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CPDOC

INDUSTRIALIZAÇÃO E CLASSE
TRA"BALHADORA NO RIO D E
JANEIRO: NOVAS PERSPECTIVAS
DE ANÁLISE

Ãngela Maria de Castro Gomes


Marieta de Moraes Ferreira

FUNDiÇãO GETULIO VIRGIS


CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇAO DE
HISTÓRIA CONTEMPORANEA DO BRASIL
P
RIO DE JANEIRO
162
1988
"P-1(;.9
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CPOOC

INDUSTRIALIZAÇÃO E CLASSE
TRABALHADORA N O RIO D E
JANEIRO: NOVAS PERSPECTI VAS
DE ANÁLISE

Ângela Maria de Castro Gomes


Marieta de Moraes Ferreira

FU.Dlçao GETULIO VIRGIS


CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENTAçAO DE
HISTÓRIA CONTEMPORANEA DO BRASIL

RIO DE JANEIRO
1988
Coordenação edi t o r ia l : C r i s t ina Ma r y Paes da Cunha

Revisão de t ex t o : Dora Rocha F laksma n

Da t i logra fia : Már cia de Azevedo Rodr igues

Nota :
Esta r e senha foi apresenta da ao G r upo de Traba lho "Pro
c e s s o de Traba lho e Reivindicaç5es Soc i a i s"
n o X I Encont r o Anua
da ANPOCS , r ea l i z ado em Águas de são Pedr o em " outubro de 1987

G633i
GOMES , Ânge la Ma ria de Ca s t r o .

I ndus t r i a l i zação e c la s s e t r a ba lhado ­


ra no R i o de Jane i r o : nova s per spec t i vas de an�
l i s e/Ânge la Ma r ia de Ca s t r o Gome s , Ma r i eta de
Mora e s F e r r e i r a . - R i o de Jane i r o : Cen t r o de
Pesquisa e Documentação de H i stória Con t emporâ­
nea do B r a s i l , 1988 .

73 p .
1 . R i o de Jane i r o ( Es t a do ) I ndús t r ia s .
2. Traba lho e t r aba lhado r e s Rio de Jane i r o
( Estado ) . 3 . Movimen to ope r á r i o Rio de Ja ­
n e i r o ( E s t a do ) . I . Fe r r e i ra , M a r ie t a de Moraes.
11. Cen t r o de Pesquisa e Documentação de H i s tó­
ria Contemporânea do Br a s i l . 111. Títul o .

CDU 3 3 8 . 45 (8l5.3)
CDD 3 3 8 . 0 9 8 153
SUMÁR I O

Apresentação / 1

1 . A industrial ização n o R i o de Janeiro / 4

1.1. A s teses " c l� s s i ca s " /4

1.2. O modelo do complexo ca feeiro / 8

1 . 3 . R i o de Janeiro : c a f é , indústria e comérc i o /11

1 . 4 . Uma proposta a l ternativa /18

2. A c la sse traba lhadora n o R i o de Janeiro / 2 2

2 . 1. O s enfoques "c l�s s ic o s n / 2 2

2.2. O processo de formação da c la s se traba lhadora / 2 6

2 . 3 . Condições de vida e traba lho / 2 9

2.4 . O movimento oper�r io e s indical em questão / 3 6

2.5. Cidade e po l ítica / 4 4

2.6. A títu lo de ba la nço / 4 9

Notas / 5 4

B i b l i ogra fia / 5 7
Apresentação

são numerosos os estudos sobre industrialização e clas-

se trabalhadora no Brasil, o que s·e explica pela relação destes

temas com as questões candentes do desenvolvimento econômico e so

cial do país. Estes estudos, tomados como produção acadêmica

mais sistemática, começaram a aparecer nos anos 50, quando profi�

sionais da área de ciências sociais, em especial economistas e sQ

ciólogos, publicaram textos hoje clássicos sobre o processo de

modernização do país, em que a preocupaçao com as condições de

industrialização e com o papel da classe trabalhadora era essen-

cial.

Ao longo dos anos 60, sobretudo a partir da segunda me-

tade dos anos 70, tais· estudos se ampliaram e abriram novas pers-
,
pectivas de análise, postulando teses que marcaram .esta area de

estudos. Também produzidos em sua maioria quase absoluta por eco

nomistas e cientistas sociais, estes trabalhos voltaram-se


,
o que é bem compreensível - para uma certa região do pal.s são

Paulo - e para algumas questões em especial: a relação café-

indústria, as origens sociais do operariado brasileiro, o sindi-

calismo corporativo etc.

Nosso objetivo aqui é examinar a produção acadêmica

mais recente, concentrada sobretudo nos anos 80, quando se inau-


2

guram novas tendências na área dos estudos sobre a industrializa-

çao e a classe trabalhadora. A novidade desta produção está, em

primeiro lugar, no fato de ela contar com a nítida participação

de historiadores, ou apresentar o que se pOderia considerar como

um enfoque de história social, tanto da parte de historiadores

quanto de cientistas sociais. Em segundo lugar, estes novos es-

tudos colocam sob análise outras regiões do país, enriquecendo a

reflexão com a possibilidade da diversidade e da comparaçao. A

contribuição dos trabalhos sobre o Rio de Janeiro - objeto de�o§

so interesse nesta avaliação - � já significativa e importante,

al�m de reveladora de novas óticas para se tratar de temas já tão

discutidos. Apenas para exemplificar, no caso dos estudos sobre a

classe trabalhadora, há toda uma produção voltada para o traçado

das condições de vida e trabalho, dos valores e tradições da po

pulação urbana do Rio, bem como para a rediscussão das diversas

correntes encontradas no sindicalismo carioca. No caso da indu§

trialização, as preocupações mais recentes têm-se voltado para a

especificidade do processo carioca e fluminense, de forma a dis-

tingui-lo do paulista, atribuindo com isso um peso menor às rela-

ções caf�-indústria como elemento explicativo da perda de dllKmàs

.mo da economia do Rio de Janeiro.

Antes de mais nada, e preciso ressaltar que este novo


,

conjunto de trabalhos � muito heterogêneo. Ele e composto de li-

vros, artigos e, em boa parte, teses de mestrado e doutorado, o

que revela a ligação entre esta produção e os cursos de pós-

gradução em história e ciências sociais, sobretudo na área do

Grande Rio. são portanto numerosos os textos prOduzidos por pes-

quisadores juniores, com recorte nitidamente monográfico, conten-

dc dados e informações at� então desconhecidos. De maneira ge-

ral, a contribuição de tais monogiafias está mais em mapear no-


3

v-as possibilidades de análise, do que em apresentar propostas de

interpretação mais substanciais. Inegavelmente, existem também

os estudos que, mesmo com um recorte monográfico, conseguem dis-

cutir questões mais amplas, chegando a apontar linhas alternati-

vas para a compreensao de uma série de temas. E, finalmente,

existem os textos que, centrados em questões chaves, têm por obj�

tivo postular novas linhas interpretativa e para a compreensao

das especificidades do operariado e da industrialização cariocas.

Justamente na medida em que assumem uma perspectiva hi�

tórica, buscando repensar teses já clássicas e procurando recupe-

rar os marcos de origem da formação da classe trabalhadora e da

expansão industrial carioca e fluminense, estes estudos mais re-

centes concentram em geral sua atenção no período da República v�

lha. Apóiam-se sempre em cuidadosos levantamentos de dados, uti-

lizando um número bastante diversificado e ainda não explorado de

fontes históricas primárias. Além dos jornais operários, dos do-

cumentos de congressos, dos relatórios das associações de classe

e das publicações oficiais, que já vinham sendo consultados, con­

vém destacar, entre as fontes hoje manuseadas pelos pesquisadores,

arquivos de fábricas, relatórios pOliciais, documentação cartori-

al, o arquivo da Junta Comercial e processos criminais. Cabe res­

saltar ainda o recurso às entrevistas de história de vida, que

integram à documentação escrita um material mais rico do que aquele

obtido através do modelo questionário/entrevista tradicionalmente usado .

No que diz respeito à organização de nossa resenha, ado

tamos um procedimento diverso para a apresentação da bibliografia

concernente a
,

relativa ao processo de industrialização e aquela

classe trabalhadora. Tendo em vista que grande parte dos estudos

sobre o processo de industríalização carioca e fluminense .foi


4

produzida tomando o modelo do complexo cafeeiro paulista como seu

interlocutor explícito ou implícito, optamos por apresentá-los em

sua relação com as propostas globalizadoras elaboradas com base

na realidade de são Paulo. No caso dos estudos sobre a classe

trabalhadora, embora a produção anterior também tratasse do exem-

pIo paulista, nao houve a proposição de um modelo globalizante:

As generalizações decorreram principalmente da ausência de traba-

lhos que investigassem as especificidades regionais. Por isso,

optamos por apresentar os inúmeros textos produzidos sobre a cla�


,
se trabalhadora do Rio de Janeiro ·agrupados por areas temáticas.

1. A industrializacão no Rio de Janeiro

1.1 As teses "clássicas"

Os estudos acerca da industrialização no Brasil, gener2

lizados a partir da década de 1950 e produzidos em sua grande

maioria por economistas, desenvolveram-se dentro dos marcos do


1
pensamento cepa1.�no. Criada em 1948, a Comissão Econômica para

a América Latina (CEPAL) tinha por objetivo produzir análises pró

prias que permitissem um melhor entendimento da problemática lati

no-americana, em substituição aos modelos teóricos. dominantes d!t

senvolvidos a partir da realida de histórica de


,
outros pa�ses.

Comprometido com a superação dos problemas estruturais

da América Latina, tais como a dependência econômica e a elevação

do nível de vida das massas populares, o discurso cepalino orga-

nizou-se em torno da questão da industrialização. Em sua perspec-

tiva, colocava-se como ponto central que os países latino-americ2

nos que lograram realizar sua industrialização o fizeram 'porque

contaram com circunstâncias históricas desfavoráveis ao pleno


5

funcionamento do modelo exportador.

Este ponto de vista, especificamente em relação ao Bra­

sil, e expresso de forma clara por Celso Furtado no livro Forma­

cão econômica do Brasil, editado em 1959. Segundo este autor, a

crise de 29, ao provocar a queda acentuada dos preços do café,

colocou em xeque o funcionamento do modelo exportador. No entan-

to, a política cafeeira adotada no início da década de 30, ao

garantir a compra de cafés invendáveis externamente, assegurou a

manutenção do nível de renda do país, funcionando como uma medida

antidepressiva. Se, de um lado, a demanda por produtos importa­

dos foi mantida, de outro, persistiam as dificuldades de importa­

çao, em conseqüência da depressão internacional. Tal situação

criou condições favoráveis à produção interna de bens manufatura­

dos.

Este tipo de enfoque localiza o desenvolvimento das in­

dústrias brasileiras fundamentalmente no período posterior a 1930.

No período anterior, a Primeira Guerra Mundial é interpretada co­

mo uma conjuntura específica, em que o afrouxamento das 1ig�

ções do setor agro exportador com os mercados externos criou fa-

ci1idades para o surgimento do primeiro crescimento industrial

"brasileiro.

Uma interpretação diferente é a que aparece na obra piQ

neira de Stan1ey Stein, Brazi1ian Cotton Manufacture. 1 8 50-1930.

publicada em 1957. A partir de uma cuidadosa pesquisa históri­

ca, o autor demonstra a importância da expansão industrial brasi­

leira anterior a 1930, destacando aí o papel dinamizador das a�i­

vidades comerciais. Contudo, o trabalho de Stein teve muito pou­


.�

ca divulgação no Brasil nos anos que se seguiram ao seu 1ançamen-

to, e sua contribuição para o debate acerca da industriaiização


6

brasileira só se efetivou plenamente nos anos 70. Seu livro so


,

foi traduzido para o português em 1979.

De toda forma, com a crise do modelo desenvolvimentista

cepalino nos anos 60, decorrente do fato de a industrialização

brasileira não ter correspondido as expectativas, tornou-se neceê

sário buscar novas perspectivas de análise. A tese de que a ex-

pansão industrial dos países latino-americanos estava associada

aos momentos de crise do modelo exportador - no caso do Brasil,

baseado no café - recebeu duras críticas, e, conseqüentemente, um

amplo debate sobre o tema foi inaugurado no começo dos anos 70.

A obra de Warren Dean, traduzida em 1971, traria uma

contribuição substantiva a esta discussão, recolocando em novos

termos as relações entre atividade exportadora e expansao indus-

trial. Do seu ponto de vista, a expansão industrial brasileira

foi uma decorrência do crescimento das exportações de café, e a

Primeira Guerra Mundial, contrariamente às análises até então

consagradas, representou nao um elemento de incentivo, e sim um

obstáculo à industrialização. Na medida em que a guerra criava

entraves para a importação de bens de capital, limitava o aumento

da capacidade produtiva do nosso parque fabril. Assim também, a

Grande Depressão e a crise do café quase paralisaram as indústri-

as de são Paulo em 1930, tendo a seguir dificultado o crescimento

industrial durante toda a década.

Segundo Dean, ao promover o crescimento da renda inter­

na , o comércio exportador do café criou no Brasil um mercado pa-

ra produtos manufaturados. Impulsionou também o desenvolvimento

de estradas de ferro e estimulou os investimentos em infra-estru-

tura, o que por sua vez integrou e ampliou este mesmo mercado.

. ....
.
7

,
de-obra, ao estimular a imigração, e introduziu no pal.s recursos

em moeda estrangeira que passaram a ser utilizados para a impor-

tação de insumos e bens de capital destinados ao setor industrial.

,
Outro trabalho que merece ser citado e o de Vilela e

Suzigan (1973), onde não'só é questionado o argumento de que as

dificuldades do setor exportador promoveram a expansão da indús-

tria brasileira, como também é apontado como fator impor'tante no

estudo da industrialização o papel das pOlíticas governamentais.

Mais recentemente, em seu trabalho sobre as origens e o desenvol­

vimento da indústria brasileira entre 1855 e 1939 (1986), Suzigan

retoma estas questões, defendendo a tese de que o desenvolvimento

industrial no século XIX foi induzido pela expansão do setor ex-

portador. Este impulso dinâmico arrefeceu após a primeira Guerra

Mundial, uma vez que, a partir de 1900, o próprio setor indus -

trial, embora incipiente já passara a estimular investimentos. Na

década de 1920 , em parte devido aos incentivos governamentais,

acentuou-se a diversificação da estrutura industrial. Foi na déca

da de 1930, entretanto, que a crise do setor exportador e a Gran-

de Depressão romperam a ligação entre a cafeicultura e o cresci-

mento industrial - embora o investimento industrial continuasse a

depender da capacidade de importação criada pelo setor expo'rta-

dor -, iniciando-se assim um processo de industria'lização via

substituição de importações. Esta interpretação de Suzigan é sem

dúvida de grande relevância, mas não enfatiza as diferenças e es-

pecificidades regionais do processo de expansão industrial.

As formulações acerca da complementariedade entre a eCQ

nomia exportadora e os impulsos à industrialização foram igual-

mente desenvolvidas nos trabalhos de um grupo de economistas da

Unicamp, entre os quais destacam-se Sérgio Silva (1976), Wilson


2
Cano (1977) e João Manoel Cardoso de Melo (1982). A despeito
8

de seus enfoques específicos, estes estudos têm em comum a valor�

zação das relações café-indústria como fator fundamental para a

compreensão do processo de industrialização no Brasil. E, justa-


,
mente por isso, atribuem um papel relevante a atividade industr�

al existente na Primeira República.

