios, com- da apenas nas áreas infestadas dos frag-
prometendo a regeneração dos indiví- mentos) favorece o crescimento e o au-
duos arbustivos e arbóreos (FARAH et mento da densidade de indivíduos arbó-
al., 2014; GERWING, 2001; PINARD; PUTZ; reos e arbustivos, quando utilizada jun-
LICONA, 1999). to com o corte de trepadeiras; no entan-
3) Controle biológico: os fragmentos flo- to, o baixo rendimento operacional des-
restais inseridos em paisagens antrópi- sa atividade a torna inviável em larga es-
cas vêm sendo historicamente submeti- cala (GIRÃO, 2015).
dos a distúrbios crônicos, além do isola- Além dos métodos descritos anterior-
mento reprodutivo e da pequena área de mente, pode-se fazer o corte das trepa-
habitat para manter algumas populações deiras com facão, que resulta em me-
de espécies nativas. Esses fatores conver- nor impacto ambiental, custa menos e
gem para alterar a composição e a estru- é uma ferramenta com a qual a maio-
tura da comunidade florestal, tornando- ria das pessoas está acostumada (PAUL;
-a mais vulnerável à invasão de espécies YAVITT, 2011). O corte pode ser realizado
exóticas e ao desequilíbrio populacional a aproximadamente um metro de altura
de espécies nativas (FARAH et al., 2014; em relação ao solo, de maneira seletiva
JOSHI; MUDAPPA; SHANKAR RAMAN, ou não (ver o Capítulo 4). Os resultados
2015). O comportamento dos organismos dos estudos já realizados apontam que
que podem ser introduzidos para o con- não é necessário que os indivíduos ma-
trole biológico de trepadeiras se torna nejados sejam removidos da copa das ár-
imprevisível nesse contexto, e não exis- vores, pois isso reduz o rendimento ope-
tem experimentos que tenham abordado racional, causa danos à copa das árvores
o controle biológico de trepadeiras nos e aumenta o risco de acidentes. As trepa-
ecossistemas brasileiros. Ao mesmo tem- deiras deixadas nas copas secam em pou-
po, as trepadeiras são representadas por cas semanas, o que diminui a área cober-
um grupo diverso (várias famílias botâ- ta das árvores, reduzindo a competição
nicas), o que inviabiliza o controle bioló- por luz, e caem naturalmente em menos
gico, que, geralmente, é específico e exer- de um ano e meio (Figura 5.2).
cido por um ou poucos agentes.

108 Manejo de fragmentos florestais degradados


A B C

Figura 5.2 – Indivíduo arbóreo infestado por trepadeiras: A) antes do manejo das trepadeiras; B) oito meses após
o manejo; C) 18 meses após o manejo.Fonte: César et al., 2016.

A perda da parte aérea também re- de trepadeiras no solo secou gradativa-


duz a competição radicular das trepa- mente e não inibiu localmente a emer-
deiras com as árvores por água e nu- gência da regeneração natural. Em ou-
trientes (SCHNITZER; KUZEE; BONGERS, tros casos, se a serapilheira ou o depósi-
2005). Em setores da floresta dominados to superficial de restos de poda das tre-
por trepadeiras ruderais, o manejo abre padeiras for muito espesso, o banco de
o dossel e aumenta a entrada de luz no sementes pode ser estimulado de forma
sub-bosque; no entanto, o dossel volta a mais eficiente com a operação de revol-
se fechar rapidamente. Em um estudo vimento do solo, acelerando a decompo-
realizado em um fragmento de FES per- sição do material podado e a incorpora-
turbado, César et al. (2016) observaram ção da matéria orgânica (FARAH, 2003).
que as árvores remanescentes reocupa- Os indivíduos que se regeneram nessas
ram o dossel dez meses após o manejo condições são aqueles que sobrevivem a
das trepadeiras. distúrbios e que conseguem resistir ao
Essa recuperação do dossel ocorre, em tempo em que permanecem sob a man-
um primeiro momento, pelas árvores ta de trepadeiras. Portanto, o manejo das
pioneiras que emergem do banco de se- trepadeiras hiperabundantes, em vez de
mentes, inibindo a rebrota e a germina- promover estresse nos indivíduos da re-
ção de trepadeiras por meio do sombrea- generação avançada, corresponde a uma
mento do sub-bosque, causado pelas co- oportunidade única para que eles sobre-
pas (ROZZA; FARAH; RODRIGUES, 2007). vivam e retomem o crescimento, con-
Em um experimento na Área de Relevan- tribuindo futuramente para a forma-
te Interesse Ecológico Mata de Santa Ge- ção do dossel.
nebra, a alta densidade de regenerantes Rozza, Farah e Rodrigues (2007), tam-
obtidos nas parcelas após o manejo mos- bém na Mata de Santa Genebra, testaram
trou que o acúmulo dos restos podados o manejo visando à restauração de man-

109
chas dominadas por lianas hiperabun- deiras aumentou a biomassa dos indiví-
dantes. O experimento considerou dife- duos arbóreos com DAP entre 1,58 cm e 5
rentes níveis de intensidade de manejo cm em menos de três anos após o manejo,
e testou: (a) o corte de lianas na área to- em relação às áreas sem manejo. Os mes-
tal da parcela; (b) o corte em faixas co- mos autores também observaram aumen-
brindo 50% da parcela; e (c) o corte pon- to na sobrevivência das mudas plantadas
tual de trepadeiras em um raio de 40 cm para o enriquecimento do fragmento em
ao redor do caule de árvores e arbustos. áreas com manejo de trepadeiras e um rá-
Após 24 meses de avaliação, observou-se pido fechamento do dossel pelas árvores
uma regeneração arbustivo-arbórea sig- em menos de dez meses após o manejo.
nificativamente maior no tratamento em Em todos os casos, é necessária uma
área total. Os tratamentos de intensida- definição clara dos objetivos do manejo
de menor não foram eficientes, pois es- de trepadeiras, além de um planejamen-
sas trepadeiras se alastram de maneira to de médio e longo prazo para as ações
muito vigorosa, fechando rapidamente de restauração, a fim de manter a susten-
as áreas de clareira, principalmente por tabilidade das áreas manejadas (ENGEL;
meio de rebrotas e pelo crescimento ho- FONSECA; OLIVEIRA, 1998). Em alguns
rizontal sobre o dossel da floresta nos li- fragmentos, a remoção das trepadeiras,
mites da área manejada. isoladamente, pode não ser suficiente
Ainda que apresentem esse compor- para o recrutamento de indivíduos ar-
tamento agressivo, formando grandes bóreos (CAMPANELLO et al., 2007). Ou-
emaranhados em áreas extensas de frag- tras ações, como os plantios de adensa-
mentos degradados, poucas espécies ru- mento e enriquecimento, discutidos an-
derais de trepadeiras tornam-se hipera- teriormente neste capítulo, podem ser
bundantes. Mello (2015) observou que so- necessárias nas áreas manejadas, caso a
mente três espécies ruderais representa- densidade de indivíduos arbóreos rege-
vam aproximadamente 30% dos indiví- nerantes obtidos seja baixa. Apesar dos
duos de trepadeiras em um fragmento vários estudos já desenvolvidos, os resul-
degradado em Piracicaba (SP), já Sfair et tados dos testes experimentais nem sem-
al. (2015) constataram que cinco espécies pre foram conclusivos, assim, muitos de-
de trepadeiras ocupavam mais de 50% safios permanecem em relação à efetivi-
dos indivíduos arbóreos em uma flores- dade, ao custo e à viabilidade operacio-
ta em Paulo de Faria (SP). nal do manejo de trepadeiras (CÉSAR et
Nesse contexto, o manejo dessas trepa- al., 2016; VIANI et al., 2015).
deiras pode favorecer o desenvolvimen-
to da comunidade arbustiva e arbórea no 5.2.4.2 Manejo de bambus
curto prazo (ver a discussão sobre o cor- Em determinados trechos muito pertur-
te seletivo de trepadeiras no Capítulo 4). bados de remanescentes florestais (por
Em um remanescente de FES, César et al. exemplo, abertos para plantio ou extra-
(2016) observaram que o manejo de trepa- ção de árvores ou acometidos por incên-

110 Manejo de fragmentos florestais degradados


dio), certas bambusoídeas de caule rela- mas décadas de crescimento (por exem-
tivamente fino e flexível, como as do gê- plo, para M. riedeliana, um intervalo de
nero Chusquea (taquari), por exemplo, ou 30-32 anos), indivíduos da mesma espé-
lenhoso, como as do gênero Guadua (ta- cie, em uma ampla distribuição geográ-
quara), ocupam o terreno em alta densi- fica, atingem o florescimento exatamen-
dade, escalam arbustos, árvores e palmei- te na mesma época, frutificam e senes-
ras. Nesses casos, as bambusoídeas assu- cem (GUILHERME; RESSEL, 2001). Nesse
mem um comportamento similar ao de momento, as touceiras secam, tombam
espécies invasoras ou trepadeiras hipe- e os colmos ficam depositados no solo,
rabundantes, exercendo forte competi- possibilitando a reocupação gradativa da
ção sobre as espécies arborescentes, di- área pela regeneração natural arbórea.
minuindo sua densidade e riqueza (LIMA Em remanescentes florestais de gran-
et al., 2012; ROTHER et al., 2013) e também de área, a previsão desse fenômeno e a
a riqueza de propágulos na chuva de se- constatação local de que os bambus ocu-
mentes (GROMBONE-GUARATINI et al., pam manchas restritas no espaço não
2014). Com base na correta identificação apresentam essas plantas como amea-
da espécie e na constatação de alta den- ça à estrutura florestal. Já em pequenos
sidade, pode ser necessária uma ação de remanescentes, as touceiras de bambu
raleamento, o que favorecerá a regenera- podem ocupar uma proporção relativa-
ção arbustivo-arbórea. mente grande da área total do fragmen-
Outras espécies de bambus exclusi- to. Nesse caso, o monitoramento da ex-
vamente lenhosos e não trepadores, por pansão vegetativa das touceiras de bam-
exemplo, os do gênero Merostachys, for- bu informará se estão competindo com
mam touceiras de taquaras, de grande as plantas dos outros grupos (arbustos,
porte em altura e diâmetro, compondo árvores, palmeiras etc.). A decisão de con-
manchas no terreno, porém, de modo mais trole de parte do bambuzal poderá ser to-
restrito que as espécies de bambusoídeas mada para possibilitar a manutenção da
anteriormente mencionadas. Dessa for- estrutura florestal e prevenir a perda de
ma, têm frequentemente suscitado dú- espécies. Portanto, a necessidade do ma-
vidas se deveriam ser objeto de manejo. nejo de bambus deve ser avaliada caso a
Fernandes, Miranda e Sanquetta (2007) caso, dependendo da espécie e do com-
não observaram efeito alelopático de portamento no local, sempre com base
Merostachys multiramea sobre Araucaria no monitoramento da expansão das tou-
angustifolia, o que poderia sugerir que os ceiras, bem como na avaliação da rique-
indivíduos dessa espécie arbórea encon- za vegetal associada a elas.
tram no bambuzal um nicho favorável
ao estabelecimento até atingir o dossel. 5.2.5 Controle e eliminação
Os bambus são conhecidos por eventos de espécies exóticas
de florescimento e frutificação maciços Frequentemente, em ecossistemas degra-
e sincronia eficiente, quando, após algu- dados as espécies exóticas se beneficiam