De acordo com estes trabalhos, o capital industrial ori

ginou-se na década de 1880, na esteira de um r�pido processo de

acumulação ocorrido no setor exportador de café. Contudo, a relg

ção entre o capital cafeeiro e o capital industrial era contradi-

tória, em função da subordinação do


·

ao capital internacional. Assim, o desenvolvimento do capitalis-

mo baseado no comércio do café, ao mesmo tempo que estimulou o d�

senvolvimento industrial, impôs-lhe limites que permitem caracte-

riz�-lo como tardio e específico.

1.2 O modelo do complexo cafeeiro

rio conjunto de estudos produzidos na Unicamp, destaca-

mos aqui aqueles realizados por Wilson Cano (1977, 1978 e 1985),

que, ao analisar o caso de são Paulo, oferece também propostas

de interpretação sobre a industrialização no Rio de Janeiro. De

fato, seu modelo do complexo cafeeiro, destinado a explicar as

origens e o dinamismo da indústria paulista, pressupoe a possibi-


,
lidade de generalização para as demais �reas cafeeiras do pa1s.

J� em seu trabalho de 1977, utilizando. os mesmos proce-

dimentos de an�lise construídos a partir da realidade paulista,

Cano procura demonstrar como e por que a economia carioca teria

sofrido um processo de "retrocesso industrial". Esta proposta de

generalização do modelo do complexo cafeeiro e de sua aplicação

para o entendimento das realidades econômicas do Rio de Janeiro,


9

Minas Gerais e Espírito Santo encontra-se porém melhor explicita-

da em seu artigo "Padr6es Diferenciados das Principais Regi6es

Cafeeiras (1850-1930)", de 1985.

Neste texto, ·tomando como referencial de an�lise a eco­

nomia paulista, Cano prop6e-se explicar as raz6es fundamentais p�

las quais as principais regi6es cafeeiras do período assinalado

tiveram dinâmicas distintas de crescimento e de transformação eCQ

namica. O elemento fundamental de diferenciação entre são Paulo

e as demais regi6es consistiria no fato de que apenas naquele es­

tado constituiu-se plenamente o complexo cafeeiro, j� que, nos d�

mais, as relaç6es sociais de produção vigentes e as peculiarida­

des da comercialização· e do financiamento do café não o permiti­

ram. Assim, o elemento capaz de explicar seja a expansão indus­

trial, seja a perda de dinamismo desta atividade, seria a relação

café-indústria.

D e acordo com esta perspectiva complementarista, no ca­

so de são Paulo o elemento propulsionador da industrialização te­

ria sido portanto o desenvolvimento da lavoura cafeeira. Insti­

tuindo desde cedo o trabalho livre, são Paulo teria eliminado um

freio à expansao do café, e ao mesmo tempo criado um amplo merca-

do para produtos alimentícios e industriais. Por .outro lado, a

expansão da lavoura teria també� ampliado as bases de acumulação,

abrindo oportunidades de inversão de capital tanto no desenvolvi­

mento de uma agricultura mercantil como na indústria. Finalmente,

teriam surgido condiç6es para a criação de um mercado de trabalho

livre que reduzia a pressão dos custos da produção industrial.

Enquanto são Paulo se expandia, a utilização mais inten

sa e prolongada do trabalho escravo na cidade e no estado do Rio

teria esvaziado a possibilidade de criação de um setor agrícola


10

dinâmico que pudesse trocar impulsos com o setor industrial. Difi

cultando o aparecimento de um mercado de trabalho livre e amplo,

o escravismo prolongado teria impedido o desenvolvimento da prody

ção de gêneros alimentícios baratos - capazes por sua vez de barª

tear o custo da força de trabalho -, bem como a criação de um me!

cado consumidor para produtos industrializados. Por inferência,

conclui-se que, na medida em que a antiga economia cafeeira do

vale do Paraíba e da região de Minas declinava, toda a economia

fluminense e carioca entrava num processo de "inexorável atrofia".

Esta proposta de análise foi aplicada especificamente

ao Rio de Janeiro por Álvaro Pignaton (1977). Este autor, assu-

mindo a industrialização paulista como paradigma da carioca, prQ

cura confrontar cada um dos componentes do modelo de Cano - ori­

gens do capital, mercado de trabalho, mercado consumidor - com a

realidade do estado do Rio e do Distrito Federal. Ainda que

Pignaton reconheça em parte a especificidade da cidade do Rio de

Janeiro enquanto grande centro comercial, financeiro e político­

administrativo dotado de certo grau de autonomia, no conjunto de

sua argumentação, e principalmente nas suas conclusões acerca da

perda do dinamismo da indústria do Distrito Federal, esta perspe�

tiva termina por diluir-se. As vantagens específicas da cidade

são encaradas como fatores que apenas permitiram um adiamento do

processo de esvaziamento econômico, já " determinado pela atrofia

da economia regional, devido à intensidade e duração do escravis-

mo que provocou a decadência definitiva da agricultura" (1977:

147).

Segundo este ponto de vista, com a crise da cafeicultu­

ra escravista, o desempenho da agricultura fluminense tornou -se

medíocre, e a alternativa econômica foi a pecuária extensiva e de

baixa produtividade, ao lado da mo'nocultura da cana-de-açúcar na


11

região norte do estado. A existência de um setor agrícola em

"estagnação" constituiu assim um freio à acumulação de capital.

1.3 Rio de Janeiro: café. indústria e comércio

Um dos pontos fundamentais a ser destacado na produção

acadêmica sobre a história do Rio de Janeiro, que se expandiu con

sideravelmente no final dos anos 70, é a tentativa de recuperar a

especificidade da realidade carioc'a e fluminense, e questionar a

validade das interpretações generalizantes produzidas a partir do

paradigma da industrialização paulista. Muitos destes trabalhos,


,
ainda que não oponham explicitamente suas propostas as interpre-

tações de Cano e Pignaton, formulam conclusões que possibilitam


,
um questionamento do emprego do modelo do complexo cafeeiro as

realidades econômicas do estado do Rio e do Distrito Federal.

A obra de Eulália Lobo (1977) deve ser lembrada como um


,
esforço pioneiro nesta direção. Ao colocar a disposição dos

pesquisadores grande número de informações, nao só possibilitou o

surgimento de inúmeros novos trabalhos, como chamou a atenção pa-

ra as peculiaridades relativas à cidade do Rio de Janeiro, enquan

to principal centro pOlítico-administrativo, comercial, financei-

ro e industrial do país. Mais recentemente, num estudo sobre a

burguesia comercial do Rio de Janeiro nos séculos XIX e XX (1985),

a autora chama a atenção para o fato de que a atividade comercial

carioca precedeu a expansão cafeeira no país. Tal 'circunstân-

cia indica que o crescimento e o dinamismo do setor comercial nao

esteve atrelado apenas à expansão do café fluminense.

Merece ser citado também, neste conjunto de pesquisas,

o trabalho mais recente de Maria Antonieta Leopoldi (1986), que,

'ao descrever a expansão industrial carioca e chamar a atenção pa-


12

ra a importância desta atividade, fornece evidências que poem em

questão a relação entre o declínio da cafeicultura escravista fly

minense e o "retrocesso industrial" do Distrito Federal. A autora

argumenta que, a despeito da aguda crise da cafeicultura flumi­

nense nas décadas de 80 e 90 do século passado, o Rio se firmou

como o principal centro industrial e financeiro do país justamen-

te nesse período. Para isso contribuíram não apenas as caracte-

rísticas da cidade (centro financeiro, portuário, comercial e po­

lítico-administrativo), como também as mudanças trazidas pelo re-

gime republicano e a abolição da escravidão. Sob esta ótica, a

crise do café fluminense, somada à abolição, em lugar de contri­

buir para a desaceleração industrial, colaborou para a refor-

mulação da pOlítica econômica do governo federal, que, por sua

vez, favoreceu a expansão industrial do Rio de Janeiro.

Ainda nesta linha de argumentação pode ser mencionado o

trabalho de Marieta de Moraes Ferreira (1985). Sem excluir as

interligações entre a acumulação de capital nos setores comerci­

ais do Distrito Federal e a cafeicultura fluminense em suas pri-

meiras décadas, a autora demonstra que o desenvolvimento indus-

trial carioca e fluminense não teve uma relação reflexa e imedia-

ta com a agricultura do estado do Rio. Isto ocorreu porque o prQ

cesso de industrializaçãó carioca usufruía de considerável auto­

nomia, podendo manter um padrão de crescimento graças a um nível

de acumulação de capital já existente no seio da comunidade mer­

cantil local. A análise da performance dos comissários de café -

elementos detentores dos principais lucros da cafeicultura� ate�

ta que desde o começo da década de 1880 as taxas de lucros da ca-

feicultura declinavam, provocan�o uma diminuição continuada do

montante de seus capitais, de suas retiradas e de seus reinves-

timentos. Este retrato da comercialização do café indica assim


13

que , naquel a conjuntura, a tran s ferência de capitais da agricu l ­

tura para os segmentos comerc i a i s era in sign i f i cante . "

A inve s t igação sobre a s ba s e s da expansao indu s tria l do

estado e da c idade do Rio de Jane iro ben e f i c io u - s e em grande par­

te das propos ta s de a n á l i s e de Vers iani e Vers iani (1978), volta-

da s para a performance da indús tria t ê x t i l no país . Ainda que nao

espec i f icamente preocupados com o Rio de Jane iro , estes autores

abriram nova s perspect i vas de aná l i se , rompendo com uma visão

dicotômica ao defender a h ipó t e s e de que a industria l i zação sur­

giu como resul tado dos e s t ímulos produz ido s pela conjugação de

períodos de d i f icu ldades e de expansao do setor e xportador . A l ém

d i s s o , e l e s a tribuíram re levância às ques tões camb i a i s " e tarifá­

rias como fatores de incent ivo à expan são da indústria t êx t i l . As

conclusões de Vers iani (1980) indicam também que o setor c a f e e iro

não cons ti tuiu importante fonte de recursos diretos para a indús­

tria , e que os capita i s para a nova a t ividade provieram principa�

mente do comércio de importação e do reinve s t imento de lucros do

próprio se tor fabr i l .

O traba lho de Ana Maria Monte iro (1985), procurando te�

tar a lgumas propos ta s gera is de Vers iani e Versian i , responde de

man e ira de f i n i tiva às questões relativas às bases da expansao in­

dustrial carioca . Através da aná l i se da implantação da s indús­

trias t ê x t e i s de a l godão n o Rio de Jane iro entre 1878 e 1895, a

autora procura ressaltar a e spec i f i c idade deste proce sso , decor­


"
rente em parte da condição da c idade , de capit a l do Império e em

seguida da Repúb l ica . Sua pesquisa , rea l i zada num universo com­

posto por 12 fábricas insta ladas no período , "rev e l a que o capital

investido n e s s e s empreendimen t o s não es tava diretamente relac ionª

do com a a t ividade exportadora . Na verdade , e s s e s inves t imentos

tinham como princ ipa i s agentes o s negoc iantes de tec idos , e l iga-
14

vam - se a inda ao capita l banc ário .

o ponto d e v i s ta de Mon t e i ro ére i t e rado em numerosos e�

tudos de casos sobre a indústria t ê x t i l carioca , tais como O de

Bastos e Wei d (1986), sobre a Amé r ica Fabr i l , e o d e Faria (1985),

sobre a Companhia B ra s i l I ndustria l , mais conh ec ida como Bangu . A

mesma li nha d e anál ise é encon trada em es tudos acerca da ex pan-

sao industrial em d i v er sos mun ic ípios f luminen se s .

Os traba lhos d e Heloísa Serzedelo Co rreia (1985), sobre

Fr iburgo , e de I smênia Mart i n s (1983), sobre Petrópo l i s demon s -

tram que a implantação d e indú s t r ia s n e s s a s loc a l i dades nao se

deu às custas d e capita i s acumulados loca lment e , mas ao contrá-

rio , art icu lou- s e às a t ividades comerc i a i s da c idade do Rio de

Jane iro . Embora a inda s e j am in sufic ientes os e s tudos sobre ou-

tros núc l eos i nd u s t r i a i s flumin en ses no i n í c io do século, como

Niteró i , Campo s , Magé e Mend e s , a l gumas in formações pre l iminare s

são fornecidas de man e ira esparsa por d i versos traba lhos que con-

vergem para uma mesma conc lusão : a indústria f l uminense se cons-

t i tuiu como um de sdobramento da c a r ioca .

E s t e con j unto de novos trabalhos forne c e também subs ídi

os importantes para se d i s cutir a apl icação do mod elo do compl e -

x o cafee iro a o R i o de Janeiro n o que d i z r e s peito a o problema d o

mercado d e trabalho l i vre , o u s e j a , às questões da escassez e do

encarec imento da mã o-de -obra para a expansão indus t r ia l . Segundo

e s t e mod e l o , os a l tos sa l ários vigentes no Rio de Janeiro se riam

fruto da e s c a s s e z numérica d e mão-de -obra , a s soc iada aos a l tos

custos dos gêneros a l ime n t í c ios provocados pela " decadênc ia" da

agricultura f luminen s e , incapaz d e abastecer o estado do Rio e o


I

D i s trito Federa l . Contudo , a s a n á l i s e s mais recentes acerca da

agricultura f luminense e das pOl í t icas econômic a s implementadas


15

pelos governos do es tado d o Rio na Prime ira República nao corro-

boram este pon to de vista .

o traba lho d e Sônia Mendonça ( 1 9 7 7 ) , ao a n a l i sar os

efeitos da prime ira po l í tica d e valorização do café para o e s tado

do Rio , demons tra que não foi garan tida ao setor ca fee iro uma

lucratividade capaz d e soluc ionar a s d i f iculdades econômicas e x i�

tente s . Em contrapartida , a autora a s s inala uma nova tendência

da economia f l umin ense d e l ineada pa ralela e proporciona lmen te a

crise da cafe icultura , e incentivada pe l a s e l i t e s d i r igentes es-

tadua i s : a d i v e r s i f icação d a agricul tura .

Embora r e s s a l t e que esta tendênc ia eme rgente teve sua

implementação l imi tada e não representou uma s o lução de finitiva

para a crlse da economia f lumine n s e , Mendonça cons idera que a e x -

pansao do c u l t ivo de gêneros d e prime ira n e c e s s idade abr iu c a-

minho para trans forma ç õ e s expressiva s . De acordo com os dados

e s t a t í s t icos apresentad o s , de 1 9 0 3 a 1 9 1 4 o c r e s c imento da pro-

dução agrícola f l uminense permitiu não só o auto- aba stec imen to , cQ

mo a exportação d e a l imentos para o D i s t rito Federa l . Tais conc ly

soes refutam a s t e s e s trad i c iona i s d e que após a c r i s e d o café a

economia f lumine n s e s e teria vol tado exc lus ivamentes para a pecua
,

ria extensiva .

o d esenvolvimento d e toda uma l inha d e es tudos vo l tada

para a h i stória agrária f l uminen s e , com ên fase especial na ana-

l i se dos regimes da propr iedade e da produção de a l imentos em

d iversos munic ípios , tem igualmente trazido contribuições s igni-

f icativa s . o traba lho d e Hebe d e Ca s t ro ( 1 9 87 ) , que tem como ob-

jetivo analisar num município f l uminense as relações entre, a pro-

dução agrícola , vol tada para o mercado interno , e a e scravidão ,

quest iona as interpretações correntes , d e que o e scravismo entra-


16

3
vou a constituição deste mercado interno . A autora demonstra ,

inclus ive , que a e x i stência de uma faixa de produção de subs i s-

tênc ia a cargo do s es cravos chegou a gerar excedentes para a c o-

merc ial ização .

Em sua aná l i se , Castro chama a atenção para a importân-

c la que o traba lho escravo t eve na produção comer c i a l de gene-

ros de prime ira nece s s idade até a s vesper� da abo l ição , chegando

a af irmar que as dimensões do mercado inte rno da provlncla do


, .

Rio de Janeiro na segunda metade do sécu l o X I X foram sufic ien te-

mente amplas a ponto de po s s i b i l ita r a es truturação de uma orga-

nização produtiva escravista e comer c i a l ( 1 9 8 6 : 9 0 - 91 ) . Tanto du­

rante como apos a vigênc ia do traba lho escravo , a produção agrícQ

la de subs i s tência teria a s s im desempenhado um pape l fundamental

na regu larização do abastec imento urbano . Por outro lado , no

que diz respeito à agricul tura a cargo de homens l i v re s , a autora

r e s s a l t a que a produção vo l tada para a subs is tência nao es tava

desarticu lada do rre rcado interno , e que seus excedentes eram c a-

na l izados para o s mercados reg iona i s .

Um outro ponto a ser r e s s a l tado n e s ta l inha de anál ise

refere-se-à própr ia recuperação da c a f e i c u l tura f l uminen s e . Salo-

mão Turnovisky ( 1 9 7 8 ) , ao ana l i sar o desempenho desta at ividade

econômica , ressa l ta o surgimento no norte do e s tado de novas are-

a s de c u l t ivo bas eadas no traba l h o l ivre já no sécul o XX .

E s ta s numerosa s contribuiçõe s , se por um lado , eviden-

temente nao defendem a e x i st ência de um dinami smo da agricultura

fl�minen s e , apontam para a i n s u f i c i ê n c ia das interpretações gue

a qua l i f icam como e s t agnada . A l ém disso , chamam a a tenção para a

importância de e s tudos e spec í f ic o s que anal i s em mais det idamente

a l igação entre as economias c a r ioca e f l uminen se na virada do si


17

culo . Destacam também que , se a implementação das po l í ticas de

dive r s i f icação ag r í c o l a não at ingiu o s resul tados n ecessários , ��

to nao se deveu e s s en c i a l mente ao passado escravi sta , mas as

opçoes po l í t ica s adotadas pe l a s e l i t e s d i rigentes do es tado do

Rio de Janeiro .

Se os a l to s custos da mão-de -obra no D i s trito Federa l

( e este dado é reconh e c ido ) não se expl icam pelas d i f iculdades d a

agricu l tura f l uminense em produzir a l imento s , al guns traba lhos

ma is vol t ados para o e s tudo da c l a s s e traba lhadora fornecem sub-

sídios para nova s formul ações . Go" m es (1987) e Batalha (1986), ao

apontar denúnci a s d o s j o rnais operários sobre os a l tos preços dos

a l imentos na c idade do Rio , demonst ram qu e , naqu e l e s d iagnó s t i -

cos , os preços e l evados eram atr ibu ídos bas icamente aos mecanis-

mos de d i s t r ibu ição e comerc i a l i zação dos gênero s , mui to mais d o

que a sua es ca s s ez .

Para Cano e Pignaton , o encarec imento da mão-de -obra no

mercado de traba lho expl icava - s e não só pela e s c a s s e z de a l imen-

tos , ma s também pela própr ia e s c a s s e z numérica de trabalhadore s .

Mais uma vez o s novos es tud o s , tanto sobre a indu s t r i a l i zaçã o quan

to sobre a c l a s s e traba lhadora , o ferecem contribu i ç õ e s interes-

sant es . Ba s to s e Weid (1986), ao d i scut ir o s prob lemas ' d e mao-

de-obra enfrentados pe la América Fabr i l , des tacam as d i f iculdades

de d i sc i p l inar um cont ingen t e d e traba lhadores d e man e ira a ade-

quá - l o às e x igências da produção fabr i l . o traba lho d e José Mu-

rilo de Carva lho (1987) também enriquece esta d i sc u s sã o , ao cha-

mar atenção para a s inúmeras forma s a l ternativas d e ocupação que

permitiam a não i ns erç ã o do traba lhador n o mercado formal d e tra-


I

balho . A apresen tação d e s s e s argumentos permite novas formul a -

ç o e s acerca do encarecimento da força d e trabalho carioca , nao

mais relacicnando-o com a c r i s e da agricul tura f l uminense .


18

N a lógica do mod e l o d o complexo c a f e e i r o , um outro ob s­

táculo impor tante à e xpansão indus trial eram as limi tações do meL

cado consumidor da d e nominada região do Rio de Janeiro . Em vir tu­

de do "retrocesso d a economia f l uminense" e da f a l ta d e integra­

ção entre as várias regiões do pa í s , oca s ionada pela descentra l i­

zação vigente na Primeira Repúbl ica , a produção indu s t r i a l c ar io­

ca e f luminense teria tido d i f iculdades crescentes para come r c i a ­

l izar s u a s mercador i a s . A s in formações apresentadas por Eul á l ia

Lobo ( 1 9 7 8 ) r e l a t ivas a e s ta que stão são impor tant e s . Para e s ta

autora , os empreendimentos come r c i a i s e f inance iros c a r iocas t i­

nham um âmbito d e a tuação amplo , par t ic i pando d e operações em ou­

tras regiões do pa í s , o que lhes garantia a manutenção d e um pro-

ce sso de ac umu lação independente dos mercados loc a i s , bem c omo

o contro l e de uma rede d e produtos que permi tia o e scoamento da

produção industria l .

E s te mesmo ponto d e v i s ta é re forçado por S t e i n ( 1 9 7 9 ) ,

que fornece informações acerca d a d i s tribuição da produção têx­

t i l car ioca e f luminense em diversos e stados d o pa ís, chegando in

clusive a a ting i r a região platina . I gua lment e , Bastos e \�eid

revela m a extensa rede d e d i s t r ibuição dos produtos da América

Fabr i l . Ainda que não preocupada es pec i ficamente com a que stão

indu s t r ia l , Marga reth Martins ( 1 98 5 ) , ao e s tudar a Estrada de

Ferro Centra l d o Bra s i l , r e s s a l t a o papel desta ferrovia como in�

t rumento de integração do mercado int erno e d e d i s t r ibuição de

produtos ma nufaturados .

1.4 Uma proposta a l ternativa

Uma vez q u e os estudos apr es entados fornecem subsídios

para se que s tionar as interpre tações que identificam na c r ise da


19

c a f e icu l tura d o v a l e d o Para íba a or igem d a perda d e d i namismo d a

indú stria c a r ioca , cabe perguntar qua is ser�am os fatores re spon­

sáveis pela perda da pos i ç ão hegemôn ica da produção indu s t r i a l do

D i s trito Federa l .

Bárbara Levy ( 1 9 8 7 ) aponta a lguns c aminhos para t a l in­

vest igação . Preocupada com a e l evação dos componentes dos custos

da produção industria l , a a u tora foca l i z a a questão das tar ifa s

de energia e létrica como um fator explic a tivo re levan te . De aco�

do com sua aná l i s e , a ind ú s t r i a c a rioca no começo do século XX

aumentou con s tantemente sua d ependência do fornecimento d e energia

fe ito pela Ligh t . S e , por um lado , e s te fato evidenciava um mo­

vimento de modern i zação , por outro , a cobrança em ouro , a partir

de 1 9 1 4 , de metade do valor d a s t a r i f a s para novos consumidores

ou para a ampl iação d e an tig as in sta lações , propiciou um aumento

consideráve l dos g astos com energia . D e sta forma , c r ia ram- se sé­

r ios entraves para a manutenção do c re s c imento indust r i a l c a r ioc a .

o traba lho d e Marco Antônio Guarita ( 1986 ) enquadra - s e

também nes ta l inha d e aná l i s e , n a med ida em que a perda d e d in a -

mi smo da indústria no D i s t r i to F e d e r a l é interpretada a p a r t ir

do aumento dos c u s tos da produção l oc a l provocado por fatores

como tar i f as de energ i a , transport es e sa lá rios .

Uma outra vertente a ser explorada de forma mais e fe -

t iva como e l emento expl icat ivo impor tante é a r el aç ão entre co-

mércio e indústr i a . A e s treita vinculação e d epend ê n c i a da in-

dústria c a r ioca e f l uminense em re lação a s a tividades comerc ia is

de importação prec i s a s e r ma i s a profundada . Nesta l inha , F lávio

Versiani ( 1 9 8 0 ) já chamou a a tenção para o fato d e que os inves­

t imentos dos importadores na produção indu s t r i a l in terna se apre­

sentaram como uma pos sibil idade d e evitar perdas a t ravés da di-
20

versi ficação . E s t a era , en tretanto , uma at ividade colateral de

cobertura de r i scos , e que , conseqüent emen te , trazia d i f iculdades

para a expansão d o s etor , uma vez que o invest idor pod eria ter

uma excess iva d i vers i f icação d as atividad e s .

A vinculação da expansão indu s t r i a l a uma fração d o c a -

pita l comerc i a l , s e por um l ado d esempenhou um pap el de grande

importânc ia , não só na fundação e na manutenção dos es tabe l e c imen

tos , como também na abertura de mercados para a sua produçã o ,

por outro , trouxe l imitações . E s t es empr e sário s , em muitos c a-

sos , adm i n i s t ravam os seus e stabe lecimentos indu s t r i a i s u t i l izan-

do-se dos mesmos métodos empregados na admini stração dos seus

negóc ios comerc ia i s . Entretanto , a s prioridades de inversão se

concent ravam n o s s egundo s , e não n o s prime i ro s . Como o s capitais

inve st idos nos seus e s tabe l e c imentos indus t r i a i s o riginavam - s e

principalmente de s e u s negócio s comerc ia i s , os empr e s á r i o s e s for-

çavam-se ao máx imo para que grand e s somas não f o s s em a r r i scadas

na indústria , a qua l , embora come ç a s s e a se tornar nao

o ferecia a inda perspectivas de lucros rápidos e gigant e s co s .

Um obs e rvador das indú s t r i a s t ê x t e i s da d écada d e 1 9 1 0

d i z ia : "Do ponto d e v i s ta admin i s t ra t i vo , muitas fábr icas bra-

s i l e iras não são capa z e s de suportar qua lquer período d e s favorá-

ve l prolongado ( . . .) A organ ização tí pica é a soc iedade anôn ima

formada pe la união de várias fábri c a s , à testa d as quai s se en-

contra uma pessoa que é muito mais um f inanc ista d o que um indus-

trial têxtil ( . . . ) A l ém d e possuir ou controlar muit a s fábr ic as ,

tais empresas gera lmente s e d ed icam a várias iniciat ivas mais ou

menos relac ionadas ( . . . ) Enquanto e s sa d i v e r s i ficação tem c e r t as

vantagens que f a c i lmen t e se percebem , é duvidoso que e la conduza


, ' . . . . . - . . ' . 4
as pra t 1cas 1ndu s t r 1 a 1 s ma1S econom1cas o u ma 1 S s o 1 1da s " .
21

Segundo Wa rren Dean ( 1 9 79 ) , com o avanço do d e s envolvi­

mento indu s tria l , os importadores pau l i stas , muito ma is do que os

carioca s , tenderam a perder sua ide n t idade de importadores e a

se trans formar em indu s t r i a i s de fa t o , o que expl icaria o maior

dinamismo da indús tria t ê x t i l de são Pa ulo em r e lação a do Rio .

No entanto , nao e x istem a inda es tudos espec í f i co� que ana l isem a

relação entre a s a t i v idades indu s t r i a i s e as grandes firmas comeL

ciais de importação ou atacadi s t a s carioca s , nem mesmo e studos

sobre as caracterís t i cas e a a tuação de s s e s setores . Uma inve s t i­

gaçao cuidadosa sobre s eu desempenho ce rta�ente repre sentaria uma

contribuição importante .

Uma outra l inha de aná l i s e sobre o esvaziamento econo­

mico do Rio de Janeiro é a que foca l iza questões de caráter po­

l í t ico-admin i s t r a t ivo . O ponto centra l do argumento proposto por

J . P . de Alme ida Maga l h ã e s (s!d ) é o fato de a c i dade do Rio ter

sido dura nte muito tempo a capita l do pa í s . Tal con t ingência t e -

r i a sido responsável pela formação d e c idadãos dotados de u m for­

te sentimento nac iona l e pouco preocupados com os prob lemas regiQ

nais . Es te traço metropo l itano teria d i f i c u l tadc o aparec imento

de um lobby capaz de de fender , através de negoc iações polít ica�,

os interesses f luminen s e s , e a própria divisão pOl í t ico-adminis­

trat iva entre a c idade e o es tado do Rio teria impedido a formu­

lação de pOlít icas integradoras d e s t inadas a soluc ionar os desa­

fios econômicos da região . A esta mesma l inha de inte rpretação

f i l ia - s e o traba lho de Melo e Con s idera ( 1 9 86 ) .

A despe i to de todas e s t a s va l iosas contribuiçõe s , o e s ­

tudo do proc esso de indu s t r i a l ização carioca e f l uminense ainda

está longe de encerrar formu la ç õ e s ma i s de f i n i t i va s , permanecendo

em aberto a novas pesquisas um amplo l eque de que s t õ e s .


22

2. A c l a s s e traba lhadora no R i o d e Jan e i r o

2 .1 . O s enfoques "cl�ss icos,r

O s es tudos sobre a c la8se trabalhadora n o B r a s i l também

começaram a aparec e r em fin s dos anos 50 e inícios dos anos 60.

A marca por e x c e l ência d estes e s tudos , e sua grande contribuição

foi as sociar a s que stões r e l a tivas ao proc esso de formação da

c l a s s e traba lhadora ccm o t i po d e d e s envolvimento capi t a l i s t a 0-

corr ido no pa í s , com d e s taque para a s formas tornadas por nossa

industria l i z a ção . É nes t e s entido mais geral que o s traba lhos d e

Jua rez Brandão Lopes (1964), Leôn cio Martins Rodrigues (1967) e,

numa perspect iva rr.ais par t i c u l a r , A z i s Simão (1966), procuram co�

preend er o s d eterminantes e s truturais do compo rtamento do opera­

riado bra s i l e iro .

E s t e s d e t e rminantes·, gro sso moco , foram iden t i f icados

na or1gem rural da mão-de-obra indu s t r ial ; na importânc ia da imi­

gração para a formação do contingente in icial de trabalhadores ;

na magnitude dc exército indu s t r i a l d e re serva ; no t i po de in­

serçao que os operários t inham em seu ambiente de t rabalho , en-

fim , todos e l ementos e x p l i c a t ivos d e um per f i l sociológico da

c la s s e traba lhadora . Por e s t a razã o , e8te con j unto de estudos


5
foi caracter i z ado por Luiz Werneck Vianna (1978) corno tendo -se

incl inado por um " en f oque sociológico" para responder aos proble­

ma s que o contexto po l í t ico da época co locava quan to ao comporta-

mento do operariado . Ta is prob lemas estavam centrados primordial

mente , d e um lado , no popul i smo que carac terizava a pO l í tica bra­

s i l e ira e , de outro , na h eteronomia que marcava a pa rtic ipação PQ

l í t ica dos traba lhadore s , o que por sua vez nao pod ia ser d i s so­

c iado do mod e l o corporativista d e nossa orga n i z ação s indica l .