111
do ambiente alterado e ocupam nichos dispensável ao crescimento dessas her-
não tomados por espécies nativas. Assim, báceas, por exemplo, em áreas de borda,
as espécies exóticas invasoras podem al- nas grandes clareiras e em fragmentos
terar funções no ecossistema, como a que sofreram alterações grandes, como
ciclagem de nutrientes, competir com incêndios e desmatamentos. Da mesma
espécies nativas por recursos e interfe- forma, as herbáceas são o principal pro-
rir na sucessão secundária, ao impedir blema a ser superado nos projetos de res-
a regeneração natural de espécies na- tauração florestal de áreas abertas des-
tivas, dentre outros efeitos deletérios matadas. Um grupo importante de her-
(VITOUSEK et al., 1997). Em alguns ca- báceas invasoras em remanescentes flo-
sos, a presença dessas espécies não re- restais é o das gramíneas, formado espe-
presenta uma ameaça ao equilíbrio do cialmente por espécies originárias das
ecossistema e, em áreas degradadas ou savanas africanas, que foram dissemi-
em processo de restauração, é possível nadas pelo mundo para uso em pasta-
até utilizá-las como aliadas na recupe- gens, pelo alto vigor do metabolismo C4,
ração do ecossistema (D’ANTONIO; ME- pela grande facilidade de dispersão de
YERSON, 2002). sementes, pelo crescimento rápido, pela
Quando as espécies exóticas se tor- rusticidade e capacidade de rebrota. Em
nam invasoras, no entanto, podem do- virtude dessas características, essas gra-
minar a comunidade ou interferir de míneas tendem a ganhar a competição
forma negativa na sucessão do ecossis- com as espécies nativas, abafando a ger-
tema. Nesses casos, é necessário implan- minação e o estabelecimento dos indiví-
tar ações de controle e manejo dessas es- duos arbustivo-arbóreos (CÉSAR et al.,
pécies, a fim de auxiliar a recuperação 2014; HOLL et al., 2000; MANTOANI; TO-
do ecossistema. Neste subitem, discuti- REZAN, 2016). Podemos citar alguns gê-
mos estudos que manejaram dois gru- neros importantes, como Urochloa spp
pos de espécies exóticas que podem al- (braquiárias), Panicum sp (colonião) e
terar e estagnar a sucessão de uma co- Melinis sp (capim-gordura).
munidade em florestas secundárias de- Tradicionalmente, o controle de gra-
gradadas: as herbáceas invasoras, espe- míneas tem sido realizado mecanica-
cialmente as gramíneas africanas, e as mente (com roçadeira) ou quimicamen-
espécies arbóreas invasoras. te (com herbicidas). A segunda opção ge-
ralmente apresenta melhor custo-be-
5.2.5.1 Controle de herbáceas invasoras nefício (CÉSAR et al., 2013). Na restau-
Em ambientes muito alterados, a rege- ração de áreas abertas, após o contro-
neração frequentemente é impedida le inicial, tem sido utilizada a cobertu-
pela competição com espécies herbáceas ra do solo com espécies de adubos ver-
invasoras. Em fragmentos degradados, des, que, nos primeiros anos do projeto,
essa situação é mais comum em áreas apresenta excelente desempenho para
de alta incidência luminosa, fator in- sombrear o terreno, impedindo a germi-

112 Manejo de fragmentos florestais degradados


nação e o crescimento das herbáceas in- tal, falhas grosseiras na fase inicial do
vasoras e criando um habitat favorável processo de restauração levam à perma-
ao estabelecimento das plantas arbus- nência das gramíneas por tempo inde-
tivo-arbóreas. No caso das herbáceas, o terminado, mantendo o sistema em um
sombreamento do terreno impede que estado estável que dificilmente será re-
haja o crescimento das rebrotas e, após vertido naturalmente. Entre essas fa-
alguns anos, as herbáceas invasoras se lhas, podemos citar a falta de contro-
extinguem (BRANCALION; GANDOLFI; le inicial e periódico eficiente das gra-
RODRIGUES, 2015). Essa estratégia ainda míneas nos primeiros anos do projeto,
não foi testada para o manejo de rema- a escolha errada das espécies arbóreas
nescentes degradados, entretanto, po- para o plantio, associada à alta mortali-
tencialmente, pode apresentar resul- dade dos indivíduos, a definição errada
tados interessantes na cicatrização de da proporção de indivíduos de um gru-
clareiras e no sombreamento da área. po funcional para plantar (por exem-
Em todos os casos, ações de restau- plo, uso predominante de indivíduos
ração que promovam o rápido estabe- não recobridores do terreno). Essas li-
lecimento inicial de uma estrutura flo- ções podem ser trazidas para a prática
restal, cicatrizando grandes clareiras e do manejo de remanescentes, visto que,
áreas abertas dentro dos fragmentos, em áreas de grandes clareiras, mesmo
podem diminuir grandemente os cus- no interior do remanescente, é muito
tos gerais da restauração, por abreviar comum encontrar touceiras de gramí-
o tempo dedicado ao controle das gra- neas africanas que impedem a regene-
míneas. Em projetos de restauração em ração natural e estagnam a sucessão da
áreas abertas, com o plantio em área to- comunidade (Figura 5.3).

A B

Figura 5.3 – Presença de gramíneas em remanescentes florestais degradados: (A) gramíneas ocupando uma clarei-
ra no interior de um remanescente; (B) sub-bosque sem regeneração natural, ocupado por gramíneas. Fotografias:
Julia Raquel Mangueira.

113
5.2.5.2 Controle de espécies comuns nas matas de interior da Flores-
arbóreas invasoras ta Atlântica. Algumas espécies podem
As espécies arbóreas invasoras repre- ser consideradas invasoras em todas as
sentam um grande desafio para a res- regiões brasileiras e, por isso, quando
tauração ecológica. Elas ocorrem em encontradas em remanescentes flores-
ambientes que sofreram algum distúr- tais, seu controle e manejo devem ser
bio, natural ou antrópico, estabelecem- prioritários (por exemplo, Acacia man-
-se e dominam o ambiente, em razão de gium, Leucena leucocephala, Melia aze-
algumas características que favorecem darach, entre várias outras – ver revi-
seu comportamento competitivo, den- são em ZENNI; ZILLER, 2011) (Figura 5.4).
tre elas: período juvenil curto; alto po- No entanto, a densidade de algumas de-
tencial de dispersão da espécie (muitas las deve ser avaliada localmente. Como
delas são atrativas de fauna); alta taxa exemplo, Psidium guajava (goiabeira) é
de germinação e estabelecimento; lon- uma espécie nativa da América do Sul
go tempo de vida e persistência no am- que se comporta como ruderal, em vir-
biente (D’ANTONIO; MEYERSON, 2002; tude da fácil dispersão pela fauna. Na
REJMANEK; RICHARDSON, 1996). Exis- maioria das regiões, a baixa densidade
tem diversas iniciativas de manejo e de indivíduos dessa espécie não exerce
controle dessas espécies, especialmen- interferência negativa, pelo contrário,
te em áreas abertas e plantios homogê- fornece recursos alimentares, poleiros
neos (DECHOUM; ZILLER, 2013). Essas ex- e abrigo para a fauna, o que favorece
periências podem orientar a prática de muito o processo de sucessão ecológica.
manejo em remanescentes degradados. Em determinados sítios, por outro lado,
No Apêndice, apresentamos uma lis- os indivíduos de P. guajava ocorrem em
ta das espécies arbóreas invasoras mais densidade elevada, a ponto de formar
frequentemente encontradas em áreas maciços quase homogêneos, o que suge-
naturais perturbadas ou em processo re a necessidade de raleamento de parte
de restauração florestal. Leucena leuco- dos indivíduos, para permitir a diversi-
cephala e Pinus spp são algumas das es- ficação gradativa da flora pelo ingresso
pécies arbóreas exóticas invasoras mais de novas espécies.

114 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 5.4 – Indivíduos da espécie arbórea invasora Acacia mangium, em projeto de restauração florestal no esta-
do da Bahia. Fotografia: Fabiano Farah.

Nos casos em que há necessidade de sejam monitoradas periodicamente, a


manejo dessas espécies, tem sido utiliza- fim de se observar se a regeneração na-
do o raleamento ou o corte de baixo im- tural de espécies nativas está ocorrendo
pacto dos indivíduos, de qualquer ida- ou se as espécies exóticas invasoras per-
de, que pode ser feito com facão ou mo- sistem, caso em que devem ser controla-
tosserra, dependendo do porte da plan- das novamente.
ta. A aplicação de herbicida no toco di-
minui muito (e, em alguns casos, elimi- 5.3 Rendimento operacional e gargalos
na) a possibilidade de rebrota, aumen- econômicos da prática de manejo
tando a eficácia do controle desses in- de remanescentes florestais
divíduos (DECHOUM; ZILLER, 2013). No Um dos gargalos para que a restauração
caso de indivíduos jovens, o controle an- ecológica de fragmentos florestais degra-
tes da idade reprodutiva previne a dis- dados ganhe escala é a falta de incenti-
persão de sementes e o estabelecimento vo financeiro, principalmente quando
de mais indivíduos, diminuindo a pos- o objetivo do manejo é potencializar o
sibilidade de reocupação da área. O mais papel de conservação da biodiversidade
importante, no entanto, é que essas áreas que esses fragmentos já desempenham

115
(BRANCALION et al., 2012a; VIANI et al., de interesse econômico (PINHO et al.,
2015; VIDAL et al., 2016). Dentro de pro- 2009). Esses valores dificilmente podem
priedades rurais, as matas ribeirinhas, ser extrapolados para estimar o rendi-
os topos de morro e as encostas estão pro- mento operacional do manejo de trepa-
tegidos como Área de Preservação Per- deiras para a recuperação de fragmen-
manente. Além disso, pelo menos mais tos florestais degradados, em razão das
uma porcentagem da área da proprieda- diferenças entre os métodos de manejo
de também deve estar coberta com ve- e a estrutura da vegetação entre flores-
getação nativa, protegida como Reserva tas conservadas e perturbadas.
Legal (Lei 12.651/2012). Embora esse seja César (2013) estimou que seriam ne-
um grande avanço na proteção de frag- cessários, em média, 88,3 ± 45,0 homens-
mentos de florestas na propriedade ru- -hora (hh) por hectare (ha) para o corte
ral (localizados majoritariamente den- de todas as trepadeiras (mínimo de 25,4
tro de propriedades privadas; SOARES-FI- e máximo de 200,2 hh/ha), em um frag-
LHO et al., 2014), não há nenhuma obri- mento em Piracicaba (SP). Em setores de-
gação legal que exija que os proprietá- gradados do Parque Estadual de Vassu-
rios das terras mantenham a qualida- nunga, em Santa Rita do Passa Quatro,
de desses fragmentos, apenas sua estru- foram estimados 216 ± 40 hh/ha para ma-
tura. Além disso, iniciativas de incenti- nejar todas as trepadeiras (dados ainda
vo financeiro que estimulem o manejo inéditos, coletados por Felipe de Arantes
desses remanescentes, como o pagamen- Mello e Luciana de Carvalho em 2016), o
to por serviços ambientais, ainda são tí- que representa um rendimento pelo me-
midas e pouco abrangentes (SEEHUSEN; nos cinco vezes menor do que o mane-
CUNHA; OLIVEIRA Jr., 2011). jo de trepadeiras em áreas conservadas
Ainda é escassa a literatura que abor- (GRAUEL; PUTZ, 2004; PÉREZ-SALICRUP
da o custo e o rendimento operacional et al., 2001; VIDAL et al., 1997). Consideran-
do manejo de fragmentos. A maioria dos do o valor da diária de um trabalhador
trabalhos, e mesmo os estudos que abor- como R$ 150,00, o manejo de trepadeiras
dam técnicas tradicionais de restaura- custaria, em Piracicaba, cerca de R$ 1.656
ção ecológica, como semeadura direta e ± 844/ha e, no PE Vassununga, R$ 4.050
plantio de mudas em áreas abertas, dis- ± 750/ha. Mangueira, Holl e Rodrigues
cutem pouco o custo e a viabilidade ope- (no prelo) encontraram um valor apro-
racional dos projetos (PALMA; LAURAN- ximado de R$ 85,1/ha e R$ 902,00/ha para
CE, 2015). Os poucos trabalhos que abor- a implantação de um enriquecimento
dam o custo do manejo de trepadeiras, de remanescentes, utilizando, respecti-
por exemplo, foram desenvolvidos no vamente, semeadura direta e plantio de
contexto de produção madeireira em flo- mudas nativas de quatro espécies arbó-
restas tropicais sem perturbações seve- reas nativas finais de sucessão.
ras, onde o corte de trepadeiras era rea- A variação nos custos dessas ativida-
lizado apenas em árvores individuais des pode ser resultado de diversos fato-

116 Manejo de fragmentos florestais degradados


res que afetam o rendimento operacio- cluindo espécies exóticas), o que reduz
nal do manejo de fragmentos, o que in- a oferta de espécies finais de sucessão e
terfere diretamente no custo do projeto. de outras formas de vida. Estes últimos
Apesar da falta de estudos, observações grupos englobam as principais espécies
empíricas apontam que a facilidade de necessárias para o enriquecimento de
deslocamento na área a ser manejada, a florestas secundárias para fins de con-
abundância de trepadeiras, a presença de servação da biodiversidade. Geralmente,
pernilongos e/ou carrapatos, a experiên- essas espécies estão disponíveis nos vi-
cia e a motivação da equipe, a tempera- veiros em número reduzido ou em bai-
tura e, até mesmo, o período do dia em xa quantidade de mudas.
que o manejo é realizado podem afetar o
rendimento operacional. César (2013) ob- 5.4 Manejo adaptativo de
servou relações contraintuitivas entre o remanescentes florestais:
rendimento do manejo de trepadeiras e propostas para orientar a prática
as características da floresta perturbada: Neste capítulo, revisamos os trabalhos
o tempo necessário estimado para ma- científicos que abordam estratégias de
nejar as trepadeiras diminui conforme manejo para lidar com os diversos fa-
aumenta a abundância de trepadeiras tores de degradação aos quais os frag-
com mais de um centímetro de diâme- mentos florestais inseridos em paisa-
tro, ao passo que o manejo requer mais gens agrícolas tecnificadas estão perma-
tempo em locais com maior número de nentemente expostos. Mesmo após esses
árvores com DAP > 5 cm. Essas relações fragmentos serem manejados para po-
ocorrem, provavelmente, porque, em tencializar seu papel de conservação da
florestas tropicais perturbadas, o mane- biodiversidade remanescente, eles con-
jo de trepadeiras em áreas com mais ár- tinuam recebendo influência negativa
vores é realizado com mais cautela para dos fatores de perturbação oriundos da
não danificar esses indivíduos, já as par- área agrícola do entorno. Nesse contex-
celas com elevada abundância de trepa- to, o conceito de manejo adaptativo re-
deiras tendem a apresentar dossel bai- presenta a melhor abordagem para ma-
xo e poucos indivíduos arbóreos, como nejo dos fragmentos florestais degrada-
uma clareira, o que facilita o manejo de dos, pois considera que sempre será ne-
trepadeiras em área total. cessário reavaliar a situação ambiental
Existem outros gargalos na cadeia de após o manejo e referendar ou redefinir
restauração que limitam a implantação as estratégias.
de estratégias de manejo em larga escala, A primeira etapa para que qualquer
desde a coleta de sementes até a produ- projeto de restauração tenha possibi-
ção e distribuição de mudas. Usualmen- lidade de sucesso é um diagnóstico de
te, a produção dos viveiros está restrita cada situação ambiental de degradação,
às espécies mais comuns utilizadas em incluindo a observação da escala espa-
plantios (de generalistas a pioneiras, in- cial (local e paisagem regional) (Figura

117
5.5). Nesse diagnóstico, devem ser iden- das situações de degradação dos frag-
tificados os trechos degradados e, para mentos florestais, com consequências
cada situação de degradação, recomen- imprevisíveis para a biodiversidade re-
damos uma abordagem de manejo dife- manescente. Nesse sentido, recomenda-
renciada, inicialmente aplicada em ca- mos sempre um delineamento experi-
ráter experimental, em pequena escala, mental, incluindo áreas não manejadas
com posterior avaliação dos resultados como controle, possibilitando a mensu-
obtidos, rediscussão das ações realiza- ração do ganho efetivo das ações efetiva-
das e adoção ou não de ações corretivas, das de manejo. Da mesma forma, deve-
sempre na busca dos melhores resulta- mos comparar o ganho nos parâmetros
dos ecológicos. Essa estratégia permite ecológicos, comparando a área maneja-
uma ampliação gradativa da escala de da no tempo inicial (antes do manejo) e
manejo, incrementando a possibilidade final (após o manejo). Essa abordagem
de sucesso. Essa precaução em relação à permite a avaliação e a redefinição das
escala evita a aplicação de ações de ma- ações de restauração para a área, bem
nejo não devidamente testadas em todo como o registro da experiência de ma-
o fragmento, o que tem grande chance nejo para novas situações de florestas
de insucesso, dada a heterogeneidade degradadas a serem restauradas.

118 Manejo de fragmentos florestais degradados


Planejamento do Manejo Adaptativo visando à
Restauração Ecológica de Remanescentes Florestais Degradados

Ecossistema Delineamento experimental do


manejo adaptativo
Diagnóstico periódico
com esforço amostral adequado
(abrangência espacial) Hipóteses

Fisionômico: Dinâmico: H0: O manejo não resultará em melhorias


Avaliação do estado Avaliação da trajetória para o ecossistema
de conservação do ecossistema H1: nas áreas manejadas, serão observadas
• Pontual no tempo • Temporal, diferenças significativas nos parâmetros
• Principalmente com duração ecológicos avaliados, havendo avanços
qualitativo indeterminada quando comparados:
• Qualitativo e (a) o tratamento nos tempos inicial e final;
quantitativo e (b) o tratamento com manejo vs
tratamento testemunha

Resultado
Tratamento sem manejo
(testemunha)

Ecossistema Ecossistema
conservado degradado Tratamento com manejo
• Pequena escala espacial
Comparação estatística dos resultados • Estratificação por situação
ambiental

Melhor resultado Tratamento


A
Tratamento
B
Tratamento
C

Testemunha Tratamento A, B ou C
Repensar estratégias • Realizar monitoramento
de manejo • Delinear novos experimentos

Figura 5.5 – Proposta teórica de delineamento de experimentos, visando à restauração ecológica de remanescentes
florestais degradados. Fonte: Elaboração própria.

119
Considerando os principais fatores de apresentar elevada heterogeneidade es-
degradação discutidos neste capítulo, a pacial, tanto qualitativa (variação nas es-
Figura 5.5 ilustra uma proposta de estra- pécies) quanto quantitativamente (varia-
tégia de manejo adaptativo de fragmen- ção no número de indivíduos), em decor-
tos florestais degradados inseridos em rência dos diferentes históricos de per-
paisagem agrícola tecnificada, quando turbação de cada trecho do fragmento.
o objetivo do manejo for a conservação Dessa forma, o monitoramento da área
da biodiversidade. Como já dito, a retira- em restauração é essencial para que se-
da dos fatores de perturbação deve ser o jam adotadas as ações mais adequadas,
primeiro passo, como estratégia de fa- segundo os resultados obtidos em cada
vorecimento e condução da regenera- momento (ver discussões no Capítulo 6).
ção natural em áreas muito perturba- No caso de áreas em que, por exemplo, o
das. A retirada desses fatores e o contro- corte de trepadeiras ou o revolvimento
le de espécies competidoras (nativas ou do solo não tenham levado à indução do
exóticas) deve propiciar a reocupação da banco de sementes de pioneiras e de reco-
área com espécies nativas arbustivo-ar- brimento, deve ser realizado o plantio de
bóreas e palmeiras pioneiras num pri- adensamento. Já em áreas onde foi reali-
meiro momento. É importante reiterar, zado o adensamento, porém sem ingres-
como afirmamos anteriormente, que a so de novas espécies, deve ser efetuado o
expressão da regeneração natural pode plantio de enriquecimento (Figura 5.6).

Trecho degradado de floresta

Retirada dos fatores de degradação Controle de plantas competidoras


(fogo, gado etc.) (gamíneas, árvores invasoras, lianas etc.)

Tempo para expressão da regeneração natural Avaliação

Deficiente
Plantio de Formação de coberturade copas inicial
adensamento (cicatrização de clareiras)
Eficiente

Tempo para expressão da regeneração natural Avaliação

Monitoramento Plantio de Baixo


enriquecimento
periódico Ingresso de novas
espécies regionais
Alto

Figura 5.6 – Esquema geral, visando à restauração de um trecho degradado de remanescente florestal, baseado em
avaliações periódicas da expressão da regeneração natural ou do plantio de espécies nativas regionais e respecti-
vas ações de manejo adaptativo. Fonte: Elaboração própria.