23

Para s e entender a importância do ape l o popu l i s ta, era

necessário recuperar a experiência dos traba lhadores ao longo

da Primeira Repúb l ica e todo um proc e s so através do qual um s ind�

c a l i smo comba t ivo e independen te , apesar de frá gi l , se transfor­

mou em um s i ndica l i smo com poder cresce nte , ma s s o l idame nte atre-

lado ao E s tado . Por i s s o , o momento privi l egiado por este pr i-

meiro grupo de autores foram o s anos d o pré - 3 0 e, o que e bem

compreens íve l , seus es tudos concentraram-se no exame do material

empírico referente à c idade e ao es tado de são Paulo .

Um segundo conjunto d e e s tudos sobre a formação da c la�

se trabalhadora pode ser datado dos finais dos anos 6 0 , vinculan­

d o - s e ao e s forço do pensamento s o c i a l bra s i l eiro em re sponder aos

probl ema s co l ocados pela eclo são e pelos desdobramentos pOl í t icos

do movimento mil i ta r d e março d e 1 9 6 4 . Re tomando as interpre t a-

ções anteriores, es tes e s tudos inovam ao pos tular que o compor­

tamento do operariado bra s i l e iro , como de resto de ' qualquer ope­

rariad o , não pode ser expl icado somente a pa rtir de variáveis e s ­

truturais d e natureza sociológica , d esco n sid erando - s e a aná l ise

das con junturas po l í ticas esp ecí ficas nas qua is e s t e comportamen-

to teve lugar . Não s e tratava - é bom r e s s a l tar - d e d e squa l i f i -

c a r a cont r ibu ição anterior . O en foque desta nova produção , con­

tudo , iria enfatizar a dimensão pO l í tica nas interpretações sobre

o processo de formação da c l a s s e traba lhadora .

A preocupação em compreender a s razões que condic iona­

ram o pacto popu l i s ta dos anos 4 0 e sua d errocada em 6 4 , bem como

a d inâmica que deu or igem ao nosso mod e l o de s indica l ismo corpo­

rativista , que é mantido no pós-64 , fez com que e s t e s es tudos so­

bre a c l a s s e traba lhadora passassem a privi l egiar a s relações d e s ­

t a c la s s e com o s pa r t id o s pol í tico s , o s víncu l o s entre partidos e


24

mov imento s indica l , e a questão d o peso e l e i tora l do operariado

urbano . Desta forma , e s t e s e s tudos d e s locaram a inve s t igação dos

anos da Prime ira Repúb l ica para os per íodos compreend idos entre

1 9 3 0-45 ( quando tem origem a l e g i s lação traba l h i s ta e si nd i c a l

bra s i leira ) e entre 1 9 4 5-64 ( quando o s indica l i smo corpora tivista

convive com os part i dos da l ibera l -democrac i a ) . Embora tenha oco�

rido este des locamento quanto ao momento privil egiado para a ana-
,

l i s e , é bom ob servar que foi ba s icamente a temá tica do s indica-

l i smo heró ico ou buroc r á t i c o , em seus vínculos com as que stões

da acumu lação capita l i sta e do popul i smo , que orientou ambas as

l inhas interpreta t ivas .

Os traba lhos de Franci sco We f fort ( 1 9 6 8 , 1972, 1973 e

1 9 7 8 - 9 ) , sua pOlêmica com Car los E s t evam Mar ti n s e Maria Hermínia

T . de Almeida , e a tese de doutorado desta autora ( 1 978 ) sao

ex emplos sign i fi c a t ivos da importante contribu ição que o " en fo-

que po l ítico" trou x e para os estudos da c la s s e trabalhadora . Ain-

da vinculado a esta l inha d e preocupação está o l ivro de Luiz

Werneck Vianna ( 1 9 7 6 ) , com a par t i c u l a r idade d e , sem abandonar a

ótica pOl ítica , s i tuar a l e g i s lação traba l h i s ta e s indica l em

face da questão da acumu lação capi t a l i s ta no pós-3 D .

Va l e res s a l tar um úl timo ponto relat ivamente ao t ipo d e

produção acadêmica d e s t e período . Em são Paulo , os tema s da in-

dustr i a l ização , do empresariado , do movimento ope rário e s i nd i -

ca l , e também do proc e s so d e traba lho n a s fábr i cas e s t iveram sem-

pre presentes , ganhando maior d e s taque nos anos 7 0 . Já os traba-

lhos que tratam do R io de Janeiro e l e g e ram o tema dos movimentos

e con fl itos urbanos po l ic la s s i s ta s . Ou s e j a , e s t e s t e x tos procu-

raram enfatizar uma certa forma de atuação da população urbana ,

que se trad u z ia pelo a f a s tamento do mode lo c l á s s ico da luta .por

part icipação pol í t ica , a l imentando a con s trução de uma separaçao


25

entre mani fes tações ma i s e s pon tâneas e vio lenta s e movimentos da

c la s s e traba lhadora , menos numerosos e sign i f i c a t ivos . D e s t a for-

ma , a luta do s traba l h adores foi s i tuada como um fenômeno a


,

pa rte , desvinculado dos episódios centra i s que agitaram a vida PQ

lítica da c idade .

Já a pa r t i r de f ina i s d o s anos 7 0 , pode - s e observar a

eme rgência d e dois outros con j un t o s d e e s tudos . Em primeiro lu-

gar surge uma série de t e x to s , artigos sobretud o , que têm como

ponto de partida os impactos d e rivados do proce s s o de a c e l e ração

indu s t r i a l - ou s e j a , do "mi l agre econômi c o " - sobre as formas d e

atuação d o .movimento s indic a l . Entra em cena como ob j eto de e s -

tudo o chamado "novo s indica l i smo " , que a tua dentro das fábric a s

mob i l i z ando e organ i zando o s trabalhadore s , e que s t ionando ao

me smo tempo antigas l ideranças e prá t i c a s do s indic a l i smo co rpo-

rativista .

'
o en foque aqui continua a s e r pol í t i c o , mas centra - s e

n a s que stões d a r e l ação entre democracia e corpora t i v i smo , priori

za a fábrica como espaço de luta e e l ege como momento privilegi-

ado de aná l i se o f i n a l da década d e 1 9 7 0 e a experiência do ope-

rariado do ABC pa u l i sta . Os trabalhos d e Leôncio Martins Rodri-

gues ( 1 9 7 9 , 1 9 80 ) , Maria Hermínia T. d e Almeida ( 1981 , 1982 e

1 9 8 3 ) , Luiz Werneck Vianna ( 1 9 8 1 e 1 9 8 3 ) e . Amaury de Souza e

Bol iva r Lamounier ( 1 98 1 ) são exemplos mu ito s igni ficat ivos deste

t ipo de aná l i s e .

Em segundo luga r , começ a surgir com mais força um outro

con j unto de e s tudos sobre a c l a s s e traba lhadora que retorna as

que s t õ e s d o movimento operár i o e s indica l , d e sua r e l ação com o

processo de indu s t r i a l i z ação e com o tema do popu l ismo , mas a s su-

mindo ni t idamente uma perspect iva h i s tórica . Werneck Vianna , em


26

sua res enha de 1 9 7 8 para o B I B , j á apontava a eme rgênc ia desta nQ

va tendênc ia de es tud o s sobre a c la s s e traba lhadora , ressa ltando

que o que fora até então ma téria d e ref lexão d e soció logos e c i -

e n t i s t a s po l í ticos es pec i a l i zados e m s indica l i smo começava a se

trans formar em terreno de a n á l i s e s h i s tóric a s , quer real i zadas

por h i s tori adore s , quer não .

2.2 O pro c e s s o d e fo rmação da c la s s e traba lhadora

Sem dúvida o traba lho que pode ser d e s tacado corno pio-

neiro e grande e s t imu lador d as a n á l i s e s sobre o proce s s o d e for-

maçao da c l a s s e trabalhadora no Rio d e Jan e i ro é o l ivro d e Boris

Fausto , Traba lho urbano e con f l i to ind u s t r i a l , pub l icado em 1976.

Apo iado em sól ido l evan tamen to d e fontes h i s tóricas primá r i a s

j orna i s operá rios e m espec i a l - B o r i s Fausto retorna à s . que s t õ e s

do movimento operá r i o e s i n d i c a l j á c lá s s icas n a l i tera tura espe-

c i a l izada , rev i s i tando o períod o da Pr ime ira Repúb l i c a e traba-

lhando com o operariado de são Pau lo e do Rio d e Janeiro . Através

da perspect iva comparada , Fausto relat i vi za con c l u s õ e s e corrige

general izações , contribuindo t princ i pa lmente no que se refere ao

operariado carioca , com o levantamento d e novas que s t õ e s e terna s

para a a n á l i s e .

A grande contribu ição d e Bo ri s Fausto foi ter apontado

a maior comp l e x idade d a s corren·tes e x i stentes no s i n d i c a l ismo

carioc a , onde m i l i tavam soc ia l i s ta s , anarquistas e " amarelos 11 , e

des tacado a importância e h e t erogeneidade desta ú l t ima corrent e .

Segundo Fausto , não s e pode a s s o c i á - l a simplesmente à id éia d e um

reformismo subm i s s o e não-reivind i c a t ó rio , uma vez que há exem-

pIos de s indicatos ama r elo s comba t i vo s , como o s do porto do Rio

em certos momentos da Prime ira Repúbl ica . Procurando também e s-


27

tabe l ecer l i nhas d e continuidade entre o s indic a l i smo amarelo e

o sindica l i smo buroc rático d o pó s - 3 D , o autor cunhou a expressa0

" t raba lhismo carioca " .

Como Boris Fau s to foi o primeiro autor a dar as cor­

rentes ama r e l a s um d e s taque merec ido , seu traba lho pas sou a a l i ­

mentar l inhas inte rpre t a t ivas que s ó mais recentemente foram re-

vistas . Entre o s temas em debate figuram bas icamente a idéia

do sindicato ama r e l o como pred e c e s s o r do sindicato IIpelego " , e

ainda a idéia de que os ama r e l o s se t ives sem concentrado no setor

terciário da economia car ioca ( portos e ferrovia s ) , composto pre-

dominantemente por um con t ingente d e operários bra s i l e iro s . De

toda forma , com o traba lho de Faus to , o s anos da P r imeira Re -

púb l i c a e a temá ti ca do s indica l i smo no Rio d e Janeiro pas saram a

merecer atenção espec i a l dos e studos que a s s umem uma perspectiva

h i s tórica no trato d a questão da formação da c la s s e trabalhadora .

Alguns trabalhos i l u s t ram esta tendênc ia e contribuem

com um maior rigor e d ivers i f icação no uso d e fontes h i s tórica s ,

oferecendo a s s im dados para a n á l i s e s subseqüentes . são exemplos

os l ivros dos pesqui s adores americanos J . foste-r Dul l e s ( 1977 ) e

Sheldon Maram ( 1 9 7 9 ) , c entrados na questão do movimento operário

com destaque para o R i o , e o traba lho d e Eulál ia Lobo ( 1 9 78 ) , que

l ida com o s temas das cond ições d e vida e trabalho do operariado

carioca e do proc e s s o de indu s t r i a l i zação desta c idad e .

V a l e observar que o c r e s c imento d e s s e s _ e studos h i s tóri­

cos sobre o proce s so de formação da c la s s e traba lhadora n o B r a s i l

apresenta a lgumas caracter ís t ic a s reve ladora s , con forme Werneck

Vianna ( 1 9 7 8 ) também já a s s ina lou . Alguns temas até então pouco

tratados ganharam grande r e l e vânci a , como é o caso dos partidos

pO l í t icos orientados para a c la s s e traba lhadora . No entanto , se


28

os traba lhos sobre o Part ido Comun is ta sao numerosos e d iver s i f i -

cados ( interpretaçõe s , c o l e tâneas d e documentos , t e x t o s ma i s me-

moria l í s ticos ) , qua s e não se produ zem e s tudos sobre o Part ido Trª

balhista B ra s i l e ir o , que permanece a s s im um campo abe rto a futu-


' . 6
ras ana l l ses .

Por outro l a d o , e s s e s es tudos h i stóricos apresentam

uma franca tendência à region a l ização . At"é a década pa ssada , a

ma ior pa rt.e da produção acadêmica era d e senvo lvida em são Paul o ,

tendo esta c idade e e s tado como s e u foco d e aná l i s e , muito embo-

ra , ao fina l , suas conc lusões acaba s sem por ser genera l i zadas pa-

ra todo o pa í s . C ertamente c omo reação a e s ta prát ic a , que se

mostrava cada vez menos e s c l arecedor a , cresceu o interesse pelo

exame de r e a l idades loca i s , o que veio perm i t i r um en foque compa-

rat ivo . Traba lhos sobre a formação da c la s s e traba lhadora e se u

comportamento pO l í t ico em outras c idades do paí s , como Juiz de

Fora , Rec i f e e Porto A l egre , co n stituem novidade s nesta a rea de

estudos ( Dutra , 1 9 8 1 ; Machado , 1 9 8 3 , e Soare s , 1 9 82 ) .

Neste con t e x t o , torn a - s e muito s ign i f i c a t ivo a contri-

buição tra z ida pelos e s tudos que têm a c la s s e trabalhadora da

c idade e d o es tado d o R i o d e Janeiro como s e u ob j e to d e aná l i s e .

° que vai caracterizar sobremane ira e s t a produção e a busca de

nova s abordagens e , princ ipa lmente , a e l eição d e novas questões ,

que surgem como d ecorrência d e um traba lho interd i s c ip l inar na

area da h i stória e d a s c iê n c i a s soc ia i s . A nosso ver , talvez

seja esta a princ ipa l contribuição destes estudo s , que c r e scem

nos anos 80 , e que procuraremos carac terizar .

E s te con j unto d i v e r s i f icado pode ser d iv i d id o , gro sso

modo , em três grandes l inhas d e inve s t igação . Em primeiro luga r ,

os estudos que têm como fio condutor a temática d a s cond ições' d e


29

vida e traba lho da c la s se traba lhadora car10ca , quer privi legian-

do uma questão e spec í fica , quer r e l a cionando várias destas que s -

t õ e s entre s i e , e m espec ia l , com a d inâmica d o movimento s indi-

cal da c idad e . Em segundo luga r , o s e s tudos voltados para o pro-


,

prio movimento operário e s indica l , com d estaque para o tema da

d i ferenciação de correntes que domina e s t e movimento no Rio . E,

em terceiro luga r , o s es tudos que , centrados em uma r e fl e x ã o so-

bre o espaço urbano carioc a , d i scutem a s formas de mob i l ização

e partic ipação po l í t ica s que marcaram o Rio ; que r em t e rmo s de

partidos pO l ít i c o s e a s s o c iações d e c la s se , quer em termos d e mo-

vimentos sociais organ i zados ou não .

2.3 Condiçõe s d e vida e trabalho

o número d e es tudos sobre a s condições de vida e traba-

lho da c l a s s e traba lhadora carioca tem c r e s c id o muit o , avançando

na carac t e r ização do perf i l tanto da c idade , nos fin s do século

XIX e inícios do século X X , quanto da própria c la s s e traba lhado-

ra : sua compos i ção étnic a , sua d i s tribuição por ocupaçoe s , s eu

modo de mora r , de d i v e r t i r - s e etc .