120 Manejo de fragmentos florestais degradados


O manejo de trepadeiras deve conside- nejo, a frequência adequada e o tempo
rar, além da rebrota dos indivíduos ma- total de corte de trepadeiras são fatores
nejados, a reinfestação das parcelas por fundamentais para o sucesso da restau-
trepadeiras dos demais trechos do frag- ração. Na literatura, existem projetos de
mento, através das bordas da área ma- manejo bimensal (ROZZA; FARAH; RO-
nejada, o que diminuiria a efetividade DRIGUES, 2007), com frequência de 6-7
do manejo. Por isso, recomendamos que meses (AMADOR; VIANA, 2000) e até de
as parcelas de manejo apresentem a me- 8-10 meses (CÉSAR et al., 2016). No entanto,
nor relação perímetro/área possível (Fi- são necessários mais estudos sobre a fre-
gura 5.7). O manejo visando à recupera- quência do manejo de trepadeiras, con-
ção da estrutura florestal realizado em siderando a frequência de reinfestação e
“faixas” dentro do fragmento florestal re- o desenvolvimento da vegetação nativa.
sulta em trechos rapidamente reocupa- O controle de trepadeiras só será efetivo
dos por trepadeiras; portanto, o manejo se for feito até o completo fechamento
em áreas circulares ou quadradas é po- do dossel pelos indivíduos arbóreos pre-
tencialmente mais efetivo (Figura 5.7). sentes na comunidade florestal, seja pela
Além do formato da parcela de ma- regeneração natural, seja pelo plantio.
126 m

630 m² • 81% 5m

25 m

630 m² 630 m²
25 m 28,3 m

29% 26%

Figura 5.7 – Diferentes formatos de parcelas para manejo de trepadeiras em fragmentos florestais degradados.Os
diferentes formatos apresentam diferentes proporções de área suscetível à reinfestação por trepadeiras pelas bor-
das (definida arbitrariamente a dois metros da borda da parcela), vindas da floresta não manejada. Os números
entre parênteses indicam a proporção da área manejada suscetível à infestação de trepadeiras provenientes das
bordas. As parcelas circulares ou quadradas seriam potencialmente mais efetivas para o manejo de trepadeiras. A
área total das formas foi arredondada para a dezena superior mais próxima. Fonte: Elaboração própria.

5.5 Considerações como a comunidade florestal responde


Ainda existem enormes lacunas no co- às ações de manejo. Com base no conhe-
nhecimento que norteia a prática da res- cimento acumulado até agora, no entan-
tauração de fragmentos. Não se sabe, até to, já se pode afirmar que a restauração
o momento, quais são as melhores estra- ecológica de florestas secundárias de-
tégias de manejo em cada situação am- gradadas é possível, desde que observa-
biental e pouco se sabe sobre a maneira dos alguns pontos:

121
1) Gestão adequada. Por se tratar de um sos d’água. O aumento da conectividade
trabalho de longo prazo, é preciso com- na paisagem possibilitará o trânsito de
promisso e planejamento dos recursos até animais polinizadores e dispersores de
que o processo se conclua, caso contrário, sementes, consequentemente, viabiliza-
haverá perda dos recursos investidos. rá a sustentabilidade dos ecossistemas
2) Conhecimento do ecossistema e uso em processo de restauração.
adequado da resiliência local. Estraté- 4) Manejo adaptativo. Onde a resiliên-
gias como a regeneração natural, sem- cia não for expressa, onde o manejo não
pre que possível, proporcionam mais surtir o efeito desejado ou após a obser-
benefícios ecológicos, em menor tem- vação de novos distúrbios, novas decisões
po de restauração e com redução de cus- deverão ser tomadas. Dessa forma, o ma-
tos. Naturalmente, isso implica a com- nejo adaptativo representa um aprimo-
preensão dos elementos e da dinâmica ramento contínuo das estratégias e ações,
do ecossistema local. em decorrência da natureza intrinseca-
3) Uso da resiliência regional. Em mé- mente dinâmica do ecossistema. Obvia-
dio e longo prazo, a restauração só será mente, esse processo só pode funcionar
efetiva se houver uma abordagem no ní- com um trabalho contínuo de monito-
vel da paisagem, interligando o remanes- ramento, por meio do qual sejam reali-
cente florestal em restauração a outros, zadas avaliações periódicas dos parâme-
por exemplo, aproveitando as áreas de tros ecológicos observados e traçadas ten-
preservação permanente, que são natu- dências para o ecossistema em restaura-
ralmente áreas que atravessam grandes ção, que deve sempre ser comparado com
paisagens, por estarem associadas a cur- ecossistemas de referência.

122 Manejo de fragmentos florestais degradados


APÊNDICE
Listagem de espécies arbóreas e palmeiras invasoras (exóticas e nativas não
regionais) que devem ser controladas nos projetos de restauração

FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR


ANACARDIACEAE Schinus terebinthifolius Raddi** Aroeira-pimenteira

Mangifera indica L. Mangueira

Archontophoenix cunninghamiana Palmeira-australiana,


ARECACEAE
(H.Wendl.) H.Wendl. & Drude palmeira-real-da-austrália

Caryota urens L. Palmeira-rabo-de-peixe

Dendê, coqueiro-de-dendê,
Elaeis guineensis Jacq.
palma-de-guiné

Euterpe oleracea Mart.** Açaí

Livistona chinensis (Jacq.)


Palmeira-leque-da-china
R.Br. ex Mart.
Árvore-da-bisnaga, espatódea,
BIGNONIACEAE Spathodea campanulata P. Beauv.
tulipa-africana
Ipê-amarelo-de-jardim, amarelinho,
Tecoma stans (L.) Juss. ex Kunth.
guarã-guarã, ipê-mirim
Ameixa-assíria, babosa-
BORAGINACEAE Cordia abyssinica R. Br. ex A. Rich.
branca, porangaba
Ameixa-assíria, babosa-
Cordia africana Lam.
branca, porangaba
Ameixa-assíria, babosa-
BORAGINACEAE Cordia myxa L.
branca, porangaba

CASUARINACEAE Casuarina equisetifolia L. Casuarina

Amendoeira, castanhola, castanheira,


COMBRETACEAE Terminalia catappa L.
chapéu-de-sol, sete-copas, sombreiro

FABACEAE Acacia mangium Willd. Acácia-australiana

Acacia mearnsii De Wild. Acácia-negra, mimosa

Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit. Leucena, acácia-pálida

Mimosa caesalpiniifolia Benth.** Sansão-do-campo, sabiá, cebiá

124 Manejo de fragmentos florestais degradados


FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME POPULAR
Maricá,espinho-de-maricá, alagadiço,
Mimosa bimucronata (DC.) Kuntze**
amorosa, espinheiro-de-cerca, silva

MALVACEAE Pachira aquatica Aubl.** Monguba, castanha-do-maranhão

MELIACEAE Melia azedarach L. Santa-bárbara, cinamomo, paraíso

MORACEAE Artocarpus heterophyllus Lam. Jaqueira

MUSACEAE Musa spp Bananeira

MYRTACEAE Psidium guajava L.** Goiabeira

Syzygium cumini (L.) Skeels Jambolão, jamelão, azeitona-preta

OLEACEAE Ligustrum japonicum Thunb. Alfeneiro-do-japão, ligustro

Ligustrum lucidum W.T.Aiton Alfeneiro-do-japão, ligustro

PINACEAE Pinus spp Pinheiro

PITTOSPORACEAE Pittosporum undulatum Vent. Incenso

Uva-do-japão, uva-japonesa,
RHAMNACEAE Hovenia dulcis Thunb.
banana-do-japão, passa-japonesa

ROSACEAE Eriobotrya japonica (Thunb.) Lindl. Nêspera, ameixa-amarela

RUTACEAE Clausena excavata Burm.f. Vampi-do-vietnã

Murraya paniculata (L.) Jack Murta-dos-jardins

** Essas espécies brasileiras costumam se comportar como invasoras quando plantadas fora das regiões de ocor-
rência natural, devendo ser controladas. Fonte: Elaboração própria.

125
6 MONITORAMENTO ECOLÓGICO DE
FRAGMENTOS FLORESTAIS: UMA
PROPOSTA INICIAL DE PROTOCOLO
Ricardo Augusto Gorne Viani1;
Felipe Nery Arantes Mello2;
Vanessa Jó Girão3;
Laís Santos de Assis4

E
ste capítulo traz um panorama geral sobre o monitoramento ecológi-
co de fragmentos florestais com vistas à restauração, demonstrando sua
importância para a melhoria da qualidade dos remanescentes florestais.
Apresentamos os principais protocolos de monitoramento existentes para
restauração em áreas desflorestadas e, por fim, propomos indicadores prioritá-
rios e um protocolo inicial para monitoramento e avaliação da trajetória ecoló-
gica de fragmentos florestais na Mata Atlântica, voltado principalmente para a
fisionomia de Floresta Estacional Semidecidual (FES).

6.1 C
 ontextualização dos fragmentos co entre populações, e também pela po-
florestais degradados tencialização de outros fatores de per-
A fragmentação de habitat e a degrada- turbação, como incêndios (Figura 6.1),
ção da cobertura florestal nativa decor- extração de madeira (Figura 6.2), caça,
rentes de distúrbios antrópicos resultam invasão biológica, deriva de herbicidas,
em diversas alterações nos remanescen- pastoreio, descarga de enxurrada pro-
tes florestais, que afetam sua composi- veniente de áreas agrícolas e diversos
ção, sua estrutura e seu funcionamento outros fatores que contribuem para a
(LAURANCE, 2002; PÜTZ et al., 2011). Es- degradação de processos ecológicos em
sas alterações ocorrem pelo isolamento remanescentes florestais (TABARELLI
reprodutivo, que restringe o fluxo gêni- et al., 2005).

1 Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais, campus de Araras.
2 Departamento de Ciências Biológicas, Marquette University.
3 The Nature Conservancy.
4 Fundação José Pedro de Oliveira.

126 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 6.1 – Área de FES nativa durante incêndio, um dos fatores de perturbação de fragmentos florestais. Fotogra-
fia: Gilcimar Santana.

Nesse contexto de excessiva fragmen-


tação, antropização e consequente degra-
dação da paisagem em várias regiões tro-
picais do planeta, a conservação e a res-
tauração dos remanescentes florestais de-
vem ser prioridade (VIANI et al., 2015). A
qualidade dos fragmentos chega mesmo
a constituir um gargalo para a restaura-
ção das áreas desprovidas de sua vegeta-
ção nativa, que é o foco principal dos pro-
gramas de restauração florestal. Os rema-
nescentes degradados continuam sendo
o principal e mais importante reservató-
rio de biodiversidade regional (DOS SAN-
TOS; KINOSHITA; SANTOS, 2007) e desem-
penham papel relevante na colonização
das áreas em processo de restauração do
entorno, assegurando sua perpetuação, as-
sim como seu enriquecimento continuado
Figura 6.2 – Extração de madeira, um dos fatores de per-
turbação de fragmentos florestais. Fotografia: Ricaro Au-
(RODRIGUES et al., 2011; VIANI et al., 2015).
gusto Gorne Viani.

127
A restauração ecológica de ecossiste- mento florestal degradado com vistas à
mas naturais tem importância reconhe- restauração, é necessário entender e de-
cida mundialmente e, hoje, existem vá- finir o que seja realmente um fragmen-
rios programas de restauração com me- to “degradado”. O conceito de degrada-
tas globais ambiciosas (SUDING et al., ção é complexo e uma padronização, a
2015). Entretanto, a qualidade dos frag- fim de caracterizar e monitorar rema-
mentos florestais em paisagens degra- nescentes florestais em tal situação, pode
dadas é frequentemente negligenciada ajudar a guiar intervenções adequadas,
em programas de restauração e se acre- que condigam com as necessidades de
dita que tais remanescentes estejam pas- recuperação dos ecossistemas florestais
sando por um processo de perda de bio- (GHAZOUL et al., 2015; MORI et al., 2017).
diversidade, estrutura e funções ecos- Assim, uma demanda inicial importan-
sistêmicas. Assim, entre pesquisadores te é reconhecer os indicadores ecológi-
e especialistas, vislumbra-se uma nova cos essenciais e seus níveis insatisfató-
tendência na restauração florestal, que rios e desejados, que, consequentemen-
consiste na intervenção e na melhoria te, expressem o nível de degradação ou
dos remanescentes florestais degrada- de conservação dos fragmentos flores-
dos, com vistas à conservação da biodi- tais de uma região específica.
versidade e à provisão de serviços ecos- Não há protocolos bem estabeleci-
sistêmicos (VIANI et al., 2015). dos de avaliação da qualidade e do grau
Essa nova tendência de intervenção de degradação de fragmentos florestais
permitiria isolar e manejar fatores de de- com base em indicadores ecológicos da
gradação, com o objetivo de potencializar vegetação (biomassa, diversidade etc.).
a dispersão e o fluxo gênico para as áreas Por outro lado, existem protocolos de
do entorno, contribuindo para o processo monitoramento já em aplicação para a
de regeneração natural, que é essencial à restauração florestal em áreas desprovi-
sustentabilidade da restauração executa- das de floresta que incluem níveis de re-
da nas áreas desflorestadas. Argumenta- ferência para os indicadores (CHAVES et
se, também, que essas intervenções que al., 2015; VIANI et al., 2017). Porém, pouco
visam à melhoria da qualidade de frag- ou nada foi discutido ou testado sobre a
mentos florestais degradados permiti- aplicação destes em áreas que já apre-
riam, em muitos casos, um melhor cus- sentam uma cobertura florestal estabe-
to-benefício na conservação da biodiver- lecida, como é o caso dos fragmentos flo-
sidade e na provisão de serviços ecossis- restais. Desse modo, fica clara a necessi-
têmicos na paisagem, quando compara- dade de estudar indicadores ecológicos
das com intervenções de restauração rea- e procedimentos adequados para o mo-
lizadas em áreas desflorestadas bastante nitoramento da trajetória dos fragmen-
degradadas e isoladas (VIANI et al., 2015). tos florestais degradados.
Entretanto, antes de se tomar qual- Assegurar a evolução de áreas em pro-
quer decisão sobre o manejo de um frag- cesso de restauração florestal só é possí-

128 Manejo de fragmentos florestais degradados


vel por meio de um processo contínuo Ainda são escassos os estudos sobre
de avaliação empírica dos erros e acer- restauração de fragmentos florestais de-
tos das ações de restauração no tempo. gradados em unidades ecológicas com in-
Portanto, o monitoramento frequente e tenso efeito de borda e/ou clareiras domi-
de longo prazo das ações de restauração nadas por trepadeiras. O corte das trepa-
porventura executadas nos fragmentos deiras abundantes em condições de de-
florestais tem de ser prioridade. Esse mo- gradação tem sido apresentado como al-
nitoramento deve ser pontual, buscando ternativa para favorecer a regeneração e
avaliar a trajetória sucessional em cada o crescimento das árvores (CÉSAR et al.,
região e também considerando o contex- 2016; ENGEL; FONSECA; OLIVEIRA et al.,
to da paisagem. O monitoramento ecoló- 1998; TYMEN et al., 2016; VIANI et al., 2015),
gico dos fragmentos florestais, além de pois contribui para o aumento da taxa de
importante etapa da tomada de decisão crescimento, o acúmulo de biomassa, a
sobre a necessidade de novas interven- cobertura de dossel e a produção de fru-
ções, permitiria avaliar o potencial de tos das espécies arbóreas (GARCÍA-LEÓN
um dado fragmento como fonte de pro- et al., 2018; PUTZ, 1991; SCHNITZER et al.,
págulos para projetos de restauração ou 2014) (Figuras 6.3, 6.4 e 6.5). Porém, pou-
conservação das áreas do entorno. Além co se sabe sobre as consequências desse
disso, serviria como forma de aquisição corte para a conservação da biodiversi-
de informações, tanto para a restauração dade local. Além disso, não são todas as
florestal em áreas abertas quanto para a trepadeiras que são consideradas “agres-
restauração de fragmentos degradados, sivas” e que se tornam abundantes com
pois permitiria avaliar temporalmente, a degradação. Existem espécies que ocor-
após o manejo, indicadores importan- rem naturalmente em baixas abundân-
tes nesses fragmentos, visto que, como cias, consideradas raras. Esses fatos en-
já foi dito, há poucos dados disponíveis dossam a necessidade de evoluirmos no
sobre restauração de remanescentes flo- monitoramento contínuo desses frag-
restais degradados. mentos florestais degradados.

129
Figura 6.3 – Área no Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), antes do corte de trepadei-
ras. Fotografia: Ricardo Augusto Gorne Viani.

Figura 6.4 – Área no Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), quatro meses após o corte
de trepadeiras. Foto: Felipe Nery Arantes Mello.

130 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 6.5 – Área no Parque Estadual de Vassununga, Santa Rita do Passa Quatro (SP), um ano após o corte de
trepadeiras, onde se a recuperação da copa dos indivíduos arbóreos. Foto: Felipe Nery Arantes Mello.

A seguir, apresentamos os indicadores al., 2015; SIMULA, 2009). Porém, no con-


ecológicos normalmente utilizados nos texto dos remanescentes de florestas tro-
protocolos de monitoramento da restau- picais em paisagens altamente fragmen-
ração de áreas desflorestadas e discuti- tadas, consideramos florestas degrada-
mos seus potenciais e suas limitações no das aquelas que passam por perturba-
monitoramento de fragmentos de flores- ções históricas e recorrentes, de origens
tas tropicais. Adicionalmente, propomos diversas, mas que levaram/levam a al-
indicadores prioritários e um protocolo terações em processos ecológicos funda-
inicial para monitorar e avaliar a trajetó- mentais, culminando principalmente: (1)
ria ecológica de fragmentos florestais na na proliferação de populações de plan-
Mata Atlântica, voltado principalmente tas adaptadas a distúrbios (CÉSAR et al.,
para a fisionomia de FES. Por se tratar de 2016; VIANI et al., 2015); (2) no empobreci-
uma proposta inicial, esse protocolo não mento filogenético e funcional, em razão
ambiciona sua disseminação indiscrimi- da extinção local de espécies animais e
nada, mas, sim, sua aplicação em pesqui- vegetais (GALLETI et al., 2013; SILVA; TA-
sas, testes, discussões e aprimoramentos. BARELLI, 2000); e (3) na desestruturação
e na diminuição da altura do dossel flo-
6.2 A degradação e seus efeitos restal (FARAH et al., 2014).
sobre as florestas remanescentes Na FES da Mata Atlântica brasileira,
Existem várias interpretações da expres- que se encontra em estágio avançado de
são “degradação florestal” (GHAZOUL et fragmentação e perda de habitat, é possí-

131
vel observar altas densidades de plantas liferação de plantas trepadeiras ou até
trepadeiras nos remanescentes florestais mesmo gramíneas se estende para den-
(CÉSAR et al., 2016; VIANI et al., 2015) (Fi- tro do fragmento, já se trata de um efei-
guras 6.6 e 6.7). A proliferação de plantas to negativo, que sugere degradação. Uma
trepadeiras nas bordas dos fragmentos vez abundantes, as trepadeiras causam
é um processo natural, principalmen- limitações ao crescimento e à regenera-
te em florestas estacionais, porém, isso ção das árvores e, consequentemente, re-
é esperado somente nos primeiros me- dução na diversidade e empobrecimen-
tros de borda, o que resulta em um mi- to florístico dos fragmentos (ALVAREZ-
croclima ideal para a vinda de espécies -CANSINO et al., 2015; SCHNITZER et al.,
tolerantes à sombra (Figura 6.8). Se a pro- 2005; TOBIN et al., 2012).

Figura 6.6 – Trecho com alta densidade de plantas trepadeiras na Área de Relevante Interesse Ecológico Mata de
Santa Genebra, em Campinas (SP). Fotografia: Cristiano Marques Barbosa.

132 Manejo de fragmentos florestais degradados


Figura 6.7 – Trecho com alta densidade de plantas trepadeiras em fragmento de FES em Ipatinga (MG). Fotografia:
Ricardo Augusto Gorne Viani.

Figura 6.8 – Trecho com proliferação de plantas trepadeiras e capim na borda de um fragmento de FES em Araras
(SP). Fotografia: Ricardo Augusto Gorne Viani.