N es ta á rea é importante começ a r registrando o pape l pio

neiro dos traba lhos de Eulá l ia Lobo ( 1 9 7 8 , 1981 ) , cuja princ i -

pa I contribu ição f o i t e r reunido u m vo lume sign i f i c a t ivo de in-

formações sobre uma questão até então pouco observad a , procurando

r e l a c ioná - l a com a d inâmica d o movimento operário carioca na

Prime ira Repúb l i c a e , em espec ia l , com O problema da d e f l agração

de greve s . No c a s o particular e bem ma i s recente d o art igo pro-

duz ido em co-autoria com Eduardo Stotz ( 19 8 5 ) , as condições de

vida d o s traba lhadores cariocas s ã o examinad as com O ob j e t ivo d e

serem u t i l izadas como variáv e i s explicativas d e s eu comportamento


30

grevista . Embora d e s envol vendo conclusões a inda prel imina re s , o

texto aponta para um certo tipo de relação entre as mob i l i zações

grevistas e o s c ic l o s d a economia carioca . Se até a Primeira

Guerra Mund ial a maior incidência de greves ocorreu em momentos

de depressão do c ic l o - em espec i a l d e d e c l ínio da produção in­

dustrial - , entre 1 9 1 5 e 1 9 2 9 i s t o se deu em períodos de ascen-

são da produção industria l . Portanto , - e e isto o que queremos

d e s tacar - , não é po s s ív e l apon tar tout court uma s ituação de

de terioração das cond i ç õ e s de vida dos traba lhadore s , ou o �n­

verso , como fa tor e x p l i c a t i vo para o comportamento grevis t a . Ou

s e j a , mesmo que indire tamen te , o art igo suscita a nece s s idade d e

recurso a outros e l ementos e x p l i c a t ivo s , como por e xemplo as

cond ições da vida po l í t ica da c idade e da própria c la s s e traba-

lhadora .

Pod e - s e verificar também que um razoável numero d e es­

tudos , ond e s e d e s tacam a s t e s e s d e mestrado , retorna a questão

das condições de vida e traba lho da c la s s e traba lhadora a pa r t i r

d a d i scussão da reforma urbana q u e o R i o so freu a epoca da pre-

feitura de Pereira Pa s so s . A reorga n i zação do espaço urbano da

c idade permite que a s trans forma ç õ e s d as condições de hab itação ,

. transporte e saúde s e j am examinada s , e que seus desdobramentos sQ

bre a forma de vida das camadas populares em gera l , e da c la s s e

trabalhadora e m e spec ia l , s e j am privil egiado s . A t e s e d e mestra­

do de Ja ime Benchimol ( 1 9 82 ) , examinando a po l í tica de Pereira

Passos , teve aí um pa pel impu l s ionad or , e o programa de pós - gra­

duação da COPPE/UFRJ a tuou c omo um e s t ímulo ao caráter interdis­

c ipl inar que marca boa pa r t e da produção rea l i zada dentro desta

l inha de pesqu i s a .

No que d i z respeito ma i s e spec i ficamente ao exame do

problema habitaciona l , v ár i o s traba lh o s foram e l aborad o s . Todos


31

e l e s convergem em sua descrição d o proc esso de expu l s ã o d a popul�

çao pobre do c entro da c idad e , d ecorrente da d e s t ruição dos corti

ços e casas d e cômod o , bem como da perseguição a todo um estilo

de vida - tanto d e trabalho como d e lazer - onde imperavam as pe-

quenas o f i ci na s , as rodas d e samba e d e capoeira . Uma po l í t ica

agress iva e bem- sucedida l iquidou com a "pequena África" e com

tudo o que ela s igni f i cava . A cons eqüência d e t a l a tuação foi a

tran sferência d e s t a população pobre e também traba lhadora para

os subúrbios da c idade e para os morro s . Va l e registrar neste

con j unto de textos os de Carva lho · ( 1 980 ) , Rocha ( 1983 ) , E l ia

( 1 984 ) , Porto ( 1 9 8 5 ) , Pechman e Fritsch ( 1 9 8 5 ) , Pad i l h a ( 1 9 8 5 ) e

Abreu ( 1 9 86 ) , o s quatro prime iros apre sentados como d i s sertações

de mest rado em h i s tória à Univers idade Federal F l uminen s e , e os

três úl timos l igados as pesqu i s a s d a Fundação Casa d e Rui Barbo-

sa . Ainda vinculado à pesqu isa da C asa de Rui Barbo sa , pode - s e

citar o art igo d e F r i t s c h ( 1 9 86 ) , que t.em como particularidade o

fato de r e s s a l ta r que a que stão da reforma urbana d o Rio antece-

deu a Proc l amação da Repúbl ica , jci se c o l ocand o no período impe-

r ia l . Este dado vem r el ativizar a s interpretações que veem de


A

forma mu ito instrume n t a l a pO l í tica d e urbaniz ação da c idade corno

e feito de urna mudança de men t a l idade em função de urna nova ordem

econômica capita l i sta .

É importante observar que vcirios d e s s e s traba lhos u t i li

zam como fontes - e nao apenas corno i lu s tração - um be lo material

iconogr cif ic o , enriquecendo a s s im a r e f l exão sobre o terna . Por

f im , cabe r e s s a l tar o l i vro de Sevc enko ( 1 9 8 3 ) , que , ao se dedi-

car ao exame das relações entre tensões soc i a i s e c r iação c ul tu-

ral na prime ira Repúb l i c a , através da obra d e Lima Barreto e Eu-

c l ides da Cunh a , traça um vivo paine l das condições de vida na

cidade .
32

No que d i z respeito ao exame da questão da h igieniza­

çao do Rio d e Ja n e i r o , fator primo rd i a l para a garantia de capi-

tais e mão -de-obra nos inícios do séc u l o , a lguns a r t igos foram

publ icados na Revista do Rio de Jane iro , que durante o ano de

1986 serviu como v e í c u l o d e d i vu lgação para traba lhos de tese e

de pesqu i sa . D i s c u t indo a po l í t i ca sanitária empreendida em fi­

na is do século X I X e início d o sécul o XX , o s art igos de So l is e

Ribe i ro ( 19 8 5 ) , Cava lcanti ( 19 8 5 ) e Bodstein ( 19 8 6 ) t êm como me­

r i to o fato de procurar rel ac ionar espec i f i c amente o prob l ema da

sa�de na c idade com as cara c t e r í s t icas da c l a s s e traba lhadora ca-

rioca . Neste con j unto d e s t a c a - s e o traba l h o de Bodste in , para

quem a preocupação governamental com uma pOl í t ic a sanitária de

comba te as epidemias nao se deveu a repercussao das doenças sobre

a força de trabalho urbano como um todo , nem ao fato d e e la s at a-

carem ind i feren temente r ico s e pobre s . A autora d emon s t ra que a

ação sanitária d i r ig i u - s e espec i f icamente contra a febre amare l a ,

e não outras doenças epidêmic a s d e gravidade equiva lente , como a

tubercu l o s e . I sto pode ser exp l icado fundamenta lmente pe l a al-

t í s s ima l e t a l idade d a febre amarela sobre o s imigrante s . O u s e j a ,

para a autora , a po l í t ic a de saneamento do Rio d eve ser l ida

principa lmente como uma po l ítica que vi sava tornar viável o a fl u­

xo de traba lhadores brancos europeus , capa z e s de contribu ir para

o mercado de traba lho e d e depurar o sangue mestiço do pa í s , o

que permitiria apr e s e ntar o Bras i l ao ex terior como nação c i v i l i ­

zada e operosa . Ana l isando o quadro pO l í t ico do períod o , Bod s ­

t e i n demons t ra a inda q u e o governo Rodrigues Al ves e a administr�

ção Pereira Passos se haviam tornado muito impopu l a res . A d e t e riQ

ração das cond iç6es d e vida de amp l a s camadas urbanas a s s o c iava­

se a s s im a uma experiência d e pro testo s popu l a re s , onde tinha

papel importante a r es istência vinda do movimento operário d�sde


33

1903 .

A Revolta da Va ci n a , um movimento violento de oposição

ao governo que reun ia d i ferentes i n t e r e s s e s e segmentos socia i s ,

c on s t i tu i um tema d e d e s t aque , não sendo mais s i tuada nem como

uma s impl es tentat iva de golpe mi l i tar , nem cómo uma man i f e st a-

çao de igno rânc ia popular . Tendo um e spaço ma i s res t r i to no t e x -

to de Bodste i n , e s t e e p i s ó d i o é o centro do es tudo de Sevcenko

( 1 9 8 4 ) , e talvez um dos mome ntos ma i s r i c o s do l i vro de Carva lho

0987, cap o IV) . Em todos e s t e s traba lho s , a princ ipa l contribui

çao está na interpretação d e que , n e s t e epi sód io , o que ma i s ameª

çou as e l ites po l ít i c a s da época f o i a forte par t i c ipação popu-

lar . Carva lho , e spec i a lmen te , demon s t ra a s i g n i f i c a t iva pre sen-

ça de um protesto da c l a s s e traba lhadora ind i sso c iáve l dos fatos

da revo lta popu la r . E s te ponto é s i g n i f icat ivo e sera retomado

po s t eriorment e , pois a s s inala a impos s ibi l idad e , no contexto da

c idade do Rio nas década s da Prime i ra Repúb l ica , de se iso l ar

per fei tamente o que e popul ar do que é operário .

Ainda n es te c o n j unto de es tudo s , d o i s t e x t o s podem se r

d e s tacado s . o prime iro d e l e s é o a r t igo d e S ilva ( 1 9 86 ) , que

trabalha com uma co luna do Jornal do Bras i l - folha de t i po po­

pular na epoca - i n t i tu l ada "Q uei xas do povo " . Publ i cad as gratui

tamen te e podendo s er r e l atadas nas agênc i a s do j orn a l , a s "quei­

xas" tornaram-se muito procuradas no R io . O levantamento da c o ly

na durante o mês de abr i l dos anos d e 1 9 0 0 , 1 9 0 5 e 1910 permite

ao autor acompanhar o s problemas da c idad e , t a l como eram ident i ­

f icados e expr e s s o s pe l a s camadas populares urbanas . Reunindo e s ­

t e material segundo a cate goria pro f i s s iona l d o s queixoso s , sua

d i s tribu ição geográ f i c a pela c idade e a inda segundo a autoria das

queix as ( indi vidua i s ou de grupo ) , S i lva d i s c rimina , entre outros

a s suntos de menor inc idênc i a e im portânc ia , a vio l ên ci a pO l ic i a l


34

e a de grupos ma rgina i s ; a pés s ima qual idade d o s serviços da c i -

da d e ; o s ba ixos s a l á r i o s e a s más relações d e traba lho entre pa -

trões e empregados ( me smo quando o prime iro era o E s tado ) . O t e x -

to avança em re lação a outro s , a o l id ar com a temá t ica d a c l a s s e

trabalhadora d a c idade através do per f i l das pro f i s s õ e s e , sobre-

tud o , ao postular que a d i s c u s são d as cond ições de vida e tra-

ba lho do " povo" eram uma mo l dura po s s ív e l para o exerc í c io da c i -

dadania na epoca . N e s t e sen tid o , o autor defend e que a própria


.

u t i l i zação do espaço o f erecido pelo jo rn a l pode e deve ser en-

tendida como uma busca de part ic ipaçã o , mesmo que d i s t inta da

partic ipação po l í ti ca forma l .

Neste mesmo f i l ã o s itua - s e o l ivro d e Chalhoub ( 1 9 86 ) ,

que di scute as condições d e vida e traba lho da popul ação cario c a

u t i l izando como fonte 1 4 0 pro c e s s o s c r iminais d e homicídio o u d e

tentativa de homicídio r eferen tes à segunda década do século XX .

Em texto de f á c i l l e i tura , o autor cat iva com uma f e l i z montagem

do argumento . Em " Sobrevi vendo " , as condições d e t rabalho traça-

das mostram a d i f í c i l luta pe l a vida e a forte competição travada

entre o s traba lhado res , que emergem como grupo h e t e rogêneo em

c o r , sexo e naciona l idade . As condições d e vida na "casa" e na

" ru a " aparecem em " Amand o " e "Ma tando o bicho e r e s i st indo aos

meganhas " , onde a s r ela ções d e amor e o ódio entre homens e mu-

lheres traba lhadores e não-trabalhadores ganham novos conteúdos .

O l ivro tem como marca o fato de privilegiar a s repre sentações

dos própr ios atores sobre seu mundo so cial , contribu indo para

apontar c larament e " o s ampl o s e spaços que a c idade do Rio por

suas caracte r í s t ic a s e spec í f i c a s - abria às e stratégias in formai s

de sobrevivência d e sua popu l a ç ã o urbana . Esta possibil idade , que

forta lecia formas d e r e s i s t ê n c i a à ação d i s c ip l inadora d o mercado

de traba lho e tornava ma i s d i f í c i l d i s tinguir c laramente entre


35

trabalhadores e nao trabalhadore s , re força o ponto já menc ionado

sobre a impo s s i b i l idad e , no Rio d e Jane iro , se d i s so c iar movimen­

tos soc i a i s urbanos e movimentos �e r e s i s tincia operá r ia .

Para encerra r , cabe mencionar o artigo d e Ribeiro ( 1986 ) ,

que l ida com a temáti ca da imigração portugue s a , a mai s importan-

t e para o Rio de Janeiro . A contribu ição ma i s int ere s s ant e do

texto � apontar para o d e s envo l v imento d e um a n t i l u s i t a n i smo en­

tre os própri os traba lhadore s , como ma i s uma forma d e denúnc ia e

r e s i stincia àque l e s que s e enquadravam no mercado de traba lho

forma l . D e fa t o , pod e - s e pensar que a oposição entre " c abra s "

em geral homens mes t iço s e naciona i s - e " p � s - d e - c humbo " os

imigran tes portugue s e s d e c o r branca - traduz ia não so uma d imen-

são da ques tão rac i a l no Rio , como igualmente uma d imensão do

próprio a n t i l u s i ta n i smo . Gera lmente , a repre sentação do portu­

gues mais regist rada pela l i teratura � a do explorador da terra ,

e l emento que domina o com� rcio a gro s so e a retalho da c idade e

que tem grande pode r na imprens a . É a e s t e anti l u s i tan i smo das

e l it e s pO l ít i c a s e i n t e l e c t u a i s d a Pr ime ira Repúb l ica q u e s e po-

de contrapor o a n t i l u s itani smo dos " cabra s " , homens que . mesmo

traba lhand o , r e s i s tem à d i s c ipl ina d o traba lho , ou se j a , nao

são "bons traba lhadore s " .

U t i l i z ando- s e , como Chal houb , d e mat e r i a l c o l h id o em

proces so s cr imina i s que tra tam d e s t e t ipo de rixa , Ribeiro mostra

como , ao lado e ao mesmo tempo em que e cons tru ída a imagem do

" portuguis r i c o " , explorador do pa í s , e construída a imagem do

" portugui s pobr e " , protót ipo do traba lhador branc o , ord e iro e

vinculado ao código d o s a c r i f í c io e da abnegação ao traba l h o . A

discussã o aber ta p e l a autora , acrescentando novos e l emen to s , nos

a j uda a compreender por que , numa cidade onde ob j e t ivamente e x i s -

tia uma grande quant idade de "mão-de-obra sobrante " , era tão
36

grande a preocupaçao govername n t a l em trazer imigrantes e era

tão d i f í c i l ao pa tronato c r i a r , manter e repor seus " bons traba- '

lhadores " . o que d e s e j amo s apontar é que , j u s tamente porque uma

ét ica do traba lho - entendida como fator importante para a c r i a -

ç ã o de um contingente d e traba lhadores a s s a l ar iados a inda es-

tava sendo construída , e portanto n ã o vigorava compl e tamente nas

fábricas e negócios d o Rio , a e x i stência de um va s to cont ingente

de mão - d e - obra de r e s e rva nao d á conta da problemá tica do mundo

do traba lho e do mundo do não- trabalho d e s t a c idade .