133
Estudos realizados em florestas con- composição e à regeneração natural da
tínuas mostram que os processos que vegetação arbórea nativa (SUGANUMA;
controlam a abundância e a distribui- DURIGAN, 2015; WORTLEY; HERO; HO-
ção de plantas trepadeiras são diferen- WES, 2013). Isso está evidenciado em al-
tes daqueles que controlam tais padrões guns protocolos recentemente desenvol-
para árvores (SCHNITZER, 2005). As evi- vidos para avaliar (não exclusivamente)
dências salientam o papel importante a restauração da FES da Mata Atlântica
da sazonalidade e das perturbações nos (CHAVES et al., 2015; VIANI et al., 2017).
padrões de distribuição de trepadeiras Existem vários protocolos de monito-
e, em um cenário de aumento na fre- ramento que já são utilizados por diver-
quência de distúrbios e secas, as lianas sas instituições empenhadas na restau-
seriam favorecidas em relação às árvo- ração florestal. Aqui, escolhemos dois,
res (LEDO; SCHNITZER, 2014). Na verdade, formalmente publicados no Brasil, para
estudos recentes sugerem que as plantas uma análise da aplicabilidade de seus
trepadeiras estão aumentando em den- indicadores ao monitoramento de frag-
sidade nas florestas neotropicais contí- mentos florestais. Esses protocolos serão
nuas, o que pode estar relacionado com brevemente apresentados a seguir. Am-
tais vantagens adaptativas (SCHNITZER; bos foram desenvolvidos recentemen-
BONGERS, 2011). te, não havendo, ainda, tempo suficiente
Assim, podemos dizer que há infor- para uma avaliação mais consistente de
mações suficientes sobre alguns atribu- sua eficiência. Entretanto, representam
tos das comunidades florestais que são esforços coletivos relevantes na criação
comumente e claramente afetados pela de métodos universais para o monitora-
degradação dos remanescentes. Entre- mento da trajetória ecológica da restau-
tanto, faltam informações de referên- ração florestal e são aplicáveis a diferen-
cia que expressem o nível de degradação tes regiões, fitofisionomias e técnicas de
desses atributos nos fragmentos degra- restauração.
dados. Falta, ainda, a compreensão so- O protocolo estabelecido pelo Pacto
bre a trajetória ecológica que esses atri- pela Restauração da Mata Atlântica em
butos seguirão após a execução de ações 2013, por exemplo, tem seu princípio ecoló-
de restauração. gico de monitoramento dividido em duas
fases: a fase I, centrada na estruturação
6.3 O
 s protocolos de monitoramento do dossel, e a fase II, focada na avaliação
da restauração florestal são de indicadores que expressem a trajetó-
adequados para monitorar ria ecológica da floresta em restauração
fragmentos florestais degradados? (VIANI et al., 2017). A fase I tem como in-
Os principais indicadores ecológicos para dicador prioritário a avaliação da cober-
avaliar o sucesso da restauração florestal tura do solo pelas copas, mas apresenta
numa área anteriormente desprovida de outros indicadores: cobertura do solo por
floresta estão relacionados à estrutura, à herbáceas hiperabundantes, densidade

134 Manejo de fragmentos florestais degradados


e composição de árvores invasoras e in- to pelo protocolo do estado de São Paulo
dicadores para avaliar o estado de con- se dá por parcelas de tamanho e núme-
servação do solo e os fatores de degra- ro iguais aos do protocolo do Pacto, po-
dação na área em restauração. Os proje- rém, vai além, ao estabelecer valores de
tos de restauração são monitorados na referência para cada indicador monito-
fase I até que se atinja um nível de 70% rado, que variam de acordo com a fitofi-
de cobertura do solo pelas copas das ár- sionomia e a idade do projeto de restau-
vores. Em seguida, passam para a fase II ração florestal.
de monitoramento, que tem como indi- Os indicadores contidos nos protoco-
cadores a densidade de árvores nativas los de monitoramento mencionados per-
regenerantes (≥ 0,5 m de altura e DAP < mitem avaliar a evolução da área em res-
15 cm) e estabelecidas (DAP ≥ 15 cm), a tauração por meio da verificação do re-
área basal e a densidade e composição cobrimento do solo pelas copas das árvo-
de árvores invasoras. Em ambas as fa- res, o que, em tese, elimina as herbáceas
ses, o monitoramento é feito, em geral, invasoras (barreira comum à restaura-
em parcelas de 4 m x 25 m, cujo número ção florestal nos trópicos) e pela presen-
é definido de acordo com a área (em hec- ça e qualidade da regeneração natural de
tares) do projeto de restauração florestal árvores nativas, que demonstram que
(detalhes em VIANI et al., 2017). os filtros para a germinação e o estabe-
Após a publicação do protocolo do Pac- lecimento de plântulas arbóreas foram
to, o estado de São Paulo, por meio da Re- superados e, portanto, há continuidade
solução SMA no 32/2014 (SÃO PAULO, 2014b) temporal da floresta. Teoricamente, es-
e da Portaria CBRN no 01/15 (SÃO PAULO, ses indicadores seriam úteis e aplicáveis
2015), estabeleceu indicadores, valores de para avaliar o grau de degradação e a tra-
referência e protocolo para o monitora- jetória também nos fragmentos flores-
mento da restauração florestal no estado tais degradados. Entretanto, seriam ne-
(CHAVES et al., 2015). Essas regulamenta- cessários outros indicadores mais pon-
ções foram estabelecidas como política tuais para tal monitoramento.
pública, tendo como público alvo toda a Embora os protocolos de monitora-
sociedade do estado de São Paulo. Dessa mento de restauração sugiram a inferên-
forma, trata-se de uma simplificação do cia da presença (riqueza e abundância)
protocolo do Pacto, pois foram escolhi- de espécies exóticas invasoras, algo que
dos poucos indicadores, como forma de também faz sentido no monitoramen-
ampliar a escala do monitoramento das to de fragmentos degradados, tendo em
áreas de restauração ecológica. Estabele- vista que essas espécies se beneficiam da
ceram-se três indicadores: cobertura do condição de degradação e podem poten-
solo com vegetação nativa e densidade e cializá-la, não há nesses protocolos indi-
riqueza de regenerantes arbóreos nativos cadores específicos para analisar as es-
(indivíduos não plantados, com altura pécies nativas em desequilíbrio, como as
≥ 0,5 m e DAP < 15 cm). O monitoramen- trepadeiras, comumente abundantes em

135
florestas estacionais degradadas. Portan- dos são adaptados do protocolo de mo-
to, é necessário estudar indicadores e mé- nitoramento da restauração florestal do
todos específicos para o monitoramen- Pacto pela Restauração da Mata Atlân-
to de fragmentos florestais degradados tica (VIANI et al., 2017). Para alguns in-
e adaptá-los a um protocolo. dicadores, também utilizamos os valo-
res de referência estabelecidos pela Re-
6.4 U
 ma proposta inicial de solução SMA no 32/2014 do estado de São
indicadores para monitoramento Paulo (SÃO PAULO, 2014b), quando estes
ecológico de fragmentos de convergiam nos objetivos de manejo de
floresta tropical degradados fragmentos florestais degradados. Justi-
A seguir, faremos uma proposta inicial fica-se ter tais protocolos já estabeleci-
de indicadores ecológicos que, baseados dos como referência, não só pela escas-
nos protocolos de monitoramento de res- sez de protocolos específicos para frag-
tauração já estabelecidos e em pesquisas mentos florestais, como também pelo
científicas em paisagens fragmentadas, grande esforço teórico-científico depo-
consideramos importantes para o moni- sitado na produção desses documentos
toramento dos processos de degradação de monitoramento da restauração flo-
e restauração em remanescentes flores- restal. Entendemos que um alinhamen-
tais. Tais indicadores visam guiar ações to e a adaptação conceitual dos protoco-
de manejo e restauração que sejam efe- los para monitoramento de fragmentos
tivas para uma retomada dos processos florestais degradados são formas de sim-
ecológicos vitais e da trajetória ecológi- plificação e unificação das linguagens e
ca, tendo em vista a sustentabilidade dos dos métodos avaliativos de restauração,
remanescentes. Essa proposta inicial se tanto em áreas totalmente desfloresta-
baseia na escassa literatura preexisten- das como em remanescentes degradados.
te sobre o assunto e na experiência prá- Nossas sugestões para o monitora-
tica dos autores deste capítulo em proje- mento de fragmentos florestais degra-
tos específicos. Portanto, trata-se de uma dados consistem em quatro categorias
proposta de monitoramento de fragmen- de indicadores, principalmente qualita-
tos florestais cuja avaliação dos indicado- tivos/categóricos e alguns quantitativos.
res se faz necessária para que estes sejam Há indicadores de acesso fácil e rápido e
constantemente melhorados, de acordo outros mais criteriosos, com necessidade
com as demandas surgidas de sua aplica- de conhecimento botânico e/ou de mé-
ção e uso contínuo como ferramenta, as- todos específicos para obtenção das in-
sim como de incrementos advindos de formações. Para alguns indicadores, fo-
avanços científicos teóricos e/ou expe- ram sugeridos limiares de valores críti-
rimentais (MORI et al., 2017). cos (I), mínimos (II) e adequados (III), que
Em virtude de algumas sobreposições indicam, respectivamente, situações em
conceituais e finalidades ecológicas co- que novas intervenções e revisões no pro-
muns, muitos dos indicadores sugeri- jeto são necessárias, valores intermediá-

136 Manejo de fragmentos florestais degradados


rios e valores que atestam a restauração tóricos de degradação é qualitativa, com
(CHAVES et al., 2015). Para outros indica- a indicação simples da ocorrência atual
dores, foram indicados somente valores ou pretérita ou com a indicação da au-
críticos ou valores que atestam a restau- sência dos fatores de degradação (Tabe-
ração ou conservação. As formas de ava- la 6.1). A verificação de tais indicadores
liação para cada indicador são sugeridas pode ser feita visualmente, por meio de
ao longo do texto a seguir e, ao final, fo- consulta a pessoas que conheçam o local
ram sintetizadas na Tabela 6.1. Em segui- ou região ou a gestores da área ou, ain-
da, apresentamos as categorias de indi- da, estudando imagens e fotografias aé-
cadores, ressaltando que um mesmo in- reas. O cenário desejado é que os fatores
dicador pode ajudar a entender aspectos de degradação não existam ou tenham
de outras categorias, para além daquela cessado no fragmento em análise. En-
em que o colocamos. trada de gado, incêndios ou extração de
madeira devem ser levantados, a fim de
6.4.1 Fatores históricos de degradação avaliar a recuperação do fragmento des-
Um primeiro aspecto do monitoramen- de a exposição a tais fatores.
to de fragmentos florestais degradados é
seu histórico de perturbações. A compo- 6.4.2 Biodiversidade
sição florística e faunística de um rema- Em um segundo momento, é importan-
nescente pode indicar o estágio sucessio- te analisar a biodiversidade (composição
nal em que ele se encontra, assim como de espécies e grupos funcionais) do frag-
permite inferir a integridade dos proces- mento monitorado. Essa avaliação da
sos ecológicos presentes na comunida- biodiversidade é centrada na diversida-
de florestal (GALLETI et al., 2013). Muitos de vegetal, em específico de árvores e es-
remanescentes florestais em paisagens pécies-problema. Propomos que a biodi-
fragmentadas encontram-se em está- versidade vegetal do fragmento florestal
gios iniciais de sucessão, o que pode tor- seja avaliada, primeiramente, pela iden-
nar difícil distingui-los dos fragmentos tificação botânica expedita das árvores
de floresta em estados alternativos está- de maior porte (DAP ≥ 5 cm) em trilhas
veis, em decorrência de processos de de- e bordas do fragmento, a fim de obter a
gradação. Para fazer a distinção entre um riqueza de árvores do fragmento. Esse in-
fragmento em estágio inicial de sucessão dicador é importante para aferir não só
e um fragmento em “retrogressão” suces- quanto o fragmento conserva da biodi-
sional, uma análise do contexto históri- versidade de árvores, mas também seu
co dos fatores de degradação que agiram potencial como fonte de propágulos para
sobre o fragmento florestal em questão colonizar áreas adjacentes, por exemplo.
pode ajudar a desvendar sua trajetória Para uma avaliação rápida da riqueza
ecológica até o presente, o que é recomen- arbórea do fragmento, sugerimos usar o
dado como um primeiro passo do moni- indicador de número de espécies de árvo-
toramento. A avaliação dos fatores his- res, com o verificador ≤ 25 espécies para

137
indicar nível crítico (I, Tabela 6.1). A ri- gio avançado da sucessão, pois, em ca-
queza de árvores mencionada é uma pro- sos extremos de degradação, essas espé-
posta inicial com apenas um verificador cies são as remanescentes, por serem as
de nível crítico. O valor sugerido precisa maiores, ao passo que o sub-bosque não
ser validado após a aplicação continua- existe ou está tomado por espécies inva-
da do protocolo, assim como devem ser soras e/ou trepadeiras abundantes. As-
buscados níveis intermediários e ade- sim, o uso do indicador grupo ecológico
quados para esse indicador. Ademais, é predominante para árvores identifica-
necessário desenvolver um método es- das requer cautela. Recomendamos sua
pecífico para mensurar a riqueza de ár- aplicação periódica para avaliar melhor
vores, visto que esse indicador é sensível a trajetória do fragmento (avanço ou re-
ao tempo despendido no levantamento e trogressão sucessional), juntamente com
à área do remanescente florestal. os outros indicadores.
Sugerimos um indicador adicional, Um dos principais problemas em frag-
relativo ao grupo ecológico predominan- mentos florestais degradados é a gran-
te para árvores identificadas, com verifi- de proliferação e abundância de plan-
cadores categóricos, como: predominante- tas adaptadas a condições de distúrbio,
mente espécies pioneiras e oportunistas (I, especialmente plantas trepadeiras, que
mais de 65% de pioneiras); espécies pionei- podem atuar como filtros ecológicos à
ras e não pioneiras em níveis similares (II, regeneração natural (CÉSAR et al., 2016).
entre 35% e 65% para cada grupo ecológi- Com base nisso, sugerimos que o indica-
co); predominantemente espécies não pio- dor dominância por plantas trepadeiras
neiras (III, mais de 65% de não pioneiras). seja avaliado em três condições: bordas,
Trata-se de um indicador que demanda clareiras e indivíduos arbóreos isolados. A
conhecimento específico e certo grau de presença de plantas trepadeiras nessas
subjetividade na classificação quanto ao três condições pode ser mensurada ca-
grupo ecológico das árvores. Entretanto, tegoricamente por verificadores como,
pode ajudar a entender o cenário da su- por exemplo: mais de 75% tomado/cober-
cessão florestal no fragmento. to (I); entre 25% e 75% tomado/coberto (II);
Fragmentos com predominância de menos de 25% tomado/coberto (III). Para
espécies pioneiras e oportunistas estão as bordas, tais valores se aplicam a uma
no estágio inicial da sucessão florestal, área de até 40 m a partir do limite exter-
o que não necessariamente é um sinal no do fragmento (valor médio de zonas
de degradação atual, já que pode ser fru- tampão em planos de manejo de unida-
to de uma degradação pretérita e a pre- des de conservação); em clareiras, esses
sença de pioneiras, um sinal de ocorrên- valores se aplicam em relação à área to-
cia da sucessão florestal na área (aspecto tal da clareira; e, em indivíduos arbóreos
positivo). Por outro lado, a predominân- isolados, em relação à ocupação total da
cia de espécies não pioneiras, como tar- copa desses indivíduos. Em bordas, uma
dias de dossel, nem sempre indica está- maior abundância de trepadeiras é na-

138 Manejo de fragmentos florestais degradados


tural, portanto, recomendamos que, nes- vegetação arbórea no fragmento flores-
sas situações, esse indicador seja aplica- tal. Para o levantamento dos dados, suge-
do com essa ressalva. re-se adotar o método amostral proposto
Em virtude da importância ecológica por Gentry (1982), considerado “logistica-
de plantas trepadeiras, principalmen- mente simples e econômico em termos
te no que se refere à oferta de recursos de tempo e dinheiro” (ARROYO-RODRÍ-
em épocas de escassez de plantas arbó- GUEZ et al., 2009, p. 731). Seguindo a adap-
reas (ARROYO-RODRÍGUEZ et al., 2015b; tação em Arroyo-Rodríguez et al. (2009), o
MORELLATO; LEITÃO-FILHO, 1996), re- método consiste em selecionar dez tran-
comenda-se também a utilização do in- sectos de 50 m x 2 m, distribuídos alea-
dicador de riqueza de trepadeiras. Uma toriamente no fragmento florestal, to-
sugestão de valores de referência para talizando uma área amostral de 0,1 hec-
atestar restauração ou conservação (ní- tare. Trata-se de uma primeira sugestão
vel III) é: acima de 20 espécies (III). Em ra- de intensidade amostral, cabendo àque-
zão da grande dificuldade de identificar le que executa o monitoramento utili-
trepadeiras, esse indicador pode ser afe- zar as ferramentas disponíveis para ava-
rido pela contagem de morfoespécies. liar a representatividade da amostragem
Ademais, salienta-se que a riqueza de lia- com base na estatística do erro amostral
nas, por si só, não expressa o estágio de de cada indicador, para, assim, definir
conservação da comunidade de um frag- melhor a intensidade em cada situação.
mento e, por isso, esse indicador deve ser Um dos indicativos de progresso em
avaliado e interpretado juntamente com projetos de restauração florestal diz res-
os outros indicadores de biodiversidade. peito à estruturação do dossel, comumen-
Por fim, se previamente constatadas te avaliada no monitoramento da restau-
na área, são recomendadas informa- ração pelo percentual de cobertura do
ções adicionais sobre presença de espé- solo por meio da projeção das copas das
cies invasoras ou outras espécies-proble- árvores. O dossel também é um impor-
ma, como bambus, gramíneas ou espé- tante indicador do nível de degradação
cies arbóreas exóticas em cada condição e desestruturação das florestas degrada-
– bordas, clareiras e indivíduos isolados. das. Entretanto, como é comum nessas
Embora sem níveis específicos, pode ser florestas que trepadeiras formem ema-
apresentada a informação da presença ranhados sobre as copas das árvores, difi-
de espécies exóticas em níveis alto, mé- cultando as delimitações, propomos um
dio ou baixo, com base em avaliação vi- método alternativo, mais simples. Suge-
sual do fragmento florestal. rimos como indicador a continuidade do
dossel arbóreo, com a seguinte avaliação
6.4.3 Estrutura categórica: em sua maior parte descontí-
Concomitantemente com a avaliação rá- nuo (I); de 50% a 75% contínuo (II); mais de
pida da biodiversidade, também é indi- 75% contínuo (III). Essa avaliação deve ser
cado fazer uma avaliação da estrutura da feita em cada transecto e deve prevalecer

139
como resultado final para o fragmento 6.4.4 Funcionamento dos
o nível (I, II ou III) que for o mais abun- processos ecológicos
dante entre os dez transectos. A trajetória ecológica de fragmentos flo-
Finalizamos este item com mais um restais degradados só ocorrerá se houver
indicador, a área basal (m2.ha-1), que é a o restabelecimento dos processos ecoló-
soma das áreas das seções transversais gicos. Um processo-chave é a regenera-
do tronco das árvores, que representam ção natural das espécies arbóreas, que
a maior parte da biomassa total da flo- pode ser inferida por sua riqueza e den-
resta. Porém, a área basal é um indica- sidade, já que, se há regenerantes, os fil-
dor sem muito valor quando avaliado tros para germinação e estabelecimento
sozinho, pois é possível encontrar altos de plântulas estão sendo superados por
valores de área basal em fragmentos sementes oriundas do banco ou da dis-
florestais degradados, em razão da per- persão das espécies regionais.
sistência de árvores de maior diâmetro Dentro dos transectos amostrais de 50
na floresta degradada. Aqui, sugerimos m x 2 m, todos os indivíduos arbustivos
avaliar a área basal juntamente com os ou arbóreos com altura ≥ 0,5 m e DAP < 5
indicadores de estrutura de dossel e ri- cm devem ser contados e identificados, a
queza/densidade de regeneração natu- fim de gerar a riqueza total e a densidade
ral dos transectos da amostra. Sugeri- de regenerantes por hectare. Para o indi-
mos, ainda, as seguintes categorias de cador densidade e riqueza de regenera-
área basal: até 10 m².ha-1 (I), de 10 m².ha-1 ção natural de árvores, foram considera-
a 25 m².ha-1 (II), acima de 25 m².ha-1 (III). dos os métodos e valores de referência fi-
Essas categorias são, respectivamente, nais estabelecidos pela resolução SMA no
os valores críticos, mínimos e adequa- 32/2014 (SÃO PAULO, 2014b) para o estado
dos de área basal na FES. Esse indicador de São Paulo; porém, adicionamos a esses
deve ser avaliado em cada transecto pela valores, os valores críticos e intermediá-
coleta do DAP de cada árvore com DAP ≥ rios (Tabela 6.1). Vale ressaltar que os in-
5 cm. O valor final deve ser obtido pela divíduos eventualmente plantados ou se-
média dos transectos. meados dentro do remanescente, fruto de
técnicas de restauração ativa, não devem
ser contados nessa avaliação.

140 Manejo de fragmentos florestais degradados


Tabela 6.1. Categorias, justificativas e indicadores recomendados para o monitoramento
de fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual. I: valores críticos, que exigem ma-
nejo para restauração da floresta. II: valores mínimos esperados. III: valores adequados,
que atestam a restauração ou conservação da floresta.

CATEGORIA INDICADORES FORMA DE NÍVEIS DE


JUSTIFICATIVA
DE INDICADORES RECOMENDADOS AVALIAÇÃO REFERÊNCIA

Para entender a
fotografia atual da 1. Intensidade de
comunidade florestal uso do entorno Qualitativa,
e o estado de saúde 2. Tempo de visual ou com
de um fragmento, é isolamento base em consulta III: o fator de
necessário rastrear 3. Extração a pessoas do degradação está
Históricos de
os acontecimentos madeireira entorno, a fim ausente ou já
degradação
históricos e as 4. Ocorrência de informar a não ocorre no
perturbações que de fogo existência atual fragmento.
levaram à atual 5. Presença de gado ou pretérita
composição e e outros animais desses fatores.
estrutura biológica domésticos
do remanescente.