2.4 O movimento operário e s indic a l em que stão

Um outro c o n j unto d e e s tud o s reune textos que d i scutem


,

a s cond ições d e formação e regulamentação d e um mercado de tra-

ba l ho , bem como as caract e r í s t ic a s d o movimento operário e sin d i-

cal no Ri o de Janeiro . A l ém d o t rabalho pioneiro d e Bor i s Fau s -

to , j á comentado , também exerceu u m papel e s t imulador nesta area

o l ivro de Maram ( 1 9 7 9 ) , tanto pela epoca d e publ icação , quanto

por sua contribu ição origina l , ao re l a t iv i z a r d o i s pontos corren-

tes na l itera tura sobre o tema .

O prime iro d e l e s r e f e r e - s e a s r e l a ç õ e s entre imigrantes

e movimento operário , uma vez que Maram , como Faus to , traba lha

com as c idades do Rio e d e são Pau l o . Se , d e um lado , o autor

cont inua sustentando a import;nc i a d a atuação dos imigrantes pa-

ra a corrente anarqu i s t a , d e out r o , demon stra que a proporçao en-

tre l ideranças nacionais e es trang e i r a s no movimento s i nd ic a l c a -

rioca e r a ba stante equiva l e n t e ao q u e acrescenta o dado de que

portugueses e bra s i l e iros cons t i tu íam a ma ioria e smagadora da

popu lação da capita l federa l . O segundo ponto re fere - se � maior

comp lexidade das opç õ e s po l ít ic a s e x i s tentes no movimento opera-


,
37

rio carioca , onde socia l i s t a s e " s indic a l i s t a s " ( cap . V ) convi-

viam e d i sputavam es paços com o anarqui smo . Ainda no que d i z re§.

peito a d ivers idade reinante no movimento oper� r i o do Rio , Maram

chama a atenção para as d i fi cul d ad e s pO l í t i c a s advindas dos con­

f l itos �tnicos que d ivid iam as a s soc iaç5es d e c la s s e dos traba­

lhadores carioca s . Sobre e s ta s a s sociaç5es , va l e regi strar o

a r t igo mais es pec í f ico de Con n i f f ( 1 9 7 5 ) , a l ém de sua tese de

doutoramento ( 1 9 7 6 ) .

A pa r t i r d e s t a s co locaç5 e s , a s que s t5 e s do pape l dos

imigran tes como l iderança do movimento s i n d i c a l c a rioca e sua

vinculação com o anarqui smo , d e um l ad o , e , de outro , da d i ve rsi ­

dade de opç5es pO l ít ic a s e x i s t en t e s n este movimen t o , n ão ces saram

de ser objeto de r e f l e x ã o dos pesqu i sadores do a s sunto . Muitos

traba lhos foram e laborados , a lguns dos qua i s trazendo contribui-

çoes sign i f i c a t i va s . Entre e l e s estão a s t e s e s de mes trado de

Cruz ( 1 9 8 1 ) e de Campos ( 1 9 8 3 ) . A prime ira , e legendo como foco

de an� l is e a greve carioca d e 1 9 1 7 , constrói um vi vo pa i n e l do

que const ituía a c la s s e traba lhadora e o movimento sindical ca-

r ioca naqu e l e momen to . A autora reúne evidênc ias que comprovam a

presença ma c iça d e l id e ranças d e traba lhadores ( e nao s ó d e inte­

l ectua i s ) naciona i s no movime nto oper� rio e s i n d i c a l cari oc a , mui

to menos marcado d o que o paul i sta p e l o pap e l de l íd eres imi-

grante s . A l �m d i s s o , demons tra a impo s s i b i l idade da interpreta-

ção que a s s ocia imigrantes a anarqui smo e n aciona i s a correntes

amarelas do s indica l ismo . Segundo seus dado s , encon tramos no

Rio toda sorte d e combina ç5e s , ou s e j a , imigran t e s IIre form i s ta s "

e , logicament e , bra s i l e i r o s anarqu i s ta s . Em seu t raba l h o , a im-

portância das correntes d o si n d i ca l i smo amar e l o no R i o f i c a ma i s

uma vez pa tente ada , a s s im como fica e s c l arec ida sua ma ior penetr�
da c idade , quer
çao junto aos traba lhado res d o s e tor d e servi ços
38

púb l icos , quer privado s . Neste sen t ido , Cruz d e squa l i f ica com-

ple tamente a s interpretações segundo as qua i s eram os traba lhado-

res nac ionai s empregados pelo E s tado o s que mais ader iam a um

mode l o de s indica l i smo re formista . Nem a naciona l idad e , nem o

pa trio Est ado e x p l i c ariam d e f ato a força das correntes amarelas

no R lO 7
· d e J anelro .
.

Estas conc lusões sao s i g n i f i c a t i va s , uma vez que ou-

tros textos continuavam a se apo iar nesta interpretação , como e


,

o caso da tese d e S i l va ( 1 9 7 7 ) . Contud o , fica cada vez ma i s c la -

r o que e l a não s e sustenta e deve s e r abandonada , como i lustra o

texto d e Albuquerque ( 1 9 8 3 ) , que traba lha espec i f icamente com o

s indica l i smo portuá rio carioc a . Boris Fausto já re s s a l tara a

importância e a es pec i f ic idade d e s t e s indica l i smo , chamando a

atenção para s eus vínculos com a s autoridades públ i c a s e , em e s -

pecia l , po l i c ia i s , a l ém d e d e s tacar a violência de suas prá t i-

ca s , que sugeriam uma es pécie d e " gangsterismo s indica l " . A tese

de mes t rado d e Albuquerque vai neste ra s t r o , concebendo e s ta ex-

periênc ia s indica l em termos d e um " pragmatismo po l í t ico " , muito

d i s tinto d e uma concepçio que qua l i f ica o s indica l ismo amarelo

como opção ni t idamente subm i s s a e a t r e l ada a intere s s e s e s t ranhos

à c l a s s e traba lhadora . Seu e s tudo também começa a re lac ionar a s

cond ições d e traba lho vigentes n o po rto d o Rio com a s orientações

reivindicatórias deste s ind i c a l i smo .

É exa tamente e s t e o ob j e t ivo espe c í f ico do a r t igo de

Cruz ( 1 9 86 ) , produz ido como parte d e sua tese d e doutorado a inda

em e laboraçio . Neste tex to a autora r e s s a l ta que , embora se re-

conheça a importânc ia do pro c e s s o d e traba lho para a compreensao

do comportamento operário , e s t e pro cesso tem s id o mu ito pouco

u t i l izado nos estud o s sobre as organizações sind icais e formas d e

luta do s trabalhador e s . Sua proposta é superar esta separaçao


39

entre o mundo do l o c a l d e traba lho e o mundo sindica l , estudando

o proces s o d e traba lho no po rto do Rio para u t i l i z á - l o como va-

riáve l expl i ca tiva do comportamento s in d ical dos portuários na

Primeira Repúb l i ca . A seu ve r , é a prá tica d o c lo s e shop que fu�

ciona como ponto o r ientador d a r e f l exão , ao articular as formas

de recrutamento da mão - d e -obra do porto com uma d as principa i s

band e iras da l,uta s indica l .

Outra importante contribuição para a d i s cussão d o tema

do s ind i ca l i smo ama r elo no Rio de Janeiro da P r imeira Repúb l ic a

s ã o a s t e s e s d e Z a ida n ( 1 9 8 1 ) e Batalha ( 19 86 ) . Ambos os traba-

lhos u t i l i zam um rico levantamento de fonte s , o que o s torna l e i -

tura necessária sobre o tema , a o lado d o t e x to d e Cruz ( 1 9 8 1 ) , já

c i tado . O con�ronto é part icul armente interessante uma vez que

os autores constróem interpretações d i s t i ntas sobre as caracte-

r í s t ica s da opção s ind i c a l amare l a . Z a idan , concentrado na ana-

l i s e do s indic a l i smo - =opera t i v i s t a d a prime i ra metade da déca-

da de 2 0 , expli ca a ascensão d e s t a corrente s indica l como de-

corrênc ia de um pro j eto pO l ítico d e cooptação d ir ig id o a c la s s e


,

traba lhadora pe l o governo Bernard e s . Desta forma , o s indica l ismo

amarelo emerge ba s icamente como um fruto da intervenção estatal

sobre o movimento operá rio , d i r ig id o por l ideranças e intere s s e s

estranhos à c l a s s e . Já Batalha sustenta justamente o argumento �

verso . O s indica l i smo ama r e l o f d e f in id o como aqu e l e que busca

a tenuar nos l imites da lega l idade - e que não seria uma corrente

restrita ao Rio - , ti nha profundas l igações com a classe traba-

lhadora , nao podendo ser a n a l i sado como uma opçao imposta pelo

Es tado ou pelo pa tronato d e " fo r a " para " dentro " da c la s s e . Ne s-

se sentido , o autor d e fende a e x istên cia d e um pro j et o d e s indi- -

c a l i smo reformista autônomo que trad uziria uma certa forma de

"consciência d e c l a s se " , mesmo que " l imitad a " a uma consciência


40

trad e - un ioni s ta . Por es t a razao o sin d i calismo ama r e lo da pri-

meira Repúb l i c a não pod e r i a ser visto como um antecessor do pe-

leguismo do pó s - 3 0 . E s t a l inha de continuidade deveria ser d e s -

m i s t i f icada , e o papel d a intervenção e s t a t a l no pre e no po s -


, ,

3 0 d i ferenciado . F ina lment e , a poss ibil idade d e ascensão dos amª

relo s , muito heterogêneos entre s i , poderia ser expl icada pela

e x i stência no Rio de Janeiro d e ma iores e spaços de negociação

entre autor idad es púb l i c a s e trabalhadore s .

E s t a propos t a d e aná l i s e , mais prove itosa a nosso ve r ,

permite re f l et i r melhor sobre a d ivers idade d e correntes e x i s ten-

tes no s e io d o movimento operário e s indica l c a r io ca . É ela que

norteia a r e f lexão sobre a mul t ip l i c idade d e pro j e to s d e constru-

ção da c la s s e traba lhadora em competição ao longo da Primeira

Repúb l i c a d e s envo l v ida na t e s e de doutorado d e Gomes ( 1 98 7 ) .

Na mesma l inha que d i s c u t e a que stão do s ind i c a l i smo

amarelo , mas d in t ingü indo- se por tratar da experiênc ia do s indi-

cato dos metalúrgicos no pré e no pó s - 3 0 , e s tá a d is s ertação de

mestrado de Stotz ( 1 9 86 ) . Seu ob j e t ivo é examinar a d inâmica po-

l í t ica que pr e s i d iu a transformação d e s te s ind ica to , que na Pri-

me ira Repúb l i c a es tev e sob a influência suc e s s iva dos anarquis t a s

e d o s comuni s t a s e no pós- 3 0 pas sou a a tuar na á r e a do M i n i s t é r io

do Traba lho , Indús tria e Comérc io . Sua t e s e , que converge para

a l inha inte rpreta t iva de B a t a lha , é a d e que a adesão d e várias

as sociações de c l a s s e ao mode lo s i n d i c a l proposto no pó s - 3 0 nao

pode ser reduzida unicamen te à força coercit iva do Es tado . O au-

tor r e s s a l ta a presença de e l ementos vinculados ao movimento s i n -

dical car ioca que acred itavam pod e r e x t r a i r bene f í c i o s d as rela-

ç õ e s harmon iosas e n t r e s indicato e E s t ad o , o que nao pode ser

entendido como uma automá t ica submi s s ã o , ou como um necessário

abandono do que era entendido como os intere s s e s dos trabalha-


41

dore s .

Maria Hermínia T . d e Almeida ( 1 9 7 8 ) j á demon s t rara , trª

balhando com s in d i ca tos pau l i s t a s no pós- 3 0 , que mesmo as cor-

rentes d e esquerda d o movimento operá rio , sobretudo a par t i r de

1 9 3 3 , concordaram em entrar para o sin d ical i smo o f i c i a l como uma

nova forma d e r e s i s tinc i a , mesmo porque os s indicatos l ivres nao

conseguiam um mlnlmo d e e s tabilidade organizac iona l . A s s i m , e st ar


, .

dentro dos s indicatos o f ic ia i s n e s t e período in icial da década

não s ignifica nem a c e i tação tot a l , nem subm i s são ao pro j e to go-

vernament a l . que Stotz acrescenta ao argumento e que mesmo


,

aque l e s setores do movimento s ind i c a l que ace itaram o pro j e to ofi

c ia l não podem ser entendidos como d e s l igados de um tipo de luta

em nome dos intere s s e s dos traba lhadore s . Ou s e j a , o t e x to apon-

ta para a e x i s t i n c ia d e várias d e finições d o que eram estes in-

tere s se s , do que e ra esta c l a s s e , e , obviament e , de qual era a

melhor forma d e a tenuar a seu favor . Porém, o texto e princ ipa l -

mente um e s t ímulo para s e pensar que o corporativi smo foi ava-

l iado como uma a l ternat iva pOl í t ic a importan t e , quer como e st ra-

tégia po s s ív e l d e l u ta , quer como arran j o que po s s ib i l itava al-

cançar bene f íc ios para a c l a s s e .

O ponto pOl imico da proposta d e Sto tz , a nosso ver, e


,

que e l a d es emboca numa d i s t inção entre d o is pro j e to s . Um pro j eto

de " corpora ti v i smo soc i e t á r i o " - d e s ignação que neste contexto

mereceria ma ior r e f l e xão - , que s e r ia sustentado por l id eranças

que viam na co laboração com o E stado o melhor caminho para a de-

fesa dos intere s s e s dos traba lhadore s , e um pro j e to de " s indic a-

l i smo pelego " , e s t e s im sustentado por l ideranças atrelad as aos

intere s s e s es ta ta i s . A que stão , n este c a s o , nao e tanto a de


,

reconhecer que no es forço para a implementação do pro j e to sin-

dical d o pós - 3 0 tomam pa r t e l id e ranças do movimento operário de


42

trad ição re formi sta e novas l ideranças criadas pelo Ministério

do Traba lho , I nd ú s t r i a e Comérc i o , l igadas a sua orientação . O

probl ema es tá em c o n s id erar uma espécie d e d i s t inção entre os

" fa l s o s " e o s " verdad e i r o s " co laboracio n istas , a través da po s s í -

v e l separação entre o s q u e acred itavam d e fender o s intere s s e s d os

trabalhadores v i a s in d i c a l i smo o f i c ia l e o s que tra íam e s t e s in-

teresse s , poi s , " d e f a to" , ag iam segundo orientação e s tata l . Mais

pro f ícuo , t a l vez , fosse evitar t a l a s s o c iação , l idando com o com-

plexo contexto do pó s - 3 0 para r e a l ç a r o s variados enga j amentos e

sent idos da experiência s indica l , "rompendo a s s im com a idé ia de

um Es tado q u e a tu a � reve l ia completa d o s trabalhadore s . O campo

para t a l ta ref a , como S t o t z i lus tra , e s t á em aberto , e a inda há

muito o que f a zer .

Va l e c i ta r aqu i , por também " traba lha rem com meta lúrgi-

cos de N i t e ró i , d a Fábrica Nacional d e Motores e d e Volta Redon-

da - a s tes es de doutorado de Pes sanha ( 1 9 86 ) , Rama lho ( 1987 ) e


1
More l ( 1 9 8 7 ) . D e s t aca ndo a s ituação d e c r i s e em que vivem at ua l -

mente estes s indica tos , o s autores t raçam a s re lações entre as

trans formações que a fe ta ram a s cond ições d e trabalho dos meta lúr-

gicos e as trans formações que inc id iram sobre sua prá t ica s i nd i -

ca l . Tendo como foco de aná l i se períodos mais recentes da vida

d e s t e s s indicato s , e s t a s t e s e s retomam sua experiência h i s t ó r ic a ,

confrontando vivênc ia s e avaliações d e l ideranças ma is antigas e

mais novas , e r e f l et indo sobre a s l inhas d e continuidade e des-

continuidade entre o presente e o pas sado d a vivência pO l í t ic a

s indica l .

Por fim , cabe d e s t a c a r dentro d e s t e con j unto d e es tudos

os textos d e Ânge l a d e Castro Gomes ( 1 9 7 9 ) e Maria Alice d e Car­

valho ( 1 9 8 3 ) , que l idam com a prob l emá t i ca da regulamentação do

mercado de traba lho tendo como fio condutor o papel d e s empenhado


43

pelo patronato d a c idade d o R i o d e Janeiro . o l ivro d e Gomes cen

tra-se no proce s so h i s tórico de e l aboração da l e g i s lação socia l ,

demonstrando como- o pa t ronato a tuou como um grupo de pressao ,

de início bloqueando a imp l ementação d a s l e i s e , em seguid a , adaQ

tando e minimizando os cu sto s e c onômicos e po l í t ic o s de sua e fe ­

tivação . N e s t e c a s o , o e s t udo percorre o períod o que vai de

1 9 1 7 a 1 9 4 3 - data da Con s o l idação d a s L e i s do Traba lho - , postu­

lando a importância da ?rime ira Repúb l i c a para a compreensao do

mode l o d e l e g i s lação d o trabalho que se e stabe l e c e no pó s- 3 0 .

A tese de mes trado d e Carva lho coritr ibui par t i c u l a rmente ao tra­

çar as l inhas d e contato e res i stência entre a c idade e a fábrica

no contexto car ioca , r e s s a ltand o , por outro ângu l o , as caracte-

r í s ticas urbanas do Rio d e Janeiro . No d e s envo lvimento de suas

reflex õe s , a autora também contribui ao contrapor a experiência

associat iva e pol íti ca do patronato c a r ioca à d o paul i s ta .

No que s e refere ao problema d a formação d o mercado d e

trabalho n o Rio , é interessante r e s s a l tar a contribu ição d o l ivro

de Bastos e Weid ( 1 9 86 ) . Rea l izando um estudo sobre a companhia

de t e c idos América Fabr i l , um d o s mais importantes grupos indus­

triais cariocas na Prime ira Repúb l i c a , as autoras d e s tacam a pre­

ocupação da empresa com a ques tão d o controle d o traba lho fabr i l .

Uma das estratégias es sencia i s para a garant ia d o d e s empenho e d a

produtividade da empresa , e s t e controle se d e sdobra em toda uma

" pol ítica soci a l " que envolve a c riação d e uma Caixa Beneficen t e

( em 1 9 1 1 ) , a construção d e vilas operá r ia s , d e esco las e, espe­

c i a lment e , a formação da Assoc iação dos Operários da América Fa-

bril ( em 1 9 1 9 ) . E s t a a s sociação foi , na verdad e , pra t icamente o

grande e único suc e s s o d e uma i n i c i a t iva pa tronal preocupada em

formar trabalhadores d i s c i p l inados e operoso s .


44

Exa tamente ao acompanhar as relações entre patronato e

trabalhadores na fábri ca , a s autoras apontam para as d i f iculdades

experimentadas por esta po l í tica de contro l e empres a r ia l . Fica

muito c lara , por exemp l o , a grande ro tatividade da mão-de-obra ,

que saía da fábrica princ ipa lmente por abandono de serviço ou

por demi s s ão por f a l ta s . Em ambos o s caso s , o que se pode de-

d u z i r é , m a i s uma ve z , a forte r e s i stência d a mão -de -obra as


,

prá ticas d i sc ip l inares n ecessárias ao trabalho fabri l . N e s t e sen-

tido , o trabalho d e B a s to s e Weid é mais um es tudo que contribui

para o e s forço d e pensar a c idade do Rio como um e spaço onde uma

ética de mercado convivia de forma tensa com outras a l ternat ivas

de sobrevivênc ia para as camadas popul ares .

2.5 Cidade e pO l ítica

o ú l t imo grupo de es tudos que d e l imitamos e lege como

temát ica as c a ra c t e r í s t i c a s da c idade do Rio de Janeiro , para e n -

tão pens á - la em co n exã o c o m a s questões c lá s s icas da mobi l ização

e organização po l íti ca s , quer através d as experiênc i a s dos chama-

dos movimentos soc i a i s urbano s , quer a t ravés dos e s forços para a

montagem d e partidos e a s s o c i a ç õ e s d e c la s s e .

Contribu i çõ es mu ito d iversas podem ser a l inhad a s aqu i ,

cobrindo a s s untos variados como O movimento jacobino d a virada do

século ( Co s ta , 1 9 8 4 e Queiro z , 1 9 86 ) ; a revo l t a da vacina ( Sev-

cenko , 1 9 86 ) ; a revolta anarquista d e 1 9 1 8 ( Ad o r , 1 9 87 ) , e a ex-

periência de formação d e par t id o s po l íticos operá rios em 1890

( Pádua , 1 9 8 5 ) . S e , d e i n íc i o , a maior parte dos e s tudos que re-

lacionam a c idade e a po l ít i c a , tendo como foco O Rio de Janeiro ,

privileg iava os con f l i tos urbanos pol ic la s s i s ta s , procurando in-

c l u s ive d i s tingui - l o s dos movimentos de res i s tência o perária , os


45

e studos mais recentes abandonam e s t a po s s ib il idade e procuram en-

fatizar as d i versas moda l idades d e participação po l í tic a que a

c idade conheceu . O que une e s t e con j unto é exa�nte a tentat iva

de demarcar os expe r imentos que a c idade do Rio pôde abriga r ,

articula ndo segmentos s ociais d i ferenc iados numa mesma vivência

po l í t ica .

A contribuição mais importante d e s t a produção , nao

tão numerosa , mas muito " s igni fica t i va , e sua reflexão sobre os

temas da c idade e da c idadania e sobre o pr6prio sent ido d o un i -

verso da pO l íti ca n o Rio . Ou s e j a , privi l e g iando a questão da

mobil ização das camadas populares e s t e s e s tudos retomam o prob le ­

ma do que e par ti c ipar d a " po l í t ica " da c idad e . Çom isso , ao

inv�s de traçar uma d icotomia entre um universo po� í tico formal e

um universo pr� - po l ítico ou não-po l í t i c o , acabam por a largar o

pr6prio conceito d e pol ítica , que , u l t rapassando " a id�ia d e pro­

cedimentos po l í t icos o f i c ia i s , pode aba rcar a id �ia de interfe­

rência no e s paço púb l i co a t rav�s d as mais d i f erenciadas prá ticas

e com os mais d i f e renciados a l iados .

Alguns traba lhos são e spec ia lmente important e s . Jos�

Muri l o de Carva lho ( 1 9 8 5 e 1 9 8 7 ) e Maria Alice d e Carvalho ( 1 9 8 5 )

caminham juntos na indagação d e que t ipo d � c idade e o Rio de

Janeiro . Uma vez a s sentadas c e r t a s c a rac t e r í s t ic a s de seu " pro-

cesso hist6rico d e formação e mod e rn ização , o s autores ref letem

sobre a natureza da s " formas d e partic ipação pO l í t i ca que a c idade

a l imentou ou deixou d e a l imentar . Para ambos , es tabe lec ido um

con fronto i ni ci a l com o mode lo da s " c idades europ� ia s " - ou s e j 'a ,

anglosaxôni ca s , em suas formas compet i tivas d e a s s o c i a t ivi smo d e -

senvolvidas pel a hegemonia do mercado capi t a l i s t a a conclusão

� de que o Rio segue um outro mod e l o - o das " c idades ib�rica s " ,

marcadas por norma s integrativas d e a ssoc iação e pela forte pre-


46

sença d o aparato e s t a ta l .

Esta conf iguração i n i c i a l nao teria so frid o transforma-

çoes substanc i a i s quando d o pro cesso d e modernização urban iza-

ção e indu s tr ia l i zação - por que passou a c idade entre 1870 e

1 9 2 0 , aproxlimdrurente . Ser i a j u s tamente e s te tipo d e pro cesso d e mu-

dança social urbana que e x p l icaria a natureza e o per f i l d as

formas de mob i l ização popular vivid as n o Rio desde a revo l t a do

vintém de 1 880 , a t é o grande surto g revista d e 1 9 1 7 , por exemplo .

Neste racioc ínio , a c idade e a pO l í t ica se encontrariam e s e re-

vela riam numa re lação cúmpl ice .

Contud o , s e a té e s t e ponto o s d o i s autores prat icamente

trabalham com o mesmo argume n t o , José Mur i l o avança ao postular

que , com a abo l ição e a República , e l ementos " moderno s " foram in-

troduz idos na d i nâmica desta " c idade ibérica " , criando um con-

fl ito onde nao houve nem equi l íbrio entre dois pó l o s , nem supera-
,
ção de um pó l o pelo outro . ° que ocor re , para o autor , e a cons-

t ituição de um " novo h íbrido" que se traduz no que ele chama de


, .
exper iências d e " c arnava l ização do pode r " . Desta forma , o tl.pl.CO

da po l í t ica carioca é exa tamente esta permanente e insolúvel ten-

são entre E s tado e mercado , ou entre buroc racia e pro letariadc ,

ou ainda entre ordem e d e sordem .

A idéia d e " ca rnava l i zação do pod e r " se ma t e r i a l iza ria ,

por exemplo , na presença d e numerosas e e fe t ivas formas d e nego-

ciação e d e compo sição po l í tica entre a população urbana ( c la s s e

traba l hadora , e m e spec ia l ) e a s autoridades públ ica s . Os experi-

mentos vi riam tanto do mundo d o traba lho , com o a s so c i a t ivismo · d e

corte po s i t i vista dos operá r i o s do E s tado o u o s i nd i c a l ismo-coop�

rativista dos anos 2 0 , quer do mundo " fora " do traba lho , com a

partic ipação das autoridades em f e s t a s populares re l igiosas , no


47

carnaval etc . Em seu t e x t o , J o s � Mur i l o d e s taca como , na c idade

do Rio de Janeiro , a Repúb l i c a acaba por boicotar os ensaios de

partic ipação c u j o ce rne era a conqui s ta da c idadania po l ítica , e

como a s camadas popu l a r e s a e s t e bloqueio inventando outras po s-

s ib i l idades de pa r ti c ipação que escapam à arena pO l ítica forma l .

É este o sentidc de sua conc lusão f ina l , ao a firmar que o povo cª

rioca não era "bestializado " , mas "bilontra " , ou seja , e sperto e

ma landr o , na s � r ia tradição pO l í t i c a da c idade .

As estrat�gias popu l a r e s para driblar sua e x c l usão

pO l ít ica eng lobariam tanto proc edi�entos d e " re s istin cia pa s s i-

va " - a abstenção e l e itoral - quanto movimentos d e revol t a aber-

ta dos t ipos mais variado s . que � impo rtante r e s s a l tar e a


,

pos s ib i l idade d e s e entender esta var iada gama de procedimentos

como um es forço d a s camadas populares para intervir no e s paço

público da ci dad e . Contud o , se e s t e e s forço percorreu caminhos

mú l tiplos e inu s i tados , e l e tamb�m não abandonou compl e tamente a

arena forma l da pO l ít i c a e do compe t i tivo mundo do traba lho . É

j u s t amente este ou tro lado da moeda que a tese de doutorado de

Gomes ( 1 9 8 7 ) vai di s cu ti r .

R e f l e t indo sobre o proc e s s o h i stórico de formação da

c la s s e traba lhadora e tomando como e spaço empír ico de aná l i se a

c idade do Rio de Janeiro no período que vai da Pro c l amação à que-

da do Es tado Novo , a autora prioriza o s pro j e tos que visavam e s -

tender o espaço de partic ipação na arena política forma l . Durante

toda a Prime ira Repúb l i ca , e s t e s pro j e to s foram e laborad o s prin-

c i pa lmente por l ideranças vinculadas à c la s s e trabalhadora e fo-

ram se afirmando a trav�s da co n strução d e uma f igura d e trabalha-

dor e de variadas formas organizac iona i s , partidárias e s indi-

ca is .
48

Desta forma , s e Carva l h o ( 1 9 8 7 ) ressa l ta a importância

de uma " é tica da ma l a ndragem" para a compreensao dos fenômenos

socia is e pO l í ticos da c idade durante a prime ira Repúb l ica , Gomes

d e s taca a pr es ença para l e l a dos e s forços de c r iação d e uma " ét i ­

ca d o traba l h o " que , identi f icando e valorizando a figura d o tra-

balhador bra s i leiro , compl e t a - s e com a luta pela construção de

cana is organ i zac ionais c a pazes d e a s s egurar sua part icipação po­

l í t ica nas d e c i s õ e s públ ica s . As suc e s s ivas tentativa s d e forma­

ção de par t idos socia l i s ta s ; as d i f iculdades dos anarq u i s ta s para

a d i fusão de s eu mode l o de s indica'li smo de r e s i s tência ; a funda­

çao do Pa rtido Comun i s ta e sua i n f i l tração no sind ic a l ismo cario ­

ca ; o sindica l i smo coopera t i v i s t a d o s anos 20 , e n f im , todos es­

tes pro j e tos partic ipam d a luta p e l a cons trução da ident idade d a

c la s s e traba lhadora durante o s anos da Prime ira Repúb l ica .

O e s tudo s e prolonga e procura articular o período do

pre e do pó s - 3 0 - com s u a s descont inuidades e cont inuidade s

d e fendendo o argume n to de que o sucesso d o pro j e to trabal h i s t a

construído n o E stado Novo precisa s e r entendido como o s u c e s s o d e

um d i scurso po l í tico q u e ree labora , em outro contexto , e l ementos

chaves do d i scurso produzido pe l a s própri a s l id e ranças da c la s s e

trabalhadora n a s décadas anteriores . Neste sent ido , o pacto en-

tre Estado e c l a s s e trabalhadora po ssui uma dupla d imensão . De

um lado , como a litera tura j á e n f a t i zava , uma d imensão ma terial

de cá lculo u t i l i tár i o , que envolve a implementação da legis lação

social e todos o s seus desdobramen t o s . De outro , uma d imensão

s imbó l ica , pela qua l os traba lhadores se reconhecem no d i scurso

traba lhista e recebem os bene f í c ios da l egis lação como " d o n s " do

Estad o , es tabe l ecendo com ele um contrato po l ít i c o comandado pela

lóg ica da rec iprocidad e .


49

2.6 A t ítulo d e ba lanço

Como conc l usão , e interessante re tomar certos temas já

d i scutidos nesta r e senha para ressa l tar l inhas de an á l is e que

c e rtamente apontam novas perspectivas para o e s tudo da c la s s e t rª

ba lhadora no Rio de Janeiro .

A primeira contribuição a ser d es tacada d i z respeito a


,

ques tão da experiência a s socia tiva dos traba lhadores carioc as .