Quantitativa.
Avaliação expedita
6. Riqueza de do número de I: menos de
árvores espécies de árvores, 25 espécies
caminhando-se
pela floresta.
I: mais de 65%
A biodiversidade é Quantitativa.
de pioneiras
uma das razões para Cálculo da
7. Proporção de II: entre 35% e 65%
conservar fragmentos proporção de
grupos ecológicos de pioneiras
florestais, pois árvores pioneiras
III: menos de 35%
seu nível se altera e não pioneiras.
de pioneiras
com a degradação.
Além disso, é Quantitativa.
importante avaliar a Avaliação do
biodiversidade para 8. Riqueza de número de espécies III: mais de 20
inferir o potencial trepadeiras trepadeiras, espécies
Biodiversidade caminhando-se
de recolonização de
áreas adjacentes ao pela floresta.
fragmento. Por essa
razão, é fundamental 9. Dominância I: mais de 75%
entender os níveis de trepadeiras tomado/coberto
de biodiversidade (bordas, clareiras Quantitativa, II: entre 25% e 75%
de alguns grupos e indivíduos categórica. tomado/coberto
importantes no arbóreos III: menos de 25%
remanescente isolados) tomado/coberto
analisado. 10. Presença de
III: Espécies
espécies invasoras
Qualitativa, invasoras ou
ou outras
visual, problema não
espécies-problema
observando-se a existem ou estão
(p. ex., bambu,
presença dessas em níveis pouco
gramíneas
espécies na área. detectáveis e
e invasoras
apenas na borda
arbóreas)

141
CATEGORIA INDICADORES FORMA DE NÍVEIS DE
JUSTIFICATIVA
DE INDICADORES RECOMENDADOS AVALIAÇÃO REFERÊNCIA

I: em sua maior
Quantitativa,
A estrutura da parte descontínuo
mas determinada
floresta degradada é 11. Continuidade do II: de 50% a 75%
visualmente
modificada. Muitas dossel arbóreo contínuo
nos transectos
vezes, o dossel é III: mais de 75%
de 50 m x 2 m.
descontinuado e a contínuo
Estrutura
biomassa, reduzida.
I: menos de
Restabelecer esses
10 m².ha-1
atributos para níveis Quantitativa.
12. Área basal II: entre 10% e
de conservação Transectos de
(m2.ha-1) 25 m².ha-1
é importante. 50 m x 2 m.
III: mais de
25 m².ha-1
I: menos de 10
13. Riqueza da espécies
A restauração só Quantitativa.
regeneração II: entre 10 e
ocorre se houver o Transectos de
natural de 30 espécies
restabelecimento de 50 m x 2 m.
árvores III: mais de 30
processos ecológicos espécies
essenciais, e a
Funcionamento
regeneração natural I: menos de
de árvores é um 14. Densidade da 1.000 ind.ha-1
Quantitativa.
processo-chave para regeneração II: de 1.000 a
Transectos de
o funcionamento natural de 3.000 ind.ha-1
50 m x 2 m.
dos ecossistemas. árvores III: mais de
3.000 ind.ha-1

Fonte: Elaboração própria.

142 Manejo de fragmentos florestais degradados


6.5 Considerações cos, no intuito de facilitar sua aplicação
Apresentamos neste capítulo uma pro- e visando evitar o estabelecimento de va-
posta inicial de indicadores para moni- lores de referência sem informações con-
torar fragmentos florestais degradados sistentes. Desse modo, para uma melhor
que contempla os aspectos históricos da investigação da trajetória ecológica, indi-
degradação, a estrutura florestal, a com- cadores quantitativos e valores de refe-
posição de espécies vegetais e o funcio- rências regionais devem ser desenvolvi-
namento dos ecossistemas. Acreditamos dos e aprimorados com base em pesqui-
que, com tais indicadores, seja possível sas científicas. Sugerimos, por exemplo,
inferir e monitorar nos processos de de- a compilação de informações e o levan-
gradação de remanescentes florestais: (1) tamento comparativo da comunidade
a proliferação de populações de plantas de árvores e trepadeiras em fragmentos
adaptadas a distúrbios; (2) o empobre- conservados e degradados para diferen-
cimento filogenético e funcional; e (3) a tes regiões e fitofisionomias. Esses levan-
desestruturação e a diminuição da altu- tamentos podem gerar, por exemplo, os
ra do dossel no processo de regeneração valores de densidade e de biomassa des-
de árvores da floresta. Com isso, damos sas duas formas de vida, que são bastan-
um passo inicial no monitoramento de te alteradas nas florestas degradadas. As-
fragmentos florestais degradados e vis- sim, futuramente, será possível definir
lumbramos um futuro de manejo e res- densidades e biomassas de trepadeiras
tauração desses remanescentes, guiados e árvores que expressem melhor a de-
pelo conhecimento gerado nessa primei- gradação dos remanescentes florestais
ra iniciativa. Obviamente, há um longo nas diferentes fitofisionomias da flo-
caminho a percorrer e reiteramos que, resta tropical.
por ser uma proposta inicial, muitas mo- Por fim, embora não tenhamos incluí-
dificações e aperfeiçoamentos serão ne- do no protocolo métodos de sensoriamen-
cessários após a aplicação dessa proposta to remoto, para alguns indicadores, isso
em diferentes regiões e condições. Assim, deve ser estimulado, como forma de ba-
incentivamos a realização de testes em ratear o monitoramento e dar-lhe escala,
campo, para avaliar a aplicabilidade do algo que já vem sendo testado na restau-
protocolo proposto e as adaptações que ração florestal convencional (ZAWAHI et
possam ser necessárias para que se re- al., 2013). Imaginamos, por exemplo, que
flitam as diferentes realidades dos frag- seria possível avaliar imagens aéreas para
mentos florestais. obter informações sobre a estruturação
Ressaltamos que esse protocolo enfo- do dossel ou até mesmo o grau de infes-
cou indicadores qualitativos e categóri- tação da floresta por trepadeiras.

143
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A
situação atual dos fragmen- ção de áreas degradadas; todavia, pouco
tos de Floresta Estacional Se- se sabe quais serão suas consequências
midecidual (FES) é alarman- no longo prazo.
te. É imprescindível avaliar O protocolo apresentado neste docu-
e propor medidas que visem à melhor mento técnico se dirige aos profissio-
conservação dessas áreas. Esses rema- nais engajados no debate sobre as me-
nescentes são pequenos e estão isola- lhores formas de promover e executar
dos entre si, o que intensifica o efeito de ações de restauração ecológica. Algu-
borda e compromete a manutenção dos mas dessas ações resultaram em políti-
processos ecológicos e do fluxo gênico, cas públicas, em instrumentos de orien-
degradando muito esses fragmentos. tação e em metas de restauração. Con-
Por outro lado, os remanescentes de tudo, o avanço das discussões e, conse-
FES constituem refúgio para inúmeras quentemente, o aprimoramento deste
espécies típicas de florestas, desempe- documento evidenciam que as referên-
nhando papel importante na conserva- cias técnicas e a pesquisa continuada
ção da biodiversidade, além de oferecer sobre o manejo de fragmentos flores-
serviços ecossistêmicos imprescindíveis, tais degradados com vistas à restaura-
que beneficiam a humanidade de formas ção ainda são escassas.
variadas, incluindo sua contribuição para Acreditamos que esta iniciativa desem-
o avanço das metas de conservação e res- penhe papel importante na conservação
tauração das paisagens florestais. e restauração de florestas no contexto da
Nesse contexto, são necessárias ações paisagem, porém, concluímos que neces-
de manejo que visem à restauração des- sitamos de grandes avanços nesse senti-
ses fragmentos e também das áreas de- do. Como exemplo, podemos citar o estí-
gradadas ao longo dos cursos d’água, para mulo ao desenvolvimento de pesquisas e
aumentar a conectividade da paisagem. discussões, para que haja um maior ali-
Tais ações devem ser fundamentadas em nhamento técnico entre pesquisadores e
avaliações da condição de conservação especialistas quanto aos principais con-
de cada fragmento, a fim de subsidiar a ceitos e estratégias a serem empregados.
tomada de decisões quanto à priorida- Assim, seria possível aprimorar pro-
de e às técnicas adequadas de manejo. tocolos de tomada de decisão no mane-
Atualmente, essas decisões são dificul- jo de fragmentos florestais degradados,
tadas pela escassez de documentos téc- que, futuramente, poderiam integrar e
nicos. Uma das lacunas de conhecimen- fortalecer estratégias de políticas públi-
to diz respeito ao manejo de trepadeiras, cas, a fim de consolidar e disseminar a
que, no curto prazo, tem se mostrado uma prática do manejo desses remanescen-
alternativa benéfica para a reestrutura- tes tão importantes.

144 Manejo de fragmentos florestais degradados


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169
A Fundação José Pedro de Oliveira – FJPO - é uma
organização governamental ligada à Prefeitura
Municipal de Campinas com reconhecida atua-
ção na gestão de áreas protegidas, educação am-
biental e apoio à pesquisa científica.
Atuando na gestão da Área de Relevante Inte-
resse Ecológico Federal Mata de Santa Genebra,
maior remanescente florestal da Região Metropo-
litana de Campinas que abriga diversas espécies
ameaçadas de extinção, a FJPO tem liderado pro-
jetos que estão recuperando uma área superior a
40 campos de futebol no interior da Unidade de
Conservação e conectando a Mata de Santa Ge-
nebra a outros remanescentes florestais por meio
de corredores ecológicos. Para saber mais, visite
www.fjposantagenebra.sp.gov.br ou curta Funda-
ção José Pedro de Oliveira – ARIE Mata de San-
ta Genebra no facebook @matadesantagenebra.
A The Nature Conservancy (TNC) é uma or-
ganização global de conservação ambiental de-
dicada à preservação das terras e água das quais
depende toda a vida. Guiados pela ciência, cria-
mos soluções inovadoras e práticas para os de-
safios mais difíceis do mundo, para que a natu-
reza e as pessoas possam prosperar juntas. Esta-
mos lidando com as mudanças climáticas, con-
servando terras, águas e oceanos em uma esca-
la sem precedentes, fornecendo alimentos e água
de forma sustentável e ajudando a tornar as ci-
dades mais sustentáveis. Trabalhando em 72 paí-
ses, utilizamos uma abordagem colaborativa
que envolve comunidades locais, governos, se-
tor privado e outros parceiros. Para saber mais,
visite www.nature.org, www.tnc.org.br ou siga
@tncbrasil no Twitter.

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