D iversos texto s , d e forma bem var i ad a , regis tram a forte presença

das associações mutua l i s ta s , que foram bem anterio res a qua i s -

quer outros mod e l o s concorre n t e s e , j u s tamente por isso , cons-

truíram tradição entre o s traba lhadore s . Os dados dos e s tudos

de Batalha ( 1 9 8 6 ) e Carva lho ( 1 9 8 7 ) são particul armente categó-

ricos ao atestar que , d e 1 9 0 3 a pe l o menos 1 9 1 2 , este t i po de

a s so c iat ivi smo não c e s sou d e c r e s c e r em número e ad e s õ e s na ci-

dade . Por i s s o , e possível verificar que vários s indicatos tive-

ram or Lgem em assoc iações mutualj s t a s e , d e uma certa maneira ,

mu itas destas a s s o c iações pa s � a ram a incluir prá t i c a s de resis-

tência . Os de sdobramentos po l í t i c o s d e s t e fato podem s e r sent i-

dos , por exempl o , pe l a s di f iculdades que o s anarqui s t a s en frenta-

ram ao propor como mode lo d e " organ ização s indica l os s indicatos

de res istência com f i l iação doutrinária e x p l í c ita . A própria CO!!!

posição do que era na época da primeira Repúb l ica a classe tra-

balhadora carioca - a r t i s ta s , operários do Estado e de fábrica ,

empr egados do comércio e t c . - a j uda a entender por que o mode l o

do sindicato d e r e s i s tência n ã o substituiu a tradição das asso-

c iações mutua l i s t a s , como d e s e j avam o s anarqu i s ta s . Neste senti-

d o , a experiência carioca é bem d i s t inta da paul ista , onde os

dois mod e l o s de a s sociação da tam ma i s ou menos da mesma e poca ,


,

compe tindo de forma mais para l e l a pe l o monopól io organ i zacional


50

da c la s s e ( Carva l h o , 1 9 8 5 , e Bata lha , 1 9 86 ) .

Com e s t e s dado s , j á é po s s íve l compreender a importân-

c i a e a he terogeneidade d a s experiências d e s indica l ismo ama relo

no Rio de Jane iro , mesmo que não se d e f ina como ama r e l o tudo

aquilo que nao e anarqui smo . ponto mais interessante n e s t e c a-


- ,

so , a nosso ve r , nã o é tanto p o stular que o s amarelo s eram ou

nao ma j o r i tár i os em face da. cc rrente anarquista , ma s r e s s a l ta r a

forte presença d e s t a opção s ind i c a l para a c la s s e traba lhadora cª

rioca . Vários e s tudos têm convergido ao a s s in a l a r que a força d o

sindica l i smo ama r e l o n ã o advinha da mE ra impo s ição do E stado ou

do patrona to , que man i pu l a riam de " fora " o movimento ope r á r io ,

tornando seus adeptos " t ra idor e s " da c l a s s e , como a l iá s d iagnos-

ticavam o s ana rqui s t a s . Neste outro en foque , o s indica l i smo ama-

relo é interpretado como fruto de correntes e x isten tes no próprio

movimento operá r i o , correntes e s t a s que nao devem s e r iden t i f ic a -

da s com sutmissão pO l ít i c a e ausência d e luta p e l o q u e se d e f in ia

como inter es s e de c l a s s e . E s t a interpretaç ã o , que vem send o re -

forçada , encontra nova d imensão com as r e f l e x õ e s sobre as carac-

ter1stica s da vida pO l íti ca da c idade d o R io d e Jan e i r o , que per-

mitia razoáve i s espaços de negociação e compo s iç õ e s múltiplas en-

tre camadas populares e autoridades púb l ic a s .

D e forma gera l , t a l percepção i lumina o s e studos ai nd a

pouco numerosos sobre o movimento sind i c a l d o pó s - 3 D , e em par t i -

cular aponta para a n e c e s s idade d e se l idar com a temá tica do

peleguismo em pa râmetros menos s impl i s ta s . Ou seja , e prec iso


,

não ma is considerar tod a s as l id eranças dos s indicatos o f i c i a i s do

pó s - 3 D como de sprovidas d e autonomia d e idéias e açoes ou como

estranhas à c l a s s e traba lhadora . Aqui também, nao se trata exa-

tamente de traidores e vendidos .


51

A questão d a importância d o s indica l i smo amarelo a juda

igua lmente a entender as esp ec i f ic idad e s da experiência dos anar­

quista s . E s t e s não te riam t id o o mesmo peso que t i veram em são

Pau l o , tanto porque o Rio possuía outra s cara c t e r í s ti c a s como

c idad e , quanto porque eram a í mais nume rosas e compe t it i vas as

opções doutrinárias e organ i z a c iona is , o que tornava mu ito ma i s

d i f í c i l qua lquer en s a i o hegemônico .

O e s tudo do anarquismo c a rioca mo s tra que , se e s ta pro­

po sta de orga n i zação da c l a s s e traba lhadora f o i muito s ignifica­

t i va , em pa rticular no fina l dos anos 1 0 , ela encon trou muita re­

si stência entre o s traba lhadore s j á vincu l ad o s a uma tradição mu­

tua l i sta , e bastante concorrência por pa rte d e outra s propo s t a s

organizac iona i s . E s ta s d i ficuldades c e rtame n t e envolviam prob l e -

mas bem compl exo s . Va l e l embra r , por exemplo , a importância po-

l í t ica do republ icanismo r ad ical no Rio de Janeiro , expressa ini­

c ia lmente através do movimento j acobino da virada d o século X IX,

com os epis6dios dos bat a l h õ e s pa tri6ticos e da revo lta da vac i­

na . O reavivamento d es te repub l icani smo en tre uma certa ala de

pa rtidários d o presidente Hermes d a Fonseca teve d e sdobramentos na

questão ope r á r i a , com a orga n i z ação d o Congr e s so d e 1 9 1 2 e a for-

maçao da Confederação Bra s i l e ira d o Trabalho , que teve caráter

qua s e o f i c ia l . Por f i m , já nos anos 2 0 , uma nova onda de jac o -

bin ismo envo lveu a c i da d e , d esta feita mui to ma i s vol tada para o

combate ao anarqui smo a teu e e s t range iro , do que para um apelo d i

fuso à c l a s s e traba lhadora . N e s t e mome n t o , em que o j acobin ismo

a s sumiu tons c a t 6 1 i c o s e agr e s s i vo s , a temá t ic a da " pá t r i a " aca­

bou por s e 1mpor , inc l u s iv e aos pr6pr ios anarqu i s ta s , agora per­

sonagens e in imigos importan tes do d i scurso nac iona l i s t a .

Não é fortu i t o , porta nto , que certos temas d e deba t e da

doutrina anarquista tenham marcado tão profundamen t e a experiên-


52

cia s indica l c a r ioca , que a s sumiu contornos espe c í ficos e d i s tin-

tos da pa u l i s t a . A que s t ão d as relações entre o s indicato e o

anarquismo pode co n s ti tu i r um bom exemplo . No Rio , sobretudo n o s


·
anos que vão de 1 9 1 3 a 1 9 1 7 , é bem n í t id o que as própr ias l id e ­

rança s vinculadas ao . s ind i c a l ismo d e açao d i reta repensa ram o pa­

pel do s indica to , bem como sua vinculação com a doutrina ana rqui�

ta , acabando P? r s e d i v id ir . D e um lado , co locaram- se aqu e l e s

que po stu lavam uma c l a r a d e f in ição ideológica do s indicato pelo

anarquismo , a f i rmando s eu papel pr ivileg iado na mobi l i zação . De

outro , ficaram aque l e s para quem não era fundamenta l a o f i c i a l i zª

ção da de f in ição ideológ ica d e uma a s sociação de c la s s e , e que ,

embora cons iderando o s indicato um instrumento fundamenta l d e lu­

ta , de fendiam a importância d e outra s formas d e mob i l i zação ma i s

amplas e d i fu sa s . Re forçando seu argumento , e s t a s l ideranças chª

mavam a a tenção para o fato de os s indicatos c a r iocas serem muit o

ma is uma decorrência d a s grand e s campanhas pOl í t i c a s que agita­

vam a c idade do que propriamente seus e s t imu ladores ( Gome s , 1987 ) .

Tendo em mente esta perspect iva d e a n á l i s e , . é muito in­

teres sante observar os acontec imentos que marcaram a ec losão da

greve carioca d e 1 9 1 7 . Ela teve sua or igem vinculada a uma cam-

panha contra a care s t ia que foi montada a través da organização

de uma série d e comícios em d iversos pontos da c id ad e . Só a par-

tir da í a campanha pa s s ou a mob i l izar as asso ciações operá r i a s ,

respon sáveis pela d e f lagração da greve , a qua l , por sua vez , teve

como con sequenc ia a formação e a reativação d e vários s indicatos

( C ruz , 1 9 8 1 ) .

É pre c i so nao e squecer porém que , mesmo com toda essa

di ficuldade d e mob i l ização e com toda a concorrência que o s anar­

quistas enfrenta ram , não houve no Rio , antes d e 1 9 1 6 , nenhuma c o�

rente anti- s indica l i sta , como aconteceu em são Paulo com o grupo
53

que se reuniu em torno do j ornal La Battagl ia ( Bata lha , 1 9 86 : 1 6 8 ) .

Esta s ér i e de observaç ões sobre a s caracterís ticas do

movimento operário e s ind ica l carioca na Primei ra Repúb l ica re-

forçam , por outro ângu l o , a perspect iva d e análise d e José Mur ilo

de Carva lho . E l e e n f a t i z a que a mob i l ização da população da c idª

de do Rio ex trapo lou os proc edimentos do mode lo pO l í tico l ibera l

c l á s s ico . Nes 'te s e n t i d o , teriam fracas sado quer as tenta tivas

feitas por certos setores da e l ite po l í tica , como o s repub l icanos

radicais , quer a s tentativas rea l i zadas por l id erança 's da c la s s e

trabalhadora , tanto soc ia l i s t a s , como anarqu i s t a s ou mesmo amare-

las .

O que queremo s apontar aqui e que o s d iagnó s t icos de


,

a lgumas l ideranças d a c la s s e traba lhadora , ao de fender a nece s s i -

dade d e apelos ma i s abrange ntes e est ra tégia s de organiz ação

ma is criativa s , convergem para a cons trução d e s t a idé ia básica d o

que é o universo da pO l í t ica da c idad e . É por i s s o que o mode l o

l ibera l , pe lo q u a l s e reivindica ba s icamente c idadania pelo exer-

cício do direito d e voto , não d á conta do campo da pO l í t ica ca-

rioca . No Rio , uma variedade d e associações - r e l igiosa s , recreª

tivas e também d e intere s s e s d e c la s s e - re inventa relações po lí-

tica s , al a rgando o s igni f i cado d a partic ipação n o espaço público .

Não se tra ta , por tanto , a nosso v e r , d e postular uma d icotomia en

tre o político e o não-po l í t ic o , e sim de ser sens íve l à profu-

sao de formas que o exerc í c io da pOl í t ica pode s u s c i tar .


54

NOTAS

1 . O tema da indu s tr i a l i zação no Bras i l ainda nao foi objeto de

uma resenha bib l iográ fica mais compl eta . Algumas a n á l i s e s gerais

sobre a l i t e ra tura e x i stente podem ser encontradas nas introdu­

ções de Versiani e Barros ( 1 9 78 ) , Melo ( 1 9 8 2 ) e e s pecia lmente Su­

z igan ( 1 9 86 ) . O I n s t i tuto Roberto Simon sen tembém publ icou em

1 9 7 9 A prob l emá ti ca d a indu s t r i a l izacão no Bra s i l (resenhas bi-

bliográ fica s ) , em que são examinadas a s principais obras dedica-

das ao tema . Tra t a - s e d e um traba lho indiscutivelmente importan-

t e , mas que se atém apenas a resumir o conteúdo d as obra s , sem

procurar d i scu ti r ou ana l i sar as d i f erentes contribuiç ões .

2 . Os traba lhos mencionados d e Cano e Melo , publ icados respe c t i ­

vamente e m 1 9 7 7 e 1 9 8 2 , foram apre sentados à Unicamp como te se s

de doutorado em economia no an o d e 1 9 7 5 .

3 . C i ro Ca rdo s o , em seu tr a ba 1 h o !::A",gLr!...,!,i.!.c�u�l�t�u!.!r,-,a�._-,e�s,;c,",r�a�v�i�d�ã.!.oL-'eSõ..-..!.c�a;!.p�i�-

t a l i smo ( Petrópo l i s , Voz e s , 1979 ) , j á chamara a a tenção para a

ex istência de uma produção agrícola d e a l imentos feita pe los e s-

cravos e d e s t inada à comerc i a l ização . Maria Yedda Linhares e Fran

cisco Carlos T . da S i lva igua lmen te apresentaram uma contribuição

importante ao que s t ionar t e s e s con sagrada s sobre a inex is tência

de um mercado interno bras i l e iro na vigência do e scravi smo . Ver

H i stória da agr i c u ltura hra s i l e i ra ( contra s t e s e controvérsias ) ,

são Paulo , Bras i l i e n s e , 1 9 8 1 .

4 . Citado em Versiani ( 1 9 7 8 : 127) .

5. Va le a pena l i s t a r a s principa i s resenhas que tra tam do tema

da c l a s s e traba lhadora : Le�nc i o M . Rod rigues e Fábio Munho z , " B i-


55

bl iogra fia sobre trabalhadores e s indicatos no Bra s i l " , Es tudos

CEBRAP , são Pau l o , 1 9 7 4 , n . 7 ; Paulo Sérgio Pinhe i r o , " Traba lho

industrial n o Bra s i l : uma revisão " , Es tudos CEBRAP, são Pau l o ,

1 9 7 5 , n . 14 ; Luiz Werneck Viana , " E s tudos sobre s i n d i c a l i smo e

movimento operár io : resenha d e a lgumas tendência s " , BIB, Rio de

Janeiro , 1 9 7 8 , n . 3 , e " Atua l i zando uma bibliogra fia : n o vo s indi-

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rio : o novo em ques tão " , Revista do D epartamento de H i s t6ria ,

FAF ICH/UFMG , 1 9 8 6 , n . 3 . É prec iso menc ionar também I smênia Mar-

tins e Eul á l ia Lobo ( coord . ) , Bibliogra fia d o operariado; cond i -

coes de vida : R i o de Janeiro e Buenos A ires , Niter6 i , UFF , Dep .

de H i s t6ria , 1 9 8 7 .

6 . Sobre o PTB h á traba lhos que trazem orientações gerais : Phy l i s

P e t e r s o n , B r a z i 1 i an Do 1 i t i c a 1 Da r t i e s : .!
f"o rm",
"-.. .." a,-,"",
t i",
o,,,n
!.L<.__
-"r"
o"g a n"i""-
",= a t",i,,,,-
,z",-" o, ,..
n

and leardership, t e s e de doutorado apresentada a Univers idade d e


,

Michigan , 1 9 6 2 , e G l aucio A ry D i l lon Soare s , Sociedade e po l í t i -

ca n o Bras i l , são Paul o , D i fe l , 1 9 7 3 . Com ind icações espec í f i-

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J a ne i ro , lU PERJ , 1 9 7 9 ; Ma r ia And rea Loyo 1 a , -"


O,-,S,-_-,S",", n",
l' " d",=.
l· ""'
c a...,t'-'"-" e ----'o
o s_...;"- "-

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7 . O t e x to d e M i c h a e 1 H a 1 1 , --,I"-m r,--,a ã"o,-� ' r ia em S ã o


,,,1
=-- ",
g--, ",c",-" c,-,=-
e --" a s,-,s,-,"--
l"-" e-, ----o
"- --, p
,, ,-,, r,--,a
e--, ,,=--=
- "'-------= - '-''-'�
-- '-""-------"

Paulo { Be l o Horizonte , XXV I I I Reun ião Anua l da SBPC , 1 97 5 } , já

desmi s t i f icara o peso po l í t ico d o s e s t rangeiro s , ma s a t e s e cit a-

da acrescenta novos dados e l ida com o operariado c a rioca .


57

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e M..ieta de Moraes Ferreira no R io de Janeiro: novas perspectivas

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